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A própria conversão é fruto do amor de Deus, pois tudo nasce d’Aquele que
nos ama sem medida. Eu os curarei dos seus extravios – lemos –, amá-los-ei
de todo o coração, porque a minha cólera se apartou deles. Serei para Israel
como o orvalho, e ele florescerá como o lírio, e lançará raízes como o álamo.
Os seus ramos estender-se-ão até longe, a sua opulência igualará a da
oliveira, e o seu perfume será como o odor do Líbano. Voltarão a sentar-se à
sua sombra: cultivarão o trigo, crescerão como a vinha e a sua fama será como
a do vinho do Líbano3.
Nunca poderemos imaginar quanto Deus nos ama. Para nos salvar, quando
estávamos perdidos, Ele nos enviou o seu Unigénito a fim de que, dando a sua
vida por nós, nos redimisse do estado em que havíamos caído: Tanto amou
Deus o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna4. Este mesmo amor move-o a dar-se
inteiramente a cada um de nós, vindo habitar de um modo permanente na
nossa alma em graça: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu
Pai o amará, e viremos a ele e nele faremos a nossa morada5; e move-o
também a comunicar-se connosco na intimidade do nosso coração, durante
estes minutos de oração e em qualquer momento do dia.
“Eu até te servirei, porque vim para servir e não para ser servido. Eu sou
amigo, membro e cabeça, irmão e irmã, e mãe; sou tudo e só quero chegar à
intimidade contigo. Eu, pobre por ti, mendigo por ti, crucificado por ti, sepultado
por ti; no céu intercedo por ti diante de Deus Pai; e na terra sou seu legado
diante de ti. Tu és tudo para mim, irmão e co-herdeiro, amigo e membro. Que
mais queres?”6 Que mais podemos desejar? Quando contemplamos o Senhor
em cada uma das cenas da Via-Sacra, é fácil que nos suba do coração aos
lábios este grito: “Saber que me amas tanto, meu Deus, e... não enlouqueci!”7
Por amor, deu-nos a sua Mãe por Mãe nossa. E como manifestação desse
amor, deu-nos também um Anjo para que nos proteja, nos aconselhe e nos
preste imensos favores até que chegue o fim da nossa passagem pela terra,
onde Ele nos espera para nos dar o Céu prometido, uma felicidade sem limites
e sem fim. Ali temos já um lugar preparado à nossa espera.
Dizemos-lhe, com uma das orações da Missa de hoje: Senhor, que a acção
do vosso Espírito em nós penetre intimamente o nosso ser, para que
cheguemos um dia à plena posse daquilo que agora recebemos na
Eucaristia12. E lhe damos graças por tanto amor, por tantas atenções que não
merecemos. E procuramos inflamar-nos em desejos: amor com amor se paga.
Assim expressa alguém poeticamente esta ideia: “Mil vidas, se as tivesse, daria
para Te possuir, e mil... e mil... mais eu daria..., para Te amar, se pudesse...,
com esse amor puro e forte com que Tu, sendo quem és, nos amas
continuamente”13.
O amor a Deus deve ser supremo e absoluto. Dentro deste amor cabem
todos os amores nobres e limpos da terra, cada um deles na sua ordem,
conforme a peculiar vocação recebida por cada qual. “Não seria justo dizer:
«Ou Deus ou o homem». Devem amar-se «Deus e o homem»; este último,
nunca mais do que a Deus ou contra Deus ou mesmo na mesma medida que a
Deus. Por outras palavras: o amor a Deus prevalece, mas não é exclusivo. A
Bíblia declara Jacob santo e amado por Deus; mostra-o despendendo sete
anos em conquistar Raquel como esposa, e parecem-lhe poucos, tão grande
era o seu amor por ela. A este propósito, São Francisco de Sales faz este
comentário: «Jacob ama Raquel com todas as suas forças, e com todas as
suas forças ama a Deus: mas nem por isso ama Raquel como a Deus, nem a
Deus como a Raquel. Ama a Deus como seu Deus sobre todas as coisas e
mais que a si próprio; ama Raquel como sua mulher sobre todas as outras
mulheres e como a si mesmo. Ama a Deus com um amor absoluto e
soberanamente sumo, e a Raquel com o seu amor marital; um amor não é
contrário ao outro, porque o de Raquel não viola os supremos benefícios do
amor a Deus!»”18
(1) Is 49, 15-17; (2) cfr. Os 14, 4; (3) Os 14, 2-10; Primeira leitura da Missa da sexta-feira da
terceira semana da Quaresma; (4) Jo 3, 16; (5) Jo 14, 23; (6) São João Crisóstomo, Homilias
sobre São Mateus, 76; (7) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 425; (8) Sl 85, 8-10; Antífona
de entrada da Missa da sexta-feira da terceira semana da Quaresma; (9) cfr. Lc 15, 1 e segs.;
(10) Mt 28, 20; (11) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 59; (12) Oração depois da
comunhão da Missa da sexta-feira da terceira semana da Quaresma; (13) Francisca Javiera del
Valle, Decenário ao Espírito Santo; (14) Mc 12, 28-30; (15) São Josemaría Escrivá, Amigos de
Deus, n. 296; (16) Santo Agostinho, Sermão 70; (17) idem, De bono viduitatis, 21, 26; (18) João
Paulo I, Audiência geral, 27-IX-78; (19) Jo 13, 35.