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Bernardo Almeida
Índice
Poema Página
1. Devoção 01
2. Sem sentidos 01
3. Carne, osso e memórias 02
4. Perda 03
5. Anônimo 03
6. Fruto apodrecido 05
7. Deveras, homem! 06
8. À venda 06
9. Atemporal 07
10. Segredos 08
11. Novo de novo 08
12. O escolhido 09
13. Retorno 10
14. Dez integrado no infinito 11
15. Crença e aparência 11
16. A chuva e o absurdo 12
17. Leito 13
18. Despretensão 14
19. Amor perdido 14
20. Cuspe 15
21. Abalo sísmico 16
22. Desagrado 17
23. Despedida 18
24. Devassa 18
25. É 19
26. Envolva-me 20
27. Perdedor 20
28. Falibilidade 21
29. Imundo 22
30. Ladrão de percevejos 23
31. Menina 24
32. Adeus 24
33. Beijo amargo 25
34. Dez encontros 25
35. Incógnita 26
36. O resto 27
37. Sem destino 28
38. Pacífico 28
39. Plyocte Rhar 29
Índice
Poema Página
40. Precipício 30
41. Recolher 30
42. Vira folha 31
43. Sensibilidade 32
44. Aquele 33
45. Descoberta 34
46. Imperceptível 34
47. Inadequado 36
48. Palavra 36
Achados e Perdidos - Bernardo Almeida 01
1. Devoção
Se com mil toques pudesse agraciar a sua beleza
Se com mil palavras pudesse definir suas curvas
Se com mil passos pudesse percorrer entre seus mistérios
Se entre mil pessoas o seu olhar fosse somente meu
Se com mil orgasmos pudesse presenteá-la
Se de mil paixões pudesse abastar seu peito
Se mil amores eu pudesse renunciar
Se com mil sons, pudesse cantar sua carne
Se ao meu amor terno estivesse tu entregue
Beberia mil jarras do seu sorriso
Se em mil versos pudesse ler a sua alma
Se em mil encarnações pudesse entregar-lhe a minha
Se com mil destinos tivesse escolha
Minha rota seria seu caminho
Se em mil sonhos, apenas você
Se em mil sensações, suas mãos
Se em mil delírios, seus lábios
Se em mil crenças, devoção a você
Se em mil desejos, suas fantasias a realizar
Se em mil perfumes, seu aroma
Se em mil tentações, a sua presença
Que inebria e irradia vida
Que ilumina e salva
Desperta e liberta
Amém, amém!
2. Sem sentidos
Lampejos de alegria
Minutos de mágoa
Quando não dói
Apenas machuca
Vil é a disputa
Que acirra entre os homens
Seus caminhos absurdos
Suas glórias e suas posturas
4. Perda
As lâminas da paixão
Fatiaram o meu coração
Que sangra e pára
Não bate, não vibra, não late
Assumirei os suspiros
Os erros e os acertos
Assumirei meus rumos
Os corretos e os falsos
5. Anônimo
Brincadeiras à parte
Em parto de meia luz
Banheiras secas e chão molhado
Taco e vestido velho
Trapos e lembranças
Lágrimas, manchas de sangue e inocência
Condicionado e obediente
Marcha soldado, sempre em frente
Brinquedos de uma armadilha maior
Controle, remoto, controle, remorso
6. Fruto apodrecido
A maturidade é cômica
Uma piada mal contada
Estranhamente sem graça
Corrupta e absurda
7. Deveras, homem!
8. À venda
Comercialize o sexo
Seu corpo, sua nudez
Exponha o seu personagem
Três, duas ou uma vez
Seja uma garota perversa
Rime comigo
Na cavalgada viril
Revele-me o destino
Massageando o seu corpo quente
Apresento-lhe o prazer
Achados e Perdidos - Bernardo Almeida 07
9. Atemporal
Diluo o tempo
Torno-o esparso
Vago e disperso
Fragmento meus pensamentos
Em milhares de partículas
Sopro-as e as lanço ao vento
Sem direção
Numa frequência não linear
Tão caótica e deformada
Quanto o meu próprio ego
Sem chegar a lugar algum
Toca o nada
Percebe a sua existência
E ultrapassa essa barreira
Descobre a verdade
Além das fronteiras
Que a mente humana impõe
Achados e Perdidos - Bernardo Almeida 08
10. Segredos
Como um ciclo
Torna-se repetitivo
E quando parece ter mudado
Apenas alternou de lugar
O novo é a idéia que ainda não foi publicada
A sua majestosa novidade
Já foi concebida em alguma cabeça abastada
Mas você não sabe
E forjará o novo
De novo
Como se houvesse criatividade
Em falar o que já foi dito
E em pensar o que já foi pensado
12. O escolhido
O lenço caiu das suas mãos pela última vez
O sol se pôs
A vida escureceu
Os lamentos ficaram para trás
Seis ou sete anos de penúrias
Azares de um espelho quebrado
Amparos momentâneos
Maior parte sente teu beijo
Ainda doce, mesmo que já amargo
Em minha boca escorre
O seu mel
Minha alma entreguei a ti
Pobre de mim
Fiz da sua ferida, minha cicatriz
Só por que lamentei?
A fúria dos deuses pode ser muito mais feroz
Suas leis, muito mais severas
Mas eu?
Pobre de mim
Por que escolhido dentre tantos?
Nunca tive aptidão para a dor
Mas serei a sua personificação
Achados e Perdidos - Bernardo Almeida 10
13. Retorno
Na sombra ensurdecedora
De um quarto de cabaré
Meia noite é a hora dos anjos libertinos
Das camélias e das mudanças de destino
É a hora do alerta
É a hora da vida
As prostitutas esperam por dinheiro
Esperamos pelo retorno das nossas vidas
O que a rotina não dá e o amor esconde
O puteiro aponta
Sem pudor, sem vergonha
Nossas carnes, nosso sexo
Puro e simples
Manda quem pode
Obedece quem tem juízo
Ou dá ou desce
Nesse jogo de andarilhos
O zelo vem do gozo
Do prazer e da luxúria
A lascívia e a malícia
Ela grita e grita
Mesmo em farsa
O que há muito sentia-se morto, agora reanima
Achados e Perdidos - Bernardo Almeida 11
18. Despretensão
A esperança morreu primeiro
Que este corpo, calado e penoso
Incrédulo, descontente e desdenhoso
Contemplo a incerteza
Do próximo segundo, da mesa farta
Da vida longa e do perdão
20. Cuspe
Cuspo sim
Sete vezes no prato em que comi
Importa-me apenas o alimento
22. Desagrado
Seus lábios têm poder de fogo
E, seu peito, poder de fuga
Um gostar cínico e ardente
Despropositado e inconsequente
23. Despedida
A beleza traz o gosto da felicidade passageira
Deixa saudades ao partir rumo à lembrança
Tão cruel e tão mundana, fugaz
Um dia sou
Outro, gostaria de ainda ser
Um dia tenho
Outro, gostaria de ainda ter
Um dia espelhos
Outro, distância deles
Um dia convites
Outro, esquecimento
Um dia orgulho
Outro, vergonha
Um dia exuberante
Outro, não mais
24. Devassa
Devassa e carinhosa
Será esse o motivo pelo qual amo-te tanto?
Se para uns causas espanto, para mim, este é o seu encanto
25. É
Vontade é não morrer
Desejo é amar
Pressa é não chegar
Preguiça é trabalhar
Tempo é inovar
Trilha é desviar
Velho é reciclar
Vento é navegar
Conhecer é renascer
Partilhar é cooperar
Amizade é confiar
Surpresa é desafiar
Sono é sonhar
Acordar é realizar
Tentar é persistir
Conseguir é acreditar
Achados e Perdidos - Bernardo Almeida 20
26. Envolva-me
Envolva-me mais uma vez
Suas mentiras me adormece
Como uma cantiga suave
Como um conto infantil
27. Perdedor
Eu perdi
E perco quase sempre
Por opção
Sem desanimar
Vejo o quanto tudo é fútil
Sutilmente apressado e finito, solitário
28. Falibilidade
Senta só este pobre
Ainda sonha, ilude-se
Vive desta crença e melhora
Um papel, só um bilhete
Anunciando o próximo encontro
Já não será tão breve
Andarilho livre
Que se nega a aceitar presentes, suborno
E bebe da fonte, não do copo
Espíritos asfaltados
Nu e cru, vasto e fértil
Um dia falecerão todos de fome
A ganância de uns
A ambição de outros
E a morte da maioria
29. Imundo
Mundo vil
Cheio de seres não menos desprezíveis
Sob o comando do Imperador Egoísmo
Estão todos os condenados à existência
Mundo degradante
Extremamente frustrante é ver
As desigualdades tão frequentes
Na mão de quem pede e no bolso de quem paga
Achados e Perdidos - Bernardo Almeida 23
Mundo fétido
Corrompido pela ambição e pela disputa
Onde cresce a violência e o ódio
E a vida bela e pura pede para perder a inocência
Mundo catastrófico
Em que a vingança anda solta pelas ruas
E tudo é permitido desde que seja comercializável
Financeiramente multiplicável, rentável
Mundo decadente
Espera teu futuro um tanto óbvio
Da abundância à precariedade
Da vida à extinção da humanidade
Sou o palhaço
Que beija os seus lábios no escuro
Sou o mistério que invade o seu mundo
O mascarado, o descarado
Desconfiado e afiado
Que desafia e desperta ilusões
31. Menina
A essa boca juvenil ofereci o pecado
A esse corpo pueril dei o prazer
A esses olhos carentes trouxe vida
A esse peito vazio apresentei o amor
32. Adeus
Minha inspiração
Deita morta à sete palmos do chão
Junta aos vermes que aceleram minha decomposição
Abaixei a guarda
Joguei fora as minhas armas
Indefeso, tornei-me presa dos seus abusos
35. Incógnita
O que tenta dizer-me esse olhar
Profundamente misterioso
Que se esconde por detrás
Dessa placa de gelo e vidro
36. O resto
Dias tristes
Seguem-se um após o outro
Noites chuvosas e manhãs secas
No bar, deposito as minhas incertezas amorosas
38. Pacífico
Explode dentro de mim
A necessidade de encontrar-te
Fraco e fértil, eis minha condição
Achados e Perdidos - Bernardo Almeida 29
Dei as coordenadas
Para que navegasse pelo Pacífico
No entanto, preferistes a rota alternativa
40. Precipício
Fui impedido de amar-te pela razão
Esta deformidade fria e obtusa
Que faz com que carregues o peito na cabeça
E anule sentimentos e desejos
41. Recolher
Comes a carniça
E a vida que conhece e prova
Vem da morte alheia
Permita-me dizer
Que não mereço tal desprazer
Mesmo assim ainda desejo você
Olhe-me de frente
Estou lhe pedindo perdão
Mas que erro cometi?
Estou me humilhando
Matando sem dó o orgulho
Residente neste ser vaidoso
Achados e Perdidos - Bernardo Almeida 32
Permita-me dizer
Que não mereço tal desprazer
Mesmo assim ainda desejo você
Olhe-me de frente
Estou lhe pedindo perdão
Mas que erro cometi?
Estou me humilhando
Matando sem dó o orgulho
Residente neste ser vaidoso
43. Sensibilidade
44. Aquele
Não sou do físico e estático degrau
Não sou da terra e do superficial
Sou sim dos sonhos e das ilusões
Sou dos encantos e das paixões
45. Descoberta
Hoje não é um dia qualquer
Poderia ser o último
Poderia ser o único
Poderia eu chorar
Sofrer a perda de alguém
Ou clamar por clemência
Mas hoje pode ser uma oportunidade
Nova demais para ser certa
E velha demais se houver demora
Porque tudo é passageiro
Basta estar vivo
Para mudar
De sangue para vinho
Na ceia do pecado
No seio da perdição
Ou no cálice caloroso do amor
Que um dia me visitou
E fez-me descobrir
O que é viver
46. Imperceptível
Era tão bom quando tudo era simples
Percebo que era mais fácil e sincero
Mais louco, intenso e incerto
Hoje vejo todos os meus amigos crescerem
E tenho que aceitar esse fardo na minha vida também
Tento crescer pela metade
Manter o peito aberto
A alma viva
Achados e Perdidos - Bernardo Almeida 35
47. Inadequado
Eu não nasci para essa vida banal
Uma rotina e um emprego convencional
Isso me soa marasmo
Faz tudo que é belo
Se tornar igual e chato
Nada é mais estático
Do que esse pobre padrão
Que cria a cada dia um novo lunático
Ou um perigoso ladrão
Sou volátil como o álcool que bebo
Sou daqui e dali
Posso querer ser o mar
E, em segundos, desistir
Sou da vida
Sou da natureza
Sou sem pudor
Sou no frio, o calor
Sou do amor
Sou do amor
48. Palavra
Uma palavra pode ser proferida
E esquecida com o tempo
Outra pode ser aquecida e sentida
Além da eternidade
Uma palavra pode ser mantida
Pode ser vencida
Pode ser transformada
Pode ser omitida
Pode ser deturpada
Pode ser lembrada
Uma palavra
Afasta o homem da ignorância
Aponta a saída do labirinto
Fantasiosa ou realista
Carrega vida em seu sentido
Achados e Perdidos - Bernardo Almeida 37
Uma palavra
Quando lançada
Não tem rumo
Não tem caminho certo
Trilha ao impulso do vento
E na velocidade do pensamento
Segue firme, vaga e veloz
Como uma flecha
Pode destronar uma certeza
E como uma chama
Pode transformar corações em brasa
Uma palavra
Simples e inútil
Pode mudar o mundo
Pode ultrapassar uma crença
Pode desatar nós e preconceitos
Pode vencer uma guerra
Aquela mesma palavra
Esquecida em meio a tantas outras
Na página amarelada de um livro qualquer
Pode ser a salvação
Ou a perdição
Na vida de alguém
Uma simples e imperfeita
Palavra