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Brian Schwertley
I
O Princípio Regulador
Brian Schwertley*
*
Brian Schwertley é mestre em Teologia (Seminário Episcopal Reformado, 1984). Casado há mais de duas décadas
com Andréa, é pai de cinco filhos. Ele foi ordenado presbítero docente pela Igreja Presbiteriana Reformada dos Estados
Unidos, em janeiro de 2001, e fundou a Igreja Cristã Calcedônia de Haslett. É pastor da Igreja Presbiteriana de
Westminster de Waupaca, congregação da Igreja Presbiteriana de Westminster nos Estados Unidos. Foi preletor do
Simpósio “Os Puritanos” em junho de 2001 no Recife (Brasil). Em português foram publicados, de sua autoria, O
modernismo e a inerrância bíblica (São Paulo: Os Puritanos, 2000, 64p.) e Sola Scriptura e o Princípio Regulador do
Culto (São Paulo: Os Puritanos, 2001, 207p.).
**
Todas as referências bíblicas foram extraídas da Bíblia Sagrada: Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original
de João Ferreira de Almeida (São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994).
1
Confissão de fé de Westminster, I.VI.
2
Uma circunstância de exemplo histórico é o culto público no dia do Senhor. Não existe mandamento explícito ou
imperativo divino para alterar o culto público do sétimo dia (sábado) para o primeiro dia (domingo) da semana,
registrado na Escritura. Entretanto, no Novo Testamento, a alteração do sétimo para o primeiro dia é registrada como
fato consumado (At 20.7; 1Co 16.2; Ap 1.10). Nem todos os mandamentos divinos ou palavras proféticas foram
incluídos na Bíblia. A prática universal da igreja apostólica, como o culto público no dia do Senhor, é obrigatória por
causa da autoridade exclusiva conferida aos apóstolos (mediante revelação direta). Quando os apóstolos morreram, a
revelação direta cessou e o cânon foi encerrado; agora, nossa doutrina, culto e todos os exemplos históricos estão
limitados à Bíblia — a Palavra de Deus. Quem apela às tradições eclesiásticas, inventadas após o fechamento do cânon,
para autorizar o estabelecimento de ordenanças relativas ao culto encontra-se, em princípio, em situação não muito
melhor que a de Jeroboão filho de Nebate (1Rs 12.26-33).
O Princípio Regulador do Culto (PRC)
A Bíblia é nossa única regra infalível concernente à fé e prática. Não há área da vida na qual essa
verdade seja mais aplicável que no respeitante ao culto. Antes de entrar na terra prometida, Deus
advertiu os israelitas da idolatria e do sincretismo (i.e., mistura) com os cultos pagãos:
Guarda-te, que não te enlaces seguindo-as, depois que forem destruídas diante de ti; e que não perguntes
acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram estas nações os seus deuses, do mesmo modo
também farei eu. Assim não farás ao SENHOR teu Deus; porque tudo o que é abominável ao SENHOR, e que
ele odeia, fizeram eles a seus deuses; pois até seus filhos e suas filhas queimaram no fogo aos seus deuses.
Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás (Dt 12.30-32).
Tudo o que não é ordenado pela Escritura no culto a Deus é proibido. Tudo o que a igreja realiza no
culto deve ter base em um mandamento divino explícito, ser lógica e claramente deduzido dele, ou
derivar-se de um exemplo histórico aprovado (e.g., a alteração do sétimo dia para o dia do Senhor para o
culto comunitário).
Da mesma forma que na Antiga Dispensação nenhum aspecto do culto ou da disciplina da Igreja de Deus
foi confiado à sabedoria ou ponderação humana — todas as coisas foram prescritas de modo objetivo pela
autoridade divina —, também sob a Nova [Dispensação], nenhuma outra voz é ouvida na casa da fé, a não
ser a do Filho de Deus. O poder da igreja é apenas ministerial e informativo. Ela deve apenas manter a
doutrina, fazer cumprir as leis e executar o governo outorgado por Cristo. Nada do que o Senhor
estabeleceu deve ser adicionado ou subtraído por ela. A igreja não possui poder discricionário.3
O conceito corrente entre as igrejas protestantes é o da permissibilidade de tudo o que não é
explicitamente proibido na Bíblia. Esse conceito era, e ainda é, aceito pelas igrejas luteranas e
episcopais. As primeiras igrejas reformadas e protestantes rejeitaram esse conceito por não ser bíblico.
A Confissão de fé de Westminster diz:
... o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua
própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens
[...] ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.4
O que hoje designamos PRC não é algo inventado por João Calvino ou John Knox, mas se trata de um
imperativo divino. É um aspecto crucial da lei divina:
Dizemos que o mandamento de nada acrescentar é parte orgânica da lei toda, como lei e, portanto, toda
adição humana ao culto divino, ainda que não contrarie nenhum mandamento de forma particular, é
contrária ao mandamento geral de que nada deve ser adicionado.5
As circunstâncias do culto
A fim de entender o Princípio Regulador de forma adequada, deve-se perceber a diferença entre
ordenanças referentes ao culto e suas circunstâncias, ou aspectos secundários. As ordenanças do culto
são recebidas por orientação divina. Toda ordenança do culto é prescrita por Deus. Qualquer coisa
relacionada a ele, com significado religioso e moral, deve se basear em ordenanças divinas (explícitas
ou implícitas) ou em exemplos históricos aprovados. A igreja recebe todas as ordenanças do culto da
parte de Deus, como foram reveladas na Bíblia. Ela deve obedecer a todas as ordenanças divinas e não
possui autoridade para adicionar ou subtrair algo ordenado por Deus.
As circunstâncias do culto não dizem respeito ao conteúdo ou à cerimônia, mas referem-se ao que é
“comum às ações e sociedades humanas”. A única forma de alguém aprender uma ordenança relativa à
adoração é estudar a Bíblia e ver o que Deus ordena. No entanto, as circunstâncias do culto independem de
instruções bíblicas explícitas; elas dizem respeito exclusivamente à revelação geral e ao bom senso
(“prudência cristã”). Crentes e incrédulos sabem, indistintamente, que proteção e aquecimento são úteis
3
James H. Thornwell, Collected Writings (Richmond: Presbyterian Committee of Publication, 1872), vol. 2, p. l63.
4
XXI.I.
5
Thomas E. Peck, Miscellanies (Richmond: Presbyterian Committee of Publication, 1895), vol. 1, p. 82.
para conduzir uma reunião nos meses frios* Também entendem a necessidade de acomodação,
iluminação, vestuário etc. Além disso, depreende-se a escolha prévia de um horário para a realização da
reunião. Existem muitos aspectos comuns entre reuniões civis (ou seculares) e religiosas independentes de
instruções bíblicas específicas. Essas são as circunstâncias, ou aspectos secundários, do culto.
Ordenanças Circunstâncias
Mt 26.13; Mc 16.15;
At 9.20; 2Tm 4.2; Estrutura da reunião da
Pregação a partir da Bíblia At 20.8, 17.10;
At 20.8, 17.10; 1Co 14.28
igreja
1Co 14.28
Mc 4.16-20; At 13.15;
1Tm 4.13; Ap 1.13; Local da reunião da
Leitura da Palavra de Deus At 1.13, 16.13;
At 1.13, 16.13; 1Co 11.20
igreja
1Co 11.20
Mt 28.19; Mt 26.26-
Administração dos sacramentos 29; 1Co 11.24,25
Roupas para a reunião 1Co 11.13-15; Dt 22.5
Lc 2.46; At 8.31;
Tipo de assento
Audição da Palavra de Deus Rm 10.41; Tg 1.22; Lc 4.20; At 20.9
Lc 4.20; At 20.9 provido
Note que todos os elementos da coluna esquerda devem ser aprendidos da Palavra de Deus. Tudo o que
se encontra na coluna direita é uma circunstância comum a todos os habitantes do universo criado por
Deus. As ordenanças do culto são limitadas numericamente pela revelação divina. As circunstâncias do
culto são praticamente de número infinito, baseando-se no bom senso de homens guiados pela
“prudência cristã”. Pelo fato de o homem ter sido criado à imagem de Deus, e dada sua necessidade de
viver em função da realidade divinamente criada (o universo), ele de viver e agir de acordo com essa
realidade. As pessoas não necessitam de instruções explícitas da Bíblia para vestir um casaco quando a
temperatura exterior chega aos cinco graus centígrados. Porém, os homens precisam de instruções claras
da Bíblia sobre como se aproximar do Deus infinitamente santo.
*
O autor diz literalmente: “in January, in Minnesota” ([no mês de] janeiro em Minessota). [N. do T.]
6
A primeira idéia contida nelas é a de deveres religiosos, prescritos por Deus, como método instituído pelo qual ele
deve ser cultuado por suas criaturas... Portanto, as ordenanças, descritas dessa forma, devem ser encaixadas segundo a
designação divina. Nenhuma criatura pode ter certeza de engajar-se em qualquer forma de culto com a pretensão de sua
aceitação ou satisfação da parte de Deus; apenas Deus — o objeto do culto — possui o direito de prescrever o modo de
ser adorado. A instituição, por parte de qualquer criatura, da forma do culto seria um exemplo de profanação e de
ousada presunção; o culto realizado seria “vão”, como diz nosso Salvador concernente ao que não possui maior sanção
que “os mandamentos de homens” — Thomas Ridgely, A Body of Divinity (New York: 1855), vol. 2, p. 433.
O PRC é ensinado por toda a Bíblia. Segue-se o exame das diversas passagens bíblicas que comprovam
a proibição de tudo o que não é ordenado na Escritura a respeito do culto a Deus. As ordenanças do
culto devem basear-se especificamente nas afirmações divinas, não em opiniões ou tradições humanas.
A oferta inaceitável
E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. E Abel também trouxe
dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta. Mas para
Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante (Gn 4.3,5).
O que havia na oferta de Caim para torná-la inaceitável aos olhos de Deus? A preferência pela oferta de
Abel e a rejeição da de Caim não foi arbitrária; ela se baseou na revelação apresentada a Adão e sua
família. É óbvio que Deus revelou essa informação a Adão ao matar animais para cobrir o homem e sua
mulher (Gn 3.21). Gerações mais tarde, Noé sabia que Deus aceitaria apenas animais e aves puros como
holocausto (Gn 8.20). Caim, diferentemente do irmão Abel, decidiu, à parte da Palavra de Deus, que a
oferta de frutos da terra seria aceitável ao Senhor. Deus, porém, rejeitou a oferta de Caim por ser uma
invenção de sua mente. Ele não a ordenara; portanto, ainda que Caim fosse sincero no desejo de agradar
a Deus, ele a rejeitaria da mesma forma.
Deus espera fé e obediência à sua Palavra. Se o povo de Deus pode cultuar o Senhor segundo sua
vontade, pelo fato de ordenanças humanas não serem expressamente proibidas, então não poderiam
Caim, Noé ou os levitas oferecer a Deus uma salada de frutas ou uma cesta de nabos, por não haver
proibição? E se Deus desejasse uma regulamentação estrita de seu culto à parte do PRC, não seriam
necessárias centenas de volumes (ou talvez milhares deles) para nos informar das proibições? No
entanto, Deus, em sua infinita sabedoria, diz: “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe
acrescentarás nem diminuirás” (Dt 12.32).
Fogo estranho
E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram
incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o SENHOR, o que não lhes ordenara. Então saiu fogo
de diante do SENHOR e os consumiu; e morreram perante o SENHOR (Lv 10.1,2).
Qual foi o pecado deles? Seu pecado foi o oferecimento de fogo estranho, portanto o texto diz que eles
ofereceram fogo estranho, o que Deus não lhes ordenara... Contudo, onde Deus o proibira? Onde
encontramos que Deus lhes proibiu o oferecimento de fogo estranho, ou a designação do oferecimento de
apenas um tipo de fogo? Não existe texto na Escritura que se possa achar, do começo de Gênesis até esse
ponto, onde Deus tenha dito terminantemente, de maneira expressa: Oferecerás apenas um tipo de fogo. No
entanto, aqui, eles foram consumidos por Deus com fogo, por terem oferecido “fogo estranho”.7
Quem rejeita o PRC enfrenta um problema real para explicar esse texto. Alguns afirmam que Nadabe e
Abiú foram condenados por terem oferecido “incenso estranho”, por sua condenação expressa em
Êxodo 30.9. Porém o texto não diz “incenso estranho”, mas “fogo estranho”. Outros declaram que lhes
faltava sinceridade ou que estavam embriagados. Entretanto, qual razão nos apresenta o Espírito Santo
para o juízo deles? Eles ofereceram fogo estranho “o que não lhes ordenara”. Quando se trata do culto a
Deus, deve haver apoio da Palavra divina.
Todos os elementos do culto a Deus devem basear-se na Palavra de Deus [e] serem ordenados. É
insuficiente sua não-proibição [...] Quando o ser humano concede respeito religioso a um objeto, por
virtude de sua instituição, mesmo sem apoio da parte de Deus, eis uma superstição! Todos devemos ser
adoradores voluntários, mas não pessoas de devoção voluntariosa.8
7
Jeremiah Burroughs, Gospel-Worship (London: Peter Cole, 1650), p. 2-3.
8
Ibid., p. 9-10.
com a arca de Deus, Aiô ia adiante da arca. E Davi, e toda a casa de Israel, festejavam perante o SENHOR,
com toda a sorte de instrumentos de pau de faia, como também com harpas, e com saltérios, e com
tamboris, e com pandeiros, e com címbalos. E, chegando à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de
Deus, e pegou nela; porque os bois a deixavam pender. Então a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e
Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à arca de Deus. (2Sm 6.3-7).
Davi e os homens envolvidos no transporte da arca eram inquestionavelmente sinceros no desejo de
agradar a Deus com o intuito de levar a arca a Jerusalém. Todavia, o resultado desse esforço sincero foi
o juízo divino: Uzá tentou evitar a queda da arca com sua mão por amar a Deus e se preocupar com sua
arca. Porém, a despeito de toda a sua sinceridade e boas intenções, acendeu-se a ira de Deus, e ele matou
Uzá. Por quê? Porque a questão toda era muito ofensiva a Deus. O fato de Uzá ter tocado na arca foi o
ponto culminante das ofensas desse dia.
Os objetores do PRC apostam no fato de Uzá ter sido morto por algo claramente proibido na lei de Deus
(i.e., tocar na arca). Sim, é verdade que Uzá morreu pela violação de uma proibição explícita da lei
(Nm 4.15). No entanto, a análise do rei Davi a respeito do que aconteceu errado naquele dia inclui todos
os envolvidos, não apenas Uzá:
Porquanto vós [os levitas] não a levastes na primeira vez, o SENHOR nosso Deus fez rotura em nós, porque
não o buscamos segundo a ordenança. Santificaram-se, pois, os sacerdotes e os levitas, para fazerem subir a
arca do SENHOR Deus de Israel. E os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus sobre os seus ombros,
pelas varas que nela havia, como Moisés tinha ordenado conforme a palavra do SENHOR (1Cr 15.13-15).
Pelo fato de Deus ter ordenado aos levitas para carregar a arca com varas (Nm 4.6,15), era desnecessário
proibir os homens de Judá de usar um carro de boi para transportá-la. O rei Davi e seus homens
deveriam ter consultado a lei de Moisés e obedecido à sua prescrição. Em vez disso, eles agiram de
forma pragmática. Imitaram os filisteus, que haviam usado um carro para levar a arca de volta a Bete-
Semes. Quando se trata do culto a Deus, não nos é permitido improvisar, por melhores que sejam as
intenções. A sinceridade é importante, mas ela deve estar de acordo com a revelação divina. Mesmo em
relação às questões religiosas que nos pareçam pequenas ou triviais, Deus ordena nossa ação segundo
sua vontade revelada, e não inovações concordes com a nossa vontade: “A grande lição para todos os
tempos é precaver-se de seguir as próprias sugestões no culto a Deus quando possuímos instruções
claras de sua Palavra sobre o modo de cultuá-lo”.9
Adoração vã
Então chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: Por que transgridem os teus
discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem pão. Ele, porém, respondendo,
disse-lhes: Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição? (Mt 15.1-3).
9
William G. Blaikie, Commentary on Second Samuel (New York: A.C. Armstrong and Son, 1893), p. 88.
10
Samuel H. Kellogg, The Book of Leviticus (New York: Hodder and Stoughton, n.d.), p. 240.
Os fariseus eram líderes religiosos respeitados do povo judeu. Eles criam ter a liberdade de fazer adições
aos mandamentos divinos. A lei de Deus continha diversas lavagens cerimoniais para representar a
purificação dos impuros. Os fariseus adicionaram outras lavagens para destacar e “aperfeiçoar” a lei de
Moisés. Não existe mandamento expresso proibindo essas adições cerimoniais, exceto o PRC (e.g.,
Dt 4.2; 12.31). Elas não tinham fundamentação na Palavra de Deus.
Jesus Cristo é o principal defensor do PRC. Ele repreendeu fortemente os escribas e fariseus por
fazerem adições à lei divina. O que acontece quando homens pecadores acrescentam regras e
regulamentos à lei de Deus? Com o passar do tempo, a tradição humana substitui e pretere a lei divina:
“E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus” (Mt 15.6). A igreja cristã antiga
acrescentou regras e cerimônias próprias ao culto a Deus e degenerou na Igreja Católica Romana pagã e
idólatra. Se não mantivermos a linha divisória onde Deus a traçou, então, prova a história, a igreja
degenerará posteriormente em algo um pouco mais bizarro que uma seita pagã. A repreensão de Cristo
referente aos escribas e fariseus aplica-se hoje a quase todos (os chamados) ramos da igreja cristã: “Este
povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe
de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mt 15.8,9).
Outros exemplos
O conceito de que apenas o que Deus ordena em sua Palavra é permitido no culto encontra-se na Bíblia
toda. O rei Saul ofereceu um sacrifício ao Senhor sem autorização divina. Deus ordenou aos sacerdotes,
e não aos reis, o oferecimento de holocaustos. O reinado foi retirado de Saul e de sua família para
sempre (1Sm 13.8-14). Considere o rei Jeroboão que estabeleceu um dia próprio de festa, bem como
lugares sagrados e ofertas no “mês que ele tinha imaginado no seu coração” (1Rs 12.32,33). O rei
Jeroboão era pragmático. Ele não percebia a necessidade de seguir as ordens expressas do culto a Deus.
O livro de Reis apresenta seu culto autônomo e não autorizado — além da idolatria associada a ele —,
como o paradigma do falso culto. Se o rei Jeroboão foi considerado ímpio por estabelecer seu dia de
festa (dia santo), certamente a mesma designação é aplicável aos papas, bispos, e ao povo que
estabeleceram o natal, a sexta-feira santa etc.
Paulo, na epístola aos Colossenses, concorda com o ensino do Antigo Testamento referente ao culto. Ele
condena quem impõe leis dietéticas judaicas e dias santos à igreja (Cl 2.16). Pelo fato de as leis
cerimônias terem sido “sombras” que apontavam para o “corpo” — Jesus Cristo —, elas foram
abolidas; e dada a falta de autorização para elas, tornaram-se proibidas. A advertência paulina a respeito
da filosofia humana é o pano de fundo da condenação do falso culto e das leis humanas (legalismo):
“Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a
tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Cl 2.8).
Paulo condena as doutrinas e os mandamentos humanos: “Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos
rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais
como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os
preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção
voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da
carne” (Cl 2.20-23). Ele afirma que a adição à Palavra de Deus é apenas uma exibição de “devoção
voluntária [e] humildade”. Trata-se de devoção “voluntária” em lugar do culto segundo a vontade de
Deus. As leis estabelecidas pelos homens suprimem a liberdade que temos em. A lei moral de Deus é
perfeita; adições são desnecessárias. Regras e regulamentos humanos não “concedem honra” ao crente.
Deus concedeu à sua igreja um livro de salmos e um dia santo (o dia do Senhor). Pode o homem
aperfeiçoar o culto instituído por Deus? Claro que não. É o ápice da arrogância e estupidez imaginar que
homens pecaminosos possam melhorar as ordenanças de Deus:
Isso é provocar a Deus, porque reflete sobre sua honra, como se ele não fosse sábio o suficiente para
designar a forma do próprio culto. Ele odeia todo fogo estranho oferecido em seu templo (Lv 10.11). Uma
simples cerimônia pode, com o passar do tempo, conduzir ao crucifixo. Quem contende pela cruz no
batismo, não pode obter também o óleo, o sal e o ungüento? 11
A necessidade do PRC
A história da igreja tem demonstrado que o povo pactual de Deus tem sido desviado, não raro, da
simplicidade do puro culto evangélico para todos os tipos de inovações humanas. Dada a natureza
humana decaída e sua inclinação ao pecado, era inevitável que a autonomia humana relativa ao culto
pervertesse e suplantasse o culto verdadeiro: “E as franjas vos serão para que, vendo-as, vos lembreis de
todos os mandamentos do SENHOR, e os cumprais; e não seguireis o vosso coração, nem após os vossos
olhos, pelos quais andais vos prostituindo. Para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os
cumprais, e santos sejais a vosso Deus” (Nm 15.39,40).
Muitas pessoas afirmam que o PRC é bastante restritivo. Declaram que ele confina o espírito humano e
reprime a criatividade humana. Dizem tratar-se de uma reação exagerada aos abusos cometidos pelo
catolicismo romano. Todavia, examinemos as implicações lógicas da permissão de qualquer coisa não
proibida pela Palavra de Deus no culto divino.
A primeira conseqüência é a substituição da simplicidade e da natureza transcultural do culto puramente
evangélico por uma variedade quase infinita de inovações humanas. Pelo fato de Deus não estabelecer
mais a linha divisória entre o conteúdo do culto e suas cerimônias, o homem poderia traçar e retraçar
essa divisão como lhe agradasse. A igreja desobediente ao PRC considera impossível impedir o fluxo de
novos conceitos e inovações no culto. As denominações presbiterianas e reformadas que abandonaram o
PRC no final do século XIX e início do século XX provam a veracidade deste ponto. O padrão da
perversão segue mais ou menos dessa forma: Inicialmente, hinos concebidos por seres humanos (não
ordenados) são cantados em conjunto com os salmos inspirados por Deus (ordenados); a seguir, em uma
geração ou duas, os salmos são completamente substituídos por hinos ou por salmos parafraseados ao
extremo. Os hinos antigos, após certo tempo, são substituídos por composições avivalistas
“carismáticas”. No início, as igrejas reformadas cantavam os salmos sem acompanhamento musical,
pois os instrumentos foram usados apenas no período do templo e, portanto, deixaram de ser usados
como um aspecto da lei cerimonial. Muitas igrejas reformadas abandonaram o cântico de salmos a
capella e passaram a usar órgãos. Então, dentro de uma geração ou duas as igrejas começaram a usar
outros instrumentos, orquestras e até mesmo grupos de rock. Essas inovações descritas são apenas a
ponta do iceberg. Pode-se encontrar também nas igrejas chamadas presbiterianas e reformadas:
celebração de dias santos (Natal, Páscoa etc.), corais, liturgias complexas, dança litúrgica, grupos de
rock, peças de teatro, vídeos de rock, calendário litúrgico, figuras de Cristo, cruzes etc.
Caso se dê ao homem pecador autonomia para escolher como cultuar, o padrão histórico é claro. O ser
humano preferirá o culto centrado no homem. O homem pecador é sempre atraído pelo entretenimento
(daí a popularidade das “palmas”, e o “pisar forte” do estilo de culto “carismático”, grupos de rock,
peças de teatro, corais, solos musicais, e cantores populares e sertanejos* etc.) e pelo ritual e pompa
(catedrais, incensos, velas, sinos, dias santos, vestimentas papistas, liturgias etc.). Quando as inovações
humanas terão fim? Elas não cessarão até que a igreja obedeça ao PRC. Deus ordenou um mandamento
que o homem não pode ignorar: “[O] modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele
mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as
imaginações e invenções dos homens [...] nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro
modo não prescrito nas Santas Escrituras”.12 O falso culto tem origem na mente humana, de acordo com sua
imaginação. O culto verdadeiro origina-se na mente de Deus e é revelado na Bíblia:
“Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu
povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem. Mas não ouviram, nem
11
Thomas Watson, A Body of Divinity (London: Passmore & Alabaster, [1692]1881), p. 267.
*
No original a referência é ao estilo “country” de música, o equivalente em popularidade ao estilo sertanejo
nacional. [N. do T.]
12
Confissão de fé de Westminster, XXI.I.
inclinaram os seus ouvidos, mas andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração
malvado; e andaram para trás, e não para diante” (Jr 7.23,24).
Calvino, no comentário sobre Jeremias, usou este versículo para condenar todas as inovações perversas
do culto papal:
Além do mais, caso se considere a origem de todo o culto papal, perceber-se-á que os primeiros a conceber
superstições tão estranhas, foram impelidos apenas por sua audácia e presunção, a fim de poder calcar sob
os pés a Palavra de Deus. Portanto, todas as coisas foram corrompidas; porque eles colocaram em operação
todas as invenções de seu cérebro. Vemos que os papistas são tão apegados a seus erros até o dia de hoje
que preferem a si mesmos e às suas quinquilharias que a Deus. E o mesmo acontece com todos os hereges.
O que se pode fazer? Como disse, a obediência deve ser mantida como base da verdadeira religião. Caso
desejemos render o culto aprovado por Deus, aprendamos a lançar fora tudo o que é nosso, para que a
autoridade divina prevaleça sobre todas as nossas razões”.13
Apenas o que Deus ordena em sua Palavra é Tudo o que não é expressamente condenado pela
permitido. Bíblia é permitido.
O conteúdo do culto é a Palavra de Deus objetiva. O culto se torna cada vez mais subjetivo ou místico.
O culto baseado na Palavra de Deus possui As formas e o conteúdo do culto público são
parâmetros limitados. teoricamente infinitos.
Historicamente, o culto das igrejas reformadas e Historicamente, isso tem levado a igreja ao declínio,
13
Calvin’s Commentary, sobre Jr 9.21-24 (Grand Rapids: Baker, 1989), vol. 9, p. 398 (ênfase adicionada).
presbiterianas era puro, até ser abandonado ou à heresia e idolatria. A igreja apostólica degenerou
redefinido a ponto de se tornar insignificante. posteriormente no papismo.
A palavra “liturgia” procede do vocábulo grego leiturgia, e significa: “o trabalho ou serviço pessoal”.
Portanto, em certo sentido, todo o culto cristão é litúrgico. Ao mencionar a liturgia em sentido negativo,
faço referência à liturgia usada, por exemplo, pelos católicos romanos, episcopais/anglicanos, luteranos
e ortodoxos russos (dentre outros). Em sentido negativo, faço referência à liturgia baseada nas tradições
eclesiásticas e humanas, por exemplo: o uso obrigatório de livros de oração, do calendário litúrgico, de
vestimentas sacerdotais especiais, velas, incensos, dias santos, ajoelhar para receber a comunhão,
catedrais, figuras de Cristo e dos santos, música para a igreja, corais etc. The Book of Common Order [O
livro de ordem comum] designado pelos historiadores como a liturgia de Knox, foi usado pelos escoceses
até 1645. Ele tomava por base a ordem do culto das igrejas reformadas de Estrasburgo, Frankfurt e
Genebra. A atitude de John Knox e dos primeiros presbiterianos para com as “orações comuns” da Order
[Ordem] era limitar seu uso ao treinamento dos ignorantes na arte da oração extemporânea:
O uso contínuo e imperioso da liturgia desarmoniza com o espírito dos reformadores, que confiavam na
inspiração do Espírito Santo na oração.15 Os substitutos sem formação dos ministros — que requeriam
essas muletas mentais, como o Book of Discipline [Livro de disciplina] — admitiam: “até atingir maior
perfeição...”. Em termos similares, o bem instruído historiador Calderwood declara: “Ninguém está preso às
orações desse livro; elas foram estabelecidas apenas como exemplos... Colocadas como modelos”.16
14
A palavra “liturgia” procede do vocábulo grego leiturgia, e significa: “o trabalho ou serviço pessoal”. Portanto, em certo
sentido, todo o culto cristão é litúrgico. Ao mencionar a liturgia em sentido negativo, faço referência às liturgias baseadas nas
tradições eclesiásticas e humanas, por exemplo: o uso obrigatório de livros de oração, do calendário litúrgico, de vestimentas
sacerdotais especiais, velas, incensos, dias santos, ajoelhar para receber a comunhão, catedrais, figuras de Cristo e dos santos,
música para a igreja, corais etc.
15
A expressão “inspiração do Espírito Santo” não significa que os primeiros presbiterianos criam que suas orações eram
“sopradas por Deus” e inerrantes como as Escrituras. Ela significa apenas “com o auxílio ou ajuda do Espírito Santo”.
16
J. King Hewison, The Covenanters (Glasgow: 1908), vol. 1, p. 41-4.
II
O Princípio Regulador e o Natal
O PRC possui implicações claras para quem deseja promover a celebração do Natal. Ele obriga quem
deseja comemorar essa data a provar, a partir das Escrituras, que Deus a autorizou. Isso, na verdade, é
impossível. Além do mais, a celebração do Natal viola outros princípios bíblicos.
17
Encyclopedia Britannica (1961 ed.), vol. 5, p. 643.
18
“Muito antes do século IV, e bem antes da era cristã, um festival era celebrado entre os pagãos, exatamente na
mesma época, em honra do nascimento do filho da rainha do céu babilônica; e pode-se prezumir com justiça que, a fim
de conciliar os pagãos, e aumentar o número de adeptos nominais do cristianismo, o mesmo festival foi adotado pela
Igreja Romana, dando-lhe apenas o nome de Cristo” (Alexander Hislop, The Two Babylons [Neptune, N.J.: Loizeaux
Brothers, (1916) 1943], p. 93).
19
Encyclopedia Britannica (1961 ed.), vol. 6, p. 623.
20
Ibid., vol. 5, p. 642.
21
Beda, Ecclesiastical History of the English Nation, (citado em Encyclopedia Britannica, (1961 ed.), vol. 5, p. 643).
supostamente nascido de uma virgem, Semíramis. Em Roma, decoravam-se pinheiros com frutinhas
vermelhas para celebrar as saturnais.22 Os escandinavos colocavam pinheiros em suas casas em honra
ao deus Odim. “Quando os pagãos do norte da Europa se tornaram cristãos, transformaram suas sempre-
verdes sagradas em parte da festividade cristã, e decoravam árvores com nozes douradas, velas
(remanescente da adoração ao Sol) e maçãs para representar as estrelas, a Lua e o Sol.”23
O acendimento de fogueiras especiais e de velas em 24 e 25 de dezembro origina-se no culto ao Sol. O
uso de fogueiras tem sua origem provável no culto prestado a ele pelos druidas. Não se permitia que a
madeira fosse totalmente queimada, parte dela seria usada para iniciar o fogo do ano seguinte
(possivelmente, símbolo do renascimento do astro). “Os romanos ornamentavam seus templos e suas
casas com galhos verdes e flores para as saturnais, a estação do contentamento e da troca de presentes;
os druidas juntavam visco com uma grande cerimônia e o penduravam em suas casas; os saxões faziam
uso do azevinho, da hera e de louros.”24
O fato de o Natal estar repleto de práticas pagãs é universalmente reconhecido: “Contudo, muitos
cristãos alegam que essas práticas não mais possuem conotações pagãs, e crêem que a celebração do
Natal oferece uma oportunidade para culto e testemunho”.25 Os cristãos dizem não adorar a árvore de
Natal, e que as origens pagãs jazem no passado remoto e tornaram-se inofensivas. Entretanto, esse
conceito, apesar de comum em nossos dias, demonstra a total desconsideração do ensino bíblico
concernente aos ídolos, à parafernália associada à idolatria, e aos monumentos idolátricos.
Deus odeia tanto a idolatria que Israel não foi ordenado apenas a evitar o culto aos ídolos. Ordenou-se
especificamente que Israel destruísse todas as coisas associadas com a idolatria.
Totalmente destruireis todos os lugares, onde as nações que possuireis serviram os seus deuses, sobre as
altas montanhas, e sobre os outeiros, e debaixo de toda árvore frondosa; e derrubareis os seus altares, e
quebrareis as suas estátuas, e os seus bosques queimareis a fogo, e destruireis as imagens esculpidas dos
seus deuses, e apagareis o seu nome daquele lugar. [...] e que não perguntes acerca dos seus deuses,
dizendo: Assim como serviram essas nações os seus deuses, do mesmo modo também farei eu. Assim não
farás ao SENHOR teu Deus... (Dt 12.2-4,30,31).
Quando Jacó saiu para purificar o campo (i.e., sua casa e seus serviçais) os brincos foram retirados bem
como seus deuses estrangeiros (Gn 35.4), porque os brincos deles estavam associados com seus falsos
deuses. Eles eram sinais de superstição. Quando Elias foi oferecer seu sacrifício, em uma disputa com
os profetas de Baal, ele não usou o altar pagão, algo criado para os ídolos (p.ex., as saturnais), e tentou
santificá-lo para o serviço de Deus (p.ex., Natal); em vez disso, ele reconstruiu o altar do Senhor. Os
cristãos não deveriam tomar emprestado o festival pagão de Yule ou as saturnais e vesti-los com
roupagem cristã; deveriam, em vez disso, santificar o dia do Senhor como fizeram os apóstolos. Quando
Jeú se levantou contra os adoradores de Baal e seu templo, ele porventura poupou o templo e o separou
para Deus? Não! Ele matou os adoradores de Baal: “Também quebraram a estátua de Baal; e
derrubaram a casa de Baal, e fizeram dela latrinas, até ao dia de hoje” (2Rs 10.27).
Além disso, temos o exemplo do bom Josias (2Rs 23), porque ele não apenas destruiu as casas e os altos de
Baal, mas também seus utensílios, bosque e altares; sim, os cavalos e os carros dados ao sol. Também o
exemplo do penitente Manassés, que não apenas destruiu os deuses estrangeiros, mas também seus altares
(2Cr 23.15). E de Moisés, o homem de Deus, que não se contentou apenas em executar vingança contra os
israelitas idólatras, a menos que ele pudesse também destruir totalmente o monumento de sua idolatria.26
Deus não deseja que sua Igreja use festividades e cerimônias pagãs e papistas, além de sua parafernália,
e as separe para o uso cristão. Ele nos ordena de forma direta a extingui-las totalmente da face da terra,
22
As saturnais, como o Natal, era o tempo para trocar presentes. Bonequinhas eram populares — pelo menos por
uma razão desagradável: simbolizavam mito de que Saturno devorava todos os recém-nascidos do sexo masculino para
ter certeza de morrer sem deixar herdeiros (The United Church Observer, Santa’s Family Tree, Dec. 1976, p. 14).
23
World Book Encyclopedia, (1955 ed.), vol. 3, p. 1425.
24
Encyclopedia Britannica, vol. 5 p., 643.
25
G. Lambert, Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, (Grand Rapids: Zondervan, 1975, 1976) vol. 1, p. 805.
26
George Gillespie, English Popish Ceremonies, (n.p., 1637), Part III, p. 19.
para sempre. Talvez você não se ofenda com a fogueira, a árvore de Natal, o visco, as frutinhas
vermelhas e a escolha de uma data pagã para celebrar o nascimento de Cristo, mas Deus se ofende. Ele
ordena que evitemos qualquer contato com os monumentos e com a parafernália do paganismo.
Caso sua mulher tivesse levado uma vida promíscua antes de você se casar com ela, você se ofenderia
se ela mantivesse fotos de seus ex-namorados em sua penteadeira? Você se incomodaria se ela
celebrasse os diversos aniversários relativos aos relacionamentos do passado? Você se ofenderia se ela
guardasse e demonstrasse apreço por anéis, jóias e presentinhos dados a ela por seus antigos
namorados? Logicamente você se ofenderia! O Senhor Deus é infinitamente mais zeloso de sua honra
que você: ele é o Deus zeloso. Israel poderia usar os dias festivos de Baal, Astarote, Dagom e Moloque
para agradar a Deus? De forma nenhuma! A Bíblia deixa muito claro quais reis de Judá agradaram mais
a Deus. Ele é servido quando ídolos, seus templos, suas vestes religiosas, brincos, casas consagradas,
árvores sagradas, postes, ornamentos, ritos, nomes e dias são eliminados da face da terra, para nunca
mais serem restaurados. Deus deseja que sua noiva elimine para sempre os monumentos, dias, a
parafernália e as recordações da idolatria: “Não aprendais o caminho dos gentios, nem vos espanteis dos
sinais dos céus; porque com eles se atemorizam as nações. Porque os costumes dos povos são vaidade”
(Jr 10.2,3). “Assim não farás ao SENHOR teu Deus; porque tudo o que é abominável ao SENHOR, e que o
aborrece, fizeram eles a seus deuses” (Dt 12.31).
Os cristãos não devem se desvencilhar apenas dos monumentos idolátricos do passado, mas também de
todas as coisas associadas à idolatria presente. O Natal é o dia santo mais importante do catolicismo
romano. O nome Natal* provém do romanismo: Christmass — a “missa de Cristo”. O nome christmas
[Natal] une o título de nosso glorioso Deus e Salvador com a idolátrica e blasfema missa do papado.
Dessa forma, o Natal [christmas] é uma mistura de idolatria pagã e invenções papistas.
A Igreja Católica Romana odeia o Evangelho de Jesus Cristo. Ela se vale de artifícios humanos, como o
Natal, para manter milhões de pessoas em trevas. O fato de muitos milhares de protestantes que dizem
crer na Bíblia observarem o dia santo católico romano —sem qualquer mandamento explícito da
Palavra de Deus— revela o triste estado do evangelicalismo moderno. “Não podemos nos conformar,
comungar e nos identificar com os papistas idólatras, ao usar os mesmos [símbolos], sem nos tornarmos
a nós mesmos idólatras mediante nossa participação.”27 Nossa atitude deve ser a do reformador
protestante Martin Bucer, que disse:
Desejo do fundo do meu coração que todos os dias santos, com exceção do dia do Senhor, sejam abolidos.
O zelo com o qual foram inventados, sem qualquer garantia da Palavra, e seguidos pela razão corrompida,
certamente para eliminar os dias santos dos pagãos... Esses dias santos foram tão conspurcados pelas
superstições que me espanto pelo fato de não estremecermos por ouvir-lhes o nome.28
A objeção comum contrária ao argumento da abolição desses monumentos pagãos é que esses fatos
ocorreram há tanto tempo que se tornaram inofensíveis para nós. Todavia, essa alegação é totalmente
falsa. Não existe apenas a idolatria do catolicismo romano, há também o ressurgimento das antigas
religiões pagãs tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. O movimento feminista radical revive no
presente as deusas da fertilidade e do Oriente Próximo. A Lei-Palavra de Deus nos diz para tomarmos
cuidado com os monumentos idolátricos. A lei de Deus não perde sua força com o passar do tempo.
31
Ralph Woodrow, Babylon Mystery Religion, (Riverside: Ralph Woodrow Evangelistic Association, 1961), p. 160-1.
32
É claro que o mundo ama cachorrinhos, torta de maçã e beisebol, mas essas coisas não possuem significado
religioso. Elas não estão associadas com Cristo nem são mandamentos religiosos.
Não seja enganado
Paulo nos adverte que “Satanás se transfigura em anjo de luz” (2Co 11.14). Essa é a razão pela qual os
festivais pagãos em todo o mundo são dias de diversão, dias de comidas especiais, festas, desfiles,
reuniões familiares e de troca de presentes. O objetivo de Satanás não é simplesmente escravizar
indivíduos, mas também controlar instituições, culturas e nações. O calendário pagão de “dias santos”,
nos quais os festivais pagãos são celebrados no tempo exato a cada ano, é um recurso inspirado por
Satanás para envolver culturas inteiras na rebelião contra a aliança divina. Ele deseja que pessoas e
países sejam escravizados por rituais pagãos e pelas trevas. Uma cultura está saturada de satanismo
quando festivais, ritos e cerimônias pagãs se tornam tão naturais que não são mais questionados em
determinada sociedade.
Como puderam os cristãos ser enganados a ponto de celebrar um dia festivo pagão? O dia foi
transformado de um período de trevas em um dia de luz. Como isso aconteceu? É muito simples: a
primeira coisa a ser feita é mentir. Ensine que esse dia é o aniversário de Cristo. O fato de Jesus não ter
nascido nesse dia não importa. Pouquíssimas pessoas averiguarão os fatos. E quem o fizer será
considerado fanático, pessoas indesejadas como Scrooges* modernos. A seguir, transforme a data em
um dia de reunião familiar, com presença obrigatória de todos. Que coisa maravilhosa: um dia para a
família toda jantar junta e apreciar seus valores. Faça-o também um dia de presentes e de caridade, um
dia de se preocupar com o próximo e de partilhar. Quem se oporia a isso? A seguir, dedique-o a todas as
crianças do mundo, um dia repleto de lembranças agradáveis. É um dia de sentimentalismo intenso. Não
corre uma pequena lágrima de seu olho quando você pensa em pais e irmãos reunidos perto da árvore?
Certifique-se de que todas as cidades (independentemente do tamanho) estejam decoradas a caráter.
Mantenha a indústria do entretenimento a todo o vapor com artigos especiais, filmes, espetáculos e
recitais. Exerça pressão em sua comunidade, local de trabalho, igreja e família sobre quem não celebra o
dia para que seja considerado perversor da verdade ou desconectado da realidade.
Essa estratégia tem sido efetiva? Sim, e muito. Houve um tempo quando presbiterianos e
congregacionais disciplinavam irmãos pela celebração do Natal. Para os protestantes da ala calvinista da
Reforma, a celebração desse dia foi impensável durante quase 300 anos. Agora se você for presbiteriano
e não celebrar o Natal, irmãos da mesma denominação pensarão que você é fanático. Os protestantes
têm sido enganados, iludidos, ludibriados e tapeados por terem esquecido o PRC: “Toda a Palavra de
Deus é pura: escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te
repreenda e sejas achado mentiroso” (Pv 30.5,6). Haveria apenas uma razão aceitável para o cristão
celebrar o Natal, e ela seria uma ordem direta da Palavra de Deus para assim proceder. Visto que não há
uma instrução implícita ou explícita para agir dessa forma, sua celebração é proibida.
*
Ebenezer Scrooge: personagem da história de Charles Dickens, Um conto de Natal, caracterizada pelo desprezo em
relação à pessoas e também à celebração do Natal. [N. do T.]
33
John MURRAY, Romanos (Comentário Bíblico Fiel), São José dos Campos: Fiel, 2003) p. 539.
34
Ibid., p. 673.
35
De 24 comentários consultados, apenas um contemplava a possibilidade de não serem dias ligados à economia mosaica.
desses dias santos judeus por causa de circunstâncias histórias exclusivas. Quando Jesus Cristo morreu
na cruz, os aspectos cerimoniais da lei (p.ex., sacrifícios de animais, dias santos, circuncisão etc.) foram
cumpridos. Entretanto, antes da destruição de Jerusalém e do templo no ano 70 d.C., os apóstolos
permitiram certas práticas por parte dos cristãos de origem judaica desde que se não lhes atribuísse a
justificação. Em Atos 21.26, encontramos o apóstolo Paulo indo ao templo “anuncia[r] serem já
cumpridos os dias da purificação”. Aos judeus crentes acostumados a manter certos dias santos da
economia mosaica foi permitida a continuação dessas práticas durante certo tempo. Porém, destruído o
templo, completado o cânon das Escrituras, e a existência da Igreja durante uma geração completa, essas
circunstâncias históricas únicas findaram. E mesmo que essa passagem posse aplicável à situação
presente, ela não poderia ser utilizada para justificar o Natal, porque os dias mencionados por Paulo não
foram “cristianizados” a partir de dias santos pagãos nem de dias santos arbitrariamente estabelecidos
por seres humanos. Portanto, se essa passagem ainda fosse aplicável em nossos dias, ela seria usada
apenas para justificar a celebração privada dos dias santos judaicos por crentes judeus “fracos” na fé.
Ela não pode ser usada como justificativa para dias estabelecidos por seres humanos ou dias pagãos não
ordenados por Deus.
2. Essa passagem não apenas não permite aos cristãos celebrar o Natal, mas ela também proíbe a
celebração de cultos de Natal de qualquer tipo, bem como festas natalinas. Paulo permite a diversidade
na Igreja a respeito deste assunto (i.e., os dias santos dos judeus). Ambos os grupos devem se aceitar
mutuamente em busca de paz e unidade na Igreja. O dois lados crêem obedecer a Palavra de Deus. “A
conformidade forçada ou a pressão exercida com o objetivo de assegurar a conformidade anula os
objetivos aos quais as exortações e reprimendas são dirigidas.”36 Dessa forma, seria errado que os
crentes judeus fracos levassem a Igreja a ter um culto de adoração em honra de um dia santo cerimonial,
porque os crentes gentios fortes não se sentiriam compelidos a estar presentes nesse culto pública a
Deus. Portanto, aqueles que celebravam os dias santos judaicos faziam-no em particular para o Senhor.
Quem usa essa passagem para justificar a celebração do Natal deveria, da mesma forma, sentir-se forçado
pela injunção de Paulo a manter o dia em caráter privado. Então, cultos natalinos e festas de Natal na
Igreja deveriam cessar pela violação da liberdade cristã de não celebrar essa data. É claro que pelo fato de
o Natal não ser ordenado por Deus e constituir um monumento à idolatria, sua celebração é proibida.37
Pastores e presbíteros que autorizam a celebração do Natal abusam de seu ofício. O pastor e os líderes
de uma igreja recebem sua autoridade de Deus. Eles são responsáveis por reger a igreja de acordo com a
Palavra de Deus. Quando pastores e presbíteros autorizam o culto especial de Natal, eles o fazem por
conta própria, pois não há garantia da Palavra de Deus para proceder assim. Portanto, neste ponto ele
não age de modo diferente de um papa ou bispo, introduzindo invenções humanas na Igreja. As pessoas
na igreja que se recusam a tomar parte no dia festivo pagão-papal, que se recusam a adorar a Deus de
acordo com a imaginação humana, que se recusam a adorar a Deus sem autorização divina, são forçadas
pela liderança local a permanecer em casa em vez de estarem presentes ao culto público a Deus.
Portanto, neste ponto, muitos presbíteros atuam como papas, prelados e tiranos em detrimento do
rebanho de Deus por tirarem a liberdade que temos em Cristo para adorar a Deus como corpo “em
espírito e verdade”, publicamente, no dia do Senhor.
II. Os judeus nos dias da rainha Ester não estabeleceram um dia santo não-autorizado pela lei de
Moisés? Este exemplo não permite que a Igreja estabeleça dias santos (p.ex., Natal) não-autorizados
pela Bíblia?
1. Quase não há semelhanças entre o Natal e Purim. Purim consiste em dois dias de ação de graças. Os
acontecimentos do Purim são: “alegria e gozo, banquetes e dias de folguedo [...] e [o envio de] presentes
uns aos outros e dádivas aos pobres” (Et 8.17; 9.22). Não havia culto público, atividades dos levitas e
nem cerimônias. Os dois dias de Purim têm mais em comum com o dia de ação de graças e com jantares
36
Murray, p. 178.
37
Em Gl 4.10,11 e Cl 2.16,17 a guarda de dias é concenada por Paulo por sua conexão nesses casos com heresias. A
situação em Roma era diferente. Os dias eram guardados por causa de má-compreensã. Não havia o envolvimento de
heresias e aplicação de justiça derivada de obras.
de família que com o Natal. Essa data certamente não é a justificativa para os cultos natalinos. Sua
celebração é mais parecida com os dias de ação de graças, que ainda são permitidos, e não com os dias
santos cerimoniais do sistema levítico. De fato, os teólogos de Westminster usaram a celebração de
Purim como texto-prova para a autorização de dias de ação de graça (Et 9.22).38
2. Purim foi um acontecimento histórico único na história da salvação de Israel. O festival foi decretado
por autoridades civis: pelo primeiro ministro Mardoqueu e pela rainha Ester. O povo concordou de
forma unânime. A ocasião e autorização de Purim estão escritas na Palavra de Deus e foram
aprovadas pelo Espírito Santo. O imperativo bíblico de não adicionar nem subtrair aplica-se às leis e
adoração estabelecidas por seres humanos. Ela certamente não proíbe o Espírito Santo de completar o
cânon da Escritura e instituir novas regulamentações.
3. O Natal é intrinsecamente imoral por ter sido estabelecido sobre monumentos da idolatria pagã. Não
há nada errado um país manter um dia de ação de graças por um ato especial de libertação divina.
Contudo, há algo muito errado quando uma igreja corrupta tenta dar características cristãs a vestimentas
pagãs; e algo muito errado quando protestantes conspiram com a Igreja corrupta de Roma e usam o
piedoso Mardoqueu como desculpa.
III. Não se questiona que o Natal não tenha lugar no culto público a Deus, mas não seria correto
celebrá-lo em particular?
O problema com esse conceito é o pressuposto de que o PRC seja restrito apenas ao culto público. Não
existe evidência bíblica para apoiar o uso do PRC apenas nessa ocasião. De fato, a Bíblia apóia o
conceito oposto. Caim foi condenado por uma inovação no culto particular (Gn 4.2-8). Noé, em um
culto familiar, ofereceu animais limpos a Deus (Gn 8.20,21). Deus se agradou e aceitou a oferta de Noé
a favor de si mesmo e de sua família. Abraão, Jacó e Jó ofereceram sacrifícios a Deus em cultos
particulares ou familiares de acordo com a Palavra de Deus. Deus aceitou essas ofertas legais. A idéia de
permissibilidade de inovações no culto em família ou particular não é bíblica; é totalmente arbitrária por
não se basear na revelação divina. Se uma novidade desagrada a Deus no culto público, como ela
poderia agradá-lo no culto particular? Se fosse assim, de acordo com essas premissas, poderíamos
possuir em casa pequenas capelas onde queimaríamos incenso, vestiríamos sobrepelizes, mitras,
evitando apenas o uso dessas coisas em cultos públicos?
Existem algumas diferenças entre o culto público e o particular (p.ex., o culto particular pode ser feito
duas ou três vezes por dia, ao passo que o culto público deve ser realizado pelo menos uma vez a cada
dia do Senhor). Indivíduos nas denominações reformadas que trouxeram inovações não-bíblicas como o
Natal, mulheres ensinando Bíblia e teologia para homens em estudos bíblicos e aulas de escola
dominical, a introdução de hinos e melodias de Natal etc., não procuram justificar essas práticas
mediante a Escritura. Em vez disso, elas arbitrariamente regulamentam essas atividades sem consultar o
PRC ao dizer que elas se encontram na esfera do culto particular. Pastores e rebanhos se encontram tão
apaixonados por essas inovações que partem para a mistificação. Agem como se pastores, papas ou
bispos possuíssem autoridade para transformar o culto particular (no qual presumem a permissão da
autonomia humana) em culto público (onde a Palavra reina suprema) ao dizer: “Agora tem início o culto
público a Deus”. Em que parte da Bíblia o culto público é relegado a poucas horas no dia do Senhor?39
Jesus Cristo disse: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou no meio deles”
(Mt 18.20). Como pode uma mulher ensinar homens em particular no domingo? Como poderiam
cinqüenta pessoas cantar canções natalinas no culto particular? Não presuma a permissão divina para
inovações e autonomia humana no culto particular. Tente prová-las pela Palavra de Deus. Você não
conseguirá. Não declare arbitrariamente que suas práticas se referem ao culto particular quando são
38
Confissão de fé de Wetminster, (1647), cap. XXI, seção 5, texto-prova (a).
39
O povo de Deus é a Igreja; quer se reúnam em edifício próprio, celeiro, estacionamento ou casa. Quando os cristãos se
juntam para ouvir a Palavra de Deus, há uma reunião da igreja. Trata-se de culto público quer ele comece às 7h ou às 23h. O
culto público deve ocorrer no dia do Senhor, mais isto não significa que o culto público esteja limitado a um dia apenas.
próprias do culto público. Os rabinos do passado justificavam todo tipo de coisas sem sentido com o
mesmo raciocínio.
A Bíblia diz: “um pouco de fermento faz levedar toda a massa” (1Co 5.6; Gl 5.9). Quando presbíteros e
pastores presbiterianos pararam de disciplinar membros da igreja por causa da celebração doméstica do
Natal nos séculos XIX e XX, praticamente permitiram que o fermento pagão-papista do Natal se
espalhasse. De fato, foi o que aconteceu. Deve-se procurar bastante para encontrar um lar de
presbiterianos onde a invenção papista não seja celebrada.40
IV. Nós não celebramos o Natal. Para nós o dia é apenas um dia comum em família. O que
poderia haver de errado nisso?
Há 365 dias no ano. É interessante que o dia anual da reunião da família ocorra exatamente em 25 de
dezembro? Por acaso vocês não estariam imitando seus vizinhos pagãos e sua cultura? Vocês não
estariam celebrando o dia, como os demais e apenas declarando o secular como justificativa ou
desculpa? Se você estiver passando um dia agradável em família, você encherá sua sala com
monumentos e lembranças da idolatria passada e presente? Você diz ser apenas um dia secular em
família, mas você tem uma árvore de Natal, sempre verde, visco, presentes, velas e cantigas. É óbvio
que vocês celebram o Natal da mesma forma que os papistas. A verdade é que se vocês eliminarem toda
a parafernália pagã do Natal, então provavelmente não se incomodarão em celebrá-lo. O dia pagão
perderia seu fulgor, charme e atração emocional. Como cristãos devemos nos dedicar à família.
Devemos nos reunir com nossos parentes e usufruir mutuamente de sua companhia. Mas não
precisamos de um dia de festa pagã para fazê-lo.
Conclusão
Se a Igreja de Jesus Cristo deve ser sal e luz para nossa cultura degenerada, ela deve purificar a própria
casa. Mais e mais cristãos têm tentado impactar positivamente nossa cultura pagã. Eles tentam resgatar a
data do humanismo secular e do estadismo. Esse novo envolvimento é necessário, mas ele não será
bem-sucedido até que a Igreja retorne à pureza doutrinária e do culto alcançada pela ala calvinista da
Reforma. O Estado romano pagão com todo o seu poder não conseguiu destruir a Igreja cristã. A Igreja
prosperou a despeito da tirania e da opressão do Império Romano. O que causou o colapso da Igreja foi
a decadência interna. A corrupção da doutrina e do culto na Igreja a tornaram uma fonte de heresia,
superstição, idolatria e tirania.
O evangelicalismo moderno se encontra em um sério estado de declínio. O movimento de crescimento
da igreja, o movimento ecumênico, o pragmatismo e a manutenção da paz têm precedência sobre a
integridade doutrinária e o culto puro. Como resultado, o evangelicalismo moderno é frouxo,
comprometido, impotente e morno. Não é simples coincidência que a Igreja tenha tido um impacto mais
positivo sobre a sociedade e a cultura quando sua doutrina e culto eram mais puros (p.ex., o segundo
período da Reforma na Escócia, 1638). Só quando retornarmos ao culto bíblico rejeitaremos a
autonomia humana.
40
Como demonstramos antes, o Natal é um monumento à idolatria passada e presente; portanto, mesmo sem a
intervenção do Princípio Regulador do Culto é errado celebrá-lo no lar, no escritório, na igreja, no clube etc.
Apêndice histórico
Sempre consideramos extremamente abomináveis aos olhos de Deus todas as invenções humanas, i.e.,
as festas e vigílias dos santos, a água chamada “benta”, a abstinência de carne em determinados dias, e
coisas similares, mas em especial a missa.
Primeira confissão valdense, 1120.
Por doutrina contrária, entendemos tudo o que homens mediante leis, concílios ou constituições
impuseram à consciência humana sem o mandamento expresso da Palavra de Deus, como os votos de
castidade, o repúdio ao matrimônio, a compulsão de homens e mulheres ao uso de trajes especiais, a
observância supersticiosa de dias de jejum, diferenciação de carnes [alimentos] por questão de
consciência, oração pelos mortos e a manutenção de dias especiais dedicados a santos humanamente
ordenados, bem como todos os inventados pelos papistas, e os dias de festa (como eles os designam) dos
Apóstolos, Mártires, das Virgens, do Natal, da Circuncisão, Epifania, Purificação, e outras celebrações
de nossa Senhora. Julgamos que todas elas, pelo fato de não terem sido ordenadas nem certificadas nas
Escrituras divinas, devem ser completamente abolidas de nosso meio; e afirmamos ainda que os
obstinados no ensino e na perpetuação dessas abominações não devem escapar da punição do
magistrado civil.
Igreja da Escócia, (First) Book of Discipline [(Primeiro) Livro de Disciplina], 1560.
Entretanto, não podemos deixar de mencionar uma única coisa escrita no capítulo 24 da referida
confissão [Segunda confissão helvética] concernente à “festa da natividade de nosso Senhor, da
circuncisão, paixão, ressurreição ascensão, e do envio do Espírito Santo sobre seus discípulos”, essas
festas no presente momento não têm lugar entre nós; pois não ousamos celebrar religiosamente nenhum
outro dia de festa que não seja prescrito pelos oráculos divinos.
Assembléia Geral da Igreja da Escócia (assinada por John Knox, John Craig, James Melville etc.), Carta ao
eminente servo de Cristo, mestre Teodoro Beza, cultíssimo e mui cuidadoso pastor da Igreja de Genebra, 1566.
Todos os dias tidos por santos até agora, além dos dias de sábado, como o dia do Yule [Natal], dias dos
santos, e outros, devem ser abolidos, com penalidades civis contra os praticantes dessas cerimônias,
desses banquetes, jejuns, e outras vaidades dessa ordem.
Assembléia Geral da Igreja da Escócia, Artigos para apresentação ao Senhor Regente (1575).
Abominamos e detestamos todas as coisas contrárias à religião e doutrina, mas principalmente todas as
variedades do papismo e invenções particulares, pelo fato de agora terem sido condenadas e refutadas
pela Palavra de Deus e pela Igreja da Escócia. Todavia, de forma especial, detestamos e rechaçamos a
autoridade usurpada pelo anticristo de Roma, das Escrituras divinas, exercida sobre a igreja, o
magistrado civil, a consciência humana [...] [quer pela] dedicação de igrejas, altares, dias...
John Craig (subscrita pelo rei e pela Assembléia Geral da Igreja da Escócia em 1580; renovada em 1581, 1590 e
1638), O Pacto Nacional: ou, a confissão de fé, 1580.
A Igreja de Genebra celebra a Páscoa e o Yule [Natal]. O que eles têm a seu favor? Eles não têm
nenhuma base [bíblica].
Rei Tiago VI (Tiago I), Alocução à Assembléia Geral da Igreja da Escócia, 1590.
Se Paulo condena os gálatas pela guarda de festas instituídas pelo próprio Deus, e apenas para sua
glória, e não a de qualquer criatura, tanto mais condenáveis são os papistas, que obrigam a celebração de
destas inventadas por seres humanos, para a honra de outros homens.
Thomas Cartwright (ministro não-conformista, Inglaterra), Refutação da tradução, das glosas e das anotações do
rhemistas, 1618.
Opostos à ordenança do dia do Senhor são todas as festas ordenadas pelos homens e consideradas dias
santos como o dia do Senhor.
William Ames (ministro não-conformista, exilado na Holanda, professor de teologia em Franeker), The Marrow
of Theology (1623).
Os dias de festa, comumente designados dias santos, por não terem autorização na Palavra de Deus,
não devem ser mantidos.
Assembléia de Westminster, Directory for Publick Worship [Diretório para o culto público], 1645.
Pergunta: Existe algum dia santo além deste dia [i.e., o dia do Senhor]?
Resposta: Não há nenhum outro dia além deste — santo por instituição do Senhor; ainda que dias de
humilhação e de ação de graças possam ser legalmente apontados pelos homens para invocar a
Providência, os dias santos papistas não são autorizados e nem devem ser observados (Gl 4.10:
“Guardais dias, e meses, e tempos, e anos”).
John Flavel (ministro não-conformista, Dartmouth, Inglaterra, An Exposition of the Assembly’s Shorter Catechism
[Uma exposição do Breve Catecismo da Assembléia], 1692.
Pergunta: A Igreja pode apontar dias santos para recordar o nascimento, a morte, a tentação e a
ascensão (etc.) de Cristo?
Resposta: Não. Assim como Deus aboliu os dias santos judaicos por ele estabelecidos, não concedeu
autorização à Igreja para estabelecer outros. Entretanto, ele nos ordenou trabalhar seis dias, exceto
quando a Providência nos convocar para a humilhação ou ação de graças; e proíbe-nos expressamente
de observar dias santos designados por homens (Cl 2.16; Gl 4.10,11).
John Brown, de Haddington (ministro e professor, Sínodo Associado [Presbiteriano] de Burgher), An Essay
Towards an Easy, Plain, Practical, and Extensive Explication of the Assembly’s Shorter Catechism [Um ensaio
para uma explicação fácil, clara, prática e abrangente do Breve Catecismo da Assembléia], 1758.
Esta é a estação do ano na qual, querendo ou não, somos compelidos a pensar sobre o nascimento de
Cristo. Considero um dos maiores absurdos que possam ocorrer debaixo do céu pensar que exista algo
religioso na celebração do Natal. Não há nenhuma probabilidade de que nosso Salvador Jesus Cristo
tenha nascido nesse dia, e sua celebração é de origem puramente papista; sem sombra de dúvida, os
católicos têm o direito de santificá-lo, mas eu não vejo como protestantes coerentes podem considerá-lo
sequer sagrado.
Charles Haddon Spurgeon, “The Incarnation e Birth of Christ”, 23/12/1855.
Não somos supersticiosos a respeito de tempos e estações. Com certeza não cremos no arranjo
eclesiástico atual chamado Natal. Em primeiro lugar, por não crermos na missa; ao contrário, nós a
abominamos, quer seja cantada em latim quer em inglês. Em segundo lugar, por não encontrarmos
nenhuma garantia bíblica para guardar qualquer dia como o aniversário do Salvador; conseqüentemente,
sua observância é uma superstição por não possuir autoridade divina. Essa superstição encontrou
guarida no dia do aniversário do nosso Salvador, ainda que não haja a menor possibilidade de descobrir
sua ocorrência. [...] Foi só no final do século III que em algumas partes da igreja passou-se a celebrar o
nascimento de nosso Senhor; não muito tempo depois da igreja ocidental ter estabelecido o exemplo que
a igreja oriental o adotou. [...] Provavelmente o fato é que os dias “santos” foram arranjados de forma a
substituir os festivais pagãos. Não nos arriscamos a afirmar, caso houvesse algum dia no ano do qual
pudéssemos estar certos de ser o dia do nascimento do Salvador, que ele seria o 25.o dia de dezembro. ...
Sem levar em consideração o dia, entretanto, demos graças a Deus pelo dom de seu querido Filho.
Charles Haddon Spurgeon, “Joy Born at Bethlehem”, 24/12/1871.
... Quando se puder provar que a celebração do Natal, do Pentecostes e de outros dias santos papistas foi
instituída por estatuto divino, também nós os celebraremos, mas até então não o faremos. É nossa
obrigação rejeitar as tradições humanas e observar as ordenanças do Senhor. Perguntamos a respeito de
cada rito e rubrica [litúrgica]: “Esta é uma lei do Deus de Jacó?”, e se a resposta não for afirmativa, ela
não possuirá autoridade entre nós que caminhamos na liberdade cristã.
Charles Haddon Spurgeon, Treasury of David [Tesouro de Davi], s/d, Salmos 81.4.
Não há base bíblica para a observância do Natal e da Páscoa como dias santos, mas o contrário
(v. Gl 4.9-11; Cl 2.16-21), e essa costume é contrário aos princípios da fé reformada, conduzem á
adoração vã, e estão em desarmonia com a simplicidade do Evangelho de Jesus Cristo.
Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos (presbiterianos do Sul), Deliverance on Christmas
and Easter (1899).
P. 7. A instituição do Natal ou a Páscoa não constitui uma intrusão ousada contra a prerrogativa divina
da designação de dias festivos?
R. Trata-se da depreciação da sabedoria divina e da afirmação de nosso direito e habilidade de melhorar
seus planos.
James Harper (professor do Seminário Teológico de Xenia, Igreja Presbiteriana Unida [United Presbyterian
Church], An Exposition in the Form of Question and Answer of the Westminster Assembly’s Shorter Catechism
(1905).
Os dias de festa, comumente designados “dias santos”, não têm base bíblica, e por isso não devem ser
observados.
Sínodo Presbiteriano Reformado, Constitution of the Associate Reformed Presbyterian Church (1937).
Estou sozinho na biblioteca e aparentemente não haverá ninguém no Salão Machen até a seta-feira de
manhã. São 21h30 da quarta-feira. Você pode achar tudo lúgubre. Bem, eu gosto disso. É uma alteração
deliciosa da rotina. Tive dois excelentes dias na biblioteca. A segunda-feira foi ocupada com reuniões
antes do almoço. Espero passar o dia todo de amanhã aqui. Nem mesmo um convite de jantar de
“Natal” (como eles o chamam). Detesto-o completamente.
John Murray (professor do Seminário de Westminster, da Igreja Presbiteriana Ortodoxa [Orthodox Presbyterian
Church], “Letter to Valerie Knowlton, Dec. 24, 1958,” in Collected Writings, Vol. 3 (1958).
É justamente essa atitude de indiferença em relação à Constituição que nos conduziu ao estado atual da
PCUS. Anteriormente, como se encontra declarada na Deliverance on Christmas and Easter
[Declaração sobre o Natal e a Páscoa], de 1899, havia uma preocupação meticulosa pela permanência
como padrões, e a interpretação estrita da Escritura a respeito desse assunto. Agora acontece o reverso a
ponto da adoção do calendário litúrgico da tradição antiga, sem qualquer base bíblica.
Morton Smith (professor do Seminário Teológico de Greenville, da Igreja Presbiteriana dos EUA [Presbyterian
Church in America]), How is the Gold Become Dim, 1973.
Dias santos. A Igreja Presbiteriana Livre rejeita o costume moderno da celebração do Natal e da Páscoa,
prevalecente na Igreja da Escócia. Ela considera a observância desses dias como um sintoma da
tendência a favor do episcopado na Igreja da Escócia. No tempo da Reforma na escócia essas festas
foram retiradas da igreja não só como algo desnecessário, mas antibíblico.
Comitê designado pelo Sínodo da Igreja Presbiteriana Livre [Free Presbyterian Church], History of the Free
Presbyterian Church of Scotland. 1893-1970 [1974])
Recentemente, as denominações que nunca usaram o calendário [litúrgico], foram induzidas pelo
Conselho Nacional de Igrejas [National Council of Churches] a adotar a prática... Como se podem
defender essas formas não-bíblicas de culto? o princípio puritano, isto é, o mandamento bíblico, é que
no culto não se deve adicionar nada e nem subtrair das exigências divinas... [O professor] James
Benjamin Green, Studies in the Holy Spirit [Estudos sobre o Espírito Santo] (Revell, 1936), incentivou
os cristãos a celebrar o Pentecoste: “Existem três grandes dias no ano cristão: o Natal, a Páscoa e o
Pentecoste, e não somos verdadeiros para com nossa fé quando permitimos que o domingo do
Pentecoste seja preterido... Ele está postado entre o Natal e a Páscoa. Esses três dias são os mais
importantes do ano cristão”.
É incrível que o professor de um seminário presbiteriano fosse tão romanista e anti-reformado. A
Escritura nos dá as regras do culto, e, repito, delas não devemos nada subtrair, nem algo lhes
acrescentar. Não devemos nos mover para a esquerda e nem para a direita, A Escritura não nos autoriza
a celebração do Pentecoste. O mesmo é verdadeiro em relação ao Natal. Ele começou como uma festa
de bêbados e continua dessa forma em muitas festas no ambiente de trabalho. Os puritanos fizeram
dessa celebração um crime civil. Entretanto, um argumento para a celebração do Pentecoste era: “Não
celebram todos os cristãos o Natal e a Páscoa?” Não, os cristãos não o celebram. A família de meu pai e
os membros de sua igreja nunca celebraram o Natal, tampouco o fizeram as duas administrações
Blanchard no Wheaton College. Porém, o que dizer da Páscoa? Certamente devemos celebrá-la, não é?
Sim, de fato. Devemos, como ordena a Escritura, celebrá-la não apenas uma vez por ano, mas 52 vezes.
Gordon H. Clark (professor do Covenant College, da Igreja Presbiteriana Reformada), The Holy Spirit.
O Natal, a Sexta-Feira Santa e a Páscoa são dias santos romanos. Isso significa que sua fonte é a
tradição católica romana, não a Escritura... Houve ocasiões na história das igrejas reformadas na quais a
verdade da sobre os dias santos receberam atenção reverente. Antes da chegada de João Calvino a
Genebra, no tempo da grande Reforma, descontinuaram-se ali a guarda dos dias santos romanos. Isso se
deu sob a liderança de Guillaume Farel e Pierre Viret. Outrossim, Calvino concordava inteiramente. É
fato notório que ao chegarem essas datas tradicionais, Calvino não lhes dava a menor atenção. Apenas
continuava sua exposição dos livros da Bíblia. Os reformadores, Knox e Zuínglio, concordaram com
Calvino. Bem como as igrejas reformadas da Escócia e da Holanda. No Sínodo de Dort, em 1574,
anuiu-se que apenas o sábado semanal deveria ser observado, e a guarda de outros dias seria
desestimulada. Essa pratica bíblica foi mais tarde contemporizada. No entanto, isso não altera o fato de
que as igrejas reformadas eram favoráveis originariamente ao princípio bíblico. A posição original das
igrejas reformadas era escriturística Este é um assunto importante.
G. I. Williamson, ministro da Igreja Presbiteriana Ortodoxa [Orthodox Presbyterian Church], On the Observance
of Sacred Days [n.d.]).