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Introdu çã o :
afirmar que a mulher não tinha liberdade nenhuma ao longo da sua vida,
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será que existiam domínios em que ela tinha direito a dizer não? Em
relação aos seus filhos (e não nos esqueçamos que outro lugar-comum
muito frequente é o de que a mulher, sendo fértil, devia ter um filho por
das obrigações da mulher (se não mesmo das mais importantes)? Porque
se-á dar a conhecer (de um ponto de vista mais religioso, já que nesta
Com certeza que, hoje em dia, já ninguém pensa que todas as mulheres
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que este terceiro ponto do trabalho vai tentar fazer ver aos leitores é o
que se esperava que essas mulheres fizessem, uma vez confessa a sua
“culpa”.
XIII”.
1
DUBY, G. “A Idade Média, uma idade do Homem”, pg. 33
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palavra significa.
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“Las VII partidas de Alfonso X”, IV partida, lei 2.
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propensos a sentir, ou então «para gerar uma prole que seja educada
“Partidas”. Ele afirma que há algumas situações em que o casal não peca
mujer com intención de tener hijos, no hace pecado ninguno, pues antes
hace lo que debe según Dios manda (...) 3». A Igreja defendia que Deus
tinha ordenado aos seres humanos não que retirassem prazer do acto
que podemos ver aqui uma “arma” que a Igreja usava para alargar a sua
3
“Las VII Partidas de Alfonso X, el Sabio” – IV Partida, título II, lei 9, l. 4-6
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que sim.
(tal já não era mais possível) mas casta. Esta virtude - a castidade -
vai ser muito exaltada pela Igreja ao longo da Idade Média. Aliás, esta
encarna aos olhos dos clérigos ora uma ora outra das virtudes
dias “legais” (!) para tal; assim, era proibido um casal ter relações
4
“História das Mulheres – a Idade Média”, pg. 143.
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de Duby6:
submissas, que fossem castas, que fossem modelos a seguir, que fossem
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Citação recolhida do “Penitenciário de Martins Perez”.
6
“A Idade Média – uma Idade do Homem”, pp. 16-17.
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Como se sabe, o dia de Domingo é o dia santo da religião Católica Cristã, e pelo que
anteriormente ficou dito percebe-se claramente o porquê desta crença.
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Bíblia Sagrada, I Ped 3, 1-4
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exterior9.
esposa casta, que foi casada 7 vezes sem nunca consumar o casamento,
pois era possuída por um demónio. Apenas o seu casamento com Tobias
foi bem sucedido, uma vez que rogaram a Deus na sua noite de núpcias,
antemão que não poderá mais ser virgem, a sua pureza perder-se-ia.
9
Aliás, este era mais um dos factores que levava a Igreja Católica a não defender
incondicionalmente o casamento, uma vez que o responsabilizava pelo facto de levar as
mulheres ao pecado da vaidade. Pelo seu lado, elas justificavam-se, afirmando que só
faziam tal para agradarem aos seus maridos. Isto levou a que mais tarde se tenha ido
impondo o costume de as mulheres da nobreza que fossem casadas há mais de 6 anos se
vestissem todas de preto – isto provaria que elas eram, de facto, castas.
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Mas uma questão se nos põe. Será que de facto estas limitações
todas teriam apenas um âmbito religioso, será que eram impostas apenas
Ao lermos Jack Goody, vemos que este autor pensa que todas
ainda que todas estas restrições podem ter por base a tentativa de
“banir”, por assim dizer, as amas de leite (questão que irá ser explicada
10
Goody, 1985, pg. 173
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irá ver mais adiante, neste trabalho, os filhos eram um dos objectivos
origina fraquezas genéticas; por certo que na Idade Média, embora não o
casassem pela Igreja. O que nos leva a pensar. De que forma entrou a
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eclesiásticos proíbem. Como se torna lógico, o rei per se não tem poder
apenas um. No entanto, o rei tem poder para uma coisa – para pedir
de facto cumprida, quanto mais não seja pelo medo que as pessoas
tinham da excomunhão, pelo medo que tinham de, no Além, não poderem
conseguia a Igreja controlar isto? Através dos inquéritos que lhe eram
11
E é importante perceber que o incesto aqui se refere não apenas ao incesto “directo”,
ou seja, entre pais e filhos ou entre irmãos, mas também entre primos – directos ou até a
um certo grau, que era definido pela Igreja. Este grau foi mudando ao longo dos tempos,
consoante as pressões de que a Igreja era alvo. Em certas alturas, diz-nos Goody, a
Igreja proibia o casamento entre parentes em tantos graus que para uma pessoa de uma
aldeia poder casar, tinha que ir procurar cônjuge nalguma aldeia vizinha, pois na sua
aldeia natal não havia ninguém que não fosse seu parente. Goody, no entanto,
apresenta-nos as razões que poderiam levar à realização de casamentos endogâmicos;
segundo este auto, o facto de uma jovem casar fora da sua paróquia só traria
desvantagens. Em primeiro lugar, daria uma parte da propriedade da paróquia a um
forasteiro. Para além disso, cada rapariga que casasse fora da sua aldeia/paróquia
aumentaria a possibilidade de um rapaz ficar solteiro e “de trabalhar como criado em casa
de outrém” (Goody, 1995, pg. 171)
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se realizar. Para que serviam estes inquéritos? Uma das medidas que
para este controle ser levado a cabo com eficácia – eram então
(ou seja, junto dos veteres populi), mas apenas depois de terem sido
situação: «[el clérigo] amonesta a todos cuantos allí están a que si saben
que hay algún impedimento entre ellos por el que no deban casar en
para abençoar, para exorcizar, não apenas para moralizar, mas para
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Afonso X, idem, IV partida, título III, Lei I.
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meu]»13 Penso que este excerto de Duby nos mostra claramente qual o
incesto deve ter sido um dos pontos em que poder temporal e poder
penso ser mais fácil perceber a questão dos matrimónios secretos – que
foi dito. Tudo é feito para evitar o incesto, um dos mais graves crimes
sexuais de então. Não se pode casar sem testemunhas (ou seja, não se
13
DUBY, idem, pg. 19
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inquéritos para provar a exogamia do acto. Quem for castrado não
pode casar; quem for criança14 não pode casar – apenas pode ser
casamento.
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Pois as crianças (por natureza) e os castrados (que poderão ter ficado assim por várias
razões) são impotentes, e se uma das justificações do casamento é a geração de filhos,
facilmente se percebe por que razão o matrimónio lhes está interdito.
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Impotência tanto masculina como feminina.
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Goody, 1995, pg. 171
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de divórcio, uma vez que aos olhos de Deus o casamento não tinha sido
dissolvido. Aliás, o próprio Jesus afirma que “Se alguém repudiar a sua
adultério” (Mt, 19, 9). Se por acaso alguém quisesse voltar a contrair
casamento por ter enviuvado, nenhuma lei havia que o proibisse (embora
núpcias eram tão mais frequentes quanto mais baixa era a classe social
mortalidade infantil era maior. Logo, para tentar preencher o vazio que a
mais facilmente – não nos esqueçamos que o acto de dar à luz trazia
17
Goody, 1995, pg. 172
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José Mattoso dá-nos a entende este facto muitíssimo bem na sua obra
casa do seu marido, e outra vertical, para uma escala social diferente,
normalmente para uma inferior, pois os pais querem para os seus filhos
não era algo que se encarasse de ânimo leve na Idade Média, uma vez
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Os d evere s d as mul h er e s
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peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se
reproduzir.
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“Gerar filhos continuadamente e até á morte”, é o que nos diz o dominicano Nicolau de
Gorran.
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população.
Em relação aos filhos, mulher tinha que tomar toda uma série de
filhos, terá possibilidade de lhes incutir todos os seus valores (não nos
a cabo por uma ama de leite, não havia certezas de a criança vir a
19
DUBY e PERROT, “História das Mulheres – a Idade Média”, pg. 163.
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de a Igreja não ver com olhos muito bons esta questão das amas de leite,
seu marido para que este não caia no pecado do adultério, e isto seria
evidente que a mãe tem uma tendência natural para amar os seus filhos
e as suas filhas. No entanto, como “ser fraco” que é, os filhos (os filhos-
primeiros anos de vida, a transferir o seu amor pela mãe para um amor
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É importante referir que, regra geral, acreditava-se que a educação dos filhos (e
nalguns casos das filhas) deveriam ser entregues a uma autoridade masculina, como
aconteceu com o cavaleiro de La Tour Landry e com o rei de França, São Luís
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apenas pelos seus valores morais e cristãos mas também pela castidade
(mais uma vez, esta virtude fundamental) dos seus corpos; notemos o
História: o bordar, o coser. Quem nunca ouviu dizer que o papel das
encontramos a explicação para este facto. Bordar, fiar, tecer... tudo isto
são tarefas que obrigam a mulher a ficar em casa, a não sair para o
quiserem. Assim,
21
DUBY e PERROT “História das Mulheres – a Idade Média”, pg. 167
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é muito controversa, uma vez que a Bíblia também nos pode levar a
pensar que a mulher deve ser submissa uma vez que foi feita a partir da
submissas.
22
“O homem medieval”, dir. Jacques le Goff, pg. 207
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suas “Partidas”, nos diz que o parceiro (isto é tanto válido para o homem
como para a mulher) tem o dever de ter relações com o seu cônjuge
quando este tem vontade, mesmo que ele próprio não tenha vontade.
Afonso X diz-nos que isto não é considerado pecado e que é uma forma
marido não tem de forma alguma o direito de pedir o que quer que seja a
nível sexual à sua mulher. Apesar de ser submissa, ela tem o direito de
dizer “não” sempre que o marido lhe queira pedir algo que seja
pensarem.
que este era o único meio para assegurar uma descendência23 e para
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Considerava-se que uma mulher casta, que não tivesse relações sexuais
habitualmente, tinha mais probabilidades de dar à luz que uma mulher “pecadora”.
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está sujeita, enquanto que o marido pensa estar menos obrigado a ela. E
facto, que tem a ver com uma teoria herdada da Antiguidade, segundo a
outro sangue na família, o que iria alterar a pessoa que a criança viria a
tempo (quer seja uma ausência de casa quer seja apenas uma ausência
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homens.
pode ver, o papel das mulheres dentro de um casamento não é assim tão
nulo.
mas será que a mulher amava de facto o homem com quem se tinha
casado? Costuma dizer-se que era raro o casamento que era feito por
24
DUBY e PERROT, “História das Mulheres – a Idade Média”, pg 157.
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mais o seu marido do que este, mais perfeito, a amava a ela. O amor do
marido para com a mulher é igual ao amor de um ser superior por um ser
porque razão o marido é mais amado do que ama. Isto leva-nos a poder
dizer que o facto de a mulher amar mais nos aparece como mais um sinal
as primeiras).
não ter para com eles senão palavras respeitosas, nunca os fazer alvo
25
DUBY e PERROT, “História das Mulheres – a Idade Média”, pg. 151
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“Honrarás teu pai e tua mãe”. Além disso, a mulher tem o dever e a
Quando se diz que a mulher devia ficar em casa, isto não era
não pode ser exclusiva da mulher – isto significaria que ela se tinha
Paraíso (ou, se for caso disso, do Inferno...). Assim, cabe à mulher velar
pela cristandade da sua casa; isto aplica-se tanto aos seus filhos, a
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provérbio 31:
mulher dentro do seu lar. Tal como acontecia quando ainda era uma
simples donzela, que não tinha tempo para rir nem brincar (mais uma vez
trabalho à sua frente na sua nova casa, o que não lhe deixa espaço nem
26
Bíblia Sagrada, Prov. 31
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Punição d a s mul h er e s
inerentes a uma boa esposa. No entanto, não podemos pensar que todas
Idade Média, tal como existiam antes e tal como existirão sempre até à
fundamental, sem o qual creio que não se poderá perceber tão bem as
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conclusões.
diz-nos Martins Perez que se uma mulher tiver relações com um bispo,
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penitência de 2 anos.
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Penitenciário de Martins Perez, pg. 95
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mais íntimo.
forma a retirar dela maior prazer mas sem retirar ela própria prazer.
Aliás, as relações sexuais na altura eram vistas apenas como uma forma
de perpetuar a espécie – não como uma outra coisa qualquer. Daí que
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C onclu são
óbvias.
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afinal, ela acaba por ser o elo fundamental entre a família e Deus.
Rezando, ela acaba por se santificar, bem como à sua família. Com as
suas acções castas, humildes, calmas, ela mostra ao seu marido quais os
modelo de virtude.
papel social que detém dentro do casamento (não nos esqueçamos que o
que era obrigada a dar ao marido ela era considerada inferior, pois ama-
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conseguido elucidar alguns dos pontos que por vezes são mais obscuros
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Fontes e Bibliografia
Fontes:
Bibliografia:
Lousã, 1995;
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1982;
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Índice:
Introdução............................................................................1
Conclusão..........................................................................33
Fontes e bibliografia..........................................................36
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