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CICLO B
– A alegria messiânica.
I. DEUS PASSA pela vida dos homens dando luz e alegria. A primeira
Leitura1 é um grito de júbilo pela salvação do resto de Israel, pelo seu regresso
do cativeiro à terra de origem. Todos retornam: os paralíticos e os doentes, os
cegos e os coxos, que encontram a sua saúde no Senhor. Gritai de alegria por
Jacob, regozijai-vos pelo melhor dos povos; proclamai, cantai e dizei: O Senhor
salvou o seu povo, o resto de Israel. Eis que eu os trarei das terras do Norte...
Entre eles há cegos e coxos... É grande a multidão dos que retornam. Depois
de tantos padecimentos, o Profeta anuncia as bênçãos de Deus sobre o seu
povo. Virão chorando de alegria..., eu os guiarei entre consolações e os levarei
a arroios de água, por um caminho plano em que não tropeçarão.
Nós, que andamos com tantas doenças, “temos de crer com fé firme
n’Aquele que nos salva, neste Médico divino que foi enviado precisamente para
nos curar. E crer com tanto mais força quanto mais grave ou desesperada for a
doença que tivermos”4. Existem ocasiões em que talvez experimentemos com
mais força as nossas doenças: momentos em que a tentação é mais forte, em
que sentimos o cansaço e a escuridão interior ou notamos mais vivamente a
nossa fraqueza. Recorreremos então a Jesus, sempre perto de nós, com uma
fé humilde e sincera, como a de tantos doentes e necessitados que aparecem
no Evangelho. Diremos então ao Mestre:
“Senhor, não te fies de mim! Eu, sim, é que me fio de Ti. E ao vislumbrarmos
na nossa alma o amor, a compaixão, a ternura com que Cristo Jesus nos olha
– porque Ele não nos abandona –, compreenderemos em toda a sua
profundidade as palavras do Apóstolo: Virtus in infirmitate perfici-tur (2 Cor 12,
9), a virtude se fortalece na fraqueza; com fé no Senhor, apesar das nossas
misérias – ou melhor, com as nossas misérias –, seremos fiéis ao nosso Pai-
Deus, e o poder divino brilhará, sustentando-nos no meio da nossa fraqueza”5.
Esse homem que vive na escuridão, mas sente ânsias de luz, de cura,
compreendeu que aquela era a sua oportunidade: Jesus estava muito perto da
sua vida. Quantos dias não tinha esperado por esse momento! O Mestre está
agora ao alcance da sua voz! Por isso, se bem que o repreendiam para que se
calasse, ele não lhes fez caso nenhum e cada vez gritava mais alto. Não podia
perder aquela ocasião.
Que exemplo para a nossa vida! Cristo, que nunca deixa de estar ao alcance
da nossa voz, da nossa oração, passa às vezes mais perto, para que nos
atrevamos a chamá-lo com força. Timeo – comenta Santo Agostinho – Iesum
transeuntem et non redeuntem, temo que Jesus passe e não volte7. Não
podemos deixar que as graças passem como a água da chuva sobre a terra
dura. Temos que gritar para Jesus muitas vezes – fazemo-lo agora no silêncio
da nossa intimidade, numa oração inflamada –: Iesu, Fili David, miserere mei!
Jesus, filho de David, tem piedade de mim!
Com esses méritos, acudimos a Ele: Iesu, fili David... Gritamos-lhe – afirma
Santo Agostinho – com a oração e com as obras que devem acompanhá-la9.
As boas obras, especialmente a caridade, o trabalho bem feito, a limpeza da
alma através da Confissão contrita dos nossos pecados, dão o aval a esse
clamor diante de Jesus que passa.
“Agora é contigo que Cristo fala. Ele te diz: Que queres de Mim? Que eu
veja, Senhor, que eu veja! E Jesus: Vai, a tua fé te salvou. Nesse mesmo
instante, começou a ver e seguia-o pelo caminho (Mc 10, 52). Segui-lo pelo
caminho. Tu tiveste notícia daquilo que o Senhor te propunha e decidiste
acompanhá-lo pelo caminho. Tu procuras pisar onde Ele pisou, vestir-te com as
vestes de Cristo, ser o próprio Cristo. Pois então a tua fé – fé nessa luz que o
Senhor te vai dando – deverá ser operativa e sacrificada. Não te iludas, não
penses em descobrir formas novas. É assim a fé que Ele nos reclama: temos
que andar ao seu ritmo, com obras cheias de generosidade, arrancando e
largando tudo o que é estorvo”10.
(1) Jer 31, 7-9; (2) cfr. Act 10, 38; (3) São Bernardo, Sermão do I Domingo do Advento, 78; (4)
Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 193; (5) ibid., n. 194; (6) Mc 10, 46-
52; (7) cfr. Santo Agostinho, Sermão 88, 13; (8) São Bernardo, Sermão sobre o Cântico dos
Cânticos, 61; (9) Santo Agostinho, Sermão 349, 5; (10) Bem-aventurado Josemaría Escrivá,
Amigos de Deus, ns. 197-198; (11) Sl 125, 1-6; Salmo responsorial da Missa do trigésimo
domingo do Tempo Comum, ciclo B; (12) cfr. D. de las Heras, Comentario ascético-teológico
sobre los Salmos, pág. 325; (13) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Forja, n. 665.