Está en la página 1de 32

EDITORIAL

SUMÁRIO
Fome e falta de teRra Abril 2005/03

A
morte de crianças indígenas Guarani-Kaiowás em Dourados,
Mato Grosso do Sul, por causa da desnutrição, ganhou
destaque na grande imprensa. O enfoque do problema
está sendo distorcido, pois parece que ao “dar comida”
aos índios, ele será resolvido. Essa atitude faz parecer
que os Kaiowás são objetos de caridade que precisam
ser tratados com projetos paternalistas. Em nota divulgada no dia Trigo e uva se transformam em pão e
5 de março de 2005, lideranças da Comissão de Direitos Indígenas vinho (Eucaristia), símbolo da missão
Guarani-Kaiowás daquele Estado, afirmam se sentirem indignadas evangelizadora e profética da Igreja.
por não serem ouvidas e respeitadas em seus direitos e explicam Foto: Corrado Dalmonego
a verdadeira causa das mortes. “Na raiz desta situação está a falta
de terra, que é conseqüência da história de roubo e destruição dos  MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
nossos territórios tradicionais, da política de confinamento, da perda Cartas
de nossa liberdade e até da perda da vontade de viver. Aqui no Mato  OPINIÃO--------------------------------------------------05
Grosso do Sul, nós indígenas, fomos sendo expulsos de nossas O mercado e o trabalhador
terras, assassinados para a entrada de gado e, depois, de grandes Humberto Dantas / Antonia Carrara e Manuel de Souza
plantações monocultoras, como a soja.  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
Divulgação
Foi um processo de violência contra as Impossível colecionar todas as conchas
pessoas e contra as nossas formas de Rosa Clara Franzoi
vida. As matas onde podíamos caçar  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
foram destruídas pelos madeireiros e Notícias do Mundo
Fides / Zenit
os tratores dos fazendeiros. Era lá que
podíamos coletar alimentos como as  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
frutas, o mel e a matéria-prima para fazer A morte foi morta, a vida vive
Salvador Medina
nossas casas e utensílios”. A falta de
terra gera dificuldades para a produção  CIDADANIA-----------------------------------------------12
de alimentos em áreas já degradadas, Superávit e Déficit
Alfredo J. Gonçalves
e a falta de políticas públicas de apoio
à produção gera dificuldades para o  testemunho-------------------------------------------13
A loucura do amor
aproveitamento das poucas terras dispo- Marcela Sena Souza
níveis. Segundo o Conselho Indigenista
Missionário (CIMI), na terra indígena Dourados, onde estão concen-  testemunho-------------------------------------------14
Cativada pela simplicidade
trados os casos de mortes por desnutrição, vivem cerca de 11 mil Maria Esperanza Becerra Medina
indígenas em 3.500 hectares. Sem perspectivas de vida, cresce o
alcoolismo e, a partir dos anos 90, aumentaram também as taxas  FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------15
A Missão dos Leigos II
de suicídio. Como vemos, as mortes e a desnutrição são resultado Luiz Balsan e Lírio Girardi
de muitos fatores, o principal dentre eles, a perda da terra.
Uma outra forma de desviar a atenção é fazer acreditar que o  HISTÓRIA DA MISSÃO----------------------------------19
Pequeno rebanho na Mongólia
problema é cultural. Mais uma vez os líderes explicam: “também Francisco Lerma Martínez
não se pode dizer que a responsabilidade das mortes é a nossa
 DESTAQUE DO MÊS------------------------------------20
cultura. As soluções vão muito além da distribuição de alimentos e Evangelização e Profetismo na Igreja hoje
de cestas básicas. Nós éramos um povo livre que vivia com fartura. Antônio Valentini Neto
Hoje vivemos dependendo do assistencialismo do governo”. Portanto,
 ATUALIDADE----------------------------------------------22
não é difícil perceber que o povo Guarani-Kaiowá, bem como todos Tempo de Capítulo Geral
os povos indígenas deste país, precisam acima de tudo, de respeito Michelangelo Piovano e Maria Costa
e justiça. É lamentável que a questão da terra ainda não tenha sido  INFÂNCIA MISSIONÁRIA-------------------------------24
incluída nas medidas anunciadas pelo governo federal para combater Com alegria construiremos teu Reino
a mortalidade infantil em Dourados. Roseane de Araújo Silva
A Semana dos Povos Indígenas, realizada anualmente pelo CIMI  CONEXÃO JOVEM--------------------------------------25
durante o mês de abril, tem como tema este ano “Paz, Solidariedade O que os jovens pensam de si
e Reciprocidade nas Relações”, em sintonia com a Campanha da Carlos Eduardo da Silva (Dudu)
Fraternidade. É um convite para que a sociedade brasileira reflita  ENTREVISTA-----------------------------------------------26
e se informe melhor sobre a realidade atual dos povos indígenas De mãos dadas com os povos indígenas
Emerson Quaresma, Francimar Rodrigues e Ivan Brito
e a necessidade de cultivarmos valores como a solidariedade e
reciprocidade nas relações entre pessoas, famílias, comunidades e  AMAZÔNIA-----------------------------------------------28
povos. Isso começa pela questão da demarcação e homologação Macunaíma: vivo até o último índio
Joaquim Gonçalves
das terras indígenas, condição primeira para o exercício do respeito
à diversidade étnica e vida plena para todos.   Volta ao Brasil---------------------------------------30
Notícias do Brasil
Adital / Cimi / CNBB / Desarme.org

Missões - Abril 2005 3


Mural do Leitor
Ano XXXII - no 03 Abril 2005 28ª Romaria da Terra
A Romaria da Terra é um momento
Diretor: Jaime Carlos Patias forte na Igreja do Rio Grande do Sul e
um espaço privilegiado de conscientiza-
Editor: Maria Emerenciana Raia ção popular, de participação e troca de
experiência entre os romeiros e romeiras
Equipe de Redação: Joaquim F. de todo o Estado. Sem dúvida, é um lugar
Gonçalves, Cristina Ribeiro Silva e Rosa de fortalecimento de fé na defesa da Mãe
Clara Franzoi Terra e de seus filhos e filhas.
A 28ª Romaria convidou a refletir sobre
Colaboradores: Alfredo J. Gonçalves, o tema “nossas sementes, nossas raízes,
Vitor Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz nossa vida”, cujo sentido nos remete humano de retornar o equilíbrio da ordem
Balsan, Salvador Medina, Michelangelo à origem e à essência da vida, já que natural. Prosseguiu-se em caminhada por
Piovano, Júlio César, Marinei Ferrari, proporcionam o alimento. Cada povo que três quilômetros, ao longo de pequenas
Roseane Araujo preserva sua semente preserva sua cultura, propriedades, sob intenso calor. A Romaria
e ao mesmo tempo valoriza sua vida e foi concluída com uma celebração Euca-
Agências: Adital, Adista, CIMI, CNBB, fortalece suas raízes... A Romaria recorda rística Ecumênica, com muitas sementes,
Dom Hélder, IPS, MISNA, Pulsar, Va- a importância das produtos da terra e do
ticano comunidades e das trabalho artesanal do
pastorais sociais; povo daquela região
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires surgem grupos de (sucos, frutas, pães,
projetos alternati- cucas, rapadura, do-
Jornalista responsável: vos e movimentos ces, biscoitos, e peças
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) sociais, como o artesanais das mais
profetismo da CPT diversas culturas: afro,
Administração: Eugênio Butti (Comissão Pastoral indígena, alemã, italia-
da Terra). na, polonesa etc.).
Sociedade responsável: A 28ª Romaria Na parte da tarde,
Instituto Missões Consolata da Terra aconteceu houve a Tribuna, com
(CNPJ 60.915.477/0001-29) na comunidade de apresentações das
Linha Sítio, muni- diferentes etnias e
Impressão: Editora Parma cípio de Cruzeiro culturas presentes e
(11) 6462.4020 do Sul, no dia 8 de personalidades des-
fevereiro, terça-feira tacando o tema da
Colaboração anual: R$ 35,00 de Carnaval e reu- Romaria e chamando
AG: 545-2 CC: 38163-2 - BRADESCO niu cerca de 20.000 para ações concretas
Soc. Missionários de N.S. Consoladora romeiros e romeiras de luta pela dignida-
(a publicação anual de Missões é de 10 números)
do RS e de alguns de humana e vida no
outros Estados. O Planeta Terra. Finali-
Missões é produzida pelos
município é mar- zou-se o evento com
Missionários da Consolata
cado por pequenas o envio dos romeiros
Fone: (11) 6256.7599
propriedades familiares, como na maioria do com sementes e a abertura da CF-2005,
centro-norte da Diocese. “Já no sul, além feita pelos Representantes do CONIC, de
Missionários da Consolata
dos pequenos agricultores há também o forma profundamente significativa.
Rua Josimo de Alencar Macedo, 413
latifúndio” (cfr. dom Sinésio Bohn na apre- Se o calor do sol foi marcante, acredito
Cx.P. 207 - 69301-970 Boa Vista/RR
sentação Texto Base da CF/2005). que o calor da fé tenha sido maior, como
Fone: (95) 224.4109
Romeiros e romeiras foram chegando sinal de presença de um povo que caminha,
aos milhares, desde o amanhecer (como reza, toma consciência, se fortalece, luta
Membro da PREMLA (Federação de
Imprensa Missionária Latino-Americana)
foi o caso de Três de Maio – 1ª delegação por vida digna e valores essenciais.
a chegar ao local) sendo acolhidos calo-
rosamente pelos anfitriões. Por volta das Teresinha Turra
Redação 9h00, os romeiros com sementes nas mãos, Rocinha, Três de Maio, RS.
Rua Dom Domingos de Silos, 110 iniciaram a celebração ecumênica, coor-
02526-030 - São Paulo denados pelos representantes das Igrejas
Correção
Fone/Fax: (11) 6256.8820 que integram o CONIC (Conselho Nacional
de Igrejas Cristãs). O destaque inicial foi A capital da Tanzânia é Dodoma, e não Dar-
Site: www.revistamissoes.org.br
dado aos elementos da natureza: água, es-Salam, conforme publicamos na página 14
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br
ar, terra, fogo, e a responsabilidade do ser da edição número 2, março de 2005.

4 Abril 2005 - Missões


O mercado e o trabalhador

OPINIÃO
de Humberto Dantas Além disso, o histórico ímpeto dos governos de quantitativos – aumento da renda – o segundo
elevar a carga tributária ameaça a capacidade tem um significado mais qualitativo, marcado

O
do país expandir ainda mais sua produção e por melhorias significativas em indicadores de
governo acredita ter motivos participação no mercado internacional. Para bem-estar social como diminuição da pobreza,
de sobra para comemorar o completar, as maiores taxas de juros do mun- da desigualdade e acesso aos direitos sociais.
crescimento econômico no Bra- do se concentram no Brasil, o que também Nesse caso, o único motivo que nos leva a
sil. A despeito das instituições prejudica o setor produtivo. comemorar o Dia do Trabalho é a diminuição
especializadas estimarem taxas O que seria capaz de alterar essa leitura contínua, nos últimos meses, das taxas de de-
próximas aos 4% e a equipe pessimista de uma realidade tão comemora- semprego. Mas o que poderia representar um
econômica divulgar que o país vai superar da? A transformação do louvado crescimento passo no caminho do desenvolvimento também
os cinco pontos percentuais, o certo é que econômico do país para desenvolvimento eco- deve ser visto com ressalvas. Isso porque, ao
apontamos para o crescimento. O motivo de nômico. A diferença principal entre os conceitos mesmo tempo que as vagas se abrem num
tais resultados é explicado, sobretudo, pelo é explicada pela Ciência Econômica. Enquanto ritmo superior àquelas que se fecham, a média
sucesso das exportações. O Brasil tem ocupado o primeiro tem relação direta com indicadores das remunerações caem.
espaço marcante na pauta de importações de A diminuição nos vencimentos dos tra-
Cleber P. Pires

inúmeros países e liderado o comércio mundial balhadores é resultado das altas taxas de
de alguns produtos, principalmente no setor desemprego. Tudo indica que os cidadãos
do agronegócio. estão se submetendo a salários menores em
Mas o que tudo isso significa para a realida- nome de uma colocação no mercado. Dessa
de do trabalhador? Efetivamente, ainda, muito forma, o crescimento econômico não responde
pouco. O conceito de crescimento econômico por um suposto desenvolvimento, uma vez que
está diretamente relacionado ao aumento con- o brasileiro não deseja apenas trabalho e sim
tínuo da renda per capita dos indivíduos. Nesse emprego com dignidade. 
caso, como esse indicador é composto por uma
média, nada indica que toda a sociedade está Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro
ganhando mais. O crescimento pode, inclusive, Universitário São Camilo, assessor da Pastoral Fé e Política
representar o agravamento da desigualdade. da Região Episcopal Lapa e colunista de O São Paulo.

de Antonia Carrara e
Manuel Rodrigues de Souza Junior e sub-remuneradas, trabalhavam por conta
própria ou, ainda, estavam contratadas sem
carteira assinada.

É
utópico falar em benefícios para a A indagação que fazemos: com que custo
classe trabalhadora dentro de um social tem ocorrido esse crescimento eco-
José Wilson Soares de Carvalho, traba­
sistema que propicia abundante e nômico? No atual sistema, desenvolvimento
lhador da construção civil.
crescente desigualdade econômica, econômico nunca foi sinônimo de aumento de
ou seja, será muito difícil que os tra- são assim. Pelo contrário, enquanto o setor novos empregos. Principalmente diante da crise
balhadores obtenham melhorias de financeiro teve esse crescimento monstruoso, a estrutural pela qual passa o capitalismo, que
vida consideráveis enquanto viverem vida dos trabalhadores mudou tão pouco, que vem alardeando em todo planeta a extinção
regidos pelo sistema capitalista. Ao sermos as melhorias tornam-se imperceptíveis... Por- de certas formas de trabalho.
questionados sobre os benefícios da classe tanto vejamos: o mercado de trabalho evoluiu, A Pastoral Operária acredita na resistência
trabalhadora, olhamos também para o outro lado a taxa de desemprego caiu de fato para 9,6% e na capacidade transformadora da classe tra-
da sociedade, o lado dos reais beneficiados. (em seis regiões metropolitanas) em dezembro balhadora, que sempre em momentos difíceis
Sendo assim, tomemos logo o extremo, por passado, a mais baixa desde 2002. No entanto, da história, soube construir novos caminhos.
exemplo: os bancos. No final de fevereiro, os economistas afirmam que há dados preocu- Neste momento de crise estrutural, a inquietude
jornais trouxeram grandes manchetes sobre os pantes que mostram dificuldades no mercado dos trabalhadores se manifesta na Articulação
lucros das instituições financeiras. O Itaú apa- de trabalho. Traduzimos essas ­preocupações Nacional do Movimento dos Desempregados,
receu com o maior lucro da história, registrando como o fato do desemprego continuar muito com várias iniciativas conjuntas em todo país.
rentabilidade de 27% em 2004, resultado bem elevado, além de sabermos que é estrutural. Como também as novas formas de emprego
maior do que o de grandes bancos internacio- Há um crescimento nas contratações. No en- que surgiram nas experiências de economia
nais, como o ABN Amro Bank, holandês, (24%) tanto, constatou-se que em algumas regiões, solidária, possibilitando uma nova cultura do
e o americano Bank of America (23%). Isto só como no ABC paulista, por exemplo, elas são trabalho, como fonte da realização da pessoa
para citar um caso. temporárias (geralmente emprego só por um humana. 
Se a classe trabalhadora acompanhasse ano). Além disso, apurou-se que pelo menos
essa evolução, certamente estaria em merecida 61% das pessoas ocupadas em dezembro Antonia Carrara e Manuel Rodrigues de Souza Junior são
situação favorável. Acontece que as coisas não de 2004, estavam na verdade, subocupadas membros da coordenação Nacional da Pastoral Operária.

Missões - Abril 2005 5


1º Congresso Missionário
Interinstitucional Desde sempre as religiosas e religiosos foram os
protagonistas quase exclusivos da missão além-
de Estêvão Raschietti
fronteiras, dentro e fora do Brasil.

O
debate em torno da missão Ad Gentes, alimentado Católica uma época de transição de uma cristandade fechada e
pelos recentes Congressos Missionários Nacional autocomplacente para uma Igreja aberta, mundial e missionária.
e Americano, fez a Igreja do Brasil refletir, avançar Fazer memória do Vaticano II não representa um saudosismo
e abrir novos caminhos na dimensão universal da facultativo, mas diz respeito à retomada ousada de um compro-
missão. Estamos num processo de assumir cada misso essencial dos cristãos diante do mundo de hoje.
vez mais o compromisso de viver, testemunhar e Particularmente, o documento do Concílio Vaticano II “so-
anunciar o Evangelho além de todas as fronteiras. bre a atividade missionária da Igreja” lembra que essa última é
Há dois anos o 1º Congresso Missionário Nacional firmava missionária por natureza (cf. AG 2). Conseqüentemente, para
algumas metas para a caminhada missionária, como a funda- as religiosas e os religiosos consagrados, a Missão não é algo
mentação da missão na gratuidade evangélica, o protagonismo optativo, mas constitui sua própria identidade.
dos pobres, o trabalho em comunidade e a exigência de elaborar Retomar o Decreto Ad Gentes significa, portanto, reassumir
projetos de ação e animação missionária. um jeito de ser (quem somos), uma ética (como somos) e um
projeto missionário (o que fazemos) como essência
para a Vida Consagrada. Trata-se de repensar
Jaime C. Patias

esse estado de vida fundamentalmente a partir


da missão e de seus desafios.
Nesse sentido pensou-se na realização de
um Congresso Missionário Interinstitucional que
pudesse representar, para as Congregações
comprometidas com a missão além-fronteiras,
um momento de encontro, de oração, de estudo,
de reflexão, de partilha e de articulação, em vista
de celebrar, retomar e propor âmbitos comuns
de ação e animação missionária na Igreja no
Brasil. 

Estevão Raschietti é sacerdote xaveriano, diretor do Centro


Xaveriano de Animação Missionária.
A missão Ad Gentes foi tema de discussão durante o Comla7-Cam2.
Nesse contexto, a Vida Consagrada tem um papel específico TEMA: RELEITURA DO DECRETO AD GENTES APÓS 40
no interior das Igrejas locais. É chamada a despertar novamente ANOS DO VATICANO II
seu papel profético de “se dedicar totalmente à missão” (cf. VC Novos impulsos e imperativos para a vida religiosa
72), deixando-se interpelar pela Palavra e pelos sinais dos tempos
(cf. VC 81), redescobrindo sua identidade na força do testemu- LOCAL: Centro Educativo e deAssistência Social La Salle ­(Ceaslas)
nho (cf. VC 76) e no valor da fraternidade universal (cf. VC 51), Rua Santo Alexandre, 21
abrindo caminhos para novos projetos históricos de presença e Vila Guilhermina – São Paulo, SP
de ação em todos os cantos da terra (cf. VC 78). DATA: 21 a 23 de abril de 2005
Desde sempre as religiosas e os religiosos foram os prota- PARTICIPANTES: representantes (articuladores) de congrega-
gonistas quase exclusivos da missão além-fronteiras, dentro e ções missionárias que têm algum compromisso com a Missão Ad
fora do Brasil. Atualmente, são cerca de 1,8 mil as missionárias Gentes e que enviam missionários ou
e os missionários brasileiros espalhados pelo mundo afora, dos missionárias para outros países.
quais 98% são religiosos e 80% desse total é representado OBJETIVO: animar a vida dos Institu-
por religiosas. Contudo, não se pode fechar os olhos diante da tos e das Congregações missionárias
mudança de época que estamos vivendo. A progressiva dimi- para que, a partir dos imperativos do
nuição quantitativa de religiosos e religiosas, de sua presença Vaticano II, possam delinear metas
missionária no mundo não se deve tornar uma diminuição qua- para uma nova ética e para projetos
litativa. Onde está a relevância da Vida Consagrada dentro da de ação e animação missionária na
nova realidade mundial? Igreja no Brasil.
A celebração dos 40 anos do Concílio Vaticano II vem ao Tel.: (11) 5572-2016
encontro desse anseio. Este evento inaugurou para a Igreja E-mail: alemfronteiras@terra.com.br

6 Abril 2005 - Missões


pró-vocações
ImpossíveL colecionar
todas as conchas

Divulgação
Não pretenda que com uma vida
desorganizada, o Espírito de Deus
lhe mostre o caminho.
de Rosa Clara Franzoi

A
lice, estudante de astrofísica, queria passar umas
férias diferentes. Os amigos lhe sugeriam lugares
pitorescos, onde além de descansar, pudesse saciar
sua sede de novidades. Contrariando a todos, ela
decidiu passar suas férias numa ilha semi-deserta e lá
se foi com sua inseparável mochila. Coisas de jovem,
disseram os pais. Assim que chegou à ilha, Alice foi tomada por O excesso de “conchas” nos prejudica
uma grande ansiedade: “catar conchinhas”. Foi enchendo os A beleza só aparece e floresce quando sabemos dedicar-lhe
bolsos, a mochila... Uma espécie de “viseira” lhe impedia de ver tempo e dar-lhe espaço e atenção.Veja, os próprios eventos,
o restante das belezas do lugar. No apartamento que alugara, objetos e até pessoas se tornam únicos, belos e significativos
bem depressa as prateleiras da estante e os peitoris das janelas quando temos o espaço e o tempo para curti-los. Não percebemos
ficaram cobertos de conchas de todos os tamanhos e cores. o perigo que corremos hoje, com a frenética agitação que nos
Porém, passados alguns dias, ela caiu em si. Convenceu-se que envolve. O nosso tempo e espaço é todo tomado e preenchido.
seria impossível colecionar todas as conchas da praia e tomou São tão poucas as páginas da nossa agenda que ficaram em
uma decisão: iria selecioná-las. Tarefa extremamente difícil, branco e as horas vagas do nosso dia! São tarefas demais,
pois todas eram lindas. Mas, Alice era inteligente e decidida. De pessoas demais, coisas demais... É simplesmente impossível
todas aquelas conchas, ficou com apenas algumas, devolvendo para um ser humano, nesta situação tumultuada, encontrar-se
à praia as demais. E o que aconteceu? Justamente por serem serenamente consigo mesmo, com as pessoas, com Deus,
poucas, Alice podia agora dedicar a elas mais tempo e carinho ter uma vida organizada e descobrir o seu futuro com visão e
e tinha a impressão que, a cada dia, iam ficando mais bonitas. responsabilidade.
E não só isso: ela tinha tempo e espaço para descobrir que a Com certeza, Alice poderá se esquecer daquelas férias, mas
ilha estava repleta de outras tantas maravilhas que prendiam jamais esquecerá a lição que levou para a sua vida. A experiência
sua atenção e enchiam seus olhos de encanto. da ilha lhe possibilitou uma importante descoberta: a necessidade
de ter tempo e espaço para recompor o seu interior, encontrar-
se consigo mesma, com a natureza e traçar um norte certo
Quer ser um missionário/a? para a sua vida. Entendido isto, apenas algumas conchas lhe
bastavam. É que ela soube parar e rever, selecionar e priorizar.
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli É uma realidade. Não podemos estar metidos em tudo, fazer
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui mil coisas, assumir mil compromissos, algumas vezes só para
02611-011 - São Paulo - SP mostrar que somos eficientes. O prestígio e a fama duram tão
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br pouco...! Alguém poderá se justificar dizendo que o que faz é
“muito importante”. Lembre-se porém, que é grande sabedoria
Centro Missionário “José Allamano” - Pe. Joaquim Gonçalves e sensatez ter uma escala de valores e a ela dedicar o tempo e
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
o espaço necessários para o desenvolvimento total. A qualidade
02636-030 - São Paulo - SP
Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br
deverá sempre prevalecer sobre a quantidade. Talvez realiza-
remos menos coisas, mas, com qualidade. O que vale a pena!
Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda Para cada coisa, há a hora certa. É a própria Bíblia que nos diz.
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 Sugiro a leitura do capítulo 3 do Livro do Eclesiastes. 
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: imcmanaus@manausnet.com.br Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.

Missões - Abril 2005 7


sempre mais ativos na nova evangelização. Foram
decididos dois seminários de formação, em 23 e 24
de abril, e 23 e 24 de junho, enquanto se estabelecerá
uma cooperação mais estreita com as comissões dio-
cesanas, para harmonizar iniciativas e intenções.

Paquistão
Mulheres cristãs, prontas ao corajoso
anúncio do Evangelho
O anúncio do Evangelho e a pregação da Boa Nova
não podem ser privilégio exclusivo de sacerdotes e
religiosos: as mulheres cristãs devem estar prontas
para o corajoso anúncio do Evangelho da Salvação.
É o que se afirmou em um recente seminário, em
Lahore, no Paquistão, organizado por organismos
católicos e protestantes, como o Catholic Woman
Colômbia Association (CWA) e a Comissão Justiça e Paz da
Conferência Geral do CELAM Arquidiocese de Lahore. Durante o seminário, que
reuniu mais de mil mulheres religiosas e leigas de
VOLTA AO MUNDO

De 8 a 10 de março, na sede da Conferência Epis- diversas confissões cristãs, foram enfrentados temas
copal da Colômbia, ocorreu a reunião de secretários relativos ao papel da mulher na sociedade paquista-
gerais das conferências episcopais da América Latina nesa e na comunidade cristã.
e Caribe, em preparação para a V Conferência Geral
do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). O RD Congo
encontro, previsto para o ano 2007, deverá ser celebrado Exortação dos bispos aos religiosos
em Roma com o lema “Discípulos de Jesus Cristo na
Igreja Católica para a nova evangelização da América “A vida consagrada constitui hoje uma realidade
Latina e Caribe ao início do terceiro milênio”. concreta para o Congo. Segundo as estatísticas de
2004, os religiosos e as religiosas no nosso país são
Grécia 11 mil, em uma população de mais de 50 milhões de
Conferência Ecumênica Mundial habitantes, dos quais a metade católicos. Sua presen-
ça, portanto, constitui um dom para a Igreja”. Esta é
“Oferecer a cristãos e Igrejas um fórum para a a declaração do padre Léon Ngoy Kalumba, jesuíta,
troca de experiências e a reflexão sobre as prioridades Secretário da Comissão Episcopal para os religiosos
da missão e o futuro do testemunho cristão, em sinal na República Democrática do Congo, por ocasião
da reconciliação entre as Igrejas. Promover entre os da publicação da exortação dos bispos congoleses,
participantes o compromisso de serem multiplicadores intitulada “Irmãos e irmãs consagrados, despertem!
da reconciliação dentro das próprias Igrejas, comu- Façam-se ao largo” (Lc 5,4). Kalumba destacou que
nidades e contextos”. Esses são dois dos objetivos a sociedade congolesa atravessa uma crise que
da Conferência Ecumênica Mundial sobre “Missão e atinge também a vida consagrada. Por isso, destaca,
Evangelização”, organizada pelo Conselho Mundial os bispos congoleses escreveram a exortação para
das Igrejas (CMI), com o tema “Venha Espírito
Santo, cure e reconcilie!”, agendada para o

Da Casa Madre
mês de maio, em Atenas (Grécia). O tema
foi escolhido justamente para recordar que a
missão não pertence a nós. Deus, através do
Espírito Santo, está presente e atua na Igreja
e no mundo. Participarão do evento mais de
500 delegados de todos os continentes e de
todas as grandes Igrejas e confissões religiosas,
membros do Conselho Ecumênico das Igrejas,
representantes das igrejas e denominações
pentecostais, evangélicas e da Igreja Católica
Romana.

Coréia do Sul
Leigos, protagonistas da nova
evangelização Procissão Mariana em Wamba, RD Congo.
afirmar o valor da vida à luz dos ensinamentos do
É composta por 13 membros ativos, com encargo Evangelho, agradecer aos religiosos e às religiosas
trienal, e inclui sacerdotes, religiosos, leigos e leigas por aquilo que representam para a Igreja congolesa,
a Comissão para o Apostolado dos Leigos, que atua mas também para encorajá-los a enfrentar os desafios
junto à Conferência Episcopal da Coréia. A Comissão multiformes dos dias de hoje. 
reuniu-se para estabelecer iniciativas e estratégias,
com o objetivo de tornar os leigos da Igreja coreana Fontes: Fides, Zenit
8 Abril 2005 - Missões
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
Para que as comunidades cristãs,

Jaime C. Patias
movidas pelo anseio de santidade,
despertem numerosas e autênticas
vocações missionárias.
de Vitor Hugo Gerhard

N
unca como nos tempos de hoje a humanidade teve
tanta sede e fome de santidade. Jamais se viu um
movimento tão forte, tão disseminado e avassalador
em busca do espiritual e do místico. Mesmo que os
mais céticos discordem desta afirmação, continuo
a defendê-la, pelas seguintes razões: a) os novos Comunidade São José Operário - Heliópolis, SP.
movimentos religiosos autônomos, denominados por muitos
nomes; b) a facilidade com que se reúnem multidões para as os processos de transformação das estruturas parece estar
mais variadas celebrações; c) o florescimento dos movimentos exigindo sempre uma maior capacidade de adaptação, dentro
apostólicos dentro da Igreja Católica; d) o crescimento numérico de um mundo sempre mais versátil, rápido e implacável.
das comunidades cristãs nos continentes da África e Ásia; e) os Neste contexto, as vocações missionárias se tornam cada
sinais de vitalidade e martírio registrados em tantas partes do vez mais uma espécie de êxodo em cinco direções complemen-
mundo; f) a produção e comercialização de produtos religiosos tares: êxodo geográfico, êxodo existencial, êxodo psicoafetivo,
em escala sempre crescente; g) a ocidentalização das religiões êxodo cultural e êxodo religioso. Sair do próprio lugar, sair de si
ancestrais, até recentemente confinadas ao Oriente. É bem ver- mesmo, sair das próprias relações humanas, sair da cultura onde
dade que tudo isso vêm mesclado por muitas cores e matizes. se nasceu e sair do próprio bojo da religião que se professa. São
Nem tudo é puro e inocente. Porém, se deve dizer que nunca graus sempre maiores de exigência para os que são chamados à
foi diferente. A história das religiões sempre foi marcada pelas missão. Assim, a autenticidade da vocação missionária passará
imperfeições. Nos parece que hoje, sobretudo, o fenômeno re- sempre pela autenticidade da comunidade que a gerou e enviou.
ligioso está marcado por duas grandes tendências: o pluralismo Quanto mais forte for a experiência de santidade da comunidade,
nas relações externas e a flexibilidade nas relações internas. O tanto mais forte será o seu testemunho missionário. 
contato direto e a proximidade oferecida pelos meios de comu-
nicação social, faz com que cada uma das religiões exija de si Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da
mesma novas formas de relações com o outro; internamente, Diocese de Novo Hamburgo, RS.

Envio de missionárias para a Amazônia

N
o dia 27 de fevereiro, a Catedral Regional) no Estado de São Paulo, contou semente jogada naquelas terras. Não nos
Metropolitana de São Paulo, na com a participação de diversas religiosas. abala, mas impulsiona”. Para irmã Laura, a
Praça da Sé, acolheu a celebração As missionárias são: Sandra Mara de Assis, missão “é uma exigência da vida religiosa,
de envio de três missionárias para o clareriana; Laura N. de Lima, franciscana pois serve como serviço e testemunho”. Já
município de Manaquiri (aproximadamente de Bonlanden e Maria Elena Claudino, a missionária Maria Elena diz que “Cristo
três horas da capital doAmazonas, Manaus). carmelita de Santa Terezinha. Durante a desafia, mas ele mesmo nos dá a alegria
O projeto que envia estas missionárias é homilia, dom José recordou a missão do de viver e superar os desafios”.
uma parceria da CRB (Conferência dos Amazonas, da qual participou. Parabenizou Ao final da celebração, as irmãs envia-
Religiosos do Brasil e da CNBB (Conferên- as irmãs e agradeceu às congregações por das receberam uma cruz e uma Bíblia de
cia Nacional dos Bispos do Brasil) através apoiarem projetos missionários. suas provinciais. Na oração de envio, dom
dos regionais Sul 1 (São Paulo e Norte 1 Com os debates sobre a missiona- José Maria Pinheiro, com as provinciais,
- Amazonas). Há 10 anos, Manaquiri possui riedade e o serviço social prestado pela advertiram: “jamais violentarás a alma do
uma comunidade intercongregacional que Igreja aos mais pobres, acalorados com teu povo que, doravante, será teu povo”.
trabalha com os ribeirinhos da região. A o assassinato da irmã Dorothy Stang, as As irmãs partiram para o Amazonas dia
celebração presidida por dom José Maria missionárias, que estão de malas pron- 1º de março, e lá devem ficar por pelo
Pinheiro, bispo auxiliar de São Paulo da tas para o Amazonas, testemunharam a menos três anos. 
Região Episcopal Ipiranga e bispo respon- coragem da vida consagrada. Para irmã
sável do COMIRE (Conselho Missionário Sandra, “o sangue da Dorothy foi uma Rafael Alberto, Jornal O São Paulo.

Missões - Abril 2005 9


A morte foi m
espiritualidade

a vida vive
Fotos: Divulgação

de Salvador Medina perdido” e aprender deles o sentido do “fim”. Outros caminhos


encontraríamos, mergulhando nas águas sagradas do rio Gan-

O
ges, na Índia, como peregrinos necessitados de purificação ou
ser humano enquanto vive, reflete incessantemente como cinzas depois da cremação, espalhadas para logo renas-
sobre suas origens, sentido e fim da existência – na cer numa existência pior ou melhor, dependendo das boas ou
religião, na filosofia, nas ciências. As vivências, além más ações anteriores, até um dia sair definitivamente do ciclo
dos conteúdos, que lhe permitem viver com memória, reencarnatório, como espera o hinduísmo.
sentido e direção, inseridas - conscientemente ou Igualmente, enveredando pelo Tao, ( literalmente, um “ca-
não - numa cultura determinada e com uma visão minho” “lei”, “doutrina”, “princípio de ordem”), na pequena e
teológica, constituem a espiritualidade pessoal e coletiva. O fim moderna cidade-estado de Cingapura, de tradição chinesa, ou
implacável da existência, a morte, levou o ser humano, já no na multiétnica República da China, com seus 1,2 bilhões de
início da Pré-história, dois mil anos antes de qualquer cultura habitantes, unidos por uma mesma escrita e tradicionalmente
escrita, a buscar respostas diante da escuridão do que não faz orientados pelo velho sábio e mestre Confúcio, mesmo depois
sentido. Trata-se do ser humano enfrentando a certeza da morte, do longo domínio do “imperador vermelho”, Mao Tse-Tung e de
com a esperança da imortalidade. seus sucessores, nós vamos encontrar respostas para o além
Neste artigo me deterei na resposta dada pelo Deus de Jesus da morte. Também aproximando-nos do “iluminado” Siddhartha
de Nazaré através da ressurreição, encaminhando, porém, fiel Gautama, o Buda, que 2.500 anos atrás, desde as alturas do
à nossa filosofia de pensar “a missão no plural”, para visitar e Himalaia e do leito do Indo até a Indonésia ou a China, a Coréia e
“beber em outras fontes” de espiritualidade, ricas e profundas. o Japão, como grande mestre, mostrou para centenas de milhões
de pessoas um caminho para enfrentar a dor, o sofrimento, a
Caminho de perguntas e respostas velhice, a doença e a morte, poderemos encontrar caminhos de
Poderíamos percorrer, orientados pelo professor Hans Küng salvação. Toda sua mensagem budista se encontra resumida nas
no seu livro “Religiões do mundo”, os caminhos trilhados pelas Quatro Nobres Verdades existenciais que respondem às quatro
culturas dos diferentes grupos étnicos da Austrália, da África perguntas fundamentais do ser humano: o que é o sofrimento,
e das Américas nesse peregrinar, angustiante e esperançoso, de onde ele vem, como pode ser superado e qual o caminho
rumo ao “início das coisas”, à “terra sem males” ou ao “paraíso para superá-lo. Peregrinando para Meca, cidade onde nasceu

10 Abril 2005 - Missões


morta A ressurreição de Jesus é a
resposta gratuita de Deus ao
questionamento da humanidade
sobre a morte.

Para Refletir
A ressurreição, embora já esteja presente no
mundo, é um processo que continua até chegar
à plenitude e nos desafia a vivermos como
ressuscitados. Pensemos, oremos e celebremos
essa presença:
1. Jesus ressuscita hoje nas comunidades: “Onde
dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu
estou aí no meio deles” (Mt 18, 20).
2. Jesus ressuscita hoje na Eucaristia: “Tomem,
isto é o meu corpo (...) Isto é o meu sangue, o
sangue da aliança, que é derramado em favor
de muitos” (Mc 14, 22-24).
3. Jesus ressuscita hoje nas testemunhas (espe-
cialmente nos Mártires e nos missionários): “Eis
que eu estarei com vocês todos os dias até o fim
do mundo” (Mt 28, 20).

Maomé (570 d.C.) ou Medina (al-Madina: “cidade” do profeta), os não judeus, anunciando essa Boa Nova: “Eu sou o caminho
lugar da Umma, ou primeira comunidade religiosa e política mu- que leva ao Pai” (v.6). E diante da morte e, então, do cadáver
çulmana, da sua tumba e também da primeira mesquita, mandada do seu amigo Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem
construir pelo próprio Maomé, ou encontrando qualquer um dos acredita em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que
quase um bilhão de seres humanos que professam o islamismo vive e acredita em mim, não morrerá para sempre” (Jo 11,25).
na costa atlântica da África, nas ilhas da Indonésia, nas estepes
da Ásia Central ou em Moçambique e até mesmo na Europa ou O morto está vivo
nas Américas, sem olhar neles só mulás barbudos, terroristas O Jesus histórico que foi injustamente perseguido, preso,
violentos e inescrupulosos, xeques do petróleo ou mulheres com julgado, condenado à morte de cruz e morto, foi reconhecido vivo
rostos vedados, mas os seguidores do profeta Maomé, guiados pelos seus discípulos, seguidores de sua pessoa e continuadores
pelo Alcorão, do mesmo modo que os judeus pela Torá de Moisés de sua causa ou missão. Nós, hoje, contamos, felizmente, com
e os cristãos pelo Evangelho de Jesus Cristo, poderemos achar documentos escritos, registrados no Novo Testamento da Bíblia
luzes para o futuro eterno. Sagrada, particularmente nas Cartas Paulinas, nos quatro Evan-
gelhos e nos Atos dos Apóstolos, que testemunham esta real e
“Eu sou o Caminho” misteriosa experiência de “presença na ausência”, objeto funda-
Um teólogo da Galiléia chamado João, profundo conhecedor mental e original da fé cristã, porque: “se Cristo não ressuscitou
e amigo, além de discípulo de Jesus de Nazaré e de sua mãe - como afirma Paulo, o missionário dos gentios – a nossa pregação
Maria, registrou, vinte séculos atrás, estas palavras escutadas é sem fundamento, e sem fundamento também a vossa fé” (1 Cor
do próprio Jesus ou narradas na sua comunidade de fé: “não 15,14). Assim, a ressurreição é a resposta gratuita de Deus ao
fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e questionamento da humanidade. A fidelidade de Jesus nos permite
acreditem em mim. Existem muitas moradas na casa do meu compreender mais facilmente a resposta do amor divino: “o que
Pai. Se não fosse assim, eu lhes teria dito, porque vou preparar para ele foi uma conquista difícil, nós podemos acolher agora na
um lugar para vocês. E quando eu for e lhes tiver preparado um clareza da fé” e colocá-la na mesa da partilha e do diálogo entre
lugar, voltarei e levarei vocês comigo, para que onde eu estiver, as religiões, como contribuição à busca comum. 
estejam vocês também” (Jo 14, 1-4). O evangelista escreveu
para os fiéis vindos da gentilidade e, então, também para nós, Salvador Medina é sacerdote missionário e pároco da Paróquia São Brás, Salvador, BA.

Missões - Abril 2005 11


Superávit ou Déficit?
cidadania

Enquanto a economia brasileira parece gozar de boa saúde, a política social continua
sofrendo de anemia crônica. Como fica a cidadania nesta história?

de Alfredo J. Gonçalves economia registra superávits e recordes otimistas, o mesmo não


se pode dizer das condições reais de vida, especialmente da

D
população de baixa renda. Aqui permanecem os déficits históri-
esde o começo do ano, o país vem sendo bombar- cos, simbolizados, por exemplo, pela fila do INSS, pela falta de
deado por uma série de notícias eufóricas por parte moradia, pela precariedade dos serviços públicos, pelo atraso
da grande imprensa, sinalizando que a economia da reforma agrária, pelo baixo nível do ensino fundamental, pelo
brasileira contabiliza recordes em vários itens: no su- desemprego e subemprego...
perávit primário, nas contas públicas, na arrecadação A contradição é evidente e reveladora. O modelo econômico
tributária, na balança comercial, nas exportações, no continua privilegiando o setor das finanças, as grandes corpora-
crescimento econômico... Enfim, o modelo de política econômica ções agroindustriais, as empresas transnacionais, os negócios
adotado parece ser o melhor remédio para todos. voltados para exportação, ao mesmo tempo que faltam recursos
Algumas observações se fazem necessárias. Primeiro, a base para a implementação de verdadeiras políticas públicas que
de comparação costuma ser o ano anterior, quando o crescimento possam favorecer os segmentos mais excluídos.
econômico foi negativo, o que torna frágil a argumentação de
melhora significativa. Em segundo lugar, se compararmos o Ajuste fiscal
crescimento da economia brasileira aos de outros países emer- O chamado superávit primário ilustra bem essa contradição.
gentes – tais como China, Índia, México, Argentina – veremos Ele representa as economias do governo para o pagamento em
que todos eles tiveram taxas de crescimento que vão de 7 a dia dos juros e serviços do endividamento externo. É a política
11% ao ano, bem acima do de ajuste fiscal exigida pelos
Brasil. Mas uma terceira organismos internacionais,
Jaime C. Patias

observação é ainda mais como o FMI. O problema é


preocupante: a quem be- que a economia do governo
neficia o crescimento da é feita através de cortes na
economia brasileira? Aqui área social, como foi o caso
está o grande nó da ques- recente dos gastos com a
tão. Historicamente, o cres- reforma agrária. Ou seja,
cimento do Produto Interno o governo trata da saúde
Bruto (PIB) sempre foi vi- do sistema financeiro, sal-
ciado por uma das maiores vando os investimentos dos
concentrações de renda e especuladores, e deixa à
de riqueza. Cresce o lucro mingua a população ca-
dos bancos, multiplicam-se rente. Ao invés de políti-
os empreendimentos do cas públicas e reformas
agronegócio, sobe a venda profundas, para os pobres
de bens duráveis, os altos restam as migalhas das
juros engordam cada vez políticas compensatórias:
mais o capital financeiro... bolsa-escola, bolsa-famí-
Mas como fica o empre- Moradores de rua de São Paulo exigem seus direitos. lia, programa Fome Zero,
go, o salário, a saúde, a entre outras. Um pergunta
educação, os meios de transporte, as estradas, a habitação, a final salta à vista: como fica a cidadania brasileira? Não uma
questão agrária e agrícola, e assim por diante? O crescimento cidadania de fachada, cheia de retórica e de boas promessas,
produz assimetrias cada vez mais profundas. mas uma cidadania real, baseada na elevação do nível de
vida de todos e todas! A pergunta coloca em nossas mãos a
Descaso com o social responsabilidade de lutar por mudanças. Estas jamais virão
Numa palavra, enquanto os indicadores econômicos parecem de cima. A sociedade muda quando a população se organiza
gozar de boa saúde, os indicadores sociais continuam sofrendo e sai às ruas. A verdadeira cidadania não é um presente dos
de anemia crônica. Se olharmos para a bússola da Bolsa de poderosos, mas uma conquista de um povo organizado. 
Valores, por exemplo, o navio segue em rota batida rumo a um
horizonte promissor. Mas se olharmos para a bússola das dívidas Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista, assessor da Comissão para o Serviço da Caridade,
sociais, o horizonte não é muito animador. Se é verdade que a Justiça e Paz – CNBB.

12 Abril 2005 - Missões


A loucura do amor

Testemunho
ITÁLIA:
Marcela, filha de Maria do Carmo Sena e Superfície...............301.302 Km²
População..............57.300.000 hab.
Manoel de Souza, nasceu em São Miguel Católicos.................83,2 %
Capital....................Roma
Paulista, São Paulo, aos 19 de setembro de
1975. Partilha sua experiência apostólica

Arquivo Pessoal
com os imigrantes em Nápoles, Itália.

de Marcela Sena Souza

D
eus realizou em mim grandes coisas a partir do
momento que me chamou, primeiramente à vida,
à fé e à consagração religiosa. Posso ver em meu
caminho muitas provas de sua predileção e amor.
Foi pelo fato de me sentir muito amada por Ele, que
germinou em mim a semente preciosa da vocação
religiosa: o divino chamado para viver a radicalidade do Batismo
e doar minha vida pelo Reino.

Resistência e entrega
No início, fui muito resistente ao convite do Mestre. Ser re-
ligiosa me parecia uma loucura. Eu queria formar uma família.
Mas, não era este o projeto de Deus. Interiormente sentia um
grande vazio, que procurei preencher com namoro, amizades,
viagens, festas. Mesmo assim vivia descontente. Comecei a
freqüentar a paróquia me engajando em diversas pastorais.Tudo
em vão. Deus me chamava à totalidade. Assim com a ajuda de
um sacerdote vocacionista, decidi entrar para a vida religiosa.
Sofri muito com a oposição da minha família. Pensei até em
desistir. Mas, Jesus continuava a me chamar com insistência. Evangelização, partilha de vida
Nos momentos de oração sentia grande paz e alegria. Foi ali A única coisa que restava era a esperança, que traziam cla-
que encontrei força e coragem para sair de casa, mesmo contra ramente estampada no olhar. E um sonho: poder voltar à pátria,
a vontade dos meus pais, aos 18 anos. viver novamente na própria cultura. Obrigados a assumir usos e
costumes estranhos, sentiam-se tomados de profundo sentimen-
Consagração e experiência apostólica to de inferioridade, o que dificultou muito a nossa presença no
Em 1993 entrei na Congregação das Irmãs das Divinas Voca- meio deles. Nos aproximamos não para evangelizar, mas, para
ções (vocacionistas). Depois de dois anos no Brasil, fui enviada sermos evangelizadas. A etnia era muito diversificada e aquelas
a continuar a formação na Itália. Lá, fiz uma rica experiência de pessoas, mais do que da religião, precisavam de valorização,
apostolado missionário em Pianura, num bairro pobre da peri- respeito e amor. Dessa forma nossa ajuda não era só material,
feria de Nápoles. Fiquei surpresa em ver, num país de primeiro através de campanhas de roupas ou alimentos. Sobretudo,
mundo, a situação de pobreza e miséria em que viviam tantas consistia em apoio moral e amizade. Convivi com essas pessoas
famílias. No contato com aquelas pessoas descobri que eram por quase três anos e aprendi muito, especialmente a ternura, a
todos estrangeiros, vindos clandestinamente de países mais simplicidade, a coragem de trabalhar e enfrentar qualquer coisa
pobres da Europa e da África. Fugiam das guerras e misérias como se tudo dependesse delas. Aprendi a confiança de quem
e apenas procuravam encontrar um meio de sobrevivência. nada tem e tudo espera. 
Por isso, sujeitavam-se a todos os tipos de trabalhos, os mais
humildes. A muitos deles era tirada até a própria dignidade Marcela Sena Souza é irmã vocacionista, professora e mestra em Ciências Religiosas pela
como pessoa. Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Missões - Abril 2005 13


Cativada
Testemunho

pela simplicidade
Maria Esperanza, 39 anos, colombiana, é missionária da
Consolata na Espanha. Manifesta a importância da família e
ESPANHA:
Superfície...............505.954 Km²
População..............39.600.000 hab.
da comunidade em seu processo vocacional. Católicos.................94,9 %
Capital....................Madri

de Maria Esperanza Becerra Medina turalidade e o Ad Gentes. O contato com eles, provenientes de
diversos países, despertou minha curiosidade: como podem estar
dispostos a sair da própria terra e dar a vida para a construção

S
do Reino de Deus? Por que tanta doação e empenho na busca
omos sete filhos, três mulheres e quatro homens. Na de uma sociedade mais fraterna e justa?
convivência simples do lar aprendi os valores da partilha,
da aceitação recíproca, a acolhida do diferente. No bairro, Uma Igreja simples
o companheirismo, a cordialidade, a espontaneidade. No Nos grupos juvenis me deixei cativar pelo rosto de uma Igreja
testemunho e presença dos seminaristas da Consolata simples, despojada, aberta e próxima das pessoas. Uma Igreja
aprendi a paixão por Jesus Cristo e o Reino, a intercul- corajosa, capaz de denunciar o que afasta a humanidade do
sonho de Deus. Uma Igreja de mulheres e homens autênticos,
aberta ao universal e solidária, num mundo sem fronteiras.
Jaime C. Patias

Deixei-me cativar pelo Reino de Deus.


Iniciei o processo de discernimento vocacional no grupo
juvenil da Consolata, JUCRIS, de onde passei a caminhar com
as vocacionadas das Irmãs. Nesse período passei por luzes e
sombras, alegrias e dificuldades. Pois, querer ser “discípula do
amor” é aprender a deixar-se guiar pela força do Espírito, que
opera e liberta desde o mais profundo do coração, que marca e
transforma a vida de quem encontra o Ressuscitado. Ingressei
no Instituto Irmãs Missionárias da Consolata, na Colômbia, em
1989. Após um ano já me encontrava na Itália com um grupo
internacional de jovens da Polônia, Itália, Quênia, Tanzânia,
Moçambique, Inglaterra e Portugal. Fiz a Profissão Religiosa
em 1998, prosseguindo os estudos em Roma. Ao terminá-los
me dispus a servir o Reino aonde fosse chamada. Fui enviada
a Madri para a Animação Missionária.

Missão, vida e ser do cristão


Na Espanha fui compreendendo uma vez mais que a missão
é que dá vida ao nosso ser cristão. E o meu ser missionária é
que me anima no aqui e no agora. Desperta-me e projeta para o
mais além, onde Jesus ainda não é conhecido. Quando olho as
novas gerações, sem valores transcendentes que lhes ilumine
os horizontes e vejo tantas situações desumanas de vida, faço
minha a preocupação de São Paulo: “Como vão invocar sem
antes crer nele? Como crer nele sem antes escutar? Como es-
cutar sem pregador?” (Rom 10,14). Sim, nós somos os canais
de vida nova: Cristo não tem mãos, tem somente as nossas
para realizar seu trabalho hoje; Cristo não tem pés, tem somente
nossos pés para chegar até às pessoas; Cristo não tem lábios,
tem somente nossos lábios para anunciar seu Evangelho. 

Maria Esperanza Becerra Medina é irmã missionária na Espanha.

14 Abril 2005 - Missões


Teresa Silva
O leigo percorreu um longo caminho para mostrar
seu valor e dignidade dentro da Igreja.

A Missão
Quem é o leigo hoje?
Qual o seu lugar na
Igreja e no mundo?

dos leigos II
de Luiz Balsan e Lírio Girardi

N
a matéria da edição anterior vimos como os leigos sobre a vida leiga, há quem volte a chamar a atenção para o que
gradualmente foram perdendo terreno no interior da é realmente essencial. São Tomás de Aquino afirma com força
Igreja, chegando ao ponto de serem considerados o princípio de que a santidade cristã consiste na vivência da
cristãos de segunda classe, como se somente as caridade. Algo novo? Não, pois este é um princípio fundamental
pessoas que, de certa forma, deixavam o mundo da vida cristã que aparece muito claro nas Sagradas Escrituras
vivendo nos mosteiros – os monges – ou os que e também nos primeiros séculos da Igreja. Bastaria recordar bre-
deixavam de se ocupar diretamente dele – os sacerdotes vemente algumas passagens: interrogado sobre qual é o maior
– pudessem ser considerados cristãos de verdade e, como mandamento, Jesus responde dizendo que, no amor a Deus e
conseqüência, pudessem almejar um caminho de santidade. no amor ao próximo está contida toda a lei (Mt 22,40). Paulo,
Concluímos a matéria dizendo que com o nascimento das uni- o Apóstolo das nações, por sua vez, à comunidade de Corinto,
versidades, no século XIII, inicia-se um longo caminho para a que manifestava uma certa tendência em considerar superiores
retomada do valor e da dignidade do leigo na Igreja. aqueles que manifestavam carismas extraordinários, responde
Dentro desta mentalidade que foi afirmando sempre mais a com o hino à caridade, que encontramos em sua primeira carta
concepção de uma superioridade da vida monacal e sacerdotal (1Cor 13). No final do século V, o grande mestre da vida espiritual,

Missões - Abril 2005 15


Teresa Silva, leiga em seu
trabalho na Tanzânia.

Os leigos de
a missão al

Acima de tudo Santo Agostinho, dizia que a caridade é a essência e a medida


o amor (1Cor 13, 1-8) da perfeição cristã. Esta frase é muito forte e, se quiséssemos

A
inda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, usar uma metáfora para melhor compreendê-la, poderíamos
se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou dizer que a ausência do amor na vida cristã é como a falta de
como címbalo estridente. Ainda que eu tivesse o dom oxigênio no ar: é algo que não serve para nada, pois falta o
da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a
que é lhe mais característico. Vista no contexto da época, a
afirmação de São Tomás é particularmente significativa: se o
ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar
essencial é a caridade, quer dizer que é possível ser santo em
montanhas, se não tivesse o amor, eu não seria nada. Ainda
qualquer lugar. Então é possível ser santo, mesmo ocupando-se
que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que das coisas do mundo: família, trabalho, política, cultura, lazer...
entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada Como conseqüência, não é mais necessário imitar os monges
disso me adiantaria. O amor é paciente, o amor é prestativo; e distanciar-se do mundo para viver plenamente a vida cristã
não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada e, portanto, se pode ser cristão de primeira qualidade, mesmo
faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se estando no mundo. Mas, infelizmente, esta compreensão de
irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se São Tomás se perde no tempo! Não era o momento certo para
regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, ser compreendida em todas estas suas implicações e, portanto,
tudo suporta. O amor jamais passará. As profecias desaparecerão, continua-se a pensar que os verdadeiros cristãos são os religio-
as línguas cessarão, a ciência também desaparecerá.
sos e os sacerdotes.

16 Abril 2005 - Missões


Juventude Católica

C
onhecendo as transformações pelas quais a Igreja
Católica passou, a partir da década de 50 do século

espertam para passado, pode-se compreender também as mudanças


que foram surgindo no Programa de Ação Católica, iniciado no
Brasil por dom Sebastião Leme, durante o papado de Pio XI
(1922-1939) com o objetivo de incrementar a participação dos

lém-fronteiras
leigos na Igreja.
Inicialmente, a estrutura da Ação Católica Brasileira (ACB),
criada em 1920 e oficializada em 1935, assemelhou-se à italiana,
com movimentos de juventude e de adultos, feminino e masculino:
Homens da Ação Católica (HAC), Liga Feminina da Ação Católica
(LFAC), Juventude Católica Brasileira (JCB-masculina) e Juventude
Feminina Católica (JFC). No setor da juventude, surgiram as
primeiras subdivisões que já indicavam uma especialização: a
Juventude Estudantil Católica (JEC), a Juventude Operária Católica
(JOC) e a Juventude Universitária Católica (JUC).
Arquivo Pessoal

Mas, somente no final da década de 40 do século passado,


a Ação Católica Especializada foi reorganizada, espelhando-se,
neste momento, nos modelos belga e francês. Nesta reordena-
ção, reconhecia-se os diferentes grupos sociais que constituíam
a sociedade brasileira, reunindo os jovens em núcleos segundo
sua condição social: os operários na Juventude Operária Católica
- JOC; os trabalhadores do campo na Juventude Agrária Cató-
lica - JAC; os universitários na Juventude Universitária Católica
– JUC; os estudantes na Juventude Estudantil Católica - JEC e
os que não se enquadravam nas outras situações, na Juventude
Independente Católica – JIC.
Segundo José Oscar Beozzo, a Ação Católica no início da
década de 1960, “já havia levantado as questões da fome, do
Tony Pereira subdesenvolvimento, do compromisso do cristão no campo político
em celebração e social para a libertação das grandes massas oprimidas”. Ela
no Santuário
seria, neste caso, precursora da Teologia e da Espiritualidade
dos Mártires,
São Félix do da Libertação.
Araguaia.

Claudio Morneau
Novas provocações
Novos ares se respiram na Europa a partir da Revolução participação.
Francesa (1789). Tendo como lema “Igualdade, Fraternidade e Na verdade,
Liberdade”, a Revolução combate o poder absoluto do rei, em os leigos se
favor de uma sociedade mais democrática. Como também a tornam co-res-
Igreja tinha os seus privilégios, desencadeia-se uma forte onda ponsáveis pela
anticlerical na Europa. O confisco dos bens eclesiásticos, a formação cristã Leigos em celebração do lava-pés, Paróquia
supressão de congregações religiosas e uma crítica acirrada à na sociedade. N. Sra. Consolata, Jd. São Bento, SP.
Igreja são algumas das manifestações desta atitude fortemente Em outras pa-
antieclesial. Dois destes elementos terão uma influência forte no lavras, poder-se-ia dizer que os leigos se sentem chamados ao
laicato católico. A concepção democrática que se afirma na socie- apostolado ativo e, por isso, se unem em associações e movi-
dade, possibilitando uma maior participação do povo nos destinos mentos. Eles solicitam espaço para o trabalho, não como meros
da nação vai gerar uma nova postura dos leigos na Igreja: este executores do que é decidido pelo clero, mas como pensadores
espírito participativo é levado também para o interior da própria criativos. Poderíamos dizer que é um tempo de grande vivacidade
Instituição. Os leigos começam a bater às portas, reivindicando laical: os leigos buscam, em primeiro lugar, um crescimento na
um espaço maior. Em segundo lugar, esta onda antieclesial mexe vida de fé, uma adequada formação cristã e, ao mesmo tempo,
com o brio dos cristãos mais convictos. Incentivados também por um espaço para uma atuação mais autônoma e eficiente na
muitos sacerdotes, os leigos partem em busca de novas formas de Igreja e como membros dela na sociedade.

Missões - Abril 2005 17


Dificuldades ainda presentes vive numa espécie de conflito: ao mesmo
tempo que sente a necessidade de um
laicato ativo, quer mantê-lo como simples
No campo teológico, Antonio Rosmini escreve na primeira executor de suas decisões. Em 1906, Pio X reafirmava o princípio
parte do século XVIII um livro intitulado “As cinco feridas da Igreja”. de que “só no corpo pastoral reside o direito e a autoridade.
Nele o autor solicita uma maior colaboração entre o clero e o Quanto à multidão, não tem outro direito que o de deixar-se

Geraldo Nonato de Souza / GNZ


Valorização do humano

O
Humanismo que nasce no início do
século XV, e que, de certa forma, é
um dos frutos do surgimento e do
desenvolvimento das universidades, apresenta-
se como uma corrente de pensamento que
volta o seu olhar para a cultura clássica gre-
co-romana, centralizando a sua atenção no ser
humano, buscando redescobrir o seu valor. Esta
corrente filosófica passa a olhar o mundo e a
vida com uma atitude mais positiva: o tempo
de vida de cada um deixa de ser visto como
Atuação de leigos em trabalho com a Infância Missionária.
um vale de lágrimas. O ser humano descobre
suas potencialidades e olha para si com um
otimismo crescente. Esta atenção para com o
humano torna-se tão primordial a ponto de se
Tempos de grande vitalidade
povo, uma maior conduzir e de seguir os seus pastores como dócil rebanho”.
poder dizer que o homem é o centro de tudo.
valorização do Mesmo diante destas barreiras e na ausência, ainda, de uma
A radicalização desta forma de pensar levará o
sacerdócio dos reflexão teológica que dê suporte a uma participação mais ativa
ser humano à ilusão de já não precisar mais de fiéis, uma liturgia dos leigos, ela acontece na prática
Deus na sua vida, surgindo assim o ateísmo. mais participa- com grande força. Diante do avanço

Arquivo
Neste contexto, no âmbito cristão, destaca-se tiva, onde real- do secularismo e do anticlerica-
Francisco de Sales, bispo de Genebra, no século mente se expe- lismo, surge a Ação Católica, que
XVII e doutor da Igreja. Entre outras obras, rimente a Igreja abrange os vários movimentos e
ele escreve “Introdução à vida devota”. Nesta, como Corpo de associações que os leigos católicos
Francisco busca mostrar que a santidade é Cristo e uma promoveram, de modo particular a
possível também para quem está no mundo, participação dos partir da segunda metade do século
isto é para os leigos. Mas sua voz também se
leigos na esco- XIX, com finalidade de formação
lha dos bispos. pessoal e ação pastoral. Os leigos
perde e continua-se a pensar que para ser santo
Ele talvez esteja se unem em uma infinidade de
é preciso imitar a vida dos monges.
vendo longe de- associações como, por exemplo:
mais e por isso Amizades Cristãs, Sociedade da
não é compreen- Juventude Católica, Federação Luiz Zucatto, ministro da
Eucaristia e Matrimônio.
dido no seu tempo. As idéias ainda predominantes no mundo Universitária Católica, Juventude
eclesial caminham por outras direções: a Igreja é vista como Universitária, União das Mulheres Católicas, Federação de
sociedade perfeita – não se consegue ainda compreendê-la Homens Católicos, Obras de Propagação da Fé, entre muitas
como Corpo de Cristo, o apostolado. A participação ativa na outras. Em paralelo a isto, começa a surgir uma espiritualidade
missão da Igreja é ainda considerada como algo que se refere tipicamente laical. O terreno se prepara para a grande mudança
aos padres e bispos. É emblemática, neste sentido, uma frase que ocorrerá a partir do Concílio Vaticano II (este tema continua
do Núncio Apostólico da Bélgica, monsenhor Ferrari (+1855): na próxima edição). 
“estamos, desgraçadamente numa época em que todos se
sentem chamados ao apostolado”. Como pano de fundo desta Luiz Balsan é missionário, professor de Espiritualidade e doutor em Teologia.
afirmação está a concepção teológica segundo a qual a pessoa Lírio Girardi é missionário e pároco da Paróquia Santa Margarida, Curitiba, PR.
passa a participar da missão da Igreja pela ordenação, e não pelo
batismo. No pontificado de Pio IX – que, diga-se de passagem,
foi o maior de toda a história, totalizando 38 anos – pode-se
Para Refletir
perceber dois momentos distintos. Num primeiro, ele manifesta 1. Na sua opinião, quais são os fatores que mais dificultaram, na Igreja, uma participação
desconfiança nas novas formas de associações leigas; nos úl- ativa do leigo?
timos 18 anos de pontificado, pede para que os leigos estejam
2. Em que sentido as universidades contribuíram para o renascimento da participação ativa
ativamente presentes nas questões eclesiais. Convoca-os, então,
para que, concretamente, colaborem na defesa dos direitos do leigo na Igreja?
espirituais e materiais da Igreja diante de uma sociedade que 3. De que maneira a nova mentalidade trazida pela Revolução Francesa contribuiu no despertar
se apresenta fundamentalmente hostil. A hierarquia da Igreja do laicato católico?

18 Abril 2005 - Missões


história da missão
Pequeno rebanho
na Mongólia
A Mongólia é uma das mais recentes
aberturas dos missionários e missionárias
da Consolata, que ocorreu em julho de 2003,
com o envio de 2 sacerdotes e 3 irmãs.
de Francisco Lerma Martínez

Da Casa Madre
F
alar da Mongólia significa falar de uma Igreja nascente,
de um reduzido grupo de batizados, apenas 200, de
uma Igreja em formação no meio de uma população
muito pobre e não cristã na sua totalidade. Os habitan-
tes são budistas-lamaistas (95,5 %), muçulmanos (0,4
%), e um reduzido número de simpatizantes de várias
confissões cristãs. Para compreendermos melhor os passos que
este pequeno grupo de cristãos está dando na Mongólia, pode
nos ajudar a experiência das primeiras comunidades cristãs
dos Atos dos Apóstolos. Nelas vemos como os crentes viviam
unidos, eram assíduos na oração, na fração do pão, na escuta
da Palavra e no amor fraterno.

Os gritos do povo Irmãs em viagem pelo sul da Mongólia.


Depois dos primeiros contatos com o cristianismo no século
VII, só a partir de 1992 é que a Igreja Católica começou a enrai- mais de três mil monges. Hoje assistimos à reabetura de tem-
zar-se no país com uma presença permanente. Por isso a sua plos e a redescoberta dos antigos ritos. Muitas obras artísticas,
primeira preocupação foi inserir-se na sociedade mongol para literárias, televisivas e cinematográficas se inspiram no antigo
sentir as suas preocupações e anseios, partilhar a sua vida, patrimônio sociocultural, e respira-se um ambiente de esperança,
descobrir os seus valores e entendê-los. Sente como próprio desejando que se abra uma nova página da história.
o grito profundo do povo, a sua situação de extrema probreza, Este ambiente é propício ao anúncio do Evangelho, numa
a perda da identidade cultural, a miséria das crianças de rua, terra em que a mensagem de Jesus não é conhecida. Como
a migração para as cidades, o alcoolismo. O primeiro e único fazem os poucos cristãos e missionários para fazê-la conhecer?
bispo da Mongólia, Monsenhor Padilla, falando desta situação São conscientes que o primeiro passo é o testemunho de vida,
tão deprimente afirma: “a vida na capital (Ulaabaatar) se carac- concretizado com as atitudes evangélicas de simpatia, tolerân-
teriza pelo alcoolismo, pela violência e pelas condições de vida cia, amabilidade e fraternidade. Deste modo, cada cristão se
debéis e incertas”. torna apóstolo no próprio ambiente, antes de falar. Trata-se do
anúncio por contato que vai lançando a semente no silêncio e
Que missão? lentamente, mas com muita esperança. Em seguida, a dedicação
A Igreja escuta o povo e faz sua a vontade de libertação de aos mais pobres que é a faísca que acende o fogo da fé e faz
tantos oprimidos e aflitos e se pergunta sobre a sua missão. nascer novos cristãos.
Que missão? Perante o desafio de milhares de esfomeados Há um outro desafio que a jovem Igreja da Mongólia en-
e de jovens sem futuro, optou pelo compromisso com a causa frenta: o diálogo inter-religioso, principalmente com o budismo.
dos pobres, colaborando diretamente com obras e atividades Os budistas apreciam a presença dos católicos e se nota um
de assistência, de promoção e de formação. As três paróquias objetivo comum entre as duas religiões, isto é, oferecer um futuro
e as congregações religiosas presentes no país se ocupam das ao país, começando com os mais jovens. Os budistas também
crianças de rua e demais vítimas da pobreza e marginalização têm obras em favor dos pobres e das crianças marginalizadas. É
através do Verbiet Care Center, dos missionários de Scheut, do necessário dialogar para superar divisões, fundamentalismos e
Centro Juvenil dos salesianos, e do acolhimento de jovens mães intolerâncias. Deste modo se atingirá os elementos fundamentais
das Irmãs da Madre Teresa. No setor da formação, os salesianos da pessoa, a inteligência e o coração, de onde surgirá uma era
dirigem o Colégio Politécnico e uma escola de inglês. nova para todos. Assim, a Igreja nascente da Mongólia, chegará
A Mongólia vive atualmente um forte despertar religioso. Há à idade adulta deixando-se conduzir pelo Espírito Santo, como
grande fome de Deus depois de 65 anos de dominação soviética, antigamente as comunidades dos Atos dos Apóstolos. 
durante a qual o país sofreu uma dramática perseguição religiosa.
Calcula-se que foram destruídos 750 mosteiros budistas e mortos Francisco Lerma Martínez é sacerdote missionário e secretário-geral para a Missão.

Missões - Abril 2005 19


Evangelização e Pr
Destaque do mês

na Igreja hoje Reunidos em


Assembléia neste mês
de abril, os bispos do
Fotos: Arquivo CNBB

Brasil discutem o tema


“A Evangelização e o
Profetismo – Missão
da Igreja diante dos
desafios atuais...”,
aprofundando o Projeto
Nacional Queremos ver
Jesus, Caminho, Verdade
e Vida.

Assembléia da CNBB, 2004.

de Antônio Valentini Neto

A
nualmente, os bispos da Igreja Católica do Brasil A primeira tarefa da Igreja:
­realizam a Assembléia da Instituição que os congrega: Evangelização
a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ao anunciar a convocação de um Concílio Ecumênico,
Durante dez dias, vivem a experiência renovadora de o Vaticano II, em 1959, o Papa João XXIII tinha em mente o
comunhão, cultivam momentos intensos de oração, aggiornamento (“colocar em dia”) da Igreja. Desejava colocar
analisam os principais desafios de sua missão de em linguagem compreensível aos homens e mulheres de nosso
pastores do povo de Deus e buscam juntos, na docilidade ao tempo a mensagem perene do Evangelho. Logo passou-se a
Espírito Santo, como realizar a evangelização, tarefa principal de falar em “voltar às fontes”, ao vigor inicial das comunidades
seu ministério. Na Assembléia deste ano, de 5 a 15 de abril, os da Igreja primitiva no testemunho e no anúncio da Boa Nova
bispos aprofundam o tema central: “A Evangelização e o Profe- da Salvação.
tismo - Missão da Igreja diante dos desafios atuais...” Este tema Nesta perspectiva, o Concílio falou em seus documentos
decorre das atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da da Evangelização (31 vezes). Mas o assunto foi assumido
Igreja no Brasil, para o período 2003-2006. Elas fundamentam decisivamente a partir do Sínodo Mundial dos Bispos de 1974,
o Projeto Nacional de Evangelização “Queremos ver Jesus, sobre a Evangelização, com a exortação apostólica decorrente
Caminho, Verdade e Vida”, para 2004-2007. Evangelii Nuntiandi de Paulo VI, em 1975.

20 Abril 2005 - Missões


rofetismo
isso, a evangelização urge na vida em comunidade e ao mesmo
tempo renova aquela constituída na fé, na esperança e no amor,
formando o povo de Deus. Pela evangelização, a Igreja também
oferece seu contributo específico para a construção da sociedade
justa e solidária. As Diretrizes oferecem uma variedade grande de
pistas de ação. Elas pretendem responder aos principais desafios
constatados na sociedade pelas próprias Diretrizes. Eles são, em
grande parte, as conseqüências negativas do processo atual de
globalização: crescimento econômico desigual, priorização do
capital especulativo, nova visão a respeito da pessoa, da família e
Três razões principais motivaram este da religião, enfraquecimento da política e descrédito dos políticos,
destaque para a Evangelização: desemprego crescente... Alguns efeitos maléficos da globalização
e da atual realidade são: o isolamento das pessoas, o enfraqueci-
1ª) a busca de autenticidade, a volta às origens, a procura mento da família, a quebra dos laços comunitários, o esfacelamento
de uma consonância mais perfeita possível com o Evangelho das comunidades, as diversas formas de desrespeito à vida, a
de Jesus Cristo; falta de condições mínimas de sobrevivência para uma parcela
2ª) a tomada de consciência de que apenas um terço da sempre maior da população, a frustração pela impossibilidade
população de hoje é cristã, e somente um quinto é católica e de se desfrutar tudo o que a propaganda consumista oferece ou
de que mesmo nos países considerados porque, quanto mais se
cristãos há um processo de descristia- consome, maior o vazio
nização ou de secularização; existencial, a exclusão e
3ª) a necessidade de responder a violência...
a três desafios especiais do nosso Neste quadro, as
tempo: atuais Diretrizes da Ação
a) o desafio do ateísmo (aparece Evangelizadora da Igreja
no documento do Concílio sobre a no Brasil destacam a
Igreja no mundo de hoje); da seculari- acolhida em toda sua
zação (aparece no mesmo documento) ação. Num mundo de
e do ocultamento do sentido de Deus dispersão, de anonimato
e do homem (aparece na recente en- e de isolamento, o agente
cíclica de João Paulo II, o Evangelho de pastoral deve acolher
da Vida); com ternura cada pes-
b) a consciência cada vez mais soa e apontar para a
aguda de que a ação pela justiça e comunidade cristã como
a participação na transformação do espaço de convivência
mundo são partes constitutivas da familiar e fraterna. Nesta
pregação do Evangelho, da própria perspectiva, a comuni-
missão da Igreja pela redenção da dade eclesial ganha a
humanidade e a libertação de toda a situação de opressão característica de lar. Ela concretiza a Igreja doméstica. De fato,
(aparece no documento do Sínodo dos Bispos de 1971 sobre nas pistas de ação, as Diretrizes propõem: acolhida e orientação
a Justiça no Mundo); da pessoa em busca de solução de suas necessidades, serviços
c) a necessidade do diálogo com as outras religiões, cujas de aconselhamento, atendimento personalizado, educação para
bases foram estabelecidas pelo Concílio. Durante o próprio o diálogo integral e aberto, educação para um relacionamento
Concílio surgiu um Secretariado para tal finalidade. Depois foi solidário e respeitoso das pessoas entre si. No contexto social
transformado em Pontifício Conselho para o Diálogo inter-reli- atual que apresenta tantos feridos, machucados pela frieza do
gioso, ao qual se devem dois documentos: Diálogo e Missão mercado, pela exploração, pela violência, as Diretrizes insistem
(1984) e Diálogo e Anúncio (1991). Diante do crescimento em ações de solidariedade: atenção às necessidades básicas
da religião islâmica e das religiões asiáticas, a Igreja percebe das pessoas, serviços especiais em favor dos idosos, migrantes,
a amplitude do desafio missionário além-fronteiras em dupla jovens e crianças em situação de risco, acompanhamento aos
direção: diálogo e anúncio missionário. desempregados, migrantes, pescadores, turistas, ações imediatas
para aliviar o sofrimento dos excluídos, na luta contra a miséria
e a exclusão social, justa distribuição da renda, garantia de
Evangelizar com ternura e firmeza profética condições mínimas de sobrevivência para todos. Nisso, a Igreja
Evangelizar foi a ordem de Jesus aos apóstolos: “Ide por todo vai assumindo a característica do samaritano, que proporciona
o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). o socorro imediato aos feridos e garante o tratamento posterior
Esta é a permanente “diretriz” da Igreja, que evangeliza pelo até a plena recuperação. Pela intransigente defesa dos direitos
conjunto de suas ações: serviço, diálogo, anúncio explícito e das pessoas à inclusão social, pelas causas das desigualdades
testemunho de vida fraterna. A Igreja evangeliza para despertar sociais que apontam, por urgirem os católicos à solidariedade e
nas pessoas a fé em Cristo, proporcionando um encontro trans- ao engajamento social, as Diretrizes têm forte conotação pro-
formador com Ele e estabelecendo a comunhão de vida nEle e fética. Mesmo porque a evangelização, por natureza, deve ter
com Ele: “O que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para vigor profético. Por estes aspectos, parece possível dizer que as
que estejais em comunhão conosco. E a nossa comunhão é Diretrizes propõem evangelizar com ternura, mas também com
com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo” (1ª Jo 1, 3). O primeiro firmeza e vigor profético, num modelo de Igreja-lar, samaritana e
grande destinatário da evangelização é a pessoa humana, feita solidária. 
para viver em comunhão com Deus e com os semelhantes. Por Antônio Valentini Neto é pároco da Catedral de Erechim, RS.

Missões - Abril 2005 21


Tempo de
atualidade

Capítulo Geral

Fotos: Jaime C. Patias


C
omo herdeiros do mesmo Carisma, a experiência de fazer
contemporaneamente os dois Capítulos Gerais – missio-
nários e missionárias – é muito enriquecedora. Há muito
em comum, o que os incentiva a refletir, a partilhar e a buscar juntos
a fidelidade ao Carisma e à Missão Ad Gentes. Pode-se comparar
um Capítulo Geral com aquele “encontro” dos 72 discípulos com o
Mestre ao regressarem da missão. Foi uma experiência de partilha
das experiências vividas e de discernimento (Mc 6,30).
Inicialmente o Fundador, padre José Allamano, pensava numa
Congregação para a evangelização da África e enviou o primeiro
grupo, constituído por dois padres e dois irmãos, para o Quênia.
E pouco depois outro grupo para a Etiópia. Ano após ano, mis-
sionários e missionárias foram se espalhando por vários países de
Os missionários e as missionárias da
quatro continentes. Consolata realizarão em São Paulo,
de 10 de abril até metade de maio de
2005, seus respectivos Capítulos Gerais,
durante os quais farão uma avaliação da
caminhada percorrida.
de Michelangelo Piovano e Maria Costa

F
az parte da vida das Ordens e dos Institutos Religiosos,
segundo as normas consagradas nas Constituições de
cada um, realizar o Capítulo Geral, durante o qual se faz
uma avaliação da caminhada percorrida, se desenham
novos projetos de evangelização e de vida comunitária
e se procura responder aos contínuos desafios que a
realidade, em constante mudança, apresenta à missão da Igreja.
As Constituições dos Institutos estabelecem que o Capítulo Geral
aconteça a cada seis anos. Cada Congregação guarda como um
tesouro precioso aquele Carisma específico recebido de Deus
através da vida de um Fundador ou Fundadora. Um Carisma que
afinal é também uma riqueza para toda a Igreja. O Capítulo tem
como primeira tarefa proporcionar aquele confronto, absolutamente
necessário, com o Carisma específico da fundação, tanto no
sentido de o dinamizar, quanto à fidelidade de como responder

22 Abril 2005 - Missões


aos novos desafios que as mudanças históricas inevitavelmente
trazem. Enfim, durante o Capítulo Geral também são eleitos os
novos superiores e superioras gerais, junto com seus respectivos
conselheiros e conselheiras. No caso específico da Consolata,
existe uma forma de vida muito internacionalizada, onde cada
província é constituída por membros de diversas nacionalidades.
O missionário ou missionária, quando enviado além-fronteiras,
deixa de fazer parte da província de origem.
As missionárias da Consolata celebram o seu IX Capítulo
Geral - o primeiro fora da sede geral, na Itália – e os missionários
celebram o XI – o segundo também realizado fora de sua sede
geral, em Roma. São 50 os missionários e 48 as missionárias
em seus respectivos Capítulos. Aquele das Irmãs realiza-se na
sede provincial, no bairro do Mandaqui e o dos padres e Irmãos
no Centro Missionário José Allamano, no bairro da Pedra Branca,
ambos na Região Episcopal Santana, em São Paulo.

Objetivos e participantes maior impacto a palavra do Evangelho que diz: “ide pelo mundo
Durante o Capítulo, as missionárias querem celebrar a vida inteiro e pregai o Evangelho a toda a criatura”. Todo o ser humano
do Instituto, avaliar a sua caminhada e aprofundar pontos impor- tem direito de conhecer a verdade do Evangelho.
tantes como: a formação inicial e permanente dos seus membros,
a inculturação do Carisma, a espiritualidade de comunhão, a A preparação
Missão Ad Gentes, a organização interna e, em especial, lançar Já vai para mais de um ano que ambos os Institutos estão
um olhar no horizonte rumo à celebração do primeiro centenário preparando este evento através de ampla avaliação e reflexão,
do Instituto. No decorrer da assembléia capitular haverá espaço na qual participam todos os membros, reunidos em assembléias
para a participação de alguns leigos que partilham com os mis- locais e provinciais. É a partir dessas assembléias que os desa-
sionários o Carisma da Congregação, provenientes dos diversos fios vão sendo evidenciados e as novas propostas vão tomando
países onde os grupos já estão constituídos. corpo para que os capitulares formulem as decisões adequadas e
oportunas. O Capítulo Geral dos
missionários irá estudar temas
importantes e desafiadores para
o Instituto no momento atual
tais como a internacionalidade,
a interculturalidade dos seus
membros, o diálogo religioso, a
formação de base e permanente
e os leigos missionários.
Durante os dois Capítulos
haverá também momentos
de celebração e de encontro
em conjunto. O primeiro deles
acontecerá logo no dia 11 de
abril, com a peregrinação ao
Santuário Nacional de Nossa
Senhora Aparecida para im-
plorar sua bênção ao começar
estes importantes eventos. E o
segundo será a reflexão sobre
a caminhada da Igreja e da
Celebração eucarística na festa da fundação do IMC, Centro de Animação Missionária, SP.
Vida Religiosa profética e so-
As missionárias da Consolata atualmente contam com 846 lidária no Brasil. Para isso se contará com assessoria externa.
membros, e os missionários, com 974. As delegadas ao Capítulo Terminadas as sessões capitulares realizadas em separado,
Geral são provenientes da Itália, Etiópia, Somália, Tanzânia, Quê- missionários e missionárias se encontrarão para partilhar sobre
nia, Moçambique, Libéria, Estados Unidos, Colômbia, Venezuela, alguns temas refletidos e sobre as decisões tomadas para que
Argentina e Brasil. Excetuando-se a Somália e a Libéria, além até os próximos Capítulos alguns projetos missionários sejam
desses mesmos países, os missionários contam com delegados realizados em conjunto.
da Costa do Marfim, da República Democrática do Congo, da Os Capítulos Gerais normalmente são acompanhados
Coréia do Sul, da Espanha e de Portugal. por orações das pessoas que, de várias formas, partilham do
Nos últimos anos, os dois Institutos se orientaram para Carisma dos Institutos. O primeiro e indispensável participante
novas aberturas em países de extrema minoria cristã. É o caso é o Fundador, o Bem-aventurado José Allamano, a quem os
da Mongólia, país situado entre a Rússia e a China, onde os capitulares pedem a graça de permanecer fiéis ao dom recebido
batizados não chegam a duas centenas, e o caso de Djibuti, na de Deus e do qual se tornaram herdeiros e herdeiras. 
África, onde 98% da população é de religião muçulmana. As
congregações missionárias não são constituídas por “grupos Michelangelo Piovano é sacerdote e Superior do Instituto Missões Consolata no Brasil.
de elite”. São apenas cristãos em cujos corações ressoou com Maria Costa é Irmã e Superiora das Missionárias da Consolata no Brasil.

Missões - Abril 2005 23


com alegria
construiremos teu reino
É com muita expectativa que inicio esta nova fase em minha
Infância vida: o desafio de manter o diálogo com os animadores e
Missionária
animadoras da Infância Missionária (IM) através desta página.
Espero contar com a colaboração de vocês!

de Roseane de Araújo Silva como recententemente, no Mato Grosso do Sul. É preciso ir além
da compaixão a que somos levados. É necessário devolver às

A
nossas crianças a esperança profética que nos inunda quando
credito estarmos ainda vivendo sob o impacto do mar- as fitamos nos seus olhinhos. A esperança profética de sermos
tírio da Ir. Dorothy Stang, uma missionária engajada sujeitos da nossa própria história e não meros espectadores.
na defesa dos pequenos no interior do Pará. Doro- Defendemos o Reino de liberdade, fraternidade, justiça, amor,
thy, criança em terras distantes, profetiza em nosso e ele não é algo distante.
chão. Desejosa de que a Justiça cumpra o seu papel
punindo os culpados, tomo este fato como ponto de Venha a nós o Vosso Reino!
partida do nosso diálogo. O que move mulheres e homens a O Reino de Deus já está em nosso meio (Lc 17,21) quan-
dedicarem suas vidas em defesa dos menos favorecidos? Ou do nos fazemos presentes em qualquer situação de injustiça,
continuando a missão de Jesus, transformando-a com o nosso
testemunho profético de anúncio e denúncia. Às margens do
Jaime C. Patias

mar da Galiléia, Jesus convida os irmãos Pedro e André a dei-


xarem suas vidas, seguindo-o para uma “pescaria” totalmente
diferente (Mc 1,16-18). Que resposta daríamos a Jesus nos dias
de hoje? Preferimos a nossa “tranqüila” vida de pescadores? Ou
abraçamos o desafio de testemunhar em águas mais profundas,
em águas que não conhecemos? Eis o desafio...
As nossas crianças esperam a nossa intervenção de sujeitos,
abrindo caminho para uma sociedade melhor que essa. Uma
sociedade sem diferenças, onde todas cresçam e vivam com
liberdade, cantando com alegria a construção do Reino de amor
preparado por Deus Pai-Mãe. A certeza de que não estamos
sozinhos nos faz caminhar. Das crianças do mundo – sempre
amigas! 

Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da rede pública do Paraná.


Crianças no V Fórum Social Mundial, RS.

aos favoritos do Deus Pai-Mãe? Somos chamados e enviados à


missão desde o ventre materno (Jr 1,5), alimentados pela força
Dinâmica: Disputa desigual
transformadora do Espírito Santo em nossas vidas. O desejo Material:
insaciável de ver acontecer o Reino de Deus em nosso meio, 2 folhas de jornais velhos enroladas como bastão, 2 vendas
anunciando a Boa Nova e denunciando o que é contrário a ele. e 2 voluntários.
Esse foi o testemunho da missionária coroada com o martírio, - Vendar as dois voluntários, entregando um bastão de jornal
profetiza dos nossos dias. para cada um. Girar os dois e pedir para que cada um acerte
o outro com o jornal.
O chamado profético - Desamarrar um dos participantes e continuar a disputa, agora
Existem várias situações que as nossas crianças vêm em condições desiguais.
enfrentando hoje em dia, atingindo em cheio seu direito de ser - Os outros participantes devem observar e torcer.
criança, o direito à vida. Em terras brasileiras muitos pequeninos
- Avaliar os sentimentos diante da disputa com todo o gru-
juntos com seus pais, são agredidos quando são expulsos de
po, refletindo as posturas diferentes e contrárias, tais como:
um pedaço de chão onde sobrevivem, quando são forçados a
solidariedade, indignação, indiferença, passividade, sentir-se
viver à beira de estradas ou debaixo de viadutos nas grandes
cidades, ou quando morrem de fome as crianças indígenas, co-responsável, “lavar as mãos” etc.

24 Abril 2005 - Missões


conexão jovem
O que os Jovens
pensam de si
“A juventude é rica, a juventude é

Jaime C. Patias
pobre. A juventude sofre e ninguém
parece perceber” (Renato Russo).
de Carlos Eduardo da Silva (Dudu)

M
uitos jovens não se acham capazes de resolver
os próprios problemas, pensam que são pes­soas
fracas, que não têm força de nadar contra a corrente
das dificuldades. Como conseqüência desta auto-
imagem, vemos uma multidão deles entregues às
drogas ou à inatividade, sem condições de lutar
pela melhoria deste mundo.
Vemos também jovens que se acham incompreendidos, sem
espaço para falar. Como conseqüência, presenciamos formas de
auto-expressão exageradas, tais como as de pichação e vanda-
lismo. Muitos jovens pensam ainda que estarão eternamente no
presente, por isso, ao invés de lutar por um futuro melhor, procuram
apenas um “hoje” menos doloroso. Existem ainda jovens que se
vêem como o futuro da humanidade, e por isso tratam de hoje
estudar e trabalhar para serem adultos de sucesso, muitas vezes
não se importando com o que são, mas pelo que serão no futuro,
deixando que passe em branco uma etapa da vida.

Tempo de sonhar
Existem ainda jovens, e eu me incluo entre estes, que pen-
sam que a juventude é tempo de sonhar, tempo de experimentar
vários desdobramentos da vida, tempo de cair e levantar, tempo Participante do Dia Nacional da Juventude, Catedral da Sé, SP.
de lutar pelo que se acredita, nem que isso implique nadar contra são incapazes, que não têm responsabilidade, que não têm futuro
várias correntes, tempo de se apaixonar, tempo de mudar de e que só serão dignos de respeito quando forem adultos.
idéia, tempo de brigar, de ser amigo, de se reconciliar, de amar. A auto-imagem juvenil é também um grande trunfo para o
Tempo de viver com o entusiasmo dos primeiros dias de vida e mercado econômico, pois à medida que se faz com que os jovens
com a intensidade dos últimos. Esses jovens acreditam que a pensem que não têm futuro, tenta-se fazer com que aproveitem
juventude não é apenas uma etapa da vida, mas um estado de o seu presente adquirindo coisas desnecessárias.
espírito que pode nos acompanhar aos oitenta anos, ou já estar Para finalizar, penso que ser jovem é sempre ter possibi-
perdido aos quinze. lidade, é nunca ter nada concluído, é sempre estar disposto a
Depois de ter mostrado algumas das coisas que os jovens experimentar. Por isso, mesmo na situação atual, em que os
pensam de si, acredito que seja importante considerar que boa jovens são usados como massa de manobra pelo mercado, e
parte da auto-imagem da juventude é construída por fatores “bode expiatório” para muitos dos problemas sociais, é possível
externos, tais como a família, a escola, a Igreja e a mídia. mudar, é possível melhorar. Precisamos ajudar os jovens que
É comum vermos adultos que se dizem sensatos condenando ainda estão parados e conformados com o estado do mundo, a
as ações dos jovens, dizendo que são irresponsáveis, que não acordar, a se dar conta de seu potencial e de sua responsabilidade
sabem o que querem, e assim por diante. Mas essas pessoas se de agentes transformadores da realidade. 
esquecem que muitas vezes foram elas mesmas que fizeram com
que os jovens não acreditassem em si, que os fizeram achar que Carlos Eduardo da Silva (Dudu) é seminarista da Sagrada Família de Bergamo, Curitiba, PR.

Missões - Abril 2005 25


entrevista

Fotos: Paula Brenha

De mãos dadas
com os povos indígenas
de Emerson Quaresma, Francimar Rodrigues e Ivan Brito Até que ponto a Igreja está pressionando o governo para
que a homologação da Área Indígena Raposa Serra do Sol
saia o mais urgente possível?

D
epois de participar da 34ª Assembléia dos Povos A Igreja faz tudo que está ao seu alcance. A Conferência Na-
Indígenas de Roraima em Maturuca, entre os dias cional dos Bispos do Brasil (CNBB) há muitos anos está ao lado
12 e 15 de fevereiro, o administrador diocesano de dos índios. O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), surgiu por
Boa Vista, capital do Estado, padre Edson Damian, iniciativa da CNBB. Ultimamente, a Comissão Episcopal para a
nos relata um pouco do contexto histórico e atual Amazônia, juntamente com o CIMI, teve um papel decisivo junto
da atuação da Igreja, usando sua respeitabilidade ao Judiciário para conseguir que o Supremo Tribunal Federal (STF)
universal em prol dos índios, que defendem a homologação em caçasse liminares que impediam a área contínua. Ouvimos na
terra contínua da Raposa Serra do Sol. Assembléia o relato da advogada do CIR, Joênia Wapichana, de
que no dia 15 de dezembro foram derrubadas duas liminares que
Qual o papel da Igreja de Roraima junto às comunidades impediam a homologação. E isso se deve à influência decisiva da
indígenas? Comissão Episcopal para a Amazônia na pessoa de Dom Jayme
Chemello e também de Dom Luiz Soares Vieira, que visitaram
Atualmente os índios são autônomos, o Conselho Indígena Roraima em outubro e, em Brasília, conseguiram uma mobilização
de Roraima (CIR), que organiza a Assembléia, caminha com as que pressionou o Procurador Geral da República. Ele entregou
próprias pernas. Mas para chegar a isso, a presença da Igreja um documento ao STF, que, na pessoa do Ministro Carlos Aires
foi fundamental. Os missionários da Consolata têm todos os Brito derrubou aquelas liminares que impediam a homologação. A
méritos por ajudar esses índios que estavam dispersos e que tristeza dos índios é saber que o presidente Lula teve dezoito dias
eram mão-de-obra semi-escrava dos fazendeiros. Congregá-los, para realizar a homologação e não o fez. De 15 de dezembro de
sabendo que já tinham perdido a língua, a cultura e a identidade, 2004 até 3 de janeiro de 2005 não havia nenhum entrave judicial.
era conquistar de novo a sua auto-estima, e com o passar dos No dia 3 de janeiro, Mozarildo Cavalcante, senador por Roraima,
tempos, também a luta pelos seus direitos, dentre os quais, o entrou com uma Ação Cautelar para suspender a demarcação.
reconhecimento da Terra Indígena Raposa Serra do Sol em A decisão está novamente no STF, nas mãos de onze juízes que
área contínua. formam o plenário, última instância do Judiciário.

26 Abril 2005 - Missões


O que o senhor pensa dos comentários feitos pelo apresen- bispo estava em São Paulo e eu respondia pela Diocese e nós
tador Gilberto Barros no programa da Rede Bandeirantes, vivemos momentos praticamente de prisão domiciliar. Ficamos
Boa Noite Brasil, relatando a presença de ONGs norte-ame- reféns do telefone. Foi impressionante! Naqueles três dias eu
ricanas manipulando os índios? percebi a rede de solidariedade universal, o prestígio que tem
a nossa Igreja no Brasil e no mundo inteiro por assumir a causa
Foi um documentário mentiroso, totalmente desfavorável à dos povos indígenas.
homologação em área continua, apresentando reportagens de
comunidades indígenas que são contra a homologação, des- Algumas pessoas geralmente criticam a existência de mis-
crevendo que eles vivem no maior conforto e bem-estar, com sões dentro das comunidades indígenas afirmando que elas
tudo aquilo que essa cidade tem a oferecer de consumo e que destroem a característica peculiar desses povos e mais,
os filhos dessas famílias estão se preparando para entrar na que introduzir a fé cristã seria prejudicial à própria cultura
universidade. Contrapondo a isso, mostraram indígena. Como se concilia essa questão,
malocas que se dizem ligadas ao CIR e que
querem a homologação em área contínua, Nesta entrevista, padre na sua opinião?

que são índios vadios e preguiçosos, não


produzem nada, só produzem para comer Edson Damian comenta A Igreja passou por dois caminhos: o
primeiro durou até o Concílio Vaticano II e
e não têm interesse em se desenvolver.
Quando se assiste a um programa desses, a homologação da Área terminou em 1975, com a preocupação de
evangelizar e, junto com o Evangelho, sem-
percebemos os interesses da elite e dos meios
de comunicação de Boa Vista, totalmente Indígena Raposa Serra do pre levou a saúde, a educação, a promoção
integral das pessoas. As primeiras escolas e
contrários aos direitos dos índios.
Sol e a situação da Igreja os primeiros hospitais desse país foram fun-
dados pela Igreja, e isso aconteceu no meio
A Igreja de Roraima está muito envolvida
com os povos indígenas. Ela está sofrendo no Estado de Roraima. das áreas indígenas também. O segundo, foi a
novidade que o Concílio Vaticano II trouxe no
valgum tipo de ameaças por estar apoiando tocante ao respeito pela cultura do outro, sem
a homologação? querer impor a sua,
que se julga civilizada,
Sempre. Quando desenvolvida e supe-
os missionários da rior. A partir de então
Consolata tiveram à nasceu o Conselho In-
frente o saudoso Dom digenista Missionário
Aldo Mongiano, que (CIMI), que mudou o
foi bispo por 21 anos, jeito de evangelizar.
em meados de 1978, Antes de anunciar o
fizeram essa opção Evangelho, é preciso
clara pelos povos in- percorrer um longo ca-
dígenas e pelos seus minho de diálogo com a
direitos. A partir daí, cultura dos índios para
o que os não-índios só depois, a pedido dos
dizem? Que até essa próprios índios, intro-
data havia uma per- duzir a evangelização
feita paz e harmonia explícita. A presença
entre eles e que foi dos missionários serve
a Igreja que criou a para cuidar da saúde,
divisão de brancos e alimentação e educa-
índios. Agora, o que ção – alfabetização
eles não dizem é que – primeiramente na
até essa data, os ín- língua materna para
dios eram escravos preservá-la, e depois
dos brancos. A Igreja em Português, para
percebeu que não po- que possam se defen-
dia mais evangelizar Participantes da 34ª Assembléia Geral dos Povos Indígenas de Roraima. der na sociedade dos
mantendo a dominação dos índios. E desde então começou a brancos e conquistar os seus direitos. Com esse método de
perseguição contra ela. O que vemos nos dias de hoje é que diálogo, a Igreja já está evangelizando porque está promoven-
toda a mídia de Boa Vista, todos os políticos, toda a elite é do a vida, a dignidade e os direitos. Com os Yanomamis, por
contra a Igreja, principalmente nessa questão da Área Indígena exemplo, os missionários da Consolata estão desde a década
Raposa Serra do Sol. de 60, pois chegaram aqui em 1948 e foram os primeiros que
A perseguição é cada vez mais violenta e evidente, a exemplo tiveram esse contato maior e permanente com os índios. Mas,
do dia 6 de janeiro de 2004, com o Movimento Pró-Roraima, desde essa data, eles não batizaram nenhum índio Yanomami.
realizado pelos plantadores de arroz, fazendeiros e políticos Então, dizer que a Igreja não respeita a cultura indígena, impondo
locais. Intitulava-se pacífico e ordeiro, mas começou com uma outra diferente, é mentira. 
ação extremamente violenta, invadindo e depredando a missão
de Surumu, prendendo três missionários da Consolata que Emerson Quaresma, Francimar Rodrigues e Ivan Brito são agentes da Pastoral da Comunicação
permaneceram por três dias em cárcere privado. Naquele dia, o da Área Missionária Santa Maria Goretti, Manaus, Amazonas.

Missões - Abril 2005 27


Macunaíma
amazônia

vivo até o último índio

A 34ª Assembléia Geral dos Povos Indígenas de Roraima congregou cerca de 1.030 pessoas,
com a presença de 186 tuxauas (caciques) na aldeia Maturuca, área indígena Raposa Serra do
Sol, entre os dias 12 e 15 de fevereiro.
de Joaquim Gonçalves

N
o centro das atenções da 34ª Assembléia Geral que tanto o partido vencedor nas eleições, quanto o próprio
dos Povos Indígenas de Roraima, a expectativa presidente eleito sempre estiveram junto com os indígenas nas
acerca da homologação da área Raposa Serra do lutas, as expectativas eram grandes, a esperança parecia estar
Sol. Permanecem ainda muitas frustrações. Daí o ao alcance da mão. Mas hoje, dois anos e meio depois desse
desabafo espontâneo: “querem acabar conosco”. diálogo, pode-se dizer que o horizonte está nublado. Parece
Em dezembro de 2002 a diretoria do Conselho uma noite se sobrepondo ao dia. Quem diria?
Indígena Missionário (CIMI) foi recebida pela equipe de tran- As comunidades indígenas lamentam profundamente que o
sição do governo Lula para apresentar algumas das questões presidente, tendo tido a oportunidade única no fim do ano passado
indígenas vitais: os decretos que dificultavam homologações de assinar o decreto de homologação contínua da terra Raposa
ou demarcações e as situações de invasões impunes de terras Serra do Sol, não o tenha feito. Poucas semanas antes, o Supre-
já demarcadas. E sugeriam ao presidente algumas soluções mo Tribunal Federal tinha deixado caminho aberto para liquidar o
coerentes e legais para esses problemas. Conscientes de assunto da homologação. Poderia se ter começado este ano com

28 Abril 2005 - Missões


As conclusões da 34ª Assembléia são claras quanto a sugestões e exigências enviadas ao gover-
no e às organizações nacionais e internacionais que são solidárias com as vítimas de violação de
direitos humanos. Reportamos aqui os elementos essenciais das decisões tomadas,
condensadas em 4 temas:

1. Quanto ao território, diversidade cultural e direitos huma- privatização de conhecimentos milenares dos povos indígenas; o
nos exige-se: processo de elaboração de projetos de estradas; e a permissão
- a homologação imediata da TI Raposa Serra do Sol conforme de monocultura de acácias”. E recomenda a articulação de ações
demarcada pela Portaria número 820/98-MJ, com as providên- interinstitucionais de proteção e manejo de recursos naturais, o
cias necessárias para que sejam reintegradas às comunidades apoio às organizações indígenas e a realização da 1ª Conferência
indígenas as ocupações ilegais; Indígena do Meio Ambiente.
- a retirada dos invasores José Ribeiro da Silva da TI Pium
e Benjamim da TI Boqueirão, pela prioridade destacada na 3. No que se refere à saúde e educação exige-se: a garantia
região do Boqueirão; de continuidade de convênio entre CIR (Conselho Indígena de
- providências para retirada imediata de todos os invasores, em Roraima) e Funasa (Fundação Nacional da Saúde), assegurando
especial dos que já receberam indenização, em grande parte, meios; equipamento adequado aos postos de saúde e às casas de
localizados na Região do Amajari, Taiano e Serra da Lua; saúde indígena; formação e meios de transporte para os agentes
- a retirada de garimpeiros, fazendeiros, madeireiros, pescadores de saúde; apoio à criação de Centros Regionais para a Medicina
na Terra Yanomami, TI Araçá; Tradicional Indígena; construção de prédios nos pólos base da
- responsabilizar os meios de comunicação social que propagam Funasa; estudar e avaliar a contaminação ambiental e intoxicação
a discriminação e o racismo contra os povos indígenas. por mercúrio e agrotóxicos por pessoas competentes; repensar a
educação escolar indígena, com o apoio do MEC; a federalização
2. Quanto ao direito ambiental exige-se: do Centro Indígena e Cultural Raposa Serra do Sol no Surumu;
- a imediata autuação e responsabilização dos arrozeiros que assegurar representantes indígenas no Conselho do Fundef (Fundo
jogam agrotóxicos nos rios que cortam a Raposa Serra do Sol, de Desenvolvimento do Ensino Fundamental); possibilitar e reconhe-
especialmente na região do Baixo Contijo. Que o Ibama, a Polícia cer oficialmente todas as escolas indígenas; garantir representante
Federal e o Ministério Público Federal assumam suas responsa- indígena no Conselho Estadual de Educação.
bilidades legais e dêem ao caso a prioridade que merece;
- que seja dada uma solução à sobreposição do Parque 4. Quanto ao desenvolvimento sustentável a Assembléia
Monte Roraima e da TI Raposa Serra do Sol; “rechaça os projetos que oferecem migalhas com o objetivo de
- que sejam retirados os lixões existentes em terras indígenas enfraquecer nossa luta pela demarcação e retirada de nossas terras,
e recuperadas dos danos ambientais. promovendo a divisão nas nossas comunidades. O investimento de
E além de formular exigências lícitas, a Assembléia manifesta energia na luta pelas demarcações e homologações nos impedem
seu repúdio, preocupação e indignação quanto a “negociação de avançar e investir essa energia em projetos de desenvolvimento
feita pelo governo federal com o direito humano à saúde e ao sustentável. Temos condições de produzir e diminuir nossa depen-
meio ambiente, permitindo a poluição dos rios; apropriação e dência de produtos comprados no mercado. Temos iniciativas para
auto-sustentação e produção de renda. Por isso recomendamos:
Paula Brenha

que sejam simplificados os mecanismos para a administração de


recursos públicos; que sejam investidos recursos nos projetos
­viáveis já em andamento, tanto para formação e capacitação; que
os projetos governamentais respeitem os projetos formulados em
nossas comunidades e organizações”.

terra limpa e esperança renascida. Mas o presidente, pressionado


por deputados, governadores e fazendeiros deve ter preferido que
a senhora Ministra do Supremo, Ellen Gracie Northfleet, tivesse
tempo para redigir mais um entrave aparentemente jurídico para
adiar aquela esperada “canetada”, com a qual podia ter posto
termo a toda a briga. A imprensa nos faz saber que na Câmara
dos Deputados nunca houve uma mentalidade antiindigenista tão
marcante como agora. Verdadeira ou configurada como armação,
ela serve para negociar cargos, favores e projetos. A Assembléia
terminou num clima de fraternidade, de esperança e de disposi-
ção para continuar a luta pelo respeito, dignidade e promoção da
vida de todos. Os trabalhos foram encerrados com a eleição do
tuxaua Marinaldo Justino Trajano como coordenador do Conselho
Indígena de Roraima, para um mandato de dois anos. 

Joaquim Gonçalves é sacerdote missionário e membro da Comissão Justiça e Paz.


Marinaldo Justino Trajano, novo coordenador do CIR.

Missões - Abril 2005 29


Goiânia (GO) o Encontro Nacional do Mutirão pela Amazônia. Além
Crime contra os direitos humanos da Comissão Episcopal para a Amazônia, estarão
presentes no evento representantes dos regionais,
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da bispos, padres, religiosos(as) e leigos(as). O principal
Reforma Agrária e Urbana (CPMI da Terra) poderá objetivo do evento é animar o espírito missionário da
pedir a federalização das investigações sobre o despejo Igreja e sensibilizar a sociedade brasileira no que se
violento de cerca de 4 mil famílias da ocupação Sonho refere à Amazônia. Pretende-se também: analisar
Real, próxima ao centro de Goiânia, que resultou na a situação atual da Amazônia, ou seja, os riscos,
morte de duas pessoas e mais de 30 feridos, em 16 de necessidades e oportunidades nos campos socio-
fevereiro. O deputado João Alfredo, relator da CPMI, econômico, político e religioso; realizar o rasgaste
fez o anúncio ao final da audiência pública que encer- histórico e identificar desafios e perspectivas de uma
rou a visita de uma comitiva de sete parlamentares renovada evangelização e definir encaminhamentos e
a Goiânia, no último dia 3 de março. Ele vai propor à compromissos. Mais informações: amazonia@cnbb.
Comissão que esta faça formalmente a solicitação à org.br ou pelo telefone: (61) 313-8300.
Procuradoria Geral da República. A Procuradora Geral
de Justiça de Goiás, Laura Maria Ferreira Bueno, Dourados (MS)
apontou os políticos como responsáveis pelo agrava- Fome é conseqüência da falta de terras
mento das tensões entre os ocupantes e proprietários,
na medida em que ajudaram a financiar a compra de A situação de confinamento dos indígenas Guarani-
VOLTA AO BRASIL

material de construção e acenaram com promessas Kaiowá em pequenos lotes de terra, no Mato Grosso
de fixação dos moradores no local. Representando do Sul, é apontada por antropólogos e historiadores
a Arquidiocese de Goiânia na audiência pública, frei que trabalham com este povo como sendo a causa
Marcos Sassatelli sugeriu a desapropriação da área principal do contexto de violência e de falta de recur-
do despejo para fins sociais. sos econômicos em que os índios estão inseridos.
Os suicídios, que tornaram este povo nacionalmente
Brasília (DF) conhecido na década de 1990, assim como os recen-
Referendo das armas tes casos de desnutrição, que já levaram pelo menos
cinco crianças à morte em 2005, estão diretamente
O futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral relacionados ao reduzido tamanho das terras que os
(TSE) do Brasil, Carlos Velloso, pediu ao presidente Guarani ocupam. Na terra indígena Dourados, onde
do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ao cor- estão concentrados os casos de mortes por desnutrição,
regedor da Câmara, Ciro Nogueira (PFL-PI), pressa vivem cerca de 11 mil indígenas em 3.500 hectares.
na regulamentação do referendo sobre a proibição do “Uma aldeia como Dourados não oferece nenhuma
comércio de armas no país. O deputado Raul Jungmann condição para a organização social indígena”, afirma
(PPS-PE), coordenador do Comitê Suprapartidário Antonio Brand, historiador que coordena o programa
pelo Desarmamento, conseguiu reunir mais de 150 Guarani-Kaiowá da Universidade Católica Dom Bosco,
assinaturas de líderes de oito partidos para garantir a em Campo Grande.
tramitação em regime de urgência do decreto legislativo
que irá regulamentar o referendo de 2 de outubro. O Roraima
referendo está previsto no Estatuto do Desarmamento, Indígena integrará Conselho Nacional
aprovado e sancionado em 2003, mas somente será
efetivado se o decreto legislativo for aprovado pelos Convidada e nomeada pelo presidente Lula, a
deputados - uma vez que o Senado Federal já apro- advogada do Conselho Indígena de Roraima, Joênia
vou a matéria. Segundo Velloso, a Justiça Eleitoral Wapichana, tomou posse, dia 10 de março, no Conselho
precisa de pelo menos quatro meses para preparar de Desenvolvimento
Jaime C. Patias

o referendo e o tribunal precisa da regulamentação, Econômico e Social da


em curso no Congresso, para definir as normas Presidência da Repúbli-
específicas da consulta popular. Em encontro com o ca (Cades). Trata-se de
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um Conselho integrado
um grupo de representantes da Igreja Católica, de por representantes de
igrejas protestantes e de organizações não-governa- banqueiros, empresá-
mentais denunciou que o lobby contrário à realização rios, intelectuais e de
do referendo recomeçou no Congresso. Um acordo várias organizações
entre o governo, a Conferência Nacional dos Bispos sociais,
 sindicatos e
do Brasil (CNBB) e o Conselho Nacional de Igrejas movimentos, onde se discutem problemas diversos,
Cristãs (Conic) anunciou a criação, em abril, do dia D entre eles os de integração social, de desenvolvimento
do desarmamento que deverá acontecer entre 17 e sustentável e distribuição de renda. A advogada do
21 de abril. Nesse dia, igrejas em todo o país deverão CIR recebeu o convite com surpresa, por se tratar
permanecer abertas para receber armas. de uma instância tão próxima da Presidência. Nesse
círculo de debates e de propostas de políticas públicas,
Mutirão pela Amazônia a doutora Joênia irá certamente defender a causa
indígena. 
Com o tema “Amazônia: desafios e perspectivas
para a missão” e o lema “Cristo aponta para a Amazô-
nia”, realiza-se de 9 a 11 de junho, na capital federal, Fontes: Adital, Cimi, CNBB, Desarme.org

30 Abril 2005 - Missões


Bem-aventurado padre Dehon
Profeta do amor Padre Dehon foi um apóstolo do Coração de Jesus
e verdadeiro profeta de seu tempo. Seu exemplo
de vida é agora reconhecido pela Igreja, que o
beatificará em 24 de abril.

F
undador da Congregação dos padres do Sagrado Coração

Divulgação
de Jesus, também conhecidos como dehonianos, Leão João as partes do mundo”, escreveu em seu
Dehon foi um homem comprometido com a Igreja e com o diário, já no fim de sua vida.
povo. Ele dizia que “o homem que quer transformar a socie- De fato, esse ideal de padre Dehon
dade não pode ter idéias tímidas”. E foi assim que viveu. Com foi colocado em prática quando a Con-
audácia evangélica e alicerçado numa profunda espiritualidade gregação que ele fundou tinha apenas
ao Sagrado Coração de Jesus, ele procurou transformar a sociedade, 10 anos. Em 1888, foram enviados os
através da construção da “civilização do amor”. primeiros missionários dehonianos para
“Padre Dehon soube fazer desse anseio de amor o impulso para evangelizar a América Latina, no Equa-
intensa e extensa atividade pastoral no campo social. Embora não se dor. Em 1893, chegaram os primeiros
pudesse exigir que ele previsse Puebla, sabe-se por seus escritos que ele dehonianos ao Brasil, em Pernambuco.
atribuía a situação catastrófica de sua época ao afastamento dos homens Em 1897, partiram os missionários
do amor de Cristo. E estava convencido de que a transformação social para a África, no Congo, e, em 1903, os primeiros dehonianos no sul
só se daria, plena e evangelicamente, se passasse pela conversão do do Brasil, em Santa Catarina. A partir daí, o fundador da Congregação
amor”, disse dele dom Paulo Evaristo Arns, na apresentação da edição do Sagrado Coração de Jesus continuou aceitando missões nos luga-
brasileira do livro “Por uma civilização do amor”. res mais difíceis e problemáticos e viajava constantemente para visitar
Nascido em La Capelle, França, em 14 de março de 1843, padre seus padres, conhecer a realidade da Igreja em cada local, estudar os
Dehon precisou lutar contra seus pais para tornar-se sacerdote. Inte- problemas sociais e elaborar novos projetos.
lectualmente era bem preparado, formado em Direito Civil e Canônico, Padre Dehon faleceu em 12 de agosto de 1925. Seu sonho, sua
Filosofia e Teologia. Denunciou as graves questões sociais de seu obra e sua espiritualidade continuam atualíssimos e ainda impulsionam
tempo, editou revistas, publicou artigos e livros, divulgou as encíclicas aqueles que seguem seu carisma. 
dos papas de sua época, especialmente, a Rerum novarum de Leão
XIII, abriu um colégio e fundou uma congregação. Tudo isso porque, Terêzia Dias
segundo ele, “se queremos que Cristo reine, é preciso que ninguém nos Redatora da revista IR ao POVO
leve a dianteira no amor ao povo”.
Contato
“Missionário, sou-o” Revista Ir ao Povo
De tudo o que fez na vida, as missões sempre foram a grande
Terêzia Dias
aspiração e objeto de especial atenção do padre Dehon. “O ideal de
Tel.: (11) 5587-4711
minha vida, o voto que formulava em lágrimas na minha juventude, era
E-mail: redacao@iraopovo.com.br
o de ser missionário e mártir. Parece-me que esse voto se cumpriu.
Missionário, sou-o com mais de 100 missionários que tenho em todos Mais informações: www.dehonianos.org.br


Desejo receber MISSÕES
por BOLETO BANCÁRIO

Novo/a leitor/a Renovação
por CHEQUE NOMINAL E CRUZADO

Colaboração anual R$ 35,00 Quantidade por DEPÓSITO BANCÁRIO pelo Banco Bradesco, agência 0545-2 c/c 38163-2.

Tabela de preços
01 assinatura R$ 35,00 A Revista Missões publica 10 edições no ano.
02 a 09 assinaturas R$ 25,00 cada assinatura Nos meses de Jan/Fev e Jul/Ago a edição é
10 ou mais assinaturas R$ 20,00 cada assinatura bimensal.

TELEFAX.: (11) 6256.8820 PREENCHA, RECORTE E ENVIE JÁ o cupom pelo correio.


Rua Dom Domingos de Silos, 110 - 02526-030 - São Paulo

Nome:.................................................................................................................................................
Endereço: ..........................................................................................................................................
Cidade: ............................................................................................ UF: ........................................
CEP: ................................................................................................ Telefone: .................................
E-mail: . .............................................................................................................................................
Luciney Martins

Tel.: 61-3227582
www.cimi.org.br

También podría gustarte