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3, 4 de Março de 2002
Pg.
Estudo do perfil epidemiológico da Síndrome Hemolítico-Urêmica
no estado de São Paulo, fevereiro de 1998 a agosto de 2000* 62
ESTUDOS
RESUMO
INTRODUÇÃO
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desenvolvem insuficiência renal crônica, requerendo em poucos anos procedimentos dialíticos ou
transplante renal (DDTHA, 2000; Robins et al., 1996).
Diversos estudos demonstraram que 90% dos casos de SHU nos países desenvolvidos
apresentaram evidências de infecção por Escherichia coli (E. coli) e outras STEC (Shiga Toxin-
producing E. coli) (DDTHA, 2000).
Segundo Robins et al. (1996) a SHU infantil é a mais bem caracterizada, pois até 75% dos
casos ocorrem em crianças com infecção intestinal por E. coli produtora de verotoxina.
A SHU é a principal complicação das infecções causadas pela E. coli, desenvolvendo-se
em torno de 2 a 7% dos casos. Os pacientes que desenvolvem SHU, apresentam taxa de
mortalidade de 3 a 10% ocorrendo complicações renais, cardíacas e neurológicas severas em
torno de 4 a 30% dos casos (Veronesi, 1996).
A infecção por E. coli tem sido registrada em mais de 30 países de seis continentes. A
Argentina, país exportador de carne para o Brasil, apresenta alta incidência de SHU, que é
considerada endêmica, registrando aproximadamente 250 casos novos por ano (DDTHA, 2000).
Sabe-se que apenas uma minoria de linhagens de E coli são patogênicas para o homem. A
E. coli entero-hemorrágica (EHEC) ou produtoras de verotoxina (VTEC) são responsáveis pela
doença conhecida como colite hemorrágica, que em casos mais graves pode progredir para a SHU
(Silveira & Silva, 1996).
A colite hemorrágica provocada pelas linhagens de E. coli O157:H7 se inicia com uma
diarréia sanguinolenta, com período de incubação variável, de 3 a 10 dias (Silveira & Silva, 1996),
sendo caracterizada por dores abdominais severas, vômitos ocasionais e geralmente sem febre
(Silveira & Silva, 1996; Griffin & Tauxe, 1991).
Os animais domésticos , especialmente os ruminantes, tem sido identificados como
reservatórios de STEC. O gado bovino é apontado como o reservatório principal. A transmissão se
realiza através do consumo de alimentos contaminados, principalmente elaborados com carne
moída e também leite não pasteurizado. A contaminação fecal da água e outros alimentos e a
contaminação cruzada durante a preparação dos alimentos são apontadas como importantes vias
de infecção. Como exemplos de alimentos associados a surtos de E. coli O157:H7 temos
hambúrguer, roast beef, leite cru, suco de maça não pasteurizado, iogurte, queijo, salsas
fermentadas, maionese, alface, e no Japão os vegetais da família dos rabanetes. A bactéria é
resistente aos ácidos e pode sobreviver nos alimentos fermentados e vegetais frescos (Diez-
Gonzalez & Gallaway, 1998; Ribeiro et al., 1999; DDTHA, 2000). A transmissão pessoa a pessoa
da Escherichia coli O157:H7 é comum em crianças em idade pré escolar, que freqüentam creches
(Belongia et al., 1998).
A SHU é uma condição ameaçadora da vida e portanto deve ser tratada com cuidado
intensivo (CVE/SES-SP, 1999). Em virtude disto, foi realizado um estudo a fim de conhecer a
ocorrência desta síndrome no estado de São Paulo, sua relação com a doença diarréica, o tipo de
patógeno envolvido e o alimento responsável.
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MÉTODO
Definição de Caso
RESULTADOS
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Dos 15 prontuários analisados com diagnóstico compatível de SHU, em 12 (80%) o quadro
foi precedido de diarréia. Cabe destacar que em apenas 60% desses prontuários havia histórico
sobre os hábitos alimentares. Contudo, não foi encontrada qualquer menção sobre possíveis
alimentos suspeitos ingeridos que pudessem ter causado a diarréia e posteriormente a SHU.
Dentre os pacientes com diarréia, nove (75%) apresentaram sangue nas fezes. A maior incidência
de SHU foi observada na faixa etária entre 0 a 3 anos (80%), conforme descrito em literatura.
Dentre os pacientes que tiveram diarréia, em seis foi realizada coprocultura (50%), sendo
isolada a E. coli em 33% destas. Em nenhum dos casos o agente foi sorotipado.
O quadro clínico dos pacientes exigiu procedimentos de diálise peritoneal em 73.3% dos
casos. Em nove (60%) dos pacientes ocorreram complicações: três apresentaram convulsões, um
convulsão e complicações respiratórias, um prolapso retal e quatro nefrite. Como sintomas mais
comuns foram observados vômitos (60%), febre (66,6%), hipertensão arterial (63,3% ) e dor
abdominal (40% ).
Observou-se que 13,3% dos pacientes desenvolveram Insuficiência Renal Crônica (IRC)
e 13,% dos pacientes foram a óbito.
CONCLUSÕES
Foram identificados 12 casos de SHU relacionados com diarréia, internados nos hospitais
do SUS no estado de São Paulo, no período de fevereiro de 1998 a agosto de 2000. A maioria dos
casos ocorreu em crianças com até 3 anos de idade.
Considerando-se que os pacientes alvo do estudo, quando internados apresentavam
sintomatologia de diarréia, podemos afirmar que o número de coproculturas realizadas foi
pequeno.
Não foi possível estabelecer a relação da SHU com a E. coli O 157:H7, uma vez que os
serviços hospitalares não procederam à classificação das E. coli.
No decorrer do trabalho, algumas instituições declararam-se incapazes de localizar os
prontuários somente com o número das respectivas AIHs, tornando-se necessário o levantamento
em outro banco de dados com acesso restrito, onde constava além do número do prontuário, os
dados do paciente. Tal processo acarretou uma grande demora no acesso aos prontuários.
Mesmo recorrendo à Vigilância Epidemiológica das Divisões Regionais de Saúde (DIRS),
uma parte das instituições não permitiu acesso, sendo necessário auxílio do Centro de Vigilância
Epidemiológica - CVE para a obtenção e análise dos prontuários.
A conduta de investigação, embora fácil, foi dificultada pela burocracia em algumas
instituições, impossibilitando que fossem investigados alguns dos prontuários identificados.
Embora a grande maioria das internações hospitalares, no estado de São Paulo, seja feita
por intermédio do SUS devemos considerar ainda aqueles pacientes internados através de planos
de saúde ou com recursos próprios em hospitais não conveniados ao SUS, o que nos leva a
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considerar que a população alvo do estudo não representa a totalidade do universo de internados.
Nenhum desses casos foi notificado ao CVE.
Durante a pesquisa em prontuários, foram verificados erros no preenchimento das AIHs
que, embora tivessem diagnósticos diferentes de SHU, estavam classificadas como CID D 59.3. A
coleta de dados, em uma significativa parte dos hospitais, foi bastante dificultada devido: a) à
caligrafia pouco legível nos prontuários; b) à deficiência no registro dos resultados de exames
complementares requisitados e c) à anamnese pouco explorada. Portanto, os hospitais devem
atentar para o melhor preenchimento das AIHs e os médicos para melhorar o preenchimento dos
prontuários.
Foi possível observar através da análise dos prontuários a extrema gravidade desta
doença e o perigo que oferece à saúde da população, além dos custos que representa e tipo de
recurso médico-hospitalar especializado que requer, seja na vigência do quadro agudo, seja
quando da ocorrência de seqüelas. Surtos descritos em outros países como Canadá, EUA, Japão
e Argentina demonstram que devem ser tomadas medidas para prevenir a ocorrência de novos
casos ou de surtos no Brasil. Neste sentido verifica-se a importância de medidas de prevenção
como a implantação do programa de Vigilância Ativa da SHU e dos patógenos a ela relacionados,
em andamento no estado de São Paulo, coordenado pela Divisão de Doenças de Transmissão
Hídrica e Alimentar - DDTHA/CVE, segundo acordo firmado com a Organização Pan-americana da
Saúde - OPAS.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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7. Robins et alii. Patologia Básica. São Paulo: Atheneu; 1996
8. Silveira, M. F. A; Silva, N. Ocorrência de Escherichia coli O157:H7 em alimentos. Colet. ITAL
1996; 26 (1): 25-31.
9. Silveira, M. F.A. ; Silva, N. Ocurrence of Escherichia coli O157:H7 in hamburguers produced in
Brazil. Journal of Food Protection 1999; 62(11): 1333-1335.
10. Soares, V.; Alves, M. A. R.; Barros, R. T. Glomerulopatias Patogenia Clínica Tratamento.
São Paulo: Sarvier; 1999.
COMENTANDO SURTOS
Em 05.01.2001 a DIR XII - Campinas notificou à Central CVE sete casos de diarréia
internados em um hospital da cidade de Americana. A refeição suspeita era o almoço de
02.01.2001 - semana epidemiológica 01 (SE 01) ingerido em um restaurante de uma rodovia entre
os municípios de Matão e Araraquara, no estado de São Paulo.
Este resumo, realizado a partir das informações fornecidas pela Central CVE, pela
Vigilância Epidemiológica da DIR XII - Campinas e relatório da Secretaria Municipal de Matão, tem
como objetivo divulgar os achados da investigação que relaciona o surto à Escherichia coli e outros
patógenos veiculados por alimentos contaminados. Também tem como objetivo comentar as
dificuldades e lacunas na investigação epidemiológica deste episódio, visando contribuir para o
aprimoramento do programa de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas por
Alimentos, hoje descentralizado para os municípios.
A DIR XII - Campinas, em 05.01.2001, informa que sete pessoas, quatro residentes em
Santa Bárbara do Oeste - SP e três em Americana - SP, foram internadas nos dias 3 e 4 de janeiro
de 2001, em um hospital da cidade de Americana, com febre, vômitos e diarréia. Relata como
refeição comum suspeita um almoço (carne, arroz, feijão e salpicão a base de maionese) ingerido
por todos os sete casos, no dia 02.01.2001, às 13:00hs, em um restaurante em posto de gasolina,
à beira de rodovia, entre os municípios de Matão e Araraquara, estado de São Paulo.
A partir da notificação da DIR XII – Campinas, a Central CVE acionou a Vigilância
Epidemiológica da DIR VII – Araraquara para que fossem desencadeadas as investigações no
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município de Matão, no restaurante envolvido, bem como, solicitou à DIR XII – Campinas maiores
detalhes referentes aos pacientes do surto em questão.
Com base nos dados enviados à Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar
– DDTHA, do CVE, pode-se verificar que três pacientes referem o início de sintomas no mesmo dia
de ingestão do almoço (02.01.01), três no dia seguinte (03.01.01) e um no dia (04.01.01), sendo
que cinco deles foram internados no dia 03.01.01 e dois no dia 04.01.01 (Figura 1 e Figura 2).
Número de 3
Casos 2
0
02/01/01 03/01/01 04/01/01
Dia do Início dos Sintomas
6
5
4
Número de
3
Casos
2
1
0
03/01/01 04/01/01
Dia da internação
Informa ainda a DIR que cada paciente permaneceu internado por um dia. Não há
informações sobre o número de comensais ou número de refeições servidas no restaurante no dia
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do episódio. Também não há informações se foi desencadeado rastreamento de outros possíveis
casos internados nos hospitais das regiões ao redor do restaurante.
Pelo sobrenome dos pacientes verifica-se que pertencem a duas famílias diferentes,
porém, não há informações se estavam juntas e se outras pessoas conhecidas participaram do
mesmo almoço, se ficaram ou não doentes e o que cada pessoa ingeriu ou não do cardápio
apresentado. A falta desses dados impede o cálculo de taxas de incidência da doença e da taxa de
ataque dos alimentos suspeitos.
Todos os pacientes internados, segundo as informações da DIR XII – Campinas
consumiram arroz, feijão, salpicão com maionese e carne, isto é, o cardápio oferecido pelo
restaurante naquele dia.
Também não há informações sobre a hora precisa de início dos sintomas de cada
paciente, podendo-se contudo deduzir, pelos dados hospitalares, os seguintes tempos prováveis
de incubação (Quadro 1):
Paciente 1 11 horas
Paciente 2 11 horas
Paciente 3 11 horas
Paciente 4 35 horas
Paciente 5 35 horas
Paciente 6 35 horas
Paciente 7 35 horas
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A distribuição dos casos internados por diarréia segundo a faixa etária foi a seguinte
(Tabela 1):
O patógeno comum isolado foi a E. coli, não havendo informações se as cepas foram
encaminhadas para o IAL – Central para a identificação de sorogrupos e antígenos. Também não
há informações se esses exames foram realizados pelo IAL da região ou pelo hospital de
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internação dos pacientes. Não há informações sobre as características da diarréia, se
sanguinolenta e outros aspectos.
Outros patógenos, associados ao surto como Klebsiella sp, Pseudomonas sp, Citrobacter
sp foram identificados.
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Cepas de E. coli que causam diarréia são classificadas em seis categorias: a)
enterohemorrágica; b) enterotoxigênica; c) enteroinvasiva; d) enteropatogênica; e) entero-
agregativa e f) difuso-aderente; dentre elas comentaremos a quatro primeiras principais
(Benenson, 1995):
As E. coli enterohemorrágicas (EHEC), dentre elas a E. coli O157:H7, têm como principal
reservatório o gado, sendo transmitidas pelas carnes mal passadas, águas, sucos e verduras
contaminadas por fezes de gado. Os humanos também podem ser reservatórios. O período
mediano de incubação pode variar de 3 a 4 dias. As diarréias podem ser sanguinolentas,
principalmente em crianças e a doença pode causar seqüelas graves como insuficiência renal, em
decorrência da Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU).
As E. coli enterotoxigênicas têm como principal reservatório os seres humanos, e um
período curto de incubação, de 10 a 12 horas, podendo ser transmitida por qualquer alimento
contaminado; produzem diarréia líquida, profusa, semelhante a da cólera. É conhecida como
diarréia dos viajantes, acometendo pessoas que viajam de áreas mais desenvolvidas para menos
desenvolvidas, ou com precárias condições de higiene ou de saneamento básico.
As cepas de E. coli enteroinvasivas, também tendo como reservatório o ser humano e um
curto período de incubação -10 a 18 horas - podem ser transmitidas por qualquer alimento
contaminado, produzindo diarréia líquida semelhante a da Shiguella.
As E. coli enteropatogênicas - o reservatório também são os seres humanos - com período
de incubação curto, de 9 a 12 horas, são transmitidas, principalmente, pelas mãos contaminadas
com fezes e são responsáveis em grande parte pelas diarréias na infância.
Os dados desse surto como o período mediano de incubação, o achado de E. coli em
todas as coproculturas, o tipo de alimentos como carne e verduras, chamam a atenção para se
pensar também em E. coli O157:H7 - uma grande perda para a vigilância epidemiológica não ter
providenciado as subtipagens nesta investigação.
Cabe relembrar aqui que os resultados de E. coli devem ser encaminhados para o IAL para
as devidas subtipagens.
Os resultados de E. coli também deveriam ter desencadeado uma investigação mais
rigorosa por parte da vigilância sanitária no restaurante, tanto nos procedimentos de preparo e
conservação dos alimentos, quanto sobre a procedência da carne (condições do abate), das frutas,
verduras e outros alimentos.
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febre, com um período de incubação de 12 a 24 horas após a ingestão de alimentos ou água
contaminada (FDA/CD/DA, 2002).
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b) As cepas isoladas de E. coli deveriam ter sido encaminhadas para o IAL - Central
para as devidas subtipagens. Se o resultado fosse E. coli O157:H7, investigações adicionais
deveriam ser feitas, principalmente, para se verificar a origem da carne, tipo de criação do gado
bovino e o levantamento de possíveis outros casos nas regiões.
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podem ajudar na complementação das investigações. Uma investigação bem sucedida leva a
tomada de medidas corretas.
Caso você queira acrescentar ou corrigir algum dado sobre este surto ou comentar algum
aspecto dele escreva para dvhidri@saude.sp.gov.br, indicando no e-mail, em Assunt o:
“Comentários para o REV NET DTA“.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BENENSON, A.S. (Editor). Control of Communicable Diseases Manual. 15º ed. Washington,
DC: An official report of the American Public Health Association,1995.
4. FDA/CDC/DA. Klebsiella and others. BAD BUG BOOK. In: http://www.fda.gov <Foodborne
Illness>, 2002
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NOTÍCIAS
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