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A nova normalização

brasileira sobre fibras de aço


Antonio Domingues de Figueiredo
Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP

Pedro Jorge Chama Neto


Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, SABESP

Hernando Macedo Faria


Grupo ArcelorMittal

Resumo com fibras em relação aos convencionais. Esta


norma não permite qualquer tipo de dano ao
componente reforçado com fibras, quando o
No ano de 2007 foram publicadas, mesmo é submetido à carga de fissuração pre-
quase que simultaneamente, as duas novas vista para o tubo convencionalmente armado,
normas focando o uso de fibras de aço para por exemplo. Por outro lado, essa norma é
concreto. Uma delas é a nova especificação de inovadora, pois possibilita a utilização de uma
fibras de aço, que foi publicada pela ABNT em inovação tecnológica mesmo sem a mesma ter
2007 juntamente com a revisão da norma NBR sido aplicada de maneira rotineira em obras
8890 - Tubo de concreto, de seção circular, correntes. Com estes dois documentos foi
para águas pluviais e esgotos sanitários, que dado um grande passo para o embasamento
já prevê o uso de fibra de aço como reforço da futura normalização brasileira para o con-
de tubos. Ambas as normas trazem algum creto reforçado com fibras de aço, sendo que
paralelo com a recente normalização inter- ainda falta muito por fazer.
nacional, como também algumas inovações
técnicas interessantes. Para a especificação de
fibras de aço, a principal delas é a nova clas- 1. Introdução
sificação das mesmas segundo uma tipologia

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baseada no formato básico e o tipo de aço
que lhe deu origem. Esta classificação permi- A utilização do concreto reforçado
tiu também definir parâmetros de tolerância com fibras de aço ocorre no Brasil há vários
dimensional e de resistência do aço usado anos. As aplicações são bem variadas, indo da
na produção da fibra, possibilitando uma utilização em concreto projetado para túneis
garantia de comportamento mínimo, mas não (FIGUEIREDO, 1997), passando pelo concreto
de desempenho, pois isso depende de outros para pavimentos (MORAES; CARNIO; PINTO
fatores como teor e resistência da matriz de Jr., 1998) e chegando mais recentemente
concreto. Com isso, possibilita-se uma ordena- ao concreto pré-moldado como ocorre com
ção do mercado para a produção do material. os tubos de água pluvial e esgoto (CHAMA
Já a nova especificação de tubos de concreto NETO e FIGUEIREDO, 2003). No entanto,
contempla algumas mudanças no principal estas aplicações ocorriam até o ano passado
modo de qualificação dos tubos com fibras, sem que se dispusesse de norma nacional pu-
onde o procedimento de ensaio consiste numa blicada sobre o assunto. Ou seja, a produção
rotina de carregamento, descarregamento e de fibras não precisava atender a qualquer
re-carregamento do tubo, de maneira a pos- requisito e o controle de aplicação do ma-
sibilitar a verificação da sua capacidade resis- terial era praticamente inexistente por falta
tente pós-fissuração. A nova norma de tubos de referências. Algumas aplicações, como é
é conservadora, por um lado, por apresentar o caso dos tubos de concreto para obras de
maiores exigências para os tubos reforçados saneamento, têm sua aplicação fortemente

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restringida por referências normativas, dado proposição de uma classificação para as fibras
que as obras são, normalmente, financiadas de aço, correlacionando-a aos requisitos e to-
e geridas por verbas públicas. Naturalmente, lerâncias específicas do material. São previstos
esta situação expunha o mercado a riscos de na norma três tipos básicos de fibras em função
insucesso causados pela falta de parâmetros de sua conformação geométrica:
mínimos que servissem de referência para Tipo A: fibra de aço com ancoragens
balizar a especificação, seleção e controle nas extremidades
do material. Esta situação mudou em 2007, Tipo C: fibra de aço corrugada
quando a ABNT publicou as primeiras nor- Tipo R: fibra de aço reta
mas sobre o assunto. Assim, este trabalho A Tabela 1 apresenta esquematicamente
tem como objetivo apresentar as principais a configuração geométrica dos referidos tipos
contribuições que estas normas trazem para de fibras previstos pela norma, bem como suas
o mercado nacional. respectivas classes. Existem três classes previstas
as para fibras de aço segundo a norma (Tabela
1), as quais foram definidas segundo o aço que
2. A especificação brasileira deu origem às mesmas:
da fibra de aço para concreto Classe I: fibra oriunda de arame trefilado
a frio
Classe II: fibra oriunda de chapa laminada
A norma NBR 15530:07 sobre fibras de cortada a frio
aço intitula-se “Fibras de aço para concreto – Classe III: fibra oriunda de arame trefilado
Especificação”. Ela estabelece parâmetros de e escarificado
classificação para as fibras de aço de baixo teor Esta classificação, além de definir o
de carbono e define os requisitos mínimos de tipo de aço utilizado na produção da fibra,
forma geométrica, tolerâncias dimensionais irá determinar também a forma da seção
defeitos de fabricação, resistência à tração e transversal, o que proporcionará condições
dobramento. Com isso, procura-se garantir que de definir os requisitos geométricos finais da
o produto fornecido em conformidade com mesma em conjunto com o nível de resistên-
estes requisitos tenha potencial para propor- cia mínima do aço. Apesar dessa classificação
cionar um desempenho adequado ao concreto não tipificar as fibras em função do desem-
reforçado com fibras de aço (CRFA), desde que penho, seja quanto à trabalhabilidade ou
sejam observados os cuidados com a dosagem mesmo quanto à tenacidade, ao adotar esta
e controle do material. A norma se atém ao classificação possibilita estabelecer requisitos
produto fibra, sem regular a verificação de de- mínimos que poderão ser correlacionados
sempenho da mesma no concreto possibilitan- com o desempenho final do CRFA. Procurou-
do uma garantia de comportamento mínimo, se também cobrir a maioria, se não a totali-
mas não de desempenho, pois isso depende dade, das fibras de aço disponibilizadas no
de outros fatores como consumo de fibras e mercado brasileiro.
a resistência da matriz. Isso ocorre porque o
concreto reforçado com fibras de aço (CRFA) 2.2. REQUISITOS E TOLERÂNCIAS
tem seu desempenho dependente da interação PARA AS FIBRAS DE AÇO
entre fibra e matriz (FIGUEIREDO, 2005). Ou
seja, não é possível garantir o bom desempenho Na elaboração da norma NBR
de um CRFA apenas usando-se uma fibra de boa 15.530:07, procurou-se regular dois fatores
qualidade, mas verificando como a mesma foi primordiais: a geometria da fibra e a resis-
corretamente especificada, dosada e o controle tência do aço que lhe deu origem (Tabela 2).
do material feito segundo o recomendado pela Isso advém do fato da geometria da fibra ser
boa técnica. Assim, deve-se ressaltar que o uso um dos principais aspectos definidores do
de uma fibra que atenda a norma não garantirá desempenho do material no CRFA (FIGUEI-
o desempenho final no CRFA. A seguir serão REDO, CECCATO, TORNERI, 1997 e NUNES,
discutidos alguns dos aspectos mais relevantes 1998). Um dos principais fatores relacionados
da norma. à geometria da fibra, que influencia direta-
mente o seu desempenho, é o fator de forma
2.1. CLASSIFICAÇÃO DAS FIBRAS DE AÇO da fibra. Um exemplo da influência do fator
de forma no desempenho do concreto refor-
A principal contribuição dessa norma, çado com fibras é o apresentado na Figura
inclusive do ponto de vista internacional, é a 1. Neste caso, o concreto projetado teve sua

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tenacidade fortemente afetada pelo fator de menor resistência (500MPa) apresentou
de forma de fibra utilizada. Quanto maior o menor nível de tenacidade em relação ao que
fator de forma, maior foi a tenacidade me- foi reforçado com fibra de maior resistência
dida (FIGUEIREDO, 1997). O fator de forma (1000MPa). Isso é particularmente significa-
foi definido pela norma como a relação entre tivo para concretos de maior resistência me-
o comprimento e o diâmetro equivalente da cânica, ou em casos que pode haver grande
fibra. Esse diâmetro equivalente é definido transferência de tensões para a fibra oriundas
como aquele correspondente a uma circun- da matriz quando essa se rompe. Esse é o caso
ferência de mesma área que a seção trans- do reforço de tubos de concreto para águas
versal da fibra. Por isso, a norma também pluviais e esgoto, como será tratado adiante.
prescreve as tolerâncias dimensionais para o A definição da resistência mínima do aço que
comprimento da fibra, bem como para seu deu origem à fibra ocorre em função da classe
diâmetro equivalente. Com isso, tem-se uma da fibra analisada. Na Tabela 2 se encontram
garantia de desempenho mínimo e redução apresentados o nível de resistência mínima do
da variabilidade de seu comportamento. A aço em função da classe da fibra. Constata-se
norma prevê que a verificação das dimensões que a norma estabelece diferentes níveis de
deve ser executada para cada lote em uma resistência em função do tipo e, principalmen-
amostra de 60 fibras coletadas de, no míni- te, da classe de fibra avaliada. Isto configura
mo, 10% das embalagens que compõem o uma evolução em relação à normalização
referido lote. Os valores individuais medidos internacional, como da ASTM A820, onde o
devem atender às tolerâncias estabelecidas nível de resistência mínimo especificado é de
na norma em, no mínimo, 90% das fibras 345MPa, independentemente do tipo de fibra
ensaiadas. A definição do lote pela norma de aço avaliado. No Brasil, a menor resistên-
considera que o mesmo corresponde a uma cia prevista para o aço da fibra será 500MPa,
quantidade máxima de quatro toneladas de ou seja, um nível superior ao requerido para
fibra ou o correspondente a cada remessa, fibras no EUA.
caso seja inferior a esta quantidade. Além da resistência à tração do aço e
Outro fator relevante na definição do da variação dimensional máxima, a norma
desempenho da fibra no CRFA é a resistência NBR 15.530:07 também prevê o controle de
do aço utilizado na sua produção (CHAMA outras duas características: a resistência ao
NETO; FIGUEIREDO, 2003 e FIGUEIREDO, dobramento através de ensaio preconizado
2005). A influência deste fator também pode pela própria norma e a verificação dos de-
ser comprovada a partir dos resultados apre- feitos como cortes na região da ancoragem.
sentados na Figura 1, onde duas fibras com Para a aceitação de um lote, avaliado a partir
fator de forma muito próximos a 46 têm de- de uma amostra mínima (Tabela 3), o mesmo
sempenho muito distinto em função da resis- deve se mostrar em conformidade com todas
tência do aço. O concreto com a fibra de aço as exigências estabelecidas para a resistência

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ao dobramento, de variação dimensional identificação específica, indicando claramente
e atendendo aos limites impostos para a o uso das fibras de aço, não podendo ser uti-
quantidade de fibras defeituosas, conforme lizados no lugar de tubos convencionalmente
as tolerâncias apresentadas na Tabela 3. Se armados sem prévia qualificação específica.
algum lote não atender aos requisitos, está Cabe ressaltar que depõe fortemente contra
prevista a realização de um novo plano de a boa prática construtiva utilizar tubos de
ensaios no respectivo quesito, sendo que concreto sem prévia qualificação do compo-
deve ser utilizada uma amostra com o dobro nente através do emprego de um sistema de
do tamanho da anterior. Caso o resultado controle de qualidade de aceitação, seja ele
negativo se confirme o lote deverá ser então convencionalmente armado ou reforçado com
definitivamente rejeitado. Assim, se uma fibras de aço. A norma define também todo
fibra for aprovada segundo este critério, a um plano de controle dos tubos que chegam

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probabilidade da mesma proporcionar um à obra, onde devem ser verificadas as tolerân-
reforço adequado é muito maior. cias dimensionais, a existência de defeitos e,
fundamentalmente, a resistência dos mesmos.
Esta resistência é medida através do ensaio
3. A especificação brasileira para os tubos de compressão diametral com procedimento
de concreto reforçados com fibras de aço específico para o caso da fibra (FIGUEIREDO
et al. 2007; FIGUEIREDO e CHAMA NETO,
2007). Os tubos reforçados com fibras seguem,
No ano de 2007, houve uma revisão segundo a norma, a mesma classificação
da antiga norma NBR 8890 de 2003. Durante adotada para os tubos de concreto armado
esta revisão, a comissão de estudos realizou convencional. Esta classificação é feita, basi-
uma série de atualizações e, entre elas, a in- camente, pela carga de fissura, no caso dos
corporação da possibilidade de utilização de tubos armados, ou carga mínima isenta de
fibras de aço como reforço dos tubos. A nova dano, para o caso dos tubos reforçados com
norma (NBR 8890:07) define que os tubos pro- fibras de aço. Estas cargas são determinadas
duzidos com o reforço de fibras de aço sejam no ensaio de compressão diametral que, para
considerados como tubos armados, podendo o caso do reforço com fibras de aço, segue
ser utilizados nas mesmas condições que um procedimento específico e diferente do
aqueles armados com vergalhões e telas de tradicional, o que será mais bem discutido
aço. No entanto, estes tubos devem receber no próximo item.

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3.1. ENSAIO DE COMPRESSÃO DIAMETRAL No ensaio para tubo convencional-
mente armado, submete-se o componente a
O ensaio de compressão diametral de um carregamento contínuo até a sua ruptura
tubos reforçados com fibras de aço é similar e não se exige nada além da determinação
ao utilizado para qualificação de tubos re- da carga de fissura e da carga de ruptura. A
forçados convencionalmente (FIGUEIREDO carga de fissura é definida como a carga ne-
et al., 2007). Consiste no apoio do tubo em cessária para o tubo apresentar uma fissura
cutelos de madeira inferiores e o carrega- com abertura de 0,25 mm e comprimento de
mento do componente a partir de um cutelo 300 mm ou mais, sendo a abertura da fissura
superior articulado, conforme se observa na medida através de uma lâmina padrão feita
Figura 2. em chapa de aço de 0,2 mm de espessura e

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largura de 12,7 mm, afinada na ponta para passe por essa exigência, deve-se prosseguir
1,6 mm. Considera-se que a fissura atingiu o carregamento até que se atinja a sua carga
0,25 mm de abertura quando a ponta da máxima, sendo esta registrada imediatamen-
lâmina padrão penetrar sem dificuldade te como sua carga de ruptura. Com a conti-
1,6 mm em alguns pontos distribuídos na nuidade do carregamento, a carga irá decair
distância de 300 mm. A carga de ruptura é e, quando atingir o valor equivalente a 95%
a máxima obtida durante a realização do da carga máxima registrada, deve-se retirar
ensaio. Esse é um ensaio que possui muitas totalmente o carregamento do tubo. Nesse
limitações, pois a precisão da determinação momento, o tubo, já fissurado, deverá ser
da carga de fissura é muito dependente recarregado até a carga de fissura do tubo
da acuidade/habilidade do operador. Já, o convencional, a qual deverá ser mantida por
ensaio especificado para qualificar os tubos mais um minuto. Nesse momento, deve-se
com fibras de aço consiste num procedimento verificar se o tubo apresenta capacidade de

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onde, inicialmente, o componente é carrega- suporte residual pós-fissuração para a carga
do de forma contínua até atingir uma carga mantida nesta situação. Caso o tubo não
equivalente a dois terços da carga de ruptura consiga atingir ou manter a carga de fissura
especificada para a sua classe, ou seja, um no recarregamento, o mesmo deve ser rejei-
valor equivalente à carga de fissura do tubo tado. No caso do tubo suportar este esforço
convencional. Este nível de carregamento aplicado por um minuto, a norma pede que
deve ser mantido por um minuto e, nesta se dê continuidade ao carregamento do tubo
situação, o tubo reforçado com fibras de aço medindo-se a carga máxima atingida nesta
não poderá apresentar qualquer dano oriun- etapa de carregamento pós-fissuração, a
do deste carregamento. Por essa razão, essa qual não deve ser inferior a 105% da carga
carga foi denominada na norma NBR 8890:07 mínima isenta de dano. Esta exigência é algo
como carga mínima isenta de dano e guarda que só aparece na norma brasileira, pois a
uma perfeita correspondência à carga de norma européia (NBN EM 1916) considera
fissura especificada para os tubos convencio- o ensaio encerrado quando o tubo suporta
nalmente armados. Assim, exige-se do tubo a referida carga por um minuto durante o
reforçado com fibras de aço um desempenho recarregamento. Um diagrama ilustrativo
superior ao convencional, dado que o mes- do sistema de carregamento previsto para
mo não pode apresentar qualquer dano sob o ensaio de compressão diametral de tubos
um carregamento capaz de fissurar um tubo de concreto reforçados com fibras de aço se
convencional. Caso o tubo com fibras de aço encontra apresentado na Figura 3. Apesar

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das diferenças no procedimento de ensaio, na Figura 4, através da curva de carga por
estudos anteriores (FIGUEIREDO et al, 2007) deformação diametral obtida como resul-
comprovaram que isso não implica numa res- tado do ensaio de compressão diametral.
posta diferente do componente, podendo-se Percebe-se, nitidamente, que o tubo atende
até comparar os resultados. ao requisito da carga mínima isenta de dano
Vale enfatizar que a proporção de dois no trecho linear inicial da curva, onde o
terços entre a carga mínima isenta de dano e concreto responde pelo comportamento do
a carga de ruptura é a mesma adotada pela material. Depois de atingida a carga de pico
norma brasileira para a relação entre carga ocorre o descarregamento do componente
de fissura e de ruptura para os tubos de con- e, no recarregamento, o ganho de carga
creto com fibras de aço e com armadura con- não ocorre com o mesmo nível de rigidez do
vencional, respectivamente. Assim, a norma trecho inicial, ou seja, é uma quase reta mais
prevê que, para a carga de classificação dos abatida que a primeira.
tubos seja a mesma, mas, para aqueles que
forem reforçados com fibras de aço, os tu- 3.2. DEMAIS EXIGÊNCIAS
bos não poderão apresentar qualquer dano,
enquanto os convencionalmente armados Na nova norma existem outras exi-
poderão apresentar fissuras com aberturas gências ligadas à utilização de fibras de aço
de até 0,25 mm. Ou seja, a norma acabou como reforço dos tubos. Entre elas, merece
sendo bem mais rigorosa para com os tubos destaque o fato de haver uma restrição
reforçados com fibras, o que não deixa de quanto ao tipo de fibra a ser utilizado no
ser interessante pelo fato de se estar intro- reforço estrutural dos tubos. A norma exige
duzindo uma nova tecnologia no mercado, que essas devem ser de aço trefilado, com
o que demanda cautela. Apesar de se prever resistência mínima do aço de 1000MPa,
uma maior durabilidade para os tubos de com ancoragem em gancho e fator de for-
concretos com fibras de aço do que para os ma mínimo de 40. Ou seja, exige que seja
convencionalmente armados, devido ao fato uma fibra A I, conforme o preconizado pela
das fibras de aço serem mais resistentes à norma NBR 15.530:07. Isso demonstra uma
corrosão eletrolítica, essa postura conserva- perfeita concatenação entre as normas e há
dora da norma irá cooperar para uma maior uma clara justificativa para isso: a utilização
durabilidade dos sistemas executados com de uma fibra A I garante uma capacidade
essa nova tecnologia. de reforço mínimo para o tubo dado que a
Um exemplo de tubo de concreto re- resistência da fibra tem papel preponderante
forçado com fibras de aço em conformidade neste comportamento. Já foi comprovado em
com os requisitos da norma está apresentado estudos anteriores (CHAMA NETO, FIGUEIRE-

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DO, 2003) que fibras A I apresentam muito inovação, pois a mesma foi publicada antes
melhor condição de reforço para tubos do mesmo de se ter uma aplicação regular do
que fibras A II que possuem resistência à produto. Essa situação peculiar ocorreu pelo
tração mais baixa. O fator de forma mínimo fato da operação de compra de tubos de
requisitado pela norma é 40 sendo que, no concreto ser realizada, principalmente, por
mercado, facilmente se encontram fibras parte de órgãos governamentais, que devem
com fator de forma superior a 60 e algumas lançar mão de um edital de licitação. Com
delas atingem até 80. Quanto maior o fator isso, apenas tubos regularmente normaliza-
de forma, maior será a capacidade de reforço dos são passíveis de serem comprados. Por
das fibras, se as mesmas foram produzidas outro lado, o fato de não se ter ainda uma
com aço trefilado de alta resistência (FI- aplicação em larga escala, fez com que a
GUEIREDO, 2005). Além do comportamento norma apresentasse uma postura que pode
mecânico adequado, os tubos produzidos ser considerada conservadora. Isso porque
com fibras deverão também atender a todos o uso do concreto com fibras de aço estará
os requisitos estabelecidos para o concreto restrito a tubos com diâmetro nominal igual
como os de permeabilidade, estanqueidade, ou inferior a um metro, por exemplo. Isso foi
absorção e de tolerância dimensional. adotado no sentido de se minimizar riscos
de aplicação, neste primeiro momento de
utilização, os quais são maiores para as redes
4. Comentários finais coletoras de maiores dimensões. Além disso,
a norma foi bem mais exigente para os tubos
de concreto com fibras, os quais devem su-
A nova especificação de fibras de aço portar a carga de fissura do tubo convencio-
para concreto que foi produzida pela ABNT nalmente armado sem apresentar qualquer
pode ser considerada um marco da tecno- tipo de dano. Isso, além de estar a favor da
logia do CRFA no Brasil. Ela traz avanços segurança do ponto de vista de estabilidade
tecnológicos incorporados, como o nível do sistema de coleta de esgoto, também é
de exigência elevado para a resistência extremamente conservador do ponto de
do aço, o que é perfeitamente compatível vista de durabilidade por minimizar o risco
com a condição de produção de fibras hoje de fissuração do concreto reforçado com
instalada no país. Além disso, os requisitos um material menos susceptível à corrosão
especificados, além de atenderem à condição eletrolítica. Assim, espera-se que a vida útil
nacional, podem ser considerados em con- dos tubos de concreto reforçado com fibras
formidade com o mercado externo, ou seja, seja ainda maior que o alcançado para os
uma fibra produzida no Brasil e que atenda tubos convencionais. Vale ressaltar também
aos requisitos desta especificação, estará em que a norma introduziu algumas novidades,
condições de ser aceita em qualquer mercado mesmo para a normalização internacional,

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internacional. No entanto, a recíproca não como a necessidade de se controlar a carga
é verdadeira. Outro aspecto importante é o máxima pós-fissuração, o que poderá ser
fato dessa norma ser a base para a futura utilizado em condições práticas para a oti-
normalização do CRFA, como já ocorreu com mização do teor de fibra de aço para cada
os tubos de concreto. Ela não é suficiente condição de produção. Aliás, a mesma só se
para parametrizar o uso do CRFA em todas viabilizou pelo fato de qualificar os tubos
as suas diversas aplicações, como pavimentos de CRFA como componentes que podem
e concreto projetado. No entanto, esse é um ser caracterizados no ensaio de compressão
passo importante para o desenvolvimento diametral diretamente, não dependendo
técnico do mercado no futuro. da qualificação de suas matérias primas ou
A nova norma de tubos de concreto mesmo do CRFA. Assim, o tubo só poderá ser
para água pluvial e esgoto pode ser consi- utilizado se previamente qualificado.
derada uma das grandes conquistas brasi- Um próximo passo imediato deverá ser
leiras nesta área da tecnologia do concreto a certificação das fibras de aço e de tubos de
com fibras. Afinal, essa é a primeira norma alguns produtores nacionais, dado que isso já é
brasileira a regular a aplicação do material possível a partir da publicação destas normas. A
CRFA, tendo sido desenvolvida de maneira certificação irá conferir uma maior penetração
concomitante à norma de especificação da no mercado para os fabricantes; para o usuário,
fibra de aço para reforço do concreto. Pode- uma maior segurança na utilização tanto das
se apontar essa norma como uma grande fibras como dos próprios tubos de concreto.

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