Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
(Parte II)
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição. (Art. 1º, parágrafo único, Constituição Federal)”
No artigo anterior, vimos que a Constituição Federal não deixa dúvidas a respeito
de “a quem pertence o Poder Constituinte”: à Nação Brasileira. Vimos também que, como
corolário desta assertiva inicial, ao STF, cabe, estritamente, ser o guardião dos princípios e
preceitos fundamentais que ela, a Nação, definiu no texto constitucional, sem ir além, aquém
ou fora dos parâmetros valorativos estabelecidos. Salientamos, mais, que o STF, ao decidir
sobre questões que envolvem o complexo ideário moral e sociocultural da denominada
consciência nacional, os seus mores maiorum civitatis (o bem, o belo e a verdade da sociedade,
em termos comportamentais), não pode fazê-lo com implicações de ordem legiferante e
mutacional ou de construção e desconstrução “legislativa”, sob pena de estar incorrendo no
gravíssimo e ilegítimo fenômeno sociológico da judicialização do Poder Constituinte
Originário.
Avançando um pouco mais sobre essa temática – por certo, como já asseveramos,
motivada pelas questões de ordem moral e ética que tem sido objeto de ADI’s e, agora, no
caso da união homossexual, por ADPF – gostaríamos de destacar uma outra tese que,
claramente e de modo inequívoco (embora não unívoco, por parte dos constitucionalistas),
infere-se do parágrafo único do art. 1º da Constituição, epigrafado acima. Observe que o texto
do dispositivo constitucional em comento, além de reconhecer e positivar, categoricamente,
como demonstramos, que o Poder Constituinte Originário é do Povo (realidade espacial e
temporal da Nação), assevera, também, que a forma de consecução, isto é, de exercício e
realização deste poder de constituir, dá-se, taxativamente, de dois modos: primeiro, de forma
indireta, através dos representantes eleitos e, a segunda, de forma direta, pelo próprio Povo,
nos termos da Constituição, isto é, quando o Povo, diretamente, através de Voto, Referendo,
Plebiscito ou Iniciativa Popular (formas de democracia participativa, expressas na soberania
popular, conforme estabelece o art. 14 da Constituição Federal), põe em prática, na ordem já
constituída, o seu Poder. O grande problema científico-investigativo a ser lançado aqui é: e
quem dá, então, legitimidade para que o Poder Judiciário diga o que é direito, ou não, na
decisão dos casos concretos que a ele se achegam para julgamento? Esta é, sem sombra de
dúvidas, uma hard question.
Certamente, ao ler tais assertivas, alguns poderiam objetar esta tese citando a
(anti)tese – e ao nosso sentir, uma tese anarquista e antidemocrática – de Peter Häberle que
em “Hermenêutica Constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da Constituição” (1975)
chega a assentir que até mesmo um único cidadão está potencialmente autorizado e apto a
oferecer alternativas para a interpretação constitucional mesmo que tais alternativas se
coloquem de modo contrário ao entendimento do ideário moral da maioria da sociedade. A
idéia é: a sociedade (e aqui se leia, no mesmo grau de importância: um só cidadão, um só
grupo ou a sociedade como um todo) é aberta e livre para interpretar, sem a necessidade da
observância da ratio legis, da ocasio legis e da mens legis do momento histórico solene da
Assembléia Nacional Constituinte. Isso é o que denominamos de o Carpe Diem da
Hermenêutica Constitucional. Totalmente anárquico e antidemocrático.
Fazer de modo diferente, isto é, tentando ser o STF e o Poder Judiciário como um
todo, o órgão legiferante par excellence do Estado Brasileiro, construindo teses destruidoras
dos valores fundamentais que o Povo estabeleceu em Assembléia Nacional Constituinte, sem a
devida consulta – seja por Referendo, seja por Plebiscito, seja por Iniciativa Popular, seja por
nova Assembléia Nacional Constituinte – é antidemocrático, ilegítimo e inconstitucional,
porque o STF não pode dispor sobre o Poder que sobre ele dispõe: o Poder Constituinte
Originário, o Poder do Povo.