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julho de 2005
Introdução
A terra ainda hoje abriga quase um terço da humanidade [2] e em paises asiáticos,
africanos e do oriente médio existem ainda muitíssimas urbes construídas quase que
inteiramente com esse material. Inúmeras cidades do interior do Iran são um verdadeiro
tributo à terra crua como material de construção (Figura 3).
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Figura 3 – Vistas das cidades de Yazd e de Bam, Iran, construídas em terra.
No Brasil, muitas construções com terra foram feitas antes do aparecimento dos
materiais industrializados, e representam ainda um notável patrimônio, sobretudo em
cidades no que tiveram seu apogeu nos tempos coloniais como Mariana, Ouro Preto e
tantas outras (Figura 4).
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Figura 5 – Incentivo ao consumo dos materiais de construção industrializados
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tradicionais. No entanto, eles apresentam certas características que merecem ser citadas e
analisadas para dar motivos à meditação.
O teor de gás carbônico na atmosfera tem crescido fortemente nas ultimas décadas,
por conta da industrialização exagerada que tem tido lugar no Planeta. O CO2 é um dos
principais causadores do aumento do efeito estufa, que simplificadamente é mostrado na
Figura 8. Em atmosfera com baixo teor de CO2 grande parte da radiação infravermelha
que a Terra recebe do sol é refletida de volta ao Cosmos. Numa atmosfera com muito gás
carbônico, parte dessa radiação é refletida de volta a Terra. No meio rural, longe de
industrias, a percentagem de CO2 não passa de 0,1-0,2 %. Nos grandes centros urbanos ela
pode chegar até a mais de 1%. Em termos globais o que se esta verificando é o
aquecimento gradativo do Planeta (Figura 9 ) diretamente ligado ao aumento da
concentração de CO2 na atmosfera terrestre. A continuar neste ritmo, corre-se o risco de as
geleiras nos pólos se fundirem. O nível do mar pode aumentar ate cerca de 80m (Figura 10)
pondo em risco as populações costeiras e gerando um total desequilíbrio natural. Note-se
que o fenômeno já começou. Neves eternas nos Alpes, por exemplo, tem perdido massa ao
longo dos últimos anos. O mesmo pode ser dito das imensas geleiras da Antártida. A flora e
a fauna marinha já estão sentindo o efeito. Destruição de corais por conta do aumento ainda
que leve da temperatura da água do mar já tem sido percebida. É, pois, imperativo que o
processo de emissão de CO 2 seja controlado! Tudo que se puder fazer para minimizar este
fenômeno será benéfico para o futuro da humanidade.
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Figura 8 - O efeito estufa (de [4])
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O aquecimento da atmosfera esta aumentando os desequilíbrios climáticos cujas
conseqüências são cada vez mais danosas (Figura 11), tendo em vista o aumento de
população do mundo, sobretudo a mais pobre. Fenômenos naturais como chuvas fortes,
inundações, ventos intensos, variações de temperatura, têm aumentado a freqüência e a
intensidade. Temperaturas recordes atingiram a Europa no verão de 2002, matando
centenas de idosos não habituados a tais níveis de temperatura. Em 2004, em Fortaleza,
caiu uma chuva (mais de 200 mm em um dia) cujo tempo de recorrência seria de 250 anos!
Também em 2004 um ciclone atingiu as costas de Santa Catarina, fenômeno nunca antes
observado!
Consumo de energia
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Compare-se agora estes níveis de energia com aqueles exigidos para uma
construção de tijolos de barro cru, sem cozimento, tão usado pelas civilizações egípcias e
mesmo no Brasil colonial, ou com os de uma construção feita com colmos de bambu (Figura
13), ofertados pela própria Natureza, cuja energia para sua produção foi unicamente a
fornecida do astro rei!
Geração de resíduos
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destruindo o pouco que possuem. O entulho permite a proliferação de ratos e insetos
danosos ao Homem, aumentando a incidência de inúmeros tipos de doenças que afetam
principalmente as populações pobres, aumentado-lhes o drama da sobrevivência.
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Figura 16 – Problemas gerados pelo uso da vegetação local como combustível
em indústrias cerâmicas no Nordeste Brasileiro
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Custo elevado
Muitos dos materiais industrializados são hoje em dia fabricados por cartéis
globalizados que combinam, impõem e aumentam continuamente preços aos consumidores.
Assim, as industrias do cimento, do aço, do aluminio, das tintas, adotam mecanismos que
conduzam ao lucro maximo, pouco importando se considerável parcela da população local
não pode adquiri-los. Os precos nem sempre estão ligados ao custo, mas sim a quanto de
lucro podem gerar. Assim, as fábricas preferem vender menos a maior preço que vender
mais a menor preço, indiferentemente ao meio onde estão inseridas. Contrariamente,
pequenos produtores de materiais de construção locais não conseguem repassar muitas
vezes sequer seus custos de produção aos preços! Está-se, pois, em um sistema tentacular
que suga injustamente o fruto do trabalho das pessoas e contribui para a absurda
transferência de renda da maioria da população para os gigantescos grupos industriais e
financeiros, sob os quais nem os governos centrais têm mais controle. São eles que ditam
as regras, iludindo perversamente as populações com a manipulada idéia de liberdade de
mercado.
Veja-se o caso do aço: em sete meses subiu 75% para uma inflação inferior a 5%!
(Figura 18). Assim, não é de admirar que as mega-empresas, através de seus lucros
fabulosos que desafiam à imaginação, apropriem-se da renda mundial, concentrando-a, e
alijando, cada vez mais, numerosa parcela da humanidade do acesso a seus produtos!
Pouco importa, enquanto houver quem pague preços exorbitantes!
Tudo isto traz como conseqüência a crescente favelizacao das cidades (Figura 19),
sobretudo nos hoje hipocritamente chamados países emergentes, para esconder sua real
condição de sub-desenvolvidos, alguns deles condenados eternamente a esta condição.
Como os materiais de construção industrializados custam caro, as populações excluidas por
um sistema econômico que favorece alguns em detrimentos da imensa maioria procuram
se abrigar de qualquer forma, como se vê na Figura 20. Essas más condições de habitação
e falta de infraestrutura básica conduzem a gravíssimos problemas de saúde pública. A
OMS calcula que na América Latina há 24 milhões de infectados com a doença de Chagas,
provocada pelo protozoário Tripanosoma Cruzi , mal que se transmite pelo sangue causa
lesões cardíacas e cujo vetor é o inseto conhecido como Barbeiro, no Brasil Vinchuca, na
Argentina e Chile Pitos, na Colômbia, Chipos, na Venezuela. Ele encontra abrigo nos
orifícios e vazios das paredes dessas sub-habitações e a doença de Chagas continua sendo
uma triste realidade (Figura 21). No entanto, ao contrário da AIDS que ataca sem perdão
pobres e ricos, como o mal de Chagas afeta às pessoas sem dinheiro, pouca ou nenhuma
importância é dada à doença que, perfeitamente evitável, continua a minar a precária saúde
dos deserdados povos latino-americanos.
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Figura 19 – Materiais de construção caros: favelização das cidades
Não bastasse essa gritante falta de moradias para grande parcela da população
mundial, parte significativa das que existem têm sido continuamente destruidas pela ação de
governos dominados pelo ódio, como é o caso do instaldo no Estado de Israel, que
bombardeia sem cessar as residências dos Palestinos, aumentando-lhes o deficit
habitacional. Armas com as últimas tecnologias são empregadas nessa destruição das
moradias de um povo que, numa gritante desigualdade, defende-se e reage como pode,
muitas vezes fazendo uso das ancestrais pedras, quando não com o próprio corpo!
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A insensatez não tem fim e centenas de bilhões de dólares têm sido gastos na
demolição de constrções, muitas delas centenárias e mesmo milenárias, em países
invadidos como o Iraque e o Afeganistão. O dinheiro gasto para destruir e tomar a antiga
Mesopotânia já seria suficiente para eliminar praticamente toda a carência de moradia no
chamado terceiro mundo e provê-lo de infraestrurua. Bombas moderníssimas (Figura 23),
têm sido usada na destruição de casas hospitais, escolas, prédios públicos, muitos dos
quais, verdadeiros patrimônios arquitetônicos da humanidade, construidos com os materiais
tradicionais, como a terra.
Se por um lado cerca de dois bilhões de seres humanos têm necessidade de uma
casa digna, algumas centenas de milhares de pessoas, que certamente fazem parte de
cúpula que dirige propositada e egoisticamente o mundo atual, têm suas habitações fora de
qualquer realidade e do discernimento do espírito humano. Mas já dizia Aristóteles, séculos
antes de Cristo, “a ganância dos Homens não tem limites”. Assim, parte deles possuem
casas tão grandes (Figura 24) que dificilmente terão todos os seus cômodos visitados pelo
proprietário ao longo de sua ilusória existência. Assim, não é de admirar que nesse mundo
injusto, no qual uns são mais iguais do que os outros, surjam os Bin Laden e as bombas
humanas, rotulados de terroristas porque golpeiam os que representam a injustiça, ao
passo que a matança oficial é justificada em nome liberdade. Que liberdade? A de se
escolher entre Coca Cola e Pepsi Cola? A liberdade de ser pobre, e de ser explorado? E a
liberdade do direito a casa? Esta nunca houve e continua a não existir no “mundo
moderno”! Na realidade o terrorismo está sendo alimentado pela ganância da parcela da
população que detém as riquezas mundiais e não quer reparti-las. Sem o menor
discernimento, tornam-se, os que delas fazem parte, os terroristas oficiais, mas alguns, de
tão néscios, como seu representante maior no n i icio do atual milênico (Figura 25), são
incapazes de se reconhecer como tal.
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Figura 24 - Casas de milionários em Brasíla: desafio ao bom senso humano
Foi após a segunda guerra mundial que a Terra apresentou um maior crescimento
industrial. Até final dos anos 60 essa industrialização era baseada na energia relativamente
barata, pouca preocupação se tinha com o meio ambiente e com a economia energética.
Quando o Estado de Israel resolveu invadir terras onde se encontravam os palestinos
acirrando a disputa desigual pela sua propriedade, as guerras com Egito e outros paises
árabes produtores de petróleo tiveram como consequência um aumento significativo do
preço desse material indispensável ao mundo industrializado. Teve fim a era da energia
barata! Começou também a percepção de que os recursos energéticos do planeta não eram
inesgotáveis. Foram surgindo os movimentos ecológicos, e a idéia de preservação dos
recursos naturais. No ramo da arquitetura e da engenharia já apareceram pessoas
pensando em voltar a utilizar materiais e tecnologias tradicionais que envolvessem menos
energia e contribuissem para a preservação da Terra. Pouco a pouco essas ideias foram
prosperando e hoje contam-se já muitas publicações sobre esses materiais e essas
tecnologias, se bem que mereçam ainda muito mais difusão e penetração nos bitolados
meios universitários em todo o mundo. No domínio da construção com terra (Figura 26)
eventos interessantes e publicações de nível já mostram que ela merece seu lugar entre os
materiais de construção. O mesmo pode-se dizer do bambu, outro fatástico material que
merece ser muito mais explorado neste domínio.
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Figura 26 – Algumas publicações sobre construção com terra [2,5-11]
Tudo isto levou o Prof. Minke, da Universidade de Kassel, Alemanha, a citar que:
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- tratam-se de materiais tradicionais disponíveis na natureza, muitos dos quais
renováveis, e como no caso do aproveitamento dos resíduos, contribuem para livrar o
ambiente de seu incômodo;
- envolvem muito menor energia que os industrializados
- em geral são não poluentes
- muitos incorporam-se novamente à Natureza sem maiores danos
- podem ser obtidos em processos não centralizados
- podem gerar tecnologias apropriadas
- podem levar a um menor custo construtivo
- podem fazer uso intensivo de mão de obra
- podem ajudar na redução do problema da casa nos países em
desenvolvimento
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inércia dos organismos estatais, de mentalidade muito bitolada, avessos a qualquer
mudança que incomode seu “status quo” e que lhe ameace fazer pensar e
desenvolver algum esforço.
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Considerações finais
A casa é um bem básico para todos os seres viventes. Pouco adianta dar escola às
crianças se ao dela saírem não têm um ambiente higiênico e saudável para conviver com a
família, estudar, alimentar-se e dormir. A crescente falta de habitação digna gera o que se
está a ver hoje em todos os paises em desenvolvimento: promiscuidade, avanço crescente
da marginalidade e da violência, mesmo nas cidades pequenas, outrora tidas como seguras.
Se não tem casa, vai o ser humano praticamente viver na rua, e para sobreviver no
monstruoso sistema capitalista neo-liberal, passa a se valer de tudo para conseguir dinheiro.
Aumentam, então, o tráfico de drogas, os roubos e assaltos, que inquietam a todos nos dias
de hoje.
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Figura 28 – Casa de terra sem e com tecnologia em favela na Paraíba
“En la última edición de los Premios Aga Jan de Arquitectura, uno de los más importantes del mundo
y con mayor dotación, 500.000 $, dos (2) de los siete premios son humildes construcciones con
tierra: la humilde escuela que en su pueblo Gando, en Burkina Fasso realizó con bloques de tierra
comprimida el arquitecto Diebedo Francis Kere (la primera persona que salió fuera de su aldea para
estudiar), y los refugios con sacos rellenos de tierra y alambre de espino hechos por Nader Khalili.
Junto a otros premios concedidos por ejemplo a la restauración de las Torres Petronas y a la
regeneración urbana del barrio palestino en la ciudad vieja de Jerusalén. ” ( De
http://www.arquitecturaviva.com/Noticias.asp#el%20islam)
Na Figura 30 podem ser vistas as duas obras premiadas que têm a terra crua como
material base.
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Figura 30 – Obras “não convencionais” premiadas: escola à base de terra crua e prototipo
de refugio construído com sacos de areia. (Foto: Nader Khalili/ Cal-Earth Institute)
Figura 31 – Nova geração que espera viver na Terra sem problemas ambientais e sem a
terrível poluiçao da pobreza
Referências
1- Salvadori, M (1990) – Perché gli edifici stano in piedi. Ed. Fabbri, Etas SPA, Milano, Itália.
4 – Time-Life (1995) – Ciência e Natureza, Tempo e Clima. Abril Livros, São Paulo.
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6- Centre George Pompidou – Interni: Architettura di terra, Gruppo Editoriale Electra, Itália.
7 - Barbosa, N P (1996) – Construção com terra crua: do material à estrutura. Monografia para
concurso de Prof. Titular do DTCC, Centro de Tecnología da UFPB.
8 –Fathi, H (1973) – Construindo com o povo. Ed. Brasileira Ed. Forense Universitária, Rio de Janeiro,
1982.
9 – Politécnico di Torino (1998) – Terra incipit vita nova. Anais de Seminário L´architettura di terra
cruda dalla origini al presente. 16,17-abbil 1997, Turim, Itália.
10 – Proterra (2002) – Anais do I Seminário Ibero-americano de Construção com Terra. Salvador, Ba,
16-18 set 2002.
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