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29/01/2009
coisas legais
que legal!
Alertados pela fraude das traduções de livros da Jardim - e agora pelo renomado
Jorio Dauster, que sempre admirei - mandamos avaliar as traduções.
pedi ao sr. luiz fernando emediato uma estimativa de prazo. (isso porque, por
exemplo, a martin claret sempre dizia que ia retirar de circulação seus plágios, e
no fim acabava nunca tirando.) são casos muito diferentes, naturalmente, e a gente
sempre torce pelo melhor.
minha amiguinha raquel do jane austen em português vai gostar: os seis livros da
senhorita estão lá.
imagem: www.hex.com.br
houve uma notícia que achei importante, pois, além de se tratar de mais um plágio
em circulação no mercado, iludindo o leitor e ludibriando sua boa-fé, parece
indicar o surgimento de mais um fantasma na praça.
"Não precisei ir além da primeira página no cotejo. Para não dizer que não tem uma
vírgula fora do lugar, na última linha da página tem uma vírgula a mais antes do
'etc.'. Além disso, eles atualizaram a referência bibliográfica para a norma abnt
corrente - quanta presteza! Diga-se de passagem, até a nota do tradutor é
idêntica. Curioso como duas pessoas diferentes conseguem não só fazer a mesma
tradução, mas tb bolar a mesma nota! Se ainda não está convencida, digo com todas
as letras: não são em absoluto duas traduções; é a mesma tradução letra por
letra.Tá bom, eles inovaram na edição: cortaram a introdução no meio e criaram um
capítulo novo que começa no parágrafo em que a introdução havia sido interrompida.
Outra novidade é uma nota que na edição de 1993 não tem autoria indicada (o que dá
a entender que se trata de uma nota do autor), agora devidamente assinada por
Pedro H. Berwick! Ok, talvez eu esteja exagerando, já que as notas do autor estão
devidamente organizadas no final do capítulo da ed. de 1993 e devidamente
reproduzidas nos rodapés da ed. de 2008."
meus votos de que o grupo responsável pelo selo tome rápidas providências para
retirar o livro de circulação e fazer uma errata pública avisando os leitores
sobre o fato.
imagem: museu do plágio
Excelente sua resposta, clara e objetiva. Não resta dúvida de que, ao adquirir a
Jardim dos Livros e continuar a publicar as obras que passaram a seu controle no
bojo dessa operação, a Editora Geração passou a ser responsável pela distribuição
do plágio da Arte da Guerra. Caso seus dirigentes não soubessem que a tradução era
um miserável embuste, basta que reconheçam esse fato, suspendam imediatamente a
venda da obra conspurcada e encomendem novo texto em português junto a um dos
muitos bons tradutores que estão por aí – sem prejuízo de buscar reparação
judicial junto aos que lhe venderam um produto tóxico.
Jorio Dauster
- as datas de referência:
a. da formação do grupo geração, com a transformação da editora jardim dos livros
em selo editorial do grupo e a definição da responsabilidade editorial específica
a cargo da editora geração;
b. da denúncia de plágio da obra a arte da guerra, feita por adam sun;
c. da divulgação dos resultados comerciais do grupo geração para o ano de 2008,
com destaque para a referida obra a arte da guerra,
são respectivamente os meses de março, julho e novembro de 2008.
não posso crer que todas essas fontes sejam levianas ou inverídicas. meu trabalho
de consulta e pesquisa se baseou nas referências acima citadas, que foram
sistematicamente mencionadas neste blog. quanto às conclusões objetivas a partir
de tais informações, parecem-me acima de qualquer margem de dúvida.
esclareço também que não é meu propósito levantar acusações contra quem quer que
seja. não faço trabalho de promotoria; faço pesquisas editoriais - quando constato
eventuais irregularidades, apropriações, fraudes e falsificações, venho a público
e apresento os fatos.
por fim, quanto à conceituação utilizada neste blog para definir os casos de
irregularidades comprovadas, ela se baseia em dois elementos:
a. a convicção implícita e explícita de que o livro é um bem cultural e social da
máxima importância, regulamentado por leis e normas que devem ser acatadas e
cumpridas pelas editoras e seus responsáveis;
b. as acepções dicionarizadas dos termos, aplicados aos casos pertinentes após
análise cuidadosa dos fatos objetivos.
não sou diretora de consciência de ninguém - mas, como cidadã preocupada com a
idoneidade editorial brasileira submetida a fortes abalos desde 1995, expresso
constantemente meus votos de que as editoras envolvidas interrompam essas práticas
lesivas e contribuam para a restauração da credibilidade do livro no país.
como ele especificava que seu conteúdo era sigiloso e proibia a divulgação de seu
teor, no mesmo dia solicitei ao remetente autorização para publicá-lo no blog,
pois a matéria tratada dizia respeito a dados divulgados publicamente no nãogosto,
sob minha responsabilidade.
hoje recebi a gentil autorização de divulgá-lo com seus esclarecimentos.
O Grupo Geração e Luiz Fernando Emediato não possuem nenhuma ligação com a
publicação referenciada. Já a Editora Geração apenas adquiriu o selo O Jardim dos
Livros muito tempo depois da publicação da arte da guerra.
Por fim, vale ressaltar ser positiva a livre manifestação das pessoas, sendo que
eventuais excessos com falsas acusações, calúnias e difamações serão prontamente
refutadas, com medidas judiciais objetivando o resguardo à honra e dignidade das
pessoas atacadas.
Atenciosamente
Armando Mendonça
Gerson Mendonça Neto
Advocacia
veja aqui.
- ou seja, desde a sua criação, a obra do espírito traz dentro de si esse sinete
indelével, essa marca definidora de sua inserção social, e ela passará a integrar
o patrimônio intelectual de toda a sociedade, decorrido o prazo permitido por lei
para sua exploração comercial em caráter de exclusividade.
* aliás, é por isso que obras anônimas não são protegidas pela lei, pois, na
ausência de nome, escapam à definição jurídica de pessoa e a qualquer
responsabilidade civil. e é por isso que é feio ser anônimo - ao lado dos
direitos, há os deveres, naturalmente. como anônimo, perde-se qualquer direito,
mas sobretudo foge-se a qualquer responsabilidade.
mas, como a obra não é um simples bem material, e sim uma criação do espírito que
integra o patrimônio intelectual da humanidade, ela não pode ser tratada a mesmo
título de um bem material. assim, quando o autor cede sua obra para ser explorada
comercialmente, e reserva para si esse seu direito inalienável de personalidade -
o nome -, espera-se que a editora respeite esse direito que não lhe foi
transferido. geralmente isso acontece, as editoras costumam respeitar o direito
moral do autor.
o problema é que, nesses últimos 15 anos no brasil, com a onda de plágios que tem
assolado o país, muitas editoras, mesmo sendo lesadas pelos plágios de
concorrentes desleais, não querem, não podem ou não conseguem defender seus
próprios direitos patrimoniais e muito menos os direitos morais daquela obra que
está em seu catálogo. é uma situação complicada. muitas vezes o autor morreu, não
tem descendentes, ou os descendentes não se interessam em fazer respeitar o nome
do falecido, a editora considera que não vale a pena se desgastar ou acionar a
concorrente fraudadora e assim por diante. assim, o aspecto principal de uma obra
do espírito, que é sua inserção e pertença à sociedade, fica ao deus-dará. é este
cenário de impunidade que favorece a proliferação do plagiato no brasil.
sempre faço uma comparação mental entre comprar um carro e adquirir os direitos de
exploração comercial de uma obra: um carro, se você compra, você pode fazer o que
quiser - largar, detonar, cuidar, botar fogo, deixar que roubem, fazer seguro, não
fazer seguro. você é dono dele. agora uma obra não - você nunca a compra inteira,
compra apenas o direito de reproduzi-la e vender essas reproduções - é o chamado
copyright. então você nunca é proprietário completo da obra: é mais ou menos como
se você fosse um depositário da confiança do autor, com o compromisso implícito de
defendê-la.
uma dúvida que já me levantaram algumas vezes: se uma obra está em domínio
público, então qual é o problema do plágio? são duas coisas diferentes. entrar em
domínio público significa que qualquer pessoa pode reproduzir aquela obra sem
pagar direitos autorais, pois ela pertence a toda a sociedade. já o plágio
significa ferir um direito que nunca deixa de existir, mesmo após a morte da
pessoa: o direito ao nome. ou seja, se miguel de cervantes está em domínio
público, isso não significa que ele deixou de ser miguel de cervantes e que você
pode publicar dom quixote dizendo que foi você ou zequinha da silva que escreveu o
livro.
imagens: http://www.kingsgrave.com/; calder, maquette III, national gallery;
iluminuras, biblioteca vaticana
THOMAS CLEARY
O ESSENCIAL DO ALCORAO
O COR A Ç ÃO DO I S L Ã
Tradução de
Pedro H. Berwick
e a página de créditos:
Título original: The Essential Koran: The Heart of Islam Copyright © Thomas
Cleary, 1993 Licença editorial para Jardim dos livros Editora Ltda. Todos os
direitos reservados.
Editor: Cláudio Varela
Diretor executivo: Ado Varela
Projeto gráfico: Vanderlucio Vieira
Revisão: Luciara Assis
Tradução: Pedro H. Berwick
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
C56e
Cleary, Thomas F., 1949
O essencial do Alcorão : o coração do Islã / Thomas Cleary ; tradução Pedro H.
Berwick. - São Paulo : Jardim dos Livros, 2008.
il. ;
Tradução de: The essential Koran
ISBN 978-85-60018-14-7
1. Alcorão. 2. Islamismo. I. Título. 08-1911. CDD: 297.122 CDU: 297.18 16.05.08
19.05.08 006059
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a prévia autorização da
editora, por escrito, sob pena de constituir violação do copyright (Lei 5.988).
Impresso no Brasil Belo Horizonte – 1ª edição – julho / 2008
Todos os direitos reservados, no Brasil, à © Jardim do livros Editora Ltda.
http://www.jardimdoslivros.com.br/ – editorial@jardimdoslivros.com.br
minha querida amiga joana canêdo é uma figura. não a conheço, mas adoro!
ela apareceu quando o assinado-tradutores já estava se desmilinguindo - tentou
bravamente dar uma ordem razoável à pauta de pontos que eu havia montado para
enviar ao fórum dos direitos autorais do minc.
meu deus, como é bom sentir gente ao lado, batalhando junto, e como é bom saber
que a gente não é louca e que tem outras pessoas que também não se conformam com
os descalabros.
no ano passado, com um intervalo de três meses e meio entre a redação e o despacho
da missiva, recebi aqui em casa um envelope contendo uma linda moção da academia
brasileira de letras, cheia de lindos timbres - "ad immortalitatem" - com a
assinatura em tinta de verdade do presidente cícero sandroni, expressando a
"grande preocupação" da academia à qual "pertencem alguns dos mais ilustres
tradutores brasileiros", declarando "emprestar seu integral apoio" ao protesto
contra os plágios de tradução, em defesa da "nobre atividade que vem sendo
achincalhada por casas editoriais indignas de seu nome".
bom, quem acompanha este humilde blog e minha persistência de moscardo na questão
dos plágios sabe muito bem que mandei individualmente a todos os imortais um
histórico e dossiê das fraudes cometidas nessa infeliz terra do plagiato
desbragado, e até hoje continuo a infernizá-los com meus boletins informativos. ou
seja, nenhum deles pode alegar ignorância.
pois o ilustre imortal arnaldo niskier está presente, lépido e fagueiro, na chapa
mais espantosa que já vi na vida, concorrendo a um cargo na vice-presidência da
câmara brasileira do livro.
resumindo: O IMORTAL NISKIER É CONTRA OU A FAVOR DOS PLÁGIOS?
se ele for contra os plágios, que renuncie à sua infamante candidatura na chapa
com editores que publicam ou mantêm em catálogo obras plagiadas, na disputa pelo
comando da principal entidade do livro no país.
se ele for a favor dos plágios, que renuncie condignamente à sua cadeira na
academia brasileira de letras.
em suma: não tem como adotar as duas posições ao mesmo tempo - ou se aceita ou se
repudia o plágio.
depois vieram umas outras meio abatidas e disseram: "nós também queremos ser outra
coisa, hoje em dia é uma bagunça, ninguém respeita f, b nem n, assim não dá! agora
somos a Frente das Boas Normas!"
hoje a europeana retorna ao ar. lembram quando foi lançada? ficou por pouco tempo,
a visitação foi tão gigantesca que deu tilt. agora volta reconfigurada:
http://www.europeana.eu/portal/
embora apareça como responsável pela tradução de o morro dos ventos uivantes,
tanto na ficha catalográfica quanto na página de créditos do exemplar impresso da
editora landmark, informa ela que seu contrato com a referida editora foi
exclusivamente para a revisão de texto.
tendo seu nome indevidamente utilizado nos créditos de tradução, cabe à editora
vir a público e expor as razões para o fato. cabe-lhe também a retirada imediata
dos exemplares em circulação, uma errata para as livrarias, a imprensa e os
leitores, além da atribuição dos verdadeiros créditos de tradução. em meu modesto
entender, seria também conveniente eximir publicamente a profissional de qualquer
responsabilidade pelo plágio.
o ponto é um só: o livro vai para o leitor. tem que ir certo, idôneo, dentro da
lei. os editores têm alguma dúvida a respeito? vão lá e briguem em suas entidades,
briguem com o governo, mas enquanto isso publiquem livros certos, idôneos e dentro
da lei.
posto isso, e para finalizar esses meus comentários intrometidos sobre as eleições
na cbl, meu estado de choque perante a candidatura do sr. fábio cyrino e do sr.
emediato à direção da referida entidade atingiu níveis estratosféricos quando reli
a composição da chapa. pois foi aí que notei que o postulante à presidência é o
sr. armando antongini filho, apresentando-se pela editora leitura.
bom, vários meses atrás o sr. emediato da geração editorial anunciou a meio mundo
que estava se unindo justamente à editora leitura para comprar a jardim dos
livros.*
então tudo o que falei até agora sobre minhas dúvidas quanto à probidade da
geração editorial, a meu ver, pode se aplicar igualmente à editora leitura, pois
são elas juntas, em sociedade, que comandam o selo jardim dos livros.
* "a Geração já está em nova parceria: associou-se com a editora Leitura, de Belo
Horizonte, e juntas compraram metade da Jardim dos Livros, de São Paulo. [...]
Nessa fusão, a Leitura cuidará da parte comercial e logística; a Geração, da área
editorial, e a Jardim dos Livros da área comercial em São Paulo e da direção
editorial de livros de negócios."
a editora divulga em seu site 17 obras pelo dito selo "jardim dos livros", com os
respectivos isbns. mas, se vc for ao site da fbn/isbn, vai encontrar apenas 7
registros. o pior é que, destes 7 registros, apenas 1 bate com o número de isbn
que aparece no site da editora. ou seja, há 6 obras com registro de número trocado
ou falsificado, e 10 obras de números sem absolutamente nenhum registro.
- tradutor não é um pobre coitado nem ganha uma "merreca" - é uma profissão digna,
uma atividade com uma remuneração que permite que ninguém passe necessidade:
talvez você não consiga dar uma ferrari de presente para seu genro nem tomar veuve
clicquot todo dia, mas mesmo assim...
- tradutor não é só alguém que pega palavras numa língua estrangeira e põe em
português: o tradutor é um dos principais agentes a criar e a definir o que é o
vernáculo de qualquer país, sobretudo um país de formação colonial e língua
minoritária, como o brasil
- qualquer editora minimamente decente sabe que seu êxito depende de traduções que
prestem: a boa editora é a primeira a valorizar o trabalho de tradução.
então, por favor, gente, o nãogostodeplágio não entoa a cantilena dos mendigos.
se os tradutores lesados quiserem protestar, e deveriam querer, eles saberão o
caminho a tomar.
se as editoras lesadas pela concorrência desleal resolverem reagir, com certeza
saberão se virar muito bem.
aqui o nãogostodeplágio está preocupado com dois problemas: o do leitor que compra
um livro na boa-fé e o do patrimônio intelectual do país lesado pelas falcatruas.
afora o habitual procedimento de mudar uma parte das frases iniciais dos
capítulos, é um plágio sem maiores rebuços, e até reproduzindo os mesmos saltos de
palavras e orações.
The little party recovered its equanimity at sight of the fragrant feast. They
were hungry after their ride, and easily consoled, since no real harm had befallen
them. Mr. Earnshaw carved bountiful platefuls, and the mistress made them merry
with lively talk. I waited behind her chair, and was pained to behold Catherine,
with dry eyes and an indifferent air, commence cutting up the wing of a goose
before her.
Cathy was a powerful ally at home; and between them they at lenght persuaded my
master to acquiesce in their having a ride or a walk together about once a week,
under my guardianship, and on the moors nearest the Grange: for June found him
still declining. Though he had set aside yearly a portion of his income for my
young lady's fortune, he had a natural desire that she might retain - or at least
return in a short time to - the house of her ancestors [...]
Por seu lado, Cathy não cessava de suplicar a mesma coisa; e ambos acabaram
persuadindo o meu amo a deixá-los passear a pé ou a cavalo juntos, uma vez por
semana, sob a minha guarda e na charneca vizinha à granja, pois junho veio
encontrá-lo ainda mais fraco, e, embora tivesse posto de lado uma parte do seu
rendimento anual para o futuro da filha, ele alimentava o desejo natural de que
ela viesse a conservar a casa dos seus antepassados [...] (Art, p. 284)
Por seu lado, Cathy não cessava de suplicar a mesma coisa em casa; e ambos
acabaram persuadindo meu patrão a deixá-los passear a pé ou a cavalo juntos, uma
vez por semana, sob a minha guarda e na charneca vizinha à granja, pois junho veio
encontrá-lo ainda mais fraco, e, embora tivesse separado uma parte do seu
rendimento anual para o futuro da filha, alimentava o desejo natural de que ela
viesse a conservar a casa dos antepassados [...] (Landmark, p. 227)
I felt stunned by the awful event; and my memory unavoidably recurred to former
times with a sort of oppressive sadness. But poor Hareton, the most wronged, was
the only one who really suffered much. He sat by the corpse all night, weeping in
bitter earnest. He pressed its hand, and kissed the sarcastic, savage face that
every one else shrank from contemplating; and bemoaned him with that strong grief
which springs naturally from a generous heart, though it be tough as tempered
steel.
Quanto a mim, estava perplexa - e minha memória pôs-se a recordar tempos passados,
com uma espécie de opressiva tristeza. Mas foi o pobre Hareton, precisamente o
mais injustiçado, o único a sofrer realmente muito. Velou o corpo durante a noite
toda, chorando sem parar. Apertava-lhe a mão, beijava-lhe o rosto sarcástico e
terrível, que todos os demais evitavam contemplar, e carpia-o como só o sabem
fazer os corações generosos, embora endurecidos como aço temperado. (Landmark, p.
293)
só para mostrar como as traduções são únicas e irrepetíveis - uma frase muito
simples deste último trecho, "I felt stunned by the awful event", fica:
- para vera pedroso: "Quanto a mim, estava perplexa";
- para rachel de queiroz: "Eu me sentia aturdida ante a pavorosa ocorrência";
- para celestino da silva: "Eu fiquei bastante impressionada com o tristíssimo
acontecimento";
- para oscar mendes: "Sentia-me aturdida pelo terrível acontecimento".
também fico "stunned by the awful event". não bastava o furto da persuasão de
isabel sequeira, perpetrado pelo sr. fábio cyrino, que em sua singela vaidade
alardeou na imprensa seu suposto trabalho de tradução, prossegue a pilhagem.
ademais, se lembrarmos que a landmark é uma editora basicamente maçônica, e que
"landmarks" são os princípios basilares que sustentam a doutrina da maçonaria,
essa desmoralização editorial e cultural praticada pelos irmãos cyrino adquire uma
faceta tristemente irônica.
espero vivamente que a editora não ceda à ilusão do lucro fácil, não siga na
trilha da nova (in)cultural e da martin claret. do logro e da mentira não resulta
boa coisa. srs. cyrino, assim como os senhores lançaram esses livros fraudados,
venham a público e retirem essas barbaridades de circulação.
obs.: ver aqui as razões para a retificação deste post, feita em 20/01/2009.
Senhora Bottmann,
O pessoal do serviço cultural do Consulado francês do Rio de Janeiro falou ontem
com o senhor Jérémie Desjardins sobre a sua observaçao. O jornalista confondiu a
editora Martins Fontes com a Martin Claret.
Agradecemos lhe por ter nos mostrado esse erro.
Atenciosamente, Alice Toulemonde
imagem: aguadouro.blogspot.com
agenor soares, uma das mais probas e ilustres figuras no mundo das traduções no
brasil, mestre, teórico, dicionarista, orientador, referência, modesto e grande,
manifesta sua integral perplexidade com a postura do governo francês.
"O governo francês distribuiu 150 mil euros entre editoras brasileiras (Martin
Claret, Record, Objetiva, Companhia das Letras, Jorge Zahar, entre outras) para a
publicação de autores franceses de ciências humanas. Outros 30 mil euros devem ser
destinados a projetos de ficção."
tenho batido um pouco forte nos orientadores que desorientam, nos professores que
desensinam, nos alunos que se acomodam e assim por diante.
que ninguém me leve a mal, e entendam que, se protesto, é justamente porque levo a
sério o papel dos docentes, a importância das instituições de ensino, o empenho
dos estudantes e tudo o mais.
vamos recapitular o caso da claret. ela vinha lépida e fagueira ao longo dos anos,
publicando barbaridades.
eu jamais saberia disso, acho que 99,9999999% dos brasileiros jamais saberiam
disso. claro que sempre há os pedantes que acham que sabem tudo, mas que também se
acham importantes demais para se darem ao trabalho. tirando esses excêntricos
parasitas, repito, acho que 99,9999999% dos brasileiros não se dariam conta do
plágio.
então vem esse senhor muito digno, dr. gonçalo armijos, da federal de goiás,
cumpre com o que lhe parece ser seu dever profissional, intelectual e cívico,
alerta o jornal opção na figura de euler de frança belém, o jornal entrevista o
nefando meliante claret, publica uma matéria que marcou época, vem a folha de
s.paulo e dá divulgação nacional a essa corrupção desbragada da abjeta claret
apodrecendo esse segmento do mercado editorial.
foi dr. gonçalo armijos que veio lá de sua salinha da universidade, que saiu lá de
seu departamento e de seu instituto, que pôs o nariz para fora de suas altas
pesquisas, e veio a nós, brasileiros, ingênuos leitores, e disse: gente, etc.etc.
mas meu ponto principal é que a universidade também conta com docentes sérios, com
pessoas dispostas a colaborar com a vida cultural do país, com gente que acha que
o trabalho do espírito tem algum mérito e que a honestidade intelectual é um valor
a ser preservado.
escrevi uma cartinha singela, mais singela impossível, e estou mandando para
professores do brasil afora. ei-la:
prezado docente:
colabore na campanha contra o plágio de traduções no país.
em suas ementas e bibliografias de curso, evite indicar livros de editoras
suspeitas e edições fraudadas.
consulte uma lista preliminar de plágios e obras sob suspeita, disponível em
http://naogostodeplagio.blogspot.com/2009/01/para-fugir.html
atenciosamente,
denise bottmann
receando que o apelo possa passar meio em brancas nuvens, gostaria de colocar duas
coisas:
então, caro docente, antes de descartar o assunto, peço que reflita nisso também:
de te fabula narratur.
imagem: http://www.kunsthaus.adlerstrasse.de/
vocês acham que alguma biblioteca vai ver isso e corrigir os créditos em seus
exemplares?
existe uma agência internacional que controla tudo isso. essa agência
internacional designa agências na cionais, uma em cada país, que ficam com a
responsabilidade de atribuir os tais números aos editores locais. no brasil, a
agência nacional do isbn faz parte da fundação biblioteca nacional. quem se
interessar, está tudo explicadinho no site deles.
bom, este é o princípio, tal é a teoria. aí claro que, por razões profundamente
incrustadas em nossa história, nossa agência nacional cadastra e atribui isbns a
coisas medonhas, tipo o monte de traduções de bocage, machado de assis, josé de
alencar, eça de queiroz, que a martin claret cadastrou lá em nome de pietro
nassetti, marcellin talbot etc.
aí, depois de ganhar o isbn, a editora publica o livro e, por lei, deve enviar um
exemplar impresso para a biblioteca nacional, também na fbn. lá ele ganha uma
ficha catalográfica própria e passa a fazer parte do acervo físico da bn.
ou seja, o mesmo livro tem dois registros: um na agência do isbn e outro na bn.
essa falha primária da fbn traz à tona coisas interessantes. já noticiei várias
delas aqui, e hoje quero mencionar um relacionado à landmark.
a landmark cadastrou sua edição de o morro dos ventos uivantes na agência do isbn
creditando a tradução a alguém de nome "ana maria oliveira rosa".
o problema é que, no exemplar impresso, consta que a tradução foi feita por
caroline caires coelho.
sobre a landmark
até aí, a editora landmark estaria "apenas" seguindo a trilha indicada pela
editora nova (in)cultural, que nos anos 90 implantou o plágio em escala
industrial: frauda-se a obra com desfaçatez, lesa-se a boa-fé do leitor, corrói-se
a credibilidade do livro no país, embolsa-se um dinheirinho não muito idôneo,
prejudica-se o mercado editorial com a prática de concorrência desleal, cria-se um
novo período de vigência de direitos da editora sobre a falsa tradução, cultiva-se
a ignorância a curto, médio e longo prazo.
ineditismo
mas o que surpreende é a rara franqueza do sr. fábio cyrino em sua entrevista: ele
teria agarrado a tarefa no melhor estilo do “ ’xácumigo”, ficando “dois meses
debruçado sobre o romance”. bom, como o escaneamento costuma ser um processo mais
rápido, talvez esses dois meses tenham sido dedicados a recriar laboriosamente a
mão a tradução de isabel sequeira. não é uma tradução muito bonita nem muito
correta, não se compara de maneira alguma à de luiza lobo, mas quand même a
autoria do trabalho é dela, e como tal há de se respeitá-lo.
Thirteen years had seen her mistress of Lellynch Hall, presiding and directing
with a self-possession and decision which could never have given the idea of her
being younger than she was. For thirteen years had she been doing the honours, and
laying down the domestic law at home, and leading the way to the chaise and four,
and walking immediatly after Lady Russell out of all the drawing-rooms and dining-
rooms in the country.
She was fully satisfied of being still quite handsome as ever [...]
Sabia que ainda era muito bonita [...] (isabel sequeira)
Sabia que ainda era muito bonita [...] (fábio cyrino)
“For they must have been seen together”, he observed, “once at Tattersal’s, and
twice in the lobby of the House of Commons.”
“Porque nós devemos ter sido vistos juntos”, comentou ele, “uma vez no Tattersal e
duas vezes no trio da Câmara dos Comuns.” (isabel sequeira)
“Porque nós devemos ter sido vistos juntos”, comentou ele, “uma vez no Tattersal e
duas vezes no trio da Câmara dos Comuns.” (fábio cyrino)
Such were Elizabeth Elliot’s sentiments and sensations; such the cares to alloy,
the agitations to vary, the sameness and the elegance, the prosperity and the
nothingness of her scene of life; such the feelings to give interest to a long,
uneventful residence in one country circle, to fill the vacancies which there were
no habits of utility abroad, no talents or accomplishments for home, to occupy.
não tive ocasião de ver os outros títulos com tradução atribuída ao sr. fábio
cyrino. em todo caso, são eles: uma defesa da poesia e outros ensaios, de percy
shelley, em co-tradução com marcella machado de campos furtado, o estranho caso do
dr. jekyll e do sr. hyde, meditações de john donne, além de alguns livros sobre
maçonaria. na verdade, sinto um certo receio em folhear os demais livros do
catálogo da landmark.
e como fica?
como leitora, acho legal ver novas editoras com garra, oferecendo títulos de fato
inéditos, com traduções de qualidade, batalhando para se fazer visível no mercado.
mas aqui não sei bem se é o caso.
acho que, com a mesma presteza e profissionalismo com que deu entrevistas e
divulgou o lançamento de persuasão, o sr. fábio cyrino faria bem em vir a público
e se retratar junto a nós leitores. quem sabe poderia também proceder a uma errata
pública para os exemplares já vendidos, retirar os exemplares restantes de
circulação e renunciar à sua candidatura no certame do plagiato nacional.
e, desta vez, não vale colocar a culpa em ex-funcionários ou alegar falha técnica.
tentei conversar com o sr. fábio por telefone sobre a autoria da tradução. ele
afirmou desconhecer o assunto: "até o momento não tivemos nenhuma reclamação a
respeito; pelo contrário, a imprensa tem elogiado a tradução, prova é que já
estamos na quinta reimpressão do livro". indagou se os textos eram mesmo
totalmente idênticos. justificou o fato declarando que "afinal a língua portuguesa
é uma só, e pode haver coisas iguais, isso é natural".* afirmou que a tradução foi
feita no brasil e que "inclusive usamos revisores brasileiros". quanto ao suposto
ineditismo da obra no brasil, ele disse apenas que as edições anteriores "não se
encontram mais".
pessoalmente
quem poderá duvidar do que se seguiu? quando dois jovens decidem casar-se, têm a
certeza de que, pela perseverança, conseguirão o seu objectivo, quer sejam pobres
ou imprudentes, ou mesmo, em última análise, pouco adequados ao bem-estar futuro
um do outro;* e, se esses casais têm êxito, como poderiam um comandante wentworth
e uma anne elliot, com a vantagem de possuírem maturidade de espírito, consciência
dos seus direitos e uma fortuna que lhes conferiria a independência deixar de
derrubar toda a oposição? eles poderiam, de facto, ter aniquilado uma oposição
muito maior do que a que enfrentaram, pois pouco havia para os aborrecer, para
além da falta de amabilidade e de carinho. sir walter não levantou qualquer
objecção, e elizabeth limitou-se a mostrar-se fria e indiferente. o comandante
wentworth, com vinte cinco mil libras e com um posto tão elevado que o mérito e a
actividade lhe tinham granjeado, era já alguém. era agora considerado digno de
cortejar a filha de um baronete tolo e perdulário que não tivera bom senso nem
princípios suficientes para se manter na situação em que a providência o colocara
e que actualmente só podia dar à filha uma pequena parte das dez mil libras que
lhe pertenceriam no futuro. [isabel sequeira]
* aqui também pulou-se uma frase do original: "this may be bad morality to
conclude with, but i believe it to be truth"
quem poderá duvidar do que se seguiu? quando dois jovens decidem casar-se, têm
certeza de que, pela perseverança, conseguirão o seu objetivo, quer sejam pobres
ou imprudentes, ou mesmo, em última análise, pouco adequados ao bem-estar futuro
um do outro;* e, se esses casais têm êxito, como poderiam um capitão wentworth e
uma anne elliot, com a vantagem de possuírem maturidade de espírito, consciência
dos seus direitos e uma fortuna que lhes conferiria a independência deixar de
derrubar toda a oposição? eles poderiam, de fato, ter aniquilado uma oposição
muito maior do que a que enfrentaram, pois pouco havia para os aborrecer, para
além da falta de amabilidade e de carinho. sir walter não levantou qualquer
objeção, e elizabeth limitou-se a mostrar-se fria e indiferente. o capitão
wentworth, com vinte cinco mil libras e com um posto tão elevado que o mérito e a
atividade lhe tinham granjeado, era já alguém. era agora considerado digno de
cortejar a filha de um baronete tolo e perdulário que não tivera bom senso nem
princípios suficientes para se manter na situação em que a providência o colocara
e que atualmente só podia dar à filha uma pequena parte das dez mil libras que lhe
pertenceriam no futuro. [fábio cyrino]
* aqui também pulou-se uma frase do original: "this may be bad morality to
conclude with, but i believe it to be truth"
EMPRESAS DO BEM
LEITURA DE QUALIDADE
O mundo mágico do escritor Monteiro Lobato é o mote do concurso de redação
promovido pelo Instituto Ecofuturo. A ONG, criada pela Cia. Suzano, usará a
competição como ferramenta para reforçar nos alunos de 1ª a 8ª série, de todo o
País, o gosto pela leitura de qualidade. Os melhores textos vão ser publicados em
livro. Além disso, os alunos e as escolas vencedoras vão ganhar a coleção Obras
Primas, da Editora Nova Cultural, composta por 50 títulos.
Instituto Ecofuturo
Quem Somos
Programa Ler é Preciso
Coleção Obras Primas [1%] por simples, em 23/05/2007
A coleção Obras-Primas é caracterizada pela variedade de títulos, escolhidos entre
os mais expressivos da literatura mundial.
que ninguém me entenda mal: acho ótimo que as empresas desenvolvam trabalhos de
responsabilidade social. mas acho também que não é só sair por aí fazendo parceria
com o primeiro que passa pela frente, sem avaliar direito as coisas.
de mais a mais, as fraudes da nova cultural foram denunciadas várias vezes por
várias pessoas desde 2002. se a ecofuturo só agora diz "aaah, puxa vida, eu não
sabia..." - bom, vou dizer o quê? sorte da dona nova cultural, então, que teve uma
parceira tão confiante?
só posso torcer para que essa reunião entre ecofuturo e nova cultural resulte em
alguma providência concreta para desfazer os malfeitos.
imagens: instituto ecofuturo, obras-primas e selo
é um problema...
teve aí um povo que não gostou muito dessa história na imprensa mostrando que
grandes obras da literatura universal tinham sido publicadas em traduções antigas
e consagradas, com algumas ou nenhumas alterações, mas atribuídas a outros nomes
quaisquer, num claro delito de plágio, falsificação ideológica e apropriação
indébita.
aí, mexe daqui, mexe dali, descobre-se que não eram duas ou três obras, mas sim
vinte, vinte e cinco, concentradas numa fornada de quarenta.
então a coisa começa a adquirir uma dimensão um pouco mais abrangente, parecendo
que não é só meio por acaso.
e começa-se a publicar os cotejos mostrando que não era algo avulso, mas uma onda
meio alarmante.
e aí primeiro aparece uma mensagem apócrifa da nova cultural, e depois uma gerente
financeira dizendo que estão verificando o que pode ter acontecido.
a seguir vem a imprensa, que quer saber que coisa é essa que está acontecendo. a
gente expõe. e aí a nova cultural começa a tirar de catálogo aquela coisarada toda
meio esquisita.
richard civita liga para um dos lesados (pelo menos é o que este me disse), paga-
lhe um almoço e propõe um acordo, batendo no peito, dizendo que não sabe de nada e
que afinal este é um dos problemas de delegar responsabilidades.
janice florido, com mais de vinte anos de casa na abril/nova cultural, responsável
também por bianca, sabrina e a chamada "linha cor-de-rosa" de romances açucarados
em bancas, depois alta executiva da siciliano e agora diretora da ediouro em são
paulo, tem um acesso de amnésia, diz que a memória de três anos atrás lhe foge e
que não lembra quem cuidava das traduções.
o editor responsável da época, eliel silveira cunha, diz que nunca soube como era
essa questão das traduções na coleção obras-primas.
meu ponto é: lembrem ou não, saibam ou não, queiram ou não, foram vendidos (quer
dizer, pagos por cidadãos brasileiros na boa fé) milhões de exemplares de obras
traduzidas por mario quintana, araújo nabuco, eugênio vieira, ascendino leite,
lígia junqueira, carlos porto carreiro, luiz costa lima e tantos outros, mas, com
maiores ou menores alterações superficiais, como se fossem de um roberto nunes
whitaker, carmen lia lomonaco, fernando corrêa fonseca, alberto maximiliano e por
aí afora.
meu ponto é que pessoas desembolsaram dinheiro comprando uma coisa que, na
verdade, era outra. e que essas edições se apropriaram, pelo menos em dois casos,
de obras que já estão em domínio público, recriando, sob novo nome, o direito
exclusivo para a nova cultural de exploração comercial privada de algo que já é de
toda a sociedade.
e que uma parte desse dinheiro embolsado pela nova cultural, por algum acordo
qualquer negociado pela sra. janice florido e pelos altos dirigentes da nova
cultural, foi para o instituto ecofuturo, ong da própria parceira deles, a suzano
celulose, para abastecer uma campanha chamada "ler é preciso", voltada para
escolas e bibliotecas.
b. um número obrigatório nas edições que tem como função principal facilitar a
venda do livro (cf. raul wasserman, ex-presidente da cbl)
c. a sigla de "Ilusão Só Bobo Nutre", na linha "for english to see" (cf. o cético)
d. números em série que se compram em lotes, para ser impressos em qualquer livro,
para a maior comodidade do editor (cf. marino lobello, vice-presidente da cbl)
imagem: limitededition68.wordpress.com
a ver.
LANDMARK
persuasão (fábio cyrino)
o morro dos ventos uivantes (ver retificação)
o morro dos ventos uivantes (ana maria oliveira rosa)
SAPIENZA
a arte da guerra (nikko bushido)
abílio guerra
adriana lisboa
agenor soares dos santos
alba olmi
alberto da costa e silva
aldo dinucci
alessandra allegri
alexandre barbosa de souza
alice xavier
allison roberto
ana resende
ana suzuki
ana carolina cunha lima
ana maria ramiro
ana miriam wuensch
ana paula alves ribeiro
anderson braga horta
andré gazola
andré medina carone
angela xavier de brito
anita di marco
ann charlotte barbosa
anna magdalena machado bracher
antivan mendes
artur neves teixeira
aurora bernardini
beatriz viégas-faria
bruno costa
carla kurrle
carlos angelo
carlos daghlian
carlos nelson coutinho
carmen zink bolognini
caroline chang
cecília campello
celina portocarrero
chrys chrystello
claudia martinelli gama
cláudia berliner
cláudio daniel
cláudio murilo leal
cláudio willer
cássio de arantes leite
daniel aço
davi arrigucci jr.
desidério murcho
dilma machado
doralice lima
eduardo sterzi
eleonora guimarães bottmann
elyzabeth thompson
emiliano unzer macedo
erick ramalho
etelmiro castilho
eugênio vinci de moraes
euler frança belém
everardo norões
fal azevedo
fátima vasco
fátima aparecida de oliveira abbate
federico carotti
flávia nascimento
francis h. aubert
francisco araújo da costa
francisco césar manhães monteiro
francisco foot hardman
galeno amorim
gabriel perissé
geraldo holanda cavalcanti
haroldo cantanhede
helena londres
heloísa gonçalves barbosa
heloísa jahn
heloísa mafra ferdinandt
hélio de mello filho
ivan cortez
ivo barroso
jacqueline prates rocha
james emanuel albuquerque
janaína pietroluongo
jean cristtus portela
joana canêdo
joão paulo monteiro
joão tomaz parreira
joão ângelo oliva neto
joice elias costa
jorge coli
jorio dauster
josé lira
josé antônio arantes
josé augusto drummond
josé veríssimo teixeira da matta
josely vianna baptista
julián fuks
juliana saul
lai pereira
leda tenório da motta
lenita rimoli esteves
leonardo fróes
letícia braun
lina cerejo
lucia singer
luis dolhnikoff
luiz costa lima
lylian coltrinari
mamede jarouche
marcelo backes
marcelo jacques de moraes
marco lucchesi
marco túlio castro
marcos siscar
marcus mazzari
maria betânia amoroso
maria constança pires pissarra
maria cristina pires pereira
maria de lourdes sette
maria helena nery garcez
mauri furlan
mauro gama
mauro pinheiro
maurício ayer
maurício mendonça cardozo
maurício santana dias
moacyr scliar
myriam campello
natalício barroso
nythamar fernandes de oliveira
olívia niemeyer
oséias silas ferraz
pablo vilela
patrícia reuillard
paula aryana de sena
paulo bezerra
paulo henriques britto
paulo wengorski
pedro du bois
pedro maciel
pedro reis
peterso rissatti
priscila manhães
priscila santos
raimundo moura
raquel sallaberry
rejane janowitzer
renata bottino
renata faria
renato aguiar
renato pontual
ricardo ferreira
ricardo terra
robert ewing finnegan
roberto gomes
rogério bettoni
rosa freire d'aguiar
salma tannus muchail
sandra biondo
saulo von randow jr.
sergio flaksman
sheyla barretto de carvalho
solange ribeiro de oliveira
suellen pareico
sérgio bath
sérgio pachá
tatiana miranda
vera pereira
vera ribeiro
virna teixeira
wladir dupont
zahidé lupinacci muzart
imagem: www.sublackwell.co.uk
leila v. b. gouvêa, vera pedroso, isabel sequeira, maria irene szmrecsányi, tamás
szmrecsányi, antônio pinto de carvalho, ricardo iglésias, éverton ralph, joão
baptista de mello e souza, eça de queiroz, adolfo casais monteiro, sodré viana,
neide smolka, paulo m. oliveira, blásio demétrio, fernando de aguiar, maria
francisca ferreira de lima, maria helena rocha pereira, sarmento de beires, josé
duarte, margarida garrido esteves, luísa derouet, rodrigo richter, artur morão,
olinda gomes fernandes, joaquim machado, octany silveira da mota, silvio meira,
cunha medeiros, natália nunes, de souza fernandes, suely bastos, ivan
emilianovitch schawirin (contrafação), marcílio marques moreira (contrafação),
jaime bruna, líbero rangel de andrade, carlos chaves, sérgio milliet, moacyr
werneck de castro, josé augusto drummond, luiz costa lima, joão paulo monteiro,
ymaly salem chammas, sylvio deutsch.
imagem: http://grandarcanum.blogspot.com
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juan gonçalves
leonardo codignoto
leopoldo holzbach
marcellin talbot
maria cristina f. da silva
mirtes ugeda (mirtes coscodai)
nikko bushido
pedro h. berwick
pietro nassetti
roberto domênico proença
roberto nunes whitaker
roberto valeriano
rodolfo schaefer
silvana laplace
a agência minerva publica uma segunda edição em 1941 e uma terceira em 1946, com o
apêndice "em defesa de 'lady chatterley'". em 1956 o título reaparece na
civilização brasileira, onde segue sua carreira por algumas décadas. é apenas em
1959 que se acrescenta o nome "rodrigo richter" como tradutor, o qual se mantém
até hoje, no catálogo da record.
acho o caso ainda mais interessante. trata-se de uma tradução que vem desde 1938,
tendo portanto completado 70 anos de existência.
quanto ao verdadeiro tradutor, que se manteve anônimo por vinte anos, não posso
afirmar nada. rodrigo richter pode ser um pseudônimo, pode ser um nome emprestado,
pode ser alguém de verdade. isso, decerto, a record há de saber melhor do que eu.
quanto à sua edição inicial em 1938, o curioso é que foi publicada pela agência
minerva. em seu reduzidíssimo catálogo, constam na mesma época a publicação de um
livro de l. bertrand, a maçonaria, seita judaica: suas origens, sagacidade e
finalidades anticristãs (1938), em alardeada tradução do integralista e anti-
semita gustavo barroso, e o famosíssimo os protocolos dos sábios de sião (1936),
anotado, comentado e "apostilado" também por gustavo barroso.
na mesma década de 1930, gustavo barroso publicou várias obras pela civilização
brasileira, pela nacional e pela brasiliana (as colunas do templo; brasil, colônia
de banqueiros; judaísmo, maçonaria e comunismo; a história secreta do brasil em 3
vols.; história militar do brasil). até os anos 1950 fazia parte do quadro de
sócios da ed. civilização brasileira.
a curiosidade que fica é como, em primeiro lugar, a agência minerva teria decidido
publicar em seu microcatálogo um título decididamente polêmico, ao lado de peças
de propaganda anti-semita traduzidas ou "apostiladas" pelo mais ruidoso e profícuo
ideólogo integralista do país.
tanto mais fortes razões, a meu ver, para que a record proteja esse patrimônio,
sob sua guarda e responsabilidade, contra a sanha dos bandoleiros claretianos e
outros quaisquer.
até 2009!
ainda nas sarjetas. como disse, não que isso acrescente muita coisa, só dá um
certo colorido.
pois vejam o que ela anunciava em seu release e o que fato aconteceu (sem falar
dos plágios, apenas das trapalhadas na grande imprensa) - repito, o release foi
publicado depois do lançamento dos primeiros volumes, quando seria de se supor que
a coleção já estaria definida:
o ponto é que nem a própria equipe da dona janice parecia saber o que estava
fazendo. a questão era só financeira, no maior improviso de revirar os baús
herdados. então montaram um release todo atrapalhado, meio à balda, com
atribuições aleatórias dos créditos - depois que a coleção já havia sido lançada.
tipo, nóis fais e depois vê o que é que vira. este é o conceito cultural de
democratização cultural da nova cultural e do instituto ecofuturo. vixe, é cultura
demais para meu caminhãozinho!
* de novo agradeço ao anônimo colaborador do blog a adequada alcunha.
imagens: till eulenspiegel, www. erich_hat_jetzt_zeit.de
não que faça muita diferença, mas vão aí uns rudimentos sobre a construção de
"pseudônimos".
começa assim: a cova cultural* resolve publicar a toque de caixa uma coleção
tirada do baú, "obras-primas", um monstrengo montado a partir de vários pedaços de
coleções anteriores da abril cultural, com o patrocínio da suzano celulose
bancando 50% da edição.
ela descobre que não detém os direitos de publicação de boa parte dos títulos, mas
não vai se deixar desacorçoar por um detalhe desses. fácil, é só trocar os nomes
dos verdadeiros tradutores por outros nomes, alguns de gente de verdade, outros
inventados. afinal, que diferença faz... (isso me lembra o que me contaram do
claret num encontro que ele teve com uma das inúmeras editoras lesadas: "ué, mas
por que tanta história? é só uma tradução, é tudo a mesma coisa!")
aí dona janice resolve pular o nome da tradutora natália nunes no quarto volume, e
no quinto volume ressurge o mesmo fábio m. alberti, agora em cyrano de bergerac.
todos hão de convir que não são as obras mais banais do mundo, e que o tal fábio
foi trêfego e ligeirinho em abocanhar essas iguarias.
[em tempo, o m. é de "maximiliano": fábio maximiliano alberti.]
é então que tiram do chapéu um tal "alberto maximiliano" para ornar o volume de
goethe nas obras-primas cova-culturais. em vista do exposto acima, a fonte de
inspiração dispensa maiores esclarecimentos.
uma outra solução, mais indireta, mas também mais zombeteira, foi a que a
divertida trupe deu ao sumiço de rui cabeçadas nos créditos de tradução de o
leopardo: criou-se o espectral leonardo codignoto. o processo mental não é difícil
de acompanhar, mas é como uma piada: se explicar, perde a graça, e o leitor
certamente entenderá a composição do trocadilho.
aí, por mero acaso, você sabe que um ator chamado vic tayback fez em 1971 um filme
de horror chamado blood and lace, onde representava o papel de um detetive chamado
"calvin carruthers". e sabe também que no último filme do tayback antes de morrer,
em 1990, seu personagem se chamava george samsa. (quem gostar dessas curiosidades,
pode ver a filmografia dele.) aqui o processo mental da turminha covaculturaliana
é mais elaborado, com uma triangulação das referências, mas nada muito complicado.
o complicado é o despudor com que se exibe o prazer pelo escárnio.
a clara sensação que a gente tem é de uma criançada pintando o diabo a quatro e
achando suas molecagens muito espertas e engraçadas. o problema é quando as
pequenas travessuras se põem a serviço de uma prática editorial desonesta, que
atinge milhões de pessoas. aí perdem qualquer graça.
versão claret até setembro de 2008: assumo tudo, corrijo tudo, faço os
ressarcimentos que forem necessários.
versão claret depois de novembro de 2008: a culpa toda é de alguém que trabalhou
na empresa dez anos atrás.
ateus, cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, o que for: paz na terra aos homens
de boa vontade ainda é a mensagem mais forte que conheço, e este é meu voto a
todos.
- luiz costa lima recebe sua indenização da nova (in)cultural pelo plágio de o
vermelho e o negro, de stendhal, vergonhosamente copiado e atribuído a uma tal
"maria cristina f. da silva";
- dr. marco túlio de barros e castro, advogado que atuou neste caso, avisa que
está para sair na grande imprensa a errata e retratação pública da nova
(in)cultural nesta espoliação a luiz costa lima;
- ângela xavier de brito declara que tão logo venha ao brasil tomará as
providências judiciais em defesa da obra de seu avô, carlos porto carreiro,
brutalmente espoliado pela nova (in)cultural no plágio de cyrano de bergerac;
- liliane mendes cajado afirma andamento para processar os crimes cometidos pela
nova (in)cultural contra a memória de seu falecido marido, octavio mendes cajado,
em tom jones e os três mosqueteiros, em plágios em que a nova (in)cultural atribui
as traduções respectivamente a um tal "jorge pádua conceição" e à tal "mirtes
ugeda coscodai";
- o advogado dr. andré meira declara estar atendendo à necessidade de uma atitude
urgente em resolver o saque perpetrado contra seu avô, silvio meira,
criminosamente espoliado pela nova (in)cultural em sua tradução de fausto;
- oscar mendes tem seus direitos morais defendidos pela editora globo na
espoliação que sofreu em sua tradução o morro dos ventos uivantes;
- joão paulo monteiro toma providências para pôr cobro ao despudorado plágio de
sua tradução de o leviatã perpetrado pela martin claret;
- joão paulo monteiro declara que tomará providências judiciais pela apropriação
criminosa praticada pela martin claret da tradução de o desespero humano, feita
por seu pai adolfo casais monteiro;
- a editora l&pm entra com ação cautelar contra a nova (in)cultural por contrato
fraudulento em que lhe vendeu criminosamente traduções plagiadas: a divina comédia
e a mulher de trinta anos;
- a editora l&pm declara estar finalizando o acerto das indenizações por danos
morais e materiais em acordo extra-judicial com a nova (in)cultural por contrato
de venda criminosa de plágios, acima citados;
- a editora globo entra com ação contra a nova (in)cultural por apropriação
criminosa de cinco traduções, por danos morais e materiais, e na fase inicial de
notificação extra-judicial demonstra-se insatisfeita com a posição da notificada,
reservando-se o direito de dar andamento às providências que considerar
necessárias;
a todos os que não gostam de plágio, um pouco das cores e luzes de matisse.
em termos muito despretensiosos, acho que há umas coisas que merecem atenção nessa
tradução de o amante de lady chatterley em nome de rodrigo richter.
pois vejam: o livro saiu por umas 10 editoras diferentes no brasil, desde 1941 até
a data de hoje (mas as traduções são poucas; o que há são vários casos de licença
de publicação). desde que foi publicado pela primeira vez na itália, em 1928, lady
chatterley's lover (na versão final de lawrence, a chamada "terceira versão") foi
proibido pela censura britânica, sendo publicado em outros países, mas na
inglaterra circulando ou clandestinamente ou numa versão "expurgada" durante 30
anos. em 1959, num julgamento nos estados unidos, a suprema corte liberou a edição
da obra integral no país, abrindo a brecha para novo julgamento na inglaterra,
onde foi liberada em 1960.
em 1964, 1966, 1972, 1982 continuam saindo edições pela civilização, sempre em
nome de rodrigo richter, como tradução do original integral. ela também aparece em
1972 como o 33o. volume da coleção "imortais da literatura universal", da abril
cultural. mais tarde, essa tradução em nome de rodrigo richter passa a ser
publicada pela companhia editora nacional, com edições em 1974, 1977, 1980 e 1985.
(deve ter mais alguma que não localizei, pois em meu exemplar de 1980 consta "4a.
edição".)
e aí segue-se um lapso bastante longo, 22 anos, até ser relançada em 2007, desta
vez em formato pocket na coleção de bolso da record.
a meu ver, há aí um ponto interessante: trata-se de uma tradução com mais de 50
anos de idade, circulando em sucessivas reedições até o presente. mesmo não sendo
propriamente um primor, de certa forma tem resistido ao teste do tempo e continua
a cativar leitores.
em 2005, o sr. martin claret lança o amante de lady chatterley, em circulação até
hoje. trata-se de cópia literal, integral e "inexpurgada" da tradução em nome de
rodrigo richter.
assim, richter tem seu venerando périplo, iniciado cinco décadas antes,
subitamente interrompido por um bandoleiro, mas prossegue sua jornada e chega à
record. a resposta da record, ao ser avisada do saque, está no post e isso, é
certo?, acima indicado.
então juntem tudo isso: um livro que, sob vários aspectos, é um marco da
literatura mundial, passa 30 anos censurado, é editado no brasil em sua versão
integral antes mesmo de cair a censura, essa tradução completa se mantém até hoje,
com meio século de movimentada existência nas costas, incluindo até uma grosseira
espoliação - a gente sente uma espécie de densidade nessa trajetória, que acho
interessante e, quem sabe, importante de ser lembrada e resgatada.
pena que hoje em dia essa tradução esteja nas mãos de uma editora que parece não
dar um figo seco pela memória cultural do país e nem se mexe para defender um
patrimônio intelectual que está sob sua guarda e responsabilidade. enquanto isso,
o nome de rodrigo richter continua entre as vítimas arroladas na lista deste blog.
[em tempo: tive muita dificuldade em localizar maiores referências sobre a pessoa
de rodrigo richter. até comecei a pensar que podia ser um nom de plume, mais do
que compreensível em vista das circunstâncias. mas às vezes pode ser também um
daqueles segredos de polichinelo que só a tonta aqui não sabe... ]
hoje faz um ano que foi criado o assinado-tradutores. por razões que não vêm ao
caso, afastei-me dele uns três meses atrás, e há cerca de dois meses ele fechou
seu acesso ao público.
mas hoje não é disso que quero falar. acho bonito e importante lembrar as coisas:
enquanto elas existem, a gente trabalha, cuida, vai fazendo, vai acompanhando -
isso com tudo na vida, a meu ver. quando elas deixam de existir, não podem ser
esquecidas.
então quero registrar aqui meu respeito pelo trabalho, atenção e cuidado que
tantas pessoas dedicaram à luta contra o plágio naquele fórum. desde os quase 560
signatários do abaixo-assinado contra as fraudes editoriais, as centenas de apoios
recebidos, o administrador fábio said, até as várias pessoas que se envolveram no
trabalho concreto e diário na defesa de nosso patrimônio literário e cultural:
saulo randow jr., ivo barroso, robert finnegan, mônica martins, jorio dauster,
federico carotti, mauro gama e outros mais, pesquisando, cotejando, divulgando,
amarrando contatos, angariando apoios, ligando, escrevendo, dando depoimentos na
imprensa, correndo atrás das coisas.
foi de fato um trabalho coletivo num blog coletivo em prol de uma causa coletiva.
assim, muito me espanta o seguinte caso. entro em contato com a editora record e
digo:
"Nossa empresa não firmou qualquer acordo de co-edição com as editoras mencionadas
em seus emails e desconhece a utilização de nossos textos por essas editoras;
[a outra editora era a best-seller, quando pertencia à c.l.c., dona da nova
cultural]
Nossa empresa aguardará qualquer iniciativa dos interessados diretos, os
tradutores dessas obras, que são os titulares dos eventuais direitos, na forma da
lei."
deplorável constatar que não é assim que pensa nem se comporta um dos maiores
grupos editoriais do país.
pois consta de fonte segura que a pretensa editora recebeu um comunicado dos
organizadores, participando-lhe que não poderia integrar esta décima edição da
feira do livro na usp.
(só para lembrar: em setembro, na feira da anpuh/usp, também com o apoio da edusp,
não tinha sido bem assim)
que ninguém entenda isso como troça ou escárnio - pelo contrário, é muito sério.
quero apenas mostrar a infiltração insidiosa e descontrolada da delinquência
intelectual que está ocorrendo em nossas melhores instituições de ensino, vítimas
da irresponsabilidade venal e criminosa de algumas editoras.
vou dar um último exemplo da presença da claret, agora na mais famosa universidade
pública do país.
pietro nassetti se faz presente na referida tese com sua "recente tradução para o
português" (2003), porque, segundo o autor, embora não goze do crédito de outras
traduções mais reputadas, por vezes oferece "soluções bastante interessantes".
bom, essa suposta tradução de nassetti da poética de aristóteles, até onde sei, é
uma apropriação da tradução feita por antonio pinto de carvalho a partir da versão
francesa art rhétorique et art poétique, de jean voilquin e jean capelle, pela
garnier, 1944. a tradução de antonio pinto de carvalho foi publicada pela difel em
1958, teve várias edições até 1964, e desde então tem sido constantemente
reeditada pela tecnoprint e ediouro.
de mais a mais, não é que antonio pinto de carvalho fosse propriamente um lépido e
saltitante tradutor trafegando entre pinóquio, frankenstein, werther, quincas
borba, as flores do mal etc., pois preferia trabalhar especificamente com
traduções na área de filosofia. admira-me que tenha sido ignorado ou preterido em
favor de uma abominável ficção.
repito a pergunta feita na vulpina alma: não se pesquisam os materiais de trabalho
neste país? provavelmente a resposta será a mesma, e acho que os gregos tinham
razão - é pelo letes que se chega ao hades.
imagem: www.virtualformaturas.com.br
a ironia - que neste caso, infelizmente, não poderia deixar de ser barata - é a
implícita paráfr ase claretiana sobre um suposto direito de plagiar por amor ao
bolso e desamor à humanidade.
todos sabem que a claret não é amiga dos direitos autorais, e não é muito fã do
respeito pelos leitores. isso significa que ela trabalha basicamente com obras
cujos originais caíram em domínio público, mas não se importa muito com as
traduções (que na grandíssima maioria dos casos não estão em domínio público - daí
a mutreta de copiá-las e tascar um nome qualquer, para burlar a legislação,
economizar lá seus tostões e cultivar a ignorância do leitor).
bom, mas HÁ casos também de várias traduções em domínio público: por exemplo, as
traduções feitas por bocage, por machado de assis, por eça de queiroz, por odorico
mendes, pelos viscondes de castilho e azevedo, e por aí afora.
a tradução que eça de queiroz fez de as minas do rei salomão, que também está em
domínio público faz quase 40 anos, continua circulando até hoje, pela claret, em
nome de jean melville. igualmente insólito e de tremenda má-fé é o caso da
tradução da ilíada, outro grande clássico das traduções em língua portuguesa, da
lavra do maranhense manuel odorico mendes (1799-1864), e que circulou pela claret
em nome de alex marins até data recente, quando o senhorzinho por alguma razão
qualquer mandou a turminha dele devolver o crédito ao espoliado odorico.
e tem que a martin claret, através de licitações públicas, abastece escolas com
seus despautérios. será que ela acha mesmo que não faz mal plagiar, e que decerto
tanto faz para os aluninhos, para o ensino público (e privado), se a tradução é de
A ou B? será que ela acha que os professores sabem das falcatruas, e que eles
também dão de ombros?
mas me digam, sinceramente: desse jeito como é que alguém vai poder reclamar que
nossos alunos têm formação fraca, insuficiente, e chegam à universidade com
enormes lacunas? pois se as letras, o trabalho intelectual, a existência de um
imenso mundo histórico-cultural parecem estar se tornando conceitos meio abstratos
e antiquados?
bom, mas por que haveriam de pesquisar? pois se o que os alunos de primeiro e
segundo grau lêem na escola, tanto faz se foi traduzido por eça ou nassetti,
lobato ou jean melville, schnaiderman ou marins... e quando essa meninada cresce e
vai à faculdade, como é que vai saber que existe uma bagagem, uma tradição, uma
história das letras nacionais que passa pelas traduções, se não aprendeu isso na
escola? e nesse meio tempo quantos anos esses jovens passaram lendo os "livros-
clipping" da claret, entre a puberdade e a idade adulta, no segundo grau e na
faculdade?
sr. claret, não tenho palavras para expressar meus sentimentos em relação à sua
imensa e contínua contribuição para a desmemória e incultura nacional. cabem-lhe à
luva as palavras homéricas [na tradução de odorico] que dão título a este post.
tenho certeza de que muita gente se entristece - de minha parte quase choro.
imagem: www.afleurdepeau.com
aí nunca mais ouvi falar nada. tive uma notícia aqui, outra ali, sobre acordos da
claret com editora lesada, de retirada de títulos fraudados etc. (que na época
divulguei no antigo blog assinado-tradutores).
agora fui informada nestes últimos dias que a negociação se interrompeu e que a
objetiva desistiu da compra. talvez a razão tenha sido o desgaste da imagem da
claret. eu, de minha parte, como humilde cidadã preocupada com o tremendo lesa-
patrimônio intelectual e torcendo pela integridade editorial neste país, acho que
a razão mais forte deveria ser, não o desgaste da imagem - que, aliás, não é
gratuito nem se deu por acaso ,- e sim o catálogo tão profundamente bichado da
martin claret. já pensaram que encrenca seria a objetiva arrumar tudo aquilo?!
então, para concluir, parece que a imprensa "descontinuou" a notícia simplesmente
porque a negociação não se consumou.
fnac:
cultura:
DISCURSO DO METODO MEDITAÇOES
Coleção: A OBRA PRIMA DE CADA AUTOR
Autor: DESCARTES, RENE
Editora: MARTIN CLARET
cultura:
DISCURSO DO METODO/REGRAS PARA DIREÇAO DO ESPIRITO
Coleção: OBRA-PRIMA DE CADA AUTOR
Autor: DESCARTES, RENE
Editora: MARTIN CLARET
travessa:
começa que, no meu mundo, até prova em contrário as pessoas falam a verdade e
existe algo chamado boa-fé.
pois é, começa por aí. então continua que não vi a nova edição, não conheço o sr.
paulo sérgio brandão, não encontrei nenhuma referência no google a traduções suas,
a não ser o próprio elogio da loucura da mc, mas confiei e continuo a confiar que
se trata de uma tradução legítima. quanto à qualidade e méritos do referido
trabalho de tradução, não compete a mim avaliá-los, e sim aos conhecedores e
estudiosos da obra de erasmo. mas todos sempre torcemos pelo melhor, claro, e
ninguém gosta de ver circo pegar fogo.
mas aí, como sou meio meticulosa e gosto de saber onde estou pisando, fui passear
por algumas livrarias virtuais. comecei pela fnac, e tomei um susto:
ELOGIO DA LOUCURA
ERASMO DE ROTTERDAM
MARTIN CLARET
ISBN: 8572324046 [pois este isbn é o do plágio; a nova ed. é a 754-1]
então fui para a livraria da travessa, e pimba:
DADOS DO PRODUTO
TÍTULO: ELOGIO DA LOUCURA
ISBN: 8572324046
IDIOMA: Português.
ENCADERNAÇÃO: Brochura Formato: 11,5 x 18 126 págs.
COLEÇÃO: A OBRA-PRIMA DE CADA AUTOR
ANO EDIÇÃO: 2000
AUTOR: Erasmo de Rotterdam
bom, aí fica fácil, e é meio uma comédia ou, melhor, uma farsa.
acho que não ensinaram ao sr. claret que não dá para ter tudo na vida, e não dá
para servir a dois senhores ao mesmo tempo, nem dá para querer o melhor dos dois
mundos.
ou bem ele faz uma nova edição de verdade, honesta, íntegra, válida e legítima, e
tira de circulação sua tranqueiragem anterior que tanto tem contribuído para a
franca deterioração de qualquer mínimo patamar de decência cultural neste país, ou
bem continua com seu império da fraude próspero e vicejante.
agora, querer faturar dos dois lados, aí complica e sinceramente entendo isso como
dupla fraude.
por outro lado, meu coração fica miudinho, apertadinho, quando vejo, numa olhada
super-rápida no google, teses, artigos, ementas de cursos, acervos de bibliotecas,
concursos, licitações para o elogio da loucura daquele nassetti.
será que o sr. claret não podia aproveitar os novos ventos que sopram em sua
editora e começar a repor os exemplares fraudados por exemplares corretos? não
podia aproveitar e se desculpar com os estudantes de graduação e pós-graduação que
usaram essa edição da claret em suas teses e monografias? não podia fazer um
recall geral e errata pública durante três dias em jornais de grande circulação
nacional?
vá fazendo um por um, sr. claret. comece com o elogio da loucura que o sr. já
relançou em 2008 com tradução que parece de verdade - o sr. deve saber quantos
exemplares vendeu das edições anteriores, e nem todo mundo vai se dar ao trabalho
de atender a seu recall. que uns 50% das pessoas façam a troca, e olhe lá - ainda
assim o sr. ficou no lucro, mas pelo menos desfaz o mal que fez, antes tarde do
que nunca. e divulgue errata pública, porque aí as pessoas podem corrigir em seus
exemplares, os professores em suas ementas, os bibliotecários em suas fichas etc.
acaba até ficando bonito para o sr.
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6500&p=2
http://www.lahes.ufjf.br/publicacoes/Coloquio2%20PDF/Daniel%20Eveling%20da%20Silva
.pdf
www.fundamentalpsychopathology.org/8_cong_anais/MR_364c.pdf -
www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=284&class=13 –
www.unioeste.br/prppg/download/pos_nao_iniciados/Esp_cvel_FundEducacao.pdf -
http://www.colegionotredame.com.br/Listas/EM/Lista%20de%20material%203ª%20série%25
2...
www.lle.cce.ufsc.br/congresso/trabalhos_literatura_espanhola/Veronica%20Rangel%20B
arreto.doc
www.portalmedico.org.br/revista/bio11v1/artigo4.2.htm
www.alb.com.br/anais16/sem07pdf/sm07ss10_10.pdf
200.17.209.5:8000/cgi-bin/gw_42_13/chameleon.42.13a?host...ufpr&conf...
www.metodistademinas.edu.br/proreitoriaacademica/pesquisa/P8.doc
www.fiscosoft.com.br/main_index.php?home=home_artigos&m=_&nx_=&viewid=200837
www.unama.br/concurso_publico/provas_gabaritos/provas_tucurui/professor_lingua_por
tuguesa.pdf
www.rsirius.uerj.br/boletim2005/Boletim_9.htm
www.outrostempos.uema.br/curso/adriana.doc
www.intercom.org.br/papers/regionais/sul2007/resumos/R0452-1.pdf
www.portalmedico.org.br/revista/bio11v1/artigo4.pdf
www.alumac.com.br/biblioteca.htm
www.ambito-juridico.com.br/pdf/index.php?id=813&titulo...1
www.biblioteca.ucg.br/acervo/Pesquisa.aspx?ASSUNTO=MEDIEVAL
www.unimeo.com.br/biblioteca/pdf/ref_letras.pdf
publique.rdc.puc-rio.br/revistaalceu/media/alceu_n16_Campos.pdf
renascimento.clio.pro.br/biblioteca.
www.nemed.he.com.br/acervo_doc.htm - ufpr
www.orion.med.br/yogace/ytsbibli.htm
http://www.unicap.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=118
bdtd.bczm.ufrn.br/tedesimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=76
www.cefetmg.br/info/downloads/PrEletronico005.2005LIVROS.pdf
www.projetoradix.com.br/arq_artigo/teses/tesemarcolino.pdf
libdigi.unicamp.br/document/?view=vtls000325452
teses.ufrj.br/ip_d/fatimarochaluizvianna.pdf
bibtede.ufla.br/tede//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=9
http://ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=285
ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1019
coralx.ufsm.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=516
coralx.ufsm.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=515
www.ciencialit.letras.ufrj.br/trabalhos/2007/celiamattos_domquixoteaprocura.pdf
37 livros encontrados para: Editora: martin claret; Titulo: +elogio +da +loucura;
Autor ou titulo: +elogio +da +loucura; 0,0243 segundo, na estantevirtual
o sr. vê: 37 exemplares, é tão pouquinho... mas estão lá. ofereça a troca, ué, por
que não?
imagem: www.recantodossonhos.com.br
e constato que a martin claret começou a reeditar alguns títulos de seu esdrúxulo
catálogo, mas agora com traduções aparentemente verdadeiras.
então, ao que parece, temos disponíveis no mercado novas edições da claret no ano
de 2008, a saber:
- dom quixote em 2 volumes, agora com atribuição correta da tradução dos viscondes
castilho e azevedo, em domínio público, em lugar da inacreditável atribuição a
jean melville no cadastro da fbn, 85-7232-643X;
- elogio da loucura, já comentado em post anterior, agora em tradução de paulo
sérgio brandão, em lugar do plágio perpetrado em cima de paulo m. de oliveira;
- discurso do método e meditações, em tradução de roberto leal ferreira, em lugar
do discurso do método e regras para a direção do espírito em tradução atribuída ao
inefável nassetti.
ok, parece um passo inicial. tímido, insuficiente, mas o que diminui não aumenta.
isto é, se a martin claret diminuir ou parar com os plágios, já é uma boa coisa.
melhor começar do que não começar, certo?
ainda não ok: os leitores que compraram os plágios durante 10 anos; os tradutores
plagiados que não tiveram seus direitos morais restaurados nos plágios desses 10
anos; os lares, escolas e bibliotecas com centenas e centenas e centenas de
milhares desses plágios; as teses, artigos, estudos, matérias, papers,
conferências, ementas escolares, bibliografias para concursos e vestibulares que
usaram, usam e continuarão a usar essas edições anteriores a 2008.*
ainda não ok: os outros quase 200 títulos com plágio ou contrafação que continuam
por aí, belos e formosos.
ainda não ok: o ritmo. a martin claret era bem rápida, até voraz, em lançar um
plágio após o outro, numa sucessão vertiginosa. em 2008 inteiro, só 3
substituições no catálogo? não é meio pouco? nesse ritmo, vão mais uns 60 e tantos
anos...
então acelere aí seu ritmo, sr. claret, que o povo está torcendo e quero começar a
diminuir logo a listinha dos tombados à sanha claretiana e novaculturaliana.
desde 1995, a fundação biblioteca nacional (fbn) entrega anualmente o prêmio paulo
rónai de tradução ao autor da melhor tradução literária do ano, contemplando
também a editora que publicou a obra.
assim, já foram laureados vários nomes que honram nossa listinha de quem não gosta
de plágio: aurora bernardini, ivo barroso, geraldo cavalcanti, marco lucchesi,
mauro gama, leonardo fróes.
além disso, o prêmio paulo rónai pode ser atribuído ao conjunto da obra de
tradução.
para conferir minhas indicações, clique aqui e depois clique em "nome do autor".
na nova tela, preencha o campo com o nome:
foi uma época valente, e valêncio era o respiradouro, valêncio foi o galvanizador.
e talvez seja sina do valêncio que seja lembrado sobretudo pelo seu mez da grippe,
lançado em 1981, e o qual ele próprio ironizava bastante, como uma espécie de
brincadeira ou provocação de enfant terrible meio cansado de uma certa
autocomplacência local.
e talvez seja sina do valêncio que seu fulgor, seu carisma, sua coragem em ser
antipático quando precisava, sua coragem em apostar em causas azarãs, só consigam
ainda cintilar genuinamente em alguns raros anais.
mas talvez possa vir algum memorialista, algum historiador da cultura, algum
poeta, e seja capaz de recompor seu papel de aglutinador, a liderança cultural, a
tremenda e desgastante luta que ele manteve durante 13 anos à frente da
cinemateca, debatendo-se entre a burocracia, a falta de verba, as críticas sempre
onipresentes, as rivalidades e pequenos estrelismos da província - e mesmo assim
conseguindo criar e manter o espaço cultural mais moderno, mais aberto, mais
dinâmico, mais antenado com o mundo que curitiba já teve.
faz parte de minha lista de agradecimentos à vida que eu tenha tido o privilégio
de compartilhar tangencialmente algum tempo e algum espaço por onde esteve
valêncio xavier.
onde está escrito "pietro nassetti", leia-se "leonel vallandro" (ed. globo/mec).
imagem: www.erich-hat-jetzt-zeit.de
imagem: http://www.lloydgomez.com/
refiro-me à ed. 85-7232-404-6.*
* "alex marins" no exemplar físico que tenho em mãos, mas cadastrada na fbn/isbn
em nome de pietro wassetti, sic.
* já não tão divertido, talvez, é que as respostas existam, com chancela oficial e
tudo.
neste ano de pesquisas, conversei com muita gente: editores, livreiros, entidades
públicas, entidades privadas, associações diversas, tradutores, herdeiros.
quanto aos tradutores lesados ainda vivos ou aos herdeiros, os contatos possíveis
já foram feitos. o que fizeram, fazem ou farão a respeito cabe ou coube a eles
decidir.
pessoalmente não pretendo voltar a este ponto. continuarei a avisar editoras e
tradutores/descendentes sempre que tiver conhecimento de alguma irregularidade.
por ora, gostaria apenas de colocar minha opinião frente à reação de indiferença
por parte de alguns deles:
o que um "herdeiro" herda não são "direitos", não é o "direito" de dar de ombros.
o que ele herda é acima de tudo um dever - o de zelar pelo que lhe foi legado, a
defesa da memória.
acho que é meio por isso que insisto tanto nessa história dos plágios: como
brasileira, também me sinto herdeira, ainda que em minúscula parcela, do
patrimônio intelectual do país, e acho que a gente tem, sim, que cuidar dele.
a tradução de hernâni donato, mais do que uma tradução, é uma vasta recriação
digamos "parnasiana" dos versos tersos e enxutos de dante. é uma bela obra que
chega quase a constituir uma obra originária de direito próprio, tão afastada
está, em estrutura, estilo e léxico, da divina comedia italiana. assim, eventuais
diferenças de termos na suposta tradução de fábio alberti não passam de tentativas
cosméticas de disfarçar a cópia.
esta fraude já foi admitida pela ed. nova (in)cultural, que retirou o livro de
catálogo e está indenizando a editora l&pm por lhe ter cedido essa pseudotradução
num contrato de sublicenciamento de direitos.
resta o problema das centenas de milhares de exemplares da divina comédia
fraudada, que se encontram em lares, escolas e bibliotecas, e que, a meu ver,
teriam de ser substituídos num vasto recall por iniciativa da empresa responsável
pelo delito e de sua parceira suzano celulose.
imagem: http://gfxb.smpgfx.com/Look-Inside/covers/2888778.jpg
hoje criei uma outra, que é uma listinha com vários livros e seus respectivos
supostos pretensos ditos alegados tradutores.
"É inacreditável que nada ainda de efetivo tenha sido feito pelo Ministério
Público contra a Nova Cultural e a Martin Claret, empresas descaradamente
criminosas."
também acho inacreditável. mas me recuso a me dar por vencida, e por isso ainda
estamos aqui, certo? então, sr. ministério público, vamos nos mexer?
em todo caso, achei que seria um bom final de domingo e que ilustra bem a
devastação - mas, ao contrário do michael stipes, EU don't feel fine ;-)
Six o'clock - TV hour. Don't get caught in foreign tower. Slash and burn,
return, listen to yourself churn. Lock him in uniform and book burning,
blood letting. Every motive escalate. Automotive incinerate. Light a candle,
light a motive. Step down, step down. Watch a heel crush, crush. Uh oh,
this means no fear - cavalier. Renegade and steer clear! A tournament,
a tournament, a tournament of lies. Offer me solutions, offer me alternatives
and I decline.
The other night I tripped a nice continental drift divide. Mount St. Edelite.
Leonard Bernstein. Leonid Breshnev, Lenny Bruce and Lester Bangs.
Birthday party, cheesecake, jelly bean, boom! You symbiotic, patriotic,
slam, but neck, right? Right.
como sempre, matisse, à vontade na cor e na forma, como um grande tradutor entre
as palavras
se eu puder opinar, e sem querer desfazer de vários outros aspectos envolvidos no
problema do plágio como prática editorial sistemática, concordo com francis h.
aubert quando ele diz, em comentário deixado aqui no blog:
"O que mais incomoda no plágio é o apagamento, a tabula rasa que faz do esforço,
da dedicação, da perseverança do plagiado. Gera uma falsidade não apenas pessoal,
mas histórica, que assim perde sua credibilidade."
pois como alguém pode ler essa frase tão bonita, tão à vontade em nossa língua:
"Nos montes de Seeonee, ali pelas sete horas daquele dia tão quente, Pai Lobo
despertava do seu longo sono, espreguiçava-se, bocejava e estirava as pernas para
espantar a lombeira entorpecente."
ou:
"Os menores rumores nas ervas, o movimento das brisas, as notas do canto da
coruja, cada arranhadura que a garra dos morcegos deixa na casca das árvores onde
se penduram por um momento, a lambada n'água de cada peixinho ao dar pulos na
superfície - tudo significa muito para os animais da floresta."
como acreditar que isso tenha sido escrito por um fantasma pavoroso, um ectoplasma
apodrecido, chamado alex marins, numa das mais indecentes editoras deste país,
martin claret?
antésima como sou nas técnicas bloguísticas, devo ter feito alguma coisa que
desabilitou o campo dos comentários por um tempão.
mas hoje, finalmente, consegui descobrir onde estava o problema (que se revelou,
claro, absolutamente trivial). então fiquei toda feliz, e catei no outlook várias
mensagens e comentários que tinham sido decapitados e juntei todos na explicação
dada na época do sumiço. foi muito legal rever tanta força, simpatia e gentileza
de tanta gente que não gosta de plágio.
imagem: osentidodascoisas.blogspot.com
que legal! amanhã, na primavera dos livros da libre, vai ter no palácio do catete
uma mesa-redonda sobre tradução literária e a formação cultural no brasil.
turminha maravilhosa: gente que não gosta de plágio, colegas muito queridos -
celina portocarrero, marco lucchesi, oséias silas ferraz (leia-se crisálida, como
moderador) e sérgio molina.
3. não faziam parte da coleção dos imortais da abril: a mulher de trinta anos, as
três irmãs, conto de duas cidades e mulheres apaixonadas. de qualquer maneira, à
exceção de conto de duas cidades, os outros 3 tinham sido publicados em outras
coleções da abril cultural: "grandes romancistas" e "teatro vivo".
11. quanto aos 4 títulos da nova cultural que não constavam na coleção anterior da
abril cultural, 2 retomam as mesmas traduções anteriores de outras coleções da
abril (as três irmãs e mulheres apaixonadas)
* esta edição do dorian gray inaugura o capítulo das trapalhadas da nova cultural:
na página de rosto consta o crédito de tradução a maria cristina f. da silva, mas
no verso da própria página de rosto da mesma edição, a tradução é atribuída a
enrico corvisieri. quem chamou a atenção para essa trapalhada foi marcelo bueno de
paula.
essa suposta tradução de enrico corvisieri, porém, era uma cópia praticamente
literal, apenas com uma ou outra troca de palavras da tradução anterior de natália
nunes e oscar mendes.
o engraçado é que as duas edições, uma com dados corretos, outra com dados
fraudados, são publicadas pela mesma empresa no mesmo ano.
o triste é que, até onde vão minhas pesquisas, está aí o plágio que inaugurou a
próspera carreira de fraudes da nova cultural que se prolonga há mais de uma
década.
mal decorrida uma geração após o lançamento da coleção da abril e mal passados
cinco anos da morte de victor civita, a nova cultural começou a implantação da
galeria de seus fantasmas tradutórios que até hoje continuam a assombrar o país.
ficou que ela estava embarcando para a feira de frankfurt dentro de dois dias e
que após o término da feira ela ligaria para combinarmos um encontro. eu: "sim,
sim, claro", porque era evidente que ela estava apenas marcando presença e não
tinha a menor intenção de comentar coisa alguma sobre as providências que a nova
cultural tomaria (ou NÃO tomaria) quanto a suas gigantescas fraudes na coleção
obras-primas.
claro que a feira terminou acho que faz quase um mês, nem lembrei mais da moça,
pois era evidente que era só conversa para boi dormir, e hoje me liga ela - "ah,
estou dando retorno, pois vc me pediu a posição da nc etc. etc.".
em suma, acho que ficamos uns 40 minutos, sempre aquelas absurdidades, frases
feitas, cinismo calejado, ela insistindo em encontro pessoal para ouvir o que eu
tinha a dizer. tentei explicar que EU não tinha nada a dizer, ELES é que deviam
ter algo a dizer. ao que christiane tentou me explicar longamente que é tudo muito
difícil, trabalhoso, demorado (aliás, todo o tom da coisa tinha um ar ... assim,
como dizer ... um pouco cafajeste, mas que seja - afinal, a moça é apenas uma
funcionária, e certamente estava apenas executando ordens de escalão mais
gabaritado em cafajestice.)
outro ponto: enfatizei muito que questão de editora lesada e tradutor plagiado não
era comigo, isso eles que vissem ou deixassem de ver com os devidos interessados,
e que meu escarcéu era em relação ao patrimônio cultural dilapidado e à má-fé da
nova cultural contra o leitor - ou seja, ministério público e lei do consumidor em
defesa dos bens culturais do país.
ela então pediu uma proposta, e dei a mesma de sempre: errata pública durante 3
dias nos jornais de grande circulação no país, recall geral dos exemplares
vendidos e reposição das fraudes com obras devidamente creditadas a seus
verdadeiros tradutores. ela ficou de passar minha posição para a "presidência" e a
"diretoria" da empresa, e manifestou seu ceticismo a respeito. trocamos saudações
e ponto final.
assim vão se costurando os pontos: consultei várias vezes, por telefone e e-mail,
os principais envolvidos, publiquei mais de 500 posts no assassinado assinado-
tradutores, apresentei cotejos exaustivos etc. etc.
por outro lado, a nova cultural está nesse siricotico de tentar entender o que
está rolando ou vai rolar concretamente contra eles. fui clara, e disse com todas
as letras.
então as partes estão cientes, e ninguém vai poder dizer que foi pego de surpresa.
http://caquiscaidos.blogspot.com/2008/11/sem-poesia-no-sbado.html
solidariedade às amigas adriana lisboa e celina portocarrero, torcendo para que
tudo saia pelo melhor.
para quem está acompanhando as discussões sobre a lei do direito autoral 9610/98,
no fórum nacional do direito autoral, minc, houve hoje uma atualização no blog do
minc, sobre o seminário de final de outubro, que contou com a participação dos
tradutores e apresentação de uma pauta de sugestões:
http://www.cultura.gov.br/blogs/direito_autoral/?p=44#more-44
ora, em julho de 2008 (quer dizer, nada tão antediluviano assim), a revista piauí
tinha publicado um longo artigo do saudoso jornalista e chefe de checagem adam sun
mencionando justamente essa edição da jardim dos livros: "o pega-pega da arte da
guerra".
já é um absurdo inaceitável o que fez a jardim dos livros: plágio, prática lesiva
ao consumidor, concorrência desleal, falsidade ideológica etc.
agora, que a publishnews venha comemorar o sucesso da jardim dos livros obtido com
malfeitorias?! um feliz ano?! para quem?
a peculiaridade no caso do plágio da madame bovary era que a l&pm também tinha
editado exatamente o mesmo plágio da nova cultural/ecofuturo em nome de "enrico
corvisieri". contatada pelo repórter da folha de s.paulo, a l&pm declarou que
tinha feito uma permuta de títulos com a nova cultural. sentindo-se lesada em sua
boa-fé, por ter sublicenciado traduções legítimas suas em troca de traduções
falsificadas da nova cultural/ecofuturo, a editora entrou com uma ação judicial
contra a espertinha.
saldo positivo não houve, não para as pessoas e empresas de bem. talvez para os
malfeitores. foi um desgaste e uma vergonha. a nova cultural admitiu o crime a
portas fechadas, mas não reparou os danos morais, materiais e culturais que
causou.
mas a l&pm está de parabéns pela forma como conduziu a defesa de sua integridade.
e possam agora os leitores ter acesso a uma nova edição, límpida, boa e honesta. e
possa nosso patrimônio literário traduzido continuar a aumentar com decência e
qualidade.
por que o assinado-tradutores não admite mais acesso público a seu conteúdo?
POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS
10/11/2008
nosso queridíssimo peterso não deixa barato:
http://vermelhocarne.blogspot.com/2008/11/quando-du-know-che-necesita-van-en.html
muito legal.
ASSUNTOS
• abdr (10)
• cotejos (71)
• isbn (40)
• jardim dos livros (19)
• landmark (14)
• livrarias (13)
• martin claret (76)
• melhoramentos (2)
• mídia (30)
• nas escolas (34)
• nova cultural (54)
• palimpsestos (17)
• record (3)
• sapienza (7)
• suzano/ecofuturo (22)
• utilidade pública (78)
• várias bonitezas (33)
• vídeos (9)