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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questdes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagao.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
respondcrcmo
00

<
SUMARIO
r™

"Quando o homem acaba entáo é que comeca" (Eclo 18,7)

Os Grandes Inimigos do Catolicismo

"Enquanto o Diabo Cochila" (D. Monteiro de Lima)

A Igreja e a Escravatura
O
Testemunhas de Jeová e Liberdade Religiosa

Canibalismo na Tradicáo Bíblica?


<

Eubiose: que é?
UJ

"Biblia: Perguntas que o Povo Faz"

ANO XXXIII JANEIRO 1992 35fí


ERGUNTE E RESPONDEREMOS
JANEIRO- 1992
Publicacáo mensal
N9356

Siretor-Responsável:
SUMARIO
Estévao Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia
"Quando o Homom acaba,
publicada neste periódico entío é quo cometa 1

Díretor-Administrador: Entrevista audaz:


Os grandes inimlgos
D. Hildebrando P. Martins OSB
do cstoliciimo , 2

(Vdministracao e distribuicao: Criticas e elogios á Igreja:


EdicSes Lumen Christi "Enqusnto o Diabo cochlla", por
Dom Gerardo, 40 — 5? andar, s/501 Ddlcio Monteiro do Lima 7

Tel.:(021) 291-7122
Mala urna vez:
Caixa Postal 2666 A Igrejo o a Eseravatura 19
20001 - Rio de Janeiro - RJ
Fala urna ex-Te>temunha:
Toitemunhas de Jeovi a '
Llberdade Religiosa 26
Imprsssto « Encsde

Falso alarme:
Canibalismo na Tradicáo
Bíblica? 30

"MARQUESSARA/VA"
Mals urna proposta religiosa:
GRÁFICOS E EDITORES S.A.
Eubiose: que é? 34
Tels.: (0Í1B73-9498 -273-9447

Titulo atraente:
"Biblia: Perguntas que o Povo
faz" por Frei Mauro Straboli .... 41

NO PRÓXIMO NÚMERO:

"O Cristianismo Moreno do Brasil", por E. Hoornaert. - "O Estado do


Vaticano" - Movimento Gnóstico Cristáo Universal. - "1001 Maneiras de
Enriquecer".- Um Santo na Política.

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

ASSINATURA ANUAL (12 números): Cr$ 10.000,00 - Número avulso ou atrasado: Cr$ 1.000,00

Pagamento (á escolha)
1. VALE POSTAL á agencia central dos Correios do Rio de Janeiro em nome de
Edicóes "Lumen Christi" Caixa Postal 2666 - 20001 - Rio de Janeiro - RJ.
2. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edicoes "Lumen Christi" (endereco
ácima).
3. ORDEM DE PAGAMENTO, no BANCO DO BRASIL, conta N? 31.304-1 em nome
do MOSTEIRO DE SAO BENTO. pagável na AGENCIA PRACA MAUÁ/RJ
n? 0435-9. (Enviar xeróx da guia de depósito á nossa administracao. para efeito de
¡dentif¡cacao do pagamento).
ftSS

"QUANDO O HOMEM ACA3


ENTÁO É QUE COMETA...
!fc
(Eclo18,7)

O sabio, na Biblia, referindo-se á grandeza de Oeus, exclama: "Nin-


guóm é capaz de investigar as maravilhas do Senhor. Quando alguém
acaba, entáo é que comeca. e, quando para, fica perplexo" (Eclo 18,6b-7).
O texto é valioso porque lembra ao leitor o fio condutor da sua
existencia na térra: procurar..., procurar incessantemente o.Bem Infinito,
que, em última análise, é o próprio Deus. Nao há como parar nessa busca;
o fim de urna etapa ainda é comeco... comeco de outro segmento. A
Escritura faz ressoar freqüentemente o binomio "procurar e encontrar a
Deus"; cf. Is 51.1; Zc 8,21 s; Os 2,9; 3,4s; 5, 6.15...
Alias, o concertó de "procurar" é espontáneo ao homem, pois toda
criatura senté que os bens visiveis sao insuficientes para preencher suas
capacidades e aspiracóes; toda criatura humana é sequiosa de algo maior
e melhor ou de urna resposta mais cabal para os seus anseios naturais.
Terminamos 1991... Mas nao concluimos nosso curso terrestre; este
se prolonga, oxalá mais experimentado e seguro, em demanda da Meta
Suprema. Quem nao aceita este ritmo e para, "fica perplexo" ou perde o
sentido da vida; os bens passageiros que esta vida oferece, nao satisfazem
plenamente. É, pois, necessário, ter fome e sede... de justica, de santidade.
de perfeicáo (cf. Mt 5,6). Ser obrigado a viver dessa fome e com essa fome
ó incómodo, cansa, mas é penhor de vida e felicidade.
Portanto, tinha razáo o escritor francés ao dizer que o ser humano é
um peregrino..., peregrino do Absoluto. O que dá ánimo ao viandante para
continuar a estrada, é a certeza de que, ultrapassando bens fugazes e
ilusorios, chegará ao Bem Absoluto apreendido em vlsáo face-á-face.
Olhando com realismo para o novo ano, verificamos que vem cercado
de Interrogacóes e dúvidas. Apesar de tudo, é "ano da graca de Nosso
Senhor Jesús Cristo", como dizem os antigos; é dom da misericordia divina,
que, de modos diversos, proporciona aos fiéis a ocasiáo de descobrirem
sempre mais a sua presenta latente nos desafios da historia contemporá
nea. Por isto o cristáo nao se atemoriza:

"Nao temas, porque eu te resgatei,


Chamei-te pelo teu nome; tu ós meu.
Quando passares pela agua, estarei contigo,
Quando atravessaros ríos, eles nao te submergiráo,
Quando andares pelo fogo, nao te queimarás,
A chama nao te atingirá".
(Is43,1b-2)
E.B.
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

ANO XXXIII — Na 356 — Janeiro de 1992

Entrevista audaz:

OS GRANDES INEMIGOS DO
CATOLICISMO

Em sintese: O famoso escritor francés Jean Guitton faz algumas


observacóes sobre o Papa, a Igreja e os católicos. Explica por que Joáo
Paulo II muito fala sobre direitos humanos; ele o faz porque este tema
Interessa a toda a humanldade e o Papa se senté devedor de uma palavra
a todos os homens; Isto, porém, nao quer dizer que o Pontífice nao aborda
tambóm assuritos profundamente teológicos e ascético-misticos. — Jean
Guitton termina dizendo que o maior inimlgo do Catolicismo hoje sao os
católicos, desde que nao vivam coerentemente aquilo que professam.
Nesta aflrmacáo exprime importante verdade, de modo que ela desparta
nos católicos a convicgáo de que há necessidade premente de viver
santamente a mensagem do Evangelho, pois os homens de hoje a julgam
pelo comportamento de seus adeptos; blasfemam ou louvam o nome de
Deus e de Jesús Cristo de acordó com o tipo de vivencia dos que se dizem
cristáos.

* * *

Em julho de 1991 o político socialista italiano Cario Martelli repetiu


uma censura que vem fazendo ao Papa Joáo Paulo II: seria um Papa
ilumlnlsta, ou seja, racionalista. O atual Pontífice se distinguirla dos ante
riores por uma forte secularizacjio1 da sua mensagem. Nao só nos meios
que adota, mas também nos valores e ideáis que prega, entre os quais
sobressai a questáo dos direitos humanos, transparecerla o espirito secu-

1 Secularizafio, no caso, quer dizer "laicizado"', perda do cariler religioso.


OS GRANDES INIMIQOS DO CATOLICISMO 3

larizado de Joáo Paulo II, visto que a temática dos direitos humanos está
no ámago do lluminismo.

A imprensa italiana reagiu a tais declarares através dos jomáis


L'Avvonire e II Popólo.

A controversia teve seus ecos em París, na casa do pensador francés


Jean Guitton, já nonagenario, mas muito lúcido; publicou recentemente um
livro assaz comentado com o título Dfeu et la Selence, diálogo com dois
cientistas famosos, que se tornou best-seller. Jean Guitton é o amigo
dos Papas Joáo XXIII, Paulo VI e Joáo Paulo II; foi o único leigo que
Joáo XXIII chamou e investiu para participar da primeira sessáo do
Concilio do Vaticano II. Durante 27 anos teve fácil acesso a Paulo VI,
que o autorizou a revelar diálogos, pensamentos e confidencias de
caráter reservado. Em suma, é um dos grandes intelectuais católicos do
momento.

Jean Guitton foi entrevistado pelo repórter Luigi Amicone, da revista


italiana II Sabato, que publicou o depoimento de J. Guitton em sua edicáo
de 27/07/91, pp. 105. — É o texto da entrevista que vai, a seguir, reprodu-
zido. em traducáo brasileira.

FALA JEAN GUITTON

L. Amicone: "O Vice-Presidente do Conselho de Ministros, o Sr.


Claudio Martelli. afirmou que Joáo Paulo II é o Papa dos direitos humanos.
Por conseguinte. é um Papa iluminista, mais preocupado com os direitos
dos homens do que com os direitos de Deus. Que responde o Sr. a isto?"

J. Guitton: "Respondo que isso nao é novidade. Todos os Papas


sempre foram contestados pela mentalldade mundana. Um Papa nao pode
agradar a todos; também nao pode dizer tudo ao mesmo tempo. Pense no
problema da identidade de Jesús Cristo. Cristo é verdadeiro Deus e verda-
deiro homem. Mas certas vezes o Papa insiste na Divlndade de Cristo;
outras vezes. na sua humanldade. A verdade sempre decorre de idélas
aparentemente contrarias. Pense na educacáo dos filhos: um pal deve
necessariamente ter autoridade, mas tambóm deixar ao menino a sua
liberdade. A verdade é sintética, mas é outrossim complexa. Dizem que o
Papa insiste demals nos direitos humanos e esquece os de Deus? É
acusacáo Injusta e parcial. Quando se considera a conduta do Pontífice e
se reléem atentamente os seus discursos, compreende-se bem como ele
póe Deus infinitamente ácima do homem".
■PERQUNTE E RESPONDEREMOS" 356/1998

L. Amicone: "Por conseguinte, é melhor a fórmula de André Fros-


sard, que ñas colunas do 'L'Express' (ala de Joáo Paulo II como Papa que
reconciliou os direitos do homem com os direitos de Oeus?"

J. Guitton: "Sim; muitas vezes diz-se, e é verdade, que o atual Papa


ó um grande reconciliador; fala a todos os homens, e nao apenas aos
cristáos; é de todos, e nao apenas dos católicos; usa linguagem que todos
os povos podem entender. Isto, porque os homens do nosso tempo nao
creém muito em Deus e, para dizer a verdade, nem no homem créem.

Por que Joáo Paulo II (ala de direitos humanos? Porque este é um


tema compreensrvel a todo o género humano. Isto nao significa que ele
esqueca os direitos de Deus..."

L. Amicone: "O Sr. julga que a intencáo de se voltar para todos os


homens é uma atitude permanente em toda a historia da Igreja ou é uma
peculiaridade do atual Pontificado?"

J. Guitton: "Nao; estou talando de Joáo Paulo II em particular. Antes


do Concilio do Vaticano II, Papas como Sao Pió X ou Pió XI nao se sentiam
peocupados com essa orientacáo pastoral. O seu interesse era, principal-
mente, dogmático. Somonte após o Concilio os Papas comecaram a se
preocupar nao apenas com o ensin amento da verdade como tal, mas
também com a maneira de a ensinar, compreensK/el a todos os homens.
E, já que hoje a humanidade inteira é sensivel á questáo dos direitos
humanos, os Papas se tém esforcado por demonstrar claramente que a
Igreja Católica nao é contraria aos principios da liberdade, da igualdade e
da fraternidade. Doutro lado, nao é difícil demonstrar que tudo o que a
Revolucáo Francesa proclamou no mundo intelro, tem as suas raizes na fé
católica."

L. Amicone: "O Sr. disse certa vez: 'O drama da hora presente é que
o Catolicismo val ganhando em extensáo, já nao tem adversarlos, difúnde
se, mas fica a questáo de saber se nao perdeu algo de essencial'. Repetirla
esta sentenca hoje, após as ocorréncias de 1989?"

J. Guitton: "É evidente no mundo inteiro, e especialmente na Franca,


o desaparedmento do anticatolicismo e do anticlericalismo. Vocé pode
passear pelo Quartier Latín de clergyman ou de batina sem ser agredido
ou desprezado, nem mesmo pelos jovens. Creio que na Italia isto também
é evidente; já nao há hostilidade ñas relacoes com a Igreja Católica".

L. Amicone: "Na sua última conversa com o Sr., Paulo VI Ihe exprimiu
a sua preocupacáo dramática com o futuro da Igreja. Dlzla: 'O que me
OS GRANDES INIMIGOS DO CATOLICISMO

Impressiona, quando considero o mundo católico, é que dentro do Catoli


cismo parece as vezes predominar urna mentalidade nao católica, e pode
acontecer que essa mentalidade nao católica no interior do Catolicismo
amanhá se torne preponderante'".

J. Guitton: "Paulo VI era um homem muito inteligente, sagaz e


informado. O mais informado dos Papas que conheci. Nao quero dizer que
Joáo Pauto II nao seja informado, mas Paulo VI tinha ouvidos muito abertos
e estava a par de tudo. Paulo VI recebia informales de dois tipos: as que
referiam os ataques feitos ao Catolicismo no plano da Moral (divorcio,
contracepcáo, aborto), ataques que provinham de fora; além disto, era
informado a respeito das dúvidas, das defeccóes, das suspeitas de Bispos
e sacerdotes. Como se a Igreja tivesse inimigos internos. Paulo VI se
preocupava principalmente com estes últimos. Ás vezes quase chorava.
Falava da "fumaca de Satanás'. Estava evidentemente inquieto..."

L. Amicone: "Qual é, a seu modo de ver, o inimigo da Igreja hoje?"

J. Guitton: "O grande inimigo é que os católicos nao sao santos. Na


Franca quase todos recebem a graca do Batismo. Sao quase todos católi
cos, mas tém costumes detestáveis. Os grandes inimigos do Catolicismo
sao os católicos. Somos todos nos. Se todos os católicos lossem santos,
o Catolicismo triunfaría realmente Mas. ao contrario, nos somos como'
todos os outros"

COMENTANDO...

As palavras de Jean Guitton sao fortes e penetrantes, principalmente


em suas afirmacóes fináis. Sugerem algumas observacóes:

1) É certo que Joáo Paulo II se tem preocupado muito nao só com os


direitos humanos (tema que interessa a todos os homens, e nao só aos
católicos), mas tambóm com as verdades da fé e sua Iransmissáo a todo o
mundo; ten hamos em vista as grandes Encíclicas teológicas de Sua San-
tldade: "Divos in Misericordia" (sobre Deus Pai); "Redemptor Hominis"
(sobre Deus Filho); "Dominum et Vivificantem" (sobre Deus Espirito
Santo); "Redemptoris Mater" (sobre a Máe do Redentor)... Além disto, é
notorio o zelo do Papa pela vida espiritual e a formacáo dos fiéis católicos
em geral. como se depreende de seus escritos e alocucóes aos Bispos, aos
presbíteros, aos Religiosos e ás Religiosas, aos leigos de diversas áreas
6 'PERGUNTEE RESPONDEREMOS" 356/1992

do trabalho e do saber... Ninguém pode seriamente duvldar dos propósitos


religiosos do Pontífice. Dado, poróm, que S. Santldade tem viajado pelo
mundo Intelro, dlriglndo-se aos mals diversificados auditorios, compreen-
de-se que aborde freqüentemente temas menos acentuadamente religio
sos ou de Olrelto natural.

2) Jean Gultton mostra-se otimista quando fala do respeito tributado


á Igreja em diversos lugares antes tidos como anticatólicos ou anticleri-
cals... Nao há dúvlda de que no Brasil a Igreja goza de grande confiabilida-
de; a pesquisa da oplniáo pública, realizada em fevereiro de 1990, revelou
que 82% da populacáo confiam na Igreja, ao passo que o índice favorável
aos empresarios foi de 34%; favoráveis ao Governo Federal foram 29% e
aos políticos 18%. — Todavía nao se pode esquecer o grave perigo que as
seltas é os novos Movlmentos Religiosos acarretam para o Catolicismo,
especialmente nos países latino-americanos. Jean Guitton, na Franca, nao
experimenta de táo perto esta problemática, segundo a qual muita gente
cede á fantasía e ás emocóes religiosas superficlals, sem a firmeza da fé
e de convlccóes esclarecidas...

3) "Os católicos nao sao santos"...- Só Deus pode dizer isto com
seguranca, pois só Ele sonda os coracóes e vé o que no intimo dos homens
existe. É certo, poróm. que há grande número de fiéis católicos a levar urna
vida coerente, corajosa, abnegada e santa. Acontece, porém, que a santi-
dade nao faz estardalhaco (ao contrárlol), ao passo que o mal é alardeado
e divulgado. Como quer que seja, as palavras fináis de Guitton sao de
grande Importancia; vém a ser o ponto alto da sua entrevista e a razáo pela
qual publicamos as suas declaracóes a Lulgl Amicone; Gultton chama a
atencáo dos católicos para a preméncla de dar testemunho lúcido da sua
fé mediante urna vida íntegra. Os homens de hoje julgam o Catolicismo e
o Evangelho multo mals a partir do comportamento dos seus adeptos do
que em funcáo da sua mensagem e pregacáo teórica. A verdade da
Boa-Nova só ó acreditada se transformada em vida e gestos concretos. É
necessárlo, pois, que os católicos, cientos do que prolessam, tratem de o
distinguir bem de sistemas filosóficos ou religiosos meramente humanlstas,
naturalistas ou racionalistas. Nao quelram remover o escándalo e a loucura
da Cruz (1Cor 1,23), mas assumam-nos corajosamente e mostrem ao
mundo que ai se encerra a verdadeira sabedoria, aquela que vem de Deus
e leva de volta a Deus (cf. 1 Cor 1,17-2,16)!

Els o fruto positivo que se pode colher das palavras pungentes de


Jean Gultton.
Críticas e elogios á lgre]a:

"ENQUANTO O DIABO COCHILA"

por Delcio Monteiro de Lima

Em sintese; O livro de Delcio Monteiro de Lima critica pontos da


Igreja do passado e aplaude a Igreja Católica do momento presente,
principalmente por causa de suas intervencóes na vida pública ou social
do Brasil e do mundo. O autor aponía numerosos tatos em conseqüéncia
de boa leitura e documentagáo. Todavía nem sempre é preciso. O presente
artigo, além de reconhecer os méritos do livro, tenta esclarecer alguns
tópicos da obra, mormente os que se referem á Igreja e a escravatura nos
últimos cinco sáculos. O autor nao foi sempre devidamente critico no
tocante as fontes que consultou; a historiografía é um setor de trabalho
muito complexo, que exige atengáo a (ontes diversas. — As observagóes
do presente artigo e do subseqüente tendonam prestar coiaboracáo á obra
de D. Monteiro de Lima.

* * *

O autor já é conhecido por outras obras publicadas, entre as quais


"Os demonios descem do Norte", comentada em PR 309/1988, pp. 67-77.
No livro "Enquanto o Diabo cochila" o autor anallsa a atuacáo da Igreja
Católica no passado e no presente, tendendo a apontar falhas nos tempos
colonlals do Brasil e da América Espanhola, ao passo que elogia calorosa
mente a Igreja dita "progressista" da nossa época e faz restricdes á Santa
Sé e aos segmentos da Igreja tldos como "conservadores". No final de suas
páginas observa que o ánimo dos progressistas vai arrefecendo diante
da resistencia encontrada e faz votos para que nao desfaleca, pols, por
enquanto, "o Dlabo está cochilando",... o diabo que impede a acáo
social da Igreja e favorece o conservadurismo. É este fecho do livro que
sugere o titulo da obra, como se percebe das suas últimas linhas aquí
transcritas:

"Ató hoje o Dlabo amedronta os católicos. Porém, nao tanto quanto


há sáculos atrás. Já nao á temido como outrora. Está meló desprestigiado.
Talvez esteja velho para realizar o bem, porque com ele despertó seria
impossivel materializar qualquer boa acáo. Talvez isso Injete ánimo novo
aos que lutam contra os poderosos. Talvez nestes instantes de fraqueza
8 'PERQUNTE E RESPONDEREMOS' 356/1992

do Diabo a Igreja do Brasil consiga lambém obter alguns éxitos em favor


dos pobres e contra as classes dominantes, táo poderosas que nao temem
um Dlabo voltio e sonolento.
De qualquer manelra, é bom que ele se descuide, porque há sempre
urna esperanca enquanto o Diabo cochila" (p. 199).

Este trecho é característico do estilo veemente e, por vezes, sarcás-


tico da obra. — Examinemos de mais porto o seu conteúdo.

1.OLIVRO

1.1. Tempos coloniais

1. O autor critica severamente os colonizadores do continente


latino-americano, acusando parte do clero de conivéncia com a violencia
exerclda sobre os aborígenes. Refere episodios sem Ihes apor a mínima
documentacáo (o livro nao tem uma^nota de rodapó nem urna página
de bibliografía — o que o torna obra de divulgacáo, mais do que urna
obra científica).

Ora a historia é sempre complexa, envolvendo varios fatores e


apresentando varias facetas, de modo que urna narracáo sumaria, escrita
por alguém que tem urna pena ferina, corre o risco de ser unilateral ou
dlstorcfda, como tentaremos mostrar sob o subtitulo 2 deste artigo.

Alias, á p. 26 o autor observa multo sabiamente que a Santa Sé nao


sabia, nem podia saber, de certos abusos cometidos no Brasil e na América
Espanhola, porque os soberanos de Portugal e Espanha, baseados no
privilegio do padreado, se julgavam mais ou menos plenipotenciarios na
obra "evangelizadora" dos indios e negros:

"É interessante observar que o Vaticano nao tlnha sequer urna visáo
pálida da agio de seus bispos em refació aos indios, pois os prelados
somonte se comunicavam com seus superiores em Roma atravós de
Portugal. Dessa manelra, o Vaticano nada mais sabia do que acontecía por
aquí. Nao recebla informe ou relatarlos, nem a obligatoria visita ad Hmina.
Lisboa dirigía e controlava ludo em nome do completo dominio político e
económico da Colonia".

A p. 23 o autor aponta outra atenuante para males cometidos na


evangelizado: "Os próprlos mlsslonários tlnham urna vlsáo confusa do
papel político que representavam, sem urna nocáo definida da evangeliza-
cao no mesmo contexto. Asslm, por exemplo, enquanto Manoel da Nobre-
'ENQUANTOO DIABO COCHILA'

ga, um Jesuíta que aqui lidou com os indios no secuto XVI, constderava
fundamental a submissáo total, compulsoria, do silvícola ao estilo de vida
cristáo para entáo ser evangelizado, outro jesuíta, o legendario Antonio
Vieira, pregava, no século seguinte. que era suficiente que o natural
aceitasse pacificamente os termos da colonlzacáo. Um e outro, no entanto,
eram acordes em que o Indígena abrisse máo da sua cultura e das suas
tradicdes e adotasse os padróes dos colonizadores. Qualquer que fosse,
portante, a atitude dos silvícolas, os portugueses seriam os beneficiarlos
da docilidade do seu comportamento. A consqüéncia política dessa acultu-
racáo é que talvez nao fosse consciente para os missionários, pelo menos
para a maioria deles".

O autor menciona outrossim o pedido de desculpas feito por Joáo


Paulo II em 1987 aos indios do Arizona nos Estados Unidos:

"A opressáo cultural, as injusticas e a destruicáo de vossa vida e das


vossas sociedades tradicionais precisam de ser reconhecidas. Agora so
mos chamados a tirar lifáo dos erros do passado".

1.2. Tempos atuais

Quanto aos tempos atuais, Delcio Monteiro de Lima revela ter um bom
ficharlo, com numerosos dados estatisticos. Tem acompanhado os emba
tes entre conservadores e progressistas em questóes sociais nao só no
Brasil, mas tambóm no estrangeiro. Alude a documentos, associacóes,
congressos, que vém tratando do assunto... É francamente favorável á
Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil e, em geral, á Igreja no Brasil,
tlda como defensora dos pobres, apesar da resistencia de certos bispos e
da própria Santa Sé, que parecem ao autor ser "conservadores". Á p. 42
D.M. de Lima menciona "urna pesquisa de caráter nacional, envolvendo
todos os segmentos sociais. publicada em fevereiro de 1990.... que revelou
que 82% da populacáo confiam na Igreja, enquanto, no mesmo universo...
o ñidice de empresarios foi de 34%. o do governo federal de 29% e o dos
políticos 18%". Nao somente o autor frisa a elevada credibilidade da Igreja
no Brasil, maior do que a de quatquer outra instituicáo; ele nao perde a
ocasláo de tecer elogios á Igreja.... elogios que parecem ¡mparciais, visto
que D. M. de Lima também sabe criticar a Igreja:

"É preciso olhar de urna perspectiva histórica para compreender a


mlssáo da Igreja Católica. Multissecular e universal, ela persegue com
obstinacáo o distanciamento das ideologías e do envolvimiento político lato
sentu. A temporalidade só a interessa na medida em que estáo em jogo
valores moráis éticos. Consciente de seu papel, nada a perturba na longa
caminhada em que acumulou muiía sabedoria e, particularmente, a correta
10 -PERQUNTE E RESPONDEREMOS* 356/1992

nogio da efemerídade das coisas, fazendo urna sintese Inteligente de todo


o conhedmento do homem atravós dos sáculos. A Igreja nao perde batalha.
A historia é repleta de exemplos. Como disse um bispo, ela vai silenciosa
e pacientemente enterrando os desafetos. Um verdadeiro exórdto de
cerebros privilegiados orienta seus movlmentos de avangos e recuos que
tanto confundem os Inimigos valdosos e triunfalistas, que acabam por
sucumbir e desaparecer como a poeira dos tempos. Enquanto isso ela
contínua humildemente de pé. sustentada por sua incontestável autorídade
moral" (p. 79). Cf. p. 131.

Na base destas ponderales, o autor julga tendenciosas as noticias


difamatorias lancadas contra bispos e sacerdotes por pessoas ou por
órgños que gostariam de eliminar a acáo social da Igreja defensora dos
pobres; ver pp. 79-83; 136-140. Os empresarios, em réplica a tal atitude,
estariam financiando o avanco das seitas e novas religióes, pretendendo
asslm contrabalancar ou anular a missáo da Igreja:

"Numa forma de revide. os homens de negocios abriram as suas


bolsas aos captadores de recursos para seitas, facilitando-Inés a aquisicáo
de terrenos na grande campanha para a construcáo de templos para
aqueles movlmentos religiosos em todo o país, naturalmente contribulado
com o mesmo dinheiro que deveriam destinar ao pagamento de urna
remuneragáo condigna aos seus trabalhadores. Houve polpudas doagóes.
Material de construcáo de toda especie folposto a disposicáo dos pastores.
Bancos abriram máo de toda especie de taxas de servigo e comissóes no
receblmentodecontribuigóes de crentes atravós de carnés, para o sucesso
da campanha. Os homens de negocios, asslm demonstraram, mais urna
vez, extrema competencia na defesa dos própnos interesses, os quais nao
sSo evidentemente os mesmos dos seus trabalhadores, os defendidos pela
Igreja" (p. 139s); cf. p. 134.

A p. 110 Monteiro de Urna admite que o governo norte-americano


"esteja estimulando e apoiando as seitas e os movimentos religiosos
autónomos dos Estados Unidos para a penetracáo e mudanca do quadro
espiritual da América Latina, principalmente do Brasil".

D.M. de Urna, porém, nao é complacente com os "pastores elelróni-


cos", que "imbecilizam os seus ouvintes":

"Numa aval/agio modesta, os pastores eletrónicos movimentam


anualmente cerca de 2 bllhóes de dólares, respeitada, evidentemente, a
partldpagSo do Imposto de Renda. Seus milhoes de ouvintes fanáticos,
enquanto Isso, constituem a parcela mals alienada do eleltorado ameri
cano. Desinformada e imbecltizada pelas pregagoes televangellstas,
vive tora da realldade. Como um robó do transcendental, intelramente
manipulada pelo establishment, exatamente como os especialistas do

10
■ENQUANTOODIABOCOCHILA" 11

Departamento de Estado gostariam de ver as populagóes da América


Latina".

Estes traaos já oferecem ao leitor urna nocáo do conteúdo do livro de


D.M. de Urna, possibilitando-nos passar a algumas reflexóes.

2. COMENTANDO...

2.1. Estima pela Igreja de nossos dias

Antes do mals, observamos que o autor revela estima á Igreja Cató


lica na medida em que esta se tem dedicado aos pobres nos últimos
decenios. D. M. de Lima tem boas razóes para reconhecer os méritos da
Igreja, mas nao se pode esquecer que a Igreja nao foi fundada por Cristo
apenas para controlar e criticar os governos civis. Esta funcáo decorre de
outra, que nao há de ser preterida nem há de sofrer detrimento: a missáo
de talar de Deus, de Jesús Cristo, da Redencáo pela Cruz, dos sacramen
tos, da graca como íiliacáo divina e da promessa de vida eterna... Se a
pregacio de tais verdades é ofuscada, a Igreja comete traicáo para com o
homem, porque todo ser humano — rico ou pobre — tem necessidade de
ouvlr falar de Deus e dos valores transcendental.

Ademáis: as tarefas dos membros da Igreja háo de ser exercidas em


comunháo afetiva e efetiva com o Sumo Pontífice; as diretrizes por este
tracadas devem merecer respeito da parte dos agentes de pastoral; nao
podem ser transgredidas como se fossem "conservadoras" (cf. p. 94) em
favor de diretrizes "progressistas". Ora esta conviccáo, decorrente da
nocáo mesma de Igreja-sacramento, falta no livro de D. M. de Urna.

2.2. O comercio de escravos

É táo importante e denso este tópico que vai abordado sob novo
subtítulo.

2.3. Imprecisóes gráficas

Á p. 126, o autor diz que a Conferencia dos Religiosos do Brasil conta


com 53.000 sacerdotes, ao passo que á p. 91 diz que no Brasil há 13.220

11
12 'PERQUNTE E RESPONDEREMOS* 356/1992

sacerdotes. — A contradlcáo se resolve se se corrige a p. 126, dizendo


53.000 Religiosos e nao sacerdotes?
A p. 127 dever-se-ia ler: 13.220 padres no Brasil, e nao 53.000
padres.

3. O COMERCIO DE ESCRAVOS

3.1. A Coroa portuguesa e os escravos

Á p. 29, o autor retere-se a urna Bula do Papa Nicolau V, datada de


1454, e referendada por Calixto III (1456) e Xisto IV (1481),... Bula "que
reconhece aos portugueses o direito de capturar e submeter os negros da
África". — A temática exige explicacóes:

Na verdade, em 1455 o Papa Nicolau V, pela Bula Romanas Pontífex,


reconheceu aos portugueses o dlrelto de conquistar as térras africanas
situadas ao Súl do Cabo Bojador2 e de exercér a i o monopolio do comercio.
Segundo a mentalidade da época, tal gesto podía implicar o reconhecimen-
to do próprio tráfico de escravos, pois este já era praticado entáo3. Tal
prática era justificada aos olhos dos interessados que se baseavam nos
segulntes itens:

1) os escravos levados para Portugual seriam convertidos ao Cristia


nismo e batizados; portanto, deixarlam o paganismo:

1 Religioso(a), no caso, £ o(a) fiel caiólico(a) que se consagra a Dcus pelos votos regulares
mima Ordem ou Congrega;3o Religiosa, abstracto feila de ser ordenado sacerdote ou nao. —
Sacerdote, no contexto, é o presbítero ou padre.
2 O Cabo Bojador fica pouco abaixo das llhas Canarias ou do paralelo 30.
3 NSo conseguimos acesso a Bula Romanas Ponnfex de Nicolau V, mas. sim, á de Xisto IV,
datada de 21/12/1481, tendo por titulo da iradufio portuguesa:
"Bulla do Papa Xisto IV, publicada em Roma aos 21 de de/embro de 1481, confirmando
as dos Papas Nicolao V e Callisto III, que concederlo a urdem de Christo para sempre iodo o
espiritual de todas as lenas do Ultramar, descocerlas e por descubrir".
Como se vi, o titulo se refere apenas ¿ entrega do govemo espiritual (nomeacáo de bispos,
pirocos, erecSo de paróquias, transferencia de mlsslonários...).
O texto da Bula de Xisto IV ¿ assaz longo; está em portugués arcaico, com fiases de multas
Unhas sera ponruacao. Urna das passagens mals significativas deste documento val transcrita
a guisa de Apéndice, ás pp. I6s deste fascículo.
•ENQUANTO O DIABO COCHIIA* 13

2) abandonarían) conceptees e práticas hediondas, como seriam o


canibalismo, o incesto, a sodomía..., pois se dizia que os negros levavam
um género de vida bestial e a escravatura os levaría a um tipo de vida
civilizada (com uso de roupas, melhor alimentacáo. mais sadio regime
habltacional...).

Tal argumentacáo era apoiada em premissas ainda maís remotas.


Ategavam-se, por exemplo, as seguintes razóes fundamentáis:

1) era licito fazer guerra aos inliéis (nao aislaos), pois isto contribuiría
para eliminar, da face da térra, a infidelidade e converté-la ao Cristianismo. Tal
tipo de guerra, tida como justa, ocasionaría o aprisionamento de infléis (negros)
que, urna vez reduzidos á escravidáo, seriam catequizados e balizados,
além de elevados a um género de vida menos primitivo ou mais civilizado.

2) Outra alegacáo afirmava que os negros feitos escravos na África eram


prisloneiros de guerra já capturados por guerreiros africanos; seriam
condenados á morte pelos negros seus adversarios. Ora, para livrá-los da
morte, os portugueses os levavam consigo, reduzidos á condicáo de escravos.

3) A Filosofía e a Biblia eram também aduzidas. Já o filósofo grego


Aristóteles (t 322 a.C.) havia afirmado que certos seres humanos eram
naturalmente feitos para a escravidáo. Os autores cristáos medievais,
seguindo o pensamento filosófico de Aristóteles, corroboravam-no, valen-
do-se do texto do Génesis 9. 20-27: ai está dito que Noe teve tres filhos:
Sem, Jafé e Cam. Este último zombou da embriaguez de seu pai e foi, por
Isto, amafdicoado com a fórmula proferida por Noé:

"Maldito seja Canaá! Que ele seja, para seus irmáos, o último dos
escravosl" (Gn 9, 25).

Ora Canaá ou (Cam) era tido como o patriarca Iniciador da raca negra.
Em conseqüéncia, diziam certos autores medievais, a raca negra como tal
fol condenada á escravidáo por causa do seu pecado1; e, para confirmar
sua assertiva, apontavam o modo de vida primitivo ou "bestial" (- tidó como
bestial) dos negros da África2; tal modo de vida seria resultante do pecado,

1 É de notar que em Portugal tal argumvnlavüo tcvc origen) mío cni fumes cristas, mas cm
escritos de judeus e musulmanes; o» cristüns a lomaran) de tais esvriios.
2 Nio sabiam vestir-se nem falar. nein curaer nem habitar de raaneira digna u culta. — Na
verdade, porém, os cronistas dos séculos XV/XVI enganavam-se um tamo com relaciio aos
costuroes dos negros africanos: estes nao eram bestiais, pois comiam bem, bebiam vinho de
palmetas, moravam em choupanas e tinham cena organizado social com seus reis e suas lels;
quase nio se vestiam por causa do calor.
Nio ha dúvida, algumas trlbos africanas nio querían) ter reí, pois receavam que este vendesse
as suas mulhercs e as criancas como escravos, de acordó com o que já ocorrera em lempos

13
14 'PERGUNTEE RESPONDEREMOS* 356/1992

de tal sorte que, para llvrar tais povos do pecado e da bestlalidade,


conslderava-se Justificada a escravidáo, que Ihes daria a ocasiáo de abra
car a fé crista e passar a um nivel de vida superior.

A reducáo á escravatura trarla beneficios a esses homens e mulhe-


res, alegavam cortos pensadores dos sáculos XV/XVI, pois os porla em
contato com a fé crista e o Batismo, posslbllltando-lhes a salvacáo eterna
(pols tlnham urna alma espiritual redimida pelo sangue de Cristo). Eanes
Gomes de Zurara, cronista da corte de Portugal no secuto XV, narrava que
um menino negro capturado em 1445 fol táo bem educado e Instruido na
arte de ler e escrever e na fé crista que "há mullos cristáos que nao
conhecem tais coisas de manelra táo perfeita". É preciso, sem dúvida,
reconhecer que muitos escravos, nos sáculos XVI/XIX, aprendlam artes e
oficios de valor—o que os promovía culturalmente e em varios casos Ihes
dava dlreltó a privilegios na distribuido dos proventos. Asslm, por exemplo.
ténvse, nos arquivos de fazendas e outras Instituicóes, listas de especiali
zábaos adquiridas por escravos: carplnteiros, ferreiros, sapateiros, alfala-
tes, barbelros, tecelóes, barqueiros, pedrelros, marcenelros, serradores,
encadernadores, pintores, clrurglóes, organistas, mestres-escola. maqui
nistas... As mulheres aprendiam cozlnha, fiacáo, refinacáo de acucar,
tecelagem... Com o passar do tempo, em meados do sáculo XVI, os
portugueses puderam averiguar que nao era táo bestial o género de vida
dos africanos; em conseqüéncia, a Justificativa prevalente ficou sendo a
evangel¡za9áo e crlstianizacáo de tais povos.

Devem-se se registrar, ao lado de tais escritores, outros que critica-


vam o comercio de escravos. Eram, entre os demals, Bartolomeu de Las
Casas (+ 1566), Francisco de Victoria (+ 1546), que se interessavam
especialmente pelos Indígenas submetidos & escravidáo; punham em dú-
vlda a valldade do sistema escravaglsta para promover a evangelizacáo
dos nao cristáos. O mais caloroso impugnador do comercio de escravos fol
o portugués Fernáo de Oliveira, que em 1555 publlcou o livro "Arte da
Guerra no Mar"; era familiarizado com as lels da guerra e sabia que a guerra
movida únicamente para conquistar escravos era injusta; por isto atacou o
ponto fraco das teorías dos reís de Portugual, negando que a reduelo á
escravidáo efetuada pelos portugueses fosse conforme as normas do
Dlreito Romano e do Dlrelto Canónico. Aflrmava que os negros comprados
pelos portugueses na África eram capturados por príncipes e mercadores
(vendedores) africanos mediante rapiña, seqüestro e outros malos Ilícitos;
se nao houvesse compradores portugueses, nao haveria vendedores ne
gros vendendo outros negros, vÁlmas de astucia malévola. Dlzla mais que,
urna vez batizados os negros, Já nao haveria motivo para manté-los na
servidlo; deverlam ser devolvidos á liberdade. Conseqüentementente ta-
chava o argumento de "evangelizacáo dos negros pagaos" de "colorido
pledoso (cor piadosa)" para urna atlvldade nefanda; isto se comprovava,

14
'ENQUANTO O DIABO COCHILA' 15

segundo Pernio de Ollvelra, pelo fato de que em Portugal os escravos eram


submetidos ás leis dos seus patróes e nao ás da Igreja, pols nao tinham a
permlssáo de assistlr á Missa e observar o repouso sagrado aos domingos;
cometlam todos os desmandos e crimes que os senhores Ihes ordenavam.
sem replicar.

Outras vozes se fizeram ouvir ao lado da de Fernáo de Oliveira,


embora menos veementes. Tal loi em 1556 a de Domingos de Soto, amigo
de Las Casas. Em 1560 o dominicano Martinho de Ledesma, professor de
teología em Coimbra, foi assaz enérgico: afirmou que todos os escravos
adquiridos pelos portugueses em virtude de rapto e processos-indignos
deviam ser ¡mediatamente postos em liberdade sob pena de eterna conde-
nacáo para os seus patróes: como Fernáo de Oliveira, M. Ledesma nao
aceitava o argumento da cristianizacáo dos negros para justificar a escra-
vidáo, pois dizia que a evangelizacáo devia ser efetuada pela pregacáo a
gente livre, que livremente abracasse a fé. Quanto k tese de Aristóteles
segundo a qual haveria povos naturalmente destinados á escravidáo,
Ledesma observava que tal sentenca so se aplicaría a homens que vives-
sem sem a mínima organizado social, nao, porém aos negros da África.

Outros escritores cristáos contestaram o comercio de escravos, tais


como Tomás de Mercado, Bartolomeu de Albornos, Amador Arrais (carme
lita de Portugal), Luis de Molina (jesuíta espanhol)...

A Coroa de Portugal procurava responder aos seus contraditores,


alegando que, apesar de tudo, a reducáo á escravidáo proporcionava
beneficios aos negros africanos, dando-lhes fé e civilizacáo.

Como se vé, o comercio de escravos teve que enfrentar os protestos


de pensadores do próprio século XVI. Ocorre, porém, que o Estado portu
gués (como também a Coroa espanhola) se julgava dotado de autoridade
nao somente em assuntos administrativos civis, mas também no setor
religioso; os monarcas gozavam dos privilegios do padroado, que Ihes
davam ampios poderes para legislar em materia eclesiástica. Isto facilitava
aos reís de Portugal e aos comerciantes interessados argumentar, na base de
motivacóes religiosas, em favor do tráfico de escravos; conseguiam para
este um título colorido (corpiadosa) que, aos olhos do público dos séculos
XVI e seguintes, parecía legitimar a escravidáo negra1. Aos poucos,
poróm, fol-se disslpando a capa pseudo-religlosa do tráfico de escravos
e se avolumaram cada vez maís as vozes que clamavam pela extincáo do
sistema.

I A tcspeito do Padroado, ver as observa;oes do jurista do Imperio Dr. Cándido Mendes de


Alraeida, ás pp. I7s desle fascículo.

15
16 -PERGUNTEE RESPONDEREMOS" 356/1992

É precisamente isto que passamos a observar no artigo segulnte


deste fascículo, que responde a urna falsa alegacáo de Delcio Monteiro de
Lima felta á p. 36 da obra "Enquanto o Dlabo cochila":

"Contam os historiadores, entre os quais o respailado Jacob Goren-


der, que a Ordem de Sao Bento, propríetária de nove engenhos de acucar
e varías fazendas de gado em Pemambuco, Bahía e Rio de Janeiro, no
secuto XVIII, operava um criatórío de escravos num estabelecimento rural
na ilha do Governador".

Os esclarecimentos a respeito se acham no artigo que se segué neste


fascículo.

A propósito da escravidáo negra em Portugal muito se recomenda,


como boa fonte de informacóes, a obra de

A. C. de C. M.Saunders: A Social History of Black Slaves and


Freedmen in Portugal (1441-1555), Cambridge University Press 1982.

APÉNDICE

1. A Bula de Xisto IV

Nao conseguimos acesso á Bula Romanus Pontifex de Nicolau V,


mas. sim, á de Xisto IV, datada de 21/12/1481, tendo por titulo da traducáo
portuguesa: "Bulla do Papa Xisto IV, publicada em Roma aos 21 de
dezembro de 1481, confirmando as dos Papas Nicolao V e Callisto III, que
concederáo á Ordem de Christo para sempre todo o espiritual1 de todas
as térras do Ultramar, descobertas e por descobrir".

Como se vé, o titulo refere apenas a entrega do governo espiritual


(nomeacáo de Bispos, párocos, transferencia de Religiosos...). Este era o
objeto principal da Bula. O documento ó assaz longo; está em portugués
arcaico, com frases de penosa leitura. Els urna das passagens mals
significativas dessa Bula:

"Nosso antecessor declarou-se estender dos cabos de Bojador e de


Nam, até per toda Guiñé e alem contra a plaga meridional... e determinou
e outorgou e concedeu ao Rei D. Affonso e seus sucessores Reys de

Grifo nosso. (Nota da Redafáo)

16
■ENQUANTO O OIABO COCHILA* 17

Portugal que pellos tempos lorem, e ao Infante D. Henrique indulto, um


outorgado ao dito ñei D. Joáo per Martinho da bemaventurada memoria
Papa V, e outro também outorgado a El-Rei Duarte da nobre memoria Reí
dos ditos Reinos e Padre do dito reí D. Affonso. e Eugenio IV, da piedosa
memoria, Papas de Roma, nossos predecessores, que o dito ñei O. Affonso
e seus sucessores e Infante, e bem assi as pessoas que a elles ou cada
um delles o que se cometter acerca das ditas partes podessem fazer com
quaesquer Mouros e Infléis de quaesquer cousas e bens e vitualhas e
compras e vendas; e bem assi fazer quaesquer contratos, transacdes,
preitisias, mercadorias e negociares e levar quaesquer mercadurías aos
lugares dos ditos Mouros, e Infieis, comtanto que non fossem (erramenta.
linhame, cordoalha, navios ou qualquer genero de armas, e bem assi todas
e cada urna das outras cousas fazer e negociar e exercitar ñas cousas
premissas, e o que acerca dellas for compridoiro; e podessem os ditos Reys
D. Affonso e sucessores e Infante ñas provincias, llhas e quaesquer lugar
assi já adquiridos, como ñas por adquirir, fundar e fazer quaesquer Egrejas,
mosteiros e outros piedodos lugares; e bem assi pudessem, mandar quaes
quer pessoas assi Ecclesiasticas como seculares, e quaesquer pessoas
regulares ainda que sejam da Ordem dos Mendicantes, comtanto que
sejam de licenca de seus Maiores, e que váo por sua vontade, as quaes
possáo estar lá toda a sua vida se quizerem".

A leitura deste texto evidencia, de cedo modo, a problemática de que


se tratava entre a Santa Sé e a Coroa de Portugal no fim do século XV.

2. O Padroado

A respeito do padroado escreve o Dr. Candido Mendes de Almeida,


notável jurista e político do Imperio do Brasil, em 1866 na obra de sua
autoría: Direito Civil e Ecclesiastico Brazileiro Antigo e Moderno em
suas Relacóes com o Direito Canónico, tomo I, pp. CCXL e seguintes:

"A Igreja fundou o Padroado no interesse do seu servido, e sem


prejulzo de sua liberdade. Encheu de privilegios e de gracas aquellas a
quem honrava com o titulo de Padroeiros, nao julgando que seus advoga-
dos e paladinos se quisessem constituir nao so seus dominadores, como
perseguidores, muitas veses impondo-se taes encargos como regalias por
effelto do proprio arbitrio, sem consultarem a protegida, e á despeito de sua
vontade e protestos. Mas o proposito era, e sempre tem sido, arrancar á
Igreja sua liberdade, para modela-la em instrumento de governo e de
dominio, realisando-se assim o grande pensamento do Cesarismo.

O fim da Igreja foi desvirtuado ou ínteiramente esquecido. Seus


desejos eráo encaminhar a forca material para o bem, mas esta entendéo
que Ihe cabía a missáo de dominar a forca espiritual, e de dirigi-la no

17
18 'PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 356/1992

Interesse do seu predominio, e de quaesquer projectos que concebesse,


foüsem ou nao úteis ¿ soclodado, fossem ou nao contradictorios com o
grande alvo á que tende a Rellgláo do Crucificado, de quem a Igreja he o
fiel e legitimo representante e orgáo neste mundo".

Este texto atesta vivamente que o padreado, concebido como estí


mulo á expansáo da verdadelra fé para o bem dos povos pagaos, se
converteu nao raro em instrumento da política e de interesses espurios dos
monarcas de Portugal e do Brasil.

* * *

Os Sacramentos da Fó, por Carlos Rocchetta. — Ed. Paulinas, Sao


Paulo 1991, 135 x 210 mm, 453 pp.

O autor centra o seu livro em tomo do concaito de "maravilhas de


Deus", conceito que na Biblia designa os feitos salvilicos do Senhor desde
o Antigo Testamento. Os sacramentos sao apresentados como ritos que
atualizam essas "maravilhas de Deus" em favor do seu povo ató hoje. Após
o Concilio de Trento (1545-1563). os teólogos se preocuparan} muito com
a apologética, para responder aos protestantes. No sáculo XX, porém, o
interesse da Teología volta-se mais para a riqueza doutrinária da S. Escri
tura, da Tradlgáo patrística e da Liturgia; póe em evidencia o fío condutor
da historia da salvacáo: Deus tala aos homens e Ihes comunica os seus
dons mediante slnals sensiveis, que tém seu prototipo no éxodo do Egito
(1240 a.C); a primeira Páscoa ó penhor da Páscoa na plenltude dos
tempos; por esta última o próprlo Deus se dá á humanldade como novo
AdSo, que continua sua obra através dos tempos mediante a Igreja e os
sete sacramentos, que o Espirito Santo vivifica, Ele que é o Dom por
excelencia.

O livro vem a ser urna obra interdisciplinar, em que a Escritura, a


Teología Sistemática e a Liturgia se entrelacam para oferecer ao leitor urna
notávele proficua sintese dos sacramentos em gerale de cada um dos sete
sacramentos em particular.

18
Mais urna vez:

A IGREJA E A ESCRAVATURA

Em sintese: Diante da alegagáo de que a Ordem Beneditina possuia


um cnatório de escravos no Rio de Janeiro (llha do Govúrnador) no sáculo
passado. vai publicado um estudo de D. Mateus Rocha O.S.B., que', na
base de sólida e minuciosa documentacáo, dissipa o mal-entendido.

* * *

Tendo em vista a alegacáo de que a Ordem de Sao Bento tinha um


criatórlo de escravos no Rio de Janeiro (llha do Governador) no século
passado, a nossa revista publica um estudo de 0. Mateus Rocha O.S.B., a
quem a Redacáo de PR agradece a valiosa colaboracáo. O artigo há de ser
lido em continuacáo do anterior (neste fascículo), em que tentamos expor
a mentalidade da sociedade dos séculos XV-XIX, a influencia do padroado,
as justificativas e os protestos que o comercio de escravos suscitava entre
os pensadores da época.

1. Criatório de escravos?

Em nossos dias, urna das criticas lancadas contra a Igreja Católica


em nosso país, no tocante á questáo escravista, é a de que até mesmo
algumas de suas Ordens Religiosas, por exerhplo, "nao só tinham escravos
como tambóm se dedicaran) á reproducáo de escravos".1 As Ordens
Religiosas em questáo sao a dos Beneditinos e a dos Carmelitas, ambas

1 Doro Maleus Rocha OSB i monge sacerdote do Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro,
formado em Teología, antigo professor de Portugués. Latim e Orego, tredmor, pesquisador de
Historia. Bibliotecario, Neciologlsia e Arquivlsla do Mosteiro de Sio Bento do Río de Janeiro
e AtqulvislB-mor da Congregacio Benedilina da Brasil.
2 BOJUNO A, Claudio. "O malo de cntern", em Jornal do Brasil: Caderno B Especial de S
de malo de 1988, p. 4.

19
20 -PERO UNTE E RESPONDEREMOS" 356/1992

no Rio de Janeiro. Tais autores tém-se baseado sobretodo em Jacob


Gorender — este, alias, muito ponderado em suas afirmacóes, ás quais dá
caráter hipotético—e ainda em Manoela Carnelro da Cuntía, que deixa de
lado o tom cauteloso de Gorender e parte para urna afirmacáo categórica.
Segundo estes dois autores/a Ordem de Sao Bento tena tido um criatório
de escravos na lina do Governador, e a de Nossa Senhora do Carmo outro
na sua fazenda de Macacu.M

J. Gorender e M. Carneiro da Cunha se lundamentam, por sua vez,


em Thomas Ewbank, um visitante inglés do sáculo passado, residente nos
Estados Unidos, que esteve por alguns meses no Rio de Janeiro em 1846,
e publicou em 1856 um relato de sua viagem e observares em térras
cariocas. 12

De inicio convém observar que as informales de ordem económica


e mesmo outras de Ewbank relativas ao Mosteiro de Sao Bento do Rio de
Janeiro nao merecem crédito, pois nao corresponden! aos (atos históricos.
Escreve ele, em sua obra, a seguinte passagem (que traduzimos do
original, p. 129): "Na lina do Governador, a maior da baia do Rio, possuem
[os frades beneditínos] grande estabelecimentó rural dirigido regularmente
por numerosos frades. Numerosa geracáo!3 de meninos e meninas decoré
ali criada até á idade suficiente de serem enviados ao trabalho ñas proprie-
dades do interior".

Nao era um grande estabelecimentó o que os beneditinos mantinham


na lina do Governador, mas urna modesta fazenda de gado, com algumas
rocas e urna horta. Nem era dirigido por numerosos frades, mas apenas por
um deles, que ali residiu sozinho por varios anos, o Abade Titular de Santa
Mana de Évora. Frei Luis de Santa Teodora Franca.!4

I GORENDER. Jacob, O Excravismo Colonial, V cdiváo. Sao Paulo. Editora Ática, p


349-350; CUNHA, Manuola Camciro da. Negros. Estrangeirox. Os Esvrana Liberto.* c Volta
o África, San Paulo. Brasilicnse, 1985, p. 46: Antropología </» Brasil, Sao Paulo, EDUSP/Bra-
siliensc, p. 129-130. — Ulilizitmo!. ¡i 4' edicáo de GORENDER. por nao nos icr sido possivcl
consultara 5'. saida logodepois. A pussagcm indicada permanece inalterada ao longo de lodas
as edicóes, que reproduzcni o texto da prinicini. Na 41. a penii» a expressjo "dos mius plantéis'"
Coi substituida por "da escravaria" (p. 349).
2 EWBANK, Thomas, Ufe iu Brazil: or a Journal ofa Visit to llie laiui afilie Cacao aml
Palm, Nova lorque, 1856).
3 Numeróla brood — no singular! A ttaducio publicada pela Editora da Universidade de Sao
Paulo/Livraria Itatiaia Editora se revela tendenciosa em algumas passagens.
4 Cf. üvros de Gastos ou da Mordomia do Mosteiro de Sdo Bento do Rio de Janeiro:
1842-1854 {Códices 60-67 do AMR — Arquivo do Mosteiro do Rio), passim.

20
A IQREJA E A ESCRAVATURA 21

Na mesma proprledade funclonava também urna lavandería em que


se culdava da roupa dos mongos beneditinos residentes na ddade.11

A turma de escravos compunha-se de 17 homens, 12 mulheres, das


quais urna já velha, 17 meninos e 6 meninas. Os homons cuidavam dos
trabalhos do campo, e as mulheres se ocupavam da lavandería e demais
trabalhos da casa.!2

Este número de apenas 11 mulheres, supostamente novas e fecun


das, nao pode configurar um crlalóriode escravos capaz de gerar escravos
para abastecer mais oito fazendas e o Mosteiro, que, com os da tina do
Governador, somavam entáo um total de 1.157 escravos, assim distribuí-
dos: Mosteiro: 108; Camorim: 66; Vargem Pequeña: 88; Vargem Grande:
38; Conde (Iguacu): 37; Outeiro (Iguacu): 22; Olaria (Iguacu): 47; Marica:
51; Campos dos Goitacases: 655, além dos já referidos da llha. 13

Por este lado cai, portante, a fantasia de um criatório de escravos do


Mosteiro.

Também a política de concessáo de alforrias largamente praticada


pelo Mosteiro desmente os que afirmam que os beneditinos "incentivavam
a procriacáo" e "mantinham criatório deliberado de escravos" (Gorender).
Basta apenas referir que em urna única sessáo de seu Conselho, no dia 31
de dezembro de 1858, o Mosteiro aprovou requerlmento de 98 alforrias,

1 Cf. Códices 28. 30-32. 64-68e ¡48 do AMR, passim.


2 Cf. Livro dos Provimenlosdo MosteirodeSáo Bentodo Rio de Janeiro: 1819a \ibS (Códice
148 do AMR). fl. I74v. Eni 1848. o "plañid" de escravos da Ilhn doGovemadortinha variado
para 9 homens. 12 mulhcres, 6 meninos c 6 meninas (CF. Ibidcm, fls. 181 v-182). O chumado
Livro de Depósito do trienio de 1848-1851 (Cálice 31 du AMR), fl. 58v. ira¿ o seguinle
registro: "Desta Fazenda lirou-se a maior parle doscscnivos. porali náodaivm pruvciloalgum:
vierao uns poucos para o Mosteiro e ttuiros forjo pan oulr.is fazendas. a*sim que se mudaráo
as la vadeíras para a Fazenda de lguassú, a fnn de evitar a grande demora que havia na lavagem
da roupa." Esta transferencia se deu em coraeco de 18S0, de forma que em 18 de maio desse
ano, do "grande crialório de rscravos" hoje lio propalado, restavam apenas 2 homens, 5
mulheres e urna enanca de sexo nio especificado, a servico do único roonge ai residente, o já
referido Frei Luis de Santa Teodora (Cf. Uvro da Mordomia de 1848-1851 {Códice 68 do
AMR], fl. 293v el passim). Em 1829, antes da instalado da lavandería na llha, havia naquela
fazenda apenas 18 escravos: 4 homens, 5 mulheres, 6 meninos e 3 meninas (Cf. Livro dos
Provtmemos do Mosteiro de Sdo Bemo do Rio de Janeiro: 1819-1865 [Códice ¡48 do AMR],
fl. 142v-143). Era muito pouco para um criarório'.
3 Cf. Códice ¡48doAMR.(\s. 169v e Uvro dos Recibost Despesas da Fazenda de Sao Bento
de Campar. 1846-1874 (Códice 608 do AMR). fls. 2-7v.

21
22 'PEROUNTE E RESPONDEREMOS' 356/1992

das quals 7 foram concedidas gratuitamente. Das demais, 22 toram do sexo


femlnino, com idades que lam de 1 ano a 35 anos. E dentre estas, 7 tinham
de 15 anos para cima. A pensar em criatórlo de escravos, de urna só vez
o Mosteiro teria perdido 7 matrizes (mais da metade em relacáo ás da llha
do Governador) e mais 15 futuras.

A documentado manuscrita existente no arquivo do nosso Mosteiro


nao nos permite afirmar que os beneditlnos do Rio de Janeiro "tinham a
preocupacio sistemática com a reproducáo vegetativa da escravaría"2 ou
"se dedicaram á reproducáo de escravos"3. Se eles incentivavam os
matrimonios legítimos, era em obediencia ás leis da Igreja e ás determina-
cóes superiores dos Capítulos Gerals, que eram de obrigacáo para todos
os Mosteiros do Brasil. Nio se tratava de "urna preocupacáo sistemática"
de nosso Mosteiro. Essas normas gerais tinham por finalidades santificar
sacramentalmente as unlóes e as familias e promover a "moralidade crista
e a boa ordem ñas fazendas", como se lé ñas Atas dos Capítulos Gerais
da Congregado Beneditina do Brasil.4

Além do mais, convém lembrar o bom tratamento que os Mosteiros


beneditlnos do Brasil dispensavam a seus escravos, como no-lo testemu-
nha Koster6 — e o que este autor diz a respeito dos beneditinos de
Pemambuco, se aplica a todos os beneditinos do Brasil, pois o tratamento
referido era fruto da orientacáo do órgáo máximo da Congregacáo. Desse
bom tratamento encontramos registros em nossa documentacáo manuscri
ta: os escravos, na doenca, eram cuidados com o mesmo empenho de que
eram objeto os monges: Junta médica para os casos mais graves, cuidado
especial aos doentes na chamada Enfermarla centralizada na Cidade, para
onde eram trazidos os escravos doentes das fazendas próximas do Rio,
quando preclsavam de tratamento médico. Ali nao faltavam os remedios
prescritos,6 nem urna boa e variada dieta, em que estavam presentes
(provavelmente em decorréncia de prescribió médica) os seguintes rtens:
carne de galinha (na época reservada só aos doentes: monges ou escra-

1 f. Ata da SessSo do Conselho do Mosteiro de Sdo Benlo do Rio de Janeiro de 31.12.1858


(Códice 1149 do AMR, fls. 13-I3v).
2 GORENDER.o/». eit., p. 349.
3 Veja-se adma, nota 1.
4 Cf. Códice 1143 do AMR. fls. I54v, e Códice 92 do Arquivo do Mosteiro da Bahía (üvro
das VtsitaeSer. 1830-1837). fls. 3v. e I2v.
5 Cf. KOSTER, Heniy, VUtgeiu ao Nordeste do Brasil. Sao Paulo. Cia. Ed. Nacional. 1942.
p. 511-314.
6 Ct.Uvros de Castos ou da Mordomia do Mosteiro de Sao Bemo do Rio de Janeiro de 1777
a 1871 {Códices 55-77do AMR, passim na rubrica Enfermaría).

22
AIGREJA E A ESCRAVATURA 23

vos), de vaca (verde e seca), de porco, de carneiro, toudnho, lombo de


porco, mocotó. arroz, feijáo, peixe, pao, manteiga, araruta, acucar grosso
e refinado, ervas, vinagre, temperos, leite, roscas, biscoito. páo-de-ló,
chocolate, cha mate, cara, couve, abóbora, "vinho generoso" do Porto etc.
Por certo nao faltará algum historiador ou antropólogo moderno que veja
neste tratamento um interesse económico: a conservacáo e o aumento
(reproducáo) do plantel de escravos. E no tratamento consagrado aos
monges?

2. Os beneditinos e a emancipscáo dos escravos

Nestes tempos em que se tem fiscalizado o papel da Igreja em relacáo


ao escravismo, conviria lembrar a atuacáo pioneira da Ordem beneditina
no Brasil no movimento de libertagáo dos escravos, apontando as datas
básicas:

1. Em 1780, a Junta Capitular da entáo Provincia do Brasil, celebrada


em Portugal, declara "forras aquelas escravas que tiverem tldo seis filhos
actualmente vivos e de legitimo matrimonio."2 Infelizmente, no ano seguinte
o Abade Geral da Congregacáo Beneditina de Portugal (da qual fazia parte
o Brasil) anula essa decisáo, sob o pretexto de que ela acarretaria "gravis-
simos prejuizos... assim aos Mosteiros, como ás mesmas escravas", por
que as escravas alforriadas e os filhos nascidos depois da dita alforrla
ficariam sem o amparo dos respectivos Mosteiros e estes privados de
preciosa máo de obra cativa.3

2. Em 1822, a pedido do Imperador Pedro I. concedeu o Mosteiro do


Rio cartas de alforrla gratuita a dez de seus escravos "para sentarem praca
e... defenderem a Nacáo".4

3. Em 1863. afinal, o Capítulo Geral da agora Congregacáo Benedi


tina do Brasil decreta que todas as escravas que tivessem tido ou viessem

1 Cf. Livros da Receita da Botica (Códices ¡3&-HS do AMR). passim.


2 Cf. Atada Juma Ceratda Provincia Beneditina do Brasil de 7.1.1780. em Códice 19 do
ArquWo do Mosteiro Beneditino de Sio Paulo, fl.59v.
3 Cf. Caita do Abade Geral da Congregado Benedhina de Portugal, de 3.8.1781, ao Provincial
beneditino do Brasil {Doc 1599-1 do AMR).
4 Cf. Livro do Conselho do Mosteiro de Sao Bento do Rio deJaneiro: 1760-183S {Códice ¡148
do AMR), (1. 73.

23
24 'PEROUNTEE RESPONDEREMOS'356/1992

a ter seis filhos, mesmo que alguns |á houvessem falecldo, e estivessem


legítimamente casadas na ocasiáo, terlam direlto á alforria plena e gratuita.1

4. Em 1866, o Capitulo Geral declara que, a partir de 3 de malo


daquele ano, os filhos das escravas dos Mosteiros nascerlam livres, e os
respectivos Mosteiros ficariam obrlgados a sustentá-los, a proporcionar-
Ihes instrucáo primarla, a ensinar-lhes urna "arte mecánica" e a dar-lhes
futuramente preferencia nos arrendamentos de suas térras.2

5. Em 1867, o Mosteiro do Rio de Janeiro, por solicitacáo do Governo


Imperial, concedeu alforria inteiramente gratuita a quinze dos 29 escravos
"que se offereceram para Voluntarios do Exercito", para a guerra do
Paraguai, sendo os demais "julgados Incapazes" (nao pelo Mosteiro, mas
pelo servlco competente do Exército).3

6. Em 12.7.1869, resolve o mesmo Mosteiro conceder carta de


llberdade gratuita a seus escravos que tivessem ou viessem posteriormente
a alcancar a idade de 50 anos. Foi urna especie de Lei dos Quinquagená-
rlos.

7. Por fim, em 29 de setembro de 1871, todos os Mosteiros benedlti-


nos do Brasil decldem, pela voz de seus Abades, que, a partir daquela data,
todos os seus escravos,6 num total de 4.000,6 entrando o Mosteiro do Rio
com quase a metade, estavam livres e receberiam carta de alforria plena
mente gratuita, o que foi feito já no mesmo ano, de modo que em 1872 já
nao havla um só escravo nos Mosteiros e em suas propriedades.

1 Cf. Ata do Capitulo Cerní da Congregando Benedilina do Brasil de 5.S. 1863 (Códice 1143
doAMR.fl.212v).
2 Cf. Ata do Capitulo Geral da Congregando Beneditina do Brasil de 5.5.1866 {Códice 1143
doAMR.fl.234s.)
3 Cf. Ata da SessSo do Conselho do Mosteiro Benedltino do Ko de 20.5.1867 (Códice 1149
do AMR, fl. 5lv-52) e lista dos "homens oferecidos pelo Mosteiro de Sao Bento do Rio de
Janeiro para servir no Exército Nacional'', enviada pelo Abade Fr. José da Purificado Franco
aos Mosteiros de Olinda e Paraíba, em Códice 160 do Arquivo do Mosteiro de Olinda,
documento avulso, s/d. e s/n.
4 Cf. Ata da SessSo do Conselho do Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro de 25.8.1869
(Códice ¡149 do AMR, a 62).
3 Cf. Oficio de 8 de ounibro de 1871 dirigido pelo Abade do Mosteiro do Rio de Janeiro ao
Ministro dos Negocios da Agricultura, Comercio e Obras Públicas: Doe ¡379-3 do AMR
(Veja-se tambera em LUNA, Dom loaquim Grangeiro de. Os Monges Benedit'mos no Brasil,
Rio de Janeiro, Edicoes "Lumen Christi", 1947, p.93-94).
6 Cf. LUNA, Dora Joaquim Grangeiro de, Op. cit., p. 93, nota.

24
AIQREJA 6 A ESCRAVATURA 25

Autores há, como Richard Conrad,1 que acreditam haver o exemplo


dos beneditinos influenciado também o movimento abolicionista em sua
segunda fase.

Seria multo de desojar que aqueles que se comprazem em criticar e


por vezes mesmo em denegrir a Igreja por sua posicáo em relacáo ao
escravismo e seu alheamento a causa da Abolicáo. tomassem conhedmen-
to do papel de muitos bispos nesta campanha, com suas cartas pastarais
e seus ensinamentos, mas particularmente do que fez a Ordem Beneditina
do Brasil, silenciosamente, mas de forma muito concreta e direta, na
libertacáo dos escravos.

Fé e Escritura. Desafios e Respostas. por Freí Ya'cub H. Saadeh


e Freí Peter H. Madros. — Ed. Loyola. Sao Paulo 1991, 140 x 210 mm,
287 pp.

Eis um livm muito útil. Evidencia a base escriturística das verdades


da fé católica, atendendo precisamente ao desojo protestante de funda
mentar na Biblia as propositóos do Credo. De modo especial tem em vista
os pontos controvertidos entre católicos e nao católicos, como sao: "a Biblia
como única fonte de fé?", canon bíblico, o Batismo de criangas, as imagens,
María Santissima, o purgatorio, o inferno, os anos de vida oculta de Jesús,
o sinal da Cruz...

Os autores sao católicos orientáis: um, pároco, e o outro, professor


de S. Escritura, que se preocuparam com o tortalecimento da fé de seus
fiéis, sacudidos por protestantes, teosofístas. espiritas, ateus, etc. Na
verdade, a Escritura é um livro suscetivel de ser interpretado segundo os
criterios mais diversos, pois cristáos e nao cristáos a citam em favor de
seus propósitos. Por Isto, logo no Inicio da sua obra, os dols autores
abordam a questáo das normas objetivas de interpretagáo da Biblia (pp.
15-41): mostram que a Escritura só pode ser corretamente utilizada se lida
no contexto da Tradigáo oral que Ihe é anterior e que a acompanha; caso
alguém se restrinja á Palavra escrita apenas, poderá chegar a conclusóes
altamente estranhas: por exemplo. nunca mais talvez festeje o seu
aniversario natalicio, porque Salomáo declara: 'Mais vale visitar a casa
em luto do que a casa em testa. Mais vale o dia da morte do que o dia do

(continua na p. 47)

I Cf. Os últimos anos da escras-aiura no Brasil. Rio de Janeiro, Editora Ci vitiznfáo Brasileira,
1973. p. 140.

25
26 'PERGUNTEE RESPONDEREMOS" 356/1992

Fala urna ex-Testemunha:

TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E
LIBERDADE RELIGIOSA

Em síntese: Vai abaixo publicado o depoimento de David Reed,


Testemunha de Jeová atuante durante quinze anos e também "servo de
distrito", de tempo integral, por dois anos; além do qué, passou oito anos
como anciáo (dirigente de urna congregagáo das Testemunhas). O autor
explica o que acontece quando alguém, convencido de que Mina caminho
errado, quer abandonar a Organizacáo.

As Testemunhas de Jeová tém-se propagado através de ardente


proselitismo, que penetra nos lares e tenta arrebatar novos membros
para a sua Oiganizacáo. Urna vez feita Testemunha de Jeová, a pessoa
difícilmente consegue deixar a sua congregacáo, pois o seu comporta-
mentó é vigiado e pressionado para que nao "apostate"; caso dé
mostras de querer separar-se por perceber os erros religiosos das
Testemunhas, sofre penosas sancóes que constrangem os mais tímidos
a ficar na Organizacáo.

A propósito existe o depoimento de David Reed, que foi Testemunha


atuante durante quínze anos e também "servo de distrito" de tempo integral
por dols anos; além disso, passou oito anos como anciáo (dirigente de urna
congregacáo) das Testemunhas.

Tal depoimento é altamente interessante e significativo. Pelo qué vai,


a seguir, transcrito a partir de um folheto distribuido pelos "Amigos de
Jeová", ramo dlssldente das Testemunhas de Jeová (Caixa Postal 8339 —
01051 Sao Paulo, SP).

26
TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E LIBERDADE RELIGIOSA 27

A LIBERDADE RELIGIOSA
VERSUS

O DOMÍNIO DA TORRE DE VIGÍA


DAS "TESTEMUNHAS DE JEOVÁ"

Ouase trezentos mil brasileiros se uniram ás Testemunhas de Jeová e


acabaram descobrindo que tém perdido suas preciosas liberdadesl

Os "servos de congregacáo" que estáo encarregados do Saláo do


Reino dar-lhe-áo boas vindas com rostos sorridentes e bracos abertos. Eles
falaráo do amor que é encontrado na "Organizacáo de Deus" — A Socie-
dade Torre de Vigía, a religiáo das Testemunhas de Jeová.

Mas, urna vez que vocé é convertido em Testemunha de Jeová, entáo


eles mesmos governaráo sua vida com máo de ferro. Eles háo de indicar o
que vocé deve falar, ler, pensar e ainda a forma como vocé deve pentear
seus cabelosl (A Sentinela, 15-07-1983, página 22):

"EVITE IDÉIAS INDEPENDENTES... Como se manifestara tais


idéias independontes? Um modo comum é questlonar o conselho
próvido pela organizacáo visivel de Deus [i.e., a Sociedade Torre de
Vigía]" (A Sentinela, 15-07-1983. página 22).

O verdadeiro cristianismo, entretanto, é caracterizado pela liberda-


de. A Biblia fala de "espreitar a nossa liberdade, que temos em Cristo
Jesús, a fim de que nos escravízassem completamente" (Gálatas 2:4); mas
as seitas pseudo-cristás, como as Testemunhas de Jeová, levam seus
seguidoras a escravidáo.

Multas pessoas, inocentemente, unem-se ás Testemunhas de Jeová


pensando que tém achado o caminho que leva a Deus, mas gómente
quandoó tarde demals é que descobrem que tém perdido sua liberdade de
expressáo. Nao podem exprimir qualquer opinláo contraria á3 "linhas
mestras" da Sociedade Torre de Vigia de Biblias e Tratados:

"As mulheres entre as Testemunhas de Jeová nao devem expri


mir discordancia alguma com relacáo ás decisóes judfciais dos "ser-
vico*" — nem mesmo por suas expressóes facíais" (Extraído de "A
Sujelcáo Teocrática", discurso da Assembléia de Circuito das Testemu
nhas de Jeová [EUA), 1981).

27
28 "PERG UNTE E RESPONDEREMOS" 356/1992

A Sociedade Torre de Vigia muda seus ensinamentos mais do que


qualquer outra religiáo. E quando as "novas verdades" sao introduzidas,
aplica-se certa pressáo para fazer com que cada Testemunha de Jeová se
adapte a elas e Ihes obedeca. sem se importar se eré ou nao eré na "nova
verdade".

Urna vez dentro da organizagáo da Torre de Vigia, nao há um caminho


honroso para sair déla. Se vocé ousar emitir um juizo a respeito do que a
Torre de Vigia ensina, os "servos" levaráo vocé a julgamento, repreenden-
do-o durante horas em pé, e denunciando-o publicamente perante seus
escravizados ouvintes. E aos seus amigos da organizado proibirác que o
visitem e aínda que Ihe (alem um simples "oi" na rúa.

"Por que é sabio evitar falar com alguém que foi expulso?... um
simples 'oi' dito a alguém pode ser o primeiro passo para urna conver
sa ou mesmo para amizade. Queremos dar este primeiro passo com
alguém desassoclado?" (A Sentinela. 15/12/1981. páginas 20-21).

Esta disciplina organizacional vai mais longe, chegando até a separar


as familias se determinado membro se opuser aos ensiriamentos da Socie
dade. Muitos pais se acham separados de seus lilrios, netos e outros
parentes, os quais obedecem cegamente ás determinares impositivas da
Sociedade Torre de Vigia nesse particular.

"PARENTES DESASSOCIADOS... cristáos aparentados com um


desassociado que nao vivo na mesma casa devem esforcar-se a evitar
a associacáo desnecessaria, mantendo ató mesmo os negocios rodu-
zidos ao mínimo" (A Sentinela, 15/1271981, página 25).

Este medo de perder a familia faz com que muitas pessoas que
dlscordam da Sociedade, nao a abandonem, aínda quedeixem de acreditar
nela.

Estas pessoas seguem a Sociedade Torre de Vigia presas ao medo.

De sua sede em Brooklyn. Nova York, os líderes anónimos da Socie


dade governam sobre um "reino" que se estende pelo mundo todo. Quase
3 milhoes de Testemunhas ao redor do mundo Ihes prestam obediencia
papal. O "reino" da Sociedade possui suas próprias leis, seus próprios
tribunals, suas próprias escolas — sem liberdades.

Os dormitorios das fábricas abrigam mllhares de operarios que mo-


ram separadamente de suas familias. Eles produzem mais de um milháo

28
TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E LIBÉRDADE RELIGIOSA 29

de obras literarias por dia, íncluindo "Biblias" com as palavras-chaves


mudadas e acomodadas de conformidade com o ensino peculiar da Socie-
dade Torre de Vigia.

Armada com essa literatura engañosa, cada Testemunha de Jeová é


obrigada a ir de porta em porta pregando as "boas novas" — nao o
evangelho de Cristo, mas urna proclamacáo falsa de que Cristo já vottou á
térra em 1914 e colocou a responsabilidade do reino de Deus ñas máos
dos líderes das Testemunhas.

O oferecimento das Testemunhas de "realizar um estudo bíblico em


seu lar" abre muitas portas. O estudo da Biblia é prontamente desviado
para um dos livros da Sociedade Torre de Vigia, e ai comeca o processo
de lavagem cerebral. As pessoas sem profunda conviccáo religiosa nao
sao problema para urna Testemunha que esteja bem doutrinada. Como
resultado, muitos milhares de pessoas sao levadas cada ano para esta
organizacáo

As pessoas engañadas e presas pela Torre de Vigia necessitam de


afuda, e nao de atitudes grosseiras. É difícil para elas escapar da armadilha
em que se meteram. Se vocé tem párenles e amigos na Sociedade Torre
de Vigia e deseja ajudá-los, o meihor que pode (azer é procurar o conseiho
e assisténcia de um pastor cristáo.

A verdadeira liberdade vai mais além de evitar e escapar de organi-


zacóes opressoras religiosas ou políticas. A verdadeira liberdade é também
libertacáo do pecado, da culpa, do medo e de qualquer condenacáo.

Esta liberdade só pode ser encontrada em Cristo. Ele sofreu por nos
e morreu na cruz para que os homens fossem verdadeiramente livres (Joáo
8:32; 14:6). Jesús ressuscitou dos morios. Ele está vivo. Vá diretamente a
Ele e reconheca-O como Salvador e Senhor — hoje mesmoi — David fíeea

A proclamacáo de David Reed faz eco a numerosas outras. que vém


sendo divulgadas pela imprensa. É valiosa alerta.

29
Falso alarme:

CANIBALISMO NA TRADigÁO
BÍBLICA?

Um sintese: Urna reportagem da imprensa contemporánea tencionou


demonstrar que "a idéia de canibalismo percorre as tradigóes judaica e
cris'' (Folha de Sao Paulo, 13/08/91). Para fundamentar sua afirma
tiva, o repórter cita (imprecisamente) textos do Antigo Testamento e tío
Novo Testamento (Eucaristía!). — Ora tal recurso é improcedente: em
caso nenhum as Sagradas Escrituras oferecem justificativa para a an
tropofagia: os exemplos citados do Antigo Testamento nao sao apresen-
tadospela Biblia comoparadig,.,as, mas como expressóes de desespero
e desatino da parte de homens e mulheres de Israel. Quanto aos textos
do Evange'ho relativos á Eucaristía, nada tém que ver com canibalismo,
pois incutem a comunhao com a carne e o sangue de Cristo glorificado,
on seja, subtraído ás condigoes terrestres ou a condigóes de carne de
matadouro.

* * *

A imprensa, em agosto de 1991, transmitiu a noticia de que Jeffrey


Dahmer, "caníbal" norte-americano, estava sendo julgado por um tribunal
em Milwaukee. Ao comentar o fato, a reportagem. da autoría de Janer
Cristaldo, na Folha de Sao Paulo afirmava que "na verdade Jeffrey
Oahmer nada fez senáo praticar um gesto que está nos fundamentos da
cultura crisis. Mais ainda: é praticado diariamente em todos os países do
Ocidente" (Folha de Sao Paulo. 13/08/1991).

Para fundamentar esta affrmacáo. vém citados exemplos do Antigo


Testamento, como se encontram em 2Rs 6,28s; Lm 2,20; Ez 5.10; Jr 19.9
e nos relatos do Evangelho que apresentam a S. Eucaristia como sacra
mento do Corpo e do Sangue do Senhor Jesús (cf. Mt 26, 26-28 e
paralelos). — A noticia jornalistica impresslona nao pelo acume de pers
pectiva do repórter, mas pela capacidade de deformar fatos e textos do
passado a fim de causar sensacionalismo no público ledor. Examinemos
de perto a questáo.

30
CANIBALISMO NA TRADICÁO BÍBLICA? 31

1. Os textos do Antigo Testamento

1. Eis as passagens do Antigo Testamento mencionadas por Janer


Cristaldo:

Deuteronómio 28,53: "Na angustia do assédiocom que o teu inimigo


te apellar, irás comer o fruto do teu ventre: a carne dos filhos e filhas que
o Senhor teu Deus te houver dado".

2 Reis 6, 28s: "O reí perguntou a urna mulher da Samaría: 'Que te


aconteceu?' E ela: 'Esta mulher me disse: Entrega teu filho, para que o
comamos hoje, e amanhá comeremos o meu. Cozinhamos, pois, o meu
filho e o comemos; no dia seguinte, eu Ihe disse: Entrega teu filho para o
comermos, mas ela ocultou seu filho'".

Lamentac/óes 2, 20: "Vé, Senhor, e considera: a quem trataste


assim? Iráo as mulheres comer o seu fruto, os filhinhos que amimam?
Acaso se matará no santuario do Senhor sacerdote e profeta?"

Ezequiel 5,10: "Os pais devoraráo os filhos no meio de ti, e os filhos


devoraráo os pais (ó Jerusalém!)".

Jeremías 19,9: "Eu farei que eles devorem a carne de seus filhos e
a carne de suas filhas; eles se devoraráo mutuamente na angustia e na
necessidade com que os oprimem os seus inimigos e aqueles que atentam
contra a sua vida".

2. Observemos que os textos de Dt 28,53; 2 Rs 6. 28s; Lm 2,20; Ez


5,10 se referem a dias calamitosos, em que os adversarios cercaram ou
cercaríam urna cidade da Térra de Israel, provocando a tome dos seus
habitantes. Em conseqüéncia, as mulheres e os homens comeriam (ou
ameacariam comer) seus filhos. Nao se trata, pois, de um hábito vigente
no povo bíblico do Antigo Testamento, mas de casos excepción ais. devidos
ao desespero de populacóes sitiadas e famintas. Nem sao excecóes
aprovadas ou ratificadas pelo autor sagrado que as refere; sao, antes,
atitudes que contradizem a Lei de Moisés, onde se lé: "Nao matarás" (Ex
20.13) — atitudes, portante que nao podem ser tomadas como paradigmas
ou como justificativas de canibalismo moderno.

3. Quanto ao texto de Jeremías, refere-se as mesmas circunstancias:


apenas chama a atencáo a locucáo "Farei que eles devorem a carne de
seus filhos...". — Esta expressáo nao significa que Deus havf > de precei-
tuar a antropofagia—o que seria contraditório á Lei do próprio Oeus: "Nao

31
32 'PEGUNTE E RESPONDEREMOS' 356/1992

matar". Significa, antes, que a calamidadedesencadeada sobre Judá pelos


pecados do próprio povo será tal que os pais háo de querer comer a carne
dos filhos. O semita nao distingue entre causa primeira e causa segunda,
mas atribuí toda causalidade a Oeus. Na verdade, Deus nao é, nem pode
ser, causa de crimes e pecados; é o homem que os causa e comete, quando
se torna vhima de seus próprios desatinos.

4. Fora do povo de Israel era, sim, praticado o canibalismo ou a


antropofagia. Tal. costume, porém, supunha premissas alheias as dos
judeus. Com efeito; varios povos primitivos julgavam que a absorcáo do
sangue ou o consumo do cerebro de uma pessoa lalecida comunicaría ao
usuario as virtudes (inteligencia, habilidades, forca...) desse individuo. Por
isto matavam seres humanos e bebiam seu sangue aínda fresco, pois no
sangue estaría a alma ou a fonte das virtualidades da vitima; o sangue era.
por vezes, tido como o alimento mais precioso do ser humano. Em outtos
casos matavam um ser humano, perturavam-lhe o cránio e retiravam-lhe
ou absorviam-lhe o cerebro, julgando que assim participariam dos predica
dos do defunto. Ora tal costume era abominável aos olhos de Israel e de
sua Lei; nao se encontram no Antigo Testamento testemunhos que possam
fundamentar o canibalismo em nossos dias.

2. O Novo Testamento

Segundo Janer Cristaldo, no Novo Testamento "o canibalismo é


virtude":

"Durante a Santa Ceia, Cristo oterece seu corpo e seu sangue em


uma refelgáo sacrifical, para que os participantes entrem em contato com
o sacrificio, corriendo do sacrificado. É o que os católicos romanos
chamam de transubstanciacáo. Todo católico, quando comunga, nao
está bebendo o vinho ou corriendo o pao como símbolos do corpo de
Cristo. Está, de tato, bebendo o sangue e comendo a carne de Cristo"
(reportagem citada).

Na verdade, a fó católica professa a real presenca de Cristo (com


corpo, sangue, alma e Divindade) no sacramento da Eucaristía. Sob os
acldentes do pao e do vinho está o Cristo inteiro, para o alimento da vida
espiritual dos cristáos. Esta verdade é expressa nítidamente nos textos do
Evangelho:

"Enquanto comiam, Jesús tomou um pao e, tendo-o abengoado,


partlu-o e, distribuindo-o aos discípulos, disse: 'Tomai e comei, isto ó o meu
corpo'. Depols tomou um cálice e, dando gragas. entregou-o dizendo:

32
CANIBAUSMO NA TRADI?ÁO BÍBLICA? 33

'Bebei dele todos, pois isto ó o meu sangue, o sangue da Alianga. que ó
derramado por muitos para a remissáo dos pecados'" (Mt 26, 26 e paralelos).

Joáo 6,51: "O pao que eu darei, ó a minha carne para a vida do
mundo... Se nao comerdes a carne do Filho do homem e nao beberdes o
seu sangue, nao tereis a vida em vos. Quem come a minha carne e bebe
o meu sangue, tem a vida eterna, eeu o ressuscilarei no último dia".

É de notar, porém, algo de muito importante: quando Jesús anunciou


aos judeus a entrega do seu Corpo e do seu Sangue como alimento
sacramental, os judeus que ouviam, entenderam tal promessa em sentido
canibalistico ou antropofagia» e se horrorizaran). Respondeu-lhes Jesús:

"teto vos escandaliza ? E quando virdes o Filho do Homém subir aonde


eslava antes?... O espirito é que vivifica, a carne para nada serve. As
palavras que vos disse. sao espirito e vida" (Jo 6. 61-63)

Tai resposta quer dizer.

Jesús visava a remover um entendimento grosseiro de suas afirma-


cóes. o entendimento canibalistico também chamado "cafarnaftico" (por
que característico dos ouvintes de Cafarnaum, onde Jesús (alava): nao se
tratava de comer carne enquanto tal (está claro que esta por si nao santifica
o homem) nem de comer a carne do Senhor em suas condicóes terrestres
(como se come a carne do ac. ougue), mas, sim, de receber a carne de Cristo
glorificada e elevada aos céus. emancipada das leis do espaco e do tempo.
E a carne nessas circunstancias novas que Jesús chama "espirito"; é
espirito, porque está toda penetrada pela Divindade (na verdaoe. é a
Divindade de Cristo que, mediante a carne, vivifica os fiéis na Eucaristía).

A Eucaristía, como alimento sacramental, (az o cristáo viver como


membro do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. Os conceitos de
Encarnacáo e Corpo de Cristo sao fundamentáis no Cristianismo: o cristáo
é felto membro do Corpo Místico pelo Batismo e, como tal, é alimentado
pelo Corpo Eucaristico de Cristo. Todavia em caso nenhum se trata de
carne em condic.óes terrestres, como é a carne do matadouro, mas trata-sé
de comungar com a carne de Cristo glorificada ou existente em condicóes
muito diversas daquelas que o canibalismo supóe. Por conseguinte, é falso
apelar para os textos do Novo Testamento no intuito de basear crimes
modernos de antropofagia.

É, nao, raro peculiar aos repórteres procurar causar impacto no


público, apoiando-se em sofismas ou afirmacóes superficial e infundadas;
"jogam areia nos olhos do leitor". Especialmente grave é tal prática quando
ela versa irreverentemente sobre valores religiosos, que sao caros ao
público ledor. O fiel católico há de saber discernir os sofismas ou trocad ilhos
que Ihe sao apresentados.

33
Mais urna proposta religiosa:

EUBIOSE: QUE É?

Em sintese: A Eubiose é urna forma recente de Teosofía, que pretende


fazer da cidade de Sao Lourenco (MG) a capital espiritual do mundo. O
fundador dessa escola ó o Prof. Henrique José de Souza, o mais novo avatar
ou a mais recente manifestacéo da Divindade (como dizem os seus escri
tos). Professa o panteísmo, a reencarnacáo, a historia do mundo em ciclos
sucessivos. Estaríamos para deixar o ciclo de Peixe, regido por Jesús
Cristo, para entramo ciclo deAquário. que tara sua irrupgáo no Brasil, cujo
idioma é o mais sagrado do mundo.

Vé-se que tal mensagem é altamente fantasiosa, além de ideológica:


o panteísmo, que é sua doutrina de fundo, nao resiste á crítica da razio,
visto que Identifica o volúvel e o Imutável, o temporario e o Eterno, o relativo
e o Absoluto, identificando a Divindade com o mundo e o homem.

* * *

Existe em Sao Lourengo (MG) a sede principal da Sociedade Brasi-


leira de Eubiose, outrora Sociedade Teosólica do Brasil, fundada por
Henrique José de Souza (1883-1963). A mesma entidade, além do templo
de Maitreia em Sao Lou rengo, possui o Templo-Obelisco na ilha de Itapa-
rica (BA) e o Templo do Roncador em Nova Xavantina (MT). — Tal
Sociedade tem seus livros-fontes, entre os quais "Eubiose. A verdadeira
Iniciacáo" de Henrique José de Souza, e as revistas "Aquanus" e "Arabitá".

Visto que o público se ¡nteressa por conhecer em que consiste a


mensagem da Eubiose, proporemos, a seguir, alguns de seus tragos
principáis (deduzidos da bibliografía citada), acompanhados de breves
comentarios.

1. Eubiose: que diz?

A Eubiose é urna corrente de pensamento sincretista, cuja fonte


principal é o pensamento hinduista. Este é retomado por Henrique José de

34
EUBIOSE: QUE É? 35

Souza, sob forma de uma (¡losofia religiosa que pretende ser a nova e única
da humanidade. Sao palavras do lundador:

"Sofro desde que nasci. E trabalho desde os quinze anos de idade.


Todos o sabem. principalmente aqueles que ousaram seguir fielmente os
meus passos. Nao sao raros os que me copiam, mas, infelizmente, adulta-
ram para ter o direito a dar como seu aquilo que Ihes nao pertence.
Traduttorel Traditore! Tradutor! Traidorl

Os días se aproximam para o final da minha jornada na Térra. Assim,


morro com e pela Humanidade. Prometí a minha volta no comeco do sáculo
XX. E assim aconteceu para o preparo da Era deAquário. a Era de Maitréia,
ou seja, mais uma vez, a manifestacáo da Esséncia Divina na Térra. Se as
religióes conhecessem, de fato, o misterio dos avalares, elas nao existí-
riam, mas táo somente uma: a Religiáo-Sabedoria, a Teosofía (Hoje EU
BIOSE como ditame da Lei já previsto pelo autor do livro — Nota da
Editora). Também poderia ser chamada de CULTO DE MELKITSEDEK. a
quem o próprio Cristo prestou homenagens. e Abraáo pagou os dizimos ou
impostos cármicos que Ihe devia...

Tudo fiz para que tais religióes se unissem através de uma Frente
Única Espiritualista. Ninguóm me quis ouvir. Ninguém visitou, sequer, o
nosso Templo sem saber que o Mesmo era dedicado ao Deus Único de
Todas Elas. Fiz mais, quis implantar o salvador "slogan" de uma Frente
Única Espiritualista; Um só idioma; Um só padráo monetario. Ninguóm me
quis ouvir, aínda... Os interesses económicos de certospaíses, pelos quals
eles se degladiam a golpes de bombas atómicas e de hidrogénlo, sem
saberem que estáo destruindo o próprio mundo, nesse caso, a si mjsmos,
fírmam no momento atual da vida humana o Julgamento final do ciclo, que
se deu em 1956. conforme estava escrito no interior da pirámide de Cheops,
para nao ir mais adianto e provar que, sendo a vida universal dividida em
ciclos — ciclos de declimo. ciclos de elevagáo, na razáo do "Construens et
Destruens", de Bacon, o "Corsi e Ricorsi", de Vico. Sim, compreenderíam
que o Juízo Final apregoado pelas religióes ocidentais longe está aínda dos
nossos dias. Do mesmo modo que o mundo, os homens nao estáo aínda
de todo formados. Por isso, sofrem e choram as suas miserias" (Eubiose.
cap. XXII § 334).

Este trecho exprime bem o caráter eclético da Eubiose. As suas


rafees Imediatas estáo na Teosofía—escola fundada por Helena Blavatsky,
cujas obras Henrique José de Souza cita com freqüéncia, ao lado de outros
escritos teosóficos. Um dos vestigios dessa filiacáo é o nome da Sociedade
fundada por H.J. de Souza: em 1924, quando teve inicio, chamava-se
"Sociedade Mental Espiritualista"; em 1928 passou a chamar-se "Socieda-

35
36 -PERGUNTE E RESPONDEREMOS"356/1992

de Teosóflca Braslleira", e em 1969 "Sociedade Brasileira de Eubiose". —


Teosofía é o conhedmento de Oeus (Theós) recebido pretensamente pela
revelado de urna Sabedoria (Sophía) reservada aos iniciados. Á p. 94 do
seu livro "Eubiose". o autor coloca na mesma linha. como porta-vozes da
mesma "sabedoria", "todos os teósofos, ocultistas e eubióticos".

O pensamento da Sociedade de Eubiose é o panteísmo hlnduista,


segundo o qual o mundo e o homem sao manlfestacóes da Divindade —
realtdade básica de tudo o que existe. A Olvindade se torna mais explícita
periódicamente em certas figuras humanas ditas "avatares", das quais
Henrique José de Souza seria a mais recente. A historia da humanidade
decorre em ciclos, que se suceden) num ritmo de aseen sao e declinio. O
ser humano está sujeito á lei do karma e das reencarnares; deve tender
á definitiva desencarnacáo mediante o continuo aperfeicoamento moral de
si mesmo. A principio a humanidade constava de andróginos, isto é, seres
humanos blssexuais. tais como os conceberam o filósofo grego Plateo
(t 347 a.C) e a tradicáo esotérica antiga (el. "Eubiose", p. 20).

O Brasil, e de modo especial a cidade de Sao Lourenco (MG), será a


sede da nova irrupeáo da DIvindade, portadora de nova civilizacáo ou Era
deAquário (cf. Ib., p. 320). Sao Lourenco deve tornar-se "a capital espiritual
do mundo por ser o Centro (ligado á Agartha-Shamballah) de irradiacóes
esplrituais para esse mesmo mundo" (ib., p. 270)1.

A lingua mais sagrada do mundo é o portugués (p. 320)!

De acordó com o seu pensamento eclético, a Eubiose eré ñas profe


cías de Nostradamus, como também professa a existencia de continentes
desaparecidos, como seriam a Atlántida e a Lemúria. "sem falar nos dois
anteriores, cujas racas, de humanas, nem sequer tinham a forma..." (ib. p.
313). Como se compreende. H.J. de Souza admite que os habitantes
desses continentes tenham desfrutado de urna sabedoria que fot recolhida
pela Eubiose.

No tocante ao Catolicismo, Henrique José de Souza é fortemente


agresslvo. Fala de "Jeoshua ben Pandlra", Isto é, de Jesús filho de Pandlra
(- pretenso soldado romano). E acusa a Igreja Católica de Ignorar a
verdadeira doutrlna ou a auténtica Interpretado das Escrituras Sagradas:

I Continua Henrique José de Souza:


"Responde por ludo teso o ¿xodo que vein sendo Icvndu a ciato desde nqucki cpov-.i. |Hira o
lugar que aponía o Marco precioso, onde a Múmida alcancou u máximo de suu cvolui;ao no
présenle ciclo da Humanidade, isto é, do 23a de latiiude Sul, Trópico de Capricornio".

36
EUBIOSE: QUE É? 37

estas sao entendidas pela Eubiose através de derlvacóes etimológicas


muito estranhas, através de paralelos (artificiáis e focados) com textos de
esoterlsmo, de modo a se reduzir o Cristianismo a urna forma de Teosofía,
precursora subserviente da Eubiose. Eis um espécimen do modo como
Henrique José de Souza trata o Evangelho e o Catolicismo:

"O signo de Piséis tem urna retaceo multo estrella com 'pecado
original' (a queda do sexo, etc.). Isto foi comprovado pelo próprlo Jeoshua
que, ao se Ihe apresentar a 'mulher adúltera', tragou no chao um 'pelxe'.
para logo dizer: 'aquele que estiver isento de pecado (Isto 6 do pecado...
desta natureza), que atire a primeira pedra'. A Igreja interpreta erradamen
te, afirmando que ele assim agiu por 'ser pescador'... Melhor serla entáo
dizer que ele, 'ao ser ¡oreado a atirar a sua mayavica rede de Iniciado ou
Instrutor', tinha a intencáo de apanhar os 'peixinhos do seu próprio vivelro".
ou saja, seus discípulos, apostólos etc. Mas essas interpretares nao sao
para sacerdotes 'nao iniciados', como os da Igreja romana ou outros
quaisquer... que nao se aprofundaram nos 'grandes Misterios da Vida' "
(ib., p. 240).

Este texto sugere algumas observagóes:

a) O pecado original nao foi pecado de sexo (ao contrario do que


insinua H.J. de Souza). — Tal concepeáo só se sustenta por um preconceito
que o estudo objetivo do texto de Génesis 3 dissipa;

b) Como se sabe que Jesús, ao escrever no chao (cf. Jo 8.6),


tracou a imagem de um peixe? — Toda afirmacáo que queira passar por
científica e merecer crédito, tem que ser comprovada. Atirmacóes gra
tuitas e fantasiosas ficam abaixo do nivel da ciencia e do respeito do
estudioso:

c) a mencáo de mayavica rede de Iniciado ou Instrutor é um jogo de


palavras, que nao tem consistencia.

Alias, o Sr. Henrique José de Souza insinúa ser o novo Jesús Cristo,
pois ele julga que as letras J.H.S.. que costumam indicar JESÚS1, devem
ser deslocadas, formando a nova seqüéncia H.J.S.:

t As letras J.H.S. n;u> signii~u:nin "Jesús Hómúi S:ml¡i" nom "Jou> Hoiikiii Snlviulni". mus
s3oaslrcsprinic¡rdslt:lniüdiinttmcJKSCSc>criliiciiic.ir.icli:rcs)!re^»Mii:iiUM:ulos: IIISOVS.
— OH n3o ¿ o ugü portugués, mus o c tongo grvgu mniúscut» chanuiilu líln.

37
38 'PEROUNTE E RESPONDEREMOS' 356/1992

"Ojovem faz-se homem e as tres prodigiosas iniciáis J.H.S. passam


a ser H.J.S. Sim. porque o 'filho do homem' nao podía deixar de ter o H no
comeco de seu nome terreno.

Ademáis o H, como letra aspirada, é a consoante única que faz vibrar


as vogais do OEEHAOO sagrado, na razio das sete vozes celestes ou
Dinámicas, apercebidas por Ezequlel na sua vlsáo extra-terrenal Momento
de éxtase, samadhi, ou uniáo com a Consciéncia Universal!" (p. 312).

Jesús seria o expoente máximo do velho ciclo de Peixes (ib. p. 280)!

Como se vé, o autor tem a pena ágil e a ¡maginapáo lecunda, podendo


assim impressionar o leitor por seu linguajar eclético e contuso.

Passemos agora a urna retlexáo sobre tal mensagem.

2. Ponderando...

1. Quem lé os escritos da Eubíose, especialmente o hvro de Henrique


José de Souza, fica impressionado nao pela sabedona e a lógica de suas
afirmacóes, mas pela capacidade de fazer sofismas, jogos de palavras.
assonáncias vazias, imagens altamente tantasistas. sem conteudo. e inca-
pazes de resistir á critica da sao razáo. Dir-se-ia que os autores de tais
obras se comprazem em lanzar areia nos olhos dos leitores, estonteando-
os por urna aparente erudi^áo, que mistura os conceitos mais heterogé
neos, como faria alguém que leu sem aprofundar as suas leituras. O leitor
que nao possua senso critico pode (¡car surpreso e "esmagado" pela f artura
de nocóes que Ihe sao oferecidas, mas, se reflete um pouco, verifica que
H.J.S. se compraz numa ostentacáo um tanto vaidosa e pretensiosa de si
mesmo (vejam-se os seus traeos autobiográficos citados á p. 35 deste
fascículo). Quer ser o último Cristo, o último e mais perfeito dos Profetas.

Os conhecimentos que ele revela ter de Jesús Cristo, sao colhidos


em obras do século passado ou de decenios remotos, que o autor cita á p.
178de"Eublose":

"A dúvida de H.P.B? sobre a vida e obras de Jesús, o Cristo,


transparente na frase: 'Aquele que se acredita como sacrificado pela

1 Helena Pelrovna Blavalsry, fundadora da Teosofía (Nota do redalor).

38
EUBtOSE: QUE É? 39

humanidade', deriva do tato de nao ser absolutamente verdadeiro tudo


quanto a respeito desse Ser nos é apontado na Biblia. Na revista Dharana.
órgáo oficial da S.B.E., encontraráo os interessados vastos esclarecimen-
tos a respeito. Podem tambóm consultar as centenas de obras que tratam
do mesmo assunto. Lembraremos as mais importantes: Le Mytho de
Jésus, Arthur Drews; Le Mystére de Jésus, París Rioder. 1924; Jósus de
Nazareth, Maurice Goguel; Jéaua devant la Critique, Paúl Buiysse; His-
toiro Elémentaire et Critique de Jésus, A. Peyrat; Leben Jesu, David
Fried. Strauss; Christus und die Casaren, Bruno Bauer, 1877, etc."

É preciso ser muito superficial para escrever um texto como este. A


critica liberal racionalista nao crista contemporánea já nao se apóia em
Goguel, Strauss, Drew, Bauer... nomes ultrapassados. A critica moderna
tem por expoentes Rudolf Bultmann. Martin Dibelius, Marxsen e oulros....
autores que as escolas católicas de nossos días refutam em obras como
as de

Rene Latoureile, Jesús existiu? — Ed. Santuario, Caixa postal 4,


12570 Aparecida (SP):

Frangois Dreyfuss, Jesús sabia que era Deus? — Ed. Loyola, Caixa
postal 42335, 04299 Sao Paulo (SP).

Mario Serenthá. Jesús Cristo ontem, hoje e sempre. — Ed. Sale-


siana Dom Bosco. Caixa Postal 30439. 01051 Sao Paulo (SP).

2. Nao se requerem longas consideracóes para refutar o pensamento


filosófico-religioso da Eubiose. Tenham-se em vista duas de suas teses
básicas: o panteísmo e o reencarnacionismo:

a) O panteísmo admite que tudo (pan) seja Deus (Theós). Ora isto é
ilógico, pois identifica o relativo com o Absoluto, o contingente com o
Necessário, o temporario com o Eterno, o volúvel com o Imutável. Com
efeito; as coisas que vemos, sao transitorias e relativas, ao passo que
Deus, por definicáo. é o Absoluto e Eterno; por conseguinte, a identificacáo
daquelas com Este é grosseira aberracáo, que peca contra as regras do
raciocinio. É, porém, urna atitude sedutora, pois o homem que diz ser urna
centelha de Deus nao presta contas a ninguém a nao ser a si mesmo — o
que é assaz cómodo.

b) A reencarnacáo é um postulado gratuito, para o qual nao há prova


nenhuma. Os fenómenos de regressáo em idade e relatos de vida "pregres-
sa" sao todos explicáveis por associacáo de nocóes captadas na vida
presente e apresentadas pelo narrador como se fossem traeos de suas

39
40 'PERGUWTEE RESPONDEREMOS" 356/1992

anteriores encamacóes. O estudo atento de tais casos revela que a pessoa


sob comando hipnótico obedece cegamente, de modo que, se Ihe dizem
que val relatar a sua vida pregressa, ela tenta fazé-lo combinando entre si
reminiscencias colhidas no decorrer mesmo da sua presente existencia.
Ademáis a reencamacáo leva a uma absurda conseqüéncia; com efeito,
dever-se-la dlzer que toda pessoa pobre e doente na vida presente é um
grande pecador que está pagando por culpas cometidas na encarnacáo
anterior, ao passo que todo Individuo sadio e rico seria uma pessoa muito
virtuosa que está recebando o premio de suas boas acóes. Ora tal conclu-
sio é de todo absurda, pols nao se pode dizer que pobreza material e
molestia física sao conseqüéncias de pecados pessoais nem o dinheiro é
o resultado da virtude. Ademáis nem toda pessoa doente é gravemente
pecadora, como nem todo individuo rico é necessariamente virtuoso.

Nao ó preciso que nos detenhamos em ulteriores consideracóes


sobre a mensagem da Eubiose, pois afirmacóes gratuitas e fantasiosas
flcam abaixo do plano da razáo e nao tém valor científico nem filosófico.

* * *

(Continuacáo da p. 48):

símbolo de fé e amor; ela de nada vale se nao é inspirada por fé e


amor, ao passo que fé e amor tudo valem mesmo sem o símbolo do dinheiro.

P.80: 'Deus é a favor dos pobres e contra os ricos (veja Le 1.51-53)".


— Na verdade, Deus nao julga ninguóm pelo fato de ser pobre ou rico; o
que conta aos olhos de Deus, ó a honestidade de vida e a pureza de
coráceo, que sao compativeis tanto com a riqueza como com a pobreza.

Haveria outras incomodes do livro a apontar. A própria linguagem de


divulgacao da obra nao está isenta de imperfeicóes. Em suma, entre a boa
intencáo do autor e a execucáo da obra notase uma defasagem desabo
nadora.

E.B.

40
Título atraente:

"BIBLIA: PERGUNTAS QUE O


POVO FAZ"

por Freí Mauro Strabeli

Em síntose: O livro de Frei Mauro foi escrito com a methor das


intencóes, a saber: elucidar o povo de Deus. Todavía pode perturbá-to,
porque é sumario demais e nao raro cede a tendencias exegéticas reducio-
nistas, um tanto cétlcas. Em alguns casos, o autor evita tomar posicóes
definidas, a fim de "facilitar" a fé, tornando a mensagem crista mais
adequada as dimensóes da razáo. Isto se dá especialmente no tocante á
doutrina do pecado original (que nao pertence apenas ao dominio da
exegese bíblica, mas é objeto de definigós conciliares), ao conceito de
profecía, á nocáo do primado de Pedro e seus sucessores, ao episodio das
pragas do Egito, ao da Transfiguragáo do Senhor...

* * *

O autor da obra é capuchinho, professor de Teología Bíblica no


Estado de Sao Paulo. Recolhe da sua prática pastoral 58 perguntas (eitas
pelo povo de Deus a respeito do Antigo e do Novo Testamento, e procura
responder-lhes de maneira sucinta e em linguagem fácil.1

Livros desse tipo sao muito necessários, pois os fiéis se sentem


carentes de explicares. Acontece, porém, que, diante de textos bíblicos
suscetiveis de mais de uma interpretacáo, o autor opta por uma délas e a
propóe como sendo a resposta as dúvidas dos fiéis, sem apresentar os pros
e os contras; a hipótese assim torna-se tese ou a sentenca que, aparente
mente, a exegese contemporánea adota sem mais. Goralmente as hipóte-

I Biblia: Perguntas que o Povo faz, por Frei Mauro Strabeli. — Ed. Paulinas, Sao Paulo
1990. 150 x 220 mm. 193 pp.

41
42 "PEROUNTE E RESPONDEREMOS' 356/1992

ses-teses professadas por Frei Mauro sao as de Carlos Mesters e Leonardo


Boff, freqüentemente citados no decorrer da obra. — Ora tal procedimento
ó subjetivo e antidldático; se o autor quer esclarecer o público de maneira
objetiva e construtlva, deve apresentar-lhe as respostas adequadas, indi
cando os argumentos sobre os quais se básela, e a forca maior ou menor
de tais argumentos. Assim o leitor nao será induzido a tomar sentencas
discutidas como definitivas ou sentencas erróneas como verídicas.

A obra apresenta varios pontos vulneráveis, como se verá a seguir

1. O pecado original

O pecado que se segué á elevacáo dos primeiros país á justica


original — doutrinadefé—éesvaziado: vem a ser simplesmente o primeiro
pecado da historia, que foi ocasionando outros pecados, de tal modo que
a crlanca nasoe hoje num mundo em pecado:

"O autor bíblico nao está querendo descobnr qual o primeiro


pecado do homem. Nos ó que damos ao texto urna interpretagáo que é
estranha para o próprio autor. A intengáo dele é outra: ele nao quer
provar nada e nem quer demonstrar que houve pecado que se tena
transmitido de pai para filtro; ele apenas constata que há pecado no
mundo; constata que existe em cada pessoa a misteriosa e inexpllcável
tendencia para o mal. Oíante da leí de Deus, o homem é tentado a
escolher o mal e nao o bem. É isso um mistarlo profundo que se esconde
no coráceo do homem. Cf. C. Mesters. Paraiso terrestre: saudade ou
esperance? p. 67.

A narracáo bíblica sobre o pecado original é montagem literaria


feita sobre urna grande verdade: o homem pecou, errou no passado,
porque ele peca e erra no presente. Essa tendencia e essa inclinagáo
de todos para o mal, exigem que tenha existido um mal de raíz, um erro
Inicial, urna ruptura do homem com sua Origem, que é Deus (cf. C.
Mesters, op. cit., p. 97). E, como todos pecamos, essa inclinagáo está
no coragño de todos. Ela ó passada a todos. Essa é a constatagáo que
o autor bíblico faz, e ó verdade. E, para retratar tudo isso, o autor bíblico
usa a llnguagem simbólica e elementos de sua cultura: nudez, voz de
Deus, esconderse de Deus, etc., como vimos. Para o autor, todo homem
á Adáo, Isto ó, pecador" (pp. 35s).

Ora tal explicacáo do pecado original contradiz ao que a Tradicáo e


o magisterio da Igreja sempre enslnaram. Por isto nao pode ser aceita. O

42
•bIbua: perguntas que o povo faz- 43

assunto em pauta é regido por criterios teológicos; varios Concilios se


manifestaran) sobre a elevagáo do homem á justica original (grapa santifi
cante e dons preternaturais) e sua queda; os pronunclamentos desses
Concllos. que exprlmem a Tradicáo oral, háo de ser tomados como balizas
para se Interpretar a Tradicáo escrita ou a Biblia. Se se negligencia este
método, faz-se urna exegese racionalista, nao católica.

2. O primado de Pedro

A doutrina do primado de Pedro em Mt 16,19-19 é também esvazia-


da; cf. pp. 162-165. A Igreja estaría edificada sobre a confissáo de fé de
Pedro ("Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo") e nao sobre a pessoa de
Pedro, Vigário de Jesús Cristo. Isto quer dizer que um cristáo poderia estar
tranquilo se professasse a messianidade de Jesús, ainda que desvinculado
da obediencia a Pedro e seus sucessores. Na verdade, poróm, Jesús fez
de Pedro e seus sucessores nao somente os arautos da fé ou do Evange-
Iho, mas também os portadores das chaves que abrem efecham, queligam
e desligam de maneira sacramental: "Tudo o que ligares na térra, será
ligado no cóu; tudo o que desligares na térra, será desligado no céu" (Mt
16,19; texto este que Frei Mauro nao cita). — Deve-se ainda notar que a
explicacáo do assunto as pp. 162-165 do livro é um tanto ambigua; o autor
parece professar a clássica doutrina, mas sutilmente Ihe contradiz: cita
duas vezes o livro Ecleslogénese de Frei Leonardo Boff.

3. Profecias

O autor tende a reduzir a profecía á análise de situacóes sócic-


económicc-politicas presentes ao profeta. Neste caso, hoje ainda haveria
muitos profetas: "Verdadeiro profeta é hoje todo aquele que defende o
Irmáo por ser imagem de Deus, e por ele expóe até a própria vida" (p. 93);
e isto Independentemente da crenca religiosa do "profeta":

"Nao deixa de ser verdadeiro profeta o líder que defende seus ¡rmáos
contra as injustigas, as opressóes (ainda que nao sendo cristáo). Todo
aquele que expóe sua vida pelo irmáo oprimido, todo aquele que ouve o
grito de dordo homem escravizado e por ele levanta sua voz, esse é proteta
de Deus. Por isso há sementes de auténtico profetismo em muitas lideran-
cas sindicáis, rurais e operarías de nossos días" (p. 94).

Quanto á previsáo do futuro, o autor assim se exprime:

43
44 "PERGUNTEE RESPONDEREMOS'356/1992

"Nao fot tungáo principal dos profetas bíblicos prever o futuro. Nem
isso eles fizeram. Multas das prevlsóes deles cabem cortamente deniro de
certo quadro de possibilidades e probabilidades humanas" (p. 94).

O autor parece corrigir-se de algum modo, quando á p. 92 escreve:

"Evidentemente nem todos os oráculos prole ticos sao apenas prevl-


sóes lógicas tiradas dos acontecimentos. Sao também intuicóes percebidas
á luz da fé, da graga e de inspiragáo de Deus. Sempre, porém, um aconte-
cimento está á base. O profeta é a única pessoa capaz de ler o significado
do acontecimento. E ele o faz por graga e inspiragáo de Deus" (p. 92).

Verdade é que o profeta é aquele que fala pro ou em lugar de Deus,


seja para analisar o presente, seja para predizer o futuro. As predicóos nao
resultam apenas de conjeturas ou de conclusóes lógicas, mas sao a
previsáo de acontecimentos distantes, que somente a inspiracáo divina
poderia explicar; tenham-se em vista as profecías messiánlcas de Is 7,14s
(o Messias-Emanuel); Is 8,23-9,6 (o Messias-Prindpe-da-Paz); Is 11,1-9 (o
Messias chelo do Espirito, restaurador da ordem violada pelo pecado); Is
52,13-53,12 (o Messias padecente em expiacáo dos pecados)...

4. As pragas do Egito

Segundo Frei Mauro, as pragas do Egito nao foram fatos históricos,


pois "histórico é o que pode ser comprovado, verificado, aterido" (p. 53).
— Ora. se alguém segué esta tese, deverá dizer que a historia deixa de
ser, em muitos pontos, histórica, pois. quanto mais se retrocede no tempo,
tanto mais difícil é comprovar e verificar aquilo que os documentos nos
referem. O que se deve fazer, para afirmar se algo é histórico ou nao, é
averiguar a credlbilidade ou a fidelidade.dos documentos a nos transmiti
dos. O relato bíblico das pragas do Egito, embora tenha seus traeos
hiperbólicos e seus expresslonismos próprios, se apresenta como algo de
fidedigno: para que o Faraó deixasse partir o povo israelita escravlzado,
eram necessários sinaisque o impressionassem, e tais sinais teráo sido
aqueles que o livro do Éxodo refere e que os estudiosos verificam ser
ocorrentes na térra do Egito. A sucessáo dos fenómenos narrados por Ex
7-12 assim se pode explicar:

O primelro flagelo se deve á enchente do rio Nilo, anualmente verifi


cada em fins do mes de junho. As aguas costumam tomar entao aspecto
vermelho por causa de detritos de barro que descem dos lagos da Abissinla;
é este o fenómeno dito "do Nilo vermelho", o qual se pode parecer com a

44
•BÍBLIA: PERGUNTAS QUE O POVO FAZ" 45

transformacáo da caudal em rio de sangue. Normalmente, poróm, as aguas


da chela nao sao nocivas nem aos homens nem ao gado. É o que sugere
que a endiente da primeira praga haja sido acompanhada por outro
fenómeno, como talvez a invasáo de pequeños animáis dentro do rio, os
quals tornaram venenoso o manancial.

P. Heinisch, prolessor da Universidade de Nimwegen (Holanda).


aponta (atos históricos que podem servir para ilustrar o texto bíblico:

Em setembro de 1913. veriticou-se numa bala perto de Kiel (Ale-


manha) a Irrupcáo de numerosísimas pulgas de agua (adaphniae,
crustáceos cladoceros): estas, juntamente com os coanoflagelados que
aderiam á couraca das mesmas, consumiram todo o oxigénio da agua,
ocasionando o perecí mentó dos peixes da baia por sufocacáo. A massa
dos crustáceos invasores dava a impressáo de que um corante averme-
Ihado havia sido derramado ñas aguas, o que bem se explica peto fato
de trazerem as pulgas de agua algumas gotinhas de óleo vermelho no
seu organismo;

Está averiguado que também certos "flagelados" rubros (englena


sangüinea), caso se tornem numerosos, dáo colorido sanguíneo á agua:

O chamado "Lago Vermelho" perto de Lucerna (Suica) deve o seu


matiz característico a urna especie de alga (oscillatoria rubescens)'.

Estes fatos dáo a ver que, por vta natural, e em circunstancias


diversas, as aguas de um rio ou lago podem tomar coloracáo vermelha,
parecendo transformadas em sangue.

A esta seguiram-se outras calamidades conforme um encadeamento


assaz compreensivel.

As invasóes de ras, mosquitos e vespas (segunda, terceira e


quarta pragas) sao conseqüéncias das enchentes do Nilo. Normalmente
ras e mosquitos pdem ovos na agua ou sobre as aguas, onde os mesmos
se desenvolvem. Quando, pois, se verificam inundacóes, multiplica-se
um dos fatores principáis para o aparecimento de tais animáis, que. em
conseqüéncla, penetram ñas habitacóes dos homens e os molestam. As
aguas teráo ocasionado também o ambiente favorável á reproducáo ex
traordinaria de moscas venenosas.

1 Cf. Heinisch, Das Buch Exodus (Bonn 1934). 81.

45
46 ■PERGUNTEERESPONDEREMOS-356/1992

Inundacóes e invasóes de animaizinhos provocam nao raro doencas


e epidemias, como as que se deram na quinta e na sexta pragas.

A geada (sétima praga) é fenómeno que se terá produzido no mes de


fevereiro, quando ela se verifica no Egito.

Urna invasáo de gafanhotos (oitava praga) também nao seria para


estranhar em fevereiro ou margo, mormente em países orientáis, onde tal
calamidade parece ter ocorrido com certa freqüéncia (cf. Jl 1, 4; Am 4,9).

Quanto as trevas, que constituem a nona praga, teráo sido acarreta-


das pelo famoso vento quente dito khamsin ou simún. Este sopra a partir
do deserto, carregando consigo enormes quantidades de areia, suficiente
mente espessas para provocar escurecimento da atmosfera. Sua acáo se
faz sentir em marco ou abril, por vezes ainda em maio, e no decurso de
dois, tres, até seis días continuos, durante os quais aínda hoje as estafóos
ferroviarias funcionam á luz acesa em pleno dia. Conforme Heródoto (3,26),
parte do exército de Cambíses foi sepultada ñas areias desse vendaval.

No tocante á décima calamidade (morte dos primogénitos), nenhum


fenómeno ordinario se Ihe pode comparar. Foi decisiva para que o Faraó
se rendesse.

Eis como se podem entender as pragas do Egito no seu respectivo


ambiente e clima. Ver a propósito: E. Bettencourt, Para Entender o Antigo
Testamento. Ed. Santuario, Aparecida (SP).

5. A Transfiguracáo de Jesús

A Transfiguracáo de Jesús "tal como ás vezes se imagina... é imagem


mais cinematográfica do que real" (p. 167). — O autor julga que nao é senáo a
revelacáo paulatina que Jesús foi fazendo de si mesmo aos Apostólos no
decorrer da sua vida pública, de tal modo que um dia os Apostólos "abrem os
oihos, maravilham-se com a descoberta e querem ficar com Jesús para sempre.
Os evangelistas chamam essa mudanca de transfiguracáo. Jesús mu-
dou, transfigurou-se para eles, é outro. Realmente é o Filho de Deus" (p. 167).

Esta interpretado do relato de Mt 17,1-8; Me 9, 2-8; Le 9, 28-36 é


arbitraria. O autor nem sequer se dá ao trabaiho de aduzir argumentos ou
ponderacóes que a comprovem. Afirma gratuitamente como se fosse a
última palavra da exegese católica. Na verdade, podem-se admitir nos
relatos da Transfiguracáo varias ressonáncias de ordem teológica; os
evangelistas quiseram evidenciar a importancia do episodio no contexto da
Revelacáo, mas nem por isto o estudioso é obrigado a negar a historicidade
da Transfiguracáo. que a Tradlcáo sitúa no monte Tabor. Tenha-se em

46
'BÍBUA: PERQUNTAS QUE O POVO FAT 47

vista, por exemplo, a Biblia de Jerusalóm: ao texto de Mt 17,1 existe a nota


x, em que o comentador desenvolve o sentido teológico do relato da
Transfigurado, mas nao nega a realldade histórica do episodio.

Em suma, o livro de Freí Mauro Strabell, querendo elucidar o povo,


pode perturbá-lo, porque é sumario demais e reduclonlsta (cótico); em
alguns casos, evita tomar posicóes definidas, a fim de nao exigir "demais"
da fé dos seus leitores. Ora nao é mediante concessóes ao racionalismo
um tanto arbitrarias que procede a auténtica catequese. — Como vimos, o
autor chega a propor explicacóes contrarias aos artigos da fó—o que toma
o llvro francamente nocivo e desaconsejado.

Estéváo Bettencourt O.S.B.

* * *

(continuacáo da p.25):

nasámento" (Ecl 7,1s). Podará recusar a celebracáo do seu dia


aniversario também porque os dois homens que na Biblia aparecem teste-
jando o aniversario sao o Faraó do Egito e o reí Herodes Antipas; ambos,
poróm, cometerán) um assassinio no dia da testa: o Faraó mandou enforcar-
o seu padeiro-mor (el. Gn 40,20-22) e o reí Herodes Antipas mandou
degolarJoáo Batista (cf. Me 6,17-29). Pergunta-se, poróm: podes» deduzir
destes textos que ó mau celebrar o dia aniversario, porque isto Induz o
aniversarlante ao homicidio?
Como se vé, os autores tém sua graca de estilo oriental ao exporsuas
idóias. O livro foi originariamente escrito em árabe; depols fol traduzldo no
Brasil para o inglés, e desta llngua para o portugués, passando por adap-
tacóes e retoques que o tornaram sempre mals significativo para o público
do nosso país.

A obra merece elogio e divulgagáo.

Como Hdar com as seitas, de Pe. Paulo H. Gozzi. — Ed. Paulinas.


Sao Paulo 1989 (2* edicáo), 120x 200 mm. 124 pp.

O livro contém 44 artigos publicados outrora na folha "O Domingo —


Culto dominical". Em estilo simples, aprésente algumas denominacóes
protestantes e outras correntos religiosas novas (Parte I); a seguir, procura
refutar objecóes que fazem á Igreja Católica (Parte II). A intencáo do autor
ó multo boa, pots procura habilitar os católicos a dialogar com nao católicos
em tom sereno. Todavía o caráter irenista e demasiado popular da obra

47
48 'PERQUNTE E RESPONDEREMOS' 356/1992

toma-a superficial; nao val ao ámago dos assuntos discutidos; além disto,
tende a um corto relativismo religioso. Els alguns espédmens de passa-
gens mal redlgldas:

P. 90; "O Concilio do Vaticano II declarou... que o fiel católico deveria


comungar sob as duas espacies. Mas Infelizmente os padres, talvez por
comodlsmo, relaxamento ou falta de boa formagáo litúrgica, continuam a
fazer como antigamente". — Ora quem lé a Constltuigáo Sacrosanctum
Coneilium na 55 verifica que o Concilio concede a Comunhio sob as duas
especies a criterio dos Bispos em casos especiáis. Somonte aos 5/3/75 a
Santa Sé concedou aos Bispos do Brasil a facaldado de permitlrem a
Comunhio sob as duas especies em casos mals numerosos, desde que se
observem certas medidas de cautela para evitar abusos.

P. 94: As diferencas entre católicos e demais cristáos estariam em


detalhes do teología. — Ora isto nao ó verdade: a realpresenca de Cristo
na Eucaristía, a Missa como sacrificio do Calvario perpetuado sobre os
nossos altares, o primado de Pedro, o sacramento da Reconciliagáo... vém
a ser artigos de té que os protestantes negam.

P. 90; Ao celebrarem a Santa Ceia, "os protestantes fazem o mesmo


que nos, mas falta a ligagáo de seus pastores com os Apostólos". — Para
os protestantes, a Santa Ceia ó mero símbolo da presenga de Cristo; eles
nao tendonam realizar a anamnesis do Senhor no sentido da Biblia e da
Tradigáo, que tém anamnesis como memorial que efetua ou torna presente
aqullo que ó recordado.

P. 101:0 purgatorio ocorre no momento da morte... — Isto nao condlz


com a sñ doutrina. Após a morte nao conheceremos a sucessáo de días o
noltes. mas entraremos no evo, que ó urna sucessáo de atos psicológicos
ouóo tempo psicológico, diferente do tempo astronómico e da eternidade.

P. 61; O trabalho mlssionário torta por flm apenas valorizar o aperfei-


goar tudo o que haja de bom e verdadelro tora do Catolicismo. — Isto se
acha em evidente contraste com a clásslca doutrina da Igreja apregoada
aínda recentemente por Joáo Paulo II na sua encíclica Redemptoris
MImIo. O relativismo religioso transparece neste e em outros tópicos do
livro.

P. 80; O autor dá a entender que se vendiam Indulgencias no secuto


XVI: "Os pobres ganhavam menos indulgencia porque davam menos
dlnhelro que os ricos". A formulacáo leva a mal-entendidos; nunca a Igreja
vendeu o perdió dos pecados ou algum bem espiritual. A esmola ó mero

(Continua na p. 40)

48
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mostrar que a discussao no plano teológico perdeu muito de sua
razao, de ser, pois, nao raro, versa mais sobre palavras do que sobre
conceilos ou proposicoes - 380 páginas. SUMARIO: 1. O catálogo
bíblico: livros canónicos e livros apócrifos - 2. Somente a Escritura?
— 3. Somente a fé? Nao as obras? - 4. A SS. Trindade. Fórmula
paga? - 5. O primado de Pedro - 6. Eucaristía: Sacrifi'cio e Sacra
mento - 7. A Confissao dos pecados. - 8. O Purgatorio - 9. As
indulgencias - 10. María. Virgem e Mae - 11. Jesús teve irmáos? 12.
O Culto aos Santos - 13. E as imagens sagradas? - 14. Alterado o
Decálogo? - 15. Sábado ou Domingo? - 16. 666 (Ap. 13.18) - 17.
Vocé sabe quando? - 18. Seita e Espirito sectario - 19. Apéndice
geral. - 304 págs CrS 6.650.00

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D. Joao Evangelista Enout OSB. Há 35 anos sai regularmente.
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celebracáo da Vida - A uncáo do Espirito - O pao do céu e a
bebida de salvacao - O sentido do Sagrado e á linguagem simbólica
na Liturgia - Gnosticismo moderno — Bernanos e a inútil liberdade
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