Le Monde Bizarre: O circo dos horrores
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Le Monde Bizarre - Marcelo Amado
Testemundo de um espectador
L
e Monde Bizarre é o nome da companhia de entretenimento circense mais antiga, ainda em atividade, de que se tem notícias. Seu fundador, Monsieur Serge Tissot, criou um mundo particular onde habitam os mais bizarros seres já vistos na terra. De homens de duas cabeças até criaturas inomináveis e quase indescritíveis.
Curiosamente, o significado de seu nome é pastor. E era assim que ele também se denominava. Um pastor de criaturas esquecidas e abandonadas pela humanidade. Porém, um dia, cansado de viver em sua fazenda ao sul da França cuidando dos pobres miseráveis aos quais dava abrigo, Serge fundou a companhia que daria voltas e mais voltas ao mundo, mostrando a todos a escória humana que as cidades insistiam em esconder. Vendeu sua fazenda e quase todos os seus pertences, investindo tudo em seu ousado projeto. Carruagens luxuosas para ele e os mais íntimos e outras carroças não muito confortáveis por dentro, mas excepcionalmente belas por fora. Chamar a atenção era seu principal objetivo ao chegar às cidades onde se instalava por alguns dias.
Até aqui, nada de excepcional. Apenas mais um circo de bizarrices que apresentava espécimes da degradação humana. Porém, existem causos e lendas sobre Le Monde Bizarre, que deixaram discretos rastros na história. Discretos porque o medo sempre dominou aqueles que eventualmente sobreviveram aos acontecimentos que até hoje correm a boca pequena, em um quase segredo de estado, em que até mesmo as autoridades preferem considerar apenas como lendas e nada mais.
Os leitores devem ter notado que citei anteriormente que o circo ainda está em atividade. Segundo os atuais componentes, a direção do espetáculo bizarro passou de geração para geração, após a morte de Serge Tissot, que teria se dado em condições misteriosas. Como seu primeiro sucessor, seu filho mais velho, que carregava na certidão o nome do pai, decretou no dia de sua posse, que, daquela data em diante, todos os futuros sucessores deveriam usar o seu nome como homenagem ao homem que ousou mostrar ao mundo as suas feridas, sendo eles parentes ou funcionários de confiança que por ventura viessem a herdar a responsabilidade de não deixar que o próprio circo morresse.
No entanto, senhoras e senhores, o que tenho a dizer pode parecer absurdo e inaceitável, mas digo com a convicção de quem carrega imagens e visões reveladoras que perturbam meus sonhos há décadas. Faço parte de um grupo de pessoas que está disposto a contar detalhes de episódios horripilantes que levam a assinatura de Monsieur Serge Tissot e sua trupe do Le Monde Bizarre. E, para abrir essa caixa de segredos, eu posso lhes dizer com toda convicção que Monsieur Serge Tissot não vive apenas através de uma tradicional homenagem que atravessa séculos. Ele não é apenas um nome. Serge Tissot é talvez o maior mistério de sua própria companhia, pois ele vive em carne e osso e comanda todo o espetáculo de atrocidades que acontece fora da lona de seu circo, nas cidades por onde eles passam. Os mais velhos podem reconhecer em seus olhos, o homem que muda de face a fim de esconder sua imortalidade.
Nosso grupo de escritores nos levará em uma viagem pelo mundo. Passaremos por vários países, visitando desde as pequenas vilas até as metrópoles que escondem em seus becos escuros, os crimes deixados para trás, pela trupe de Le Monde Bizarre.
O circo dos horrores está chegando. Já posso ouvir a música e as gargalhadas sinistras. O choro dos torturados e os gemidos sufocados de algumas pobres atrações. Ouço a voz poderosa de Monsieur Serge Tissot. Vejo muito sangue, vísceras e atrocidades sem limite.
Prepare-se você também, pois palhaços nada convencionais podem bater à sua porta, convidando seus familiares para o incrível e grandioso espetáculo da noite, no qual a atração final pode ser VOCÊ!
Um espectador.
Nota: A antologia foi publicada originalmente em 2012. Já em 2016, Marcelo Amado, idealizador e organizador dessa coletânea, lançou o romance Ele tem o sopro do Diabo nos pulmões, que conta a história da criação do circo e o nascimento de Serge Tissot, personagem que aqui nesta obra, foi muitos e de várias formas. No romance, Serge Tissot é o criador original do circo Le Monde Bizarre. O romance não é fiel a nenhum dos contos que você lerá aqui. É praticamente um reboot
. Você encontra o romance nas versões impressa e digital.
À cidade de Metrópia
Por Kássia Neves Monteiro
T
endo o primeiro cidadão de Metrópia tomado esta carta nas mãos, deverá imediatamente levá-la ao prefeito para que as devidas providências sejam tomadas. É imprescindível que os senhores não deixem instalar-se aí a trupe intitulada Le Monde Bizarre, que se encontra, no momento, a caminho da cidade. Enquanto escrevo, devem estar percorrendo as estradas de Partagena e não deve tardar para que alcancem os domínios de Metrópia. Espero que meus pombos-correio consigam entregar esta encomenda antes da fatídica chegada.
Le Monde Bizarre oferecerá à Metrópia espetáculos que representam o que há de mais extravagante na anatomia humana. São atrações que, de tão maltratadas, estão à beira de perder o discernimento, e cuja humanidade já há algum tempo abandonaram. Entrarão na cidade em carruagens elegantes e lustrosas, de um hipnótico brilho vermelho, que trarão em sua carroceria, escrito em belas letras, o nome da imunda trupe. A caligrafia, desta carta os senhores hão de reconhecer. Fui eu, outrora, também um pérfido membro do Le Monde Bizarre.
Esta carta é um alerta, portanto devo fazer-me convincente. De outra sorte, os senhores podem escolher ignorar essas letras bem desenhadas. Aviso desde já que minhas palavras nada terão de doces. E não se enganem: as mãos que escrevem tão retas linhas são tortuosas e mal suportam segurar a caneta. Sou um filho da escória humana, um erro da natureza que jamais deveria ter sobrevivido ao parto. Mas sobrevivi, e a forma que carrego, se tenho alguma, fez que eu me voltasse para o único mundo em que se vê sem imagens: o da escrita. Mesmo com a dor de segurar a caneta em meus dedos deformados, dediquei-me a ser escrivão. É com as palavras que consigo me comunicar com os outros sem que o espanto inicial pela minha aparência se imponha como uma barreira definitiva ao contato. E tal trabalho tornou-se, hoje, crucial. É com a escrita que tento salvar as vidas daqueles que, por infortúnio, entraram na rota do Le Monde Bizarre.
Começarei a narrativa pelo ponto em que minha vida cruzou com a de Monsieur Serge Tissot, o fundador do circo de horrores que me abrigou por mais de dez anos. É por meio de minha história que pretendo persuadi-los da necessidade de manter esta trupe o mais longe possível de Metrópia. Não os pouparei de nada, de forma que, se a pessoa que estiver lendo esta carta for uma dama ou alguém de pouco estômago, peço que a dobre imediatamente e a entregue a alguém que consiga ler toda a história escondida por detrás das belas carruagens do Le Monde Bizarre.
ooo
Abandonado à minha própria sorte pouco depois de completar nove anos de vida, lembro-me de ter vagado por diversas cidades, sempre em busca de alguém que me pudesse fornecer abrigo, um pouco de água ou pão. Jamais esperei por carinho, isso não é algo que se dá a seres dos quais mal se pode distinguir onde termina o olho e onde começa a boca. E, escorraçado de quase todos os lugares onde pedi ajuda, acabei tomando estradas secundárias, de terra, onde os passantes não tivessem que lidar com a terrível visão do meu corpo deformado. Andei assim, à margem de tudo e todos, anos que não contei. Como uma vil ratazana, roubava milho de plantações, galinhas e ovos para meu sustento. Fiz-me homem debaixo do sol ardente do dia, numa vida furtiva que só existiu para mim.
Foi assim, errando, que cheguei à fazenda de Monsieur Tissot. Para meus pés cansados, de início, tratava-se apenas de outra fazenda qualquer, de onde eu poderia roubar alguns suprimentos para continuar minha viagem rumo a lugar nenhum. Mas, naquela leva de furtos, fui pego em flagrante. Enquanto revirava um galpão em busca de algo que pudesse aquecer durante a noite meu corpo disforme, senti o cano metálico de uma espingarda tocar-me a nuca. Meus membros contraíram involuntariamente e acertaram o rosto de quem me ameaçava. Se eu aprendera algo nos anos em que fiquei sozinho na estrada, fora a me defender. Prendi meu agressor contra o chão, qual fera indomada, rosnando minha bestialidade de ser maltratado. Mas ao ver meu rosto sem forma, ainda mais alterado pela expressão do medo e do ódio que me consumiam, Monsieur Tissot limitou-se a abrir um sorriso cordial. Esta reação confundiu-me de tal modo que acabei por soltá-lo para que pudesse voltar a respirar.
Não sei qual capricho do destino me fez encontrar aquele homem. Ainda hoje enxugo lágrimas quando, por alguma razão, lembro que ele, de quem hoje falo com asco já foi, um dia, um ser de ações caridosas. Na cidade mais próxima à fazenda houvera um circo de horrores, onde aberrações como eu eram obrigadas a trabalhar em troca de migalhas e chicotadas diárias. E monsieur Tissot, homem de coração puro, as resgatara daquela situação limite. Na fazenda, as aberrações tinham um galpão onde dormir com algum conforto, e tudo o que Tissot cobrava em troca de abrigo, comida e camaradagem, era que ajudassem com a plantação e os animais. Lembro-me ainda do tapete verde que se estendia até mais longe do que os olhos podiam ver, mesmo os mais apurados. Trabalhávamos ali com alegria, tratados pela primeira vez como pessoas. A esposa do monsieur, como o chamávamos, era também muito bondosa para nós. Sempre tínhamos bolo quentinho e café fresco para o lanche da tarde, e ela adorava que jogássemos uma ou duas partidas de carteado para distraí-la nos dias de tédio. Era uma vida boa, mas, como tudo o que nos faz felizes, acabou um dia.
Foi quando chegaram os forasteiros do metal.
Trouxeram máquinas maiores do que a casa da fazenda, barulho, gente imunda que mais se parecia conosco, aberrações, do que com seres humanos. Estavam brutalizados e só pensavam em suas pás. E assim a fazenda de Tissot começou a ser engolida, pouco a pouco, por esses usurpadores de terras. Não havia forças para lutarmos contra eles. Tissot e algumas aberrações não eram razão para deter o progresso. Impotentes, vimos a lavoura diminuir e os animais serem roubados.
A depressão tomou conta da patroa. Um dia, sem nada dizer, com olhar perdido e fundo, ela tomou uma mala de mão com os últimos vestidos que restavam e partiu, a pé. Monsieur estava na cidade e, quando voltou, não pôde acreditar que havia sido abandonado. Vi o homem definhar como definha a erva do campo se não é regada. Secou nele toda a alegria e o desespero tornou-se seu único aliado. Não tenho por regra julgar homens desesperados, creio que tenham certa licença para atitudes impensadas. Mas o que monsieur Tissot fez, condeno veementemente. Como todos os recursos humanos estavam esgotados e ele, havia muito, já desistira da ajuda de Deus, meu querido amigo acabou virando para o lado das trevas.
Certa noite ouvi um estrondo de tambores vindo de um dos últimos galpões que restavam como propriedade de meu patrão. Tambores e vozes que sussurravam palavras indecifráveis. Vi-o em companhia de uma conhecida feiticeira da região, a quem considerávamos apenas uma velha desprovida de sanidade mental. Mas, depois daquela noite, minha descrença virou temor. Eles dançavam em torno de algo que, de início, eu não podia ver muito bem. Dançavam e entoavam cânticos incompreensíveis, cercados de símbolos que eu jamais vira antes. A velha chacoalhava um objeto nas mãos; tudo naquela cena causava medo. Mas o verdadeiro terror foi ver a patroa deitada no centro do que parecia um altar, coberta em sangue. Um punhal encravado no abdômen, ela vomitava as entranhas e exalava pânico. O golpe fatal foi desferido pelo próprio marido, um corte profundo na jugular. Enquanto ele matava a mulher que amara, a velha recolhia o sangue em uma taça de madeira decorada com inscrições e desenhos misteriosos. Coroando o macabro ritual, Tissot bebeu o sangue da esposa, que agora jazia morta sobre o altar.
Imediatamente seus olhos mudaram da serenidade do campo para uma expressão que me causou estremecimento. Por alguns segundos, só consegui ficar parado e admirar aquele ser de olhos de fogo, que parecia trazer em si os calores do inferno. Logo que voltei a mim, corri o mais rápido que minhas pernas aleijadas conseguiram e deitei-me em meu monte de feno tentando esquecer o que vira. Mas as imagens daquela noite jamais deixaram minha mente. Escrevi-as todas em meu caderno velho e surrado, como forma de afastar os demônios. Porém eles já estavam perto demais, incrustados à alma de meu amigo. Naquela noite ele queimou o galpão e jamais se ouviu falar em sua mulher outra vez. Eu nunca disse palavra sobre o que vi senão com confissões escritas a mim mesmo e àqueles cujas vidas tentei salvar.
Depois daquela noite de horror, jamais tornei a reconhecer meu amigo naqueles olhos agora tão agudos e fervilhantes de ganância. Tissot vendeu o que restava da fazenda e, segundo orientação da bruxa, investiu tudo o que conseguiu na formação de sua trupe sinistra. Nós, as aberrações, sensibilizadas pela situação do patrão, aceitamos trabalhar por algum tempo no circo que ele chamou de Le Monde Bizarre. O patrão sabia que eu gostava de escrever, então pediu que eu registrasse a história da companhia. Disse que seríamos conhecidos, famosos, que viajaríamos o mundo inteiro. Não gostaria de conhecer outros países, Callabare?
Gostaria. E assim partimos da fazenda nas carruagens vermelhas que pintei com o nome da trupe, rumo à próxima cidade.
Mas, já na primeira noite, percebi que a função daquelas carruagens lustrosas ia além de atrair público. Tissot tornara-se um caçador. Não sei se por minha qualidade de escritor bizarro, que me tornara tão bom observador da vida, mas fui o único a