Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
Alexandra Bertrand
Isabel Cotrim
João Pedro Rato
Sandra Afonso
ll i
48
ng ton”
· “ Ja c k Ske
onso
texto Andreia Correia · “Unicidade” 8 afia San
d r a A f
proje�o Nuno Patrício · “Sputnik, meu amor” 56
fotogr
30 74
texto João Madeira · “Nada é preto no branco” 42 ilu�ração Johan van Huys�een · “17wet1” 108
ilu�ração Rita
Verdades 44 fotografia Nat
alia Valle 110
“Fagulha silenciosa” Há o preto
6 nos teus olhos mareados,
A luz
texto Andreia Correia trazendo aos teus seios
a boca branca
do sonho.
Há as pedras rugindo,
O montinho de dias
Moídos.
E eu,
avulso,
Negro, ve�ido
de fundo.
“UNICIDADE” I Trazia os dedos negros de raízes. O corpo III Horas passadas, pintou o quadro, um risco negro na noite
8 suado, na sua brancura disforme, levava-o a clara da tela. Pintou como se abrisse uma fenda na possibili-
trautear um choro cândido, que, para olhos dade da criação. Acordara naquele dia com a sensação de que
texto Andreia Correia mais atentos, vê-lo-íamos a empoleirar-se não pertencia ao corpo, que a pele branca que o envolvia e dizia
desenho Sandra Afonso nas árvores, sem fruto, quando a noite caía, esvaziara-o. Descobriu a fotografia, por acaso. Deixou-a igual-
como um guinda�e partido, trazendo à boca mente por acaso, a anoitecer debaixo da almofada chorada.
do céu a dor vermelha, magoada dos homens. Via-se em frente a um e�elho que não refle�ia, a noite che-
Trazia no seu sorriso amarrotado (rasura ou gada também àquele quarto, abrigo de muitos sóis e muitas
som de ave negra partida) a brancura de uma luas, vertigem meio apagada nas cores da sua alma, quando
fileira de dentes, todos eles carnívoros por na- escrita com o negro da tinta. Segurava nos olhos o mundo -
tureza, ansiando pela próxima dentada, por- - equilibri�a lúcido – que não sabia a que horas partiria para
que apetite não lhe faltava e porque a imensi- chegar lá, ao outro lado do tempo.
dão do seu corpo tentacular esganava a fome Era a ansiedade que sentia pousar-se nos lábios como uma ân-
com a ansiedade soberba de um comboio cora ferrugenta que deixa o peso da vida na boca fragmentada,
descarrilado. as palavras falidas de sentido, tudo e nada, dançando no mes-
mo silêncio.
A inércia batia no seu coração, deixava-o rígido, paralisia do-
II Ao longe as mãos de cinzento mortiço, sem ente que o empurrava para a cama horas a fio, horas sem re-
luz, se revelavam, segurando na mão a foto- torno, numa continuada dívida para com a vida. E quando se
grafia a preto e branco e na fotografia as re- digladiava com o pincel, contra um fantasma inventado, sen-
miniscências de uma vida ali paradas, a pre- tia-se rei e senhor da sua escuridão.
to e branco. Num segundo fixadas, as pernas E era. E era, naqueles segundos, grandioso, afa�ando o cons-
hirtas e o sorriso flagrado, os olhos abertos no tante ardor que a vida lhe deixara no coração – fogueira de
e�asmo da surpresa e o coração a mil à hora, Prometeu, no início de todos os tempos, antes de Deus dizer…
mesmo que a imagem isso ocultasse. Faça-se Luz!
Era o segredo plasmado, pedindo um olhar Era grandiosamente grandioso. Preto e branco grandioso.
com demoras que, afinal, se vertia, lânguido e E era todo um.
sereno, sobre a superfície, cobrando à semió-
10
ilu�ração Sara Capitão
12
fotografia Catarina Leal
contres Photographiques
texto Cláudia Abrantes A Série PinHole, o mundo inverso, surge do efeito arrepiante que e�as ima-
fotografia Cláudia Abrantes gens podem ter. O mundo inverso – pelo regi�o do negativo, aborda o tema
Preto no Branco como o Desconhecido. Contrariamente a uma máquina digi-
tal ou analógica, numa pinhole é impossível saber ao certo o que vai sair dali.
O medo do desconhecido é aqui demon�rado através do negativo, das som-
bras. Uma outra conotação para Preto e Branco.
16
não!
imenso. No fim o guia pediu mais dinheiro para ele…
A morte explorada como e�e�áculo para turi�a.
[42x90 cm]
j FOTOGRAFIA
26
fotografia NISA
28
fotografia NISA
30
ilu�ração Daniel Biléu
“O amor e seus
desdobramentos externos”
1x0,50 m
“In Memoriam”
Marcadores e nankim
35,5x13 cm
“Não é raro que a passagem se faça, do branco
ao negro e inversamente.
Só os extremos são e�áveis,
Branco
como o sublinha a pulsação que se manife�a
aquando das pausas nos patamares intermédios,
qualquer que seja a sua duração e altura, na
cor que nunca o foi.”
fotografia Ana Calhau “O cego ergueu as mãos diante dos olhos, moveu-as,
Nada, é como se e�ivesse no meio de um nevoeiro, é
como se tivesse caído num mar de leite,
Mas a cegueira não é assim, disse o outro, a cegueira
dizem que é negra, Pois eu vejo tudo branco (...)”
José Saramago in “Ensaio sobre a Cegueira”
O branco é mais do que cor ou luz. É um valor ideal, positivo,
opo�o às “trevas” e à ignorância, valor limite entre conjuntos
de pontos extremos: a luz e a obscuridade, o dia e a noite, a ilu-
minação e as trevas, a sabedoria e a ignorância, o positivo e o
negativo.
Se e�a leitura, que durou séculos, nos parece óbvia, com facilidade podemos
con�atar que a luz branca ilumina tanto quanto pode cegar, possuindo as-
sim ambas as capacidades: a da visão e a da cegueira, um paradoxo em que
o branco funciona sempre como limite, charneira de passagem e opo�o de
si mesmo. Ou seja, todos nós já passámos pela experiência de ficar encan-
deados com o excesso de luz numa sala ou o excesso de sol numa praia, o
que nos deixa, momentaneamente, sem ver. Na realidade, não deixamos de
ver mas tornamo-nos cegos ao que antes víamos. O que vemos ne�es mo-
mentos é um excesso de branco que, como uma névoa intensa, nos inibe de
ver o re�ante. De�a forma, o branco torna-se, durante alguns in�antes, a
cor da cegueira e só aos poucos essa névoa branca de luz se vai dissipando e
retomamos a visão das coisas enquanto os nossos olhos se vão, gradualmen-
34 te, adaptando às condições de luminosidade. O que acontece, geralmente em
todos os e�udos e teorias sobre a luz e a cor branca, é que não se racioci-
texto Ana Calhau na tanto sobre a “luz” que nós vemos, quanto sobre aquela que, do exterior,
fotografia Ana Calhau entra nos nossos olhos e comanda a visão. Damos, como exemplo, o branco
“�e sky is blue [2]” como a cor da cegueira no livro de José Saramago, “Ensaio Sobre a Cegueira”,
onde a luz referida é a cor branca ou o “mar de leite” vi�a pelos cegos e não
a luz solar necessária ao processo da visão. Paradoxo que nega a possibilidade
da cegueira total pois, ainda que a visão do mundo exterior, de cores, formas
e obje�os lhes e�eja vedada, e�e cegos descrevem algo que, de fa�o, vêem.
Um outro tipo de luz ou de cor, um branco incessante e não o habitual negro
que co�umamos associar à cegueira: “Sim, senhor doutor, não como uma luz
que se apaga. Mais como uma luz que se acende.”[1], “o mal é sermos cegos.
A mulher do médico disse ao marido, o mundo e�á todo aqui dentro e é todo
branco.”[2] ou “chegara mesmo a ponto de pensar que a escuridão em que os
cegos viviam não era, afinal, senão simples ausência de luz, que o que cha-
mamos cegueira era algo que se limitava a cobrir a aparência dos seres e das
coisas, deixando-os inta�os, por trás do seu véu negro. Agora, pelo contrário,
ei-lo que se encontrava mergulhado numa brancura tão luminosa, tão total,
que devorava, mais do que absorvia, não só as cores, mas as próprias coisas e
seres, tornando-os, por essa maneira, duplamente invisíveis.”[3].
[1] SARAMAGO, José — Ensaio sobre a Cegueira; Lisboa; Editorial Caminho; 1995; p. 22.
[4] Termo técnico utilizado na medicina para definir o enfraquecimento ou perda completa da vi�a por afecção
na retina, no nervo óptico, no cérebro ou nas meninges. Vulgarmente conhecida por, cegueira total.
[5] SAN-PAYO, Patrícia — Blanchot, a possibilidade da literatura; Lisboa; Edições Vendaval; 2003; p. 25.
“Sem título [2]” Ana Calhau l Excerto da Tese de Me�rado: “Branco — E�aço Limite”
42 Na As coisas nunca são como são
mas antes como deveriam ter sido.
é
e não onde a luz se fez sentir.
pre
em miserabilismos triviais.
no
um vislumbre incompetente da realidade?
bran
A tua ausência de e�írito.
co
Para mim é um esboço rebuscado da tua ignorância.
44
“Sereia”
48
fotografia Sandra Afonso
Jack Skellington
“O e�ranho mundo de
Jack Skellington
“O e�ranho mundo de
Jack Skellington
“O e�ranho mundo de
Jack Skellington
“O e�ranho mundo de
Haruki Murakami
Haruki Murakami. “Sputnik, Meu Amor”. Vozes do Mundo, Ed. Notícias E�torial.
58
proje�o Nuno Patrício
Proje�o realizado
a partir de um excerto de
Haruki Murakami
60
fotografia Sandra Afonso
“Sentidos ao cubo”
te e Preto no Branco
participação e autoria
Diogo Santos
Diogo Salvador
Fernão Gonçalves
Isabel Ca�ro
Leandro Bittencourt
Mónica Simões
Nuno da Silva
Pedro Loureiro
Ricardo Almeida
Ricardo Pereira
Tatiana Passeiro
Tiago Godinho
Rasgar. Leve. Macio. Á�ero. Viciante. Doce.
Mágico. Oco. Pesado. Agudo. Agre�e. Calmo.
62 E�ranho. Forte. Quente.
fotografia Sandra Afonso
“Sentidos ao cubo”
te e Preto no Branco
participação e autoria
Diogo Santos
Diogo Salvador
Fernão Gonçalves
Isabel Ca�ro
Leandro Bittencourt
Mónica Simões
Nuno da Silva
Pedro Loureiro
Ricardo Almeida
Ricardo Pereira
Tatiana Passeiro
Tiago Godinho
1/2
Na época do cinzentismo em que vivemos e�á tudo a
texto Isabel Santa Bárbara mos, vivemos e morremos; há o preto e há o branco PRETO NO BRANCO
e há o
66
Não falamos alto Usamos saias pelo
texto Isabel Santa Bárbara porque dá nas vi�as, meio da perna.
nem baixo porque sugere timidez. Os cabelos não são curtos nem compridos.
Não damos uma boa gargalhada pois parece mal. Fazemos férias em duas vezes para não dar mau a�e�o no emprego, mas é com
Não comemos muito para não sermos chamados de alarves nem pouco não vão saudades que lembramos o mês inteiro de férias que tivemos na Ericeira.
pensar que somos anoré�icos. Não bebemos muito, não fumamos muito. Não telefonamos muitas vezes aos pais para não acharem que somos dependentes
Não nos aborrecemos muito no trabalho pois sempre é melhor e�e que nenhum. – e se, de repente, eles já não e�iverem lá?
Não nos zangamos com amigos pois é uma grande maçada e podemos acabar sozinhos. Não queremos casas muito grandes porque dão muito trabalho.
Não casamos: fazemos experiências para ver se resulta. E se não resultar, o que
Não temos filhos muito cedo para não arruinar a carreira – que carreira?
Adiamos ad eternum aquela conversa que temos que ter com o irmão sobre o que
die”, curta-metragem de
Maria Sødahl, 1989. Mas se tudo acontecer de forma nítida, aquele hífen que no fundo é a nossa vida
pode não ser tão enfadonho. Temos é que saber viver e pôr tudo preto no branco,
São Paulo
80
fotografia Filipe Cartaxo
São Paulo
82
fotografia Filipe Cartaxo
P&B01
P&B02
A Paradoxon Produções é a�ualmente cons-
tituída por Hernâni Duarte Maria (membro
fundador e realizador), Pedro Noel da Luz (di-
re�or de fotografia e realizador), e Joana Oli-
veira ( a�riz, cara�erizadora, guarda roupa e
assi�ente de produção).
84
Paradoxon Produções A Paradoxon Produções continua o seu cami-
nho traçado, desde 1997. O cinema e, sobre-
tudo, a divulgação do cinema como cultura e
arte. Enfatizar e divulgar os jovens cinea�as
texto Hernâni Duarte Maria http://my�ace.com/paradoxonproducoes portugueses entre os quais e�e grupo se in-
Pedro Noel da Luz http://youtube.com/HernaniMaria clui, não ob�ante a dura tarefa de conseguir
Joana Oliveira www.camaradefilmar-paradoxon.blog�ot.com produzir e realizar os filmes, num país onde
as pequenas produtoras e�ão abandonadas.
É imperativo para a Paradoxon Produções
continuar os seus trabalhos quaisquer que
sejam os ob�áculos a tran�or. Já Charlie
Chaplin dizia,
Paradoxon Produções
Workshop “Quanto tempo dura um in�ante?” orientado por Carlos Carrilho e Dora Batalim
CAMJAP - Fundação Calou�e Gulbenkian • 15 de Dezembro de 2007
88
Paradoxon Produções
Arouca 2008
90
de Alcochete, sobre o CORPO. prote�ora, sem escamas brilhantes, sem nada que o embe-
A exposição e�eve no Fórum leze como aos outros animais ricamente ve�idos.
Cultural de Alcochete de 15 No- O homem* tem-se defendido inventando coisas sem conta
vembro 2008 a 4 Janeiro 2009. para cobrir o corpo, para disfarçar a sua pobreza, a sua con-
É uma abordagem sobre as dição de animal nu.
modificações corporais, através (Temos de reconhecer que o homem* ao pé dos outros ani-
das tatuagens, num paralelismo mais de�e planeta é um animalzinho feio).
entre passado e futuro, uma vez Mas pensa. E sabe que é feio e nu. E faz o que pode para re-
que 12 anos antes surgia ‘Esca- mediar essa inju�iça da Natureza. Às vezes consegue.
mas 1’ (Valência “, Galeria Purga-
torio I; Ca�ellón, Galeria Centro Por isso fiquei tão encantada com as imagens que vi de cor-
Urbano). Alguns dos modelos pos tatuados.
de há 12 anos atrás deixaram Penso que o caminho e�á aberto para que a Humanidade vá
fotografar-se de novo, podendo mudando para melhor.
observar-se a evolução das suas
tatuagens em particular, e da
fotografia José Pedro Santa Bárbara fotografia José Pedro Santa Bárbara
98
fotografia José Pedro Santa Bárbara fotografia José Pedro Santa Bárbara
Workshop “Quanto tempo dura um in�ante?” orientado por Carlos Carrilho e Dora Batalim
CAMJAP - Fundação Calou�e Gulbenkian • 15 de Dezembro de 2007
fotografia José Pedro Santa Bárbara fotografia José Pedro Santa Bárbara
104
fotografia
“17 Wet 1”
110
fotografia Natalia Valle
Créditos dos co
laboradores:
Todos os trab
alhos publicad
ficados. Para is os serão identi-
so, as colabora
devem ser ac ções enviadas
ompanhadas
dados: título da pelos seguinte
peça; nome do s
apresentação (m autor e breve
áximo 3 linhas)
website. E�es ; e-mail e/ou
dados devem se
ficheiro separa r enviados em
do e não deve
trabalhos, sobr m figurar nos
etudo, no caso
de imagens.
E�ecificações
técnicas:
As imagens de
vem ser enviad
formatos TIF ou as em CMYK no
JPG, em taman s
uma resolução ho real e com
de 300 dpi.
Os textos deve
m ter a dimensã
páginas, em Ar o máxima de 4
ial, tamanho 11
a 1,5 e�aço.
j COLABORADORES
Aos seis anos elegi a escrita como a minha forma favorita de comunicar. Marcelo Vieira | mvieiradg@gmail.com
Go�o do mar, de um bom vinho, de um bom livro, de uma boa conversa, de um beijo, de uma Marcelo Vieira, 27 anos, cidade de Araçatuba, SP, Brasil
árvore, do abraço dos amigos e das fe�as do meu gato. Formado em design grafico e ilu�rador, trabalho como free-lancer na área editorial, identidade
Às vezes também quero a Lua, mas ela vai aparecendo. visual e ilu�ração e trabalho em uma agência de publicidade.