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Motriz Jul-Dez 2000, Vol. 6 , n. 2, pp.

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Resenha

Religiosidade Pós-Moderna na Cidade ou


Urbanismo Pós-Moderno nas Religiões?

Magnani, J.G.C. (1999). Mystica Urbe: um estudo


antropológico sobre o circuito neo-esotérico na metrópole. São
Paulo: Studio Nobel. 143 páginas.

Paula Rondinelli
Universidade Estadual Paulista

“Da crença em duendes nórdicos ao uso de florais canaden- ge desse quebra-cabeças, a questão que o autor coloca: “por
ses; do consumo de incenso indiano à prática da acupuntura onde começar?”.
chinesa; da meditação tibetana ao shiatsu japonês; dos li- Com o intuito de desvendar—ou desbravar—o movimen-
vros de auto-ajuda americanos ao xamanismo siberiano; da to neo-esô, o autor opta, inicialmente, por um levantamento
bruxaria celta dos índios da Amazônia—, surgia a preliminar de todos os espaços, na metrópole paulistana dedicados à
e básica pergunta: por onde começar?” qualquer espécie de prática neo-esotérica, por meio de jor-
Este foi o quadro com o qual Magnani—professor do nais, revistas, folders, cartazes, entre outros meios de divul-
departamento de Antropologia da Universidade de São Pau- gação. Através da ordenação dos dados coletados, o autor
lo—se deparou: emergiam na metrópole paulistana elemen- classificou as práticas e os espaços de acordo com suas
tos oriundos das mais diversas tradições, que se entrelaça- funções, o que resultou no seguinte quadro:
vam na mais perfeita harmonia, ao mesmo tempo em que - Espaços: 1) Sociedades Iniciáticas; 2) Centros Integra-
pareciam envoltos por uma névoa de religiosidade, diferen- dos; 3) Centros Especializados; 4) Espaços Individualiza-
te da tradicional cristã, sendo estas, rapidamente inseridas dos; 5) Pontos de Venda.
no estilo de vida de parte da população. Esse movimento o - Práticas: 1) Divulgação e Formação; 2) Terapias; 3)
autor denominou de neo-esotérico ou, mais suscintamente, Vivências.
neo-esô. Tal denominação parece bem apropriada, já que se Após a catalogação dos espaços existentes, bem como
utiliza do prefixo “neo” para fazer as necessárias diferencia- de suas práticas, verificou, o autor, a quantidade deles em
ções entre outros usos do termo esotérico. Diante da deno- cada bairro paulistano, encontrando, dessa forma, uma man-
minação do movimento abordado, o autor toma uma atitude cha neo-esô em bairros de camadas média e média alta. Tal
necessária ao proporcionar um esclarecimento, ao leitor mais resultado se justifica, pois é nesses locais que se encon-
desavisado, de que outros estudiosos se diferem em torno tram pessoas com condições de pagar pelos serviços ofere-
de tal nomeação: Amaral (1998) utiliza a terminologia Nova cidos nos espaços.
Era, Russo (1993) opta por complexo alternativo, e outras Segundo a pesquisa realizada pelo autor, o bairro neo-
opções denominativas como nebulosa místico-esotérica, esô campeão em quantidade de espaços foi a Vila Mariana,
também persistem. já que, além de ser um bairro de camada média, ainda possui
Outros estudiosos do movimento neo-esotérico, ou como acesso direto ao metrô, o que facilitaria a transição de pes-
quiserem chamar, colaboram no sentido de estudar partes soas de outros locais da cidade até a mancha. Ao focalizar
desse movimento, como é o caso de Martins (1998) e Russo o bairro de Vila Mariana, o autor verifica outros tipos de
(1993) que pesquisaram as terapias alternativas, Tavares regularidades no movimento estudado, e insere outros con-
(1998) que manteve sua atenção em torno do uso de práticas ceitos no estudo: o de trajeto e o de circuito. Para ele, a
esotéricas—ou neo-esotéricas—como meio de diagnósticos idéia de circuito, como um conjunto de espaços que são
de futuras doenças, ou como Barroso (1998) que contornou identificados na paisagem urbana, apenas se torna “viva”
o tema da siddha-yoga. É aí que reside a maior contribuição quando encontra a noção de trajeto, visto que essa se mos-
que a obra de Magnani vem trazer para o leitor, que é um tra quando usuários circulam transitando em diversos pon-
mapeamento generalizado de espaços neo-esotéricos da ci- tos do circuito ou da mancha.
dade de São Paulo. O que este autor procura a ordem em Outro ponto que merece destaque, é o que o autor chama
meio ao caos em que se apresenta o movimento neo-esô; de “narrativa de base”. Tal denominação tem como objetivo
qualquer tipo de regularidade entre práticas e praticantes agrupar o discurso presente no movimento neo-esô. Assim,
representam considerável valia nessa tarefa. E, então, emer- as emergências de uma nova era e de um novo paradigma—

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fruto de uma ligação entre ciência moderna e sabedorias


antigas—além da falência de religiões institucionalizadas,
pertencem a um discurso presente em todas as mais diver-
sas faces do movimento estudado.
Enfim, com tantos pontos esclarecedores acerca do mo-
vimento neo-esotérico, a obra Mystica Urbe se mostra de
fundamental importância para estudiosos da
contemporaneidade, sejam eles antropólogos, psicólogos,
sociólogos ou profissionais da área da educação física, pois
proporciona um panorama do neo-esoterismo que permane-
ce em constante crescimento na cidade de São Paulo. No
caso dos profissionais de educação física, nunca é demais
lembrar que as chamadas práticas corporais alternativas se
dão nesses locais. Além disso, Mystica Urbe termina por
ser um modelo de pesquisa, uma vez que o autor soube se
valer tanto de fontes originais, quanto das mais clássicas
das ciências sociais.

Referências

Amaral, L. (1998). “Sincretismo em movimento: o estilo


Nova Era de lidar com o sagrado.” Paper apresentado
nas VIII Jornadas sobre Alternativas Religiosas na
América Latina. São Paulo.
Barroso, M.M. (1998). “Deus é diferente, mas não é
desigual de mim: a produção da imanência mas práticas
de meditação do Siddha-Yoga.” Paper apresentado nas
VIII Jornadas sobre Alternativas Religiosas na América
Latina. São Paulo.
Martins, P.H. (1998). “As terapias alternativas e a liberta-
ção dos corpos.” Paper apresentado nas VIII Jornadas
sobre Alternativas Religiosas na América Latina. São
Paulo.
Russo, J. (1993). O corpo contra a palavra. Rio de Janei-
ro: UFRJ.
Tavares, F.R.G. (1998). “O holismo terapêutico do âmbito
Nova Era no Rio de Janeiro.” Paper apresentado nas
VIII Jornadas sobre Alternativas Religiosas na América
Latina. São Paulo.

Nota do autor

Paula Rondinelli é Mestranda em Ciências da Motricidade


Humana do Instituto de Biociências da UNESP de Rio Claro.

Endereço:
Departamento de Educação Física
Universidade Estadual Paulista
Av. 24-A, 1515, Bela Vista
Rio Claro 13506-900, SP
e-mail: paularon@rc.unesp.br

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