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O PODER MÁGICO DAS PALAVRAS: UMA ABORDAGEM LINGÜÍSTICA DA HIPNOSE

IEL – INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM – UNICAMP


Aluno: Gilberto Machel Veiga D’Angelis email: machel.g@gmail.com
Orientadora: Profª. Drª. Nina Virgínia de Araújo Leite email: nvirginia@uol.com.br
Agência Financiadora: CNPq – PIBIC
Palavras-chave: Linguagem – Significação – Hipnose – Lingüística (psicolingüística) – Psicanálise

O que é a Hipnose? Como o estudo da Linguagem pode contribuir à compreensão da Hipnose? 

A Hipnose é basicamente um processo e um procedimento de intervenção psíquica no A maioria das perspectivas teóricas e epistemológicas existentes até o presente sobre o assunto,
organismo humano, que visa normalmente à saúde, ou seja, ao equilíbrio das funções psíquicas e e considerando que o estudo científico da hipnose tem em torno de 150 anos (apesar da história de sua
orgânicas do ser humano. Este processo, hoje assim conhecido, é um produto histórico de uma longa origem remontar a mais de 3.000 anos), são quase exclusivamente provenientes do campo das ciências
e complexa série de acontecimentos e desenvolvimentos dos conhecimentos humanos sobre o próprio médicas, neurais ou biológicas. Dessa forma, as tentativas de abordagem do “objeto” são sempre muito
homem. Utilizado e manipulado por inúmeras civilizações por milhares de anos, este conhecimento fisiológicas, intentando explicar as modificações “neurais” ou “corticais” ocorridas no cérebro quando
já foi, ao longo do tempo, considerado de origem mística, divina ou demoníaca; mágico, dos processos de indução. A mais famosa abordagem deste gênero é a do conhecido neurologista
charlatanesco, ocultista, e, em tempos modernos, científico. russo, Pavlov, com os estudos sobre o “condicionamento” comportamental.

Tem-se então, hoje em dia, muitas teorias e tentativas de definição do que seja a hipnose e de Entretanto, pouco ou quase nada foi dito até o presente, mesmo pela psiquiatria mais avançada
como funcionam os processos nela envolvidos, entretanto, nenhuma delas é absolutamente capaz de do final do século XIX, como as realizações de Breuer e Freud, ou a partir da retomada dos estudos
dar conta de todos os fenômenos da hipnose. Como diz Medeiros e Albuquerque (1919, p. 15-17) científicos da hipnose em todo o mundo, no início da década de 1960, a respeito da importância e
“Nas questões que vamos estudar nada existe de definitivo em teoria. Há meia dúzia de fatos influência da linguagem e do mecanismo simbólico desta, envolvidos intrinsecamente na constituição
universalmente aceitos, outros que estão começando a penetrar na ciência acadêmica, outros de que do processo hipnótico. Isto se deve a duas razões bastante simples, entre outras: a primeira é o fato de
apenas raros pesquisadores se atrevem a confessar a existência”. E como confirmam as palavras de que, até onde sabemos, ninguém que tenha se debruçado até hoje sobre este fenômeno, na história da
Meares (1961, p. 44) “La verdadera naturaleza de la hipnosis es todavía desconocida”. Sendo assim, humanidade, tinha condições teóricas, epistemológicas e “técnicas” para encampar uma investigação
escolhemos uma dentre tantas definições que nos pareceu mais adequada para os nossos propósitos profunda sobre a hipnose de um ponto de vista de sua estruturação na linguagem; por outro lado, desde
sem, no entanto, filiarmo-nos a nenhuma teoria específica. Apesar disto, nossa concepção se que a Lingüística constituiu-se como ciência (a partir de Saussure, no começo do século XX) nenhum
aproximaria talvez mais daquela reputada à Escola de Nancy, com as idéias de sugestão definidas lingüista de que se tenha notícia interessou-se, ao menos não teórica e profundamente, por tal
por Bernheim e Liebeault, embora apenas como princípio geral, tal qual o diz Meares (idem, p. 47): fenômeno, assim como não ocorreu a nenhum semiólogo/semiótico ou a qualquer outro estudioso da
“Devemos a Liebeault o fato de ter sido o primeiro a afirmar inequivocamente que os fenômenos da linguagem.
hipnose têm como base um processo de sugestão”[1].

Não é difícil entender os porquês destes dois movimentos de alienação deste saber. Por um lado,
Da Sugestão à Hipnose a predominância de um fazer/saber científico cartesiano oriundo do século XIX, que possuía uma visão
biologizante do organismo humano, o que, em grande parte, sobrevive até hoje; por outro lado, não
havia e talvez ainda não haja, para muitos, razões para que a lingüística como campo de
  A escolha da hipnose como “objeto” da presente pesquisa se deu, na realidade, a partir do conhecimentos humanos se debruçasse sobre fenômenos como a hipnose, talvez até por não
intuito de investigar as possíveis relações entre os processos sugestivos e os estados alterados de reconhecer articulações possíveis entre a linguagem e o corpo.
consciência, ou melhor, das relações entre a “sugestão” e as possibilidades efetivas de influência e
“alteração dos estados da consciência”. Essa idéia tinha por base investigar o fato ainda inexplicável
da possibilidade de influência orgânica/fisiológica em um dado indivíduo qualquer, apenas a partir Da Encorporação da Linguagem ao CORPOLINGUAGEM
de meios psíquicos e lingüísticos. Entretanto, devido a enorme amplitude dos conceitos de
“sugestão” e de “consciência” e da grande “atmosfera” de obscuridade e incompreensão que cerca o
fenômeno da hipnose, ainda hoje, em nossa sociedade, julgamos ser a hipnose um protótipo ideal Por fim, após todo este percurso, faltava-nos então chegar a uma articulação com teorias mais
para iniciar nossos estudos a respeito das relações mencionadas acima. propriamente lingüísticas. E foi exatamente por sentirmos falta desta relação entre as manifestações do
corpo, responsivas a linguagem e vice-e-versa, e por entendermos que tais relações são constitutivas de
um sujeito é que encontramos, finalmente, na articulação entre a lingüística e a psicanálise uma teoria
Hipnose: da definição à hipótese que apontasse para um ponto de convergência entre esses estudos multidisciplinares. A partir dos
estudos e pesquisas desenvolvidos pelo projeto SEMASOMa, sediado no Instituto de Estudos da
Linguagem – UNICAMP, tomamos um conceito fundamental que vem sendo construído e
Sendo assim, após um contato prévio com uma boa base bibliográfica (em extensão e, aprofundado ao longo dos últimos anos, explicando-o pelas palavras da coordenadora e organizadora
principalmente, em volume) e, tendo extraído daí algumas concepções básicas, bem como várias do Projeto, Nina Virgínia de Araújo Leite - “a íntima articulação entre corpo e linguagem consagra-se
tentativas de explicação e definição do fenômeno, chegamos finalmente, mas sem muita na forma inédita de grafar corpolinguagem numa só palavra; gestos e afetos indicam os efeitos da
rigorosidade, a uma definição que nos pareceu bastante produtiva. Tal concepção, dada linguagem sobre a constituição do corpo falante e pulsional, dimensão ineliminável da subjetividade.”.
informalmente por um médico brasileiro contemporâneo, é a que se segue: a hipnose é um estado
alterado de consciência, no qual a mente interpreta a imaginação como realidade[2]. Adotamos
esta e não outra definição, não por ser necessariamente melhor do que as demais, mas sim por trazer Assim, acreditamos que nesta perspectiva teórica podemos encontrar a dimensão que falta aos
à tona uma perspectiva que julgamos muito mais interessante para os nossos propósitos teóricos; na estudos sobre a hipnose, a saber, a dimensão da linguagem que se constitui em corpo; pois só há
medida em que ela aponta para a questão da interpretação como cerne do funcionamento desse corpo porque há linguagem.
processo e, portanto, indica a importância fundamental da linguagem e dos processos simbólicos na
constituição de tal fenômeno.
Conclusão

Partindo de nossa definição, e tendo como proposta a articulação dos conhecimentos dos
estudos da linguagem com os conhecimentos da área da hipniatria, tentamos entender o que poderia É importante salientar que esta pesquisa está em pleno desenvolvimento e andamento e, como
ocorrer durante a hipnose para que seus efeitos pudessem ocorrer, apenas a partir de intervenções tal, ainda não pretende apresentar conclusões, mas temos apenas algumas indicações de por quais
psíquicas e lingüísticas em um determinado sujeito. Quer dizer, porque as palavras teriam tanto caminhos seguir. Resumidamente, a pesquisa foi de um levantamento bibliográfico relativamente
poder durante a hipnose, se são ainda apenas palavras?. Então, pensando nisso, elaboramos nossa amplo, tendo sido realizadas leituras fundamentais nas diversas áreas, comparações entre as várias
hipótese: a única possibilidade que vemos para explicar tal distinção de poder nas palavras é a de que abordagens teóricas e, finalmente, partindo da definição proposta e de nossa hipótese, chegamos a uma
– operam (na distinção entre os estados hipnótico e não-hipnótico) dois processos interpretativos indicação teórica consistente e coerente com nossa proposta, advinda do campo dos estudos da
distintos e duas formas distintas de significação do mundo. Isso significa que para todo e qualquer linguagem.
sujeito que possa ser induzido à hipnose, ao menos quando e enquanto estiver nesse “estado”, estará
sob a influência de mecanismos distintos de interpretação, que o levarão a “reconhecer” as palavras Portanto, apesar de ser uma pesquisa de âmbito eminentemente teórico e de ainda ter muitos
como possuindo uma “concretude” que jamais lhes atribuiria em estado de vigília normal, ou seja, caminhos a percorrer, os próximos passos de nossa investigação deverão ser, com certeza, o
em seu estado cotidiano. aprofundamento de nossos conhecimentos sobre o “corpolinguagem” e a investigação a respeito das
possibilidades de relacioná-los com o estudo sobre a hipnose.
Bibliografia
Notas:
   
[1] Tradução livre por mim realizada. ALBUQUERQUE, Medeiros e. O Hipnotismo – e suas aplicações. Rio de Janeiro, Leite Ribeiro & Maurillo, 1919.
[2] Definição retirada de entrevista concedida ao “Jornal da Paulista” (ano 12 – nº 132 – jun./1999), pelo Dr. Osmar Ribeiro Colás, FREUD, Sigmund. Estudos sobre a Histeria in Obras Psicológicas Completas, v. 2 (1893-1895). Trad. Christiano Monteiro Oiticica.Rio de Janeiro, Imago, 1974.
médico obstetra da UNIFESP – Escola Paulista de Medicina, que faz uso da hipnose em sua prática médica. Disponível em LEITE, Nina Virgínia de Araújo (Org.). Corpolinguagem: gestos e afetos. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2003.
http://www.unifesp.br/comunicacao/jpta/ed132/ensino1.htm , acessado em março de 2007. MEARES, Ainslie. Hipnosis Medica. Traduzido por Dr. Jose Ramon Perez Lias, do original: “A System of Medical Hypnosis”. D. F. México, Editorial Interamericana, 1961.
PASSOS, A. C. de M. (Org.). Aspectos Atuais da HIPNOLOGIA. São Paulo, Linográfica, 1961.

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