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CURSO DE BIOÉTICA
Primeira aula
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Disponível em www.providaanapolis.org.br
A VIDA
Deus quis que a transmissão da vida humana se desse mediante a união de dois
corpos complementares:
Gn 2,24: “Por isso o homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se
tornam uma só carne”.
Em resumo:
1) A vida humana foi criada num ato de amor.
Deus deseja que ela seja transmitida num ato de amor: o ato conjugal ou ato sexual.
3) O matrimônio é uma união perpétua pela qual homem e mulher doam mutuamente
seus corpos para:
a) completarem-se mutuamente: “eles se tornam uma só carne”.
b) gerarem novas vidas humanas: “sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra”.
5) A missão dos esposos e pais não se reduz a transmitir a vida natural aos filhos,
mas oferecer-lhes a vida sobrenatural – a graça – através do Batismo e da formação religiosa.
A graça vale mais do que a vida natural, por ser a vida de Deus em nós.
“A tua graça vale mais do que a vida” (Sl 62,4).
A ÉTICA
1749. A liberdade faz do homem um sujeito moral. Quando age de forma deliberada,
o homem é, por assim dizer, o pai de seus atos. Os atos humanos, isto é, livremente
escolhidos após um juízo da consciência, são qualificáveis moralmente. São bons ou maus.
I. As fontes da moralidade
1750. A moralidade dos atos humanos depende:
- do objeto escolhido;
- do fim visado ou da intenção;
- das circunstâncias da ação.
O objeto, a intenção e as circunstâncias constituem as “fontes” ou elementos
constitutivos da moralidade dos atos humanos.
1751. O objeto escolhido é um bem para o qual se dirige deliberadamente a vontade.
É a matéria do ato humano. O objeto escolhido especifica moralmente o ato de querer,
conforme a razão o reconheça e julgue estar de acordo ou não com o bem verdadeiro. As
regras objetivas da moralidade enunciam a ordem racional do bem e do mal, atestada pela
consciência.
1752. Perante o objeto, a intenção se coloca do lado do sujeito agente. Pelo fato de
ater-se à fonte voluntária da ação e determiná-la pelo objetivo, a intenção é um elemento
essencial na qualificação moral da ação. A finalidade é o primeiro termo da intenção e designa
a meta visada na ação. A intenção é o um movimento da vontade em direção a um objetivo;
ela diz respeito ao fim visado pela ação. É a meta do bem que se espera da ação praticada.
Não se limita à direção de nossas ações singulares, mas pode orientar para um mesmo
objetivo ações múltiplas; pode orientar toda a vida para o fim último. Por exemplo, um
serviço prestado tem por fim ajudar o próximo, mas pode ser também inspirado pelo amor a
Deus, fim último de todas as nossas ações. Uma mesma ação também pode ser inspirada por
várias intenções, como, por exemplo, prestar um serviço para obter um favor ou para
vangloriar-se.
1753. Uma intenção boa (por exemplo, ajudar o próximo) não torna bom nem justo
um comportamento desordenado em si mesmo (como a mentira e a maledicência). O fim não
justifica os meios. Assim, não se pode justificar a condenação de um inocente como meio
legítimo para salvar o povo. Por sua vez, acrescentada uma intenção má (como, por exemplo,
a vanglória), o ato em si bom (como a esmola) torna-se mau.
1754. As circunstâncias, incluídas as conseqüências, são os elementos secundários
de um ato moral. Contribuem para agravar ou diminuir a bondade ou maldade moral dos atos
humanos (por exemplo, o montante de um furto). Podem também atenuar ou aumentar a
responsabilidade do agente (agir, por exemplo, por temor da morte). As circunstâncias não
podem por si modificar a qualidade moral dos próprios atos, não podem tornar boa ou justa
uma ação má em si.
II. Atos bons e maus
1755. O ato moralmente bom supõe a bondade do objeto, da finalidade e das
circunstâncias. Uma finalidade má corrompe a ação, mesmo que seu objeto seja bom em si
(como, por exemplo, rezar e jejuar “para ser visto pelos homens”).
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O objeto da escolha por si só pode viciar o conjunto de determinado agir. Existem
comportamentos concretos – como a fornicação – cuja escolha é sempre errônea, pois
escolhê-los significa uma desordem da vontade, isto é, um mal moral.
1756. É errado, pois, julgar a moralidade dos atos humanos considerando só a
intenção que os inspira ou as circunstâncias (meio ambiente, pressão social, constrangimento
ou necessidade de agir etc.) que compõem o quadro. Existem atos que por si mesmos e em si
mesmos, independentemente das circunstâncias e intenções, são sempre gravemente ilícitos,
em virtude de seu objeto: a blasfêmia e o perjúrio, o homicídio e o adultério. Não é permitido
praticar um mal para que dele resulte um bem.
RESUMINDO
1757. O objeto, a intenção e as circunstâncias constituem as três “fontes” da
moralidade dos atos humanos.
1758. O objeto escolhido especifica moralmente o ato do querer, conforme a razão o
reconheça e julgue bom ou mau.
1759. “Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção” (Sto
Tomás de Aquino, Decem. Praec. 6). O fim não justifica os meios.
1760. O ato moralmente bom supõe, ao mesmo tempo, a bondade do objeto, da
finalidade e das circunstâncias.
1761. Existem comportamentos concretos cuja escolha é sempre errônea, porque
escolhê-los significa uma desordem da vontade, isto é, um mal moral. Não é permitido fazer o
mal para que daí resulte um bem.
CASOS CONCRETOS
Existem dois provérbios muito famosos que se difundiram por diferentes culturas,
mas cujo significado é sempre o mesmo. Em alguns países se diz: "A Estrada do Inferno é
pavimentada por boas intenções" e em outros, simplesmente: "De boas intenções o Inferno
está cheio".
Naturalmente que existem aqueles que afirmam : "Quem somos nós para julgar as
intenções do coração!!". E não deixam de ter razão! O problema é que tal expressão
geralmente é muito usada para justificar o erro, quando não para explicitamente apoiá-lo. De
fato, só Deus pode fazer um julgamento sobre nossos atos e intenções subjetivos. Portanto o
mais apropriado seria dizermos: "Não sei com que intenção tal pessoa fez ou disse isso", pois
ao dizermos que ela agiu bem intencionada estamos também emitindo um julgamento que
muito bem pode ser um julgamento errôneo ou injusto. Mas voltando ao provérbio em
questão, só para termos uma idéia de como ele é verdadeiro, tomaremos por objeto de análise
os 10 Mandamentos da Lei de Deus e veremos como em nome "das boas intenções" esses
Mandamentos tem sido continuamente transgredidos e escarnecidos.
1. No primeiro Mandamento da Lei, Deus ordena categoricamente que devemos
amá-lo sobre todas as coisas e que não devemos ter outros deuses em sua presença. Ora, mas
se lá na Epístola de São João está escrito que Deus é Amor e São Paulo em uma das suas
cartas, diz-nos que o amor não é egoísta, então rapidamente nossa mente e coração, que pelo
pecado se tornaram facilmente inclinados para o mal, começam logo a construir uma outra
imagem de Deus bem diferente do Deus do Decálogo. Imaginamos então que não é bem
assim: " Deus não pode ser tão rigoroso, claro que o homem é livre para ter o deus que quiser
e Deus respeita essas escolhas porque o homem tem uma capacidade de amar muito ampla e
manifesta o seu amor de diversas maneiras. Aí já começamos a dizer que os ídolos dos pagãos
são apenas uma outra manifestação cultural, mas que no fundo representam o mesmo Deus
que adoramos. Daí começamos a dizer que todas as religiões têm o mesmo valor... e assim
começamos a pavimentar a estrada do Inferno.
2. No segundo Mandamento, Deus ordena-nos que respeitemos com suma reverência
o Seu Santíssimo Nome, bem como a dignidade do seu Ser e sua ação no mundo. E hoje ao
vermos o nome de Deus ser vilipendiado em peças teatrais sacrílegas, em filmes e novelas
blasfemas, quantos de nós não apenas nos permitimos assistir a tais obras como também
elogiá-las? Se alguém protesta, há quem diga que este não passa de um radical que quer violar
a liberdade de expressão. Há sempre quem diz que a intenção do autor foi a melhor possível,
tentam justificar tais iniciativas alegando motivos de arte, cultura, história. E os próprios
autores dessas obras sacrílegas ainda têm o cinismo de vir a público declarar que não tinham a
menor intenção de ofender a fé ou religião de ninguém... e assim se vai pavimentando a
estrada do Inferno.
3.No terceiro Mandamento, Deus nos ordena a guardar os Domingos e Festas Santas,
dedicando esses dias ao seu culto e louvor. A Igreja, em sua sabedoria milenar e divina,
ordena que a melhor forma de cumprir esse preceito é participando do Santo Sacrifício da
Missa aos Domingos e Dias Santos. Mas nem precisamos fazer aqui uma lista das desculpas
mais comuns usadas por aqueles que, abusando de sua liberdade de cristãos, sempre arranjam
um modo de burlar esse Mandamento. A verdade é que o Domingo para a maioria dos cristãos
se transformou em Dia da Praia, Dia da Pelada, Dia do Cinema, Dia do Namoro, Dia do
Clube... enfim dia de tudo e de todos, menos o Dia do Senhor... a intenção? Apenas se divertir,
afinal ninguém é de ferro! E assim mais um trecho da estrada do Inferno vai sendo
pavimentado!
4.O quarto Mandamento prescreve a obediência e o respeito por nosso pais. Entre
tantos exemplos de como esse preceito vem sendo transgredido em "nome das boas
intenções", citaremos apenas o exemplo dos filhos que durante a velhice de seus pais, os
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isolam em casas de repouso, asilos ou outras "facilidades", alegando que ali eles terão "maior
liberdade", "mais privacidade" e pessoas especializadas para dedicar-lhes cuidados
apropriados. Na sociedade materialista e consumista em que vivemos, a maioria das pessoas
concorda que tal atitude é sempre movida pelas "boas intenções" e não pelo egoísmo e pelo
comodismo. Para agravar ainda mais essa situação, agora há também aqueles que advogam
em favor do direito à morte com dignidade pela "eutanásia". Isso para não falar nos famosos
"Mercy Killers", ou seja; aqueles que matam os próprios pais doentes, "por amor", "para não
vê-los sofrer de uma doença degenerativa"... e é assim que mais uma avenida é pavimentada
para o Inferno.
5. O quinto Mandamento é muito claro ao ordenar "Não matar". Mas o que dizermos
então das desculpas mais estapafúrdias que se usam para justificar a morte de um bebê ainda
no útero materno pelo aborto? Imagine que existem até grupos que se autodenominam
"Católicos", advogando o direito que cada mulher tem de decidir se cumpre ou não esse
Mandamento!! Pasmem!!! Na Conferência do Cairo sobre População uma das maiores
discussões foi exatamente no sentido de fazer constar na Carta dos Direitos Humanos, o
"Direito ao Aborto" como sendo um dos direitos humanos!!! Deus não faz concessões ao
prescrever o quinto Mandamento, mas os homens " bem-intencionados" encontraram
incontáveis justificativas para ab-rogar a Sua Lei. Mata-se por misericórdia, mata-se para
evitar o sofrimento, mata-se até por amor!!! Imagine se no Inferno haverá lugar para os
assassinos que mataram por motivos passionais!!! Para os advogados das "boas-intenções",
esses com certeza devem estar gozando da Luz do Paraíso, afinal mataram por amor e não por
ódio!!
6. O sexto Mandamento nos ordena não pecar contra a castidade, mas de uns tempos
para cá sexo virou sinônimo de amor. E aqui não estamos falando do ato sexual lícito dos
esposos, mas sim de toda a sorte de depravação sexual. Tudo é justificado em "nome do
amor": homossexualismo, fornicação, pedofilia... e muitas outras aberrações. Com todas essas
"boas intenções", o Inferno vai se povoando a uma velocidade incrível, pois segundo o que
Nossa Senhora revelou aos pastorezinhos de Fátima ao mostrar-lhes o Inferno, um dos
pecados que mais tem levado pessoas para o Fogo Eterno, é justamente o pecado contra a
Castidade.
7. No sétimo Mandamento, Deus nos proíbe prejudicar o próximo nos seus haveres e
assim prescreve o Mandamento: "não roubar". Por incrível que pareça, esse é um dos
mandamentos que mais encontra justificativas para a transgressão com base nas "boas
intenções". Rouba-se porque está com fome, rouba-se porque o vizinho possui mais bens do
que o outro, o que sem dúvida é uma injustiça!! Rouba-se por causa do desemprego... enfim,
motivos é o que não falta. Se fôssemos fazer um levantamento em todas as penitenciárias dos
mundo, veríamos que todos os ladrões possuem excelentes justificativas para seus delitos e
facilmente chegaríamos à conclusão de que todos agiram com as melhores intenções, pois não
tinham como objetivo prejudicar o próximo, mas sim saciar uma necessidade pessoal e
urgente.
8. No oitavo Mandamento, Deus nos proíbe diretamente dar testemunho falso contra
alguém e por extensão proíbe-nos qualquer lesão à fama do próximo por detração ou calúnia.
Quantas vezes ouvimos pessoas dizerem que não agiram por mal depois de terem
praticamente destruído a reputação do próximo. Os meios de comunicação são mestres nessa
arte! Os jornalistas alegam que estão apenas cumprindo seu "dever profissional", que não
havia a intenção pessoal de prejudicar esse ou aquele indivíduo, mas apenas de se conseguir
"um furo de reportagem", ser bem sucedido profissionalmente... Mas será que tem que ser
sempre às custas da reputação alheia? Pois é exatamente assim que se pavimenta um longo
trecho da estrada para o Inferno... com esse tipo de boa intenção!!
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9. No nono Mandamento, Deus proíbe explicitamente o adultério e Jesus é mais
rigoroso ainda quando diz que se um homem abandona sua mulher e se casa com uma outra,
comete adultério e se a mulher que foi abandonada pelo adúltero se casar com outro,
igualmente se torna adúltera. Infelizmente parece que esse mandamento foi apagado das
mentes cristãs depois que a maioria dos países legalizou o divórcio. Hoje o motivo mais
comum para o adultério é justamente "o amor". Um homem abandona sua esposa e vice-
versa, não porque tinha a "intenção" deliberada de prejudicar sua família, mas simplesmente
porque se "apaixonou" por uma outra pessoa!!! Como podemos ver, rompe-se com o
compromisso matrimonial, desestrutura-se a unidade familiar e a sociedade, abandonam-se os
filhos e causam-se imensos sofrimentos ao cônjuge com a melhor das boas intenções... tudo
por amor!!!
10. Finalmente chegamos ao décimo Mandamento, onde Deus expressamente nos
proíbe cobiçar as coisas alheias, incluindo a explícita ou implícita intenção de adquiri-los por
meios ilícitos. Novamente aqui encontramos as mesmas justificativas usadas para o roubo...
tudo com a melhor das intenções!! Como dizer que o ladrão, um indivíduo que sequer nos
conhece pessoalmente, pode nutrir algum ódio no coração contra nós? Como dizer que ele nos
roubou de propósito, apenas por sentimentos de vingança? E quando se trata de latrocínio,
como dizer que ele tinha a intenção premeditada de matar a vítima se sequer a conhecia ?
Certamente se fôssemos usar o critério das "boas intenções" em todos os
julgamentos, não existiriam presídios na face da terra e nem tampouco o Inferno existiria,
como ousam supor os infernovacantistas! Infelizmente, ainda que esses tenham apenas a "boa
intenção" de exaltar a Misericórdia Divina, a Justiça Divina também é infalível e possui o
mesmo peso da Sua Misericórdia. Eis porque o Inferno existe e de boas intenções, certamente
está superlotado.
(Una Vox – Torino)
CURSO DE BIOÉTICA
Segunda aula
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
O DIREITO À VIDA
Comentário:
O que é intrinsecamente mau não é simplesmente “matar”, mas “matar diretamente
um inocente”.
Há casos em que é legítimo matar um agressor.
E há casos em que é legítimo causar indiretamente a morte de um inocente.
LEGÍTIMA DEFESA
2264. O amor a si mesmo permanece um princípio fundamental da moralidade.
Portanto, é legítimo fazer respeitar seu próprio direito à vida. Quem defende sua vida não é
culpável de homicídio, mesmo se for obrigado a matar o agressor:
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Se alguém, para se defender, usar de violência mais do que o necessário, seu ato será ilícito. Mas, se a
violência for repelida com medida, será lícito... E não é necessário para a salvação omitir este ato de comedida
proteção para evitar matar o outro, porque, antes da de outrem, se está obrigado a cuidar da própria vida (Sto
Tomás de Aquino, S. Th. II-II, 64,7, ed. Leon. 9,74)
2265. A legítima defesa pode não ser somente um direito, mas um dever grave, para
aquele que é responsável pela vida dos outros. Preservar o bem comum da sociedade exige
que o agressor seja impossibilitado de prejudicar a outrem. A este título os legítimos
detentores da autoridade têm o direito de repelir pelas armas os agressores da sociedade civil
pela qual são responsáveis.
Comentário: para que haja legítima defesa, é preciso que haja uma agressão injusta
e atual ou iminente. O agressor perde o direito à vida pelo simples ato que tentar matar. O
agredido, porém, deve agir com moderação, procurando, sempre que possível, poupar a vida
do agressor.
PENA DE MORTE
(extraído de HÖFFNER, Cardeal Joseph, Doutrina Social Cristã, versão de acordo
com a 8ª edição alemã, São Paulo, Edições Loyola, 1986, páginas 191 a 192)
(Argumentos contrários)
“Hoje tornou-se muito vivo o debate em torno da pena de morte. Alguns a rejeitam
com grande vigor: nenhuma instituição humana teria o direito de dispor da vida de uma
pessoa, direito que Deus reservou para si. Nenhum juiz poderia arrogar-se o direito de decidir
se alguém cometeu um delito digno de morte. Muitos criminosos seriam condicionados pelas
circunstâncias sociais e assim uma boa política social seria também a melhor política contra o
crime. Resíduo medioevo dos castigos físicos e capitais, a pena de morte contrariaria a idéia
moderna do humanitarismo e deveria ser repudiada, já pela simples possibilidade de erros
judiciários. A experiência teria anulado a freqüente afirmação de que a ameaça da pena capital
intimidaria, evitando novos crimes. Aliás, a prisão perpétua seria proteção eficaz da sociedade
contra novos ataques de facínoras.
(Argumentos favoráveis)
Outros consideram a pena de morte necessária também na sociedade moderna: a
Sagrada Escritura e a tradição teológica são unânimes em reconhecer ao poder civil o direito
de condenar à morte. Ela seria a afirmação explícita e eficaz e o restabelecimento da santidade
da ordem divina que o crime teria lesado gravemente. Além do mais, a suspensão da pena de
morte ameaçaria os carcereiros com a morte, porque abater um guarda não prolongaria a pena
de prisão perpétua, mas poderia dar a chance da evasão. De resto, houve criminosos que se
converteram em face da morte, enquanto uma detenção prolongada esgotaria em vez de se
transformar em favorável “tempo de conversão”.
(O que diz a doutrina social cristã)
A doutrina social cristã apresenta três princípios referentes ao poder do gládio civil:
a) Ao Estado, e somente a ele, cabe o direito de condenar à pena capital e de
executar a sentença para punir crimes graves. É claro o que ensina a Sagrada Escritura:
“Quem verte o sangue do homem, pelo homem terá seu sangue vertido” (Gn 9,6). “Não é à
toa que (a autoridade) traz a espada: ela é instrumento de Deus para fazer justiça e punir quem
pratica o mal” (Rm 13,4). Apesar de condenar a vingança de sangue, o magistério eclesiástico
reconheceu o poder do gládio da autoridade civil. O Papa Inocêncio III prescreveu aos
valdenses a seguinte profissão: “Reconhecemos que o poder civil pode infligir a pena de
morte, sem pecado grave, contanto que o faça, não por ódio, mas por causa de um julgamento;
não arbitrariamente, mas após madura reflexão”. Pio XII declarou que cabe à autoridade
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profana “privar o réu de sua vida para expiar o seu crime, depois de ele já ter desistido do seu
direito à vida, através do seu crime” (13 de setembro de 1952).
b) O poder do gládio da autoridade profana é um claro reconhecimento da
intocabilidade dos bens humanos supremos, em primeiro lugar da vida. A santidade da divina
ordenação também ser revela como “poderosa” neste mundo através da pena capital. Esta
representa um ato de autodefesa do Estado. Em última análise, ela se justifica por ser a única
maneira de preservar o bem comum.
c) Embora tenha o direito do gládio, o Estado pode renunciar à sua aplicação. Abrir
mão da aplicação da pena de morte vai depender das circunstâncias concretas, isto é, das
necessidades do bem comum no contexto real da situação. O Estado moderno costuma dispor
de um aparato policial rápido e de um sistema carcerário seguro. Por isso hoje há mais
motivos contra a pena de morte que na Idade Média, sendo, porém, de notar que facínoras
perigosos, não raro, são libertados pelos cúmplices, por meio de seqüestros e de reféns,
podendo assim continuar a sua vida de crimes.”
(termina aqui a citação do Cardeal Joseph Höffner)
GUERRA
2307. O quinto mandamento proíbe a destruição voluntária da vida humana. Por
causa dos males e das injustiças que toda guerra acarreta, a Igreja insta cada um a orar e agir
para que a Bondade divina nos livre da antiga escravidão da guerra.
2308. Cada cidadão e cada governante deve agir de modo a evitar as guerras.
Enquanto, porém, “houver perigo de guerra, sem que exista uma autoridade internacional
competente e dotada de forças suficientes, e esgotados todos os meios de negociação pacífica,
não se poderá negar aos governos o direito de legítima defesa” (Gaudium et Spes 79,4).
2309. É preciso considerar com rigor as condições estritas de uma legítima defesa
pela força militar. A gravidade de tal decisão a submete a condições rigorosas de legitimidade
moral. É preciso ao mesmo tempo que:
- o dano infligido pelo agressor à nação ou à comunidade de nações seja durável,
grave e certo;
- todos os outros meios de pôr fim a tal dano se tenham revelado impraticáveis ou
ineficazes.
- estejam reunidas as condições sérias de êxito.
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- o emprego das armas não acarrete males e desordens mais graves do que o mal a
eliminar. O poderio dos meios modernos de destruição pesa muito na avaliação desta
condição.
Estes são os elementos tradicionais enumerados na chamada doutrina da “guerra
justa”.
O PRINCÍPIO DA TOTALIDADE
As partes estão submetidas ao todo. É lícito (e às vezes até obrigatório) amputar uma
das partes do organismo a fim de evitar a morte da pessoa.
Pode-se extrair um braço que está gangrenado, um apêndice que está infeccionado,
um útero que está canceroso, a fim de salvar o organismo.
Algumas condições para a aplicação do princípio da totalidade:
1) que se trate de uma intervenção sobre a parte doente ou que é diretamente a causa
do mal, para salvar o organismo são;
2) que não haja outros modos ou meios para fugir da doença;
3) que haja boa chance, proporcionalmente grande, de sucesso;
4) que se tenha o consentimento do paciente.
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Pergunta: a mutilação de um órgão sadio (como a ligadura de trompas) feita com o
fim de evitar uma nova gravidez que, com muita probabilidade resultaria na morte da mãe
e/ou do bebê, pode ser justificada pelo princípio de totalidade? Por quê?
Não temos o direito de praticar atos moralmente maus, nem sequer com boa
intenção. Mas freqüentemente, ao praticarmos um ato bom, com um fim bom, deparamo-nos
com um efeito secundário mau. Assim, por exemplo, tomamos uma aspirina (ato bom) para
curar uma dor de cabeça (fim bom), mas sabendo que ela poderá atacar o estômago (efeito
secundário mau). Podemos praticar tais atos, que tenham duplo efeito: um bom e outro mau?
Sim, mas com algumas condições.
Pode-se praticar um ato moralmente bom que tenha dois efeitos: um bom e outro
mau, desde que:
a) a intenção do agente seja obter o efeito bom, e não o mau;
b) que o efeito bom seja obtido diretamente da ação, e não através do efeito mau;
c) que o efeito bom seja proporcionalmente superior ou ao menos equivalente ao
efeito mau;
d) que não haja outro meio de se obter tal efeito bom, a não ser praticando a ação
boa que produz tal efeito secundário mau.
Note-se bem que não se trata de “praticar um ato mau com boa intenção”. Isso nunca
é moralmente lícito. O fim não justifica os meios, embora Maquiavel tenha dito o contrário.
No princípio em questão, trata-se de praticar um ato bom com boa intenção, mas
que produz um efeito colateral mau.
Um outro caso: uma mulher grávida descobre que está com o útero canceroso. O
médico lhe diz que é preciso fazer uma histerectomia (remoção do útero) para extirpar o
tumor. Diz também que o tumor está em rápida expansão, de modo que essa cirurgia deve ser
feita urgentemente, e não após o nascimento da criança, senão a mulher morrerá em
pouquíssimo tempo. Analisemos moralmente este caso:
a) a intenção do médico é salvar a vida da gestante (efeito bom) e não causar a morte
da criança (efeito mau). Tal cirurgia seria feita ainda que a mulher não estivesse grávida.
b) a salvação da vida da gestante (efeito bom) é obtida diretamente da histerectomia,
e não através da morte da criança. Se, absurdamente, o médico não extirpasse o tumor, mas
simplesmente matasse a criança, não salvaria a vida da mãe.
c) no caso, o efeito mau (a morte do bebê) não é superior, mas pelo menos
equivalente ao efeito bom (a salvação da vida da mãe).
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d) não há outro meio de se salvar a gestante, a não ser praticando (com urgência, sob
pena de metástase) a histerectomia, que terá como efeito secundário e indesejado a morte do
bebê.
Verifique se se aplica o caso do princípio da causa com duplo efeito nos seguintes
exemplos:
1) Para aliviar as dores agudas de um doente de tumor ósseo, deve-se recorrer ao uso
de morfina, surgindo daí um efeito negativo, ou seja, o hábito (que exige doses cada vez mais
fortes para acalmar a dor) e um possível abreviamento da vida e da resistência física do
sujeito.
5) Uma mulher grávida sofre de enjôo e resolve tomar talidomida. O objetivo não é
causar deformação no bebê (que é um efeito da droga), mas tão-somente curar seu enjôo.
8) Um navio está para atacar uma cidade. Como legítima defesa, um avião sobrevoa
o mar com a intenção de bombardear o agressor. No entanto, antes de lançar a bomba, observa
que há crianças inocentes brincando no convés. O piloto deve ou não deve lançar a bomba
sobre o navio?
CURSO DE BIOÉTICA
Terceira aula
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
“Para resumir e confirmar o que foi dito até aqui, relembro o conteúdo do documento
"Identidade e estatuto do embrião humano" do Centro de bioética da Universidade Católica,
que assim se pronuncia a esse respeito: "A primeira ordem de dados deriva do estudo do
zigoto e de sua formação. Desses dados conclui-se que, durante o processo de fertilização,
mal o óvulo e o espermatozóide - dois sistemas celulares teleologicamente programados —
interagem, imediatamente se inicia um novo sistema, que tem duas características
fundamentais:
1. O novo sistema não é uma simples soma de dois subsistemas, mas é um sistema
combinado, que, a seguir à perda da própria individuação e autonomia por parte dos dois
subsistemas, começa a operar como uma nova unidade, intrinsecamente determinada a atingir
sua forma específica terminal, se forem postas todas as condições necessárias. Daí a clássica e
ainda corrente terminologia de `embrião unicelular' (one cell embryo).
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2. O centro biológico ou estrutura coordenadora dessa nova unidade é o novo
genoma de que está dotado o embrião unicelular, ou seja, os complexos moleculares -
visivelmente reconhecíveis em nível citogenético nos cromossomos - que contêm e
conservam como que na memória um desenho-projeto bem definido, com a ‘informação’
essencial e permanente para a realização gradual e autônoma desse projeto. É esse genoma
que identifica o embrião unicelular como biologicamente humano e especifica sua
individualidade. É esse genoma que confere ao embrião enormes potencialidades
morfogenéticas, que o próprio embrião irá executando gradualmente durante todo o
desenvolvimento, por meio de uma contínua interação com seu ambiente tanto celular como
extracelular e das quais recebe sinais e materiais"” (idem, página 343, citando CENTRO DE
BIOÉTICA, Universidade Católica del Sacro Cuore, Identità e statuto dell’embrione umano,
22.06.1989, “Medicina e Morale”, 1989, 4 (supl.), pp. 665-666).
“O fato que se deve notar de modo especial é que esse novo programa não é inerte
nem ‘executado’ por órgãos fisiológicos maternos, os quais se serviriam do programa do
modo como um arquiteto se serve do projeto, ou seja, como um esquema passivo, mas é um
novo projeto que se constrói a si mesmo e é o ator principal de si. Ainda que permaneçam
ativos por algum tempo os sistemas de informação de origem materna que tinham levado o
óvulo à maturação, entram em ação, todavia, desde o primeiro momento da fertilização, os
sistemas de controle do zigoto, que assumem totalmente seu controle antes mesmo da
implantação: da formação dos blastômeros por replicação-duplicação até a formação do
blastocisto e a nidação, o piloto ou o arquiteto da construção é constituído pelo que vem da
informação genética intrínseca à nova realidade” (ELIO SGRECCIA, Manual de Bioética; I
– Fundamentos e Ética Biomédica, São Paulo, Edições Loyola, 1996, p.343-344).
O DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO
O Nascimento
Como observa o Dr. Jack Willke:
“Nascimento é a saída da criança do ventre materno, a secção do cordão umbilical,
e o começo da existência do filho, destacado fisicamente do corpo da mãe.
"A única mudança que se verifica com o nascimento é no sistema de apoio à vida
exterior do filho. O filho não é diferente antes e depois do nascimento, exceto no fato de ter
mudado o método de alimentação e de obtenção de oxigênio.
"Antes do nascimento, a alimentação e o oxigênio eram obtidos da mãe, através do
cordão umbilical. Após o nascimento, o oxigênio é obtido de seus próprios pulmões, e a
nutrição através de seu estômago, se ele está suficientemente desenvolvido para alimentar-se
dessa maneira”2
1
A. Witliam Liley, MD, A Case Against Abortion. Liberal Studies, Whitcombe & Tomb Ltd.,
1971. apud The Womb Becomes a Tomb, Pleasantville (NY), The American Society for the
Defense ot Tradition, Family and Property, 1992, p. 33. Ver também Liley, The Foetus in
Control of His Environment, in Hilgers e Horan, Abortion and Social Justice, pp. 27-36.
16
ABORTO
O MAIS COVARDE DE TODOS OS ASSASSINATOS
1. O que é o aborto?
"O aborto provocado é a morte deliberada e direta, independentemente da forma
como venha a ser realizada, de um ser humano na fase inicial de sua existência, que vai da
concepção ao nascimento"
(S.S. João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae, nº 58)
2
Dr. & Mrs. J.C. Wilke, Handbook on Abortion, Cincinnati (OH), Hayes Publishin Co., 1975,
pp. 24-25.
17
estando grávida, recusou submeter-se à extração do útero canceroso. Deu à luz e morreu uma
semana após o parto. Sua filha, Gianna Emmanuela, é hoje médica como a mãe.
6. Existe na medicina algum caso em que o aborto direto seja “necessário” para
salvar a vida da mãe?
Não existe. Houve tempo em que os médicos, mais por ignorância do que por falta de
recursos, faziam abortos em gestantes vítimas de tuberculose pulmonar, hipertensão arterial,
cardiopatias, vômitos incoercíveis e perturbações mentais. Porém, já na década de 50
verificou-se que as gestantes enfermas submetidas ao aborto tinham maior índice de óbitos e
agravamentos que aquelas que levavam a gravidez adiante. O aborto é não apenas um
assassinato covarde, mas ele é totalmente inútil para melhorar a saúde de uma gestante
enferma.
A ANTICONCEPÇÃO
(transcrito da encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, 1968)
“...será conveniente [para o confessor] averiguar a solidez dos motivos que se têm para
a limitação da paternidade ou maternidade e a liceidade dos métodos escolhidos para
distanciar e evitar uma nova concepção” (PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA,
Vademecum para os confessores sobre alguns temas de moral relacionados com a vida
conjugal, 1997, n.º 12)
10. É verdade que as pílulas de hoje têm menos efeitos colaterais do que as de
antigamente?
É verdade. Para reduzir os efeitos colaterais, os fabricantes diminuíram a dose de
estrógeno e progesterona presentes na pílula. Isto significa que cada vez menos a pílula é
capaz de impedir a ovulação.
11. Assim as mulheres de hoje que usam pílula podem ovular?
Podem. E caso tenham relação sexual podem conceber. Mas quando a criança concebida
na trompa chegar ao útero, não encontrará um revestimento preparado para acolhê-la. O
resultado será um aborto.
12. Então a pílula anticoncepcional é também abortiva?
Sim. Este é um dos seus mecanismos de ação: impedir a implantação da criança no
útero. Isto está escrito, por exemplo, na bula de anticoncepcionais como Evanor e Nordette:
“mudanças no endométrio (revestimento do útero) que reduzem a probabilidade de
21
implantação (da criança)”. A bula de Microvlar diz: “Além disso, a membrana uterina não
está preparada para a nidação do ovo (a criança)”.
13. Em resumo, quais são os mecanismos de ação das pílulas ou injeções
anticoncepcionais?
a) inibir a ovulação;
b) aumentar a viscosidade do muco cervical, dificultando a penetração dos
espermatozóides;
c) impedir a implantação da criança concebida (aborto).
14. Existem dias em que a mulher não é fértil. Nesses dias o casal pode ter relação
sexual?
Pode. Pois ao fazer isso eles não colocam nenhum obstáculo à procriação. A própria
natureza é que não é fértil naqueles dias.
15. O casal pode procurar voluntariamente ter relações sexuais somente nos dias
que não são férteis, a fim de impedir uma nova gravidez?
Pode, mas deve ter razões sérias para isso. Pois em princípio um filho não deve ser
“evitado”, mas desejado e recebido com amor. Uma família numerosa sempre foi considerada
uma bênção de Deus.
16. Dê um exemplo de razões que seriam válidas para se limitar ou espaçar os
nascimentos.
Problemas sérios de saúde, que poriam em risco a vida da mulher em uma nova
gravidez; ou problemas financeiros sérios (que impedissem de fato que o casal sustentasse
uma família numerosa).
17. Um casal poderia utilizar um método natural sem ter nenhum motivo sério
para ter poucos filhos?
Não. Se fizesse isso estaria frustrando o plano de Deus, que disse: “Crescei e
multiplicai-vos”. O normal para um casal é ter muitos filhos.
18. É mais fácil educar um só filho do que muitos?
Não. Um filho único está arriscado a ser uma criança problema. Recebe toda a atenção
dos pais e não está acostumado a dividir. Poderá ter dificuldade no futuro ao ingressar na
sociedade. Já um filho com muitos irmãos acostuma-se desde pequeno às regras do convívio
social. Os irmãos maiores ajudam a cuidar dos menores, e todos crescem juntos.
19. Quantos métodos naturais existem para regulação da fertilidade?
a) o método Ogino Knauss, ou método da tabela. É o mais antigo de todos e supõe que a
mulher tenha um ciclo menstrual regular. Hoje seu uso está abandonado. Estranhamente, a
Pastoral da Criança resolveu ressuscitá-lo sob o nome de “método do colar”.
b) o método da temperatura: baseia-se na observação da temperatura da mulher, que
varia quando ocorre ovulação. Inconvenientes: necessidade de se ter um termômetro, saber
usá-lo, lembrar-se de usá-lo diariamente à mesma hora e saber fazer um gráfico. Além disso, a
temperatura pode variar por outros motivos, como uma gripe ou a ingestão de um analgésico.
O aparelho Mini-Sophia é uma versão eletrônica e computadorizada do uso deste método.
c) o método Billings, que se baseia na observação do muco cervical, que torna-se fluido
e úmido nos dias férteis, e seco nos dias inférteis. Não exige que o ciclo menstrual seja
regular. Pode ser usado pelos casais mais pobres e mais incultos.
ESTERILIZAÇÃO
1. O que é a esterilização?
É a mutilação de um órgão reprodutor, feita a fim de que ele não mais possa funcionar.
2. Que tipos de esterilização existe?
A esterilização do homem é feita pela vasectomia. A esterilização da mulher é feita pela
ligadura de trompas.
3. Como a vasectomia estraga o aparelho reprodutor masculino?
Através de um corte nos vasos e canais que conduzem os espermatozóides dos testículos
para a vesícula seminal.
4. Como a ligadura de trompas estraga o aparelho reprodutor feminino?
As trompas são ligadas ou extirpadas, e assim o óvulo não pode mais caminhar para o
útero nem se encontrar com o espermatozóide.
5. Nós temos o direito de amputar um órgão do nosso corpo?
Não, a menos que seja um órgão doente e que ponha em risco a saúde de todo o
organismo (por exemplo, um braço com gangrena). Mas amputar um órgão sadio é sempre um
pecado. Por exemplo, não podemos pedir a um médico para arrancar nossos olhos ou nossas
mãos, se estiverem sadios.
6. E se alguém pede a um médico para mutilar e estragar um órgão reprodutor?
O pecado é maior, pois trata-se de um órgão criado por Deus para a sublime missão de
transmitir a vida.
7. E se a mulher por problemas de saúde for desaconselhada de ter mais filhos,
pode fazer ligadura de trompas?
De jeito nenhum. Não podemos estragar seus órgãos reprodutores, se eles estão sadios.
8. Mas se ela não se operar, vai acabar morrendo na próxima gravidez...
E quem disse que ela é obrigada a engravidar? A gravidez não vem por acaso, mas é
sempre fruto de uma relação sexual. E a relação sexual é um ato livre. Ninguém é “obrigado”
a praticá-la. Se não convém para a saúde uma nova gravidez, o casal pode muito bem abster-
se das relações sexuais no período fértil. Nunca é necessário nem lícito mutilar os órgãos
reprodutores.
9.Nem depois de uma certa idade a mulher tem o direito de se operar para não ter
mais filhos?
Não. A esterilização é pecado em qualquer idade em que seja praticada.
10. Nem o homem pode fazer vasectomia, se a esposa concordar?
Mesmo que a esposa concorde, Deus não concorda. Nunca é lícito estragar um órgão
sadio criado para transmitir a vida.
11. O que acontece com o casal que voluntariamente se esteriliza?
Ele passa a viver fechado no seu egoísmo, sem qualquer abertura à uma nova vida. Um
já não pode mais dizer para o outro “Eu te amo” sem dizer mentira. Pois o verdadeiro amor é
fecundo.
12. O casal que já se esterilizou não tem salvação?
Tem, desde que se arrependa sinceramente do pecado que cometeu. Convém que eles se
lembrem que o poder de procriar sempre foi considerado pela Bíblia uma bênção de Deus, e
23
que eles rejeitaram esta bênção. Mas todo pecado tem perdão, desde que o arrependimento
seja sincero.
13. Que pode fazer o casal esterilizado para compensar o pecado cometido?
Para evitar que o corpo de um se torne para o outro um simples brinquedo ou objeto de
prazer a ser usado a qualquer hora e sem nenhum custo, o casal poderia, de comum acordo,
decidir abster-se de relações sexuais durante alguns dias do mês. Poderia também, por
exemplo, adotar crianças, ensinar os outros casais a valorizar o dom da vida, lutar contra o
aborto... Há ainda a chance remota de reversão da esterilização.
CURSO DE BIOÉTICA
Quarta aula
EUTANÁSIA
Definição de eutanásia
“65. Para um correto juízo moral da eutanásia, é preciso, antes de mais, defini-la
claramente. Por eutanásia, em sentido verdadeiro e próprio, deve-se entender uma ação ou
uma omissão que, por sua natureza e nas intenções, provoca a morte com o objetivo de
eliminar o sofrimento. «A eutanásia situa-se, portanto, ao nível das intenções e ao nível dos
métodos empregados».
Cuidados paliativos
Na medicina atual, têm adquirido particular importância os denominados «cuidados
paliativos», destinados a tornar o sofrimento mais suportável na fase aguda da doença e
assegurar ao mesmo tempo ao paciente um adequado acompanhamento humano. Neste
contexto, entre outros problemas, levanta-se o da licitude do recurso aos diversos tipos de
analgésicos e sedativos para aliviar o doente da dor, quando isso comporta o risco de lhe
abreviar a vida. Ora, se pode realmente ser considerado digno de louvor quem
voluntariamente aceita sofrer renunciando aos meios lenitivos da dor, para conservar a plena
lucidez e, se crente, participar, de maneira consciente, na Paixão do Senhor, tal
comportamento «heróico» não pode ser considerado obrigatório para todos. Já Pio XII
afirmara que é lícito suprimir a dor por meio de narcóticos, mesmo com a conseqüência de
limitar a consciência e abreviar a vida, «se não existem outros meios e se, naquelas
24
circunstâncias, isso em nada impede o cumprimento de outros deveres religiosos e morais». É
que, neste caso, a morte não é querida ou procurada, embora por motivos razoáveis se corra a
risco dela: pretende-se simplesmente aliviar a dor de maneira eficaz, recorrendo aos
analgésicos postos à disposição pela medicina. Contudo, «não se deve privar o moribundo da
consciência de si mesmo, sem motivo grave»: quando se aproxima a morte, as pessoas devem
estar em condições de poder satisfazer as suas obrigações morais e familiares, e devem
sobretudo poder preparar-se com plena consciência para o encontro definitivo com Deus.
Condenação da eutanásia
Feitas estas distinções, em conformidade com o Magistério dos meus Predecessores e
em comunhão com os Bispos da Igreja Católica, confirmo que a eutanásia é uma violação
grave da Lei de Deus, enquanto morte deliberada moralmente inaceitável de uma pessoa
humana. Tal doutrina está fundada sobre a lei natural e sobre a Palavra de Deus escrita, é
transmitida pela Tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal.
A eutanásia comporta, segundo as circunstâncias, a malícia própria do suicídio ou do
homicídio.”
SUICÍDIO
Suicídio assistido
Compartilhar a intenção suicida de outrem e ajudar a realizá-la mediante o chamado
«suicídio assistido», significa fazer-se colaborador e, por vezes. autor em primeira pessoa de
uma injustiça que nunca pode ser justificada, nem sequer quando requerida. «Nunca é lícito -
escreve com admirável atualidade Santo Agostinho - matar o outro: ainda que ele o quisesse,
mesmo se ele o pedisse, porque, suspenso entre a vida e a morte, suplica ser ajudado a libertar
a alma que luta contra os laços do corpo e deseja desprender-se; nem é lícito sequer quando o
doente já não estivesse em condições de sobreviver». Mesmo quando não é motivada pela
recusa egoísta de cuidar da vida de quem sofre, a eutanásia deve designar-se uma falsa
compaixão, antes uma preocupante «perversão» da mesma: a verdadeira «compaixão», de
fato, torna solidário com a dor alheia, não suprime aquele de quem não se pode suportar o
sofrimento. E mais perverso ainda se manifesta o gesto da eutanásia, quando é realizado por
aqueles que - como os parentes - deveriam assistir com paciência e amor o seu familiar, ou
por quantos - como os médicos -, pela sua específica profissão, deveriam tratar o doente,
inclusive nas condições terminais mais penosas.”
(fim da transcrição da encíclica Evangelium Vitae)
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
A introdução artificial do esperma dentro do organismo da mulher, ainda que o
esperma tenha sido produzido por seu marido (inseminação artificial homóloga) é um ato
gravemente desordenado. A malícia aumenta quando o esperma é proveniente de um terceiro
(inseminação artificial heteróloga), pois, neste caso, trata-se de um adultério.
FERTILIZAÇÃO IN VITRO
A fertilização in vitro (FIV) — seja ela homóloga ou heteróloga —, na qual o óvulo e
o esperma são juntados em um tubo de proveta e posteriormente se introduzem alguns
embriões no aparelho reprodutor da mulher, constitui também uma ofensa à dignidade do
matrimônio e à transmissão da vida.
Tanto a inseminação artificial como a fecundação in vitro têm um agravante: o
esperma do homem é obtido mediante a masturbação, que é um pecado grave.
No caso da fecundação in vitro, ocorre ainda outro problema: o excesso de embriões.
Para garantir êxito, o médico estimula uma super-ovulação, com injeções diárias de
hormônios durante dez dias. A mulher produz, então, cerca de 15 óvulos, ao invés de um. Os
óvulos, então, são postos em contato com os espermatozóides e são fecundados. Há agora
quinze ovos ou zigotos, ou seja, quinze seres humanos, como eu ou você, dentro de um tubo
de ensaio. Dos quinze, cerca de dez chegam ao estágio de embrião. Obviamente não se
colocam os dez embriões dentro do útero da mãe. Transferem-se normalmente quatro, dos
quais vários vão morrer sem conseguir ser implantados no endométrio. O eventual
sobrevivente desse holocausto nascerá, será fotografado e exibido em capa de revista, como
uma resultado glorioso da tecnologia.
26
E agora, uma pergunta crucial: o que fazer com os outros seis embriões que não foram
transferidos? A “solução” encontrada tem sido congelá-los em nitrogênio líquido
(criopreservação).
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Mas... congelar até quando? A crioconservação é cara e nem sempre os pais estão
dispostos a implantar os embriões excedentes. “Não se sabe exatamente quantos embriões
congelados existem no país. Mas pode-se ter uma idéia: três das maiores clínicas em São
Paulo reúnem, cada uma, cerca de mil embriões. Foram obrigadas a dobrar o espaço nas
geladeiras” (Excessos de Proveta, Época, 30 de agosto de 1999, p. 86).
Há no Congresso Nacional projetos de lei tentando “regulamentar” a chamada
“reprodução assistida”. Lamentavelmente, há a tendência de se permitir, ou até obrigar o
descarte dos embriões humanos excedentes.
CURSO DE BIOÉTICA
Quinta aula
A CASTIDADE
3
O termo “pré-embrião” é preconceituoso. Designa os embriões já concebidos, mas ainda não implantados no
útero. O motivo pelo qual recentemente se têm chamado tais embriões de “pré-embriões” é sugerir que não se
tratam de seres humanos e que, portanto, podem ser descartados ou manipulados. Apesar disso, a Resolução
Normativa ainda não autoriza o seu descarte ou destruição.
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Na época do cio, os irracionais, como os gatos e cachorros, sentem-se atraídos pelos
indivíduos do outro sexo e acasalam-se. O acasalamento mais parece uma briga. Não há
promessa de fidelidade nem formação de uma família.
O homem, embora tenha instinto sexual, não é escravo dele. Pode sentir atração pela
pessoa do outro sexo, mas nem por isso está autorizado a unir-se ao corpo dela, a menos que
ela seja o seu cônjuge.
Adultério: é a união sexual entre uma pessoa casada e outra que não seja o seu
cônjuge. Tem uma gravidade a mais sobre a fornicação: a traição do cônjuge.
O NAMORO
Pelo matrimônio, homem e mulher doam seus corpos, tornam-se uma só carne para
se completarem mutuamente e para se completarem mutuamente e para gerar filhos para
Deus.
Mas antes de doar os corpos é preciso aprender a doar as almas. Para isso existe o
namoro.
Mas que sentido tem a excitação durante o namoro? Por que preparar um ato que não
posso completar (pois o corpo alheio não me pertence)? Que sentido tem aproximar da boca
uma maçã (e assim acionar as glândulas salivares) se ela não me pertence e eu não posso
comê-la? Que sentido tem esquentar o motor de um automóvel se eu não posso andar nele? A
excitação durante o namoro é um contra-senso. Provocá-la voluntariamente é um pecado
grave.
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“Ouvistes que foi dito: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo: todo aquele
que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu
coração” (Mt 5,27-28).
Provas de amor
Durante o namoro, é fundamental pedir e dar prova de amor;
— Você me ama? Então vamos esperar. Pois o amor resiste ao tempo.
— Você me ama? Então vamo-nos distanciar. Pois o amor resiste à distância.
— Você me ama? Então vamo-nos sacrificar. Pois o amor se prova pelo sacrifício.
— Mas meu amor por você é tão grande, que eu não agüento esperar, não agüento
distanciar-me, não agüento sacrificar-me. Eu quero você aqui e agora!
— Pare! Você não me ama. Você é apenas um animal na época do cio.
Como namorar
Sendo o namoro o encontro de dois templos sagrados que desejam conhecer-se e
amar-se interiormente, os namorados deveriam agir à semelhança de um rito litúrgico:
— rezar antes e depois do namoro;
— namorar apenas em lugar visível, para evitar ocasião de pecar. Nada há para
esconder;
— durante o namoro evitar ir além de conversar e dar as mãos;
— ter sempre em mente : “Eu estou diante de um templo sagrado. Ai de mim se eu
profanar este templo até por um pensamento”.
A alegria da pureza
Aquele que procura o prazer, encontra o prazer. Mas depois vem o vazio, o remorso
de consciência e a tristeza.
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Aquele que se abstém do prazer por amor encontra a alegria . Os puros de coração
são capazes desde já conhecer as coisas de Deus muito melhor do que os outros. A pureza se
expressa no olhar. Ao olharmos para os olhos de uma pessoa pura, vemos algo de Deus em
sua alma.
Se os que buscam o prazer na impureza conhecessem a alegria da pureza, desejariam
ser puros mesmo que fosse por egoísmo . A alegria da pureza está acima do prazer da
impureza assim como o céu está acima da terra. Experimente e diga-me se não é assim.