Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
HISTÓRIA DO BRASIL
Turma C
Niterói
2006
Resenha crítica sobre “Os Desclassificados do Ouro: a pobreza mineira no século XVIII” /
Laura de Mello e Souza - Rio de Janeiro: Edições Graal, 3ª edição, 1986.
O cenário não é novo, palmilhado que foi por estudiosos da estatura de Caio Prado Jr.,
Kenneth Maxwell, Nélson Werneck Sodré, C. R. Boxer, entre outros. Por eles revelaram-se
frestas do passado - melhor dizendo de um passado - que tal como os diamantes revirados
O ponto original, em seu sentido estrito, foi o de buscar, dentro de um sujeito coletivo
amplo e variegado (o marginal), uma abordagem que melhor permitisse separá-lo como um
conjunto de indivíduos que mesmo inseridos estavam à margem daquela sociedade. Assim
ela buscou identificar uma tipologia exclusiva, [i.é]: no contraponto de uma definição por
demais elástica então existente, propôs-se a delimitar o “desqualificado social”. Destarte sua
autora estabeleceu as balizas temporais - e uma cronologia afim- limitadas entre 1693 e 1805.
A primeira baliza foi definida pela constituição da capitania do Rio de Janeiro, São Paulo e
Minas Gerais. Quanto a segunda - marco terminal de sua análise - justifica-se pela clara
Para montar sua análise e interpretações, ela vai elencando o uso de correspondências
constituição de uma reserva similar em Minas Gerais, atraída pela rápida expansão da
atividade extrativa e em busca de oportunidades. Fosse mão-de-obra alternativa à
este segmento social abriam-se oportunidades que de forma alguma promoviam uma
No 1º capítulo [O Falso Fausto], ela conduz nosso olhar por sobre duas festas
1733 e 1748. A partir de sua descrição olhamos uma sociedade que estabiliza-se, deixando
para trás os primeiros tempos da mineração desenfreada, e assume um perfil urbano. Falsa
opulência que mascara, por detrás do “luxo irracional”, a reafirmação das desigualdades e a
divisão da pobreza.
laborioso e cada vez mais pobre) e que acabou sendo “despejado” no Novo Mundo, fosse a
Nova Inglaterra, fosse o Brasil do Alvará dos Degredados. Nem escravos nem Senhores -
múltiplas atividades (nem sempre lucrativas) e que por isso gera uma enorme dificuldade de
defini-los objetivamente.
Estado correspondeu aos interesses de extração fiscal e controle social, e para isso soma sua
aparato repressivo e tributário. Ordenar a desordem que tanto podia originar-se na existência
de viver, casar, vestir, enfim sua dinâmica cotidiana. A fragilidade da liberdade para os forros
(eventual reescravização) e a atuação eclesiástica contra a dissolução moral (bígamos,
falsificação à capangagem.
tanto à aventura como ao ilícito, no entanto, desprovia este grupo das condições para
desenvolver uma consciência de classe, segundo a autora. E a isto somava-se que este grupo
requisitados - pelo Estado ou pelos homens bons - era sempre a “pior” solução, com o ônus
deste recurso superando em muito sua utilidade (pelo menos no discurso). Isso é fartamente
demonstrado ao longo do texto, como por exemplo sua mobilização diante de necessidades
militares ou afins.
poderosos de toda ordem, recrutados para servir como destacamentos irregulares de tropas ou
agindo como uma espécie de “polícia privada”, tais desclassificados eram mobilizados como
uma extensão do braço armado do poder estatal, de seus prepostos ou mandatários locais -
conjunto.
do ouro se verificou de início sob a forma de cobrança por batéias” (grifo meu). No Entanto,
pelo quadro constante na página 43, apud Virgílio Noya Pinto (op. Cit., pp. 71-75), ele
assinala justamente que, entre os anos de 1700-1714, vigorava o quinto sobre o metal
impostos de capitação e censo, até chegar-se a cota mínima de 100 arrobas após 1750. A
extração pautada em batéias só foi intentada em 1715, sendo rejeitada e substituída, três anos
após, por uma cota de 25 arrobas mais os direitos de passagens nos Registros.
novos temas, fontes e marcos teóricos, que terminaram por sepultar por exemplo a
“coisificação do negro”, hoje também força uma revisão deste discurso muito oficial
e pobres subiam na escala social, cativos alforriavam a si e aos seus, constituíam famílias e
parentelas.