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PROPOSTA DE ROTEIROS DE OBSERVAÇÃO DE ANIMAIS,

EM TRILHAS, NO BRASIL

Profª Ms Claudia Maria Astorino


Universidade Federal de São Carlos
e-mail: claudia.astorino@power.ufscar.br
Tel: (15) 3218-1619
Eixo temático: Flora e Fauna
Sub-eixo: Planejamento e Manejo de trilhas e Impactos na Fauna

Introdução
O Brasil é um dos países líderes em número de espécies vegetais e animais, e devido
à riqueza de sua biodiversidade, tem um grande potencial para se transformar em
relevante destino de ecoturismo, em âmbito mundial. Esta modalidade de turismo tem
importante papel na conscientização da preservação do meio ambiente natural, pois
deve ter, na própria base, o desenvolvimento sustentável e o respeito às comunidades
locais.
Dentre as muitas atividades que o ecoturismo pode proporcionar, a avistagem e
observação de animais, curiosamente, ainda é pouco difundida no Brasil, apesar da
biodiversidade indiscutível e das oportunidades de avistagem que essa riqueza
proporciona.
Trata-se, no entanto, de uma prática crescente e que atrai uma demanda de
qualidade, consciente e responsável, e que, muitas vezes, não se deixa intimidar pelas
dificuldades e distâncias, submetendo-se a viagens intercontinentais somente para ver
espécies raras ou inexistentes em seu lugar de residência, o que evidencia sua
disponibilidade de tempo e propensão a gastos.
O presente trabalho tem como proposta, portanto, a proposição de roteiros de
avistagem e observação de aves no Brasil, em trilhas, no meio ambiente natural ou em
áreas de proteção ambiental, classificadas segundo localização geográfica,
ecossistemas envolvidos e animais a serem avistados. Apresentaremos, basicamente,
um roteiro que abranja parte do território do Pantanal Motogrossense e do Parque
Nacional da Lagoa dos Peixe, pois identificamos esses parques como dois dos mais
ricos em termos de ocorrência de aves no território brasileiro, sejam estas endêmicas,
residentes ou migratórias.

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Objetivo
Esse trabalho, que é, na verdade, uma união entre pesquisa e relato de experiência,
visa propor um grande roteiro, exclusivamente brasileiro, de avistagem e observação
de aves em trilhas, em áreas de meio ambiente natural, pois entende que dentro do rol
de atividades da modalidade de ecoturismo, essa talvez seja uma das que são
realizadas em maior harmonia com a natureza, tornando-se altamente desejável.

Metodologia
Para embasar essa proposta, visitamos e analisamos dois pólos, os quais,
individualmente, apresentam um grande número de espécies de aves; o Pantanal
Matogrossense e o Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Se agregados em um único
produto, podem, portanto, compor um roteiro singular, que, potencialmente, seria
orientado para fluxos de demanda nacional e internacional, pois combinaria aves
endêmicas, residentes e migratórias; aves marinhas, litorâneas, limícolas, e de mata;
aves de hábitos solitários ou que vivem em bando, e por aí afora, ou seja, um mix
extremamente variado de espécies com forte apelo para atrair observadores de aves
de todas as qualificações; dos leigos aos mais experientes. Trata-se, portanto,de uma
pesquisa aplicada, baseada na análise de pesquisas básicas selecionadas.

Desenvolvimento
Discutiremos, a seguir, a atividade de observação de aves como componente do
ecoturismo.
Os observadores amadores são importantes atores na identificação e classificação de
aves, uma vez que, quanto mais numerosos forem em campo, maiores serão as
chances de registros de espécies ainda não catalogadas ou espécies que estavam
consideradas extintas. Baseados em critérios bastante precisos, os observadores
amadores analisam as características morfológicas das aves observadas, a saber:
bico, cauda, asas, patas, penas e plumagem, combinação das cores e características
de vôo, e passam, então, a montar o identikit da ave. Para isso, é indispensável a
consulta a guias de campo, de maneira que a ave também possa ser avaliada em
relação ao gênero, estação do ano, estágio de crescimento e fase no ciclo de
reprodução. Uma vez montado o identikit, a ave poderá ser determinada com o maior
nível de precisão possível. A espécie que foi observada passará, então, a fazer parte
da lista de espécies já avistadas pelo observador, que, caso seja necessário, poderá
reportar a avistagem para cientistas ou centros de pesquisa. Vários são os casos que
devem ser reportados; desde a ocorrência de uma espécie ainda não identificada à

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ocorrência de uma determinada espécie em uma região onde esta nunca havia sido
encontrada até então.
O espaço para observação de aves é bastante flexível. A princípio, pode-se observar
aves em qualquer ambiente – desde que haja condições adequadas – sendo, no
entanto, as áreas verdes as mais propícias, pois são, justamente, os hábitats das
aves. Nas grandes metrópoles, surpreendentemente, há uma população de aves que
resiste à poluição sonora e atmosférica. Todavia, nestas cidades, são os parques
urbanos que constituem os lugares mais apropriados para observar as aves em
algumas de suas rotinas. No Parque da Luz, na cidade de São Paulo, por exemplo,
contatou-se até mesmo a ocorrência de tucano-anão que, infelizmente, não pode ser
facilmente avistado porque o horário de acesso do público ao parque não facilita essa
avistagem.
O Parque do Ibirapuera, por sua vez, provavelmente é um dos lugares mais
recomendados para a observação de aves, uma vez que se encontra em região de
fácil acesso e seu horário de visitação é bastante extenso, das 5:00 às 24:00. Em seus
jardins e lagos pode-se avistar bem-te-vis, periquitos, sabiás, socós, garças,
mergulhões e cisnes.Também merece destaque o parque da Fundação Maria Luísa
Oscar Americano no rol das áreas verdes onde é possível dedicar-se a essa atividade,
e recentemente, foram organizadas exposições, em espaços públicos das estações de
metrô, com as espécies que são avistadas nesse parque, o que auxilia a divulgar esse
patrimônio para o grande público e a estimular a observação.
Em geral, recomenda-se que o observador esteja munido de um par de binóculos, de
preferência para grandes distâncias, pois mesmo estando em uma área relativamente
pequena, como um parque urbano, as aves provavelmente estarão bastante distantes,
sobretudo quando há muitas árvores. Se, no entanto, a ave estiver próxima e o
observador quiser visualizar seus detalhes e rotina, nesse caso, recomendam-se
binóculos para curtas distâncias ou mistos.
Até aqui, vimos, portanto, que a observação da avifauna pode ser uma atividade de
lazer e educação, realizada em qualquer área (preferivelmente) verde, na qual haja
aves que possam ser observadas. Trata-se de uma prática relaxante, que aproxima o
homem à natureza, muitas vezes, em seu redor. Devido à necessidade de permanecer
em silêncio para não assustar as aves, requer calma e concentração.
Quanto ao ecoturismo propriamente dito, o desenvolvimento sustentável é o eixo que
o norteia. Este deve ter, em sua base, a interação com o meio ambiente natural,
propondo, através desse contato, a conscientização sobre a necessidade de
preservação do meio ambiente para o usufruto das gerações presentes e futuras. Ora,
a observação de aves tem a preservação como condição sine qua non, uma vez que é

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bastante evidente a relação que há entre a atividade e a diversidade da avifauna.
Hoje, há muitas espécies de aves classificadas com as siglas VU (vulnerável) e CR
(criticamente ameaçada). O observador amador, portanto, tem real interesse em
promover a preservação para que tais espécies possam ser vistas hoje e no futuro, no
maior número de áreas naturais possível. De acordo com o artigo “Turismo e
observação de aves” (Pivatto 2003), no Brasil, os lugares mais requisitados para essa
prática no Brasil seriam os estados do Amazonas (Manaus, Caxiuana, Mamirauá, Rio
Javari); Mato Grosso (Alta Floresta, Parque Nacional Chapada dos Guimarães, Serra
das Araras, Pantanal); Mato Grosso do Sul (Pantanal); Goiás (Parque Nacional das
Emas); Rio de Janeiro (Parque Nacional de Itatiaia) e estados do Nordeste (Piauí,
Ceará, Pernambuco, Bahia e Alagoas).
A inserção do Pantanal Matogrossense nesta lista é bastante previsível, haja vista que
a área em questão é reconhecida internacionalmente por sua abundância e variedade
de aves. Além disso, dessas, muitas são grandes, como a ave-símbolo do Pantanal, o
tuiuiú, o que facilita a avistagem até mesmo para o observador de primeira viagem. A
própria Transpantaneira acaba fazendo as vezes de trilha. Inicialmente planejada para
ligar a cidade de Corumbá a Poconé, hoje a Transpantaneira, além de elo de ligação
do trecho que vai de Poconé a Porto Jofre, constitui, efetivamente, um ponto
panorâmico para a observação de muitas das espécies que têm seu hábitat no
Pantanal. Além das aves, possibilita a avistagem de jacarés – que têm se multiplicado
agora que são menos ameaçados por caçadores desde que foram regulamentados os
criadouros – capivaras, lontras e outros mamíferos. Entre as espécies da avifauna,
destacam-se, além dos tuiuiús, que já mencionamos, garças, biguás, cabeças-secas e
colhereiros.
A Transpantaneira tem, assim, essa função de trilha de observação. Há postos
policiais nos dois extremos, cujos agentes vistoriam os veículos ao deixarem a
estrada, em busca de qualquer animal, que tenha sido capturado indevidamente, para
apreensão deste, evitando, com essa medida, o tráfego de animais silvestres. No
decorrer da Transpantaneira, há também muitas pousadas com trilhas próprias para
observação. Teoricamente, há interesse por parte das pousadas em manter essas
trilhas em boas condições e colaborar para a preservação ambiental, uma vez que são
o recurso que, uma vez formatado, irá compor o produto turístico a ser comercializado
para turistas nacionais e estrangeiros, esses últimos em maioria por terem mais
tradição na atividade. No entanto, não foi encontrada literatura específica sobre um
eventual plano de manejo dessas trilhas.

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Quanto ao Parque Nacional da Lagoa do Peixe e região, surpreendentemente, estes
não constavam da lista mencionada anteriormente, apesar de seu patrimônio rico em
áreas inundadas, o que atrai uma série de aves migratórias de ambos os hemisférios.
“As áreas oceânicas, bem como as praias e águas adjacentes da costa do Rio Grande
do Sul, abrigam, respectivamente a maior diversidade de aves pelágicas (33) e
costeiras (55) do Brasil. A maioria destas espécies vindas de regiões polares
distantes, como o Ártico e a Península Antártica, migram sazonalmente para o Brasil”
(SEELIGER, CORDAZZO, BARCELLOS: 2004). Entre essas aves, encontram-se
gaivotas, trinta-réis, maçaricos e batuíras, entre migrantes austrais e boreais. “Essas
aves encontram durante as etapas de seus ciclos migratórios os recursos ecológicos
indispensáveis para sua sobrevivência e para o seu condicionamento físico. A região
sul brasileira ocupa uma posição estratégica que abrange as Américas e o Oceano
Atlântico como um todo” (SEELIGER, CORDAZZO, BARCELLOS: 2004).
Com vistas a divulgar a vocação para esse tipo de atividade turística, desde o ano de
2001, a cidade de Mostardas vem realizando o Festival Nacional de Aves Migratórias,
que tem como objetivo atrair pesquisadores, estudantes, observadores e leigos de
outras cidades e estados, para divulgar a modalidade de observação de aves e as
espécies migratórias, assim como também as espécies residentes da área do Parque
Nacional Lagoa do Peixe.
O festival coincide com um fim-de-semana prolongado e é um estímulo para que
turistas com esse interesse se dirijam à cidade, nesse período, para se dedicar à
atividade de observação de aves. O slogan da última edição deixa claro essa intenção:
“Elas estão chegando. Migre para cá você também”. No programa, há mini-cursos
como os que foram oferecidos no VI Festival de Aves Migratórias, que ocorreu entre
11 e 14 de outubro de 2006, ministrados por pesquisadores com relevantes trabalhos
científicos sobre o tema: Ecossistemas do PARNA Lagoa do Peixe; Ecologia das
Migrações e Observação de Aves. Complementam os mini-cursos uma pequena série
de palestras e mesa redonda, que propõem a reflexão sobre as ações mais desejáveis
para manutenção desses ecossistemas, e são abertos a qualquer pessoa que tenha
interesse em participar: turistas, observadores, estudantes, professores de ensino
fundamental e médio, membros da comunidade. Nessa edição de 2006, um dos
palestrantes convidados foi o Analista Ambiental do IBAMA, Carlos Henrique
Velásquez Fernandes, substituindo o Coordenador do Bioma Marítimo e Costeiro
(Diretoria de Ecossistemas), Sr. Ricardo Castelli. Expôs a nova divisão do IBAMA, na
qual a Diretoria de Ecossistemas foi fragmentada, por sua vez, em Amazônia, Mata
Atlântica e Campos Sulinos, Cerrado e Pantanal, Caatinga, e Ecossistema Marinho e
Costeiro. Acredita-se, portanto, que essa divisão irá facilitar a gestão e contato com os

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vários Parques Nacionais, sendo que hoje há 35 no Bioma Marinho Costeiro, do qual
faz parte o PARNA Lagoa do Peixe. Dentro do Programa de Visitação em Parques
Nacionais, o IBAMA pretende padronizar a cobrança de ingressos, melhorar o
atendimento aos visitantes e a gestão das trilhas. Por outro lado, no Programa de
Gestão de Conhecimentos, estabeleceu-se que, de agora em diante, serão
privilegiadas as pesquisas aplicadas de interesse para o manejo do parque, como por
exemplo, quantos veículos podem passar em uma determinada trilha e qual seria o
intervalo mínimo entre um veículo e outro para que as aves sofram um impacto que
seja aceitável. Com esse propósito, foram publicados, em um edital de pesquisa do
CNPQ, os temas que contemplam além do manejo do parque, o controle de espécies
invasoras, o manejo de espécies-chave e o estudo sobre os impactos da visitação que
poderia abordar questões como “Que tipo de estresse causa às aves migratórias a
visitação nas trilhas do PARNA Lagoa do Peixe.

Resultados
Esse parque, especificamente, ainda enfrenta diversos problemas que remetem ao
Programa de Consolidação Territorial, pois são urgentes as ações finalísticas, como a
regularização de terras públicas, aquisição de terras, reassentamento das populações
que habitam na área do parque e mediação dos conflitos sócio-ambientais, assim
como as ações de coordenação, ou seja, a consolidação do Parque. Embora o
PARNA em questão tenha seus limites definidos, não pode ser cercado, pois boa parte
das terras ainda é particular, e tampouco é possível instituir a cobrança de ingressos.
Com essas limitações, as trilhas encontram-se em situação de vulnerabilidade, pois o
controle por parte dos agentes do IBAMA das atividades realizadas no parque se faz
mais difícil.
É urgente que se persiga um acordo com a comunidade do entorno que hoje tem na
orizicultura, pecuária e extração de madeira suas principais funções econômicas. É
preciso que, de um lado, esta se conscientize da necessidade e dos benefícios da
preservação ambiental promovida pela Unidade de Conservação, e de outro, o IBAMA
e cientistas que têm produzido estudos sobre a região apresentem alternativas, sob
forma de agroecologia, para a manutenção dessas atividades econômicas de maneira
harmônica com as políticas de preservação ambiental, incluindo-se aí a zona de
amortecimento. Somente assim, o PARNA Lagoa do Peixe poderá se transformar,
efetivamente, em um pólo de ecoturismo internacional. A bem da verdade, entretanto,
em virtude de estar justamente na rota de tantas espécies migratórias, a região da
Lagoa do Peixe já é razoavelmente conhecida por observadores de aves amadores de
determinados países do Hemisfério Norte. De acordo com o depoimento da

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proprietária da Pousada Pouso Alegre, observadores oriundos de vários países
europeus têm vindo à região com essa finalidade, especialmente Alemanha e
Inglaterra. O fato é que o imenso potencial para atividades de observação de aves na
região do PARNA Lagoa do Peixe já é, de alguma forma, conhecido em pólos de
demanda potencial, e essa demanda, caso se sinta suficientemente estimulada irá se
deslocar de seu local de residência (onde quer que seja) até a cidade de Mostardas ou
Tavares. Resta saber em que medida essa demanda trará reais benefícios às
populações tradicionais e à comunidade local. Para incrementar tais benefícios é
necessário que membros da comunidade local sejam capacitados, pelo SEBRAE, por
exemplo, de acordo com o plano do IBAMA, para atender a esses turistas, inclusive
em inglês e espanhol, se assim for preciso, e para oferecer-lhes produtos associados,
basicamente a gastronomia e o artesanato. A organização do Festival parece ter tido
essa preocupação, pois, ao menos nesse ano, além das atividades técnicas – mini-
cursos e palestras – estavam também programadas Feiras de Artesanato e
Gastronomia.
Além da programação cultural (que abordava o legado cultural da região), como é o
caso do Ensaio de Promessas - herança deixada às comunidades quilombolas – da
apresentação de Invernada, espetáculos teatrais e shows musicais, havia mostras
fotográficas, dentre as quais, a Exposição Açoriana “Nossa Origem”.
Personagem já quase tão famoso quanto as aves, e importante ator do Festival é o
artesão Eloir, que, em dez anos de dedicação, aperfeiçoou o trabalho de confeccionar
artesanalmente as aves residentes e migratórias que passam pela região.

Discussão
O Brasil conta com a segunda diversidade de aves do mundo, segundo a publicação
Ornitologia Brasileira (SICK: 1997) - que constitui, certamente, uma das principais
referência sobre a assunto - estando atrás somente da Colômbia, que, segundo
consta, detém o recorde. Estes dados, provavelmente, ainda sofrerão alguma revisão,
uma vez que não foi estabelecido com total precisão o número de espécies de
avifauna de cada país. Assim sendo, quase todo o território brasileiro possui extensas
áreas adequadas para atividade turística de observação de aves. Efetivamente, todos
os seus biomas têm grande potencial nesse sentido, do Amazonas à Caatinga.
A nossa proposta, no entanto, é a de propor para discussão um roteiro que contemple
o Pantanal Matogrossense e, eventualmente agregado, o Parque Nacional da
Chapada dos Guimarães, ambos no estado do Mato Grosso, e o Parque Nacional da
Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul. Acreditamos que esses ecossistemas, em
virtude de sua própria fisionomia geográfica, com obstáculos não muito grandes que

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separam o observador de seu objeto de estudo - a ave - facilitam a prática de
observação. Certamente reconhecemos que nas matas, como a Amazônia a Mata
Atlântica, são abundantes os números e espécies da composição de avifauna.
Contudo, em função dos obstáculos naturais, principalmente as árvores que atraem as
aves para os extratos mais altos, e do tamanho reduzido de muitas das espécies, é
limitado o número de aves avistáveis sem o uso de equipamentos sofisticados, apesar
de ser possível ouvir seu canto, o que pode gerar frustração para os observadores
menos experientes. Por outro lado, muitas das espécies encontradas no Pantanal
Matogrossense e no Parque Nacional da Lagoa do Peixe são grandes e vistosas, além
de várias delas deslocarem-se em bandos, facilitando sua avistagem e visualização.
Localizado em uma extensa planície costeira arenosa, o PARNA Lagoa do Peixe está
situado entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico. Em sua composição, apresenta
mata de restinga, banhados, campos de dunas, lagoas de água doce e salobra, além
de incluir praias e uma área marinha. Trata-se, na realidade, de uma laguna, devido à
sua comunicação com o mar, rasa, com aproximadamente 60 cm de profundidade, o
que a torna um local realmente atraente para uma série de aves em busca de alimento
nessa rica combinação de ecossistemas. (Texto elaborado a partir das informações
contidas no folder do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, publicado pela revista
Horizonte Geográfico).
O PARNA Lagoa do Peixe possui três trilhas que podem ser usadas para a avistagem
e observação de aves. A Trilhas das Dunas, com oito quilômetros de extensão,
apresenta restinga, banhados e dunas, constituindo-se, naturalmente, um ponto
estratégico para a observação de aves aquáticas de banhados e litorâneas, típicas
desses ecossistemas. Com um quilômetro e meio de extensão, a Trilha das Figueiras
pode ser percorrida em veículo ou a pé, até chegar às margens da Lagoa do Peixe,
onde se avistam, entre outras espécies, os flamingos, especialmente entre maio e
outubro, época em que migram para a região da Lagoa, provenientes do Chile e da
Argentina. A Trilha do Talha-Mar, por sua vez, com seus cinco quilômetros de
extensão, conduz à porção norte da Lagoa, de onde são avistados cisnes-de-pescoço-
preto e capororocas.
O Parque também é hábitat de algumas espécies de mamíferos, como a capivara, o
tuco-tuco, a lontra e o jacaré-de-papo-amarelo, sendo os dois últimos ameaçados de
extinção.
Em suma, para que a atividade de observação de aves (migratórias ou residentes)
possa se tornar, de fato, uma modalidade turística na região, é preciso que haja um
completo entendimento entre o poder público pro meio da Secretaria de Turismo e da

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Cultura, o IBAMA, cujo plano de manejo para a região já contempla a visitação pública,
e a comunidade local, que devem se unir em prol de interesses comuns.
Além disso, para que atividade seja, verdadeiramente, consoante à proposta de
ecoturismo, o observador deve respeitar algumas atitudes recomendadas para
observadores de animais. Assim que conseguir avistar um indivíduo, é preciso manter
uma distância adequada para a observação deste. Além de afugentar os animais, a
aproximação exagerada pode, muitas vezes, ser interpretada como uma ameaça ao
animal observado, fazendo com que esse ataque para tentar se defender, por mais
inofensivo que possa parecer. Além disso, não devemos nos esquecer que os animais
silvestres podem transmitir doenças às quais o homem não está imune. É
terminantemente proibido alimentar os animais, pois esses podem se acostumar à
facilidade de conseguir assim seus alimentos, perdendo, paulatinamente, sua
capacidade de buscar seu alimento por conta própria. Além do mais, o animal que se
torna dependente da comida oferecida pelo homem, pode atacar acampamentos ou
qualquer outro lugar com presença humana, atrás de comida. É fundamental manter
silêncio quase absoluto, uma vez que o menor ruído pode afastar ou assustar os
animais, prejudicando a ambos, aves e observadores. No momento de tirar fotos,
recomenda-se não acionar o flash, pois a luz pode surpreender a ave, afugentando-a
ou irritando a ela e a outros animais, o que pode levar a um ataque inesperado, como
o de uma serpente, por exemplo. Deve-se evitar comer em trilhas de observação, pois,
freqüentemente, os restos de comida que consumimos, por mais que sejam orgânicos,
podem causar desequilíbrio ambiental. Sob nenhuma hipótese, é recomendado levar
consigo animais domésticos, pois esses podem entrar em conflito com a fauna local.
As roupas devem ser de cores semelhantes às do ecossistema visitado. Se for uma
observação na mata ou em campos, o ideal são os tons de verde e terra. Já na
observação em áreas litorâneas, recomenda-se os tons de areia. Além de manter uma
harmonia visual com o ambiente, ajudam a manter o observador mimetizado,
aumentando suas chances de aproximação às aves, embora nos ambientes
litorâneos, por causa da ausência de vegetação, muitos estudiosos recomendem que
os observadores se agachem e se movam arrastados para evitar a posição vertical,
facilmente identificável pelas aves. Norma indiscutível é a de produzir a menor
quantidade de lixo possível, evitando, sobretudo, embalagens de doses individuais,
pois haverá um maior acúmulo de plástico e outros resíduos. O planejamento da
viagem deve ser realizado com antecedência, certificando-se sobre as estações e
períodos em que a probabilidade de encontrar a ave que se deseja avistar será maior.
Caso se trate de uma área de preservação ambiental, é fundamental informar-se sobre
a permissão e condições de visitação. É preferível organizar-se em pequenos grupos.

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O acompanhamento de guias é altamente recomendado, desde que seja garantida a
sua qualificação. O guia zelará para que o grupo não se disperse, não deixe jamais a
trilha, e que observe as normas de conduta para a observação de aves. Jamais o
observador deverá se arriscar além de suas condições físicas ou em relação à
proximidade dos animais. Em geral, o socorro em áreas afastadas dos grandes
centros é dificultado e demorado, colocando em risco a vida da pessoa acidentada ou
que foi vítima de um ataque de animais. Uma das mais relevantes normas de conduta
é a de manter-se rigorosamente na trilha. Atalhos ou incursões fora das trilhas podem
levar a situações de extremo risco, como a queda em precipícios, e o que é ainda pior
em relação à preservação ambiental, causa a erosão da área pisoteada, entre outros
danos. Caso existam, recomenda-se utilizar as estruturas de observação do parque.
Por outro lado, deve-se evitar ao máximo a utilização de troncos, galhos e rochas
como bases de observação, uma vez que esses elementos são frágeis e podem ser
facilmente destruídos ou levar a acidentes não controláveis. O observador consciente
respeita o meio ambiente natural e seus companheiros, não fumando nas trilhas, pois
além de poluir o ar ao seu redor, uma única ponta de cigarro pode causar um incêndio
de grandes proporções. E mesmo que isso não aconteça, a ponta de cigarro levará um
tempo extremamente longo para ser absorvida. Antes de mais nada, o ecoturista
interessado em observar a fauna, e especificamente, as aves, deve ajudar a preservar
o meio ambiente natural, denunciando qualquer irregularidade às autoridades
responsáveis.

Conclusão
A observação de aves deve ser incluída no rol das atividades de ecoturismo, mas para
que essa prática deixe de ser um mero recurso e se transforme em um efetivo produto
formatado como um roteiro brasileiro de avistagem e observação de aves,
apresentamos algumas recomendações que nos parecem pertinentes à proposta.
- União de esforços entre o Poder Público, IBAMA, Universidades e Centros de
Pesquisa e comunidades locais ou tradicionais, do entorno.
- Agregar os produtos associados (gastronomia e artesanato), conforme
recomendação da Organização Mundial do Turismo, adotada como política
pública de desenvolvimento do Ministério do Turismo.
- Estimular a criação de uma cooperativa para a fabricação desses produtos.
- Desenvolvimento de uma linha de produtos licenciados dos parques onde há a
atividade de observação de aves, em parcerias com as lideranças locais para
gerar renda para a população e para o parque, principalmente para aqueles
onde não é possível a cobrança de ingressos.

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- Estimular a criação de associações de guias locais para acompanhar os
visitantes ao parque, monitorando, assim, a conduta dos observadores nas
trilhas, e zelando por sua segurança.
- Agregar aos roteiros de observação de aves informações sobre o legado
histórico-cultural da comunidade, compondo um produto mais diversificado.

Bibliografia citada
PIVATTO, M. Turismo e Observação de Aves. Palestra apresentada no Seminário Sul-
Matogrossense de Turismo de Natureza, promovido pela Faculdade Estácio de Sá,
Campo Grande, MS, em8 de junho de 2003.
www.fotograma.com.br/textos/2005/04/turismo_e_obser.htm
SEELIGER, U.; CORDAZZO, C: BARCELLOS, L. Areias de Albardão. Um guia
ecológico ilustrado do litoral no extremo Rio Grande do Sul. Rio Grande: Ecoscientia,
2004.
SICK, Helmut. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer ao Prof. Msc. Márcio Amorim Efe, por ter compartilhado
seus conhecimentos no decorrer de curso “Observação de Aves”, no âmbito do VI
Festival de Aves Migratórias, realizado em Mostardas (RS), de 11 a 14 de outubro de
2006 e a todos os palestrantes que estiveram presentes nesse evento, propondo
reflexões sobre o tema.
Um agradecimento especial ao artesão Sr. Eloir, que, com tanto talento, reproduz as
aves do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, para que turistas e pesquisadores
levemos conosco um pequeno exemplo desse patrimônio, e a Senhora Luíza, da Casa
Açoriana, que, gentilmente, disponibilizou informações históricas sobre a cidade de
Mostardas.

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