Está en la página 1de 49
Marco Antonio Muxagata de Carvalho Vieira “Ideas de nt lat freely Thomas Rise Keppen Introdugso O fim da Guerra Fria coincidiu, no Brasil, com a elei¢ao direta de Fernando Collor de Mello para a Presidéncia da Republica, consoli- dando o fim de um longo perfodo de transigfio politica da ditadura militar para a democracia representativa. Na Area econdmica, a exaustiio definitiva do modelo de industrializago via substituigiio de importagdes das décadas anteriores ¢ a grave recessio pela qual 0 pafs passava estimularam a radicalizagao do processo de liberaliza- ¢gdo econdmica, com a conseqiiente abertura do mercado nacional & competigao internacional. No bojo dessas transformacoes, a politica externa brasileira de apro- ximag&o com os menos desenvolvidos, que jé vinha se enfraquecen- +0 pete anigo uma versso adapta do cpio 1V ds Disses de Meso dG Ini {shee A Poltca Exton Drain no Pée-Sopude Gute Ml no Pvc Fi, fede Peloton stato de RelaesIntemacioni de PUC-Ro IRUPUC-Rio) en ai de 200, ‘CONTEXTO INTERNACIONAL Rio de Jano, vl 2,182, ulblesombro 2001, pp 245-293 245 Marco Antonio Muxagata de Carvalho Vieira do desde o comego da década de $0, mao que ainda resistiu durante o governo Sarney, sucumbe diante da euforia gerada pelo triunfo do li- beralismo sobre o comunismo soviético, dando lugara uma diploma- cia mais voltada & aproximagéo com os paises do Primeiro Mundo, principalmente os EUA. Contudo, apés um periodo inicial de voluntarismo liberal na diplo- macia presidencial, que levou & marginalizagaio do Itamaraty do pro- cesso decisério!, verifica-se uma inflexio na conduta externa brasi- leira, que tem como caracteristica a busca de uma nova base de legiti- ‘magio conceitual para a politica externa, que permitisse uma inser~ (Go mais auténoma e multilateral ao pais, sem com isso abrir mao de uma relacao privilegiada com os BUA. Nessa diregio, este artigo pretende demonstrar como a tradi¢aio do paradigma globalista do Itamaraty, consubstanciada nas teses da Po- Iftica Externa Independente do comego da década de 60, mas princi- palmente na contribuigdo do pensamento de Aratijo Castro, dos anos 6070, teve um papel importante na proposta do chanceler Celso La fer de tratar os novos temas da agenda internacional de forma a con- ciliar a autoridade histérica da instituigo diplomatica com a dinémi- ca adaptativa demandada pela reconfiguracao do sistema normativo internacional. A orientacao teorica dada aeste artigo sustenta que a adogao de novas idéias no acontece em um vacuo institucional. No caso brasileiro, isto significa dizer que as idéias liberais que sobressafram nos cen- ‘ros de poder internacional, no comego dos anos 90, foram assimila- das de acorco com as visdes de mundo e as identidades institucionais, preexistentes. Peter Hall e Rosemary Taylor (1996), por exemplo, procuraram sis- tematizar as novas abordagens institucionalistas, surgidas em reagio as perspectivas behavioristas que dominaram o cendrio académico nas décadas de 60 e 70, de forma a categoriz4-las de acordo com suas, 246 1 Instituigées: Uma Reflexio sobre a fea Externa Brasileira do Inicio. diferentes explicagoes a respeito da influencia das institutgdes sobre ‘© comportamento dos atores politicos”. Na visdo desses autores, a anélise institucional fornece dois tipos de resposta para essa questdo: a primeira, chamada por eles de“‘caleulus approach”, baseia-senateoria do ator racional ou na légica da instru mentalidade (logic of instrumentality). Tal perspectiva entende que as instituigdes afetam o comportamento dos atores a0 definirem os mecanismos reguladores de sua interacdo estratégica, provendo-os, nesse sentido, de informagGes sobre a agdo de seus pares, permitindo ‘aantecipagdo de preferéncias e, conseqiientemente, diminuindo ain- certeza quanto aos resultados politicos da interacao. ‘A segunda abordagem, mais diretamente associada & ope teérica do presente estado, denominada de “cultural approach”, enfatiza a capa~ cidade socializadora de certos padres repetitivos de comportamento. Mais do que maximizadores de interesses, os atores politicos interpre- tam uma situagdo de acordo com os valores e idéias que foram institu- cionalizados ao longo do processo de formacao de uma cultura politi- ca comum, ‘Nessa linha argumentativa, as instituiges constituem os quadros nor ‘mativos que informam a interpretago dos individuos. Assim, a ago do ator politico & precedida de uma interpretagdo da realidade ou do fato politico. A interpretagio, por seu turno, 6 condicionada por certas idéias permanentes que, através de um proceso de socializagao cor- porativa, se tornam visdes de mundo restritivas do espago cognitive dos atores, ou “gaiolas de ae" (iron cages) da acao diplomtica, Des- sa forma, “[...] oindividuo é visto como uma entidade profundamente envolvida em um mundo de instituigdes, compostas de simbolos, scrips ¢ rotinas, ¢ so estas instituicGes que fornecem os filtros para interpretagii [...]” (idem:939), Na categorizacdo de Hall e Taylor, as escolas de pensamento que me- Ihor representariam 0 “cultural approach” seriam as do “institucio- 2a7

También podría gustarte