Está en la página 1de 123

biblioteca pioneira de ciÊncias sociais

psicologia

aconselhamento psicológico & psicoterapia


auto-afirmação - um determinante básico

oswaldo de barros santos

conselho diretor:
anita de castilho e marcondes cabral
nelson rosamilha
oswaldo de barros santos

in memorian:
dante moreira leite

livraria pioneira editora são paulo

capa:
jairo porfírio

1982

todos os direitos reservados por


enlo matheus guazzelli & cia. lida. 02515 - praça dirceu de lima, 313
telefone: 266-0926 - são paulo

índice

introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

parte i visÃo global dos procedimentos orientadores e terapÊuticos

1. diagnóstico, orientação, aconselhamento e psicoterapia .. . . . . . . . . . . .


o longo caminho: do diagnóstico para a assistência psicológica. o uso de
testes psicológicos. orientação, aconselhamento e psicoterapia.

2. métodos centrados no contexto sócio-cultural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


fundamentos. procedimentos comuns. técnicas específicas.

3. procedimentos centrados no contexto pessoal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

fundamentos. procedimentos comuns. técnicas específicas.

4. métodos mistos e métodos centrados no problema. " . . . . . . . . . . . . . .


fundamentos. procedimentos comuns. técnicas específicas.
aconselhamento e terapia em processos de grupo.

5. a revolução rogeriana no campo do aconselhamento psicológico e da


psicoterapia . . .
síntese histórica. idéias básicas e originais. as condições terapêuticas
essenciais. evolução das idéias: o experienciar e as atuações em grupo.

parte 11 observaÇÕes pessoais

6. hipótese sobre a auto-afirmação como determinante básico do


comportamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
resultados de terapia e fundamentos para uma nova hipótese. seria
possível um neo-rogerianismo? a motivação e os determinantes do
comportamento. a auto-afirmação como motivo básico e emocionalmente
preponderante.

7. a personalidade e a auto-afirmação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
o eu pessoal, o eu social e a emergência da auto-afirmação. a ocorrência
patológica. neurose e significado da vida. valores sociais e a auto-afirmação.
perspectivas humanísticas e filosóficas.

8. contribuições à terapia psicológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..


objetivos básicos: desenvolvimento pessoal e psicoterapia. metodologia
psicoterápica: a dinâmica do processo.

parte iii
aplicaÇÕes em situaÇÕes especiais

9. filhos e alunos difíceis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


como ocorrem os problemas. medidas gerais.
10. ações preventivas na educação, na família e no trabalho. . . . . . . . . . . ..

11. a vida na sua terceira fase: a valorização do idoso. . . . . . . . . . . . . . . .


técnicas de orientação e psicoterapia

referências bibliográficas. . . . . ., . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
english-abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

introdução

os métodos, técnicas ou modelos de atuação, originários de atitudes


naturais ou de comportamentos direcionados, freqüentemente usados para ajudar
as pessoas com problemas psicológicos, são extremamente variados; dependem
de concepções filosóficas e sociais, como, igualmente, dos recursos situacionais,
profissionais, éticos e operacionais. ademais, as ciências do comportamento
colocam dúvidas e interrogações sobre os efeitos dos procedimentos orientadores
ou terapêuticos em virtude de pesquisas pouco elucidativas.
os conceitos e as indicações ou lembretes existentes neste livro resultam,
de um lado, de informações bibliográficas e, de outro, de observações e
inferências pessoais que, em muitos anos, logramos realizar. É uma ligeira
coletânea de posições teóricas e da metodologia correspondente, seguida de uma
hipótese sobre a auto-afirmação como determinante básico do comportamento e,
em conseqüência, de procedimentos e técnicas terapêuticas.
todas as considerações, sugestões e hipóteses estão francamente abertas
à crítica de todos aqueles que se dedicam ao estudo ou à aplicação prática do
aconselhamento psicológico e da psicoterapia, seja na situação natural e
espontânea dos relacionamentos humanos, seja na situação profissional. o que se
pretende é colocar nossas observações - ainda que falhas ou limitadas - a serviço
desses alvos. serão especialmente acolhidas as apreciações e contribuições
relacionadas com a proposição original, isto é, com a hipótese de ser a auto-
afirmação o determinante básico do comportamento no plano psicológico.
agradeço a meus alunos e ex-alunos da universidade de são paulo pelo
incentivo e pistas que me ofereceram e aos clientes que _e proporcionaram o
mais, fecundo material para estudos e conclusões. agradeço, também, às
psicólogas alice maria de carvalho delitti e walderez b.f. bittencourt pela gentileza
em rever e comentar o texto do capítulo 4, oferecendo úteis contribuições.
o.b.s.
parte i

visÃo global dos procedimentos orientadores e terapÊuticos


1 - diagnóstico, orientação, aconselhamento e psicoterapia

o longo caminho: do diagnóstico para a assistência psicológica

poucos terão definido tão bem a evolução da psicologia no plano


operacional, como rogers (1942) o fez ao examinar sua contribuição ao bem-estar
e à assistência que dela se poderia esperar. disse o fundador do método centrado
na pessoa que, na década de 1920, o interesse pelo ajustamento do indivíduo era
essencialmente de estilo analítico e de diagnóstico. "floresceram os estudos de
casos, os testes, os registros e observações e os rótulos de diagnóstico
psiquiátrico. com o tempo, essa tendência voltou-se da diagnose para a terapia,
para a procura de meios e de processos pelos quais o indivíduo encontre a ajuda
de que necessita. atualmente, preocupamo-nos mais com a descoberta de
recursos terapêuticos mais efetivos na assistência ao indivíduo. a dinâmica do
processo de ajustamento substitui a longa fase de descrições e rotulações".
realmente, se nos detivermos no estudo das teorias e das técnicas
psicológicas, parece ser possível inferir que a maioria dos trabalhos psicológicos
era orientada mais no sentido de conhecer a personalidade do que em intervir no
complexo enredo do comportamento humano. as técnicas de diagnóstico tiveram
seu apogeu nos anos de 1920 a 1960. a psicometria e os estudos estatísticos
relacionados com a sensibilidade, a precisão e a validade dos instrumentos de
avaliação psicológica desenvolveram-se de forma sensível dando origem,
inclusive, a um conjunto de normas publicadas, em 1954, pela american
psychological association, conseqüência natural do crescente interesse pelos
pormenores sobre os métodos de construção e de aferição de testes. a
classificação de reações ou de sintomas e o relacionamento de traços e de fatores
da personalidade era a tendência dominante. e a psicologia, como estudo e
avaliação do comportamento, passa a ser reconhecida como ciência na medida
em que é capaz de prever e descrever, por testes, questionários, inventarmos e
outros recursos, o comportamento de indivíduos ou de grupos. o próprio
comportamento é analisado, identificado e classificado por idades, sexo, grupos
sócio-econômicos ou em variáveis estatisticamente determinadas. com binet,
kuhlmann, stern, terman, claparede, spearman e outros, surgem o estudo e a
elaboração de testes mentais e escalas métricas. os conceitos de idade mental,
quociente de inteligência e a psicometria atingem níveis de alta sofisticação; há
preocupações em se desvendar as "habilidades" primárias ou básicas e têm lugar
os estudos fatoriais com thurstone, goodman, thomson, vernon, kelley, cattell e
outros mais; aparecem famosos testes tais como o "differential aptitude test" , o
"california test of mental maturity" , o "guilford zimmerman aptitude sorve", o
"general aptitude test bater". na década de 1940-1950, wechsler estuda a
inteligência e desenvolve as não menos famosas escalas denominadas w ais e
wisc. por último, surge a contribuição de guilford, baseada em estudos fatoriais
pelos quais 120 combinações de habilidades são teoricamente possíveis (guilford
e hoepfner, 1971) e os famosos estudos de piaget sobre o desenvolvimento
intelectual da criança. na área da personalidade, além do teste de rorschach, do
m.m.p.i., do t.a.t., do teste de machover surgem notáveis técnicas expressivas tais
como o p.m.k. e inúmeros questionários, provas situacionais e clínicas (anastasi,
1948, 1957; van kolck, 1975). esses estudos e trabalhos de mensuração se
distanciavam muito dos procedimentos terapêuticos como se estivéssemos em
campos independentes.
o aperfeiçoamento das técnicas de diagnóstico conduziu o psicólogo a um
conhecimento razoável das reações humanas, mas não lhe ofereceu recursos
suficientes no sentido de manipulá-las. o objetivo fundamental, que seria conhecer
para orientar, prevenir, corrigir, recuperar ou tratar, continuava distante. ainda
encontramos essa situação em muitos serviços psicológicos: a preocupação com
um bom diagnóstico. se tal exigência é por vezes necessária, não menos o é a do
estudo dos meios e dos recursos pelos quais possamos ajudar as pessoas
atendidas, por uma razão ou outra, em uma clínica psicológica ou de orientação
ou em um grupo assistencial.
o cenário retratado marca a longa trajetória da psicologia para seu aspecto
aplicado, assistencial. professores, chefes, supervisores, orientadores, pais e até
mesmo psicólogos tinham diante de si um quadro, tão perfeito quanto possível, do
ponto de vista descritivo, etiológico, causal, mas poucos sabiam para alterá-lo. o
mais acurado diagnóstico ficava, assim, inoperante, simplesmente porque os
recursos de ajuda, de intervenção, não eram conhecidos ou não aplicados.
a literatura psicológica, farta em técnicas de exame psicológico, conservou.-
se relativamente pobre em estudos e informações sobre procedimentos para
atuação na conduta. estes se limitavam, principalmente, a manipulações
ambientais, a técnicas de apoio, avisos, recomendações e conselhos. por outro
lado, em outro universo, desenvolvia-se a psicanálise com teorias e técnicas delas
derivadas; surgiu a contribuição rogeriana, e brotaram os processos de skinner
bem como outras teorias e técnicas. a conjunção entre a medida dos fenômenos
psíquicos de um lado e o tratamento desses mesmos fenômenos produziu-se de
maneira lenta e até mesmo hostil como se fossem campos mutuamente
exclusivos. o relacionamento entre a psicometria e a psicoterapia e as
preocupações com solução de problemas psicológicos foram devidos, também, ao
considerável impulso motivacional a partir da ii grande guerra, quando
contingentes imensos de ex-combatentes precisavam se reintegrar na vida civil.
como assinalam sundberg e tyler (1963), drásticas alterações ocorreram. "uma
nova ênfase nos problemas de adultos e de crianças desenvolveu-se rapidamente.
os exames de inteligência e de aptidões continuaram sendo necessários, porém,
maior atenção foi dirigida aos complexos e difíceis campos da personalidade e da
motivação. a psicoterapia tornou-se a preocupação essencial".

o uso de testes psicológicos

os testes e as medidas em psicologia remontam aos estudos da psicologia


experimental iniciados por wundt no século passado, desenvolvidos no começo do
século por binet e consideravelmente valorizados até a década de 1950-1960,
quando teve início forte tendência contrária a seu uso. as razões que lhes foram
opostas são, em geral, técnico.científicas e filosóficas. as primeiras questionam a
validade técnica das medidas psicológicas e as últimas o direito que teriam as
pessoas de invadir e medir um campo de fenômenos nitidamente pessoais ou de
utilizar os dados obtidos em benefício de grupos ou de instituições, sejam estas
educacionais, políticas ou empresariais.
parece ao autor que estamos em vias de passar de um modismo
psicológico a outro, ambos impregnados de vantagens e de desvantagens, eis que
negar a existência de testes ou exames é desconhecer a realidade da própria
vida. o que se faz, na verdade, é tentar substituir a avaliação psicométrica por
entrevistas e observações clínicas, mudando-se o método mas não a intenção. a
avaliação não pode, porém, deixar de existir seja por um processo seja por outro.
o excessivo apego a resultados psicométricos sem a devida interpretação do
contexto individual e social foi, e com razão, a origem da resistência aos testes.
o problema do diagnóstico e particularmente dos testes parece concentrar-
se em dois pólos essenciais: 1) a validade das medidas; 2) o uso das medidas
obtidas uma vez comprovada sua validade técnico-científica.
o primeiro ponto parece ser o mais relevante pois, se a medida for precária,
insegura e instável, tudo o mais que dela partir é falso e altamente prejudicial. o
segundo ponto envolve problemas sociais, políticos e essencialmente éticos.
testes e avaliações sempre existiram e sempre existirão, sob diferentes títulos e
calcados no conhecimento acumulado e na filosofia da época. nosso problema é
aperfeiçoar as avaliações no seu sentido intrínseco e nas suas implicações
culturais, éticas e terapêuticas.
quando se coloca o problema do diagnóstico prévio em aconselhamento ou
terapia, podem os testes ser necessários ou não. a tendência atual é esperar que
o diagnóstico ocorra como produto de interação entre psicólogo e cliente e na qual
este atue como participante no seu propalo julgamento a .pessoa irá ao pouco
firmando sua imagem e, seu autoconceito. para fins de pesquisa e para outras
atividades no campo da psicologia, os testes funcionam como medidores ou
indicadores de comportamento e sua utilização é, às vezes, indispensável, desde
que válidos e adequadamente aplicados e interpretados *
* . no brasil como no restante do mundo, os testes e técnicas de diagnóstico
também floresceram nas décadas de 1930 a 1950. vários instrumentos de
avaliação foram elaborados, dentre os quais o teste senai ag-3 e o teste dep, a
cargo do autor e de seus colaboradores. tais testes destinam-se à medida da
inteligência geral, em termos do fator g.

orientação, aconselhamento e psicoterapia

orientar, do ponto de vista psicológico, significa facilitar o conhecimento e a


análise de caminhos ou direções para a conduta, com base em referenciais
pessoais e sociais. aconselhar, paralelamente, refere-se: ao processo de indicar
ou prescrever caminhos, direções e procedimentos ou de criar condições para que
a pessoa faça, ela própria, o julgamento das alternativas e formule suas opções.
psicoterapia é o tratamento de perturbações da personalidade ou da conduta
através de métodos e técnicas psicológicas,
É fácil admitir que esses três conceitos, expressos em atuações práticas de
ajuda, estão constantemente se intercruzando, seja nos hábitos e costumes do
dia-a-dia, seja nos processos educacionais ou psicológicos formais e intencionais.
Às vezes, uma simples ação orientadora, em que se facilita o acesso a
informações e se deixa à pessoa decidir por si só, pode ser muito mais eficaz do
que um conselho ou controle da conduta; noutros casos, principalmente em
situações de emergência e de grande ansiedade, um conselho pode ser mais
produtivo da que um demorado processo de orientação ou de terapia; em muitos
casos porém, orientações e conselhos não são suficientes para alterar a conduta,
recorrendo à terapia, como processo mais complexo, mais difícil e mais demorado
a efetividade de uma atuação depende de inúmeros fatores nos quais sobressaem
a personalidade do cliente, as emergências existentes, os recursos disponíveis e
principalmente, os objetivos que se quer atingir e os critérios sociais e filosóficos
que os determinam.
os conceitos de orientação e de aconselhamento, vistos pelo lado de seus
efeitos, têm variado ao longo da história. já dizia sócrates quatro séculos antes de
cristo: "conhece-te a ti mesmo", conceito que parece se renovar no
posicionamento atual da linha existencialista e rogeriana, e que com algumas
alterações de forma e de conteúdo vem prevalecendo através dos tempos.
todavia, há pensamentos diferentes,
williamson (1939), um dos pioneiros do movimento acadêmico de
orientação, identificava, em certos aspectos, o aconselhamento com a educação,
considerando que "à parte da moderna educação referida como aconselhamento é
a que se refere a processos individualizados e personalizados, destinados a
ajudar o indivíduo a aprender matérias escolares, traços de cidadania, valores e
hábitos pessoais e sociais e todos os outros hábitos, habilidades, atitudes e
crenças que irão constituir um ser humano normal e ajustado'" , .
como uma das grandes expressões no campo do aconselhamento, rogers
(1942, 1951) não se preocupa em estabelecer conceitos e definições, de toda sua
obra, porém, se depreende que o aconselhamento é um método de assistência
psicológica destinado a restaurar no indivíduo> suas condições de crescimento e
de atualização, habilitando-o a perceber, sem distorções, a realidade que o cerca
e a agir, nessa realidade, de forma a alcançar ampla satisfação pessoal e social.
aplica-se em todos os casos em que o indivíduo se defronta com problemas
emocionais, não importando se se trata de doenças ou perturbações não
patológicas. o aconselhamento consiste em uma relação permissiva, que oferece
ao indivíduo oportunidade de compreender a si mesmo e a tal ponto que a habilita
a tomar decisões em face de suas novas perspectivas, o cliente passa a se dirigir
através da liberação e reorganização de seu campo perceptual. a orientação
rogeriana afetou profundamente os princípios e os métodos até então existentes, e
em face dessa repercussão dedica este livro um capítulo especial (cap. 5) à obra
desse psicólogo,
para robinson (1950), baseado principalmente nas técnicas de
comunicação, e originariamente colega de rogers, o aconselhamento é a atuação
que "cobre todos os tipos de situações de duas pessoas, na qual, uma delas, o
cliente, é ajudado a ajustar-se mais eficazmente a si propalo e a seu melo", sua
técnica principal é a comunicação, através de entrevistas cuidadosamente
conduzidas e testadas de momento a momento, que facilitam a tomada de
decisões e atuam terapeuticamente.
de ponto de vista dos efeitos da relação ocorrida no processo de
aconselhamento, pepinskye pepinsky (1954) os definem como resultantes da
interação que ocorre entre dois indivíduos, conselheiro e cliente, sob forma
profissional, sendo iniciada e mantida como melo de facilitar alterações no
comportamento do cliente.
hahn e maclean (1955), representantes, como williamson, da corrente
clássica de aconselhamento, dão ênfase ao processo de diagnóstico e tomam o
aconselhamento no sentido de informações prestadas ao cliente sobre alternativas
que se oferecem na solução de seus problemas. há casos, dizem esses autores,
sobre os quais o cliente precisa ser instruído! há fatos que precisa conhecer; há
aprendizagem a ser realizada.
patterson (1959) é de opinião que o aconselhamento pode ser focalizado
em termos de áreas de problemas (educacionais, vocacionais, conjugais, etc.),
assim como em termos de ajustamento pessoal ou mesmo terapêutico. segundo
esse mesmo autor, o aconselhamento não se limita a pessoas normais; aplica-se
ao excepcional, ao anormal ou ao desajustado; manipula as tendências
adaptativas do indivíduo a fim de que este possa usá-los efetivamente.
shoben (1966), analisando as implicações científicas e filosóficas
envolvidas nos processos de assistência psicológica, afirma que do ponto de vista
educacional e clínico, há dois alvos: o primeiro é ajudar o estudante ou o paciente
a desenvolver suas capacidades para aperfeiçoar sua auto-avaliação "sem,
necessariamente, se determinar o conteúdo de suas conclusões". um segundo
alvo, de certa forma contraposto ao primeiro, é o de se recusar ajuda técnica
sempre que esta possa ser solicitada num contexto que venha violar os princípios
intrínsecos do valor pessoal.
na corrente comportamentista, encontramos bijou (1966) afirmando ser "o
objetivo final do aconselhamento ajudar o cliente a lidar mais eficazmente com seu
melo e a substituir o comportamento mal ajustado pelo ajustado". "parece claro, do
ponto de vista da análise experimental do comportamento, que uma das mais
eficientes formas de produzir as alterações desejáveis é pela modificação direta
das circunstâncias que as suportam, e um dos meios mais efetivos de manter
essas alterações é organizar um melo que continue a suportá-las." a aplicação
das leis de aprendizagem é o melo pelo qual se adquire comportamentos
desejáveis.
krumboltz (1966), da corrente comportamentista, coloca os alvos do
aconselhamento na mesma direção dos psicólogos contemporâneos. segundo
seus conceitos, "orientadores e psicólogos dedicam-se a ajudar as pessoas a
resolverem mais adequadamente certos tipos de problemas. alguns desses
problemas relacionam-se com importantes decisões escolares e profissionais, tais
como: que curso devo fazer? a que profissão devo me dedicar? outros problemas
se relacionam com dificuldades pessoais, sociais e emocionais, tais como: como
posso salvar meu casamento? como poderei suportar esses horríveis sentimentos
de ansiedade, solidão e depressão? como deverei agir para fazer valer meus
direitos? como posso relacionar-me melhor com os outros?" a essas questões o
conselheiro acrescenta outras: como se conceituam os problemas? como colocar
alvos? que técnicas serão úteis para atingir esses alvos? como avaliarei meu
propalo trabalho? tais questões são tão familiares e nos apegamos tanto a elas
que os novos procedimentos (refere-se ele ao método comportamental) podem
justificar uma verdadeira revolução no aconselhamento
a posição européia, notadamente à francesa, face ao aconselhamento
psicológico, é bem diferente da americana. piéron (nepveu, 1961), em um de seus
últimos trabalhos, dizia que os métodos americanos aproximam-se muito da
psicanálise e que a concepção francesa e a americana divergem muito no juízo
que fazem sobre o papel do conselheiro. "no regime americano, onde a educação
não tem caráter nacional e onde a tendência geral é a de favorecer em todos os
domínios as iniciativas individuais. o conselheiro se aproxima muito do
psicoterapeuta; dirige-se a 'clientes' e não participa, de modo algum, dos
problemas gerais da educação, nem se preocupa em participar de uma obra
coletiva. na frança, ao contrário, tem-se procurado reduzir, ao máximo, a
comercialização em matéria de orientação. esta, que tende a se integrar, cada vez
mais, na obra nacional de educação, não visa satisfazer clientes, mas a servir os
interesses dos jovens encarando o seu futuro..."
embora haja movimentos renovadores, nepveu pareceu exprimir bem a
tendência na época dominante na frança e, talvez, na europa quando, analisando
os métodos de rogers, de super e de bordin e baseando-se em contribuições
européias de nahoum, delys e de outros, afirma que uma das atitudes correntes é
o "conselheiro adotar uma atitude de perito, ou de amigo desinteressado".
"esforça-se em compreender os problemas e as pessoas, em prever uma certa
possibilidade de êxito, em formular conselhos adequados, bem-vindos e liberais".
não obstante algumas controvérsias, o aconselhamento psicológico parece
ter tomado corpo e expressão na década de 1950-1960. de acordo com relato de
super (1955), "essa nova expressão resultou do consenso geral de um grande
número de psicólogos reunidos no congresso anual da american psychological
association, em 1951, na northwestern university". o "counseling psychology"
substitui os antigos conceitos e métodos, originários da orientação profissional,
modelada por parsons e seus seguidores, pela idéia de um trabalho mais sensível
à "unidade da personalidade, mais sensível às pessoas do que aos problemas,
pois que a adaptação a um aspecto da vida está em relação com todos os outros".
"o novo movimento encerra dados teóricos e técnicos da psicoterapia, inclui
orientação profissional e ocupa-se, sobretudo, do indivíduo como pessoa,
procurando ajudá-lo a adaptar-se com sucesso aos vários aspectos da vida. os
conselheiros ou orientadores, nesse novo ponto de vista, ocupam-se de pessoas
normais podendo cuidar, ainda, daquelas que apresentam deficiências e são mal
ajustados, porém, de uma maneira diferente daquela que caracteriza a psicologia
clínica".
stefflre e grant (1976), ao escreverem sobre aconselhamento psicológico,
chegam a algumas considerações que parecem exprimir a dimensão hoje
dominante: a) "a definição de aconselhamento depende dos diferentes pontos de
vista das autoridades no assunto. essas diferenças têm origem em diferentes
pontos de vista filosóficos..."; b) "não se pode fazer uma distinção muito clara e
precisa entre aconselhamento e psicoterapia"; c) "o aconselhamento é uma forma
deliberada de intervenção na vida dos clientes". esse mesmo autor classifica o
aconselhamento em quatro diferentes posições ou "sistemas", baseado em quatro
diferentes teorias: a) teoria do traço-fator, segundo a qual a mudança do
comportamento "depende do conhecimento que o cliente tenha de informações";
b) teoria centrada no cliente, pela qual o comportamento é modificado pela
"reestruturação do campo fenomenológico"; c) teoria comportamental, segundo a
qual, após um diagnóstico da situação, determina-se os comportamentos a serem
extintos ou reforçados; d) teoria psicanalítica, que se propõe' 'claramente a uma
redução de ansiedade na crença de que daí resulte um comportamento mais
flexível e discriminador".
para rollo may (1977), o campo do aconselhamento situa-se entre os
problemas da personalidade, para os quais há necessidade de um terapeuta e o_
problemas de imaturidade ou de carência de instrução, para os quais há
necessidade de um educador.
uma revisão de alguns textos sobre aconselhamento, aliada a nossa própria
experiência, poderia nos levar às seguintes considerações:
1. a orientação, o aconselhamento psicológico e a psicoterapia não são
meros procedimentos técnicos ou operacionais. subjacente a eles há todo um
arcabouço de posições filosóficas operantes tanto no terapeuta ou 'conselheiro.
como nas pessoas assistidas, o que estabelece marcantes diferenças entre a
psicologia e outras ciências humanas. mesmo na posição clássica de liberdade e
de não-diretividade há, por parte do psicólogo, uma deliberada e consciente
postura filosófico-social. noutro extremo, em que o conselheiro visa instalar um
comportamento específico, há, igualmente, um papel social idealizado.
2. o posicionamento conceitual do orientador, conselheiro ou terapeuta
flutua, em geral, entre três premissas: a) o homem é um produto
predominantemente social; possui impulsos naturais, bons ou maus, que precisam
ser canalizados para um tipo de sociedade na qual nos localizamos e que nos
assegura a sobrevivência e o bem-estar; b) o homem é suficientemente capaz de
decidir por si mesmo e escolher as ações mais. adequadas para si propalo e p?ra
os outros desde que sejam criadas condições facilitadoras para avaliação auto e
hetero-referente e para as opções individuais; c) a autodeterminação é uma
utopia; o homem é o produto de múltiplas variáveis; temos que atuar nos agentes
que o controlam e nos comportamentos tal como ocorrem na vida. quotidiana.

na prática pedagógica ou psicológica é difícil à distinção entre orientação,


aconselhamento e psicoterapia e a maioria dos autores não se preocupa muito
com essa diversificação teórica. alguns, entretanto, tentam traçar linhas
demarcatórias. assim, perry (1960) distingue o aconselhamento da psicoterapia,
baseando-se nos papéis e funções sociais visados pelo primeiro e na dinâmica da
personalidade proposta pela psicoterapia. outros autores parecem diferençar estas
duas atuações atribuindo ao aconselhamento os procedimentos que se focalizam
no plano intelectual, cognitivo, consciente, e à psicoterapia os que se relacionam
com fatores afetivos e inconscientes. rogers (1942; 1955) usa os dois termos de
forma indiferente - como fará o autor neste trabalho - porquanto, segundo ele, não
há o que distinguir na série de contactos individuais que visam assistir a pessoa
na alteração de atitudes ou do comportamento. wolberg (1977) salienta que a
psicoterapia é uma forma de tratamento para problemas de natureza emocional e
na qual uma pessoa, especialmente treinada, estrutura uma relação profissional
com o cliente, com o objetivo de remover ou de modificar os sintomas ou padrões
inadequados de comportamento e promover crescimento e desenvolvimento da
personalidade. analisando o relacionamento cada a vez mais intenso entre
aconselhamento e psicoterapia, albert (1966), por outro lado, declara que o
mesmo processo informativo, concerne-se ao aconselhamento acadêmico e
vocacional, não pode se limitar aos planos conscientes e racionais da
personalidade, já que os níveis profundos refletem-se em todos os aspectos do
comportamento.
nossa experiência vem indicando uma razoável ocorrência de casos nos
quais os métodos de orientação e aconselhamento confundem-se com os de
terapia. se um jovem tem dificuldade de relacionamento. com os pais _ se
aplicarmos determinadas técnicas de tratamento emocional, sejam elas
rogenanas, comportamentais ou outras, estaremos fazendo aconselhamento ou
terapia? se uma mulher procura o psicólogo para libertar-se de um contínuo
desinteresse sexual pelo marido, tendo-se constatado, previamente, não haver
problemas na área orgânica que possam ser responsáveis pelo fato e verificar-se
haver uma real incompatibilidade emocional entre mulher e marido e se técnicas
psicológicas forem usadas para tentar soluções, seria essa tarefa aconselhamento
ou psicoterapia? se um jovem, movido por profundos sentimentos de insegurança
na escolha de carreira, não consegue tomar decisões e o psicólogo passa a cuidar
do problema nos seus aspectos emocionais, estaria efetuando intervenção
terapêutica?
atualmente, a tendência é distinguir aconselhamento de psicoterapia mais
em termos de grau do que em forma de atuação. esta última é semelhante e até
certo ponto indistinguível do primeiro, tanto no seu feitio profilático como no de
recuperação ou .. cura' '. deixar ao psicólogo os chamados" casos normais com
problemas", diferenciando-os dos patológicos ou anormais para os psiquiatras, é
praticamente impossível, mesmo porque o conceito de normalidade é apenas uma
proposição teórica (mowrer, 1954). quer nos parecer, pois, que a psicoterapia ou o
aconselhamento são melhor descritos em termos de um continuum, em lugar de
um julgamento dicotômico. a flexibilidade do trabalho do orientador e do psicólogo
deve ser assegurada, em benefício do propalo cliente por ele assistido. essa
atuação, face a casos claramente patológicos, pode ser associada à de outros
profissionais. a evolução de cada caso indicará a colaboração pessoal de outros
especialmente sem que tenhamos de determinar, com base em supostas
demarcações, os limites da atuação orientadora e da ação terapêutica.

uma das mais explícitas conceituações e descrições dos papéis atribuídos


aos que se especializam em aconselhamento psicológico é proposta por jordaan
(1968), em seu levantamento sobre as funções do conselheiro psicológico.
segundo dados por ele compilados, este atua em diferentes setores da vida social
(consultórios, centros universitários, escolas, hospitais, centros de reabilitação,
serviços de orientação profissional, departamentos de pessoal, serviços de
colocação e de treinamento, etc.). analisando as eventuais diferenças entre clínica
e aconselhamento, assinala que alguns especialistas apontam diferenças entre
essas duas especializações, outros, porém, consideram tais diferenças como
irrelevantes. segundo muitos especialistas, o psicólogo-conselheiro tende a
trabalhar com pessoas normais, convalescentes ou recuperadas e a encaminhar
casos mais sérios a outros especialistas. usa técnicas psicoterápicas e outros
recursos, tais como exploração de condições ambientais, informações, testes,
experiências exploratórias e outros procedimentos mais freqüentemente do que o
psicólogo clínico. .em geral, o conselheiro terá desempenho profissional de acordo
com a formação que recebeu e das expectativas de trabalho que se oferecem..
os dados hoje existentes parecem caracterizar o psicólogo-
conselheiro como o profissional da psicologia de formação mais eclética o que não
impede, contudo, que se dedique também a um determinado tipo de atuação na
qual, particularmente, venha a especializar-se, a exemplo dos que se dedicam a
problemas psicológicos do trabalho, da educação, da família, etc.

do ponto de vista psicológico, a atuação assistencial, profilática, terapêutica


ou corretiva pode assumir diferentes rótulos classificados por alguns autores como
formas suportivas, reeducativas ou reconstrutivas de tratamento (pennington &
berg, 1954; wolberg, 1977). sem nos apegarmos a essa classificação, pois parece-
nos difícil distinguir o que realmente ocorre, em face de um rótulo predeterminado,
vamos nos limitar a mencionar apenas exemplos de métodos mais conhecidos,
dando maior extensão ãqueles com os quais está o autor mais familiarizado.
procurou-se, porém, agrupá-los, tanto quanto possível, em capítulos próprios, pelo
critério de seu posicionamento conceitual. essa divisão setorial não reflete, porém,
nenhuma tentativa de introduzir uma nova taxionomia no campo da psicoterapia. o
quadro 1, a seguir, relaciona exemplos de métodos, devendo-se notar que muitos
destes, consoante a situação, podem se enquadrar em outras categorias.

quadro 1
exemplos de mÉtodos de orientaÇÃo, aconselhamento psicolÓgico e
psicoterapia

mÉtodos entrados no contexto sÓclo-cultural mÉtodos centrados no contexto pessoal

• informação - orientação • persuasão • • psicanálise e técnicas analiticamente orienta


manipulação ambiental • aproveitamento de técnicas de reorganização cognitiva • técnica
interesses e recursos pessoais e ambientais • crescimento pessoal e autodeterminação • té
terapia ocupacional • socioterapia • comunidades suportivas ou de tranquilização • terapia gest
terapêuticas e vivenciais; processos de grupo terapia biofuncional e bioenergética • psicodr
análise transacional • terapia primal • psicobi
logoterapia • existencialismo

nota: alguns métodos podem ser classificados em uma ou mais categorias:


outros não são apresentados sob a nomenclatura habitual e enquadram-se na
classe geral em que são colocados no texto (capítulos 2, 3 e 4).
2 - métodos centrados no contexto sócio-cultural

fundamentos

a imposição de padrões culturais, nos seus vários aspectos, é, sempre,


teoricamente repelida, na ânsia de liberdade e autenticidade que envolve o ser
humano. o homem busca afirmar-se e talvez nisto consista todo o móvel da
conduta humana e sobre o qual falaremos no capítulo 6.
não obstante o alvo tantas vezes cultivado, vê-se o homem julgado, aceito
ou rejeitado pela forma como se ajusta aos padrões que o cercam. a acepção é
válida em todas as épocas e em todos os lugares, em todas as classes e faixas
etárias. mesmo a adolescência contestatória, às vezes iconoclasta e irreverente,
mas criativa e pura em muitos ideais que tenta opor à tradição e aos hábitos e
costumes, cria, para si mesma, um modelo ao qual os adolescentes aderem, com
normas e valores próprios. estes passam a ser os critérios de conduta e de
ajustamento pelos quais os próprios adolescentes são entre si aceitos ou
rejeitados. o comportamento grupal, diluído em pequenas castas e classes ou
generalizado em amplos segmentos populacionais, envolve princípios normativos.
chega-se ao paradoxo de propor-se a liberdade, a autenticidade, o ser-ele-próprlo
e essa atitude transforma-se em valor imposto, o que contraria a idéia fundamental
de liberdade.
a adaptação da pessoa a certas normas, estilos ou formas de vida é, pois,
um critério comum de ajustamento, embora tentemos rejeitá-lo. daí se deduz que
muitos procedimentos profiláticos ou educacionais, como técnicas de reeducação
ou de terapia, pautam-se, inexoravelmente, por padrões sócio-culturais, alguns
transitórios ou superficiais, frutos de modismos ou situações de emergência,
outros permanentes e profundos, produtos da experiência acumulada na sucessão
de gerações em uma espécie de inconsciente coletivo de que nos fala jung. como
ser diferente, marginalizado, ou não reconhecido socialmente, pode, em certos
casos ter o sentido de destruição, a pessoa procura adaptar-se aos sistemas
existentes para atender à necessidade biológica, básica, de sobreviver. a
sociedade indica-lhe os caminhos para se preservar; exige, de forma aparente ou
velada, que se "eduque", isto é, que saiba falar, andar, vestir-se e usar o sistema
social tal como existe; exige que estude, trabalhe, cuide dos filhos ou de pessoas,
segundo certos padrões; espera que participe da vida comunitária, que pague
impostos e que desfrute de seus bens, móveis e imóveis, segundo certas regras e
limitações. em suma, estabelece certos determinismos cuja observância é
essencial para que a pessoa seja aceita. o aconselhamento e a terapia são,
nestes casos, uma proposta de adaptação a uma vida pré-definida. a liberdade
seria apenas a possibilidade de escolha entre os determinismos que nos
pressionam.
muitos procedimentos de aconselhamento psicológico e de psicoterapia
visam atingir os alvo_ de que falamos: tentam conduzir as pessoas às situações
que os valores sociais estabelecem como adequadas. essa imposição, se, em
muitos casos, produz reações de crítica e de oposição e até de uma alienação
conducente a quadros patológicos, por outro lado pode gerar segurança aos que
se incorporam à massa, às tradições, ao pensamento grupal. e coletivo. É a
tendência sociocêntrica em oposição à linha individualista ou centrada na pessoa.
até que ponto as tendências socializantes ou personalizantes são benéficas ou
prejudiciais, aprazíveis ou aterradoras não sabemos. É assunto dara os filósofos,
sociólogos e psicólogos sociais. o que nos parece evidente é a ausência de
padrões, valores ou pressões que, de uma forma ou outra, balizam o
comportamento humano.
do ponto de vista do aconselhamento psicológico e de tratamento, há
recursos terapêuticos que visam adaptar o homem a seu contexto sócio-cultural
embora se procure, atualmente, limitar ao máximo a subserviência a valores
preestabelecidos, sem, porém, ignorá-los; tenta-se colocar a pessoa em condições
de opção, ampliando-se o leque de escolha; procura-se aproveitar as
potencialidades individuais e abrir perspectivas para mudanças sociais; procura-se
facilitar o questionamento de problemas e situações de vida. e de forma tal que as
transições ocorram na pessoa e na sociedade sem violentá-las na sua essência,
mas vigorosas no seu posicionamento. o aconselhamento imposto, extremamente
autoritário, é coisa do passado, ainda que as informações, os conselhos, as
advertências atuem em certos casos. se os conselhos e recomendações fossem;
por si sós, eficientes, as prisões estariam vazias e os instrumentos; de repressão
teriam amplo sentido. há, pois, que estabelecer um sistema de comunicação, de
orientação e de atuação psicológica que produza resultados benéficos para a
pessoa e para a sociedade. e, no caso em que os valores sociais sejam
predominantes, muitos processos são usualmente aplicados com maior ou menor
benefício pessoal ou social consoante as exigências que, naquele momento,
fluem da pessoa ou do grupo.

procedimentos comuns

como se verifica em vários autores (hahn & maclean, 1955; stefflre & grant,
1976; sundberg & tyler, 1963; wolberg, 1977), há grande variação nos
procedimentos adotados nesta categoria metodológica de tipo "orientador" ou
“diretivo" .
ainda que prevaleça o sentido sociocêntrico,. baseado em padrões
culturais, tenta-se, do ponto de vista psicológico, reduzir ao mínimo a diretividade
procurando-se reduzir tensões e preparar a pessoa para decisões socialmente
desejáveis. em geral, os procedimentos mais comuns são: 1) discussão com o
psicólogo dos prós e contras de cada situação; 2) informação, pelo psicólogo, com
base no diagnóstico, das possíveis causas e da possível evolução das reações
observadas; 3) opinião do psicólogo no sentido de estimular ou de impedir a
consecução de certos planos; 4) planejamento de situações, com o cliente,
envolvendo assuntos relacionados com os problemas tratados.
dificilmente se encontra, na literatura, a citação de pormenores técnicos do
método, isto é, sobre o tipo de diálogo e atuação pelo qual o psicólogo conduz o
relacionamento com o cliente. em geral" são citados métodos de interpretar
resultados de testes face a uma situação considerada e prognósticos que podem
ser levantados. limitam-se os autores a afirmar que "o cliente deve ser informado",
que" deve tomar conhecimento j' , que o psicólogo deve considerar isto ou aquilo e
que o cliente deve decidir.
em geral, qualquer dos procedimentos aqui citados, como outros, análogos,
,embora com nomenclatura diferente, compreendem três etapas:

fase catártica

o psicólogo ouve o cliente mantendo atitudes não críticas, facilitando sua


expressão. o cliente expõe seus problemas e o psicólogo usa várias intervenções,
tais como repetição, sumário e proposição de questões, esperando que o
problema seja devidamente enquadrado em hipóteses prováveis. essa fase pode
durar uma ou mais sessões, na medida em que seja necessário chegarem,
psicólogo e cliente, a uma estruturação formal dos problemas a enfrentar.

fase de diagnóstico

preparado emocionalmente o cliente na fase catártica, pode seguir-se o


diagnóstico, orientando-se sua execução de acordo com os problemas ou
hipóteses fixados na etapa anterior. anamnese, testes, questionários, entrevistas
com familiares.e outras pessoas são usados. exames médicos e pareceres
escolares ou profissionais podem ser incluídos no diagnóstico. este envolve mais
de uma pessoa e, em algumas clínicas, uma grande equipe participa do estudo do
caso e da formulação de hipóteses e de planos (vide outros comentarmos sobre o
diagnóstico, no capítulo anterior).
ao mesmo tempo, o psicólogo procura conhecer as oportunidades de
estudos, de trabalho, de vida social, de recreação e de eventuais tratamentos
específicos disponíveis para o cliente; precisa recorrer a diferentes especialistas,
entre os quais orientadores educacionais, assistentes sociais, médicos,
professores e até mesmo a outros profissionais. como tem que julgar a
disponibilidade de recursos da comunidade, seu trabalho pessoal geralmente é
insuficiente.
quando o diagnóstico é necessário, temos notado ser mais eficaz o
procedimento que identifique: 1) o nível potencial do cliente, e que se estende
desde suas condições de saúde até seus níveis de escolarização e de condições
sócio-econômicas, incluindo nível de inteligência, de aptidões e reações sensoriais
e motoras; 2) as condições de adaptabilidade que favorecem ou delimitam o uso
de suas potencialidades, penetrando-se no estudo da personalidade do cliente e
nos seus dinamismos. todos os planos geralmente consideram as expectativas
sociais e, de outro lado, as potencialidades individuais, inclusive as facilitações ou
barreiras que a pessoa pode encontrar (barros santos, 1978).

fase de decisões
com o quadro do cliente diante de si, o psicólogo é levado à compreensão
do comportamento do cliente e à decisão sobre os procedimentos aplicáveis para
prevenção, ajustamento ou alteração de conduta. a característica básica reside na
maior dose de iniciativa e decisão atribuída ao psicólogo. este espera o cliente
colocar os problemas e as soluções, mas, se estas não surgirem, assume o
psicólogo o papel de proponente. o diálogo é uma troca de idéias. o psicólogo
informa, de modo impessoal, sobre os dados apurados, baseando-se em
interpretações clínicas e estatísticas (meehl, 1954; super, 1955; coule, 1960;
goldman, 1961). evita personalizar as situações e oferece panoramas gerais,
impedindo o aparecimento de nova ansiedade quando certos dados possam
contrariar os alvos do cliente. ao discutir com este, o psicólogo, ao mesmo tempo
que informa, tenta explorar em cada idéia ou fato novo os sentimentos manifestos.
essa atuação, informativa e exploratória, leva o cliente a conhecer suas
possibilidades e, desde que não gere tensões, produz condições favoráveis para
escolhas e decisões. É uma etapa difícil, principalmente quando existem dados
fortemente contrários às expectativas da pessoa. em geral, é mais cauteloso
esperar que esta, pouco a pouco, com a atmosfera de conforto criada pelo
psicólogo, possa ir, ela própria, inferindo conclusões. as interferências no sentido
de ordenar, proibir, persuadir não têm, em geral, mostrado eficácia. a informação e
a exploração subseqüentes e imediatas nos parecem ser o procedimento mais
adequado até agora encontrado. o psicólogo julga e avalia as possibilidades do
cliente, mas o faz atenuando qualquer grau de dependência ou de ansiedade, na
medida em que seja capaz de, concomitantemente com a informação, incluir
atitudes que conduzam o cliente a explorar-se a si mesmo e à tomada de
decisões.

variações no processo

em inúmeros casos, na fase catártica ou na fase de decisões, o cliente se


sente mais à vontade "falando dos seus problemas" do que dos motivos
originariamente expostos como razões para consulta. a redução da ansiedade
criada pelas atitudes do psicólogo permite, pois, distinguir os casos em que
ocorrem problemas emocionais generalizados dos que procuram, apenas,
informações para uso predominantemente intelectual. nessas circunstâncias, vê-
se o psicólogo na contingência de continuar o processo no esquema original
previsto, de transformá-lo em processo terapêutico específico ou, ainda, de
combinar ambos.
o atendimento do caso pode ter início com atitudes e técnicas centradas na
pessoa, o que, além de preparar o cliente para um melhor diagnóstico, quando
este se revelar necessário, permite iniciar uma assistência terapêutica que será
útil nas situações em que, ao lado dos aspectos intelectuais, haja situações
emocionais a serem manipuladas.
quando o método é aplicado principalmente em casos de orientação
vocacional ou profissional, sem problemas emocionais graves, temos notado que
os clientes, quando submetidos apenas à reflexão de sentimentos, mostraram
pouco ou nenhum avanço no sentido de equacionar melhor suas opções. sempre
que o psicólogo intervinha apenas com técnicas rogerianas, não se notava o
aparecimento de respostas que revelassem modificação de comportamento
associada a eventuais decisões. em se tratando de casos em que predominavam
problemas cognitivos
o que se supôs antes e se verificou posteriormente - a técnica de
informação, discussão e explanação refletiu-se favoravelmente no aumento das
possibilidades de decisão. tais efeitos concordam, em parte, com o que afirmam
os partidários desse método e segundo os quais os problemas de escolha nem
sempre são originariamente emocionais. estudos de watley (1967), concernentes
à predição do sucesso de estudantes atendidos por conselheiros de orientação
doutrinária e técnicas diferentes, demonstraram que os conselheiros filiados à
teoria informativa (teoria e traços da personalidade) predisseram com mais
exatidão o grau de sucesso dos indivíduos estudados do que os filiados à
orientação não diretiva, dos chamados ecléticos ou dos que não tinham doutrina
técnico-científica bem definida.

a maioria das técnicas ou de recursos terapêuticos baseados no contexto


sócio-cultural não tem nomes consagrados. muitos mesclam-se entre si. vamos
enumerá-los com pequenas explicações já que constituem variações do
procedimento geral descrito.
informação-orientação
É um processo tradicional de interação, de natureza predominantemente
profilática. visando oferecer. e discutir alternativas de ação conduzidas, em geral,
sob a forma de: a) procedimentos de apoio; b) análise de opções envolvendo
questões. lembretes. consulta a dados existentes. observação da realidade
circunstancial confrontação com modelos de conduta e resultados; c) reflexão dos
sentimentos provocados pelas alternativas estudadas. aplica-se, em geral, a
pessoas que mantenham contato com a realidade. motivadas e suficientemente
desenvolvidas para análise de informações.
os procedimentos informativos ou orientadores atuam geralmente no plano
racional, desde. que haja prévia liberação de estados emocionais que perturbem a
tomada de decisões. É um dos procedimentos mais usados através do tempo e
útil sempre que a pessoa precise de informações para comparar os possíveis
efeitos de suas opções. enquadram-se estes procedimentos no campo habitual
dos orientadores ou conselheiros. seja no campo familiar, escolar, profissional ou
social.

persuasão
trata-se de imposição comportamental, no plano da ideação e da ação,
baseada em padrões de conduta previamente definidos como únicos possíveis e
válidos. de efeito sugestivo, atua sob a forma de dissuasão racional, geralmente
associada a recompensas e punições. É de valor ético discutível e somente
indicado em situações de emergência e de perigo para o cliente ou para outras
pessoas. inclui, muitas vezes, a doutrinação e a orientação das pessoas para
comportamentos sociais ou políticos emanados de um grupo dominante. um
exemplo extremado deste procedimento é a chamada "lavagem cerebral".

manipulação ambiental

consiste em uma atuação planejada e diretiva sobre agentes externos,


presentes na família, na escola, no trabalho ou na comunidade, visando eliminar
ou atenuar a exposição do cliente às fontes de frustração ou de conflito. pode
exigir amplo diagnóstico do cliente e dos fatores externos atuantes em seu
comportamento para localizar as variáveis nele intervenientes e a aplicação de
medidas que conduzam alvos desejados. muitas vezes o processo é indireto, ou
seja, o próprio cliente não tem conhecimento dos alvos e das intenções que visam
alterar seu comportamento, o que ocorre em casos de deficiência grave e
incapacitante no plano intelectual ou emocional.

aproveitamento de interesses e de recursos pessoais e ambientais


partindo de prévio diagnóstico global! e diferencial, visa utilizar ao máximo o
potencial e a estrutura individual, usando caminhos não bloqueados. inclui o
estudo da dinâmica do comportamento e dos alvos e das necessidades
individuais, procurando-se conciliá-las com as ofertas e as necessidades sociais.
multo usado no campo da orientação vocacional e profissional e na educação,
baseia-se nas possibilidades da comunidade ou da instituição, procurando-se
facilitar à pessoa seu ajustamento a uma ou mais alternativas que a sociedade
oferece. É menos diretivo do que os procedimentos _tj.anteriores, já que oferece
opções no campo do trabalho, do lazer, da família, das atividades comunitárias ou
em outras áreas do comportamento social.
terapia ocupacional
compreende atividades de lazer, de recreação e, principalmente, tarefas
que revelem utilidade e sentimento de auto-afirmação. as atividades podem ser
livres, dirigidas ou semidirigidas e propiciam redução de tensões, exploração de
aptidões e de interesses, melhora de comunicação e: da expressão e podem ter
ação preventiva. educativa ou terapêutica (willard &spackman. 1970). pode atuar
como procedimento complementar ou como técnica terapêutica essencial,
principalmente quando outros métodos são inviáveis. pode incluir outras
atividades, tais como esporte, teatro, movimentos associativos, atividades
artísticas, cívicas, sociais, religiosas, bem como trabalhos manuais e artesanais. É
aplicável, também, no campo empresarial para liberação de tensões,
desenvolvimento pessoal enriquecimento do trabalho e melhora da comunicação.
a laborterapia é algo paralelo que se diferencia de terapia ocupacional
porque estabelece um padrão mínimo de (desempenho a atingir, periodicamente
revisto e neste sentido, tem amplos efeitos pedagógicos e psicológicos tanto para
pessoas ditas normais corno deficientes. muitas vezes recorre-se a oficinas
especiais ou "protegidas", mas a tendência atual é usar o ambiente normal de
trabalho.
socioterapia

confunde-se com outros métodos e técnicas já que o aconselhamento e a


psicoterapia de qualquer estilo são, também, socioterápicos. mescla-se, mais
comumente, com a manipulação ambiental, com comunidades terapêuticas e com
as técnicas de grupo em geral. em essência, visa um contexto grupal, de que são
exemplos a terapia familiar (bowen, 1978), a terapia institucional (para pessoas
que têm vida em comum) e equipes de trabalho. nestes e noutros casos, a ênfase
é dirigida para os sentimentos e as relações intragrupos e intergrupos; concentra-
se nos problemas de agrupamentos humanos em geral como, também, em grupos
especiais tais como grupo de doentes, grupo de viciados (o a.a.a. é um exemplo),
grupo de minorias raciais, grupo de delinqüentes, etc.
os procedimentos aplicados correspondem, em geral, às técnicas de grupo,
sob orientações psicológicas as mais diversas (vide capítulo 4).

comunidades terapêuticas e vivenciais; processos de grupo

são geralmente usadas quando se busca um relacionamento grupal e um


trabalho de grupo e, neste caso, assemelha-se à socioterapia. as comunidades
terapêuticas e vivenciais são, também, destinadas aos casos que não possam ser
atendidos em clínicas ou consultórios comuns por dificuldades diversas. aplicam-
se igualmente às pessoas que tenham problemas de residência, de locomoção e
as que precisam de constante assistência, seja médica ou psicológica.
em alguns casos caracteriza-se uma internação ou seja um regime de vida
em clínica, hospital ou comunidade em que a pessoa submete-se a um tratamento
médico, psicológico e social em geral programado pela instituição que a acolhe.
modernamente, os "internos" são convidados para colaborar, podendo até
participar da direção dos programas em regime de co-gestão, visando-se
confrontação com a realidade e auto-afirmação. a interação entre os participantes
é discutida em sessões especiais prevendo-se, também, relações externas e o
gradativo término da internação com o conseqüente autogoverno. .
os procedimentos e todas suas variações médicas, psicológicas ou sociais
são planejados e aplicados por equipes multidisciplinares, com a cooperação dos
participantes, podendo ser usados tanto em hospitais como em escolas,
empresas, estabelecimentos penais, centros de abrigo e proteção e obras
assistenciais.
o hospital-dia, centro-dia ou centro terapêutico é uma variação
metodológica na qual o cliente conserva o vínculo com a família e freqüenta o
centro diariamente ou algumas vezes por semana. aplica-se a pessoas para as
quais a tarefa terapêutica de consultório ou de ambulatório é insuficiente e para as
quais a internação comum é desnecessária ou contra-indicada.
tanto a internação ou hospitalização comum como o centro-dia implicam na
existência de várias atividades que compreendem, em geral: 1) assistência médica
em geral; 2) atividades psicoterápicas tais como sessões de grupo, jogos, dança,
esporte, artes plásticas e musicais, artesanato, participação em tarefas para o
centro; 3) psicoterapia específica, conforme o caso; 4) contacto com a realidade;
5) trabalho com a família, fazendo desta uma ativa participante.
o centro-dia, ou centro terapêutico, vem sendo usado também no campo da
gerontologia, pelo qual conserva o idoso seus vínculos familiares sendo,
simultaneamente, assistido por uma equipe especializada, em um melo que lhe
proporciona convivência e atividade produtiva.
a vivência comunitária é outra variação do procedimento de internação e
comunidade terapêutica. pode assumir várias formas, desde instituições
destinadas a menores excepcionais ou desemparados, até instituições penais ou
conjunto residencial para idosos. esse sistema tem algumas vantagens e algumas
desvantagens. em geral provê meios assistenciais mais facilmente e menos
onerosos mas, por outro lado, afasta o indivíduo da realidade existencial
contribuindo, até certo ponto, para uma segregação social ou etária. outro perigo é
o envelhecimento ou saturação da comunidade ou seja, o cansaço resultante de
uma constante vida em comum. os inconvenientes apontados podem ser
removidos com uma organização suficientemente ampla e flexível, com
programações variadas e com população parcialmente rotativa. pode-se, também,
em certos casos, limitar a estada residencial a alguns dias por semana ou
intercalá-la com temporadas em outros locais, principalmente junto à família.

3 - procedimentos centrados no contexto pessoal

fundamentos

ao longo dos tempos, a sociedade revê os focos de referência em que


balisa seus alvos, concentrando-se ora na pessoa, ora no grupo ou 'sistema, o
que acarreta, no campo do aconselhamento psicológico ou da psicoterapia,
correspondentes alterações. o conceito humanístico, 'voltado para uma atitude
antropocêntrica, geralmente se sucede ao período sociocêntrico, no retorno a um
equilíbrio natural. essas tendências se alternam e, às vezes, coexistem. hoje
parece estarmos diante de uma orientação predominantemente personalista em
que o indivíduo é o centro. nesta conceituação, acentuada depois da ii grande
guerra, o foco preferencial tem sido o homem, a pessoa antes do grupo, embora
alguns sistemas sociais existam como alvo prioritário.
embora essas colocações e a luta pelos direitos humanos definam uma
marcante filosofia social, a distância é bem grande entre a idéia e a ação. mesmo
no aconselhamento tipicamente centrado na pessoa, quando terapeuta e cliente
buscam libertar-se das amarras sociais, estas não conseguem ser eliminadas. os
seres vivos têm medo de mudanças e apegam-se às estruturas existentes. no
humanismo psicológico, pois, o efeito máximo atingido parece limitar-se a uma
proposição para o futuro, isto é, ao planejamento para geração posterior. o
humanismo é um desenvolvimento e um aproveitamento daquilo que é a pessoa,
com ênfase na inovação, no enriquecimento experiencial e no crescimento, o que
não significa constante oposição social mas a capacidade e a habilidade de extrair
do melo o que é útil à pessoa e, em contrapartida, oferecer ao melo o que pode
ser a ele necessário para o equilíbrio geral. neste ponto, o aconselhamento e a
psicoterapia de linha chamada' 'humanística" são contrários à educação de
massa, à modelagem social e à socialização planejada.
os métodos e técnicas dirigidos pelo enfoque humanístico partem do
princípio de que a pessoa, como organismo total, é um ser com características
próprias, que age e interage de acordo com as coordenadas básicas, biopsíquicas
e sociais de sua personalidade, em uma equação pessoal de que nos falam tantos
autores. o meio social é um corpo à parte, tão significativo quanto o ente
biopsíquico, mas não o alvo irremovível e indiscutível. a pessoa é o centro e não o
sistema de valores e de hábitos sociais. francamente opostos ao domínio sóclo-
cultural, da primeira categoria de métodos (capítulo 2), coloca como objetivo
básico a satisfação e o bem-estar individual, sem que isto implique em rebeldia ou
subversão mas, ao contrário, em busca de valores e de opções que conciliem o eu
pessoal com o eu social.
os métodos e os procedimentos práticos atuam tanto no plano consciente
como no inconsciente da personalidade e tendem a ser fenomenológicos ou, como
diz tyler: "lida com o mundo como a pessoa o vê mais do que com a realidade
existente" (sundberg e tyler, 1963).
a pessoa atingida pela orientação individualista passa a sentir-se segura e
tranqüila à medida em que entende e vivencia seus problemas pessoais e quando
se torna capaz de enfrentar a realidade em todos os seus aspectos; sente redução
de tensões; o autoconceito se eleva; a crítica a si mesmo e aos outros tende a
diminuir e os sucessos e fracassos são percebidos como fatos naturais próprios
do viver e do vivenciar de cada um no seu momento de vida.
o aconselhamento psicológico e as técnicas psicoterápicas que
freqüentemente se intitulam humanísticas, ou centradas na pessoa, nem sempre
assim atuam, quer colocando como referencial o contexto sóclo-cultural (ver
capítulo anterior), quer focalizando o problema em si, a exemplo de outras
ciências. no enfoque centrado na pessoa, o trabalho terapêutico ou profilático é
intencionalmente voltado para o processo particular pelo qual os eventos
psíquicos ocorrem em uma dada pessoa. i 'os erros da vida ocorrem quando o
indivíduo tenta representar algum papel que não o seu". esta frase de may (1977)
esclarece bem a individualidade de cada um de nós. não há tipos, nem rótulos ou
categorias de indivíduos ou de problemas. há pessoas nas quais condições
orgânicas ou sociais geraram dificuldades, as quais foram manipuladas de acordo
com recursos pessoais em um dado momento. todo psicólogo experiente sabe
que não há dois clientes iguais, embora, aparentemente, os problemas sejam os
mesmos. a vivência de cada um deles é sempre “sui-generis". diz jung que cada
um de nós traz em si uma constituição específica de vida, indeterminável, que não
pode ser substituída por outra. a singularidade de cada pessoa e sua harmonia
intrínseca são os alvos. a psicanálise de freud, bem como as teorias e técnicas
que dele se originaram, constituem exemplos clássicos da orientação
antropocêntrica, embora o controle social e cultural esteja sempre presente.
procedimentos comuns

a abordagem inicial, muitas vezes, é semelhante à usada na metodologia


da primeira categoria (capítulo 2), ou seja, há uma fase de relacionamento e
catarse na qual o cliente expõe seus problemas, formula sua "queixa" e o
psicólogo o assiste, refletindo seus sentimentos e demonstrando aceitação e
empatia (o que não significa aprovação ou reprovação). a partir dessa fase e de
acordo com um pré-julgamento que o psicólogo efetua sobre o cliente e as
possibilidades de atendimento, é fixado um sistema de encontros periódicos,
individuais ou em grupo.
pode ou não haver diagnóstico psicológico no seu sentido tradicional.
geralmente essa providência é dispensável em certas modalidades de atuação;
noutras, faz parte do processo e noutras é contra-indicado, como na metodologia
rogenana.
as técnicas de atuação são bastante variadas, subordinadas a uma
nomenclatura clássica e bem definida, como a psicanálise, o psicodrama, a gestalt
e outras mais. todas' lidam com a dinâmica do comportamento e procuram levar o
cliente a descobrir e manipular fontes profundas de ansiedade que,
conscientemente ou não, atuam sobre ele. À medida em que o cliente consegue
recompor as situações traumatizantes, em termos que suavizem suas frustrações
e conflitos, pela redução da sensibilidade (nível de tolerância), pela melhor
compreensão de si mesmo, do outro e do mundo que o cerca, ocorre maior
enriquecimento e fortalecimento do eu e conseqüentemente maiores e melhores
recursos para enfrentar e resolver dificuldades emocionais. a seguir veremos,
resumidamente, alguns exemplos de técnicas desta categoria.

psicanálise e técnicas analiticamente orientadas

a psicanálise parece constituir o mais significativo movimento no campo da


psicologia, em todos os tempos. embora os efeitos de seus métodos terapêuticos
sejam questionados por muitos, os referenciais teóricos por ela estabelecidos
vieram contribuir poderosamente para que o homem entendesse muito do que se
passa em seu comportamento. de tal forma suas proposições corresponderam à
necessidade de explanação da conduta humana, que seus conceitos e sua
terminologia tornaram-se elementos comuns, quer na linguagem científica ou
profissional, quer no dia-a-dia; impregnaram muitos dos conceitos atuais sobre as
reações humanas e tendem a universalizar-se pelo uso corrente.
devida a sigmund freud, seu genial criador, as teorias e técnicas passaram,
posteriormente, por grandes e minuciosas elaborações e que se classificam, hoje,
em métodos freudianos ou ortodoxos, e muitos outros, classificados de
analiticamente orientados; envolvem associação livre, catarse, interpretação de
idéias, de atos, de atitudes, de sonhos, de resistências e a manipulação do
fenômeno de transferência (freud, 1949, 1958).
os conceitos básicos, derivados da psicanálise, não se limitam atualmente à
tradicional relação terapeuta-cliente, no inviolável gabinete do psicanalista, mas
estendem suas aplicações a quase todos os campos do comportamento humano,
seja na educação, na política, na religião, como, mais recentemente, dento das
organizações de trabalho, a serviço do bem estar e da produtividade. assim,
conflitos existentes nas relações profissionais, enriquecimento do trabalho e o
desempenho de chefes e subordinados têm sido analisados e interpretados em
termos freudianos.
como processo terapêutico, a psicanálise t': seus derivados constituem
tratamentos demorados e dispendiosos, aplicáveis às pessoas com repressões e
conflitos profundos, servindo o terapeuta como uma espécie de ponte pela qual o
cliente revive suas experiências passadas e o "aqui e agora" e reorganiza seus
sentimentos em relação a essas experiências e ao quadro geral da personalidade.
a topografia da vida mental é entendida em termos de id, ego e superego,
quando se utiliza a linguagem freudiana, ou com nomenclatura diversa, mas de
conceitos equivalentes, quando empregada por outras correntes psicológicas. na
sua mais ampla acepção, o método empregado tem em vista o estudo e a
manipulação das forças psicológicas inconscientes que motivam o comportamento
humano. este é analisado e interpretado, seja na atividade manifesta no dia-a-dia,
seja nos seus simbolismos mais diversos no trabalho, na vida social, na arte e
noutros aspectos do pensamento e da ação.
o alvo terapêutico básico e original é dotar a pessoa de consciência de suas
características e dos dinamismos que emprega para lidar com suas experiências
traumáticas anteriores, com seus instintos e suas energias. como técnica, o
terapeuta assume um comportamento neutro, distante, de certa forma ambíguo. a
essência da terapia é a análise, interpretação e manipulação da transferência, isto
é, o encontro, pelo cliente, na figura do terapeuta, de um substituto aceitável que
simboliza seus problemas. qualquer modificação profunda na personalidade
implica em compreender e explorar ativamente essa transferência, de forma que o
cliente perceba como seu passado interfere no presente. À medida que o
processo continua, o cliente liberta-se, pouco a pouco, da dependência do analista
e reformula suas atitudes básicas, o que geralmente exige longo tempo e
considerável habilidade do terapeuta. .
muitas e profundas alterações ocorreram no campo aberto por freud, de tal
forma que algumas delas passaram a constituir “escolas" ou movimentos com
concepções e métodos dificilmente ligados às raízes originais. não vamos
comentá-las, dada a magnitude do assunto mas, apenas, citar os nomes mais
expressivos devendo-se notar que alguns destes aparecem nos itens seguintes,
uma vez que suas concepções podem se enquadrar em classificação
metodológica diferente. dentre, pois, tais "escolas" ou movimentos significativos,
poderiam ser lembrados, em ordem alfabética: abraham (1927); alexander e
french (1946); berne (1976); binswanger (1956); erickson (1950); fenichel (1941);
ferenczi (1926); fromm (1941); horney (1950, 1959); jung (1927, 1939, 1968); klein
(1949); lacan (1968, 1977, 1979); laing (1963, 1967); lowen (1967); perls (1976);
rank (1945); reich (1945); reik (1948); rosen (1953); stekel (1940); sullivan (1940,
1954)*. algumas das contribuições destes autores são mencionadas mais adiante.

. as datas mencionadas neste trecho, bem como em todo o livro,


correspondem às datas das publicações citadas nas referências bibliográficas.
técnicas de reorganização cognitiva

a ênfase terapêutica, nesta linha de ação, é dirigida para os conceitos e


valores que o cliente desenvolveu e em função dos quais as dificuldades
vivenciais emergiram. procura o psicólogo descobriras concepções "errôneas" ou
"inadequadas" do cliente e trazê-las a sua compreensão, modificando, assim, o
que adler denominou de "estilo de vida" (1917).
o processo varia muito entre seus aplicadores consistindo, genericamente,
em entrevistas com o cliente, seus familiares, professores e outras pessoas da
sua constelação de vida, a fim de se ter idéias precisas das desordens
comportamentais. o mapa cognitivo é explorado; as dificuldades são francamente
discutidas, apontando-se as incoerências, ilogicidades e erros interpretativos,
atuando-se, principalmente, no plano consciente, racional e do chamado bom
senso. adler dá grande atenção ao clima e às relações familiares (1917); ellis
procura detectar as principais falsas concepções e tenta modificá-las (1958, 1971);
phillips (1956), dreikurs (1959), mowrer (1953) e frankl (1955) têm idéias básicas
correlatas, no sentido de uma abordagem cognitiva e racional dos problemas. este
último de quem falaremos mais adiante, salienta-se pelo foco dirigido ao encontro
de um sentido de vida e à responsabilidade que a pessoa assume no contribuir
para a vida mais do que no usá-la. um extenso estudo da terapia cognitiva é
encontrado em beck (1976).
o cliente é instruído a lutar contra as falsas concepções, a ignorar as
depressões ou ansiedades, enfrentando-as como algo passageiro, até certo ponto
inevitável, e a aceitar seus efeitos, bem como a culpa e as falhas pessoais como
indicadores de algo errado no seu estilo de vida.
a terapia cognitiva envolve técnicas especiais (beck, 1976) que abrailgem,
também, a análise do que o cliente pensa e diz para si mesmo, no seu monólogo
interior. a teoria da dissonância cognitiva (festinger, 1957) pode oferecer pistas
para estratégias de tratamento na linha comportamentalista (jensen, 1979). as
técnicas de persuasão são também incluídas e analisadas por diversos autores
(harrell, 1981) e, além disso, muito relacionadas com a terapia comportamental na
medida em que se cuida de um processo de aprendizagem. neste enfoque, os
procedimentos têm em vista manipular os sintomas e os problemas de
ajustamento sem atentar para eventuais causas. as sessões terapêuticas
assumem, muitas vezes, as características de instruções e de aulas. o uso de
reforços, comportamento imitativo e observação de modelos são largamente
usados (vide capítulo 4).

técnicas de crescimento pessoal e autodeterminação

embora haja algo em comum com outras posições psicodinâmicas, coube a


rogers (1942) dar início a um posicionamento considerado, na ocasião,
revolucionário em matéria de aconselhamento e de psicoterapia. em virtude de
sua larga repercussão e de tratar-se de uma linha de atuação que interessou
particularmente ao autor e a seus alunos dos cursos de psicologia, é dedicado um
espaço especial sobre o assunto, apresentado no capítulo seguinte.

técnicas diversas

presenciamos, atualmente, uma babel de terapias, seja nesta categoria,


seja em outras, assinaladas nos capítulos 2 e 4. há grupos, movimentos e serviços
públicos e particulares (centros pastorais, centros de valorização da vida, centros
de emergência e de assistência a ansiosos, viciados ou marginalizados, encontro
de casais, encontro de jovens, grupos comunitários e grupos de encontro em
geral, grupos de gestantes e de idosos e um sem-fim de proposições). alguns se
utilizam de lazer, entretenimentos, recreação comum; outros utilizam o' esporte e
os exercícios físicos; alguns empregam o esforço, outros o repouso; uns
propugnam o relaxamento e a descontração, outros, ao contrário, a assunção da
responsabilidade e da preocupação; alguns promovem estados solitários e de
meditação, outros o companheirismo e a convivência grupal; outros, enfim,
propõem a criatividade, a libertação e a expressão de si mesmo, enquanto outros
proclamam a submissão, a obediência e o conformismo. todos eles têm em
comum a busca de soluções para problemas emocionais ou circunstanciais, no
plano existencial. as proposições terapêuticas parecem estar ao sabor da
atividade de muitos, bem como do charlatanismo de alguns, embora haja um bom
número de profissionais seriamente empenhados em aplicar, controlar e estudar
novas técnicas e seus efeitos nos clientes. dentre as técnicas que têm merecido
considerável estudo, poderiam ser citadas algumas, tais como:
• as técnicas suportivas ou de tranquilização, individuais ou em
grupo, geralmente destinadas a clientes em estado de grande ansiedade ou
depressão. usam-se vários procedimentos, dentre os quais a catarse,
atividades físicas, compreensão e empatia, sugestão, persuasão, hipnose,
relaxamento físico e mental, repouso, placebos, em geral como procedimentos
iniciais seguidos, depois, por atividades programadas no sentido lúdico,
artístico, filantrópico, profissional, etc.
nas técnicas suportivas procura-se, inicialmente, baixar o nível de
ansiedade, ou de depressão, elevando-se, por outro lado, o nível de tolerância
às frustrações e conflitos, principalmente quando estes são irremovíveis
(redução do autoconceito, perda de bens ou de parentes, incapacidade física,
convivência forçada com fontes de atrito, etc.). não se cogita de reorganizar a
personalidade, mas de reduzir ou eliminar os sintomas agudos, propiciando
condições para uma programação terapêutica posterior.
• a terapia gestáltica que parte da experiência organísmica,
colocando o corpo, com seus movimentos e sensações, no mesmo plano da
mente. a ênfase terapêutica consiste em colocar a pessoa em contacto com as
necessidades correntes e imediatas do organismo, perls (1976), seu principal
fundador, coloca como fundamental a estrutura e a configuração da percepção,
isto é, o processo ativo que leva à construção de um todo perceptivo
organizado e significativo entre o organismo e seu meio. os desajustes e
neuroses são conseqüências de separações e espaços não naturais na
formação das "gestalten" (configurações) e a ansiedade seria a sensação de
ameaça a essa unificação criativa.
o tratamento é, em geral, grupal, sob a forma de "workshops", nos quais
são usadas dramatizações, troca de posições e papéis, visando-se "minimizar o
espaço vazio entre os processos subjetivos e objetivos e restaurar na pessoa a
totalidade da experiência não-verbal concebida como uma espécie de elam vital"
(kovel, 1976). uma extensão do método é a terapia gestáltica centrada na pessoa,
como forma de conjunção entre a posição rogeriana e gestaltista e da qual
falamos a seguir.

• a terapia gestáltica centrada na pessoa é, no dizer de


maureen milier * , uma' 'terapia de movimento; movimento através do
espaço, do tempo e dos níveis de consciência. o objetivo é a libertação
do movimento natural de energia de vida, através de ação espontânea
e livre que leva a pessoa à percepção e à satisfação de suas
necessidades através de harmonioso contacto com o universo de onde
provém energia para a vida".
* tradução do autor, de manuscrito a ele enviado pela autora.

os seguintes conceitos são básicos:

1. o universo é um todo; é racional; comporta-se' de acordo com suas


próprias leis e está em evolução;
2. a vida, inclusive a vida humana, segue um caminho de crescimento em
direção à complexidade. essa tendência formativa é um movimento no sentido da
realização construtiva de possibilidades que lhe são inerentes e que não podem
ser destruídas sem se destruir todo o organismo;
3. É da natureza da consciência humana procurar sempre contacto cada
vez mais profundo com uma realidade absoluta;
4. a consciência tem capacidade para expandir-se aprofundando o contacto
com a realidade absoluta.

a postura do terapeuta na abordagem gestáltica centrada na pessoa é a de


fé nesses conceitos, de humildade face ao reconhecimento de que aquilo que é
conhecido como personalidade é, apenas, um pequeno fragmento da totalidade. É
uma postura de curiosidade à procura de uma visão mais ampla da realidade; é
uma postura de incursão e experimento, do cliente e do terapeuta, em novos e
mais ricos contactos com o mundo. o terapeuta é alguém em quem se confia
como co-explorador dós mistérios internos e externos que constituem a existência
do cliente e que o ajuda a descobrir os limites de sua energia.. de seu movimento
e de sua capacidade para nutrir seu contacto com seu mundo (miller, 1981).
• a terapia biofuncional e bioenergética, resultante das
contribuições de reich (1945), tem como núcleo a idéia de que o
estado emocional depende da função. do organismo; vivemos e
atuamos fundamentalmente através do corpo e de suas energias,
expressas ou reprimidas. neste sentido, a função vital e saturar do
orgasmo é um exemplo frisante. É necessário penetrar na "couraça
muscular" que o cliente desenvolve a fim de libertar o material
inconsciente. essa liberação de emoções reprimidas, através da
manipulação dos estados e tensões corporais, permite a mobilização
da energia orgânica. daí q nome de orgonoterapia a essa posição.
posteriormente, lowen desenvolveu o pensamento reichiano, com
algumas contribuições, sob o nome de terapia bioenergética.
• o psicodrama criado por moreno (1959) visa à .expressão
de sentimentos gerados por situações propostas pelo terapeuta ou
pelos clientes e pela audiência, através de determinados papéis
desempenhados pelos participantes. o psicodrama pode atuar sob
diferentes orientações doutrinárias e tem evoluído muito como técnica
terapêutica, preventiva ou educativa. dentre suas alternativas há
situações que enfocam o "aqui e agora" no relacionamento pessoal e
social, bem como situações que antecipam dificuldades futuras e
outras que focalizam problemas já vividos e que possam ser revistos.
há, também, dramatizações de situações hipotéticas que possam
trazer à tona repressões e comportamentos não suficientemente
explorados.
o psicodrama, além de sua função terapêutica, é usado, também,
como procedimento didático. .
• a análise transacional, criada por berne (1976), enfatiza
as respostas e os papéis que as pessoas adotaram nas relações
ambientais e interpessoais, as situações de segurança, auto-estima e
de inferioridade comumente assumida por clássicas figuras de pai,
adulto e criança e seus simbolismos. a terapia focaliza o ego adulto e
os estados de ok, ou seja, ser julgado positivamente por si mesmo e
pelos outros, ajudando a pessoa a compreender seus papéis e seu
significado.
• a terapia primal ou do grito primal, originária de janov
(1970), baseia-se na liberação de sentimentos profundamente
reprimidos e que pode ocorrer sob forma dramática. o cliente é
instruído para seguir uma programação terapêutica, tal como
permanecer em um hotel durante três semanas e abster-se de drogas
ou distrações redutoras,de tensão e dedicar-se intensa e unicamente
ao tratamento, nesse período. nessa fase, o cliente tem sessões de
duas ou três horas diárias com o terapeuta, como único diante a ser
atendido. em cada sessão lida-se com um objetivo específico para
levar o cliente a expressar seus mais profundos sentimentos
relacionados com seus pais e isto ocorre através de palavras, gestos e
vigorosas expressões físicas e verbais. seu tratamento pode continuar,
depois, em grupo no qual o cliente continua centrado no seu problema
(kovel, 1976).
• a psicobiologia, de a. meyer (1958), que enfatiza as
vantagens de um amplo diagnóstico e, a seguir, a integração de todas
as formas de psicoterapia, bem como as atuações biológicas e
médicas. o posicionamento é global ou holístico com base no senso
comum e na vivência do cliente em seu meio.
• já parcialmente mencionada no item relativo aos métodos
de contexto sócio-cultural, a logoterapia é aqui citada por constituir um
conjunto de princípios e de técnicas de certa forma deles
independente. criada por victor frankl (1955), sucessor de freud em sua
cátedra em viena, opõe-se ao princípio do prazer e ao pansexualismo
freudiano. sua técnica consiste em facilitar ao cliente o encontro de um
sentido em sua vida o que, paralelamente, implica em aceitação do
dever e da responsabilidade. a saúde psíquica decorre do
preenchimento do vazio existencial; de um espiritualismo que conduza
à descoberta, em si mesmo, do significado da vida. a logoterapia
esforça -se, especialmente, pela conscientização do espiritual. como
análise da angústia existencial, procura levar o homem a se perceber
como ser responsável e, nesse parâmetro, achar o sentido de sua
existência.
a intenção paradoxal é um dos procedimentos usados. incentiva o cliente a
enfrentar e a praticar aquilo que teme. esse processo, já estudado por outros
métodos, equivale a desenvolver uma resistência mental (ou espiritual) a certos
fatos perturbadores ou ameaçadores. além da heróica resistência, acompanha-se
de ironia para com o fato ameaçador, destruindo-lhe a força.

a posição existencialista e o retorno à filosofia

partindo da fenomenologia, o existencialismo,além de seu conteúdo


filosófico, assumiu uma série de posições orientadoras ou terapêuticas
condizentes com seu entendimento do eu e do mundo. esse posicionamento não
se erige, porém, como um novo' 'sistema de terapia, mas uma nova atitude para
com a terapia", como afirma may (1976).
a influência de kierkegaard, de husserl, de heidegger e de jaspers, como de
outros filósofos, é sensível como assinalam alguns comentaristas (foulquié, 1960;
forghieri, 1972), cumprindo destacar, mais tarde, as contribuições de sartre (1943,
1953), de binswariger (1956), de buber (1958) e de may (1973, 1976, 1977). há
um dimensionamento humanístico com retorno às questões fundamentais do ser,
da vida e dos valores humanos, em franca oposição à avaliação e à medida
psicológica instaladas a partir da psicofísica de fechner e da psicologia científica
ou experimental de wundt e que teve seu apogeu nos trabalhos de binet e no
surgimento dos testes psicológicos e da psicotécnica na primeira metade do
século xx. passa-se, assim, do furor de exames e verificações de quocientes de
inteligência ou de outros atributos a uns posicionamentos globais, dinâmicos, em
que esses dados continuam significativos, mas sua importância na vida e nas
reações humanas é sentida e entendida noutras perspectivas. o comportamento
da pessoa não se define mais em termos de perfis ou de traços independentes,
mas em termos d€ sua experiência vital, nem sempre acessível aos instrumentos
atuais de medida. na perspectivas holísticas, compreensivas, incluem-se valores
sociais e humanos, externos, oriundos de um contexto de necessidades e
pressões grupais e, de outro, de auto-expressão, de ser o que é. embora
inconcebível o eu sem o outro, existe no campo do pensamento e da ação um
território marcadamente pessoal, parcialmente autônomo, que responde à
solicitação. e exigências internas, geradas na relação eu-outro e que passa a
pertencer à pessoa como patrimônio pessoal que vive e vivencia.
pode-se admitir que não existe um conjunto de processos formais,
metodológicos, de estilo terapêutico, na fenomenologia ou no existencialismo, pois
isso iria de encontro a seus princípios básicos. existem, porém, atitudes
terapêuticas. a empatia abre as portas ao mundo do cliente para que ele se veja a
si mesmo, se encontre e se aceite; tolere suas limitações e perceba o valor e a
peculiaridade de ser ele mesmo. importa descobrir-se e descobrir os outros, como
o eu emerge e evolui através do contacto com o mundo e com pessoas. entender
e sentir a totalidade da existência é o alvo. alguns existencialistas, dentre os quais
boss (1979), traçam uma certa imagem de uma terapia existencialista
("daseinanalytic therapy"), opondo-se frontalmente aos conceitos freudianos,
particularmente no que se refere aos fenômenos da transferência e do
inconsciente (embora os relatem sob outros títulos).
robo may admite que a terapia existencialista não é uma cura, mas busca
do autoconhecimento. a chave para o processo de aconselhamento, como
textualmente declara may, está na empatia. É através desse sentimento que todos
os conselheiros atingem as pessoas. na medida em que essa comunhão de
sentimentos ocorre na sessão de aconselhamento, o problema do cliente "é
transferido para essa nova pessoa e o aconselhador arca com sua metade do
problema. e a estabilidade psicológica do conselheiro, seu esclarecimento,
coragem e força de vontade transferir-se-ão para o aconselhando, prestando-lhe
grande assistência na luta que se desenvolve no interior de sua personalidade"
(may, 1977).
a volta aos problemas filosóficos não se faz, porém, à moda antiga. vem
impregnada de conceitos operacionais e não se restringe à filosofia pura, busca
nesta uma praxis, algo que ajude o homem a extrair da vida o que ela tem de
melhor para si e para os outros e não se identifica com a pura especulação. nesse
sentido, o retorno à filosofia pode vir, com o tempo, a explicar muitos dos
fracassos dos diagnósticos e prognósticos psicológicos. se conseguirmos
enquadrar e entender o comportamento humano dentro de um quadro de valores
sociais e pessoais, provavelmente a ação orientadora e psicoterápica ultrapassará
os modestos resultados até hoje obtidos.

4 - métodos mistos e métodos centrados no problema

fundamentos

embora a eficácia dos procedimentos orientadores ou terapêuticos esteja


ligada à estrutura e à dinâmica da personalidade, segundo o velho aforismo "há
doentes e não doenças", não se pode ignorar a ocorrência de situações externas
que constituem razão suficiente para gerar frustrações e conflitos, ,até certo ponto
independentes do funcionamento global da personalidade. desde que tais
ocorrências podem comprometer outras áreas do comportamento, pode-se,
igualmente, agir no sentido inverso, isto é, eliminar ou reduzir as desordens
comportamentais atuando-se sobre agentes externos ou indiretos. problemas
sexuais, por exemplo, podem ser tratados com técnicas e informações específicas
(master & johnson, 1970); problemas escolares ou profissionais podem ter origem
na relação professor-aluno ou chefe-subordinado e como tais serem removidos
quando se atua nessa relação; uma dificuldade de aceitação grupal na
adolescência, ou em outras idades, pode gerar sentimentos de inadaptação e
comportamentos anti-sociais, a qual, quando removida, pode reinstalar
comportamentos sadios; ausência de afeto e proteção na infância podem criar
comportamentos patológicos; um desequilíbrio orgânico, desde uma leve
intoxicação alimentar até uma grave disfunção hormonal, pode dar origem a
mudanças no comportamento; uma deficiência intelectual ou sensorial pode dar
como resultado uma redução da capacidade competitiva e uma conseqüência
emocional desastrosa; uma deficiência nutritiva pode produzir baixo nível de
rendimento e ser interpretada como um falso quadro de indiferença ou
desatenção; uma atmosfera educativa no lar, tipo "laissez faire", com liberdade
excessiva e pouca disciplina, pode gerar imaturidade, insegurança e
comportamentos agressivos ou anti-sociais (sears, 1961). os exemplos são
incontáveis.
como os efeitos emocionais das frustrações ou dos conflitos estão sempre
presentes, podem ser usados procedimentos mistos que atuem,
concomitantemente, sobre os agentes externos (causas) e sobre a pessoa (efeito).
Às vezes, os psicólogos se preocupam apenas com os estados emocionais,
quando seria mais indicado atuar diretamente nas raízes circunstanciais do
problema. a dificuldade consiste em identificar os agentes externos, não-
psicológicos ou paralelos e as estratégias e táticas que atuem na pessoa e no
meio.
a seguir vamos mencionar, apenas a título de lembrete, sem entrar em
pormenores técnicos que escapam à competência do autor, alguns dos métodos e
técnicas que atuam em vários aspectos. alguns deles aproximam-se mais da
abordagem cultural, outros da abordagem pessoal e outros são centrados em
problemas específicos. a escolha dos procedimentos depende, também, como nos
demais recursos terapêuticos, da formação e preparação profissional do
orientador ou terapeuta das possibilidades práticas de atuação *
. este capítulo, principalmente no que se refere à modificação do
comportamento, foi gentilmente revisto por alice maria de carvalho de1itti e
walderez b.f. bittencourt que o enriqueceram e o corrigiram com valiosas
contribuições.

procedimentos comuns

em geral, os processos de orientação, aconselhamento ou terapia, nesta


categoria de métodos, incluem ampla avaliação das condições da pessoa (estudo
de caso), das características do problema, da situação a manipular e das
alternativas de tratamento existentes. a maioria das atuações processa-se no
plano cognitivo, com ênfase no processo do problema, o que não significa
desprezar a pessoa ou o contexto sócio-cultural nem excluir os processos
emocionais. os comportamentos, nas suas causas e conseqüências, são
geralmente estudados em laboratórios, no campo da psicologia experimental e,
com base nos dados obtidos, utilizados na assistência psicológica. as pessoas são
estudadas face aos problemas que apresentam. o foco é interpretar os dados à luz
de um processo genérico que tende a ocorrer como respostas organísmicas.
são características básicas do método a definição tão precisa quanto
possível dos comportamentos a serem atingidos, quer para implantá-los, quer para
removê-los ou alterá-los, e um sistema de controle pelo qual seja averiguado o
processo de mudança. em certos tipos de tratamento são usados medidores de
estados de tensão ou de relaxamento, bem como outros indicadores - médicos ou
psicológicos - de condições orgânicas ou de estados emocionais.
tais procedimentos, como se poderá inferir, produzem efeitos
satisfatórios em numerosos casos. a dificuldade consiste, como nas demais
categorias de métodos, em identificar o método adequado a uma determinada
desordem comportamental.

terapia médica ou somática

como os exemplos são suficientemente significativos no que se refere a


distúrbios de comportamento causados por fatores fisiológicos, a somatoterapia é
um recurso aplicável em numerosos casos, seja como método básico, seja como
coadjuvante fio tratamento. a literatura em geral menciona casos em que o
tratamento com vitaminas reduziu a ocorrência de perturbações mentais
associadas à pelagra; em que drogas energizantes melhoraram estados de
depressão ou de desinteresse; em que correções do funcionamento hepático
diminuíram estados de irritabilidade. são conhecidos, também, os efeitos de certas
substâncias sobre o desejo ou o desempenho sexual, bem como os efeitos da
desnutrição e as repercussões mentais de muitas doenças ou disfunções
orgânicas.
nesta modalidade profilática ou terapêutica há sempre necessidade de se
recorrer a uma equipe multidisciplinar, em que atuem médicos, psicólogos,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros profissionais. É
possível conjecturar, embora haja poucos estudos concludentes, que muitos
distúrbios do comportamento, chamados estruturais ou de temperamento e,
portanto, de origem predominantemente genética, sejam beneficiados com esse
tipo de assistência, bem como os que resistem aos tratamentos psicoterápicos
conhecidos. sobre o assunto deve o leitor reportar-se a obras no campo
psiquiátrico e psicossomático (baldessarini, 1977; lion, 1978; linden e mass, 1980).
pode-ser incluído neste tópico um variado elenco de procedimentos que
vão desde exercícios físicos ou relaxamento, até fisioterapia e processos
bioquímicos. muitas ações cirúrgicas, bem como as plásticas, ortopédicas ou
alimentares, podem ser úteis. as revistas médicas mencionam a ação sedativa de
neurolépticos sobre o sistema nervoso, reduzindo estados de excitabilidade, bem
como o efeito de várias drogas sobre o comportamento em geral (coleman, 1973;
spoerri, 1974).
a quimioterapia parece apresentar dados promissores, na medida em que
os processos patológicos tenham origem ou sejam desencadeados por fenômenos
orgânicos. É um valioso recurso auxiliar também nos casos de desordens
funcionais para remissão ou alívio de sintomas, facilitando à pessoa tornar-se
acessível a atividades do dia-a-dia, a ocupações profissionais e à psicoterapia.
provocando redução, ainda que temporária, do medo, da angústia, da
agressividade, da depressão ou de outras manifestações inadequadas à situação,
consegue reambientar as pessoas, diminuir alucinações e delírios e abrir
perspectivas para uma retomada de suas atividades habituais, o que as ajuda no
plano emocional de auto-afirmação e de relacionamento social e, assim,
indiretamente, contribui para a melhora do quadro geral. beitman (1981), citando
inquérito entre membros da associação psicanalítica americana, menciona que
cerca de 60% dos analistas usa medicamentos em alguns dos pacientes. lesse
(1978) afirma ter obtido 83% de resultados satisfatórios com o uso de psicoterapia
e tratamento farmacológico combinado, em um período de três semanas, em um
grupo de clientes com severa depressão. o mesmo autor assinala que no caso de
depressões profundas, com idéias de suicídio, o tratamento puramente
psicoterápico mostrou-se inferior ao tratamento combinado com drogas. .
ao mencionarmos a relação físico-psíquica naetiologia e no tratamento de
distúrbios mentais e emocionais, poder-se-ia distinguir as técnicas
psicossomáticas das somatopsíquicas. no primeiro caso, estaria o tratamento de
desordens corporais por processos psicológicos; no segundo, o tratamento das
perturbações da personalidade por processos físicos ou fisiológicos. essa
distinção. é, apenas, didática, pois o organismo se comporta como um conjunto
interdependente.o que se comenta, no momento, é a terapia de desordens
mentais ou emocionais por procedimentos somáticos, geralmente afeto à medicina
e áreas paramédicas.

reflexologia

a reflexologia, baseada nas contribuições de pavlov e bechteéew, na rússia,


e de watson, nos estados unidos, foi à precursora da terapia comportamental de
que trataremos mais adiante. os fatos psicológicos são vistos como eventos
fisiológicos, não havendo lugar para a consciência. as teorias sobre o
associassionismo e os conceitos sobre inibição e excitação são importantes na
compreensão e no tratamento dos eventos comportamentais. o objetivo, segundo
salter, é "desinibir a inibição e atinge-se esse objetivo com o que podemos chamar
de química verbal". o desajustamento é um processo de aprendizagem e assim é
a psicoterapia. o "equilíbrio entre a excitação e a inibição é a base da vida normal"
(wolpe, salter e reyna, 1966). ; '. .
. . . os procedimentos podem incluir diálogos, manipulação ambiental,
drogas e aparelhagem variada que atuem para desinibir os focos da inibição
condicionada. muitas. técnicas de "controle mental", de "controle emocional",
exercícios de concentração e de descontração sensorial, estimulação ou
tranquilização enquadram-se nesta categoria, inclusive sistemas de controle
eletromecânicos ou eletrônicos relacionados com o uso de biofeedback.

fisicultura, esportes e manipulação corporal

embora não haja pesquisas suficientes sobre os efeitos psicológicos


decorrentes de determinadas práticas de educação física ou de esportes, a
observação vem mostrando influência favorável dessas atividades, no ajustamento
pessoal e social. a redução de tensões pela ativação de funções fisiológicas ou
pelo relaxamento programado, assim como sentimentos de auto-afirmação, são
alguns dos efeitos observáveis.
incluem-se neste grupo de procedimentos todas as atividades relacionadas
com ginástica (diferentes modalidades), esportes individuais e coletivos e
atividades de lazer combinadas com exercícios físicos. podem incluir, também,
regimes dietéticos, alteração de hábitos de higiene e de saúde física, trato da
aparência, do vestuário, da postura e ele expressões corporais como, até mesmo,
a redução ou eliminação de problemas ortopédicos (ver terapia somática e
fisioterapia).
geralmente a terapia pela cultura física é feita individualmente ou em
grupos através de: 1) programação de exercícios físicos variados e agradáveis,
diariamente ou algumas vezes por semana; 2) organização de grupos para
competições adequadas ao nível de desempenho, idade e interesse dos
participantes; 3) sessões de relaxamento e recreação, inclusive dança, música,
meditação e repouso, articuladas com a programação física.
solemon e bumps (1978) apresentam um novo método para induzir o
relaxamento físico empregando corrida lenta, de longa distância, combinada com
meditação. o método baseia-se nas alterações fisiológicas e conseqüente
mudança no estado de consciência ocorrida, similarmente, na corrida e na
meditação. a combinação dos dois efeitos seria vantajosa como coadjuvante
terapêutico.
caberia considerar que os processos tradicionais de fisicultura (exercícios,
condicionamento físico, esportes, competições) vêm sendo questionados e até
combatidos pela antiginástica e pela kinesiterapia (bertherat, 1979) com base na
teoria de que o corpo nos seus estados de rigidez e tensão retrata, exatamente, os
conflitos, repressões e angústias que permanecem insolúveis. há toda uma
linguagem corporal que precisa ser previamente interpretada e trabalhada
tomando-se consciência do corpo nos seus movimentos e expressões. assim,
muitas práticas esportivas e de ginástica podem atuar no sentido inverso
mantendo ou desenvolvendo desequilíbrios tensionais preexistentes. há, no caso,
uma estreita ligação entre esse posicionamento e a orgonoterapia de reich (vide
referências adicionais no capítulo 3).

técnicas sugestivas e hipnóticas

a sugestão sempre exerceu papel terapêutico e suas aplicações remontam


à antigüidade, inclusive no que se refere à influência de agentes extraterrenos ou
místicos de que falaremos mais adiante.
um dos procedimentos conhecidos, proposto por coué (1936) e,
posteriormente, desenvolvido por outros autores, consiste em levar o cliente a
repetir que, dia-a-dia, acha-se melhor, bem melhor, praticando pouco a pouco um
processo de encorajamento pessoal e de confiança em si. o treinamento autógeno
(schultz, 1959), forma mais atualizada de aplicação do método, combina a auto-
sugestão com o relaxamento.
a hipnose, geralmente usada como método auxiliar, teve seu valor
redescoberto recentemente como procedimento válido e autônomo (erickson,
1947). É útil em várias situações, principalmente na remoção de sintomas que
facilite posterior introdução de outros agentes terapêuticas. várias considerações
sobre hipnose são encontradas em spiegel (1978), em moraes passos (1975), nos
já mencionados trabalhos de erickson e em wolberg (1977).

arteterapia

inclui grande variedade de ações no campo da música, pintura, escultura,


literatura, bem como na expressão corporal (dança, ginástica, artes marciais,
exercícios grupais), seja como trabalho terapêutica individual ou em grupo, como
redutor de tensões (música no trabalho, na escola, em hospitais, etc.). há
trabalhos pioneiros como os de licht (1946) sobre música, de may (1941), de rosen
(1957) e de schoop (1974) sobre dança. relaciona-se, em alguns aspectos, com a
terapia ocupacional e com outras técnicas terapêuticas.
a dança-terapia e o uso do movimento corporal ver:j. sendo bastante
utilizada na redução de tensões, no desenvolvimento motor e afetivo. segundo
afirma serra (1981), coube à laban (1950) abrir caminhos novos com base na
qualidade do movimento e a kestenberg (1967) enfatizá-los no desenvolvimento
das estruturas psíquicas da criança. há; nestes casos, íntima relação com as
terapias de manipulação corporal citadas em item anterior. vários programas de
atividades artísticas vêm sendo desenvolvidos com doentes mentais que incluem,
principalmente, a criatividade e a recuperação da própria identidade. nessa área
destaca-se o trabalho de j.m. erikson (1976).

ludoterapia

aplicada principalmente em crianças, pode ocorrer sob várias orientações


terapêuticas, sejam freudianas, rogerianas, comportamentais, ou outras. utiliza-se
das expressões livremente ensejadas pelos participantes ou decorrentes de jogos
e situações provocadas pelo terapeuta. baseia-se na acepção de que os
sentimentos livremente expressos são importantes para a criança,
independentemente do que diga ou faça, embora haja limites que lhe permitam
ajustar-se à realidade e torná-la consciente de sua responsabilidade na relação
estabelecida com pessoas e objetos (axline, 1980; gondor, 1954). encontra-se em
schaefer (1976) amplo estudo sobre o uso do jogo infantil para finalidades
terapêuticas no qual o autor especifica diferentes linhas doutrinárias.
biblioterapia

ocupa um lugar modesto no arsenal terapêutico, discutindo os psicólogos


seu uso e seus efeitos. consiste em um procedimento livre ou dirigido de leituras
que propiciam ao cliente informação, instruções e encorajamento como, também,
meios de reflexão e de auto-análise. um dos inconveniente é não permitir o
diálogo podendo, em certos casos, conduzir o cliente a interpretações
inadequadas de sua situação. menninger (1937) e schneck (1945) foram alguns
dos poucos especialistas que, em anos passados, tentaram sistematizar a
literatura sobre esse procedimento.

semântica

consiste em rever, comentar e explorar o sentido de palavras e expressões


que o cliente usa para se conceituar ou para explicar suas frustrações e conflitos.
os esclarecimentos lingüísticos permitem reduzir ou eliminar as ilogicidades de
pensamentos, atos e conceitos codificados pela linguagem. os símbolos
lingüísticas são revistos e analisados em função das aspirações e necessidades
da pessoa e da maneira como ela reage a esses conceitos. korzybski (1941) é
considerado o pioneiro do método.

modificação do comportamento

as teorias e os procedimentos subordinados à teoria comportamentalista


seguem, com algumas variações, o esquema tradicional da psicologia
experimental e de seus estudos no campo da psicologia da aprendizagem, já que"
aconselhando, orientando, intervindo na conduta, o psicólogo ou terapeuta visa
modificar comportamentos existentes e promover a instalação ou aprendizagem
de outros. a expressão "modificação do comportamento" ("behavior modification")
tem prevalecido como título dessa nova abordagem, ainda que pareça imprópria,
eis que todo processo de aconselhamento ou de psicoterapia tem como alvo
modificações comportamentais.
os estudos e preocupações com as mudanças de comportamento,
entendidas como tais as respostas a certos estímulos, podem ser, sob nomes e
situações diversas, localizados nas mais longínquas épocas, desde que o homem
tenha modificado sua conduta face aos resultados ou conseqüências que sente ou
observa. os estudos de laboratório datam, porém, do século passado dentre os
quais os de ebbinghaus e de thotndike. posteriormente, pavlov, hull e outros
pesquisadores ofereceram novas contribuições até que, com watson (1930),
skinner (1938, 1967,1968), bandura (1961), lazarus (1971,1972,1977) e outros
especialistas do campo, as implicações teóricas e práticas alcançaram quase
todos os domínios da psicologia, inclusive o aconselhamento e a psicoterapia,
ramificando-se em teorias e ações suplementares e, por vezes, um tanto
divergentes entre si. o corpo teórico básico permanece, embora, para muitos, seja
inaceitável, como foi a teoria psicanalítica no começo do século xx. estudos,
comentários e análise de resultados da terapia comportamental são fartamente
apresentados em numerosas publicações das quais se destacam as de eysenck
(1952, 1960), de hersen e outros (1979) e de franks e wilson (1980).
o princípio básico da teoria comportamentalista é o de que o
comportamento humano, como o dos animais, é função de fenômenos que o
precederam, isto é, de antecedentes que facilitam, dificultam ou impedem o
surgimento de uma dada resposta. É claro, também, que essa mesma resposta
pode ser afetada por fatores constitucionais, inatos, não observáveis o que,
todavia, não invalida o princípio geral. as conseqüências de um comportamento
podem, também, modificar a ocorrência de outro, do qual é um antecedente.
manipular os antecedentes, os conseqüentes e os mediadores (processos
encobertos, não diretamente observáveis) torna, pois, o comportamento passível
de mudança.
os seguintes princípios teóricos e práticos são geralmente aplicáveis às
situações de aconselhamento e de psicoterapia:
a) o comportamento é função do ambiente. controlamos e somos
controlados. os eventos que ocorrem em torno de nós modelam o nosso
comportamento. o controle ocorre principalmente pelo reforço e pela punição.
b) o comportamento é aprendido quando, ao ocorrer, é de alguma forma
“recompensado”. a expressão “reforço” significa recompensa ou gratificação.
c) se a uma resposta casual ou espontânea seguir-se um estímulo
reforçador, a força dessa reação (resposta) será aumentada; se não o for, sua
freqüência, no futuro, será menor. as respostas, reforçadas ou não, terão, assim,
maior ou menor probabilidade de ocorrer no futuro.
d) há reforços positivos e negativos. os primeiros consistem na
apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa à situação, tal como
alimento. água, contacto sexual, etc. os outros consistem na remoção de algo
perturbador, por exemplo muito barulho, luz intensa, choque elétrico, frio ou calor
intenso, etc. além destes, há reforços secundários ou estímulos que, associados
aos anteriores, atuam como eles.
e) enquanto o reforçamento torna as respostas mais freqüentes, sua falta
ou ausência extingue a resposta.
f) a conseqüência da retirada do reforço positivo é uma redução na
freqüência das respostas, e a conseqüência da remoção de algo desagradável
(reforço negativo) é um aumento dessa freqüência.
g) para que sejam eficazes os estímulos reforçadores, é preciso que eles
surjam logo após a resposta casual ou espontânea. um intervalo maior do que
alguns segundos pode reduzir de muito o efeito reforçador. o reforçador deve
ocorrer exata e imediatamente após a concretização do comportamento a ser
aprendido. caso isso não se verifique, um comportamento diferente pode instalar-
se.
h) o ato de aprender é uma modelagem paulatina do comportamento
através de reforços. estes podem ser usados e planejados na situação de
aconselhamento e terapia de várias maneiras, usando-se intervalos e meios para
discriminar e generalizar.
i) mudar o comportamento é mudar as conseqüências e rearranjar as
“contingências do reforçamento”.
j) a aprendizagem ou mudança comportamental ocorre através de quatro
tipos de processos:
- discriminação
- generalização
- encadeamento
- modelação.

k) o comportamento seguido de conseqüências reforçadoras (recompensa)


tem maior probabilidade de ocorrer novamente.
i) o comportamento seguido de conseqüências aversivas (punição) tem
menor probabilidade de ocorrer novamente, mas a força relativa da punição em
alterar o comportamento é pequena, comparada com a força do
reforçamento positivo.
m) o comportamento que não for reforçado tende a se extinguir.
n) confirmar ao cliente que ele modificou seu comportamento em direção a
um resultado desejado é reforçador para ele.
o) a principal diferença entre os que aprendem é a rapidez com que ocorre
a aprendizagem, não a maneira como ela ocorre.
p) uma das contingências de reforçamento mais importantes é o tempo que
medeia entre o comportamento e o reforçamento. quando as conseqüências
positivas ocorrem imediatamente após o comportamento, as probabilidades de
que este venha a ocorrer novamente são maiores do que se houver uma demora.
q) a transferência do comportamento de uma situação para outra depende
de provocá-lo na situação mais próxima possível da realidade que se quer atingir.
r) outra contingência importante é o esquema de reforçamento, isto é, a
conseqüência intermitente ou contínua. o mais eficiente para instalar novos
comportamentos é o esquema de reforçamento contínuo (que ocorre sempre após
a emissão da resposta), e para manutenção do comportamento é o esquema
intermitente (que ocorre de vez em quando sem que a pessoa saiba quando
ocorrerá, mas espera que ocorra).
s) o intervalo entre os reforços é importante. em geral é mais eficiente
iniciar reforçando o comportamento toda vez que ele ocorra e, a seguir, deixar de
reforçar em algumas ocasiões. passa-se depois a reforçar ao acaso de maneira a
manter-se o comportamento desejável.
t) finalmente, para que o comportamento possa ser instalado, é preciso
que o cliente emita esse comportamento.

as aplicações desses princípios em situação de aconselhamento ou terapia


exigem muitas situações previamente programadas: terapeuta e cliente procuram:
a) identificar o comportamento que se quer instalar; b) determinar o critério ou
nível de realização adequado ou desejável; c) criar condições em que apareça o
comportamento desejado e os reforçadores adequados; d) aplicar o esquema de
reforçamento mais adequado; e) escolher situações que mais se aproximem: do
real; f) minimizar a possibilidade de erros ou punições; g) criar um procedimento
para a ocorrência da resposta desejável e verificar a manutenção desse
comportamento.
fé, misticismo, parapsicologia e áreas correlatas

neste conjunto de recursos, condenado por muitos, aceito por outros, mas
aberto a conjecturas, haveria que distinguir algumas posições principais, a saber:
1) procedimentos que, embora sob denominações diversas, incluem-se no campo
da fisiologia e da psicologia convencional ou da ciência em geral; 2)
procedimentos relacionados com doutrinas ou práticas não ortodoxas, baseados
em “forças” ou agentes sobrenaturais; 3) procedimentos parapsicológicos que
incluem parte do primeiro grupo, parte do segundo e fenômenos ainda pouco
esclarecidos.
a primeira posição pouco acrescenta, do ponto de vista científico atual, aos
procedimentos que a ciência dispõe; apenas muda-se de nome e tenta-se criar
uma doutrina própria. o ritual que os acompanha é, geralmente, parte de um
revigorante influxo sugestivo ou um processo bem elaborado de condicionamento
operante e, desse modo, produz resultados. podem ser incluídos neste grupo: o
hinduísmo, para estados de tensão e que compreende, em geral, relaxamento
muscular, meditação e, depois, concentração em soluções objetivas para os
problemas; a yoga, uma variante do hinduísmo que visa ao autocontrole, em
vários estágios; o budismo, que busca o controle de todos os desejos e o domínio
de si mesmo como técnica para eliminar sofrimentos; o zen-budismo, baseado na
intuição e na iluminação, na procura de maneiras diferentes de solver problemas;
muitas técnicas orientais, influências astrais e de fenômenos da natureza (barter,
1967).
a meditação, outrora pertencente apenas ao campo do comportamento
esotérico, próprio de certos rituais orientais, é hoje um procedimento aplicado
como recurso terapêutico básico ou associado a outros métodos. maupin (1965) é
considerado um dos pioneiros nas investigações e aplicações experimentais do
método. deikman (1966), paralelamente, relata que a meditação pode induzir a
pessoa a libertar-se de estereótipos mentais e atingir formas mais agradáveis de
encarar as realidades existentes.
a meditação pode relacionar-se, no plano teórico ou operacional, a outros
procedimentos, tais como o treinamento autógeno, de schultz, à yoga, à auto-
regulação do processo cerebral e aos processos genéricos de tomada de
consciência (chang, 1978): estudos citados por hart e tomlinson (1970) indicam a
ocorrência de mudanças fisiológicas devidas à meditação e que a pessoa “pode
aprender a controlar suas ondas mentais” (p. 588). dizem os mesmos autores que
“se o homem puder aprender a controlar sua própria consciência, através da
combinação de antigas técnicas com a moderna tecnologia, estaremos entrando
em uma nova idade cultural” .
a meditação lembra, ainda, a terapia morita (chang, 1978) e implicações em
áreas correlatas tais como a percepção do próprio eu, um recurso para entender a
consciência e o uso de processos subjetivos para controle mental. infelizmente,
há poucas pesquisas significativas sobre tão fascinante campo e muitos
métodos e técnicas são, apenas, comercialmente explorados.
na segunda posição podem ser encontrados certos cultos e crendices com
grande variedade de atuações físicas, materiais e espirituais; pode incluir
superstições, magias e correlatos.
embora a dimensão do transcendente em terapia não seja ignorada pela
ciência psicológica, sua deturpação sob a forma de rituais exóticos é francamente
questionada pelos riscos que a obsessão e a compulsão podem acarretar.
sacrifícios pessoais e atos anti-sociais podem ter origem em posições místicas
inabaláveis. muitos líderes carismáticos, atuando sobre pessoas emocionalmente
imaturas ou em extremos graus de ansiedade ou sofrimento, podem converter-se
em “agentes” de cura ou de solução de problemas. o culto de imagens, de
pessoas vivas ou mortas, de gestos, de palavras e de hábitos, bem como as
expiações deliberadamente impostas e deliberadamente aceitas, inclusive
autotortura e flagelamento, em funções de certos “deuses” ou símbolos mágicos, é
atuação comum notadamente em povos primitivos e nos habitantes
marginalizados de grandes concentrações urbanas.
os sistemas com base na fé podem produzir curas, seja por efeitos
sugestivos, seja por modificação biopsíquica resultante de redução de tensão, seja
por outros fenômenos ainda não totalmente explicados. neste grupo encontram-se
toda sorte de ações, inclusive as que ocorrem em sessões espíritas.
em uma terceira posição encontra-se um conjunto de fatos e de atuações
na área da parapsicologia e, a julgar pelos dados existentes até o momento,
segundo a maioria dos autores, “os fenômenos parapsicológicos, na realidade,
não passam de fenômenos psicológicos” (ribas, in amadou, 1969). embora essa
afirmação tenha certo conteúdo de verdade, não se pode negar a existência de
outros fenômenos (as funções psi) que não se acham, ainda, suficientemente
explicados pela psicologia comum ou científica.
É pensamento do autor que o aconselhamento e a terapia psicológica por
procedimentos parapsicológicos enquadram-se, embora não nominalmente, na
vasta gama de métodos e técnicas já conhecidos, principalmente nos
procedimentos reflexolôgicos, comportamentais, persuasivos e sugestivos. há que
se admitir, todavia, a possível ocorrência de eventos que, embora possam se
enquadrar no campo científico que conhecemos, ainda assim constituem áreas
que precisam ser consideradas e investigadas.
segundo amadou, a utilidade da parapsicologia consiste em permitir melhor
conhecimento da natureza psicológica e fisiológica do homem. “se a psicologia
profunda dá às manifestações paranormais o seu sentido pessoal e as recoloca no
seu contexto individual, em compensação a parapsicologia enseja aos analistas
não vaguearem acerca da interpretação de determinada manifestação paranormal
e os habilita a compreender e a fazer compreender melhor ao paciente seu próprio
inconsciente, permitindo-lhe que atue sobre ele” (amadou, 1969). em suma, não
nos parece haver, até o momento, suficientes razões para se acreditar em
métodos e técnicas exclusivamente parapsicológicas, com causas, procedimentos
e resultados próprios de um novo sistema psicológico. contudo, um estudo de
procedimentos nessa área é indispensável.

aconselhamento e terapia em processos de grupo

a literatura psicológica, em geral, cita pratt como pioneiro do trabalho em


grupo com finalidades profiláticas e terapêuticas, ao reunir tuberculosos, internos
de um hospital, nos estados unidos, em 1905, e levá-los a discutir seus problemas
de vida. moreno, em 1920, é também citado e, especialmente, kurt lewin, ao
propor, em 1947, os famosos “t-group” (grupos de treinamento). posterior mente
surgiram inumeráveis proposições sobre o assunto e estudos sobre os processos
grupais (foulkes, 1951; cartwright e zander, 1953; powdermaker e frank, 1953;
glanz e hayes, 1967; rogers, 1970; bion, 1974). há grande variedade de alvos e de
técnicas para aconselhamento e terapia em grupo e de grupo. algumas formas de
atuação têm objetivos claros e exclusivos; outros são semiconcentrados em
determinadas áreas ou assuntos; outros, enfim, deixam a direção e o conteúdo
dos assuntos a cargo do próprio grupo. do ponto de vista da estrutura e da
dinâmica grupal podem ser geralmente encontrados os seguintes estilos
operacionais*:
* vide parte final do capítulo 5
1. grupos orientados ou dirigidos, nos quais a discussão e as contribuições
dos participantes são concentrados pelo líder (monitor ou facilitador) em alguma
tarefa, sentimento ou atitude que constitua um alvo específico de interesse comum
do grupo ou de uma organização. tais grupos geralmente se associam ao contexto
sócio-cultural ou ambiental e têm, na maioria das vezes, uma finalidade
psicopedagógica, isto é, visam desenvolver comportamentos considerados úteis
ou necessários;
2. grupos de apoio ou de estímulo, destinados a encorajar e manter certas
atitudes e hábitos, bem como desestimular outros tais como o uso de drogas,
delinqüência, etc. são exemplos o a.a.a., para alcoólatras, o “synamon”, para
toxicômanos, os centros de valorização da vida e outros. geralmente concentram-
se na solução de problemas específicos.
3. grupos de livre iniciativa, dos quais os grupos de encontro são um
exemplo, bem como certos tipos de comunidade terapêutica. enfatizam a
liberdade de expressão e de experienciação, a melhora das relações interpessoais
e a redução de tensões.

os grupos variam também quanto a sua composição, duração e


instrumentação utilizada. podem ser abertos (para qualquer pessoa, em qualquer
momento) ou fechados (destinados a certas pessoas); podem ter duração ilimitada
e não programada ou, ao contrário, obedecer a rígidos limites de datas, horários e
locais; podem ser conduzidos em ambientes especiais ou não e podem utilizar
apenas a verbalização, ou as posturas e a abordagem corporal, bem como
leituras, atividades lúdicas, profissionais e de lazer ou entretenimento.
todos esses estilos, sua fundamentação teórica e sua técnica são aplicados
em diferentes situações tais como na terapia familiar, na terapia conjugal, na
terapia profissional, na terapia infantil (combinada com a ludoterapia), na terapia
de idosos, na terapia de doentes ou de pessoas segregadas nas prisões ou
instituições sociais e assim por diante. muitos dos processos grupais já adquiriram
nomes próprios, tais como psicodrama, a.a.a., grupo de encontro, etc.
sabem todos quantos operam em grupos que os comportamentos em
situação grupal podem ser muito distintos dos que ocorrem na relação diádica,
entre terapeuta ou conselheiro e cliente. embora possa parecer simples, mesmo
em grupos não dirigidos, o trabalho do terapeuta, ou de dois ou mais terapeutas
operando em conjunto, é um processo complexo. em geral, os grupos são
organizados e conduzidos (ou facilitados) de acordo com a fundamentação
doutrinária a que se filiam seus condutores ou facilitadores. há grande diferença
de procedimentos, por exemplo, entre as ações manifestas ou conduzi das em um
grupo liderado por um psicólogo comportamentalista e as decorrentes de um
psicólogo de formação freudiana, adleriana ou rogeriana.
além da diferenciação doutrinária que se caracteriza pelo tipo de
verbalização, interpretação ou intervenção do terapeuta, há, ainda, que considerar
dois alvos bem distintos: a) o grupo como alvo terapêutico e o grupo como agente
terapêutico na pessoa. o grupo sempre representa uma dimensão social que
envolve a. maneira como as pessoas se comunicam, como efetuam transações e
interagem em geral. pode haver, pois, uma concentração no plano coletivo, no
grupo como um organismo ou, por outro lado, com a pessoa e com a forma pela
qual responde ela à situação grupal. no primeiro caso temos a terapia de grupo;
no segundo a terapia em grupo. .
os efeitos das terapias em situação de grupo são difíceis de avaliar, dada a
extrema variedade de casos e situações. faltam dados concludentes sobre
composição de grupos, sobre sua duração e característica metodológicas. a
maioria dos autores concorda em que o grupo oferece apoio, estímulo e contacto
com a realidade e, nesses aspectos, sobrepõe-se à terapia individual.

5 - a revolução rogeriana no campo do aconselhamento psicológico e

da psicoterapia

síntese histórica

não é fácil identificar as origens do movimento que, em orientação,


aconselhamento psicológico e psicoterapia, marcaram as profundas mudanças
conceituais e operacionais ocorridas nos meados do século em que vivemos. os
conceitos sociais se encaminhavam no sentido de valorizar o homem, a pessoa,
seu ideais e seus direitos humanos e se verificava, paralelamente, em
observações do comportamento dos clientes e dos terapeutas, que os métodos
assistenciais para “desajustados “ para “ ansiosos” para “neuróticos” e até mesmo
para “psicóticos”, vítimas de rótulos tradicionais, herdados da longa tradição
psiquiátrica, atuavam melhor quando se respeitava as pessoas como elas são,
quando se evitava dirigi-las ou impor normas de conduta. o sentido de liberdade
do homem vem de longe e já a própria religião, na sua longa história, atribui ao
homem a faculdade do livre arbítrio, sem o que o pecado e a virtude não teriam
sentido. a antipsiquiatria e o existencialismo-fenomenológico (laing, 1963) nos
mostram o drama do ser humano pressionado por modelos e imposições sociais
que o alienam e o conduzem a comportamentos tidos como anormais ou
patológicos.
a procura de um alvo na vida e a auto-afirmação, como pessoa, o respeito
aos interesses e ao estilo de vida de cada um parecem ter surgido,
simultaneamente, em todas as esferas da atividade humana, como natural
explosão de repressões acumuladas durante séculos. passou-se de uma atitude
impositiva, reflexo de uma ciência fragmentária que ditava valores e métodos, a
uma concepção humanística na qual se colocava o organismo e a pessoa como
entidades dominantes em função das quais os fatos psicológicos e a conduta são
melhor explicados e compreendidos. nesse contexto tomaram forma as idéias de
carl rogers, a partir de seu revolucionário livro: counseling and psychoterapy:
newer concepts in practice (boston; h. mifflin, 1942).
a repercussão das idéias rogerianas pode, pois, ter ocorrido por representar
uma tendência que na época já germinava como, também, ser entendida como
uma gigantesca descoberta no campo psicológico. É provável que, em certos
limites, esses dois eventos tenham se agregado. e, como as novas idéias
constituíram um meio assistencial de que antes não dispúnhamos ou que
'substituíam antigos e inaceitáveis conceitos operacionais, a elas nos dedicamos,
como muitos psicólogos de todo o mundo. e, por esta razão, temos um capítulo
todo especial deste livro.
rogers descreve sua própria história e como se viu envolvido em métodos
revolucionários no campo da psicologia. diz ele que por mais de trinta anos foi
conselheiro pessoal ou psicoterapeuta, tentando ajudar crianças, adolescentes e
adultos,quer apresentassem problemas de estudos, de escolha de carreira, de
vida matrimonial; quer fossem normais, neuróticos ou psicóticos (pois para ele
esta última classificação indica, apenas, rótulos enganosos). escreveu carl rogers
vários livros e muitos artigos em revistas especializadas. estes últimos ascendem
a cerca de 140.
rogers é psicólogo e dedicou-se, essencialmente, aos trabalhos de
aconselhamento psicológico e psicoterápico, embora, na realidade, seja difícil
distinguir onde terminam uns e começam outros. seu interesse, como ele mesmo
declara, prende-se ao sofrimento e à esperança, à ansiedade e à satisfação que
se acham presentes na sala do conselheiro psicológico ou do terapeuta. dirige-se
às peculiaridades da relação que cada terapeuta desenvolve com seu cliente e,
igualmente, aos elementos comuns que descobrimos em todas essas relações.
concentra-se nas grandes experiências pessoais de cada um de nós; no cliente
que, no consultório, luta para ser ele próprio, ainda que com medo mortal de ser
ele mesmo, tentando ver suas experiências como elas são, desejando vivê-las e,
no entanto, profundamente temeroso do futuro.
interessante é notar que rogers defenda ardentemente os processos
terapêuticos em que predominam a permissividade e a total ausência de julga.
mento e de direção, com vida familiar, na infância e na juventude, marcada por
disciplina rígida e árduo trabalho. seus pais trataram-no e a seus irmãos como
filhos queridos, embora controlassem, zelosamente, o comportamento de cada
um. nada de bebidas alcoólicas, danças, jogos de cartas ou teatro. a vida social
era restrita ao mínimo e, em seu lugar, muito trabalho. a partir dos 12 anos, rogers
foi criado no meio rural onde, lendo e estudando agricultura, tomou contato com
métodos científicos, grupos de controle e grupos experimentais e aprendeu,
também, o quanto é difícil testar uma hipótese. essas são suas próprias
afirmações (rogers, 1961). .
rogers sentiu que estava se interessando por psicologia quando começou a
freqüentar cursos e conferências no teachers college, da columbia university, em
nova york. ainda em fase de completar seus estudos, empregou-se como auxiliar
numa clínica de crianças e, mais tarde, como psicólogo, em rochester, nova york.
aí passou 12 anos atendendo crianças delinqüentes e com problemas sócio-
econômicos, enviadas, em geral por agências e pelos juizados de menores.
faziam-se diagnósticos e “entrevistas” de tratamento, nos quais a preocupação
dominante era: “será que dá certo?”; “vale a pena?”. vários casos de delinqüência
ou de tendências anormais foram assistidos sem que se constatasse qual quer
recuperação. alguma coisa estaria errada ou ausente do trabalho psicológico. É
quando começa a lhe ocorrer a idéia de que os clientes, e só eles, é que
realmente sabem o que os traumatiza, que direções tomar, quais os problemas
cruciais. somente o cliente poderia, pois, oferecer a pista para o rumo a seguir.
ao trabalhar na universidade de rochester, passou rogers a alimentar
dúvidas sobre se era ou não um psicólogo, pois essa instituição deixou bem claro
que o trabalho por ele desenvolvido não era psicologia. seus contatos
subseqüentes, porém, no ramo psiquiátrico e de serviço social e sua filiação à
american association of applied psychology, permitiram-lhe sentir-se mais à
vontade no campo psicológico. convidado pela ohio state university, em 1940,
após a publicação de seu primeiro livro, clinical treatment of the problem child
(1939), começaram suas idéias a provocar discussões. dois anos depois, em
1942, publicou seu mais famoso livro, counseling and psychotherapy, cujas
vendas já ultrapassam a casa dos 70.000 exemplares. com esse livro, inicia-se
grande divulgação das idéias e técnicas que vieram transformar profundamente os
procedimentos até então vigentes, principalmente no campo da orientação e da
psicoterapia.
em 1951, no livro client-centered therapy, expande rogers suas idéias e
analisa melhor várias situações do processo terapêutico, concluindo por
apresentar uma teoria sobre a personalidade e o comportamento. em 1961,
publica on becoming a person, no qual insere, na mesma linha original, vários
fatos e conseqüências como ele os vê, decorrentes de seus princípios.
em 1965, com kinget, escreve rogers um livro extremamente prático sobre
os procedimentos da terapia rogeriana, aproveitando parte de seus trabalhos
anteriores. em 1969, rogers descreve seus métodos aplicados ao ensino e à
educação. em 1970, abordando o trabalho terapêutico com grupos, comenta
rogers os efeitos observados e as condições facilitadoras das mudanças operadas
nos clientes. sobre problemas matrimoniais relacionados com assuntos sexuais,
escreve rogers, em 1973, um livro em que expõe os sentimentos experimentados
por casais face a algumas variações no modelo clássico de vida matrimonial.
outros livros se segui ram, inclusive a pessoa como centro, escrito em português
com tradução e cooperação de rachel l. rosenberg, a qual, com o autor, organizou
e dirigiu serviços psicológicos de orientação rogeriana na universidade de são
paulo, a partir de 1967.
À vida profissional de rogers é marcada, ainda, por várias posições
profissionais, tais como as de professor da universidade de chicago, de 1945 a
1957, de professor da universidade de wisconsin, de 1957 a 1963, de membro
diretor do western behavioral sciences institute, em lajolla (.califórnia), a partir de
1964, e, finalmente, de membro fundador do center for studies of the person, na
mesma cidade.
seus livros são marcos históricos na evolução e desenvolvimento de idéias
humanísticas. muitas destas acham-se insertas em conferências e artigos de
revistas e jornais. todo esse conjunto de conceitos e de orientação terapêutica
tornou o método rogeriano muito conhecido e não menos discutido; passou a
impregnar, direta ou indiretamente, as atuações dos terapeutas de todas as
escolas; afetou os processos de orientação educacional e profissional e penetra,
agora, no campo filosófico, desenvolvendo idéia sobre o ser humano, sua
liberdade e suas possibilidades permanentes de vir a ser ele próprio.
embora alguns terapeutas ainda se conservem alheios ou cépticos em
relação ao método rogeriano, este progride mesmo no campo médico-psiquiátrico,
abalando técnicas tradicionais de outras correntes e até mesmo da psicanálise.
discípulos, colaboradores e seguidores existem em todos os países, inclusive no
brasil. em nosso país, os estudos sobre o método rogeriano tiveram início nos
cursos para formação de orientadores educacionais, sob a forma de disciplina
teórica. com a criação dos cursos de psicologia, a divulgação do método, do ponto
de vista teórico e prático, passou por grande desenvolvimento; coube-nos a
regência desses cursos na universidade católica de campinas, em 1958-1960, na
universidade católica de são paulo, de 1960 à 1964, e a partir dessa data na
universidade de são paulo. neste última, um centro de aconselhamento
psicológico, de orientação rogeriana, foi por nós criado em 1966, continuado,
depois, por rachei rosenberg, henriette morato e outros colaboradores.

idéias básicas e originais

as idéias de rogers têm suas raízes em muitas e diferentes fontes, das


quais a prática com clientes parece ser a mais significativa. não obstante, e como
ele próprio afirma, a terapia de otto rank, os trabalhos de jessy taft, de john levy e
de frederic allen são origens importantes. dentre os modernos analistas, horney
poderia ser citada (rogers, 1951).
rogers declara que o desenvolvimento de seu trabalho não teria sido
possível sem a apreciação dos impulsos inconscientes e dos complexos de
natureza emocional que constituíram a contribuição de freud. embora seu trabalho
tenha se desenvolvido de algum modo diferentemente dos pontos de vista
terapêuticos de horneye sullivan, ou de alexander e de french, mantém, todavia,
muitas linhas de interconexão com essas modernas formulações do pensamento
psicanalítico. por outro lado, a psicologia da gestalt teve, também, sua
participação e, assim, outras correntes, de forma que a terapia centrada no cliente
foi influenciada pelas teorias e técnicas atuais do campo clínico, científico e
filosófico que se acham presentes em nossa cultura.
segundo o próprio rogers descreve (1942), os novos conceitos têm alvos
completamente distintos dos anteriores. o indivíduo é o foco e não o problema. o
objetivo é facilitar o “crescimento” do indivíduo e não resolver problemas
específicos. É permitir que com maior independência e integração pessoais possa
ele próprio, o cliente, enfrentar não só o problema presente como os do futuro, de
forma mais adequada. não consiste em fazer-se alguma coisa para o indivíduo ou
induzi-lo a fazer algo; consiste, apenas, em liberá-lo para seu crescimento e
desenvolvimento normal. os conselheiros ou terapeutas são apenas facilitadores
desse crescimento. do problema o que importa são os aspectos emocionais e não
os intelectuais. salienta-se mais a situação presente que a passada. os padrões
emocionais de reação, aqueles que atuam no seu comportamento e que precisam
ser considerados mais seriamente, apresentam-se tanto no passado como no
presente. finalmente, a própria entrevista psicólogo-cliente ou terapeuta-cliente é,
em si mesma, uma experiência valiosa, uma experiência de crescimento. a
conseqüência básica desses conceitos é que, ao contrário de muitas outras
correntes, os alvos a atingir são os mesmos para todos os clientes, pouco
significando se se trata de um jovem com dificuldades de escolha de carreira, de
alguém com distúrbios psicossomáticos ou de pessoa com dificuldades
matrimoniais.
poder-se-ia afirmar que a técnica de rogers foi bem aceita porque, de certa
forma, libertou muitos psicólogos e orientadores da angústia gerada pelo fato de
não saberem o que fazer com os clientes. afeitos ao diagnóstico, mas não a
medidas para intervir no comportamento, vinham os conselheiros em busca de
algo que lhes sugerisse uma forma de atuar sobre o cliente, de intervir no seu
comportamento com vistas à recuperação, ao desenvolvimento ou à cura. rogers
ofereceu uma solução a esse crucial problema, dando-lhes um instrumento de
trabalho, permitindo que se transpusesse o profundo fosso entre o diagnóstico e a
assistência efetiva esperada pelo cliente ou por seus responsáveis, como
assinalamos no capítulo 1
o caráter marcante do método é a clássica não-diretividade, embora muitos
psicólogos questionem essa posição e a vejam como utopia ou algo inoperante.
em verdade, o não-diretivismo de rogers não é tão inconciliável quanto parece
com outros métodos. pesquisas diversas mostram ser possível utilizar uma
combinação de técnicas em benefício do cliente (barros santos, 1970, 1972).
além de sua contribuição doutrinária, baseada em experiências
assistemáticas iniciais com centenas de casos, abriu rogers as fronteiras das
entrevistas individuais, gravando-as e estudando-as. iniciou uma nova era na
investigação sobre o que ocorre nas sessões terapêuticas tentando, com os
poucos recursos disponíveis, introduzir julgamentos e avaliações por critérios que
não fossem só os do terapeuta envolvido nas sessões. em conseqüência,
pesquisas e experimentos dos mais variados tipos, sobre os fenômenos que
surgem na relação psicólogo-cliente, são hoje possíveis.
o método rogeriano, inicialmente absorvido por técnicas de diálogo na
entrevista, vem evoluindo em face do acúmulo de dados colhidos pelo seu criador
e por seus seguidores. as bases continuam, porém, as mesmas, ou seja:

1. o diagnóstico anterior ao tratamento é dispensável. o comportamento


psicológico inadequado é caracterizado por tensões que dificultam respostas
adaptativas. reduzir as tensões para que o indivíduo manipule seus recursos
pessoais é a orientação básica, qualquer que seja o problema enfrentado pelo
cliente.
2. o indivíduo tem tendências pessoais, próprias, de auto-realização. o
trabalho do terapeuta é libertar o indivíduo das barreiras psicológicas que
impedem esse crescimento. para tanto, deve criar uma atmosfera isenta de
pressões, críticas ou direção, na qual as forças construtivas são liberadas.
3. os conceitos e as imagens que o indivíduo faz de si e dos outros pautam-
se pelo esquema fenomenológico. o mundo é, para ele, aquilo que ele sente.
durante o processo de tratamento, psicólogo e cliente tornam-se capazes de
reconhecer o que representa para este o conceito de si mesmo e como se sente
em face dessa imagem de si mesmo. no tratamento bem sucedido, essa imagem
e os sentimentos que a acompanham são modificados; as percepções se tornam
mais flexíveis; os sentimentos podem ser diferenciados e as experiências
simbolizadas adequadamente.
4. a tarefa do terapeuta concentra-se, principalmente, em atitudes.
veremos, mais adiante, como o próprio rogers descreve essas atitudes básicas
como condições para modificações construtivas da personalidade.
5. o psicólogo não dá conselhos, informações ou apoio, nem interpreta.
como facilitador, reflete e vi vencia tanto quanto possível os sentimentos do
cliente. este deve sentir as relações entre seus problemas e sua experiência
passada e presente. estas, sentidas e simbolizadas, assim como planos de ação e
tentativas de ajustamento, emanam naturalmente do cliente, sem qualquer
atuação direta, nesse sentido, por parte do psicólogo. o indivíduo recompõe suas
percepções e a vivência de seus sentimentos.
embora a compreensão do pensamento rogeriano seja relativamente
fácil, não o é sua aplicação orientadora ou terapêutica. alguns a confundem com
uma permissividade equivalente ao endosso ou aprovação de comportamentos
social ou pessoalmente prejudiciais; outros, com uma excessiva neutralidade que
conduziria a um relacionamento “frio e distante”; outros, ainda, com uma
superficialidade de tratamento.
É usual nos clientes, nos seus pais ou responsáveis e no próprio
público a expectativa de que a orientação inclua sugestões, indicações, lembretes,
informações e conselhos. se é verdade que em certos casos tais procedimentos
são válidos, na maioria das situações essas técnicas são inócuas ou, às vezes,
prejudiciais. se tais conselhos fossem úteis na modificação do comportamento, a
conduta humana poderia ser facilmente modificada; os delinqüentes poderiam ser
recuperados com bons conselhos; os doentes mentais poderiam ser tratados com
informações e indicações que lhes mostrassem e indicassem comportamentos
“normais”; as situações de ansiedade e de dúvida poderiam ser resolvidas com
informações adequadas.

infelizmente muitos orientadores, e mesmo psicólogos, supõem que


recomendações e advertências são sempre necessárias. acreditam que se deva
“fazer alguma coisa pelo cliente” e confiam nos seus informes e sugestões como
sendo um produto concreto e final de sua atuação. muitos desses profissionais
assim agem por ignorância dos processos psicológicos, outros porque
emocionalmente sentem necessidade de dirigir e guiar, outros, enfim, porque se
sentem ameaçados pela crítica do cliente quando este não recebe indicadores
concretos e objetivos. para reduzir suas próprias tensões, acabam dando
conselhos ou atuando de forma paternalista com a impressão de que assim
agindo atuaram corretamente.
manipular as expectativas do cliente, dos pais, de professores e de outros
elementos envolvidos na orientação do caso não é fácil. requer profunda
habilidade psicológica do facilitado r no sentido de demonstrar suas técnicas de
atuação e de levar o cliente a obter os efeitos desejáveis. informar, previamente, o
cliente sobre a maneira de agir seria incorrer na mesma falha; dizer-lhe que não
há recomendações, sugestões ou conselhos pouco ou nada adiantaria. precisa o
cliente sentir, por si mesmo, a forma de atuar do facilitador, orientador ou do
psicólogo, não no sentido de que a responsabilidade das decisões lhe pesará
agora mais do que antes, mas no clima em que os problemas serão evocados e
juntos - cliente e conselheiro - vão ambos senti-los e estudá-los sem pressões ou
soluções externas.
É tão grande a expectativa de “guias” e “direções”, “resultados” e
“pareceres” , que a maioria dos clientes se refugia nesses dados de forma
profunda, não obstante eventuais informações do conselheiro sobre o
procedimento a adotar. podem os clientes sentir-se logrados, insatisfeitos,
desgostosos com as atitudes de conselheiros contrárias a essas expectativas.
essa frustração pode durar uma ou mais sessões e pode levar muitos clientes a
pensarem que o orientador ou nada sabe ou é um charlatão. todavia, se as
sessões psicológicas forem adequadamente conduzidas, esse sentimento
desaparecerá facilitando opções ou mudanças construtivas.

rogers, em vários de seus trabalhos, discute as condições que, no seu


entender, facilitam o desenvolvimento psicológico e, em conseqüência, seu
ajustamento ou sua recuperação. inicialmente, diz rogers, (e isto é comprovado
por pesquisas) os “terapeutas, que realmente ajudam seus clientes, manifestam
algo de comum entre si. essa verificação, como era de prever, demonstrou notável
interesse em todos os campos terapêuticas. a hipótese original é a de que
modificação da personalidade do cliente ocorre não em virtude da qualificação
profissional do terapeuta; não por causa de seu treinamento ou filiação doutrinária;
não por motivo de suas técnicas de entrevista; não por ser hábil em interpretar,
mas, essencialmente e somente, por causa de certas características de atitude
que se formam na relação com o cliente” (rogers, 1965b).
os clientes aparecem para terapia com uma desconcertante variedade de
problemas e uma enorme gama de características pessoais; enfrentam os
terapeutas, que, de outro lado, demonstram larga diversidade de vistas com
relação ao que será útil como terapia exibindo, também, diversas características
de personalidade no contato com seus clientes. todavia, subjacente a toda essa
diversidade, parece ser possível distinguir um processo básico no relacionamento
que permite a ocorrência de alterações terapêuticas ou construtivas na
personalidade do cliente.

as condições terapêuticas essenciais


rogers (1957) concentrou suas preocupações em torno das atitudes que
devem ser desenvolvidas se quisermos, realmente, promover alterações benéficas
na personalidade do cliente. três condições são necessárias por parte do
psicólogo ou terapeuta*:
* grande parte deste capítulo contém frases e expressões do próprio rogers,
transcritas pelo autor com pequenas alterações. as três condições básicas
apresentadas em 1957 são repetidas, posteriormente, em outros trabalhos

a) congruência e autenticidade
É a relação genuína e sem fachada. o terapeuta é o que é, plenamente
aberto aos sentimentos e atitudes que “naqueles momentos fluem nele próprio”. e
chamada de congruência e significa, também, que o terapeuta é capaz de dispor
dos sentimentos que nele próprio ocorrem, acessível à sua percepção e apto a
comunicá-los, se necessário. não se nega a si mesmo.
a congruência é maior na medida em que ele, terapeuta, seja capaz de
ouvir, com plena aceitação, o que ocorre em si mesmo e de vivenciar, sem medo,
a complexidade de seus sentimentos.
na vida diária sentimos essa situação. há pessoas que nunca são elas
mesmas; operam sob uma máscara ou fachada: dizem coisas que não sentem,
são incongruentes e dificilmente com elas nos abrimos. confiamos, porém,
naquelas que são o que são, sem a fachada de polimento ou de profissão.
diz rogers que tem sentido uma confirmação clínica e experimental dessa
hipótese. os terapeutas melhor sucedidos no lidar com clientes não-motivados,
resistentes, doentes crônicos, pobremente educados, são os que, antes de tudo,
são reais; que reagem de uma forma genuína, que exibem essa autenticidade e
que são assim percebidos pelo cliente. ser congruente pode significar, às vezes,
exprimir aborrecimento, preocupação ou frustração no relacionamento com o
cliente, mas de forma tal que este sinta que isso parte do próprio terapeuta e não
dele, cliente. eis por que técnicas psicoterápicas tão diversas podem ser efetivas
na medida que haja essa condição de congruência, ainda que atingida de maneira
diversa (rogers, 1965b ).

b) consideração positiva incondicional

esta segunda condição significa estar o psicólogo ou terapeuta vivenciando


atitudes positivas de aceitação e de calor humano para com o cliente. envolve a
genuína boa vontade do terapeuta para com tudo que se passa na relação com o
cliente, seja medo, confusão, sofrimento, orgulho, cólera, ódio, amor ou coragem.
o terapeuta vê o cliente como um ser com potencial e reações humanas. preza o
cliente de um modo tal que não aprova, nem reprova. É o sentimento positivo, sem
reservas e sem julgamento.
rogers diz que não se precisa ser profissional para sentir a efetividade
dessa atitude. menciona, como exemplo, o caso de gladys, hospitalizada como
psicótica durante muitos anos e que começou a melhorar quando uma família
começou a recebê-la em sua casa, sem se importar com seus defeitos, aceitando-
a sem julgá-la, criticá-la ou guiá-la. disse gladys certo dia: “eles (a família) me
ajudaram mais do que qualquer médico. naturalmente os médicos ajudam
também. mas eles agüentaram mesmo quando eu lhes era desagradável e dizia
coisas que não devia” (rogers, 1965b).
o exemplo não é uma história incomum. muitos casos se lhe assemelham.
o significativo, porém, é que, pouco a pouco, o amor, o carinho, sem tutela ou
guia, por essa jovem, transformou uma alucinada psicótica em alguém com boas
possibilidades de sucesso fora do hospital. o casal que a aceitou deixou claro à
cliente que eles a compreenderiam ainda que seu comportamento fosse estranho
ou denotasse rejeição. foi um respeito positivo incondicional que, gradualmente,
modificou sua vida e sua personalidade. É essa uma das atitudes que torna efetivo
o terapeuta.

c) compreensão empática do cliente

significa ter o terapeuta senso do .mundo interno e das significações


pessoais do cliente como se fosse, ele próprio, seu próprio mundo, mas sem
perder esse “se”. sentir sua cólera, seu medo ou seus sentimentos de perseguição
como se fosse ele mesmo e, entretanto, sem que o terapeuta se sinta
completamente envolvido por eles. quando o mundo do cliente é claro ao
terapeuta, este pode mover-se nele livremente, podendo comunicar sua
compreensão do que já é conhecido ao cliente e falar, também, dos significados
das experiências pessoais que o próprio cliente pouco percebe.
este tipo de empatia é extremamente raro. não recebemos nem oferecemos
tal atitude com grande freqüência. em seu lugar, costumamos dizer mais ou
menos assim: “entendo o que está errado com você” ou “entendo porque você age
dessa maneira”. tais compreensões envolvem julgamentos. quando porém, o
cliente sente que alguém entende seus sentimentos, sem desejar analisá-los ou
julgá-los, pode florir e crescer nesse clima. quando o terapeuta pode perceber o
que se passa de momento a momento, no mundo interno do cliente, como este vê
e sente, sem perder sua própria identidade, nesse processo de empatia, então a
modificação é possível de ocorrer.
a menos que o cliente já tenha percebido as atitudes do terapeuta, acima
descritas, é necessário que a transmitamos de alguma forma, pois só assim a
autenticidade, a aceitação e a empatia podem produzir ou facilitar as modificações
desejáveis. esta é a condição por parte do cliente.

a hipótese essencial segundo rogers

rogers repete que a modificação construtiva da personalidade surge


somente quando o cliente percebe a experiência, no clima psicológico, de sua
relação com o terapeuta. os elementos desse clima não consistem em
conhecimentos, treinamento intelectual, orientação doutrinária em psicoterapia ou
em técnicas especiais. são sentimentos ou atitudes que devem ser
experimentados pelo terapeuta e percebidos pelo cliente.
outro aspecto da hipótese é que ela pode ser verificada através dos termos
em que foi formulada, de modo a se descobrir até que ponto as qualidades
previstas no relacionamento terapeuta-cliente são ou não fatores causais na
produção das alterações previstas pela psicoterapia. .

rogers reconhece que suas idéias e atitudes são extremamente criticáveis e


que os outros também as vêem desse modo. as hipóteses, porém, quando
colocadas em termos operacionais, permitem o recurso aos fatos para verificar se
são verdadeiras, falsas ou parcialmente verdadeiras.
empiricamente, as hipóteses foram testadas de várias maneiras:

a) estudos de halkides (hart e tomlinson, 1970), referentes à análise da


conversação entre cliente e terapeuta, revelaram ser as três condições
(congruência, consideração positiva incondicional e empatia) associadas aos
casos melhor sucedidos sob o ponto de vista terapêutico. por outro lado, a
intensidade emocional das expressões dos clientes não se correlacionou,
significativamente, com as outras condições ou com o grau de sucesso.
b) barret-lennard (rogers, 1965), utilizando-se de um inventário dirigido ao
cliente e ao terapeuta, para pesquisa da maneira pela qual um e outro percebiam
a relação terapêutica, concluíram o seguinte:

1. os clientes que mostraram melhor alteração terapêutica perceberam


melhor as atitudes propostas por rogers;
2. a correlação entre a percepção, pelo cliente, das atitudes propostas e o
grau de alteração foi maior do que a correlação entre a percepção do terapeuta e
o mesmo grau de alteração. tais dados significam que o mais importante é o fato
de o cliente perceber a autenticidade, o respeito e a empatia manifestados pelo
terapeuta;
3. a percepção das atitudes propostas ocorre com mais facilidade nos
terapeutas mais experientes e nos clientes menos desajustados.
c) no que se refere à psicoterapia com esquizofrênicos, rogers verificou
que:

1. os esquizofrênicos percebem as atitudes propostas em nível muito mais


baixo do que os neuróticos;
2. na medida em que o esquizofrênico percebe as atitudes, melhores são
as possibilidades para uma ação terapêutica;
3. quanto maior for o grau de empatia e de congruência, tanto maior será o
índice de interação do cliente com outras pessoas;
4. os clientes envolvidos por essas atitudes-demonstram maior grau de
alterações construtivas da personalidade e, ainda mais, os que participam de uma
relação terapêutica pobre em compreensão empática demonstram agravamento
de sua patologia esquizofrênica.
outros trabalhos e pesquisas, citados por rogers ou por outros psicólogos e
psiquiatras, embora não possam ser concludentes, quer pelo reduzido número de
casos, quer pelo esquema operacional com que se tratou a hipótese, são dados
informativos análogos aos que, habitualmente, se coleta na medicina e em outras
áreas. a dificuldade de se medir modificações emocionais é de todos conhecida e
constitui o mais sério entrave a qualquer pesquisa nesse campo (truax e carkhuff,
1970).
os primeiros estudos realizados, dos quais apenas alguns foram
citados,demonstraram, segundo rogers, que:

1. É possível estudar as relações entre causa e efeito em psicoterapia. e,


se as conclusões se confirmarem, havemos de pensar que, realmente, o que
caracteriza a psicoterapia são as atitudes do terapeuta, ou seja, o clima
psicológico que este cria;
2. É possível prever, com certa base nos fatos, que a relação percebida
pelo cliente como sendo de alto grau de congruência ou autenticidade do
terapeuta, de sensível e acurada empatia, de alto grau de consideração, respeito e
estima e de sua aceitação incondicional, terá grandes possibilidades de tornar-se
uma efetiva relação terapêutica. isto se aplica tanto a neuróticos que procuram o
psicólogo por sua' própria iniciativa, como também àqueles que não apresentam
desejo consciente de ajuda;
3. a relação terapeuta.cliente, tal como existe fenomenologicamente,
apresenta associação significativa com a mensuração objetiva das alterações
ocorridas no cliente. seria o caminho para uma ciência das experiências internas,
a medida das pistas ou das reações que conduzem ao mundo subjetivo do cliente;
4. julgando-se o relacionamento que se estabelece entre terapeuta e
cliente, pode-se prever se os contatos estabelecidos serão ou não produtivos;
5. desejando-se especialistas eficientes em seu relacionamento, devemos
nos concentrar menos no estudo do comportamento anormal, teorias
psicoterápicas, teorias da personalidade, treinamento no diagnóstico e mais em
dois grandes objetivos:

i) selecionar previamente os futuros psicólogos e psiquiatras que tenham as


qualidades potenciais aqui descritas como necessárias ao terapeuta;
ii) realizar programas de formação educacional de sorte que as pessoas
assim selecionadas desenvolvam suas qualidades.

infelizmente, diz rogers, os programas atuais de psicologia ou de psiquiatria


agem em sentido contrário, dificultando ao psicólogo ser ele próprio,
sobrecarregando-o com uma bagagem teórica que o torna menos apto a entender
o mundo íntimo de outra pessoa. o essencial não são os conhecimentos técnicos,
mas as qualidades pessoais do terapeuta; não o que ele conhece, mas o que ele
vivencia.

a dinâmica do processo

diz rogers (1961), “mas o que faz a pessoa mudar para melhor, quando
durante um certo período mantém contato com um terapeuta que aplica as
condições previstas?”
respondendo, diz que as reações do cliente são uma recíproca das atitudes
do terapeuta. primeiramente, como o cliente encontra alguém que ouve, em
atitude não-crítica a seus sentimentos torna-se, pouco a pouco, apto a ouvir a si
próprio. começa a receber comunicações de dentro de si mesmo; percebe que
está zangado; reconhece quando se acha amedrontado ou, apesar disso,
corajoso. À medida que se torna mais aberto ao que ocorre em si mesmo, passa a
ouvir os sentimentos que antes negava ou reprimia. passa a perceber os
sentimentos que lhe pareciam tão terríveis, desorganizadores, anormais ou
vergonhosos e que, anteriormente, não fora capaz de reconhecer. enquanto
aprende a ouvir a si mesmo, torna-se capaz de aceitar-se melhor. expressa, cada
vez mais, os aspectos desagradáveis e escondidos de si mesmo. lentamente, ao
verificar as atitudes de consistência e de consideração positiva e incondicional do
terapeuta, passa a tomar as mesmas atitudes para consigo, aceitando-se e
reconhecendo-se tal como é e, portanto, pronto a mover-se para frente, no
processo de amadurecimento. sente-se capaz de retirar as fachadas que tem
usado, eliminar certas defesas e abrir-se ao que realmente é.
o cliente, ao passar por esse processo, move-se em um continuum. vai do
estado no qual os sentimentos são irreconhecíveis, impessoais, inexpressos, para
um fluxo no qual cada sentimento é experienciado no momento, percebido, aceito
e adequadamente expresso. inicialmente, o cliente está distante de sua própria
experiência. um exemplo bem claro é o das pessoas que intelectualizando- falam
sobre si mesmas de forma abstrata, deixando quem as ouve sem saber o que se
passa nelas mesmas. dessa distância, move-se o cliente para uma experiência
imediata, na qual vive abertamente essa mesma experiência e começa a saber
que pode voltar a seus sentimentos e descobrir seu significado.
o processo envolve uma liberação dos mapas cognitivos da experiência.
partindo de experiências construídas de forma rígida, percebidas como fatos
externos, dirige-se o cliente para uma situação moldável que se constrói e se revê
a cada nova experiência. o processo, portanto, move-se da fixação, distância,
rigidez de autoconceito, alheamento a pessoas, impersonalismo de funcionamento
a um estado de maior fluidez, permeabilidade, imediatismo de sentimentos e de
experiência, aceitação destes e descoberta de um “eu” que muda como fruto das
experiências que se vêm modificando. surge maior realidade e estreitamento de
relações e uma unidade e integração de funcionamento.

evolução das idéias: o experienciar e as atuações em grupo

de acordo com alguns autores (hart e tomlinson, 1970; de la puente, 1970,


forghieri, 1972), a primeira fase da contribuição rogeriana estende-se de 1940 a
1950, caracterizada pela ênfase na não-diretividade e pela criação de uma
atmosfera permissiva, pela aceitação do cliente e pela preocupação com a
clarificação de seus sentimentos. as técnicas de entrevistas são estudadas; o
diálogo tipo “espelho”, repetição das expressões do cliente, é exemplo de
intervenção; as atitudes do terapeuta são dirigidas no sentido da promoção da
catarse, do insight e das ações positivas por parte do cliente. o marco desta fase é
estabelecido pelo livro de rogers, counseling and psychotherapy (1942).
a segunda fase situa-se, aproximadamente, entre 1950 e 1957, surgindo
sob a forma de conceitos teóricos mais profundos e por uma atuação terapêutica
mais sistematizada. o livro client-centered therapy, publicado por rogers em 1951,
e o livro psychotherapie et relations humaines (1965), com a colaboração de
kinget, são exemplos típicos desta fase. neste momento rogers passa a dar maior
atenção aos aspectos emocionais do que ao conteúdo verbal das expressões do
cliente. a reflexão dos sentimentos passa a ser a forma característica de atuação
terapêutica em lugar da repetição e da clarificação de sentimentos. o terapeuta
procura captar o sentimento subjacente à expressão do cliente e vivenciá-lo como
se fosse ele próprio, comunicando ao cliente essa sua percepção. É no final desse
período que rogers (1957) menciona as condições necessárias e suficientes para
psicoterapia e que constituem até hoje uma das orientações básicas do esquema
rogeriano: a congruência, a consideração positiva incondicional e a empatia.
nesse mesmo período, rogers elabora uma teoria da personalidade, constituída de
19 pontos essenciais e que, segundo ele próprio afirma, podem servir para
explicar os fenômenos da organização ou da desorganização da personalidade,
mas pouco interessam na efetiva atuação do terapeuta (rogers, 1951).
na década de 60, inicia-se uma terceira fase caracterizada pelo modelo
experiencial, através do qual se procura atingir os núcleos emocionais do cliente.
experienciar é um constructo que se refere mais à maneira como decorrem os
fenômenos que compõem a experiência do que ao conteúdo desta. a nova
expressão, devida a gendlin (1961), é incorporada por rogers ao vocabulário e à
ação terapêutica. definir o experiencing não é fácil. parece-nos ser possível,
entendê-lo como vivência conceitual, isto é, como percepção, pelo indivíduo, dos
conceitos que já possui, de seu simbolismo, de seus significados pessoais e das
relações entre o que ele expressa e o sentido subjetivo, interno, pessoal, do que
deseja expressar.
a orientação geral desse novo período encontra-se, parcialmente, no livro
de rogers, on becoming a person, de 1961. posteriormente, ao procurarem os
rogerianos atingir clientes não motivados ou de difícil comunicação, dentre os
quais muitos psicóticos, novas vias de relacionamento foram tentadas e novas
técnicas de atuação terapêutica surgiram. estas passam a incluir, dentro do
experienciar, algumas intervenções antes consideradas inoperantes ou
inadequadas. perguntas, expressão de sentimentos e de opiniões podem ser
incluídas na medida em que elas atuem no mundo subjetivo do cliente. o clima de
não-diretividade é mantido, assim como as condições de congruência, de calor
humano, de consideração positiva incondicional e de empatia. algumas
intervenções, como a simples repetição, e a reflexão de sentimentos não são tão
usadas, a menos que atinjam a vivência conceitual do cliente.
as alterações ocorridas no método rogeriano não alteram as concepções
básicas que lhe deram origem. constituem um aperfeiçoamento na forma de
atuação com os clientes, como produto da grande experiência acumulada no
atendimento de novos e variados casos. rogers, em diálogo mantido com hart (hart
e tornlinson, 1970) e com evans (1975), menciona muitos dos pontos cruciais de
seu procedimento anterior e atual, por nós aqui sumariados e interpretados:
- o rogers de outrora e o rogers de hoje podem ser vistos como pessoas
diferentes, .na medida em que eu, diz rogers, como meus estudantes ou
seguidores, movemo-nos para frente. É próprio do método permitir esse
crescimento e diferenciação.
- há casos nos quais se pode verificar que a orientação centrada no cliente
em nada mudou; há outros, porém, que podem acusar drásticas mudanças.
permanece inalterado o conceito de que o “indivíduo tem dentro de si uma
capacidade - que pode ser liberada sob condições adequadas para entender a si
próprio, para conduzir sua própria vida, para lidar com problemas de sua vida ou
para mover-se no sentido de um maior grau de auto-realização”. o respeito à
dignidade e aos direitos do indivíduo conjuntamente com a idéia de sua
capacidade própria são dois aspectos que jamais mudaram.
- o contato com esquizofrênicos internados, como também com indivíduos
chamados “normais”, dentre os quais educadores, executivos, pessoas diversas
da comunidade e o trabalho em grupo produziram muitas inovações,
particularmente devidas a gendlin, hart e outros, como ao próprio rogers. sente
este, conforme suas próprias expressões, desejo de exprimir abertamente seus
próprios sentimentos, como recurso para a outra pessoa usar, não como guia ou
imposição. “se eu estiver zangado, poderei expressar esse sentimento como algo
dentro de mim, não como um julgamento sobre a outra pessoa”. há mais
liberdade. em exprimir sentimentos pessoais em relação ao que o cliente disse ou
fez. torna-se o terapeuta, de certa forma, um participante da sessão, expressando
problemas e preocupações todas suas. somente quando o cliente luta.por achar-
se a si próprio, procura o terapeuta exprimir os sentimentos de empatia que
experiência. nesses momentos, o trabalho de grupo assemelha-se à terapia
individual, onde se cria a atmosfera que permite à pessoa explorar a si própria.
noutras vezes, o terapeuta interage sob muitas formas.
- as primeiras preocupações rogerianas reduziam-se às técnicas de
atuação, o que se encontra bem explícito no livro counseling and psychotherapy.
no livro client-centered therapy, ao lado de uma formulação teórica, concentra
rogers sua atuação nas intervenções de tipo empático. em- seus artigos sobre as
condições necessárias e suficientes em psicoterapia e sobre o processo que nela
se observa, fixa rogers pontos direcionais mais precisos e de mais ampla
aplicação. o desenvolvimento de grupos de encontro tem sido uma conseqüência
natural dessas novas direções ou, provavelmente, a causa de inovações. nesses
grupos várias formas de expressão são encontradas, seja através da arte, do
movimento corporal, da verbalização. são exemplos de luta contra alienação, da
melhor exploração de si próprios, do encontro de maior sentido nas relações com
os outros. a experiência intensiva em grupo é uma das grandes descobertas da
atualidade.
- o comportamento do terapeuta assume diferentes formas de intervenção,
das quais expressar opiniões, expressar sentimentos e propor questões são
alguns exemplos.
- as atitudes do terapeuta, mais do que suas técnicas, são essenciais ao
início e à manutenção de uma relação terapêutica eficaz. a congruência, a
consideração positiva incondicional e a compreensão empática são atitudes
essenciais.
- a flexibilidade do comportamento do terapeuta “é estruturada dentro do
fenômeno do experienciar. as respostas do terapeuta são baseadas seu próprio e
imediato experienciar na relação, sendo dirigida para o processo subjetivo do
cliente”. o seguinte trecho de diálogo, que nos foi enviado por rogers em 1967,
mostra um exemplo de um trecho da verbalização ocorrida entre o terapeuta e um
cliente não-motivado, com sérios distúrbios psicológicos:

t - creio que seu silêncio significa que ou você não queria ou não podia ter
vindo agora. está certo; não há problema. assim, eu não vou incomodar você, mas
apenas quero que você saiba que estou aqui.
(longo silêncio de 17 minutos.)
t - acho que daqui há pouco teremos de suspender nosso encontro.
(breve silêncio.)
t - É difícil para mim saber como você tem se sentido. parece-me que talvez
você prefira que eu não saiba como você se sente. de qualquer forma, parece
que, às vezes, é melhor a gente descansar... e relaxar os músculos. mas, como
lhe disse, eu realmente não sei como você se sente. É a única coisa que tenho
para lhe dizer. a vida tem sido dura ultimamente?
(breve silêncio.)
t - talvez esta manhã você preferisse que eu ficasse quieto. .. e, talvez
fosse melhor, não set; entrar em contato com você de algum jeito.
(silêncio de 2 minutos - o cliente boceja.)
t - você parece desanimado ou cansado.
(silêncio de 40 segundos.)
c - não, somente chateado.
t - tudo é chato, hein? você se sente chateado?
(silêncio de 40 segundos.) .
t - quer voltar sexta-feira, às 12 h, como sempre?
c - (boceja e diz qualquer coisa de forma ininteligível.)
(silêncio de 48 segundos.)
t - É uma espécie de chateação, na qual a gente se afunda. sentimentos
chatos, hein? É alguma coisa assim?
c - não.
t - não?
(silêncio de 20 segundos.)
c - não. nunca fui bom para ninguém, não sou e nunca serei.
t - sente isso agora, hein? que você não é bom para você, não é bom para
ninguém. nunca será bom para ninguém. completamente sem valor, hein? esses
são realmente sentimentos chatos. você se sente sem valor nenhum, não é?
c-É. É aquilo que o sujeito que foi comigo para a cidade me disse outro dia.
.
t - essa pessoa que foi com você à cidade realmente falou-lhe que você
não serve para nada? É isto que você está dizendo? será que ouvi direito?
c-É.
t - acho, se entendi direito, que aí há alguém que significa algo para você; o
que ele pensa de você, porque ele disse que você não serve para nada e tocou
num ponto sensível.
(o cliente chora, quieto.)
t - e isso faz você chorar.
c - eu não me incomodo.
t - você diz a você mesmo que não se incomoda; mas eu penso que parte
de você se incomoda, porque alguma parte de você chora...

a terapia centrada na pessoa, expressão que substitui a anterior (centrada


no cliente), vem se desenvolvendo intensamente com contribuições de muitos
psicólogos. dentre estas destaca-se o expenrenciar, ou a experienciação que,
como vimos (gendlin, 1961, 1978), corresponde a um fenômeno presente no
processo terapêutico. trata-se de uma percepção do sentido que os eventos têm
para a vida subjetiva da pessoa. É uma ”interação entre sentimentos e símbolos
(atenção, palavras, fatos) tal como a vida corporal é uma interação entre corpo e
ambiente” (hart & fomlinson, 1970). experienciação é um processo percebido
através de sensações concretas, físicas e psíquicas, de dados eventos, de seu
desenrolar e de seu sentido para a pessoa. seria, a nosso ver, um fenômeno física
e mentalmente sentido. uma vivência conceitual em que a pessoa, nesse
momento, enfoca uma colocação nova ou reexplica para si mesma o que estava
tentando descrever, verbalmente ou não. É um momento de movimento interior, de
dentro para fora, em que as coisas se arranjam, se esclarecem e tomam sentido.
a experienciação nem sempre traz como conseqüência um ajustamento ou
solução de problemas. É, porém, um passo que permite à pessoa o encontro de si
mesma, pois a simples tomada de consciência das experiências não é, por si só,
uma expressão de melhora. o que importa é a “disponibilidade destas à
consciência” (puente, 1979). a terapia experiencial passa a ser um passo adiante.
as idéias de rogers evoluíram, também, para a direção grupal, sem
menosprezar o contacto entre duas pessoas e a relação diádica em que terapeuta
e cliente, como pessoas, se envolvem no experienciar. os grupos de encontro e as
comunidades surgem como formas de convivência e de terapia em que as
pessoas possam expressar-se livremente e assim liberar a tendência atualizante
presente em cada uma delas.
na terapia de grupo centrada na pessoa, wood (1980) lembra a existência
de três situações: a) o grupo de duas pessoas; b) o pequeno grupo, de 8 a 12
pessoas;
c) o grande grupo ou comunidade de aprendizagem, de 100 a 250 pessoas.
esse mesmo autor resume as tendências de meio século de observações e de
pesquisas; salienta que "o fundamento da teoria de terapia de grupo centrada na
pessoa é a tendência formativa do universo" cujo teorema seria:

"quando pessoas (algumas chamadas, às vezes, terapeuta, facilitador,


promotor, e algumas chamadas cliente, membro do grupo, participante) trazem
uma certa disposição para o seu encontro, à tendência formativa é permitido
reorganizar capacidades mais complexas e percepções nos indivíduos e no
conjunto.”

esta disposição na pessoa chamada terapeuta é caracterizada pela


habilidade para traduzir facilmente sentimentos em idéias e idéias em
sentimentos, para ser congruente no relacionamento com os outros, para
experienciar consideração positiva incondicional para com os outros e para
experienciar uma compreensão empática do referencial interno dos outros e segui-
lo intuitivamente sem um "entendimento”, obrigatório. caracteriza-se, a seguir, pela
capacidade para viver no momento, na incerteza e mesmo na dúvida, para seguir
intuitivamente as expressões do "organismo coletivo", ser capaz de, com cada
expressão, seguir, guiar, permanecer ainda em cooperação com a criatividade
.dos ditames misteriosos do momento. esta disposição é também caracterizada
pela espontaneidade em acreditar na tendência formativa, à medida em que ela
organiza o experienciar da outra pessoa. e existe nesta disposição uma boa
vontade para ser guiado e modificado pelo próprio experienciar interno como
terapeuta na relação.
na pessoa chamada cliente, esta disposição inclui a espontaneidade em ser
modificado por sua experiência direta e para desenvolver a habilidade para
enfocar seu mundo interior e o mundo interior dos outros. desta forma, esta
pessoa permite a operação da tendência atualizante e percebe a consideração
positiva incondicional e compreensão empática do outro por si.
capacidade é percepções mais complexas incluem uma crescente
consciência organísmica e aumentada receptividade à realidade organísmica total
e redução da incongruência entre o eu e a experiência - transformando-se numa
pessoa completa, como indivíduo e como membro da espécie humana. *
* transcrição literal de trecho do folheto "terapia de grupo centrada na
pessoa", de j.k. wood, traduzido por afonso h.l. fonseca e distribuído aos
participantes de um grupo de 64 pessoas reunidas em um encontro de
comunidade realizado em pirassununga, são paulo (brasil), de 18 a 26 de julho de
1981.

na organização nos grupos não existem regras. a disposição da pessoa e


do facilitador, seja em grupo diádico ou em grandes grupos, é o fator básico. os
grupos podem ser organizados para fins de semana ou para períodos contínuos
de convivência, geralmente de duas semanas. os programas do "center for studies
of the person" de la jolla, califórnia; (usa), onde se localizam rogers e sua equipe,
são um exemplo. o papel do terapeuta ou facilitador é criar um clima, e dele
participar, como membro do grupo, em que cada participante possa sentir-se
aceito e compreendido; em que cada um possa sentir-se ouvido e "facilitado" nas
suas expressões ou no seu silêncio. o agente terapêutico é o experienciar, em que
o participante é capaz de enfocar seus sentimentos e sua maneira de sentir e
assim explicar-se a si mesmo e aos outros que o ouvem o que nele se possa. É o
rearranjo de condições interiores, de dentro para fora, facilitado pela atenção e
pela compreensão do grupo. .

parte ii
observaÇÕes pessoais

6 - hipótese sobre a auto-afirmação como determinante básico do


comportamento

resultados de terapia e fundamentos para uma nova hipótese

os resultados práticos do aconselhamento psicológico e da psicoterapia são


desconcertantes devido, em grande parte, à ausência de critérios que
especifiquem estados comparáveis de clientes quando iniciam a terapia ou de
alvos suficientemente aceitos como metas terapêuticas.
analisando os efeitos do aconselhamento e da psicoterapia, truax e carkhuff
(1969) assinalam que essas atividades podem ter efeitos positivos, inócuos ou
mesmo negativos, face a alguns estudos publicados. não obstante a evidência da
inutilidade da psicoterapia em certos casos ou situações, há estudos que provam
efeitos positivos concluindo esses autores que "quando certas características do
terapeuta acham-se presentes, ocorrem resultados positivos enquanto, na sua
ausência, uma deterioração aparece". esses mesmos autores apresentam amplos,
variados e excelentes informes sobre os efeitos de diversas terapias, razão pela
qual achamos conveniente indicá-las à consulta sem necessidade de reproduzi-las
neste livro.
muitos resultados são mencionados por wolpe, (1966), eysenck (1952,
1965, 1973), klein (1969), lazarus (1971), wolberg (1977), e muitos outros autores
havendo sempre a dúvida sobre a comparabilidade desses dados. lazarus, por
exemplo, afirma que os resultados que se obtém são produtos de técnicas e não
de teorias.
quanto às nossas próprias observações, o que achamos conveniente
relatar é, simplesmente, uma visão de fenômenos comportamentais que, durante
cerca de 20 anos, a partir da década de 1960-1970, vimos percebendo no
atendimento clínico de crianças, jovens e adultos em situações de
aconselhamento psicológico ou de psicoterapia. não se trata, evidentemente, de
uma investigação científica segundo os modelos tradicionais das pesquisas sobre
as ciências do comportamento. assemelha-se parcialmente, ao estudo de casos
individuais inspirado na metodologia de piaget, do skinner, e do próprio freud. É
um relato de fatos que pode coincidir com relatos semelhantes sobejamente
conhecidos. neste caso, seria uma confirmação de teorias ou de técnicas. por
outro lado, pode surgir como nova contribuição*
. comunicação apresentada ao iii encontro nacional de psicólogos. rio de
janeiro, 1981.

o julgamento do progresso terapêutico ou profilático sofre, como dissemos,


dos defeitos da subjetividade e dos critérios biológicos e sociais que possam ser
aplicados ao conceito de ajustamento, de equilíbrio, de adaptação ou de
"normalidade". para melhor conceituação da evolução terapêutica, teríamos
necessidade de estabelecer alguns parâmetros, o que se fez através de um
elenco de sinais de progresso constituído por 13 itens reunindo conceitos
originários de posições teóricas bastante diferenciadas (psicanalíticas,
comportamentais e rogerianas). com base nesse critério de avaliação e em
observações adicionais, foi possível percebe que ocorria evolução de quadros de
depressão, de ansiedade ou de desestruturação. comportamental para um estágio
em que esses comportamentos se atenuavam sempre que:
a) o cliente atribuía a si mesmo a origem do problema, numa visão auto-
referente, ainda que crítica ou traumática. esta primeira observação foi incluída na
tese de doutouramento do autor, em 1970, e não despertou, na ocasião, interesse
especial;
b) o cliente caminhava no sentido de avaliar a si mesmo, disposto a
enfrentar as dificuldades que o traumatizam;
c) o terapeuta procurava explorar a auto-estima e o autoconceito,
trabalhando com a imagem do cliente.

dessas observações emergiu uma questão: haveria algum fato psicológico


relacionado com a auto-imagem que estaria agindo em sentido construtivo e
benéfico para o cliente, restaurando sua tranqüilidade e seu desempenho pessoal
e social? seriam as atitudes de congruência, calor humano, respeito positivo
incondicional e empatia propostas por rogers (1951)? seriam as interpretações de
sentimentos profundos, nem sempre verbalizados? seriam reforços do
comportamento adaptativo? seria o tratamento objetivo e racional dos problemas,
no esquema cognitivo? seria o apoio ou apenas a ação catártica? enfim: que
comportamento estaria sendo ativado no cliente e que teria facilitado a melhora?
uma conclusão passou a emergir: deveria existir uma necessidade, motivo,
impulso ou tendência na pessoa que, ao ser adequadamente focalizado pelo
terapeuta, produzisse as mudanças favoráveis. procurar esse agente responsável
pela modificação dos quadros de depressão e de ansiedade tornou-se o alvo
essencial de observações subseqüentes. prosseguiu-se, pois, com a atuação
centrada na pessoa, alternando-a ou suplementando-a com outros alvos e,
conseqüentemente, com atitudes e técnicas diferentes. a valorização da pessoa
mediante verbalizações sobre a dinâmica de seus comportamentos, suas defesas,
suas aspirações e sua auto-imagem tornou-se um dos pontos centrais na medida
em que se podia perceber uma relação positiva entre essa abordagem e um
progresso terapêutico suficientemente estável.

seria possível um neo-rogerianismo?

nosso contacto com as teorias e técnicas de rogers teve início com a leitura
de seu livro counseling & psychotherapy, editado em 1942 e do qual tivemos
conhecimento alguns anos depois. começamos a adotá-las nos casos de
orientação vocacional, procurando trabalhar com a resistência daqueles que
exigiam "conselhos", "indicações" e até decisões vitais sobre eventos de sua vida.
em 1956 e 1957, em curso regular de pós-graduação realizado na florida state
university e na columbia university, nos estados unidos, tomamos contacto mais
profundo com os conceitos e com a metodologia rogeriana e ao regressar ao brasil
passamos a aplicá-los em clínica psicológica. embora a observação indicasse
êxitos na condução de alguns casos, havia ainda um longo caminho a percorrer
para que sentíssemos, realmente, os efeitos profiláticos ou terapêuticos da
posição rogeriana. ao lecionar aconselhamento psicológico nas universidades
católicas de campinas e de são paulo e, posteriormente, na universidade de são
paulo, tivemos ocasião de aplicar e estudar o método rogeriano com alunos do
curso de psicologia e com clientes atendidos na universidade, no senai e em
nossa clínica particular.
as observações resultantes da aplicação do método, tanto quanto possível
na forma proposta por rogers, quando comparadas com a aplicação de outros
métodos (barros santos, 1970) parecem confirmar a suposição de que há algo de
comum em todos os métodos e que responde pelo sucesso terapêutica':
reexaminando-se os resultados por nós colhidos na relação terapeuta-cliente e
nos julga dores externos, seria possível inferir que as atitudes terapêuticas
propostas por rogers teriam, para o cliente, um sentido todo especial de auto-
afirmação, não suficientemente aceito ou explicado por rogers. e, a ser verdadeira
a hipótese que levantamos, ou seja a de ser a auto-afirmação um ingrediente
terapêutico essencial, seria esse sentimento um determinante básico do
comportamento humano? estaríamos, assim, diante de uma colocação teórica
que, partindo da genial concepção de rogers, poderia transformar-se em um neo-
rogerianismo como fruto natural do enriquecimento teórico e prático de suas
próprias teorias e técnicas.
a possibilidade de um neo-rogerianismo mais se acentua na medida em
que alguns aspectos da posição de rogers tornaram-se muito vulneráveis à crítica,
ou seja:
1. antes, como agora, opõe-se rogers ao diagnóstico formal, inquisitivo,
através do ritual de muitas clínicas psicológicas onde a pessoa se vê coisificada,
manipulada, a mercê de "especialistas" que vão orientá-la. nesse aspecto cremos
que rogers retrata com rara felicidade as preocupações dos psicólogos, não só
pelas falhas intrínsecas dos recursos de avaliação (adaptabilidade, precisão e
validade), como pelos agentes emocionais presentes na situação de exame,
dentre os quais estão a motivação e a disponibilidade para ser avaliado e, em
alguns casos, a tendência do cliente em refugiar-se em uma ajuda externa sem
dela participar.
a exclusão total do diagnóstico é, porém, outro fenômeno. parece-nos
ingênuo, quando não fantasioso, admitir que podemos nos abster de diagnosticar.
conhecer o cliente e avaliar nossas possibilidades de ajuda, seja isso chamado ou
não de diagnóstico, é uma atitude e uma operacionalização que, queiramos ou
não, é normalmente existente. o simples fato de se conhecer o cliente pelo sexo,
idade, escolaridade, ocupação e motivos de seu contacto com psicólogos são
exemplos de "diagnósticos", embora superficiais. o próprio rogers descreve seus
casos usando adjetivos qualificativos ou situações de vida que não deixam de ser
uma caracterização da pessoa em estudo. aliás, o próprio rogers diz que não
existe percepção sem significado. ao receber e nos relacionarmos com alguém
estamos percebendo uma relação e seu significado para nós e para o cliente o
que, evidentemente, está ligado a algum tipo de diagnóstico.
2. quanto à dinâmica do processo, descarta rogers a tendência
homeostática do organismo no plano psicológico e crê que o homem está sempre
procurando tensões, em um esforço a que se chamaria de curiosidade, na busca
de estímulos mais complicados e enriquecedores (evans, 1979). o que existe, diz
rogers, é que "todo organismo tem uma tendência a se manter, a se aperfeiçoar se
possível e, finalmente, a se reproduzir" (evans, 1979). os conceitos e os títulos
dessa motivação são menos importantes.
ao comentar as idéias de rogers, richard farson (in evans, 1979, p. 35) diz
que “rogers mostrou que coisas maravilhosas aconteciam quando se confiava e se
aceitava a pessoa, quando seus sentimentos eram respeitados e valorizados,
quando ela se sentia segura e compreendida”.
ao expressar suas idéias, rogers mostra o efeito mas não a causa das'
'coisas maravilhosas “; identifica o produto e o procedimento (as três condições
básicas, supõe-se...) mas não a etiologia do fenômeno. nesse ponto, iguala-se a
skinner e a outros psicólogos, por ele mesmo criticados, que se baseiam nos
efeitos observáveis mas se abstêm de se aprofundar nas origens do
comportamento como fez freud. ora, se quisermos aperfeiçoar os procedimentos,
torná-los mais amplos e mais acessíveis, temos que conhecer a gênese do
comportamento, a partir dos primeiros elos da corrente que o guia ou da fonte de
onde brotam os sentimentos e a ação racional. a abordagem puramente
fenomenológica e a comportamentalista embora sugestivas parecem insuficientes
na explicação do comportamento”.
a tentativa de análise dessa dinâmica comportamental nos conduz ao
problema da motivação humana. rogers pouco diz sobre algo que nos parece
fundamental na longa experiência com pessoas e situações: a auto-afirmação.
concentra-se ele, sobretudo, no "desenvolvimento do conceito do eu" (evans,
1979). durante a terapia torna-se mais consciente e mais claro o conceito que o
cliente faz de si. esse autoconceito muda e nisto consiste a terapia.
tentativamente, diríamos que justamente nesse ponto se focaliza o núcleo do
ingrediente terapêutico: o autoconceito e a imagem favorável ou desfavorável que
a pessoa tem de si; a afirmação de si mesma como ser-alguém, com percepção
não traumática de seus limites e com percepção não narcisista de suas
possibilidades. rogers mostrou-nos um caminho no qual não quis, ou não pôde,
prosseguir; abriu-nos, porém, as fronteiras e um novo território aflorou.

a motivação e os determinantes do comportamento

colocada a possibilidade de um determinante básico, necessidade ou


motivo que respondesse pela melhora do cliente, o primeiro passo foi procurar
encontrarmos estudos, nas pesquisas e nas teorias existentes algo que explicasse
o fenômeno.estudar o problema da motivação humana foi o campo inicialmente
explorado e, a seguir, resumidamente lembrado nos aspectos que interessam à
hipótese que levantamos.
o que sabemos em psicologia é que o pensar, o sentir e o agir são
comportamentos resultantes de um grande número de fatores orgânicos ou
biológicos que envolvem desde as mais simples reações alimentares ou digestivas
até os mais complexos processos retículo-corticais. a estes somam-se os sociais,
expressos pelas oportunidades, exigências e alternativas que o meio nos oferece.
nesse intrincado cenário, no qual surge uma resposta física ou mental
intuitiva ou prodigiosamente elaborada, há um componente emocional que atua na
busca de um bem-estar ou na sensação subjetiva desse estado. se nos virmos
ameaçados, procuramos agir para reduzir a tensão decorrente da ameaça. o que
é ameaçador ou produtor de tensão pode desorganizar o comportamento, na
dependência do grau de insatisfação produzido, isto é, de necessidades não
satisfeitas. motivos, impulsos, tendências, pulsões, são, às vezes, sinônimos de
necessidade e aqui usados na mesma acepção.
o que vimos até agora nada tem de novo e é provavelmente estudado
desde os primeiros momentos em que o homem começou a desvendar ou tentou
explicar o seu próprio comportamento. a partir daí, grande número de estudos,
pesquisas e teorias vêm sendo apresentados e oscilam desde as explicações
filosóficas, antigas e atuais, materialistas ou espiritualistas, centradas no ambiente
ou centradas no organismo, até as mais sofisticadas analogias com conceitos
físico-matemáticos.

a redução do sofrimento, seja este físico ou mental, parece ser uma


necessidade ou um motivo básico, universal e soberano. todavia, como assinala
allport (1966), essa colocação não explica todas as ações do homem. argumenta-
se, também, que uma necessidade básica e universal, além do evitar sofrimento,
seria a busca do prazer. essa concepção hedonista não explica, igualmente, todo
o comportamento, pois o prazer é indefinido, da auto-realização à autodestruição,
como efeito de uma ação realizada. usa-se, também, a teoria dos instintos, com
base na observação do comportamento de animais e de vegetais. todos esses
seres seguem certa direção e se desenvolvem de acordo com certo sistema, num
esquema genético ou biológico predeterminado. certos comportamento "naturais"
são chamados de instintos ou de atividade instintiva, executados em um
determinado ritual, em certas situações, independentemente de aprendizagem. o
comportamento pré-maternal, maternal e parental nos animais, ao preparar o
ninho ou o local onde vão nascer os filhos e o cuidar do recém-nascido até que
atinja autonomia de vida são exemplos. esses e outros fatos físicos e psicológicos
são necessidades e direções do comportamento suficientemente poderosos para
criar e manter uma situação de vida. qualquer alteração que bloqueie ou desvirtue
o ato em si é destrutiva e a previsão dessa ocorrência uma ameaça.
o problema dos instintos é algo desafiante para a psicologia há muito
tempo, como também o é para a biologia e outras ciências. no comportamento
instintivo, podem ser identificados dois componentes: uma necessidade fisiológica
e um ritual não aprendido, destinado a satisfazê-la. mcdougall (1908) definiu o
instinto como uma disposição psicofísica inata que impele o organismo a agir de
determinada maneira. esse determinante básico do comportamento, pelo menos a
determinado nível de reações comportamentais, vem sendo deixado de lado pela
psicologia, mas não desapareceu do cenário; a terminologia mudou, mas o
conceito permanece e a identificação dos instintos ou das necessidades ou dos
motivos básicos da conduta é um campo aberto à teorização.
reconhecem os psicólogos que a primeira categoria de necessidades é de
natureza fisiológica ou orgânica. o organismo vivo procura nutrir-se (alimento,
água, e outros componentes orgânicos), repousar, movimentar-se, proteger-se
contra o excessivo frio ou calor, defender-se contra acidentes e fatos que afetam a
sobrevivência. aliás, wolman (1977), como outros autores, aponta o sobreviver
como sendo a necessidade básica. muitas dessas necessidades são, porém,
influenciadas por ação social na forma de satisfazê-las e assumem, então, dupla
exigência, pessoal ou organísmica e social.
freud (1938) formulou o conceito de ser a libido o propulsor de todo o
comportamento e a fonte de energia psíquica. no pensamento freudiano encontra-
se amplo substrato relativo à motivação do comportamento. aliás, segundo alguns
autores (hilgard, 1975), a psicologia de freud é, principalmente, uma psicologia da
motivação. os conceitos primitivos quanto aos instintos de vida, aos instintos de
morte e ao princípio do prazer, embora revistos e reestudados no decorrer dos
anos, abriram considerável espaço para compreensão do comportamento no
plano consciente e, principalmente, no plano inconsciente. os mecanismos de
defesa seriam processos reguladores dos desequilíbrios, mas não explicam, por si
sós, a predominância de uma necessidade básica. a formulação posterior de adler,
segundo a qual o homem busca superar sua inferioridade mediante auto-
afirmação, é mais concreta nesse ponto. e o instinto do poder de que nos fala
nuttin (1955), acrescentando que tanto este como o instinto sexual, proposto por
freud, chocam-se violentamente como pontos de partida dos conflitos patogênicos.
cannon (1932) formulou o conceito básico a que denorminou de
homeostase, segundo o qual o organismo, enquanto ser vivo, busca manter um
equilíbrio interior em suas condições fisiológicas. esse equilíbrio, essencial à
manutenção da vida, conduz o organismo a uma temperatura adequada, à
pressão sangüínea dentro de certos limites, a uma regulagem da acidez ou da
alcalinidade do sangue e à dosagem de vários componentes orgânicos. esse
princípio geral de auto-regulação é ativado pelo próprio organismo nas condições
normais de vida e representa, a nosso ver, um processo que encontra paralelo
psicológico na preservação do equilíbrio emocional, na busca de uma normalidade
psíquica. resta saber, porém, no campo psicológico, como reage o organismo às
ameaças ou desequilíbrios que o afetam.
lewin (1935) introduz o conceito de campo, oposto ao de classe (que
categoriza as pessoas) e afirma que qualquer comportamento num campo
psicológico depende somente desse campo psicológico naquele momento dado
“(martuscelli, 1959). as necessidades são a fonte de energia psíquica, mas não
identifica lewin as necessidades específicas. as tarefas, ou expectativas de
tarefas, geram tensões que o indivíduo busca eliminar ou reduzir, executando-as.
lewin explica operacionalmente o comportamento em termos semelhantes aos da
física, excluindo a dinâmica das necessidades, e deixa a questão das” forças
psicológicas “abertas à indagação no que se refere à predominância de umas
sobre as outras”.
henry murray (1938) apresentou dois grandes grupos de motivos que
ficaram conhecidos pela sua simplicidade: necessidades viscerogênicas ou
primárias, de base biológica, e as necessidades psicogênicas ou secundárias,
relacionadas com a interação do indivíduo no seu grupo social.
na concepção behaviorista clássica, a motivação é colocada em
perspectivas muito diferentes das demais teorias (skinner, 1956, 1967, 1968; keller
e schoenfeld, 1966; birch e veroff, 1970; keller, 1974). a resposta ou reação do
indivíduo e, portanto, sua atividade em uma direção qualquer é função do
ambiente. a probabilidade de ocorrência de um comportamento depende, em
geral, dos esquemas de reforço e de extinção que surgem em sua vida quotidiana.
a natureza do fator reforçador não é, porém, suficientemente explícita.
klineberg (1946), revendo os conceitos sobre motivação da conduta
humana e ao estabelecer critérios para classificação dos motivos, refere-se à
auto-afirmação como "algo mais complicado" e a coloca num terceiro grupo por
não considerá-la universal. os fatos que alinha para justificar essa posição não
são, porém, convincentes ao dizer que a auto-afirmação não existe em algumas
fases de infância e em certas tribos de índios. o problema, a nosso ver, é que a
auto-afirmação diferencia-se nas várias culturas e, em conseqüência, sua própria
expressão.
maslow (1954) nos fala de necessidades inferiores e de uma seqüência
hierárquica no comportamento. as primeiras, de natureza biológica, são
fundamentais e predominantes enquanto não satisfeitas. a partir dessa satisfação
surgem outras, tais como a segurança, a afeição e, no ápice, a auto-realização.
esta última só aparece quando as demais estiverem satisfeitas. o caminho do
homem seria sua plena realização, sua capacidade em desenvolver e realizar
suas potencialidades. ser alguém e sentir-se capaz, ainda que com limitações,
seria um motivo final.
as teorias monistas e as pluralistas, mencionadas por angelini (1955),
reduzem o comportamento a um motivo básico, único, ou o colocam em função de
vários motivos, respectivamente. esta última concepção parece predominar,
citando seus defensores vários motivos ou grupos de motivos, aos quais sempre
alguns mais são acrescentados. essa intermináve1 lista de motivos é, por si só,
uma indicação de que poderia haver uma base geral que mobiliza todos eles e
que seria, provavelmente, a razão universal da conduta, apenas diversificada
consoante os elementos de cada situação psicológica.
festinger (1958), ao estudar o problema da dissonância cognitiva, afirma ser
esse fator um determinante significativo do comportamento, comparável a um
estado de carência ou de necessidade. quando o indivíduo percebe incongruência
(dissonância) entre suas opiniões, atitudes e valores e o comportamento que dele
se espera, ou o que é "forçado" a adotar, surge um conflito interior. o indivíduo
esforça-se por reduzir essa disparidade e essa tendência orienta seu
comportamento.
concentrando-se mais nos problemas de desenvolvimento cognitivo do que
nos aspectos emocionais da personalidade, piaget (1952; flavell, 1975) crê que a
motivação básica, pelo menos no terreno intelectual, emerge de uma necessidade
intrínseca dos próprios órgãos ou das estruturas cognitivas. não exclui piaget a
interferência dos impulsos primários ou de outros motivos socialmente
desenvolvidos mas, na sua concepção, gerados os órgãos ou estruturas, estas
buscam alimentar-se pelo próprio funcionamento. a atividade de assimilação
parece ser um fato básico da vida psíquica (piaget, 1952). a posição piagetiana
poderia nos levar a conjecturar a existência de uma estrutura global, o organismo
em si mesmo, em conseqüência do que o fato básico da vida seria seu pleno
funcionamento ou sua função como pessoa.
como assinala edward murray (1967), o campo da motivação está
desorganizado, tantos são os sistemas concorrentes. esse autor sintetiza as várias
explicações, mencionando as teorias cognitivas, hedonistas, do instinto e do
impulso e analisa seus vários conceitos; apresenta, por seu turno, uma grande
variedade de motivos e afirma que "a motivação depende de um cérebro que
contém mecanismos para o prazer e a dor, que controla o seu próprio nível de
excitação e que é sensível aos eventos tanto externos como internos". não se
refere murray a algum motivo básico ou prioritário; apenas admite que estamos
caminhando para uma melhor compreensão do comportamento humano e, ao
referir-se ao motivo de auto-realização de maslow, diz que "talvez o futuro leve a
pesquisa ao âmago da tendência auto-realizadora do homem... da busca pelo
homem de um significado para a sua existência". o motivo de realização,
mencionado por vários autores (mcclelland, 1953) assemelha-se a um motivo de
auto-afirmação, na medida em que envolve dois aspectos: confrontação com
outros e confrontação consigo mesmo. semelhante à autocrítica, é
operacionalmente mobilizado para avaliar os níveis de desempenho julgados
satisfatórios pelo indivíduo em relação ao comportamento de outros e em relação
às auto-imagens e fantasias. envolve, na concepção psicanalítica, o próprio ego
no sentido de seu prestígio, segurança e poder.
rogers (1942), ao revolucionar os procedimentos de orientação e de
psicoterapia com o método então chamado não-diretivo, chega à conclusão de
que um motivo básico, real, seria a auto-realização, o crescimento pessoal e o
ajustamento. "o organismo tem uma tendência básica e poderosa para atualizar-
se, manter-se e desenvolver-se". esse seria um determinante do comportamento
e, como se verificará posteriormente, foi um dos grandes inspiradores da hipótese
que formulamos neste trabalho.
rogers (1978), ao analisar a política dos relacionamentos humanos, afirma
que esta apóia-se “basicamente na concepção do organismo humano e no que o
faz funcionar". a tendência à realização é básica para a motivação. a vida é um
processo ativo e "quer os estímulos provenham de dentro ou de fora, quer o
ambiente seja favorável ou desfavorável, os comportamentos de um organismo
serão dirigidos no sentido dele manter-se, crescer e reproduzir-se". o organismo
move-se auto-regulando-se, autocontrolando-se. "em seu estado normal, move-se
em direção ao desenvolvimento próprio e à independência de controles externos".
evidentemente, rogers ao descrever essa auto-realização como algo inexorável,
está praticamente admitindo um determinismo biológico. nada se cria em terapia.
o que se faz é liberar a tendência direcional da pessoa.

a auto-afirmação como motivo básico e emocionalmente


preponderante

os motivos poderiam ser classificados em várias categorias estendendo-se


em um elenco interminável de ações e de seus pressupostos psicológicos. poucos
psicólogos referem-se à auto-afirmação, embora muitos deles mencionem esse
motivo sem, contudo, identificá-lo como variável dominante. É o caso da busca da
superioridade, de adler, da busca de individualidade, de rank, do desenvolvimento
e da autodeterminação de rogers, de realização de mcclelland, da realização do
eu, de maslow e de algumas outras colocações. no campo biológico temos
razoável segurança em constatar estados de carência ou de privação e da
correspondente ativação em busca de alimento, de água, de oxigênio, de conforto
térmico, de repouso, de defesa contra fatores destrutivos, de liberdade de
movimentos, .de exploração sensorial e de sobrevivência em geral. no terreno
psicológico, aí incluído o social, os alvos e a correspondente instrumentação
comportamental não são assim tão claros e parecem provir de ações perceptuais
e cognitivas, isto é, da forma pela qual percebemos e elaboramos, mentalmente,
os fenômenos pessoais e sociais. parece haver, nesta área, uma espécie de
referencial de satisfação ou de não satisfação a que se seguem processos de
defesa ou de adaptação do ego a uma dada realidade e que aparece, simbolizado
ou deformado, no relacionamento terapêutico tanto quanto nas atividades do dia-
a-dia.
o conceito, mas não o conteúdo desse referencial, começou a
emergir quando notamos a evolução dos comportamentos dos clientes em
sessões de orientação e terapia psicológica. como assinalamos na página 72 os
clientes passavam a um estágio de maior satisfação, por eles julgado, quando
conseguiam colocar-se em um plano auto-referente e interiorizar um julgamento
favorável sobre si mesmos. restaria hipotetizar sobre a natureza desse referencial
que responderia pela melhora do quadro clínico, e, para responder a essa
indagação, formulamos duas possibilidades:

a) ocorre, na relação psicoterapêutica, a satisfação de alguma necessidade


psicológica básica que responde pela satisfação em várias áreas vitais para a
pessoa;
b) ocorre na relação terapêutica à satisfação de várias necessidades
psicológicas simultaneamente, sendo difícil ou quase impossível identificá-las.

para resolver esse impasse inicial, sobre duas formulações, revimos os


casos atendidos e passamos a observar melhor nossa própria atuação como
terapeuta estudando, diante de cada verbalização, o possível efeito nos clientes.
foi possível observar que os estados de ansiedade aumentavam, às vezes até
com perturbações, no desempenho da vida diária, sempre que a valorização
pessoal e a auto-afirmação eram atingidas de forma traumática, quer o fato
resultasse de ocorrências da vida diária (conflitos e frustrações, na área da
valorização pessoal), que resultasse de atitudes ou verbalizações pouco
confortadoras do terapeuta, diante dessa situação, pareceu-nos válido conjecturar
que:
1. há necessidades, motivos ou agentes do comportamento que
independem da opção individual e, conseqüentemente, atuam como
automacismos físicos para gerar a vida, facilitar o crescimento e o
amadurecimento e manter a sobrevivência. Ê a própria vida em contraposição à
morte ou inexistência, não há escolhas salvo na forma de viver, a pessoa não se
avalia através dessas necessidades;
2. noutro aspecto da vida, há necessidades ou exigências que geram auto-
avaliação física e social. o individuo se vê como um ser vivo, alimentando-se,
crescendo, amadurecendo, produzindo, como entidade física, à qual se agregam
exigências socialmente definidas na cultura em que vive, tais como assumir os
papéis de filho, de pai, de estudante, de profissional, de cidadão, etc. essas
expectativas sociais o pressionam e o indivíduo se avalia com alguém de quem
algo se espera: surgem necessidades sociais que lhes asseguram a vida social,
completando a sobrevivência apenas física. esse sentido de vida, forma de auto-
avaliação socialmente provocada e psicologicamente percebida, é vital para o
equilíbrio emocional e, conseqüentemente, para a vivência social. a pergunta que
a pessoa coloca para si mesma, em diferentes instâncias da vida, será esta: até
que ponto vivo social e pessoalmente? os padrões de desempenho, de
adequação, de competência, de aprovação, de status, de poder e tantos outros
são questionados. o conjunto de respostas que a pessoa emite a essas questões
seria a auto-afirmação e, como tal, seria o determinante básico do
comportamento.
kreeh e crutchfield (1963) definem parte do que desejamos expressar.
dizem esses autores que "o comportamento auto-afirmativo pode servir a
diferentes objetivos, exprimir diferentes desejos e necessidades e apresentar
inúmeras formas". refere-se, "também, à manutenção e aceitação da auto-
imagem, indiferente à maneira pela qual os outros possam vê-lo". no nosso
entender, não se refere este processo mental à competição, nem à busca de
superioridade de adler, mas à identificação do eu, ao encontro de uma realidade
pessoal, àquilo que somos e que usufruímos, ainda que pequena em um mundo
cada vez mais gigantesco. É o assumir a si mesmo, compreender o que é e
aceitar-se.
a insuficiência da auto-afirmação talvez explique a neurose de
insignificância de nossos dias e o aumento crescente dos desajustes emocionais
na razão direta do não-humanismo, isto é, da sociedade povoada pela tecnologia
e pela tecnocracia. o indivíduo vê-se cada vez menos atuante, seja na escola, na
família, no trabalho e um processo de auto depreciação se instala. o antídoto é a
auto-afirmação. as conhecidas tensões dos primeiros astronautas - relatadas pela
imprensa - podem ser um exemplo: um sentimento de insignificância diante de um
mundo imenso, novo, ao qual não estavam acostumados. em conseqüência, o
sentimento de pequenez, de desvalia conduz ao medo de não ser alguém. em
proporções menores, esse niilismo pode surgir no dia-a-dia, na medida em que
nos sentimos impotentes, marginalizados, desprezados. muitos clientes, crianças,
jovens, adultos e idosos, acabam por demonstrar, no decorrer de entrevistas e
sessões terapêuticas, que seu problema básico é não serem devidamente
considerados. na situação familiar, conjugal e de trabalho, esta situação é bem
evidente. filhos se queixam de que seus pais não confiam neles; pais se queixam
de que seus filhos não os respeitam; empregados se vêem angustiados quando
são esquecidos ou marginalizados; todos sofrem quando se sentem relegados a
um segundo plano. a recíproca é verdadeira: nota-se a satisfação e o bem-estar
quando somos ouvidos, quando somos participantes, quando nossa presença é
notada, quando, de alguma forma, sentimos ser alguém. quando, pois, se
consegue restaurar, por outras vias, na relação terapêutica, a percepção do eu,
quando se recoloca a pessoa em um sentido de valorização de seus papéis e de
seu desempenho reduz-se a angústia existencial e as desordens comportamentais
que dela se originam.
esse complexo sentimento de avaliação de si mesmo, de auto-afirmação,
de ser alguém, uma pessoa definida no tempo e no espaço, com características
próprias, com possibilidades e limites satisfatoriamente interiorizados estimula e
direciona o comportamento psicológico e, em conseqüência, todos os demais
aspectos da vida nos quais haja opções e decisões e que, em última instância,
estabelecem a forma de ser, de viver.
a auto-afirmação, tal como a entendemos, está amplamente relacionada
com a auto-realização na forma vista por vários teóricos da motivação* , dentre os
quais os citados por cofer e appley (1975) ou seja, goldstein, fromm, horney,
rogers, may, maslow e allport, além de outros. todavia, e isto nos pareceu
importante como produto de nossas observações, a diferença entre um e outro
motivo consiste no fato de que o primeiro não busca o fazer, o realizar, o criar ou o
construir para efetivar-se. a auto-afirmação é preexistente em maior ou menor
grau; a pessoa mantém uma confiança na própria individualidade, sem
necessidade de prová-la a todo o momento. no seu ponto ideal seria a imagem
completa, coerente, integrada de si mesmo e, portanto, produtora de tranqüilidade
e segurança. a pessoa crê no que é e não no que deve ser. envolve um
sentimento mais profundo do que a aceitação de si mesmo, proposta por rogers,
porquanto não é um conformismo, mas uma valoração das experiências vitais e de
seu eu como um conjunto integrado de disposições e de disponibilidades, de
energia e de produção, independentemente do que faça ou deixe de fazer,
socialmente participante como elo indispensável a toda a cadeia de eventos que
ocorre no cosmos. uma descrição bem próximo do que se pretende definir é
encontrada em cofer e appley (1975, pp. 652-75) quando esses autores comentam
a natureza da ênfase na auto-realização. entretanto, o que se deseja acrescentar
à contribuição dos teóricos e dos comentários citados é que a auto-afirmação,
como motivo de deficiência ou como motivo de crescimento, no dizer de maslow
(1943, 1954), parece, a nosso ver, constituir a mola mestre e um determinante
básico no comportamento humano.
*muitos autores distinguem necessidade de motivo. segundo essas
distinções, a primeira corresponderia à deficiência ou falta de uma substância ou
função necessária ao processo de vida ou de bem-estar. motivo seria um padrão
de comportamento complexo, socialmente aprendido, que envolve uma
necessidade ou situação que o origina, o estímulo que o mantém e os
mecanismos de ajustamento que dele resultam.
neste livro. motivo é considerado como um impulso ativo, resultante de uma
necessidade, consciente ou não. esta, por sua vez, significa um impulso primário
(proteger-se. por exemplo), aprendido ou não, cuja insatisfação pode provocar um
estado de carência. praticamente, os dois termos se equivalem.
para suporte da hipótese levantada, somente dispomos de dados clínicos
provenientes de um grande grupo de clientes, de condições pessoais as mais
variadas, atendidos entre 1960 e 1980. desse contingente, conseguimos
observações regulares e sistemáticas em 80 casos os quais contavam com um
atendimento terapêutico de um ano, no mínimo, com sessões semanais e com um
acompanhamento de, pelo menos, igual duração.

7 - a personalidade e a auto-afirmação
o eu pessoal, o eu social e a emergência da auto-afirmação

as descrições da personalidade, variadas consoante os autores, nem


sempre são apoiadas em pesquisas mas em constructos teóricos. todavia, tais
constructos não nascem do nada; têm origem em observações e na experiência
quotidiana (hall e lindsey, 1966; allport, 1969).
a experiência de cada teórico da personalidade, embora sujeita a distorções
próprias do observador e profundamente subjetiva, pode nos levar, porém, a
novos enfoques que, por sua vez, produzem novas interpretações e,
possivelmente, novas aproximações da verdade. o que se relata, agora, pode ser
um passo nesse sentido, embora coexistam explicações análogas, com outra
nomenclatura.
nossa experiência com pessoas ansiosas, jovens ou adultos, que procuram
enfrentar conflitos e frustrações ou entender o que nelas se passa, com clientes
pouco motivados para terapia e que a estas se dirigem por imposições paternas
ou por modismos psicológicos, com pessoas fortemente desestruturadas e com
casas chamados "normais", levou-nos a reafirmar a conhecida bipolaridade
comporta mental: a área individual ou pessoal e a área extra-individual ou social.
essas duas áreas embora coexistam na pessoa, sendo até mesmo indistinguíveis
em muitos comportamentos, podem, porém, revelar dois conjuntos de agentes os
quais, uma vez ou outra, assumem ações independentes. o esquema a seguir
poderia demonstrar o que ocorre nos dois conjuntos e na personalidade à medida
que o indivíduo se desenvolve ou se socializa:

na primeira infância geralmente até os 3 anos de idade o eu pessoal e o eu


social estão separados

a partir do terceiro ano de vida, em geral, o pessoal e o eu social se juntam


formando uma área de conexão entre os dois eu,com áreas de interpenetração
pessoal e social extremamente variadas.

o eu pessoal pode ser definido como o repositório de todo o patrimônio


genético, inclusive temperamento, inteligência e outras aptidões, estrutura física,
características sexuais, estrutura e dinâmica sensorial e motora, necessidades
biológicas e, ainda, as experiências e seus efeitos introjetados e já incorporados
ao funcionamento do organismo.
o eu social seria a figura resultante do conjunto das expectativas, das
direções, imposições e pressões sociais que atuam sobre o eu pessoal; é,
sobretudo, um produto da educação que elegendo valores manipula o indivíduo
modelando-o nas ideologias, hábitos e costumes de uma dada sociedade, nos
seus conteúdos políticos, religiosos, econômicos ou de qualquer outra natureza.
o indivíduo estaria sob duas ordens de pressões: 1) primeiramente, as que
provêm de seu estado natural, orgânico, constitucional, predominantemente
genético, que traça direções e limites de sua ação. É todo um comportamento
natural, simples, de sobrevivência e de adaptação ao ambiente. a criança
alimenta-se, excreta resíduos, chora, repousa, responde a estímulos sensoriais;
mais tarde, anda, fala, explora o meio e o cultiva; percebe-se, pouco a pouco,
como um ente vivo, atuante, consciente de certas características suas, inerentes a
seu funciona mento como pessoa; 2) progressivamente passa a sentir uma
manipulação externa que provém de outros seres, iguais a ele, e que,
isoladamente ou em grupo, o influenciam e passam a dirigir suas ações. sente-se
levado a comer, a dormir, a colocar-se em posturas ditadas por outros. É levado a
falar, a vestir-se, a interagir com seus semelhantes da maneira pela qual estes
agem ou estabelecem normas de conduta. precisa ir à escola, aprender uma
profissão, orientar sua atividade sexual de certas maneiras, participar de ações
comunitárias de acordo com padrões grupais e assim por diante.

a sociedade impõe normas e exige conformismo a seus estilos de pensar,


de agir e de sentir. para não ser marginalizado, punido ou destruído, o indivíduo
obedece a essas imposições; conforma-se. o processo de acomodação faz-se, às
vezes, às custas da perda de seu eu pessoal; de concessões. o estilo pessoal,
primitivo, natural, cede lugar aos gabaritos sociais e à alienação de si mesmo, com
graus variados de aceitação ou de repulsa às imposições e referenciais externos.
a pessoa passa a sentir-se invadida no seu território, a perder o que é seu e que
lhe dá segurança existencial. quando as pressões sociais assumem formas
traumáticas, a pessoa vê-se aniquilada, sem ser alguém. busca, então, recompor-
se; mostrar que existe; afirmar-se. quanto mais profunda e traumática a imposição,
maior é o sentimento de não-ser e maior a necessidade de auto-afirmação.
o fenômeno exposto ocorre todos os dias, todas as horas, em pequenas ou
grandes dimensões. É a criança que vê o novo irmão tomar-lhe o lugar e as
preferências dos pais e dos parentes; é o menino ou menina que, deixado de lado
pelos seus amigos em um jogo ou brinquedo, sente-se rejeitado e, portanto, não-
sendo; é o empregado que vê seu colega promovido e ele não; é o exemplo
clássico de alguém que está em uma fila e vê um outro passar-lhe à frente. esses
exemplos banais servem para indicar a ocorrência de formas muito mais
complexas emergentes em outras circunstâncias, tais como a busca do poder, do
prestígio, do renome; a liderança; a publicidade em torno de seu nome; a luta pelo
dinheiro ou pelos títulos e pelo status cuja essência nada mais é do que a auto-
afirmação, tanto mais sensível quanto maior a pressão que destruiu o eu pessoal.
por outro lado, há pessoas que, embora queiram aparecer ou auto-afirmar-
se, o fazem em escala moderada; não foram aniquiladas ao ponto de procurarem
constante evidência de si mesmos; conservam grande parte de seu eu individual e
com isso se satisfazem.

o processo de ser inicia-se com a percepção organísmica, já afetada pelas


experiências ambientais e sociais. o "self” seria, de acordo com chein (1944) e
outros autores, o conjunto de conteúdo auto-referentes, relativos a si mesmo; é
aquilo que percebemos como sendo nosso. a conseqüência é a percepção de
uma identidade que, no dizer de erikson (1971). seria a reflexão e a observação
do indivíduo sobre si mesmo. essa percepção de si pode incluir dimensões no
tempo e no espaço com noções de continuidade e de contigüidade e de igualdade
e de comparabilidade, que permitem responder à pergunta" quem sou eu"?
inerente à identificação de si mesmo, surge o processo avaliativo no plano
consciente ou inconsciente das ações do "self" como respostas ao eu pessoal e
ao eu social, isto é, aos impulsos naturais da pessoa e às pressões ambientais e
sociais. tem início um julgamento do eu na sua totalidade e em aspectos
particulares da existência. a simples imagem de espelho que caracteriza sua
identidade é completada pela autocrítica, dando lugar a mudanças adaptativas
que a pessoa tenta operar no sentido de impor-se a si mesma com respeito e
admiração; procura satisfazer seus impulsos e considera as pressões sociais.
com o processo adaptativo, seu ego se instala (hartman, 1957); passa a
conhecer-se melhor e sua identidade, antes fluida e superficial, passa a
estabelecer-se e a definir-se, embora em constante mudança. do conhecimento de
si surgem a auto-estima e o autoconceito e, em conseqüência, o sentimento de
inadequação, impotência, incapacidade ou, por outro lado, o sentimento de valor
pessoal e de poder. no primeiro caso, sufocado e humilhado pelo quadro de
incapacidade, revolta-se, exibindo comportamentos anti-sociais ou ingressa no
campo das descompensações psicológicas. no segundo caso, suportado pelo
sentimento de valor pessoal, emocionalmente satisfeito, mobiliza seu potencial
para entender a realidade e para a ela adaptar-se. a auto-afirmação no sentido
positivo somente se instala na medida que a pessoa tenha plena consciência do
que com ela ocorre, o que corresponderia ao que wolman (1977) afirma: "what
counts is not only power as it is but power as perceived by oneself" .
a auto-imagem, auto-estima e autoconceito sempre foram tidas como
agentes importantes na conduta humana (honey, 1966; moustakas, 1966;
rosenberg, 1965) como se verifica pela simples observação de que os
comportamentos individuais se alteram consoante a flutuação dessa percepção na
própria pessoa. todo ser humano tende a agir de acordo com o que acha que é. "a
estrutura da auto-imagem determina dia após dia, de momento a momento, o
comportamento da pessoa" (anderson, 1952). trabalhar, pois, com a auto-
afirmação como produto de auto-imagem, da auto-estima e do autoconceito é
operar sobre a pessoa, educando-a ou reinstalando comportamentos pessoal e
socialmente úteis. o gráfico da página 87 pretende ilustrar como ocorre o processo
da auto-afirmação.
após a formulação das hipóteses mencionadas neste trabalho e relendo
laing (1963), pudemos encontrar apoio às nossas observações, quando menciona
esse autor a segurança ontológica. diz laing que o indivíduo pode' 'sentir seu
próprio ser como real, vivo, total, diferenciado do resto do mundo, em
circunstâncias normais, tão claramente que sua identidade e autonomia nunca são
duvidadas; como contínuo no tempo; como possuidor de uma estabilidade,
importância e autenticidade e merecimento internos coexistindo espacialmente
com o corpo e, geralmente, como iniciado pelo nascimento e passível de extinção
pela morte. assim, ele apresenta uma essência firme de segurança ontológica" (p.
46). ao explicar os comportamentos psicóticos, continua dizendo, "se o indivíduo
não pode ter certas a autenticidade, a vida, a autonomia e a identidade de si e de
outros, então se deixará absorver inventando meios de tentar ser real, de se
manter e, aos outros, vivos; de preservar sua identidade num esforço, como
freqüentemente o diz, para evitar perder o seu eu" (p. 47). essa desvinculação do
eu ocorreria, também, segundo laing, no sentido material, havendo pessoas
rotuladas como esquizofrênicos que se sentem dissociadas de seu corpo, perdem
sua identidade física e conseqüentemente ingressam em profunda angústia
existencial; é o eu dividido, segundo laing; o indivíduo é uma coisa e não uma
pessoa.
conhecer o eu, senti-lo como real, sentir-se como alguém, apreciar seus
valores físicos, intelectuais ou afetivos, bem como suas limitações nesses e
noutros campos e, assim, sentir-se como pessoa a quem cabe um espaço no
mundo e um sentido de vida, seria o motivo básico do comportamento em função
do qual giram seus pensamentos e ações. quando não percebe sua identidade
perde-se na imensidão das coisas e confunde-se com o tudo ou com o nada e
desaparece no seu autoconceito. esse desaparecer pode causar os mais variados
comportamentos, desde o autismo ou a tentativa de criar um mundo para si
próprio, até a negação do que existe ou o uso de fantasias que satisfaçam a
necessidade de ser alguém.
muitos exemplos da vida diária ilustram os fatos aqui assinalados, seja na
busca de uma identidade, do reconhecimento de ser alguém, seja nas desordens
comportamentais, de rótulo neurótico ou psicótico, que ocorrem quando o
indivíduo não encontra essa posição psicológica. um dos casos mais evidentes da
experiência do autor refere-se a uma cliente que, não obstante dispor de
condições sociais e materiais de elevado nível, sem problemas ou queixas
objetivamente distinguíveis, ingressava, ansiosamente, em um grande vazio
existencial: a vida não tinha sentido, principalmente na relação familiar e conjugal;
não se sentia válida e útil na própria família e em conseqüência esquivava-se, o
mais que podia, da atmosfera e das decisões familiares. procurava atividades
longe do círculo familiar, na busca de alguma forma de ser alguém, mas nem
mesmo noutros campos achava o seu eu; parecia difícil explicar a si mesma certos
comportamentos que assumia e, muitas vezes, entrava em ansiedade quando
tinha que revelar seu próprio nome e sua identidade. nas sucessivas sessões
focalizou a cliente a história completa de sua vida: com pais separados desde sua
infância, sentia-se incerta na sua origem, questionando até mesmo suas raízes
biológicas com seu pai e sua mãe. sempre se tornava extremamente ansiosa ao
evocar seu passado, suas origens ou quando tinha que expor opiniões pessoais.
não se sentia uma pessoa, alguém capaz de emitir um juízo ou opinião e se o
fazia era para impor um ser que procurava existir, que não havia ainda nascido. a
redução da angústia resultante desse niilismo somente foi possível quando passou
a se valorizar como pessoa, com vida e alvos próprios, quando foi possível
perceber sua existência como indivíduo, quando pôde, abertamente, dialogar com
sua mãe sobre sua origem e identificar-se, na família, como participante desse
grupo e de outros, no trabalho e na vida social.
a auto-afirmação é vista, também, como auto-estima e, nesse sentido,
como aponta chrzanowski (1981), um construto que constitui fundamentos para
entender a motivação humana na vida diária, tanto quanto na situação terapêutica.
É uma realidade mais tangível do que o ego. segundo esse mesmo autor, a auto-
estima, que pode ter vários sinônimos tais como auto-respeito, autoconsideração,
é a imagem favorável de si mesmo, de dignidade pessoal. esses conceitos, pouco
considerados por freud e outras correntes psicológicas, são agora reapresentados
como algo de máxima significância na conduta e em qualquer forma de terapia. .
grÁfico 1
etapas principais do processo de auto-afirmação
percepção dos eventos pessoais e sociais
(respostas sensoriais, motoras e mentais a
quaisquer estímulos pessoais, ambientais ou
sociais)
|
self
|
identidade
|
avaliação no plano consciente ou inconsciente
das respostas aos estímulos pessoais, ambientais
e sociais
|
auto imagem
|
adaptação dos impulsos naturais e pessoais às
pressões e condições ambientais e sociais
|
ego
|
auto afirmação negativa; auto estima autoconceito auto-afirmação positiva,
insatisfação pessoal; satisfação pessoal; equilíbrio
deteriorização do emocional
comportamento

a ocorrência patológica
parece evidente ao autor que a maioria, senão a totalidade dos distúrbios
emocionais, dei origem não-biológica, provém do aniquilamento do eu pessoal e
da conseqüente necessidade de fazê-lo emergir. a percepção de ser
desvalorizado, desprezado, preferido, parece ser a mais contundente experiência
humana. e o homem assim percebido ingressa em defesas para compensar essa
desvalorização de algum modo e, enquanto isso não ocorre, permanece em
estado de real sofrimento. não importa se esse sentimento de desvalia seja real ou
imaginário. desde que a pessoa o sinta, atua como se fosse real.
as compensações psicológicas explicadas pelos mecanismos de defesa
(freud,ana freud e outros) são meios pelos quais o indivíduo recompõe seu
equilíbrio emocional, revendo-se como alguém, bom, útil e expressivo. Às vezes
essa defesa é socialmente inaceitável, não adaptativa, como no caso do indivíduo
que rouba, assalta ou mata para vingar-se, para aparecer, ou para mostrar que
existe e que é alguém. nesses casos, o indivíduo está psicologicamente
equilibrado mas socialmente condenado. noutras vezes, busca afirmação em
obras ou atividades que substituem suas deficiências ou pseudo deficiências e
que são aceitas e socialmente valorizadas. obtém-se, nesse caso, um equilíbrio
social e psicológico adequado. outras vezes, porém, permanece o indivíduo no
plano da nulidade ou da não-existência e esse sentimento, profundamente
traumático, gera angústias às vezes insuportáveis. aí estariam, pois, as nascentes
de todos os problemas psicológicos. manipulá-los, terapeuticamente, com
compensações ou com nova visão de si e dos referenciais externos, é todo o
trabalho da reeducação, da reabilitação ou da psicoterapia e os casos que
mencionamos em páginas anteriores são exemplos que podem ser significativos.
o problema psicológico, manifesto por tensões, angústias ou
comportamentos socialmente indesejáveis, parece brotar como conseqüência da
aniquilação individual, ou, em menor grau, do sentimento de incapacidade ou de
rejeição. isto porque a própria sociedade exige o conformismo a seus padrões e,
logo a seguir, a expressão individual, ou seja, uma capacidade individual de ser
alguém, de resolver problemas, de tomar iniciativas e de dar contribuições à
sociedade. diante dessas exigências antagônicas, conformismo versus expressão,
o indivíduo vê-se perplexo. precisa adaptar-se e precisa ser alguém, para não ser
tragado pelo niilismo. pode conformar-se totalmente e mergulhar no anonimato, no
nada ser, como defesa. É o seguidor sem restrições, para quem tudo está bom.
aceita o niilismo sem tensões. noutro oposto, está o contestador extremado, que
movido pelo seu eu pessoal tudo questiona e somente por maiores pressões
submete-se às imposições sociais. entre tais extremos situam-se, porém, grande
parcela de pessoas que lutam por um equilíbrio entre o não-ser e o ser. não o
atingindo ,ingressam em estados permanentes de tensão e de sofrimento. esses
casos são comuns e os vemos no dia-a-dia, sofrendo ou gerando sofrimento em
outros. muitas das personalidades neuróticas ou psicóticas, para usar a rançosa
nomenclatura tradicional, enquadram-se nessa situação: estão à procura de um
equilíbrio entre o ser e o dever-ser; entre o que são (eu pessoal) e o que acham
que exigem de si (eu social). essas pessoas, às vezes, imaginam que as
expectativas dos outros,sobre si mesmas, são de tal ordem que não podem a elas
corresponder: é o sentimento de incapacidade, real ou imaginário; outras
procuram vencer as “exigências” ou expectativas, impondo o seu eu pessoal,
como forma de se libertarem dessas exigências e temos os comportamentos de
prepotência, de dominância ou de culto de si mesmos. tanto num caso como
noutro, a pessoa sofre ou provoca sofrimentos e torna,se indesejável para si ou
para os outros. a auto-afirmação parece ser o móvel constante, o regulador da
conduta humana. conduzi-la a níveis pessoais e sociais adequados, sem ferir a
individualidade e a sociedade,seria o objetivo máximo do bem-estar individual e
social.
o determinánte básico, por nós chamado dé auto-afirmação, não é tão
simples como o nome indica; não se confunde com o comportamento de "chamar
à atenção sobre si", como é, às vezes, interpretado. É um produto intelectual e
emocional muito mais abrangente e profundo. intervêm nesse comportamento
muitos outros elementos, dos quais se destacam:
a) o nível mental, no sentido de ler a pessoa capaz de avaliar e comparar
diferenças dentre fatos e objetos e entre situações diversas;
b) o nível intelectual, no que se refere às cognições e à acumulação de
informações que permitam à pessoa emitir juízos de valor, sobre si e sobre os
outros, e extrair conclusões quantitativas e qualitativas;-
c) condições de percepção sensorial, através da qual possa a pessoa
receber os estímulos ambientais ou autogerados;
d) as imagens introjetadas de si e dos outros, do eu-real e do eu-ideal, ou
seja, todos os agentes derivados do autoconceito resultantes de frustrações
e conflitos, bem como de sentimentos positivos e negativos.
a auto-afirmação não significa, igualmente, o sentimento narcisista
estudado por kohut (1978) na sua posição antifreudiana, mas o equilíbrio entre o
amor por si e pelas pessoas e fenômenos que o rodeiam. as desordens psíquicas
ocorreriam quando a pessoa não é capaz de estimar-se a si própria, buscando nos
outros, a todo momento, extremamente vulnerável às críticas, a valorização que
lhe falta. o seu eu fragmentado é ambíguo, confuso, instável e não estruturado,
com origens que podem estar na sua relação com seus pais e sua família. quando
esta descarta os vínculos entre seus membros deixando a criança entregue a si
mesma, sem a troca de experiências afetivas constantes, ou quando excessivas
exigências subjugam a visão de si mesma, a criança sente-se privada da estima e
desenvolve auto.imagem depreciativa. como exemplo, basta lembrar os milhões
de menores desamparados ou abandonados que passam a sentir-se injustiçados
e rejeitados embora não possam identificar esse sentimento. tiveram eles o eu
destruído ou parcialmente anulado pela falta de progenitores ou pelas atitudes de
indiferença ou de não empatia que freqüentemente encontraram.
o comportamento de auto-afirmação pode ser entendido como resultante
dos juízos que a pessoa faz em relação a si mesma e de seu eu em relação ao
mundo. quando esses juízos indicam conceitos grandemente desfavoráveis, que
geram sentimentos de nulidade, de não ser ele próprio, de alienação, ou mesmo
de incapacidade face a necessidades imperiosas, a pessoa ingressa em estados
de depressão ou de angústia, que variam de acordo com o grau de insatisfação
percebido. É a conseqüência da reação do ego à ameaça de não-ser. todos nós,
em um momento ou outro da vida, sentimos ocorrer tais sentimentos. no indivíduo
dito “normal", ou normalmente ajustado, essas imagens de incapacidade ou de
nulidade são aceitas e incorporadas como algo não-destrutivo, que ocorrem como
fatos comuns da vida; não afetam a integridade e o conceito básico do eu e,
conseqüentemente, a pessoa continua a viver na busca de outros caminhos;
procura soluções menos frustradoras, aceita os fracassos como parte da
experiência normal de vida e não. se sente invalidado ou rejeitado. em certos
casos, porém, seja por um acúmulo constante de insucessos, seja pela ocorrência
de uma grande e profunda insatisfação, a pessoa começa a interiorizar conceitos
depreciativos sobre-si mesma; tudo lhe parece ameaçador, reforçando a imagem
negativa que está se gerando, ou já implantada. dois pólos extremos podem
caracterizar os efeitos da auto-afirmação:

1. comportamento de nulidade, ou seja, o da percepção e conseqüente


posicionamento de que pouco ou nada adianta fazer, face aos problemas
existenciais, já que seu eu não tem condições de superar problemas. evita
atividades ou quaisquer realizações porque, de antemão, não confia no seu
próprio desempenho. É o comportamento de fuga, de esquiva, de negação da
realidade e outros semelhantes, explicados como defesas pela linha freudiana,
pela não aceitação de si mesmo, na posição rogeriana, ou pela ausência de
reforçamento de valor pessoal, na linha comportamentalista. a conseqüência
emocional, é geralmente, a depressão temporária ou permanente, a inibição ou
bloqueio de comportamentos, resultante do medo de fracasso; .
2. comportamento de ativação, que se refere à não aceitação de um juízo
depreciativo, isto é, o organismo reage contra o baixo conceito que lhe é
profundamente traumatizante. a reação, porém, é não-adaptativa, uma vez que,
gerada sob a percepção de incapacidade, cria tensões severas. a pessoa sente-se
incapaz e, em lugar de manter-se em estado depressivo, expresso no
comportamento anterior, procura lutar contra essa imagem, às vezes de forma
impulsiva e irracional.
predominando o medo do insucesso, o comportamento se desorganiza e
novos fracassos ocorrem. a seguir, mais medo e mais fracassos e os níveis de
excitação aumentam gerando, no plano emocional, estados de intranqüilidade,
agitação, fobias, falhas do desempenho e conseqüente agravamento das
condições existenciais.
os dois comportamentos, acima mencionados, poderiam corresponder a
dois processos básicos de equilíbrio, quer no plano psicológico como no
biológico,e se referem a estados de inibição e de excitação, fartamente
conhecidos no campo da fisiologia e da psicologia.

neurose e significado da vida

a auto-afirmação é o reconhecimento e a valorização da própria


individualidade que, no dizer de rollo may (1977), deve ser preservada. É o alvo da
psicoterapia, no pensamento de rank (1945), e, como busca da própria
individualidade, uma característica básica do comportamento segundo jung (1927,
1939).
analisando métodos de aconselhamento, diz may que forçar o indivíduo a
ser ele mesmo é "piorar ainda mais a confusão. ele precisa, em primeiro lugar,
achar a si mesmo".
mais adiante, o mesmo may define o quadro do neurótico e sua teorização
muito tem a ver com o que encontramos sobre a auto-afirmação. diz may: o
problema do neurótico é sua incapacidade de afirmar. "afirmar significa mais do
que simplesmente aceitar. É mais um aceitar ativo, um dizer sim, não apenas
verbal ou mentalmente, mas com resposta de toda a personalidade".
essa falta de capacidade de afirmar a si próprio, a seus semelhantes e ao
universo está ligada ao acentuado sentimento de insegurança do neurótico. temos
observado ser comum entre os depressivos, os angustiados e os ansiosos, em
geral, a existência de um sentimento de medo ou de falta de confiança em si e nos
outros. agem para se defender de perdas, reais ou imaginárias. no neurótico, ao
contrário do psicótico, geralmente o medo e o sentimento de fracasso tem origem
em alguma perda ou ameaça real de perda. a pessoa envolvida teve, na realidade,
alguma dificuldade material ou moral, objetiva, praticamente verificada. a neurose
é, porém, o exagero e a generalização desse medo, causada pela falta de
confiança em si, que assumiu a forma de baixo conceito pouco a pouco
interiorizado, seja por uma visão deformada dos fatos (plano cognitivo), seja por
reais e repetidos insucessos que geraram uma visão negativa de si mesmo (plano
emocional). em conseqüência, a pessoa não consegue ser alguém; não se afirma
como pessoa e a vida não tem um significado, ou se o tem, o que é pior, surge
como inatingível. a pessoa tem planos ou objetivos e necessidades subjacentes
que lhe parecem muito além de sua capacidade. nestes casos, coloca alvos acima
de suas reais possibilidades ou, se é capaz, não se vê suficientemente dotado
para alcançá-los. no primeiro caso, suas informações e os dados de que dispõe
para manipular o problema são errôneos ou incompletos. É o caso de pessoas
que almejam alto nível de desempenho, seja no campo profissional, social, sexual
ou outro qualquer, baseado em concepções ou imagens que lhe foram
transmitidas e em função das quais acredita que certos padrões de desempenho
são os únicos aceitáveis e que justificam sua conduta. esquecem-se de seu
próprio eu e tomam como diretriz o eu de outrem. alienam-se de si mesmos e
vivem à sombra de outros, buscando igualá-los ou superá-los. a satisfação e o
bem-estar ficam associados e esses alvos; não elaboram seus próprios planos e
suas próprias decisões. no segundo caso, simplesmente não se avaliam
positivamente.
na medida em que a pessoa constrói para si mesma seu próprio mundo,
com as limitações e aspirações que derivam de sua auto-imagem, torna-se capaz
de afirmar-se, de traçar seu próprio rumo, relacionado com o mundo externo, mas
não por este dominado. nesse momento, enquanto pessoa, dá um sentido à sua
vida, fixa metas e estratégias e com elas opera, adaptando-as a eventuais revezes
e impropriedades. pode sofrer com as frustrações e conflitos, porém reformula
planos, mantém as diretrizes essenciais que coloca para si mesmo. nesse sentido,
reconhece-se como alguém, que tem condições próprias e que luta para adaptar-
se, com suas potencialidades e limitações. esse sentido de luta pessoal, ainda que
acarrete derrotas, seria a essência da auto-afirmação. não é o resultado visível em
si que interessa, mas o sentimento de não-passividade, de independência, de ser
capaz de reconhecer em si algo que permanece, que não foi destruído, apesar
dos fracassos.
a auto-afirmação seria também a percepção da própria existência e o
preenchimento do vácuo existencial, tão bem colocado por victor frankl e que,
segundo ele, corresponde à ausência de um sentido de vida. esse mesmo autor
menciona a pesquisa da universidade de harvard, realizada com 100 antigos
estudantes dessa universidade, e na qual se encontrou grande porcentagem de
pessoas que, depois de formadas e mesmo bem sucedidas na vida profissional,
queixavam-se de "falta de uma missão especial vital", "andam à procura de uma
vocação e de valores pessoais que os sustentem". ocorre, segundo frankl, um
novo tipo de neurose, não psicógena, mas noogênica, isto é, resultado de uma
carência de iniciativa, de interesse, que mobilize o homem em uma certa direção.
os sintomas dessa neurose podem ser semelhantes aos da neurose psicógena
(causada por grandes traumas psíquicos) ou da neurose somatógena (causada
por desequilíbrios orgânicos). o sintoma básico é a angústia existencial, a falta de
razão para viver, o desinteresse, a apatia, produtos do baixo autoconceito e da
percepção de uma nulidade individual. muitas fobias e ansiedade difusa podem
ser o efeito dessa percepção de nulidade, em que o eu pouco significa, esmagado
pelos outros ou pela imensidão do cosmos. encontrar um sentido para a vida seria
reconhecer-se como alguém, crer em si mesmo, no seu papel e no seu
desempenho, ainda que com limitações e falhas. esse crer em si e reconhecer-se
como pessoa poderia ser o caráter básico da psicologia humanística, hoje em
franco desenvolvimento, em oposição à psicologia que vê no homem um meio
para alguma coisa e não um fim em si mesmo.

valores sociais e a auto-afirmação

a auto-afirmação, como determinante básico, seria


culturalmente estruturada com base nos valores introjetados pela pessoa, durante
seu desenvolvimento. É, conseqüentemente, um conceito pessoal, totalmente
individualizado, que a pessoa cria para si mesma. e isto é verdade quando
comparamos os alvos comportamentais que cada um de nós impõe para si
próprio. o que representa valorização pessoal para certas pessoas pode não ser
significativo para outras. esta acepção corresponde a alguns conceitos de rogers
quando propõe sua teoria sobre a personalidade (rogers, 1951). todavia, o
conceito pessoal sobre si mesmo não existe senão em decorrência de influências
ambientais, isto é, que dão ao indivíduo os parâmetros de comparação entre si e
os outros. É pessoal, enquanto se incorpora à conduta e nela se reflete a todo
momento, gerando idéias, planos, fantasias e imprime direção à conduta; é,
porém, social na sua origem e somente pode ser manipulado através da
confrontação entre as expectativas sociais que o geraram e a conduta que se
instalou. .
afirmar que estamos em uma fase crítica de transição social, em que alguns
valores são substituídos por outros, tornou-se uma linguagem comum e até certo
ponto, no nosso entender, sem muito sentido. o homem sempre esteve em fase de
transição; a juventude, como grupo, sempre foi contestadora e os adultos, como
indivíduos, em sua maioria conservadores, embora como grupo se fantasiem de
renovadores e progressistas. os valores ligados à estrutura legal da família, à
religião, ao domínio político e a outros campos sempre foram questionados, em
diferentes formas, de acordo com a cultura e os recursos de comunicação e de
interação social. provavelmente, o acontecimento mais traumático da atualidade é
o de ser a pessoa, hoje, mais facilmente agredida por confrontações e desafios,
porque os conceitos, os valores e as afirmações chegam mais rapidamente a seu
conhecimento e exigem pronunciamentos mais numerosos e em menos tempo do
que antigamente. em conseqüência, ela é obrigada a pensar e a decidir mais
depressa. isto gera grandes tensões. o indivíduo não se sente apoiado em dados
definidos, pois as informações que obtém sobre a vida e seus valores, no estudo,
no trabalho, na família, no campo sexual, no casamento, na política, na religião,
fluem sem cessar e até antagonicamente. e o homem começa a perguntar a si
mesmo: quem sou eu? o que quero? qual é o meu papel face a todas essas
expectativas e face às decisões que me pressionam cada vez mais?
a crise existencial se instala quando a pessoa vê um conflito entre os
valores introjetados e com os quais, bem ou mal, vai sobrevivendo e a
necessidade de decisão, urgente e imperiosa, sobre assuntos familiares, sexuais,
políticos, religiosos, culturais, etc., os quais muitas vezes contrariam fortemente a
estrutura que desenvolveu para sobreviver e afirmar-se. o efeito é um sentimento
de desvalia ou incapacidade, diante do mundo complexo, para o qual o tempo de
decisão é encurtado. os padrões que introjetamos como úteis sofrem o impacto
crescente da urgência de decisões e o sentimento de afirmação de si mesmo
entra em colapso. É comum os pais, e mesmo os jovens , em situações de
aconselhamento comum ou de terapia, afirmarem com plena consciência de seu
estado: "não sei o que fazer, sinto-me perdido", "tenho medo de mudar", "não sei o
que vai acontecer".
a mudança de valores às vezes afeta uma área em particular, seja nos
costumes sexuais, seja na valorização do status pelo dinheiro ou pelo poder, seja
na subordinação a princípios éticos, religiosos ou políticos. de qualquer forma, o
indivíduo se vê pressionado, avaliado, julgado pelo que faz ou pelo que não faz. a
tentativa de proteger-se, como o engajamento em opiniões e movimentos, é
igualmente contestada e o produto emocional é a angústia pela tomada de
posições. a pessoa deixa de ser ela mesma para transformar-se em um produto
puramente social para o qual é impelida. perde o sentido de si mesma e procura
equilibrar-se em valores contraditórios, ou assume posições rígidas para as quais
não lhe faltaram críticas e ameaças. em muitos casos, o foco de avaliação passa
de si mesma para o mundo externo e a pessoa se anula. com esse sentimento de
não existir vê-se como robô, manipulado por outros, ou transforma-se em uma
fortaleza individual, em luta permanente com convicções que não são as suas. a
angústia existencial se avoluma e o indivíduo questiona sua própria
individualidade.
quando a pessoa é capaz de manter seu quadro de referências e, no
panorama complexo de opções, conseguir distinguir o seu eu e valorizá-lo, o
caminho para o crescimento e a tranqüilidade é novamente aberto. quantas vezes
observamos, em terapia, a pessoa questionar uma opção como algo imposto,
indesejável, e vir, posteriormente, a adotá-la. nesses casos o fenômeno poderia
ser explicado porque, na revisão de seus valores e de seu eu, ela pode aceitar a
opção não mais como imposição externa que a anula, mas como decisão que
passa a ser sua e que, por situações diversas, pode coincidir com o alvo das
pressões externas.
uma atitude eficaz na assistência prestada a pessoas que se defrontam
com problemas existenciais seria considerar o que diz rogers: "uma forma de
ajudar o indivíduo a aproximar-se da abertura para a vivência é utilizar uma
relação em que é apreciado como uma pessoa em si, em que as descobertas que
ocorrem em seu íntimo são compreendidas e avaliadas empaticamente e na qual
tem liberdade de' vivenciar seus sentimentos e o de outros sem que, ao fazê-lo,
seja ameaçado"(rogers, 1967).
a proposição de rogers indica uma atitude terapêutica. apenas
acrescentamos que a justificação dessa atitude estaria.na necessidade de auto-
afirmação. encontrar-se "como uma pessoa em si", ter liberdade de "vivenciar
seus sentimentos e o de outros" parece-nos suficientemente claro como um
processo de auto-afirmação.

perspectivas humanísticas e filosóficas

o próprio movimento filosófico atual reporta-se ao motivo de auto-afirmação


como componente essencial do comportamento humano. o existencialismo é um
notável exemplo ao se contrapor ao tecnicismo que, tratando o homem como
objeto, o anula na sua individualidade, surge, pois, o humanismo na psicologia que
nada mais significa do que um movimento de inaceitação do homem-objeto; visa
restaurar o seu eu, como pessoa, reconhecendo-o como participante e não como
espectador ou produto da vida. kierkegaard é tido como um dos inspiradores
desse movimento, seguido por hussed, heidegger e jaspers. em continuação
encontramos sartre, camus, marcel ponty, binswanger, buber e robo may enquanto
outros, como victor frankl, rogers e laing, caminham na mesma direção, embora
sob placas diferentes. o encontro existencial é a situação educativa ou terapêutica,
de pessoa para pessoa, cada uma com seus valores e seu eu. não se busca
impingir ou modelar comportamentos, mas vivenciar o que existe dentro de cada
um. É o ser no mundo que prevalece.
esse humanismo na psicologia é bem o reflexo do homem que se revolta e
se desajusta quando se vê alienado de si mesmo; quando é ignorado ou
"coisificado" ou, ainda, e principalmente, quando perde o autoconceito, a auto-
estima, resultante de depreciação externa aceita como válida e assim introjetada e
incorporada ao “self”. quando se facilita à pessoa questionar a si própria, no seu
em-si e para-si, pode ela retomar a uma visão de si mesma, a se avaliar face a
seus alvos e aspirações, a se reconhecer como um ente próprio, como seu eu
subjetivo, todo único e pessoal. reabre-se, assim, o caminho da tranqüilidade e do
bem-estar individual e pode-se constatar quanto é decisivo no ajustamento
humano a retomada do valor pessoal, do sentimento de que, apesar dos conflitos
e frustrações, a pessoa ainda é capaz de sentir-se a si mesma, de ter a
consciência de existir e de com ela selecionar seus valores e seus alvos. a
essência, do homem é a percepção de si mesmo, como pessoa, capaz de sentir,
pensar e agir dentro de sua individualidade.
muito freqüentemente observa-se, na assistência terapêutica, que o cliente
coloca duas imagens, o "dever ser" e o "ser", as quais entram em conflito e geram
angústia. e quanto mais se enfatiza uma ou outra imagem, mais se acentua a
dissonância pessoal e o conflito, pois que a pessoa se vê mais profundamente
atingida pelos "seus" valores e pelos valores externos.
os testes, as medidas, assim como as avaliações puramente externas que
a todo momento enfrentamos no dia-a-dia tendem a enfatizar o "dever ser", as
expectativas sociais, os critérios pelos quais somos julgados, em função de um
clima externo, frio e inquestionável. o humanismo em psicologia tende a reduzir
essa imposição existencial, retomando o eu, o "ser" como o aspecto importante,
não como soma ou função de partes, mas como um todo capaz, inclusive, de
superar as deficiências parciais avaliadas isoladamente. reduz-se, assim, a
distância entre as duas imagens, o "dever ser" e o "ser" e a pessoa entra na
plenitude de si mesma e assim sentindo usa toda sua potencialidade da qual é
biologicamente dotada. o humanismo é, no fundo, um retorno parcial da psicologia
ã filosofia e ã biologia sem, contudo, abdicar de seu campo próprio. não retoma a
moderna psicologia à mera especulação filosófica, nem regride a simples
explicações neurofisiológicas mas reabre, na concepção do homem, a existência
de um sentido de vida, algo que provém da fé ou de um juízo superior, que pode
ser dele mesmo, mas que lhe dá, como assinala frankl, uma condição
caracteristicamente humana. esse sentido de vida é a razão da existência, e,
como afirmação de si, parece emergir como a mais poderosa fonte de ajustamento
psicológico aos problemas de vida.
o homem, porém, só chega a encontrar um sentido de vida quando se
defronta, sem pressões ou direções, consigo mesmo e com o mundo. quando é
capaz de analisar o “dever ser" e o "ser"; quando pode admitir as exigências e as
expectativas sociais como perfeitamente naturais e justificadas no contexto em
que se inserem e não como invasões ao seu eu. É o caso, por exemplo, dos filhos,
ajustados, que entendem as exigências dos pais e seus papéis de “controladores"
e não se sentem rebaixados no seu autoconceito porque são assim controlados.
admitem a naturalidade desses controles sem que isso lhes afete o seu próprio
valor. É o caso do empregado, do aluno, do cônjuge, do membro de um grupo ou
clube ou de qualquer cidadão que tem que se ater a certas regras e regulamentos.
na medida em que se sinta afetado, rebaixado, humilhado pelas imposições
existentes, sente estar perdendo o seu eu, ou seja, não o tem suficientemente
forte para entender que, fora de si, há outros “eus" , sociais e pessoais, com
conteúdos próprios igualmente válidos. quando sente que seu eu persiste, não
obstante essas barreiras e que seu "ser" é algo real, próprio, individual, que
sobrevive, apesar das limitações, ou por causa delas, então sua imagem pessoal
se fortalece e o conflito entre o dever e o ser deixa de existir; afirma-se perante? si
mesmo e o ajustamento se instala. não se confunda, porém, esse comportamento
com o conformismo barato, pois isso equivaleria à anulação de si mesmo. a auto-
afirmação implica também em luta pela conquista do espaço de vida:, exige o
questionamento constante do "dever ser", dos valores e dos sistemas de vida,
sempre que essas regras e regulamentos estigmatizem, explorem e escravizem o
homem, sempre que a ele se negue o direito de ser alguém na integridade de sua
vida cognitiva, afetiva ou sócio-econômica. a luta pela auto-afirmação atinge a
pessoa, os grupos, o trabalho, a política e as nações consoante seu caráter
nacional. assume muitas vezes a luta pela posse do poder, inclusive pela
violência, quando não pode a pessoa conquistá-la pela inteligência. nesses casos
há um processo de conflito em que as reações não-adaptativas predominam, isto
é, buscam indivíduos e grupos destruir a fonte frustradora de sua auto-afirmação e
configura-se um estado de patologia social em que inexistem a democracia e o
respeito à personalidade humana. grupos dominam grupos e impõem valores e
regras de vida como nos regimes totalitários. nessas circunstâncias, o homem
revolta-se e passa a ser agressor, tão forte é o sentimento de não-afirmação que
nele brota. a profilaxia e o remédio são evidentes. somente quando ocorre a livre
expressão e a valorização de cada pessoa pode esta construir o seu eu, conhecer
seus limites de competência e agir dentro deles. a violência não terá mais sentido;
desaparecerá por desnecessária ou contraproducente; a auto-afirmação elaborada
na pessoa e nos grupos, por eles próprios, indicará os limites e as características
da luta, o encontro com a comunidade e consigo mesmo.

8 - contribuições à terapia psicológica

como produto de nossas observações ao lángo de muitos anos, a partir das


teorias e técnicas de rogers (barros santos, 1968) foi possível inferir que algumas
diferenciações teóricas e operacionais estavam se revelando úteis e que poderiam
ser classificadas como urna posição neo-rogeriana. tais distinções são mais
sensíveis nos seguintes pontos: 1º) do ponto de vista teórico, a tendência ao
crescimento e a auto-realização proposta por rogers como fundamental na
motivação humana é sensivelmente ampliada com a busca de auto-afirmação, isto
é, a necessiçlade básica do ser humano em sentir-se alguém, em existir e em
mover-se como pessoa em um mundo que é seu. 2º) as três condições
necessárias e suficientes para terapia propostas por rogers são colocadas de
forma um tanto diferente, ou seja: a congruência e a autentiddade são mantidas e
até mesmo enfatizadas no sentido de ser o terapeuta uma pessoa clara e
transparente ao cliente, vivenciando suas experiências e seus sentimentos e
expondo-os ao cliente sempre que este desejar conhecê-ios; a aceitação ou
consideração positiva incondicional é pouco enfatizada pois sua ocorrência pode
significar um conformismo pouco pragmático ou um artificialismo que se opõe à
congruência ou autenticidade; a empatia é consideravelmente reforçada e
ampliada como sendo a mais eficaz das três condições.

objetivos básicos: desenvolvimento pessoal e psicoterapia

geralmente, as pessoas que procuram terapia psicológica ou a assistência de


orientadores e outros profissionais são movidas por um desejo de resolver
relações conturbadas, seja no plano familiar, conjugal, profissional, social,
religioso, sexual.
ou em qualquer outra área. não se sentem suficientemente capazes de enfrentar
os problemas com os dados da realidade em que vivem. outros sentem-se em
constantes situações de "stress" físico ou mental. outros, enfim, dirigem-se à
terapia para melhor e mais profundo aproveitamento de suas potencialidades;
sentem que podem ser mais do que são. em todos os casos há um estado de
incongruência em que sobressai uma discrepância entre o eu real e o eu ideal,
entre o eu pessoal e o eu social (videcapítulos anteriores). a imagem de si é
percebida como algo incerto; há um sentimento de incapacidade ou, por outro
lado, de injustiça, insegurança ou de medo.
os procedimentos destinados à assistência psicológica repousam,
basicamente, nos conceitos sobre a vida mental e sobre os determinantes do
comportamento. nesses referenciais incluem-se, igualmente, a psicopatologia e a
acepção do que é "normal", "útil" ou "desejável". mowrer (in pennington & berg,
1954) apresenta excelente súmula das diferentes posições em que se coloca o
comportamento normal, visto pela estatística, pela psicologia, pela filosofia e pela
teologia e pelo qual se infere que as influências culturais nessa conceituação
parecem ser dominantes.
atualmente, com a ênfase nos direitos humanos, nos conceitos de liberdade
individual e de livre opção, para não se falarjna, teologia do prazer, os caminhos
terapêuticos parecem abrir-se no sentido de considerar normal, útil ou desejável
aquilo que assim parece à pessoa.. dá-se a esta a opção e, em conseqüência, a
direção do processo assistencial nem sempre se destina a "curar". o alvo
transforma-se em desenvolvimento pessoal, no sentido de mobilizar ou de ampliar.
os recursos humanos, facilitando à pessoa uma vida mais fértil e mais agradável.
o bem-estar, o prazer, a consciência de ser-se alguém e a eliminação de barreiras
ou atritos passam a ser a tônica do processo. esse sentimento parece resultar de
um balanço final que a pessoa faz de seu papel na vida, face às expectativas que
derivam dele e dos outros e de seu desempenho, ou seja, da maneira como
efetiva seu papel.

metodologia psicoterápica: a dinâmica do processo

como assinala karasu (1979), o repertório de teorias e técnicas psicoterápicas


tem-se avolumado e se categorizado em modelos freudianos, neofreudianos e
não-freudianos. uma explosão de formas terapêuticas vem ocorrendo, das quais
são exemplos a terapia "racional" de ellis, o "realismo" de glasser, o "grito primal"
de janov, a "terapia orgástica" de reich, o "sentido da vida" de frankl, a . inibição
recíproca" de wolpe e até a "meditação transcendental", para citar apenas
algumas.
tanto no caso de desenvolvimento pessoal como no de terapia, os
procedimentos têm variado desde a antigüidade e se estendem através do uso de
recursos biológicos (quimioterápicos, cirúrgicos, manipulativos, bioenergéticos,
etc.), de recursos sociológicos (mudanças ambientais, ocupacionais, situacionais,
institucionais, etc.) e de recursos psicológicos (diálogos, dramatizações, catarse,
hipnose, condicionamento, atuações no plano cognitivo e emocional, etc.) e se
acham descritos por vários autores (pennington, 1954; ford, 1963; sundberg &
tyler, 1963; wolberg, 1977) e por nós mencionados nos capítulos iniciais deste
livro.
parece estarmos, agora, na era de valorizar o sentimento, o sensualismo e,
principalmente, a experiência imediata, o “aqui e agora” , desprezando o passado
e o amanhã, o que se explica como repulsa à excessiva dependência do homem à
tecnologia e a conseqüente ameaça de perda da própria individualidade.
realmente, a massificação e a tecnocracia levaram o homem a buscar reafirmar-se
como alguém que existe; que não é um simples número ou objeto, mas um ser
que tem certo conteúdo pessoal e ao qual devem caber alternativas e opções. se
o homem se revolta contra esse anonimato em que é colocado é porque o
sentimento profundo de ser (ou de não-ser) foi de alguma forma atingido ou
simplesmente ameaçado. em qualquer campo o homem parece buscar, sobretudo,
o reconhecimento de que é alguém, que deve ser conhecido e respeitado. esse
sentimento nos pareceu básico em todos o,s clientes e sua utilização muito útil na
técnica terapêutica, na medida em que nossa observação do quadro clínico seja
válido. aliás, sobre os efeitos da técnica terapêutica, há muito que ser ainda
descoberto e as pesquisas existentes não são totalmente esclarecedoras, embora
revelem alguns marcos operacionais (ga:rfield e bergin, 1978). o que parece mais
comum, se analisarmos os modelos terapêuticos que vêm sendo usados com
nomes diversos através do tempo, é a atenção dada à pessoa, considerando-a,
respeitando-a e desenvolvendo seu poder de opção e de decisão.
embora seja discutível a generalização de modelos metodológicos em terapia
psicológica, face à diversidade de casos e, principalmente, às atitudes que se
exigem do terapeuta, há certas premissas e conseqüentes formas de atuação que
se têm revelado úteis. procurou o autor reunir os conceitos da dinâmica
terapêutica em 8 proposições a saber:

1. É possível inferir que as proposições de rogers referentes às atitudes


essenciais à prática terapêutica e que se referem à congruência, respeito
incondicional ao cliente e empatia, em um clima de calor humano, permaneçam
constantes. o que se propõe, como ingrediente terapêutico complementar e
igualmente útil, é a análise cognitiva e emocional do fenômeno da auto-avaliação
que o cliente realiza.
a avaliação supra referida é um processo habitual de vida, efetuada a todo
momento e tende a ocorrer com mais profundidade em situações de terapia.
consciente do julgamento que ocorre no cliente, pode o terapeuta facilitar essa
avaliação através de reflexões de idéias e sentimentos e de comentários
esclarecedores sobre:
• eventos que o cliente considera positivos ou negativos em sua experiência;
• fantasias que elabora em torno de seu eu ideal;
• dificuldades ou barreiras que percebe, internas ou externas.
À medida em que terapeuta e cliente analisam, reflexivamente e em conjunto,
em clima receptivo e não-crítico, os temores e insatisfações, bem como os
sucessos e gratificações, o cliente tende a modificar a concepção sobre si mesmo.
a competência profissional do terapeuta - que o diferencia dos leigos e da situação
comum de vida - consiste em explorar os elementos cognitivos e emocionais que
dão origem às defesas e aos comportamentos do cliente.
seria possível argumentar que o processo de avaliação facilitado pelo
terapeuta venha a se contrapor às três condições propostas por rogers,
particularmente às que se referem à consideração positiva e incondicional e à
empatia. a divergência assim suposta não ocorre, porém, uma vez que a avaliação
é realizada pelo cliente. o terapeuta, no decurso do processo, sente que o cliente
está se avaliando e sua função é reunir os dados e as interpretações deste
originárias e abrir caminho para que o cliente reveja as razões de seus
pensamentos, sentimentos e ações e os interprete sob outras óticas encontrando
explicações menos traumatizantes para os fatos que considera. o papel do
terapeuta é o de oferecer, como hipóteses, várias interpretações alternativas
focalizando a dinâmica de necessidades e motivos que fluem no cliente e as
defesas que vem utilizando para satisfazê-ios.
as colocações ou interpretações não seguem, jamais, o modelo analítico
tradicional em que as expressões físicas ou intelectuais do cliente são captadas
pelo analista no seu sentido inconsciente, simbólico, em termos dos conceitos
psicanalíticos. o material exposto pelo cliente é comentado pelo terapeuta com
expressões usuais do dia-a-dia, ao nível consciente. É um diálogo ativo em que o
significado da existência, o sentido de vida, as aspirações e as fantasias são
exploradas, dentro de realidades fenomenológicas e existenciais.
2. ocorrendo a auto-avaliação, surge o conceito do eu-real e do eu-ideal,
daquilo que se percebe que é e daquilo que deveria ser; a segurança e a auto-
estima são atingidas. dessa confrontação surgem problemas no sentido de
examinar eventuais deficiências pessoais, face às exigências e pressões
ambientais. o estado de tranqüilidade, de bem-estar e de produtividade dependerá
dessa confrontação. não se trata de uma simples aceitação de si mesmo, de
acordo com a posição rogeriana, mas de um julgametito muito profundo em que as
ações e a conduta geral são revistas, com dois sentimentos paralelamente
dispostos: 1) reconhecimento de necessidades, de deficiências e de pontos
positivos; 2) definição de papéis do sentido d_ vida face ao sentimento anterior.
em outras palavras, a pessoa tem a percepção aceitadora do que é, do que
precisa, de suas potencialidades e de suas dificuldades e, iÍo mesmo tempo,
define sua trajetória de àção, face à avaliação realizada. não é a aceitação
conformista e até certo ponto impregnada de passividade (nada posso fazer, se
sou assim...) mas de um planejamento operacional de sua vida face a esse
julgamento (tenho limitações, agi com elâsou contra elas, mas posso fazer algo,
porque sou alguém e como pessoa existo e tenho um papel a desempenhar) .
com base no material verbal apresentado pelo cllente, o terapeutafaz
comparações entre seu desempenho e as barreiras ou dificuldades que enfrenta.
essa intervenção consiste, de um lado, em vivenciar com o cliente as experiências
positivas ou negativas que enfrentou e os recursos de que dispunha para agir.
o terapeuta procura despertar as fantasias do cliente e seu nível de
aspirações. nesse momento o cliente faz um julgamento de si mesmo no que se
refere a seu futuro. surgem imagens sobre o sentido de vida que colocou para si
mesmo ou, o que é mais comum, ausência de um sentido. esse sentido não é
apenas um objetivo, tal como entrar em uma faculdade, arranjar um determinado
emprego, viver harmoniosamente com o esposo, esposa ou filho, com o chefe ou
com os outros, usufruir melhor a vida sexual ou, como me disse um adolescente
certa vez: "meu único problema é ter uma moto". não se trata de manipular esses
fatos na sua superfície, nem no seu aspecto operacional, mas no significado que o
alcance desses objetivos tem para sua própria avaliação como pessoa.
3. a relação assistencial, seja profilática ou terapêutica, caracteriza-se por
uma troca de percepções, cognições e sentimentos, entre o psicólogo e a pessoa
assistida. não se configura, em momento algum, o caráter de discussão ou
confrontação de opiniões, mas o posicionamento do psicólogo, quando este sentir
que sua verbalização e a expressão de sentimentos possa contribuir para
aprofundar o processo de avaliação do cliente sem traumatizá-io. a discrepância
ou a concordância de sentimentos são fatos reais da vida e por isso são
essenciais à relação psicológica. o que diferencia essa relação da vida real é a
ausência de imposições, luta, domínio ou submissão. cada um, psicólogo e
cliente, tem sua individualidade e podem pensar igualou diferentemente sobre os
mesmos assuntos, com base nas percepções e vivências de cada um. esse é o
agente positivo que provavelmente facilita à pessoa sua auto-afirmação.
a aceitação do outro como ele é, deslocando-se o foco referencial do
terapeuta para o cliente, entendendo seu comportamento em função da pessoa
que ali está, é o procedimento básico rogeriano. essa condição porém, embora
teoricamente compreensível, é praticamente rara, senão na totalidade, pelo menos
na maioria das atuações dos psicólogos, conselheiros e outros profissionais. vê-se
constantemente, até nas discussões técnicas e na conversação normal, como o
psicólogo julga seu cliente e o está sempre julgando.
4. o diálogo entre o psicólogo e a pessoa assistida processa-se no plano
emocional e cognitivo. há espaço para apreciação racional dos fatos da vida, para
discussão de planos de ação e obtenção de informações. o material tratado
provém do cliente, não havendo direção por parte do psicólogo, o que não deve
impedir este último de formular perguntas relativas a situações já exploradas ou
que estimulem o cliente a uma ação catártica. pode haver interpretações
superficiais ou profundas, expressas pelo psicólogo, como hipóteses a serem
julgadas pelo cliente. essa colocação facilita o vivenciar e o experienciar proposto
por gendlin (1961).
5. o processo terapêutico é, sobretudo, uma revisão de .critérios, não no
sentido de ignorá-ios, mas na direção de um foco auto-referente. a pessoa muda
no sentido de tranqüilizar-se, quando faz um cotejo de suas próprias
potencialidades e das barreiras que enfrenta; quando verifica em si mesmo suas
aspirações e suas necessidades e as confronta com seu nível de realização. a
função do psicólogo é permitir que essa confrontação se faça de forma
"consistente com o self" , porém muito mais ativa. se o cliente verbaliza, por
exemplo, "fracassei nos meus estudos", ou "fracassei no meu casamento" ou no
"meu trabalho", esse "fracasso" é explorado pêlo terapeuta em função dos
agentes que promoveram esse fracasso; o enfoque cognitivo e racional conduz,
posteriormente, ao enfoque emocional. parte-se do cognitivo para o emocional e
não deste para aquele.
6. É evidente que os procedimentos e as "técnicas" psicoterápicas, aqui
expostas, freqüentemente se relacionam com outras atuações, particularmente
com as técnicas cognitivas (beck, 1976; beck e rush, 1978), com as técnicas
rogerianas (rogers, 1951, 1978; hart e tomlinson, 1970), com os procedimentos
existencialistas (may, 1977) e logoterápicos (frankl) e provavelmente com
procedimentos comportamentalistas (lazarus, 1972, 1977). não se trata de uma
simples mistura de métodos, mas de um conjunto integrado e coerente de atitudes
e de intervenções, que caminham em uma direção definida, isto é, na exploração,
pelo cliente, do que representa, para ele, o seu eu, e a abertura de espaço para
que ele encontre sua individualid,ade e sua pessoa, para que avalie suas
limitações e suas possibilidades e o resultado de suas atuações vivenciais dentro
dessas coordenadas, ao mesmo tempo em que define, para si mesmo, um sentido
de vida e as razões para existência. a orientação terapêutica é essencialmente
baseada na auto-afirmação e nisto se diferencia das demais teorias e técnicas
psicoterápicas. opera-se em uma visão humanística da pessoa, em que o
indivíduo, como pessoa, é o foco principal, embora possa haver freqüentes
referências a aspectos particulares do comportamento os quais são entendidos na
situação organísmica e global da pessoa, no seu contexto existencial.
7. a posição terapêutica, tal como a sentimos, pode envolver, também, um
questionamento dos valores vigentes, sejam educacionais, profissionais, familiares
ou pol1ticos, não no sentido de oposição pura e simples, mas na acepção de
confrontá-ios com as necessidades e os motivos do cliente, quer pessoais, quer
como componentes de grupos ou instituições. não se restringe unicamente à
pessoa, pois estaríamos, se assim fosse, tratando-a em um mundo particular,
alienando-a das contingênciais sociais e ambientais. por essa razão, a
personalidade do cliente e suas reações comportamentais são relacionadas com
todos os agentes externos que o cercam; o domínio de seus pensamentos e
ações é ampliado e discutido face às pressões, valores, necessidades e
expectativas sociais. o distúrbio psicológico é visto mais como algo resultante de
raízes sociais e a pessoa do cliente e seu eu pessoal são confrontados com essas
exigências e características culturais, econômicas e até ecológicas, sem se perder
de vista a pessoa do cliente e sua individualidade. facilitar a percepção de si
mesmo, do papel que como pessoa ela reserva a si mesma e assim define sua
vida, é o alvo básico. .
8. a ser válida a hipótese de que a auto-afirmação seja o deterrninante básico
do comportamento e que os problemas psicológicos ocorram, embora sob
nomenclatura e formas diversas, no campo do valor pessoal (poder, prestígio,
segurança, confiança em si e sentimentos similares), explicado diferentemente em
outras colocações teóricas, é óbvio que o desenvolvimento pessoal, ou a meta
terapêutica, seja orientado na valorização da pessoa. não se trata, porém, de
simples elogios, exortações ou justificativas mas, essencialmente, de ênfase na
individualidade da pessoa e nas reações que provêm de seu eu pessoal e de seu
eu social. a confrontação entre o ser e o dever-ser, ou seja, entre os impulsos
pessoais e as pressões sociais procede-se em termos da pessoa, isto é, daquilo
que éomo indivíduo foi nele produzido. os erros, limitações ou impropriedade de
atuações, como tais vistos pelo cliente, são reexaminados face a várias
alternativas para que possam ser entendidos na sua dinâmica. *
* ruth scheeffer e uma equipe de estudiosos do aconselhamento psicológico,
em excelente trabalho descritivo e crítico de métodos e técnicas nessa área. citam
a proposição de dinkmeyer publicada no the personnel and guidance jounal (v. 51,
n? 3, pp. 177.81, 1972), segundo a qual o encorajamento e a valorização do
cliente são elementos indispensáveis ao processo de aconselhamento. essa
contribuição coincide com o que propomos, neste livro, como produto de nossa
experiência pessoal.
o fato psicológico que se julga ser de efeito terapêutico no processo de auto-
afirmação é o momento em que a pessoa, ao verbalizar um comportamento e o,
sentimento traumático que dele flui, defronta-se com outras alternativas que
reexplicam tanto a conduta como a sensação havida. essas alternativas ou
reinterpretações, oriundas dela própria ou do terapeuta, interrompem o caminho
da jnterpretação traumática até então existente. facilita-se, assim, o surgimento de
novas alternativas ou respostas que, em geral, reduzem a ansiedade ou angústia
(medo das conseqüências que a pessoa interiorizou) porque oferecem explicações
menos traumáticas com relação ao eu-pessoal. a pessoa tende a refazer, para
melhor, o juízo sobre si e como essa apreciação é, na linguagem
comportamentalista, um poderoso reforçador positivo, a pessoa tende a incorporar
essa resposta a seu quadro de reações.
há o risco de emergirem alternativas ou respostas ainda mais traumáticas,
robustecendo o quadro de deficiência e de baixo conceito, já instalado, com
aumento da ansiedade e maior desordem comportamental. são os efeitos
negativos que podem ocorrer em qualquer terapia. a habilidade do terapeuta
consiste em discutir com o cliente todas as alternativas possíveis, traumáticas ou
não, acompanhadas, sempre, de calor humano, apoio e empatia que tendem a
neutralizar os efeitos traumáticos de qualquer nova explicação.

muitas observações, originárias de outros autores, parecem conformar a


dinâmica do processo tal como a vemos, ou seja:

- a qualidade da relação pessoal é, sempre, o fato mais importante. as


atitudes criadas pelo psicólogo e o clima psicológico são o que leva o cliente a
mudanças construtivas. "um alto grau de empatia talvez seja o fator mais
relevante numa relação sendo, sem dúvida, um dos fatores mais importantes na
provocação de mudanças e de aprendizagem" (rogers e rosenberg, 1977). a
empatia é uma forma de valorizar a pessoa, provavelmente mais operante do que
o "respeito positivo incondicional" e a "congruência".
- pesquisas de burler, sobre o método rogeriano, citadas e comentadas por
pagés (1976, p. 113), envolvendo mudanças no ego ideal e na concepção do ego
como conseqüência de terapia, medindo-se as variações pelo processo "q-sort",
indicaram "que se produzem mudanças, não atribuíveis ao acaso, no sentido da
redução das distâncias entre ego e ego ideal, antes de e após a terapia" (pages,
1976, p. 114).

a pergunta que os comentaristas e pesquisadores colocam é sobre onde


ocorre a mudança: no ego ideal ou na concepção do ego e a análise dos dados
parece indicar que "na maior parte dos clientes o ego ideal permaneceu
admiravelmente estável no curso da terapia... É principalmente a concepção do
ego que mudou na maioria dos casos". e rogers diz, ao referir-se ao resultado da
terapia, "que o cliente tornou-se essencialmente a pessoa que desejava tornar-se
quando começou a terapia" (pages, 1976).
mais adiante diz pages que a terapia produz modificações na maneira como a
pessoa se julga, permanecendo inalterados seus valores. o cliente passa, em
função da terapia, a reconhecer seus próprios valores, a torná-ios seus, o que
exclui a resignação e a indulgência consigo como produtos da terapia. nesse caso,
a nosso ver, ocorre o processo de auro-afirmação: o cliente passa a sentir-se
como pessoa e a reconhecer seu potencial e suas limitações, sem efeitos
traumáticos. cremos, pois, que a resultante terapêutica é a auto-afirmação,
embora não seja esse fator assim identificado por rogers ou seus comentaristas.
no processo de valorização de si mesmo, surge a confrontação dos valores
introjetados na infância e na adolescência. toma-se um quadro de valores que
ditam o certo e o errado, na forma pela qual os introjetamos e que muitas vezes
entram em oposição com a nossa própria percepção e nossas experiências.
ocorre uma acomodação pela escolha de um dos lados, mas pode ocorrer,
também, um conflito, a percepção de uma nítida disparidade entre o que somos e
o que "devemos" ser. corresponde esta colocação àquilo que rogers (1978) afirma
passar-se na terapia bem conduzida: a pessoa é valorizada na sua individualidade
e singularidade. este é o caminho psicoterápico que temos visto como frutífero.

parte iii

aplicaÇÕes em situaÇÕes especiais

9 - filhos e alunos difíceis

o texto abaixo resultou de um levantamento dos problemas mais


freqüentemente citados pelos pais e professores, realizado pelo autor, entre
alunos de curso de i? e de 2? grau. como constitui amostra de um amplo
panorama ed)lcacional e social foi aqui incluído, com algumas modificações na
sua redação original.

como ocorrem os problemas

1. vimos nos capítulos 6 e 7 que a auto-afirmação como necessidade básica


do ser humano transforma-se em determinante do comportamento. há, porém,
outras necessidades que precisam ser satisfeitas, seja para simples
sobrevivência, seja para desempenhar os papéis que o meio ambiente espera ou
impõe. assim, a pessoa tem necessidade de alimento, de água, de repouso, de
conforto, no plano físico como, também, necessidade de segurança, de afeto, de
contacto humano, de realização e muitas outras que surgem na confrontação
entre o eu pessoal e o eu social (ver capítulo 7). cada necessidade é expressa por
alvo consciente e aparente, embora seu conteúdo possa ser inconsciente.
2. quando a pessoa satisfaz uma necessidade, consciente ou
inconscientemente, sente-se bem; está psicologicamente ajustada.
3. quando a necessidade não pode ser satisfeita, por algum impedimento
material ou barreira colocada pelos pais, colegas, professores ou por outros
agentes quaisquer, a pessoa sente-se frustrada. outras vezes, a satisfação de
uma necessidade impede a satisfação de outra e o organismo vê-se em conflito.
qualquer das situações produz estados desagradáveis ou ameaçadores e a
pessoa entra em estado de tensão que se torna maior na medida do grau de
insatisfação.
4. diante de uma necessidade não satisfeita a pessoa tenta vários recursos
para superar as dificuldades e, conseqüentemente, reduzir o inconfortável estado
de tensão. do ponto de vista psicológico, o ajustamento ocorre quando se elimina
ou se reduz a tensão:
5. enquanto não se reduz a tensão, a pessoa permanece em crise
(ansiedade, agitação, mal estar, etc.) que é um efeito emocional. e quando a
tensão é severa outras conseqüências danosas podem surgir. está a pessoa, do
ponto de vista psicológico, com um problema que pode afetar seu desempenho e
este fato, em um círculo vicioso, agrava a tensão.
6. as respostas ou "soluções" encontradas pela pessoa frustrada ou em
conflito consigo mesma são extremamente variadas. o ataque direto ao problema,
isto é, comer se tem fome, beber se tem sede, refazer um trabalho falho, tratar-se
quando doente, é, em geral, a melhor resposta. as vezes, essa solução é
impossível ou cria outros problemas e a pessoa adota processos de ajustamento
ou, como afirmou freud, mecanismos de defesa. estes podem variar desde uma
negação do fato (não toma conhecimento) até comportamentos inadequados ou
mesmo anti-sociais. o processo de ajustamento é impulsivo e pode ocorrer tanto
no plano consciente como no inconsciente.
7. a solução ocorre, pois, quando a pessoa satisfaz a necessidade ou
quando, não podendo satisfazê-ia, adapta-se de outro modo, de maneira benéfica
para si mesma e para o ambiente físico e social em que se acha. reduzir as
tensões criadas pela insatisfação é, sempre, o primeiro passo, a fim de que a
pessoa mobilize seus recursos pessoais na direção mais satisfatória.
8. esquematicamente, o processo é exposto na figura abaixo:
pessoa --------------------------------------|||||||-----------------------------------alvo
1 2 3 4

1. pessoa com necessidade a ser satisfeita;


2. atividades dirigidas para o alvo;
3. barreiras que dificultam ou impedem a satisfação da necessidade;
4. alvo (necessidade, consciente ou não).

um exemplo prático pode ilustrar os fatos apontados:


a) suponhamos um jovem que, por qualquer deficiência, sinta-se marginalizado,
não aceito ou não compreendido por seus pais, por seus professores ou por
outros agentes sociais. note-se que esse sentimento de rejeição pode
corresponder a uma ocorrência real ou ser imaginária;
b) como o sentimento de ser alguém, valorizado e aceito é uma necessidade,
ocorre um estado de motivação e tensão que o leva a atingir certos alvos;
c) busca o jovem alguma maneira de tornar-se aceito e por caminhos vários acaba
encontrando uma situação com imagem satisfatória de si mesmo e que lhe reduza
a tensão. pode ser um sucesso em alguma atividade ou um grupo que o apóia. se
a atividade ou os padrões dessse grupo forem pessoal e socialmente aprovados -
segundo os habitos e os valores individuais e sociais do momento - a pessoa
adapta-se positivalmente; caso contrário, reduzirá a tensão mas pode adotar
comportamentos que, cedo ou tarde,lhe serão também funestos, ingressando em
um quadro de reações negativas;
d) a solução pode ocorrer quando encontrar, na família, nos estudos,no trabalho
ou em qualquer outra situação signiificativa, a valorizaçãoe o reconhecimento que
procura. se, por outro lado, houver reais deficiências físicas, intelectuais ou
socioeconôrmicas que dificultemou impeçam sua valorização nos grupos
"normais", temos que ajudar a pessoa a encontrar soluções, o que pode,
genericamente, fazer-se sob as seguintes formas: 1) descobrir situações
compensatórias que restaurem sua valorização e a auto-afirmação; 2) reduzir a
tensão mediante uma revisão, pela pessoa, de suas necessidades, de seus alvos
e do significado que eles apresentam na sua personalidade; 3) combinar as duas
soluções.

medidas preventivas
muita coisa já se conhece na ciência, por experimentos e pesquisas, a
respeito de certos problemas e a maneira mais eficiente de evitá-ios ou de
recuperar os indivíduos que deles sofrem. em psicologia, não se pode prescrever
regras de ajustamento de uso geral, igualmente efetivas. como cada caso tem
vivências e experiências próprias, as soluções devem ser individualizadas. há, tão
somente, alguns princípios gerais que podem ser considerados válidos pela a
grande maioria dassituações e que atuam como medidas preventivas, a saber:
1. a pessoa precisa sentir-se aceita, querida e considerada. isso não significa
aprovar ou reprovar sua conduta, mas apenas reconhed-ia como alguém, com
individualidade própria e com interesses, atitudes e problemas que existem em
sua vida.
2. a pessoa precisa estar informada e encontrar sentido no que faz. essa
informação consiste em colocar à sua disposição, sem pressões, todos os dados
de que precisa para enfrentar seus grandes ou pequenos problemas. não se pode
esperar que a criança ou o jovem resolva problemas de matemática, ou que saiba
aplicar seu dinheiro, quando não conhece certos cálculos ou não está informada
sobre o que comprar com sua mesada ou ordenado. a informação visa, também,
facilitar contacto com vários tipos de atividade, a fim de que, ela mesma, sinta
suas possibilidades e suas limitações.
3. É preciso conhecer e aceitar as necessidades próprias de cada idade e
cuja satisfação é essencial nessa respectiva fase da vida. privar um jovem de ir a
festas ou passeios com seus amigos ou interromper uma atividade sadia, apenas
por razões de somenos importância, é uma boa maneira para criar frustrações e
conflitos.
4. o aluno precisa mais ser assistido do que guiado. quando mamifesta
desatenção, displicência, falta de capricho ou de esforço no trabalho escolar, há
um fator emocional presente, quase sempre a falta de confiança em si ou nos
outros. É preciso demonstrar que se deposita confiança nele. discuta as
alternativas e as expectativas existentes.
5. para corrigir erros e desenvolver o comportamento desejável, valorize a
pessoa e procure reforçar, de imediato, o comportamento correto. reforço significa
algo que "recompense" o indivíduo. evite, por outro lado, qualquer recompensa ou
reforço dos atos errados.
6. não se pode esperar que todos os alunos tenham igual aproveitamento. um
aluno intelectualmente limitado, que consegue resultados médios com esforços
intensos, deve ser considerado por essas condições e não porque deixou de
conseguir resultados iguais aos de outros, melhor dotados.
7. aprende-se pela própria experiência. É preciso, em conseqüência, quando
não ocorre perigo grave, ter-se oportunidade de fazer por si mesmo seu trabalho,
intervindo o professor ou instrutor apenas a seu pedido. quando, por inibição ou
por medo (outro problema), o aluno evita à professor, essa inibição, ou medo,
deve ser tratada antes, ou concomitantemente, com os outros problemas.
8. tente analisar, com o próprio aluno, as indecisões que este manifesta em
certas situações. muitas vezes não sabe ele que curso deve seguir e custa decidir.
essa incerteza pede ser devida à falta de informações adequadas (não conhece
os cursos nem a si mesmo) mas pode, também, ser devida ao medo de nãco
corresponder às expectativas como fruto de experiências antigas. essa indecisão
exige que o aluno se expresse livremente e que, em atmosfera isenta de pressões
ou de medo, faça sua escolha. decidir por ele equivale a aumentar sua
incapacidade de decisão.
9. quando se identificam dificuldades específicas (de saúde, de: baixo nível
escolar, de socialização ou de outro tipo), é preciso um esquema especial de
recuperação, seja médico, escolar ou psicológico, a ser estudado individualmente.

quem atende os casos difíceis? quem coopera?

pensam muitos leigos quando seu filho, ou seu aluno, apresenta problemas,
que basta mandá-io para o psicólogo, para o orientador, para o médico ou para
outro especialista. ignoram essas pessoas que a maioria dos problemas tem
origem ambiental e somente se obtém êxito quando são mobilizados todos os
agentes do meio. a cooperação dos pais, dos professores e de outros agentes,
inclusive às vezes dos próprios colegas, é essencial e não se pode esperar
melhora de desempenho, atitude ou ajustamento sem a contribuição dessas
pessoas.
há, geralmente, três atitudes que os pais, professores e outras
pessoastomam, face aos casos difíceis:
1. atitude “comodista", expressa pelo encaminhamento do caso à
autoridade, ao assistente pedagógico, ao orientador, ao psicólogo ou ao assistente
social, "lavando as mãos", como se a recuperação fosse obrigação apenas do
"especialista" e que o pai, ou o professor, nada tivesse com o problema;
2. atitude "coercitiva", segundo a qual tudo se resolve com advertências,
disciplina, punição e controle. o que falta, dizem alguns, "é autoridade". "nada de
especialistas: o que a pessoa precisa é aprender a andar na linha'". ignoram essas
pessoas que o indivíduo inadaptado nãose desadapta porque assim o quer. muitas
vezes ele sabe distinguir entre o certo e o errado, entre o que deve ou não ser
feito, mas não consegue mudar seus próprios hábitos;
3. atitude "cooperadora", que se expressa pela compreensão das
dificuldades dos problemas e pela predisposição a ajudar no que couber.

há casos em que um psicólogo, psiquiatra ou orientador, como também um


diretor ou professor, pode manipular sozinho, sem precisar da cooperação escolar
ou familiar. isto ocorre na intimidade de entrevistas ou contactos pessoais e
quando os problemas são essencialmente individualizados. freqüentemente
porém, as dificuldades, as pressões, as exigências e insatisfações decorrem de
um complexo de agentes situacionais e a atuação isolada do profissional
especializado não é suficiente. É o caso, por exemplo, do aluno rejeitado pelos
colegas ou constantemente criticado pelos pais ou professores. a redução dos
efeitos desse problema pode ocorrer em sessões individuais, das quais essa
situação é ventilada e o aluno pode manipular melhor suas tensões. quando,
porém, se consegue modificação no comportamento do grupo ou dos pais e
professores que o rejeitam, o processo é mais rápido e, às vezes, o único
realmente efetivo.
em comunidades escolares, a participação de diretores, assistentes,
professores, instrutores e monitores é imprescindível. muito raramente o
orientador ou o psicólogo podem trabalhar sozinhos. ninguém vive isolado, em
ilhas; os fatores ambientais que produziram o desajustamento são, também, os
fatores que promovem ou restauram o ajustamento; ignorá-ios é ser comodista,
irrealista ou simplesmente desinformado.

de que tipo de assistência precisam os casos difíceis?

a experiência e os estudos sobre educação e psicologia vêm demonstrando


que as principais providências, quando se suspeita de "problemas", são as
seguintes:

1. verifique, preliminarmente, se pode haver fatores orgânicos ligados aos


problemas. pode a pessoa estar doente, mal alimentada, fatigada, com excesso
de atividades ou de estimulação ou ter deficiências físicas (visão, audição,
problemas neurológicos, etc.). um exame médico pode ser necessário.
2. tente identificar os momentos e os lugares ou circunstâncias outras em que
ocorrem os problemas (período do dia, relação com outros hábitos da vida diária,
relação com pessoas, etc.).
3. evite julgamentos e crie um clima de compreensão e ajuda, o que não
significa aprovação de atos' 'errados", nem tolerância ou permissividade mas,
apenas, que se constata um problema e se quer ajudar.
4. quando houver uma causa identificada e removível, pode-se reduzir ou
eliminar o problema atuando sobre essa causa.
exemplos:

a) aluno que não consegue fazer os trabalhos escolares, não consegue fazer
cálculos ou operações necessárias a certas tarefas:
É possível que o aluno tenha dificuldades físicas ou mentais ou não tenha
aprendido o necessário e tenha nível potencial baixo.
se houver problemas físicos estes devem ser previamente tratados; se a
causa for falta de escolaridade, isto é, falta de conhecimentos, é óbvio que a
solução é levá-io a aprender o que lhe falta ou adaptar os programas a seu nível.
b) aluno que falta constantemente aos trabalhos escolares:
pode haver várias causas tais como: 1) medo de crítica do professor; 2) medo
de encontrar colegas ou situações que o ameaçam; 3) dificuldades econômicas e
sociais, inclusive vergonha por não ter o que os colegam têm; 4) atração por.
outras atividades que colidem com o horário da escola; 5) sentimento de revolta,
procurando não ir à escola para agredir o mundo que o perturba; 6) necessidades
familiares que impedem a freqüência à escola, etc. .
c) aluno indisciplinado, que transgride constantemente as recomendações
familiares ou escolares:
pode haver várias causas, como as citadas no exemplo anterior e outras, de
tipo emocional, que levam o aluno a buscar impor-se e a chamar a atenção sobre
si, ao inconformismo, a reações agressivas provenientes de outras frustrações,
etc.

na imensa maioria dos casos, os problemas acima e outros, não


mencionados, embora oriundos de causas objetivas (físicas, intelectuais ou
sociais) geram condições emocionais desagradáveis para a própria pessoa. ela
sente que há algoerrado; seu autoconceito se deteriora. há, pois, dois
componentes do problema,como vimos:
a) uma deficiência potencial; física, social, econômica ou intelectual;
b) a percepção da deficiência, gerando conseqüências emocionais no aluno que
passa a sentir-se diferente ou deficiente o que, por sua vez, agrava uma eventual
deficiência potencial.

na vida habitual, os pais, professores e instrutores podem colaborar,


observando e registrando as situações em que o comportamento indesejável
ocorre. podem eles, também, tentar várias situações, para observar a respectiva
variação no comportamento. essas últimas providências devem, porém, se limitar
às variações habituais da situação familiar ou escolar, ou seja, mudanças de local,
de horário, de tipo de trabalho, de relacionamento com colegas, de atitudes do
professor, deseqüência de atividades, de participação em grupos, de contactos
pessoais, etc., que não ofereçam riscos ou criem outros problemas.

ajuda emocional, sempre necessária

ajudar a pessoa a enfrentar estados emocionais é sempre possível e


conveniente. variam as técnicas, desde a atitude amiga, compreensiva,
estimulante, de um pai, professor ou colega, até os processos mais complexos de
intervenção, a carga de psicólogos, orientadores educacionais e outros
especialistas, cada um em sua área. o que geralmente se usa, na situação familiar
ou escolar, é o seguinte:
a) informação, explanação e discussão: a criança ou o jovem é convidado a
discutir suas dúvidas e suas dificuldades e o conselheiro (pais, diretores,
professores, orientadores), ouve e informa sem críticas, pressões ou
comparações, sem atemorizar ou criar repressões e defesas no indivíduo. É,
apenas, uma ventilação do problema, na qual se estuda, em conjunto, possíveis
soluções. o conselheiro pode propor novos planos e estudar como aluno os "prós
e contras" de cada um;
b) apoio, tranqüilização: consiste em examinar-se o lado positivo das
dificuldades e, mostrando calor humano e compreensão, levar o indivíduo asentir-
se mais animado em enfrentar seus problemas. não consiste em dar conselhos ou
fazer recomendações mas, ao contrário, em procurar mostrar compreensão das
dificuldades existentes e procura de meios para eliminá-ias ou para reduzir seus
efeitos;
c) recreação, compensação e atividades substitutas: aplicam-se aos casos
que têm condições de êxito em certas atividades, de modo a compensar, dessa
forma, os insucessos em outras áreas. muitas pessoas podem melhorar seu
ajustamento, desde que, em esportes, atividades sociais ou de outro tipo, sintam
resultados favoráveis que não podem ser obtidos em estudos, no trabalho ou na
vida familiar;
d) facilitar a auto-afirmação sempre que a oportunidade surgir.
medidas gerais e casos graves

a solução de problemas de conduta não é fácil. pode demorar algumas


semanas, alguns meses e até alguns anos. as vezes, não há soluções e o que faz
o especialista é impedir que o caso se agrave. essa circunstância é muito comum
e freqüentemente os pais, diretores e professores dizem: "o caso continua na
mesma". não vêem eles que continuar na mesma, às vezes, já é um grande
passo, pois o caso poderia deteriorar-se mais, se algumas providências não
tivessem sido tomadas.
há normas e procedimentos gerais que precisam ser considerados, ou seja:

a) em um clima de autenticidade, compreensão e empatia os problemas são


reduzidos. criar esse clima é função de todos os elementos da família ou da
escola; lembremo-nos de que a auto-áfirmação pode ser um determinante básico
do comportamento (ver capítulos anteriores);
b) a aplicação de técnicas especiais, quando o caso exige, é função técnica e
legal de médicos, psicólogos e orientadores, conforme o caso e a técnica
empregada (os profissionais sabem disso) ; algumas vezes é indispensável
articulação com os professores e os pais * ;
* outros especialistas podem ser necessários. tais como o fonoaudiólogo, o
fisioterapeuta, o pedagogo e outros.
c) quando o caso é muito difícil e a escola ou a família não têm recursos para
ajudar os alunos com problemas graves, é recomendável proceder-se da seguinte
forma:
- esgotar todos os recursos escolares e familiares (ver itens anteriores);
- encaminhar a pessoa a tratamento especializado, em organizações públicas
e particulares que possam atendê-ia e acompanhar a evolução do caso,
cooperando com os recursos familiares e escolares.
- o afastamento dó aluno da vida escolar é a providência menos adequada e
somente se justifica quando a atuação escolar for impossível; quando o aluno se
beneficia com esse afastamento; quando há perigo evidente de que a presença do
aluno certamente contamine o comportamento de todo um grupo (exemplo:
traficante de tóxicos, líder de delinqüentes, portador de graves distúrbios mentais
que exigem internação, etc.). mesmo o afastamento' só se justifica após todas
tentativas de se recuperar o aluno. já vimos que há muitos métodos e atitudes que
facilitam essa recuperação.

atuação de professores

os professores são pessoas muito significativas na vida do aluno, não só


porque a convivência com eles é intensa, como porque o docente é um modelo
para o aluno. as atitudes dos docentes, às vezes mais do que seus conhecimentos
técnicos, tendem a criar situações de conforto, de apoio, de entusiasmo e de
confiança; noutras vezes, podem gerar insegurança, medo e revolta. nessa
posição estratégica, a ajuda do docente é indispensável, sempre que haja um
aluno com dificuldades, sejam elas físicas, intelectuais ou emocionais. as técnicas
variam conforme o caso, mas as sugestões contidas nos itens anteriores são
sempre benéficas epor si sós representam grande ajuda. a articulação com
psicólogos e com orientadores é indispensável. para que os professores possam
atuar eficazmente na modificação do comportamento do aluno, quer para ensinar-
lhe habilidades ou conhecimentos, quer paracorrigir comportamentos
inadequados, as seguintes medidas podem ser úteis:
a) observar cada aluno individualmente, como pessoa; procurar detectar suas
necessidades, seus motivos, suas aspirações, suas dificuldades e seus pontos
positivos;
b) verificar quando um comportamento útil ocorre. por exemplo: quando e em
que condições executa um cálculo correto; quando e em que con dições toma
uma atitude adequada;
c) uma vez identificada a situação em que ocorre o comportamento útil,
descobrir o que reforça esse comportamento. exemplo: se uma operação,mental
ou manual, ocorre quando se divulga o que se fez ou quando se elogia, ou quando
se utiliza o trabalho feito, etc. É importante verificar oque satisfaz o aluno e
associar o comportamento desejado a essa satisfação. esse comportamento
assim recompensado tende a se repetir e o aluno "aprende". É o reforço;
d) quando o aluno errar, não dar importância ao erro. descobrir o caminho
(reforço) que o leva agir do modo desejável;
e) subdividir cada assunto ou tópico do programa em pequenas partes e
dosar as operações ou tarefas de acordo com cada aluno; reforçar (ou
recompensar) de imediato quando ocorrer um acerto.

o relacionamento com a família do aluno

quando a direção da escola ou o orientador procura articular-se com a


família, podem ocorrer muitas reações emocionais que prejudicam a adaptação do
aluno. É sempre um grande desconforto e ameaça para o aluno ter seus pais
chamados à escola. como esse contacto, às vezes, agrava os problemas, é
sempre recomendável tratar do caso, primeiramente, com o aluno, na situação
escolar. quando se impõe o contacto com os pais, o aluno deve ser consultado a
respeito. essa prática prévia é benéfica ao aluno que se sente valorizado e
responsável (nunca dizer: "vou falar com seus pais se você não melhorar"). essa
ameaça é prejudicial. deve-se confiar no aluno e mostrar que se confia nele. se,
apesar desseestímulo à autoconfiança, o problema persiste, é recomendável o
uso de técnicas especiais, na simação escolar, para a recuperação do aluno.
somente em casos graves promove-se a articulação com a família, contrariando a
decisão do aluno e, mesmo nestes casos, o aluno é cientificado do que pode
ocorrer.
para tornar menos traumatizante o contacto com a família e para solicitar a
cooperação desta na solução de problemas, usa.se o recurso de reuniões gerais,
para as quais todos os pais são convidados e os problemas dos alunos são
focalizados sem se identificar as pessoas. no final da reunião pode-se,
isoladamente, conversar com os pais mais diretamente envolvidos em certas
situações.
a "conversa" com os pais ou responsáveis externos é sempre delicada. É
preciso saber que os pais, quando notificados sobre problemas de seus filhos
sentem-se diminuídos, humilhados, angustiados e até agredidos. começa-se a
entrevista aceitando e compreendendo a simação dos pais. não se criam
reprimendas ou advertências que, como no caso do aluno, complicam o problema.
É preciso confiar, também, nos pais e mostrar que se confia neles e que, juntos,
podemos achar soluções. as intimidações ou ameaças aos pais refletem-se no
aluno e, por isso, devem ser evitadas. quando os pais sentem essa confiança por
parte da escola passam, em geral, a cooperar de forma benéfica.
muitas vezes os pais respondem de forma indireta, isto é, tornam-se
accessíveis à cooperação, quando convidados a assumir tarefas na escola
(participação em festas, campanhas, associações, etc.). É mais um recurso de
que se dispõe para obter a contribuição familiar.

exemplos de problemas com suas possíveis causas e medidas assistenciais

sintomas possíveis causas possíveis medidas assistenciais


conforme o caso
desinteresse, apatia, fadiga problemas de saúde e de nutrição. - assistência médica. - atuação de
falta de repouso. dificuldades professores. - criação de nível
intelectuais. fatores emocionais. razoável de competição, apelando
para o que for motivador
(necessidades).
dificuldades em acompanhar o atraso escolar. dificuldades - recuperação de estudos (aulas e
nível de estudos; não consegue sensoriais, motoras ou mentais trabalhos especiais). - atuação de
realizar tarefas, operações e outros (falta de coordenação motora ou professores, com tarefas
exercícios outras aptidões). compensatórias.
falta constante às aulas; não medo de fracasso. medo de crítica - solução de problemas de saúde,
cumpre as tarefas escolares. do professor ou de colegas . de transporte, de horário, etc. -
dificuldades de transporte e de ajuda emocional. - modificação
horário. problemas domésticos. ambiental para conciliar interesses.
sentimento de revolta,
procuraandonão fazer as tarefas
para agredir a escola. problemas
de saúde. interesse maior por
outras atividades que conflitam
com a atividades escolar .
dificuldades de raciocínio ou fatores orgânicos. agravamento do -trabalhos individualizados,
discreto atraso mental. problema pela percepção da repetidos, concretizados, para que
incapacidade e pela atitude de o aluno use os sentidos e possa
parentes, amigos e colegas pegar, ver, ouvir, etc., de forma
lenta e progressiva; nada exigir
além da capacidade individual; não
comparar com outros. -ajuda
emocional.
desenvolvimento mental ou de estrutura orgânica favorável. - aproveitamento das aptidões e
algumas aptidões muito acima da facilitação sócio-econômica capacidades em tarefas especiais.
média do grupo (superdotados). - ensino individualizado aberto à
criatividade
deficiência sensorial ou motora fatores constitucionais, de saúde - aproveitamento de outras
(visão, audição, etc.) ou defeito ou ambientais aptidões e capacidades. -
ortopédico. mudança de aspirações. -
modificações ambientais
comportamento sexual. fatores constitucionais e - psicoterapia. - ausência de crítica
psicossociais conjugados quando envolver problema
emocional. - ajuda emocional.
rivalidade e briga entre alunos ou hábitos domésticos. sentimento de - atividades físicas para descarga
grupos de alunos. inferioridade e necessidade de afetiva. - sessões de grupo para
auto-afirmação. insatisfações discussão de problemas. -
freqüentes. perturbações mentais. remanejamento de grupos ou
turmas.
medo de realizar exercícios e experiências traumáticas - emprego de tarefas
tarefas dizendo que "não sabe anteriores. atitudes inadequadas sucessivamente graduadas em
fazer" o que se pede. de pais ou professores. dificuldade. - observação de outros
colegas fazendo o trabalho; tarefas
simples. - valorização da pessoa
(auto-afirmação
toxicomanias fatores ambientais e psicossociais - reduzir ou eliminar a dependência
(farmacodependência) conjugados. fisiológica. - reduzir ou eliminar a
dependência psicológica por
técnicas terapêuticas individuais e
de grupo. - ajuda emocional. -
atividades de auto-afirmação
situação econômica muito superior status sócio-econômico e hábitos - ignorar os comportamentos de
à dos colegas, gerando diferentes dos colegas. . esnobismo.
"exploração" por parte destes, imaturidade social.
críticas constantes ou rejeição pelo
grupo.
situações ou problemas familiares: fragilidade no autoconceito e - ajuda emocional.
que levam aluno a senti-se problemas domésticos:
focalizado, desprezado ou
criticado' pelos colegas (ex.: pai ou
parentes alcoólatras ou
condenados pela justiça, ou com
atividades socialmente
inaceitáveis; desconhece o pai ou
a mãe, etc.).
comportamento anti.social, falta de educação e de "modelos" - reeducação em outro ambiente,
pré.delinqüente ou' delinqüente adequados na infância e na com outros “modelos". -
(vandalismo, furto, indisciplina meninice. agressividade resultante desenvolver confiança recíproca
generalizada, instigação à de sérias privações. entre as pessoas do grupo e o
delinqüência em caráter espírito de equipe.
freqüente.).
furtos, agressões, indisciplina e frustrações, conflitos e privações - ajuda emocional. - mudanças de
vandalismo em caráter ocasional. temporárias. turmas e de ambientes.
comportamentos psicológicos fatores orgânicos e psicossociais. - ajuda emocional. - psicoterapia. -
anormais tais como fobias, assistência médico-psiquiátrica.
obsessões, compulsões e outras
reações de tipo neurótico ou
psicótico.
deficiência concentrada apenas em deficiência de aprendizagem na - aulas e exercícios especiais. -
certas atividades tais como em respectiva atividade. dificuldades atividades compensatórias. - ajuda
português, em matemática, em sensoriais ou motoras. medo de emocional. - contra
educação física, na execução de fracassar na atividade ou condicionamento.
operações manuais etc. condicionamento aversivo
(associado a experiências
traumáticas).
desinteresse pelas atividades não falta de informações, necessidades - atuação de professores. -
relacionadas com o curso que não satisfeitas. exploração pessoal de novos
freqüentam. interesses.
grande hesitação na escolha de falta de informações. medo de - dar informações. - ajuda
profissão. tomar decisões (insegurança). emocional. - desenvolvimento e
dependência familiar ou social crescimento pessoal.
(imaturidade) .
deficiência em roupas, em dinheiro problemas econômicos, - atividades compensatórias. -
ou mesmo em lanches, que leva o auxílio escolar quando possível.
aluno a sentir-se envergonhado ou
humilhado.
atitudes sociais e grupais muito necessidade de auto-afirmação ou, - ignorar os comportamentos
diferentes da dos colegas, gerando ao contrário, sentimento de excêntricos.
atritos com estes. onipotência e superestima de si
mesmo.
pais que se recusam a participar falta de informações. inabilidade de - convites para reuniões gerais de
da vida escolar, diretores, orientadores, psicólogos pais. - convite pessoal para
e docentes, execução de certas tarefas. -
convite para atividades sociais e
recreativas como "ponte" de
contacto.

nota: a ordem em que aparecem os sintomas não tem nenhuma significação especial.

10 - ações preventivas na educação, na família e no trabalho

a educação e a família

a ser válida a constatação de que o motivo de auto-afirmação seja básico


como determinante da conduta, muitos dos atuais esquemas educacionais
deveriam ser questionados. embora se apregoe em múltiplos e variados cursos de
planejamento educacional, de relações humanas no trabalho e até na própria
política, que a pessoa deve ser ouvida, participante e atuante nas decisões, o que
realmente se faz pouco concorda com essas idéias. os agentes controladores,
como assinala skinner (1967), estão sempre presentes, reduzindo o indivíduo à
insignificância. a liberdade seria um mito e, portanto, menos perceptível o sentido
da própria individualidade.
a massificação nos sistemas educacionais, além de rebaixar o nível de
ensino, pois que o atendimento de massas o reduz ao padrão mais baixo do
grupo, tende a conduzir a pessoa à perda de sua individualidade na medida em
que padroniza os conteúdos e os processos pedagógicos. o resultado é, como
assinalada patricia cross (1976), não atingir a educação 91 % das habilidades
humanas de forma a assegurar uma contribuição à sociedade desse ponderável
contingente. deficientes,. "normais" e superdotados, são tratados provavelmente
pela média ou pelo menor nível e o aluno deixa de ser alguém.
a atual legislação educacional brasileira prevê flexibilidade curricular para
atender as diferenças individuais, ao estabelecer que "os currículos do ensino de
i? e 2? graus terão um núcleo comum, obrigatório em âmbito nacional e uma parte
diversificada para atender, conforme as necessidades e possibilidades concretas,
às peculiaridades locais, aos planos dos estabelecimentos e às diferenças
individuais dos alunos (art. 4º, lei nº 5692, de 11/8/71)". a auto-realização é
prevista, igualmente, no artigo 1º da mesma lei.
a distância entre a proposição legal e a realidade educativa é muito grande e,
a nosso ver, reside principalmente, na metodologia pedagógica pouco favorável à
expressão individual. não é tanto a falta de liberdade de aprender, lembrada por
rogers mas, sobretudo, a da oportunidade de aprender. pouco adianta a liberdade,
se não tivermos possibilidades de opções concretas, que permitam a crianças e
jovens elaborarem, dentro dos limites sócio-econômicos, seus próprios programas
ou parte deles, embora não desconheça o autor a dificuldade de construir escolas
e aplicar processos pedagógicos individualizados. a solução seria, como
propusemos em estudo sobre superdotados*, enfatizar a educação
individualizada, aplicável em determinada fase do sistema educacional, mas sem
a característica de seriação. o aluno teria uma seqüência de tarefas. não haveria
exames ou reprovações e o avanço no currículo se faria pela execução satisfatória
da tarefa anterior. o aluno progredirá, assim, de acordo com suas possibilidades,
terá opções e, conseqüentemente, auto-afirmação e mobilização de seu potencial.
* seminário sobre superdorados realizado pelo senac em 1979, em são paulo.

a implicação básica, essencial, decorrente da colocação deste problema é a


de que a educação não só na escola, como no lar, deva atentar para essa busca
de auto-afirmação, criando condições para que crianças e jovens encontrem um
sentido na vida e tenham possibilidade de se reconhecer como alguém. preservar
a individualidade de cada estudante e liberá-io para seu próprio crescimento seria
o alvo básico.

do ponto de vista profilático, a educação dos pais no sentido de alerrá-ios


para o reconhecimento da individualidade de cada um dos filhos seriá outro alvo.
evidentemente, os pais são também pessoas e a sua própria individualidade e
auto-afirmação precisam ser consideradas. o movimento da "escola de pais" no
brasil é um típico exemplo de como podem os pais ser informados, sem serem
guiados; de como podem se reconhecer como alguém e respeitar a
individualidade de seus filhos (lopes, s/d.).
no que se refere à família, os assuntos e os problemas precisariam ser
discutidos nas duas perspectivas, considerando-se os filhos; na sua
individualidade e os pais, igualmente. na medida em que se consegue criar, tanto
para uns como para outros, um sentido de vida e condições de auto-afirmação, as
possibilidades de ajustamento aos problemas de vida aumentam
significativamente.
todos os psicólogos e orientadores que atendem adolescentes, ou seus pais,
sabem que a queixa mais freqüente dos jovens em relação à família é sobre a
falta de confiança dos pais em relação aos filhos. estes são tratados como objetos
de valor, mas vistos como incapazes de se governarem ou de se dirigirem e um
processo de desvalorização instala-se nas crianças ou nos adolescentes. É
evidente que aos filhos falta a informação ou o desenvolvimento físico e mental
que os habilita a agir de forma social e pessoalmente úteis em muitas
circunstâncias. por isso são criados e assistidos pelos pais desde a gestação, o
nascimento e os anos da infância. não é menos verdade, porém, que vão eles
adquirindo, com o próprio desenvolvimento, condições próprias de julgamento e
de autodireção que os habilita a se tornarem pessoas, adultas e auto-suficientes. e
muitos pais, por motivos vários, continuam tratando seus filhos como se
estivessem, ainda, em estágio inferior de desenvolvimento mental e emocional. a
conseqüência é óbvia: instala-se um clima mutuamente perturbador, em que a
"autoridade" e a "capacidade" dos pais, não sendo tão necessárias, geram
sentimentos de falta de confiança recíproca, com imagens de não-afirmação do
próprio eu em ambos os lados. dosar essa libertação é todo o processo sadio de
formação do adulto e do homem capaz. permitir a expressão de si mesmo, de ser
alguém, de optar, é o recurso psicológico eficaz que muitos pais podem adotar; é a
prevenção contra futuros desajustes que o jovem enfrenta como produto de sua
não-afirmação. na medida em que a criança ou o adolescente possa, dentro de
seu mundo, fazer suas opções, está se afirmando como pessoa e preparando-se
para enfrentar, posteriormente, outras opções. os conhecidos comportamentos de
superproteção ou de rejeição são fontes geradoras da falta de auto-afirmação e,
se pudermos eliminá-ias, ou reduzi-ias, estamos evitando problemas de
ajustamento no futuro.

a satisfação no trabalho

como se sabe, a motivação é o ingrediente essencial ao ajustamento e


aodesempenho no trabalho. o que falta saber é no que consiste essa motivação.
seria a auto-realização no dizer de maslow, herzberg ou mcclelland? esse motivo
básico manifesta-se sob a forma de uma “ampla síndrome de comportamentos
que inclui exposição moderada a riscos, a proposição de altos níveis de qualidade,
odesejo de independência e, geralmente, a necessidade de atingir alvos
considerados excelentes tanto do ponto de vista pessoal como social”; (fineman e
warr,1972). no nosso entender, essa conceituação está bem próxima da auto-
afirmação, a tal ponto que pode ser com esta confundida.
ao examinarmos as situações de ajustamento e de satisfaçao em atividades
profissionais, temos notado que o que mais atinge os empregados é o
reconhecimento pelo trabalho efetuado. esse reconhecimento, gratificante e
estimulante parao empregado, ou qualquer profissional, geralmente ocorre sob a
forma de partictpação nas decisões (ser consultado, receber atribuições, ter suas
opiniões consideradas,etc.) sob a forma de retribuição financeira e material
(salário compatível com o nível funcional dentro de um plano de eqüidade salarial,
benefícios colaterais, etc.). por outro lado, a desconsideração, a marginalização, o
ostracismo em que são colocadasas pessoas são, provavelmente, os mais
poderosos agentes de depressão psicológica na situação profissional. o indivíduo
vê-se à margem da empresa ou entidade; sua auto-afirmação simplesmente não
ocorre; um quadro de insatisfação emerge, com repercussões em outras áreas da
vida. em pesquisa feita pelo autor em duas categorias de profissionais (médicos e
enfermeiros) verificou-se que os eventos mais perturbadores de sua satisfação
profissional referiam-se à falta de consideração pessoal no exercício da atividade
profissional*
* a pesquisa aqui aludida refere-se a um levantamento de opiniões, sob forma de
questionário, entre 80 médicos e 25 enfermeiros, participantes de um curso sobre
psicologia do trabalho, realizado em são paulo, em três turmas sucessivas, nos
anos de 1974, 1975 e 1976. as respostas à pergunta sobre fatos desestimulantes
no trabalho, agrupadas em categorias, revelaram, em geral, maior freqüência das
situações que desprestigiavam o trabalho médico ou a pessoa do profissional
envolvido (interferência nas funções médicas ou de enfermagem, desconsideração
do profissional, simulação de doenças e pedidos de falsos atestados,
desobediência às instruções médicas e outras situações, inclusive socialização da
medicina, as quais de uma forma ou outra significavam não afirmação ou
desprestígio pessoal).
os dados por nós colhidos, embora originários de pequena amostra,
concordam de certo modo com os estudos de herzberg (1959), segundo os quais
a realização e o reconhecimento são os fatores mais relacionados com a
satisfação no trabalho (tiffin, 1969). os mesmos dados parecem concordar com os
obtidos em situação terapêutica (cap. 6); no sentido de que há uma prevalência no
ajustamento a vida, seja em atividades do dia-a-dia, seja em situação específica (a
do trabalho como exemplo) de uma necessidade básica de reconhecimento e de
consideração da individualidade de cada um e do respeito ao território que lhe é
próprio.
no campo do trabalho, a implicação perceptível seria a de que se desejarmos
maior produtividade e, ao mesmo tempo, maior satisfação profissional, com
benéficos efeitos para a pessoa, as atitudes de empresários, chefes, diretores e
de todos quantos lideram movimentos ou atividades, deveria dirigir-se no sentido
de promover maiores níveis de auto-afirmação. essa atitude exigiria radical
transformação nos sistemas organizacionais, de maneira a tornar cada profissional
ou empregado participante dos planos e das atividades; a respeitar suas opiniões
e suas tarefas; a evitar serviços "de fachada" e a valorizar adequadamente o que
é dito ou produzido na situação profissional. o muito que se fala e se propõe no
campo das relações humanas através de "cursos" e "recomendações", seria
redutível a um princípio geral: considerar não apenas o trabalho, isto é, o produto
elaborado, mas a pessoa que o fez, suas dificuldades e como as superou. na
medida em que a pessoa seja assim considerada, instala-se uma ampla
prevenção contra os desajustes pessoais e promove-se melhor satisfação
comunitária e social.
11 - a vida na sua terceira fase: a valorização do idoso

provavelmente o mais angustiante problema a partir da meia-idade é o


sentimento de envelhecer porquanto o passar dos anos _ partir dessa fase - hoje
conhecida como terceira idade - cria a imagem de desvalia, de redução da
eficiência, da marginalização, da falta de consideração e, em conseqüência,
drásticos efeitos na auto-estima e na auto-afirmação. poucos fatos impressionarão
mais uma pessoa da faixa dos 50 ou 60 anos do que o de ver-se ela esquecida,
não considerada, em virtude da idade. a necessidade de auto-afirmação que
apontamos como determinante básico da conduta encontra, novamente, uma nova
forma de comprovação.
nestes últimos anos têm-se acentuado os trabalhos e as preocupações legais,
técnicas e sociais com relação às pessoas idosas. esse despertar de atitudes tem
raízes em vários fatos, notadamente nos seguintes: 1) a vida prolonga-se; 2) os
recursos médicos e tecnológicos propiciam melhores condições de conforto físico,
de saúde e de atividades sociais; 3) o tempo útil destinado ao trabalho
profissional, de sobrevivência econômica, encurta-se, aumentando os períodos de
lazer, quer anteriores ou posteriores à aposentadoria; 4) os planos de
aposentadoria e de pensões para os indivíduos que ultrapassam os sessenta anos
ocorrem, gradual mente, em melhores termos econômicos, passando a constituir
um alvo para grandes e crescentes contingentes humanos que esperam um lazer
de longo prazo; 5) observações e pesquisas vêm demonstrando que grande parte
dos idosos conservam excelentes qualidades físicas, intelectuais e profissionais,
constituindo um grande segmento da força de trabalho do país.
um levantamento de dados sobre o trabalho de pessoas idosas realizado pelo
autor (1960) revelava, na ocasião que:
1. a habilidade motora declina com a idade. enquanto o máximo de
desenvolvimento ocorre na adolescência, ou na etapa dos vinte anos, há declínio
porcentual, sobre o máximo, aos 60 anos. um dos estudos assinala uma redqção
de 16,5%, cumprindo notar, porém, que esse declínio não é suficiente, por si só,
para impedir o trabalho normal. certos indivíduos aos 60 anos possuem, não
obstante o declínio, maior habilidade do que pessoas muito mais jovens;
2. não ocorre declínio da habilidade de vocabulário com o avançar da idade e
sim, um aumento do tempo de reação em tarefas que envolvam tal habilidade;
3. quanto à idade e a eficiência profissional, em atividades comuns, em geral,
atinge-se o máximo de desenvolvimento entre 18 e 30 anos. em tarefas
tipicamente industriais, verificou-se que a eficiência aumentava dos 20 aos 30
anos, declinava aos 40 e, mais ainda, aos 50 anos. porém, o declínio - de cerca de
13,5% - ainda mantinha o grupo dos idosos na zona média da curva de
desempenho, o que vem demonstrar que a desvantagem da idade não é tão séria
quanto parece;
4. quanto à idade e as perspectivas de ajustamento no futuro, aparecem
necessidades novas e, conseqüentemente, novos motivos com o correr dos anos
e, com elas, modificam-se as reações psicológicas que passam a ser dirigidas
para outros alvos.
outros fatos podem ser assinalados, segundo patricia kasscchau (1976) do
andrus gerontology center (usa):

a) a expectativa de vida no brasil, em 1970, era de, aproximadamente 60 anos, e


tende a elevar-se; é de 64 na argentina, de 63 na venezuela, de 61 no méxico e
de 67 nos estados unidos. este tempo amplia-se tratando-se de indivíduos do sexo
feminino.
b) embora ocorra gradual e lenta diminuição de capacidades, a partir da vida
adulta, seus efeitos não são tão dramáticos como se supunha. essa diminuição é
mais devida ao decréscimo do nível de prática do que à idade em si mesma.
experiências com jovens conservados em inatividade no leito mostram que
também neles ocorre essa diminuição.
c) nas atividades psicomotoras, os idosos demonstram menos potência muscular,
maior tempo de reação aos estímulos e desempenho menos eficiente em tarefas
tais como correr, nadar,etc. contudo, quando estão eles familiarizados com essas
atividades, não sendo estas muito complexas, as diferenças devido à idade
tornam -se mínimas.
d) o tempo de reação aumenta com a idade. o aumento desse tempo é mais
sensível nas tarefas complexas e muito menor em tarefas simples. a _aior
extensão do tempo de reação parece estar associada ao desejo de verificar o
acerto' da resposta e não à impossibilidade de agir prontamente. isto poderia
significar que, psicologicamente, o indivíduo idoso sente-se mais responsável
pelos seus atos e que as pressões para fazê-los agir depressa provocam
movimentos e atos desejeitados., os idosos necessitam de mais tempo para
formular e controlar suas respostas.

e) nas tarefas complexas, os jovens agem mais por tentativa e erro, enquanto o
idoso procura pensar e usar menos tentativas. nos problemas complexos e sem
pressão do tempo, o desempenho do idoso iguala o dos jovens. quando essa
pressão existe, o desempenho do idoso é menor, porque este é forçado a usar o
método de tentativa e erro. em síntese, se dermos ao idoso mais tempo (e menos
pressões) para realizar uma tarefa, seu desempenho iguala o do adulto (assinala a
autora que este conceito é fundamental).
f) no campo da inteligência e manutenção do nível mental potencial, há dados
extremamente importantes. baseado nos resultados de testes que medem a
inteligência, os dados indicam somente ligeiro declínio e mesmo assim devido,
provavelmente, a estados patológicos não identifi. cados. o nível mais alto atingido
parece estar em torno dos 55 anos e não aos 35. observou-se, também, que em
muitos casos o desempenho mental na idade dos 70 é mais alto do que na idade
de 25. muitas das diferenças devidas à idade derivam do fato de que os testes
usados enfatizam habilidades e conhecimentos correntes, dos quais o idoso está
afastado pelos seus hábitos de vida. isto significaria que não há declínio na
inteligência mas, tão somente obsolência, ou seja, falta de atualização do idoso à
vida ambiental. se a ele fosse dada estimulação ambiental, estas diferenças
tenderiam a desaparecer; se o quociente de inteligência não diminui em termos de
capacidade para aprender, mas por falta de estimulação, é possível concluir que o
idoso pode reaprender novas habilidades.
g) quanto à aprendizagem e à memória, envolvendo o registro e a retenção, o
idoso necessita mais tempo para processar seus dados e está mais sujeito a
menor desempenho, quando as tarefas não têm muito sentido (motivação). em
geral, o idoso faz mais tentativas para estabelecer um critério do que os jovens.
h) no que se refere ao pensamento e solução de problemas, o idoso prefere
operar com fatos concretos do que abstratos, tendo mais dificuldades para formar
conceitos e resolver problemas que envolvem muitas peças de informação a
serem manipuladas simultaneamente; tende a repetir soluções anteriores, o que é
desvantajoso quando há necessidades de soluções ao mesmo tempo rápidas e
inovadoras, mas que se torna favorável quando há situações que se mantêm
estáveis ou de lenta modificação, que não exigem grande e pronta criatividade.
i) o idoso pode aprender e ser empregável. muitos empregadores nos esta-dos
unidos e na europa relatam que após um período inicial de experiência, sentem-se
mais felizes com eles porque inspiram mais confiança sobretudo no que se refere
a assiduidade, pontualidade e rotatividade.
j) no que se refere à personalidade, em geral, o idoso pouco muda com o advento
da idade, embora ocorram mudanças biológicas e sociais. citando vários autores,
kasscchau declara que há considerável estabilidade no curso de vida no que se
refere à descrição de si mesmo, aos constructos pessoais e aos estilos cognitivos.
o idoso torna-se apenas mais rígido do que o jovem; há certo grau de dogmatismo
e menos tolerância à ambigüidade e às pressões sociais. torna-se o idoso,
também, menos impulsivo e mais cauteloso que os jovens. o comportamento do
idoso é mais consistente e melhor previsível do que o do jovem e sua estrutura de
personalidade é mais claramente perceptível. há mais introspecção e um sentido
mais claro de sua própria identidade.

em síntese, as pessoas idosas movem-se mais lentamente em resposta ao


ambiente mas se lhe damos tempo para reagir (perceber, avaliar e decidir) o
decréscimo do desempenho é reduzido. se as apressarmos, tendem a responder
com erros e movimentos desajeitados. essa circunstância eleva seu nível de
ansiedade, com efeitos sobre o desempenho. as pessoas idosas podem aprender
tanto quanto as jovens ocupando, apenas, maior lapso de tempo. seu treinamento
para o trabalho é mais eficaz quando feito diretamente na atividade e não em
situações de escola ou classe, de maneira que sintam motivação mais profunda,
originária de situações concretas.

técnicas de orientação e psicoterapia

o autor teve oportunidade de atender várias pessoas idosas em sessões de


psicoterapia e atividades de grupo. em todos os casos a necessidade de auto-
afirmação esteve sempre presente, como resultantes da marginalização e da
desconsideração familiar, profissional e social em relação ao idoso. É evidente que
um processo de satisfazer essa necessidade é imperioso, o que poderia ser
atingido através de: 1) restauração, ainda que parcial, de habilidades anteriores; 2)
descoberta de novas habilidades e interesses que dêem sentido à vida; 3) ajuda
emocional para enfrentar as limitações existentes ou novos interesses. barns e
outros autores (1973) citam alguns procedimentos que podem ser aplicados, a
saber:

orientação da realidade espaço-temporal

aplica-se aos casos de idosos em que ocorre acentuada perda da memória,


confusão mental e desorientação espaço-temporal. pode ser formal (em classes
ou grupos formais, diariamente) ou informal (de acordo com as circunstâncias da
vida). exige equipamento (quadros, relógios, calendários e outros recursos
audiovisuais) e melhor aplica-se em instituições (clínicas, comunidades, centros
de convivência, etc.).
método: repetição programadas de dias, horas, nomes, locais e outros
eventos, usando-se forma motivadora de apresentar os dados. geralmente os
dados são escritos em um grande quadro e alterados conforme a ocorrência dos
eventos e algum tipo de reforço, em programa a ser estudado conforme a
situação.

desenvolvimento de atividades que despertem o sentido de auto-afirmação e


de valorização pessoal. o encontro de novas ocupações

tais atividades podem ser realizadas em movimentos sociais, associações,


trabalhos de equipe e similares. consistem, essencialmepte, em desenvolver um
espírito competitivo que restaure o conceito de si mesmo. a simples atividade,
despida de competição, pode ser temporariamente vantajosa, mas não mobiliza os
recursos potenciais, por ausência de motivação suficiente; como conseqüência,
tem pouco significado de ajustamento e sucesso. o idoso feliz parece ser aquele
que luta, que utiliza seus recursos e que se empenha em vencer obstáculos.
mesmo que não os supere, a atividade mobilizada nessas direções parece ser
altamente bené fica, restaurando os conceitos de que é alguém que produz e que
luta.
em geral, o idoso acha úteis essas atividades, mas não se empenha em
procurá-ias, quando delas precisa. refugia-se, às vezes, nas próprias limitações e
essa situação o torna agressivo ou, por outro lado, conformista e deprimido. para
vencer essa barreira, seria necessário que o comportamento desejável fosse refor
çado, paulatinamente, pela ocorrência de "produtos" ou "resultados" que tivessem
efeito reforçador. cada caso particular precisaria ser estudado.
hoje, busca-se evitar o vazio causado pela aposentadoria, principalmente, nos
indivíduos que se conservam plenamente ativos durante muitos anos. há uma
débil, mas crescente tendência em buscar-se nova ocupação, isto é, atribuir ao
idoso que se aposenta, ou que por outras razões não mais trabalha, uma forma
diferente de ocupação que o mantenha ocupado e . 'Útil" algumas horas ou alguns
dias da semana. essa forma de agir diminui acentuadamente os sentimentos
negativos que o indivíduo faz de si e não só mantém seu autoconceito, como o
prepara para um progressivo afastamento profissional ao correr dos anos.
o procedimento consiste em utilizar os serviços de pessoas idosas em tarefas
adequadas a seu nível de desenvolvimento intelectual, a seu status sócio
-econômico e as suas possibilidades físicas*.

* o autor teve ocasião de constatar, em alguns países europeus, o emprego de


pessoas idosas e de alto nível social e intelectual na tarefa de relações públicas,
atendendo e conduzindo visitantes estrangeiros. esse tipo de trabalho parece ser
bem adaptado para essas pessoas, porque as coloca em posição de prestígio e
não exige esforços físicos ou psíquicos especiais.

ressocialização

aplica-se, principalmente, quando ocorrem dificuldades de comunicação, de


participação social, de verbalização, de expressão.
método: É um programa estruturado em que são usadas técnicas de grupo a
fim de conscientizar escolhas e decisões no meio comunitário. busca-se a
cooperação dos participantes nas decisões comunitárias ou de grupo. os objetivos
são: 1) fortalecer relações interpessoais; 2) ajudar o cliente a renovar seu
interesse pelo mundo em que vive focalizando sua atenção em aspectos e
atividades simples da vida diária e que não envolvam dificuldades emocionais; 3)
ajudar o cliente a buscar, no passado, algo que possa fazer novamente.

remotivação

É uma técnica destinada a encorajar o idoso a desenvolver novos interesses


em seu ambiente focalizando sua atenção em atividades e eventos comuns da
vida diária. É semelhante ao anterior e atua como complemento da orientação da
realidade.
método: escolhe-se um motivador e um grupo de pacientes compondo-se o
grupo com 5 a 12 pessoas que se reúnem uma vez por semana, durante uma
hora, durante cerca de 12 semanas. discute-se um tópico específico, escolhido
pelo grupo. o motivador deve ser hábil para fazer fluir as escolhas e opiniões.
o clima é de aceitação; constitui uma ponte para a realidade. podem ser
usadas como tarefas motivadoras: leituras, atividades manuais, recursos
audiovisuais, discussão de assuntos, etc. o trabalho individual, de cada um, é
planejado pela própria pessoa ou pelo grupo.
como equipamento há necessidade de livros, artigos, filmes, recursos
audiovisuais, etc.

terapia de atitudes
É uma forma de modificação do comportamento que envolve certas atitudes
predeterminadas em todos os contactos com os clientes. visa-se reforçar o
comportamento desejável e eliminar o indesejável.
há, segundo os autores, cinco atitudes principais a serem usadas, as quais
podem ser escolhidas, sendo importante que qualquer pessoa que entre em
contacto com o cliente participe da terapia usando, sempre, a mesma atitude
atéobtenção do comportamento desejável.
as 5 atitudes são:
- firmeza: mais usada com clientes depressivos. criticam-se as tarefas feitas mas
não o cliente e não se dá atenção aos sentimentos e lamentações.
- amizade ausente: mais usada com clientes apáticos, pouco sociáveis, autistas.
consiste em dar atenção ao cliente antes que este a solicite ou demonstre desejá-
ia. despende-se tempo extra, especial com o caso atribuindo-se-ihe tarefas
significativas e que dificilmente errariam.
- amizade passiva: mais usada com clientes que não se adaptam a uma amizade
mais íntima. consiste em mostrar interesse e atenção para com a pessoa do
cliente sem procurar movê-io em qualquer direção. espera-se que o cliente dê o
primeiro passo.
- sem exigências: mais indicada para os clientes desconfiados, que se sentem
ameaçados ou encolerizados. nada se pede; mostra-se que se espera, apenas,
que ele não prejudique ninguém.
- objetividade: mais indicada para os clientes manipuladores que procuram
envolver ou conquistar o terapeuta. as respostas a esses clientes devem ser
consistentes, casuais e calmas, demonstrar afeto, restringindo-se aos fatos em si.

É evidente que essas atitudes precisam ser adequadamente estabelecidas


conforme a situação e adequadamente inseridas em um esquema de modificação
do comportamento. não sendo tomadas essas cautelas, o processo pode reforçar
atitudes indesejáveis funcionando o processo no sentido contrário.

terapia de reforçamento

consiste em escolher e definir com a pessoa o comportamento a ser alterado.


o reforço (recompensa) segue-se imediatamente à emissão do comportamento
desejado. podem ser usados "tokens" (vales, fichas e similares) que representam
direito a certos privilégios.
os procedimentos envolvem vários tipos de reforçamento e cuidados
especiais. as áreas comportamentais mais usadas são as que envolvem
comportamento social (comunicação, auxílio aos outros, expressão, etc.)
comportamento referente aos cuidados pessoais e tarefas especiais (cuidar da
alimentação, do quarto, da comunidade, etc.)

terapia ambiental

aplicável a grande número de casos, consiste em aproveitar as oportunidades


do próprio meio para desenvolver motivos, interesses e atitudes. o objetivo é
facilitar ao cliente o contacto com novas pessoas e atividades, criando-se
condições ef que haja pouca possibilidade de frustrações e conflitos. parte do
princípio de qu toda pessoa tem, sempre, parte de seu ego aproveitável. o cliente
é convidado participar, oferecendo-se oportunidades práticas de participação.

terapia rogeriana
É aplicável a grande variedade de situações e consiste, essencialmente, em
criar-se um clima de tal modo permissivo que o indivíduo expressa seus
sentimentos e problemas. esse fato reduz suas tensões, facilita uma revisão de
seu "self" e favorece o ajustamento do indivíduo aos problemas que enfrenta. É
um processo sobretudo emocional, mais indicado quando o indivíduo enfrenta
problemas de relacionamento humano, de juízos e valores, de compreensão e
aceitação de si e dos outros, de solução de problemas existenciais.
não há objetivos comportamentais específicos, a não ser o bem-estar e a
retomada da vivência e do crescimento do cliente. a atitude do terapeuta no seu
relacionamento com o cliente é a chave do processo e concentra-se em três
pontos: 1) congtuência e autenticidade, ou seja, uma relação genuína e sem
fachadas entre terapeuta e cliente; 2) respeito positivo incondicional ao cliente, o
que significa aceitá-io como ele é, sem julgamentos ou críticas; 3) empatia ou ter o
terapeuta senso do mundo interno do cliente, como se fosse ele próprio (vide
capítulo 5).
o procedimento pode ser desenvolvido em grupos nos quais os indivíduos
expõem seus problemas e se organizam livremente (grupos de encontro) ou em
sessões individuais.

terapia de apoio

geralmente é mais indicada quando a pessoa apresenta limitações de origem


física, social, econômica ou de outra natureza, dificilmente removíveis, ou quando
a estrutura da personalidade é tal que contra-indique alterações profundas nas
defesas existentes. os efeitos terapêuticos são limitados mas abrem
oportunidades para o desenvolvimento pessoal.
a terapia de apoio no idoso pode assumir várias formas, tais como:

- discussão de problemas em grupo, usando-se técnicas reflexivas ou


interpretativas;
- exercícios e atividades em grupo, combinadas com discussão de problemas. um
programa de exercícios físicos, quando adequado, tem efeito tranqüilizador sendo
mais indicadas as atividades que envolvam movimentação rítmica de grandes
massas de músculos e atividades naturais de passear, andar lentamente, correr,
nadar, etc.

vivência em comunidade

É pensamento do autor que a colocação de idosos em instituições ou clínicas


geriátricas é um procedimento discutível, com vantagens e desvantagens. pode
dar origem a um sério problema emocional decorrente do sentimento de solidão,
desprezo ou marginalização. por outro lado, pode contribuir para um'l melhor
assistência médica e psicológica e pode ser efetivamente recomendada quando
constitui uma espécie de clube ou de local para lazer, dura!"lte algumas horas
diárias ou alguns dias por semana, sem que o idoso se desligue de sua família e
de seus hábitos pessoais no ambiente em que sempre viveu.
uma solução que provavelmente possa ser eficaz consistiria em organizar-se
um tipo de residência coletiva, com apartamentos e demais serviços, paralelos, de
hotel e de tratamento de saúde, com atividades sociais, esportivas, culturais,
artísticas, etc., onde cada residente conservasse sua autonomia e sua
propriedade, com facilidade de contacto com parentes e amigos, à semelhança de
um novo lar. neste caso, uma parcela dos residentes poderia ser constituída de
pessoas jovens ou de adultos comuns, que se utilizariam dos mesmos serviços,
evitando-se a imagem de instituição destinada à segregação ou amparo de idosos.

referências bibliográficas

abraham, k. selected papers on psychoanalysis. tradução. londres: hogarth press,


1927.
adler, a. "a study of organ inferiority and its psychical compensation". nova york:
nervous and mental disease monograph series, 1917, 24.
adler, a. "individual psychology", in murchison, c.a. (editores). psychologies of
1930. worcester: clark u. press, 1952.
alexander, f. e french, t.m. psychoanalytic therapy; principies and application. nova
york: the ronald press, 1946.
allport, g.w. personalidade. tradução. são paulo: herder: 1966.
allport, g.w.la estrutura dei ego. tradução. b. aires, siglo veinte, 1969.
amadou, a. para psicologia. tradução. são paulo: mestre jou, 1969.
anastasi, a. "the nature of psychological traits", psychological review, 1948, 55,
127-38. anastasi, a. psychological testing. nova york: macrnillan, 1957.
anderson, c.m. "the self-image: a theory of the dynamics of behavior", mental
hygiene, 1952,36, 227-44.
angelini, a.l. um novo método para avaliar a motivação humana. são paulo:
universidade de s.paulo, 1955. axline, v.m. ludoterapia. tradução. belo horizonte:
interlivros. 1980. aylon, t. e azrin, n. the token economy. a motivation system for
therapy and rehabilitation. nova york: appleton, 1968. "
baldessarini, r.j. chemotherapy in psychiatry. mass. harvard u.press, 197'7.'
bandura, a. "psychotherapy as a learning process'\ psychblogical bulfe.tin, 1961,
58,143-59. barker, h.r. e smith, b.]. lnfluence of a reality orieritatt'on training
profiram on the attitudes of trainees toward the elderly. tuscaloosa: alabama
'regional médical programo
barns, e, e outros. "guidelines to treatment approaches", the gerontologist, 1973,
513-27. barros santos, o. "contribuições da psicologia à higiene mental no
trabalho", boletim de psicologia, 1960,39/40, 23-37. '
barros santos, o. "teorias e técnicas de carl rogers", revista de psicologia normal e
patológica, 1968, 3-4, 170-85.
barros santos, o. "contribuição aos métodos de aconsdhamento psicológico e de
psicoterapia". tese de doutoramento. são paulo: universidade de são paulo, 1970.
barros santos, o. "variações nas técnicas de aconsdhamento psicológico", boletim
de psicologia, 1972,64, 21-6.
barros santos, o. orientação e desenvolvimento do potencial humano. são paulo,
pioneira, 1978. barter, ).p. toward subud. londres: gollancz, 1967.
beck, a.t. cognitive therapy and the emotional disorders. nova york: international
univ. press, 1976.
beitman, b.d. "pharmacotherapy as an intervention during the stages of
psychotherapy", american joumal ofpsychothe_apy, 1981,2,206-14.
bearne, e. análisis transacional em psicoterapia. tradução. buenos aires: editorial
psique, 1976. bertherat, t. o corpo tem suas razões. tradução. são paulo: martins
fontes, 1979.
bijou, s.m. "implications of behavioral sciences for counseling and guidance", in ]
ohn k. krum boltz (editor). revolution in counseling. boston: h. mifflin, 1966.
bion, w.r. experiências em grupos. tradução. buenos aires: paidos, 1974.
binswanger, l. "existencial analysis and psychotherapy", in fromm-reichman, f. e
moreno, ].1.(editores). progress in psychotherapy. nova york: stranon, 1956.
birch, d. e veroff,]. motivação. tradução. são paul_: herder, 1970.
boss, m. existential foundations of medicine and psychology. nova york:]. aronson,
1979. bowen, m. family therapy in clinical practice. nova york:]. aronson, 1978.
buber, m. i and thou. tradução. nova york: scribner, 1958.
cannon, w.b. the wisdom ofthe body. nova york: norton, 1932.
cartwright, d. e zander, a. (editores). group dynamics; research and theory.
evanston: row & peterson, 1953.
chang, s.e. "the psychology of consciousness", american loumal of psychotherapy,
1978, 1, 105-16.
charbonneau, p.e. adolescência e liberdade. são paulo: e.p.u., 1980.
chein, i. "the awareness of sdf and the strucrure of me ego", psychological review,
1944, 51, 304-14. chrzanowski, g. "the genesis and nature of sdf-esteem",
american loumal of psychotherapy, 1981, 1, 38-46.
cofer, e.n. e appley, m.h. psicologia de ia motivación. tradução. méxico: editorial
trillas, 1975. coleman, ].e. a psicologia do anormal e a vida contemporânea.
tradução. são paulo: pioneira, 1973.
cottle, w.e. e downie, n.m. procedures and preparation for counselling. englewood
cliffs: prenti ce-hall, 1960.
cumming, ]. e cumming, e. ego and millieu therapy and practice of environmental
therapy. nova york: atherton, 1963.
coué, e. la maitresse de soi-meme par t'autosugestion consciente. paris: oliven,
1936.
cross, k.p. "educação para talentos diversificados", diálogo, 1976, 1, 62-6.
de la puente, m. carl rogers: de ia psychotherapie à i'enseignement. paris: epi,
1970.
de la puente, m. "experienciação em psicoterapia", psicologia clínica, 1979, 3, 27-
32. . deikman, aj. "de-automatization and the mystic experience", psychiatry,
1966,29,324-38. dewald, p.a. psychotherapy, a dinamic approach. nova york: basic
books, 1964.
dollard,). e milier, n.e. personality and psychotherapy: an analysis in terms of
leaming, thinking ànd culture. nova york: mcgraw, 1950.
dreikurs, r. e outros (editores). adlentm family counseling: a manual for counseling
centers. eugene: university of oregon, 1959.
ellis, a. "rational psychotherapy",j. of general psychology, 1958, 59, 35-49.
ellis, a. the essence of rational psychotherapy: a comprehensive approach to
treatment. nova york: institute for rational living, 1971.
erickson, m.h. "deep hypnosis and its introduction", in le cron, l.m. e bordeaux
editores). hypnosis today. nova york: stranon, 1947.
erikson, e.h. childhood and society. nova york: norton, 1950.
erikson, e.h. ldentidad, luventud y crisis. tradução. buenos aires: paidos, 1971.
erikson, j.m. e outros. activity, recovery and growth. nova york: norton, 1976.
eysenck, e.h. "the effects of psychotherapy: an evaluation", louroal of consulting
psychology,1952, 16, 319-24.
eysenck, h.j. "the effects of psychotherapy", lnt. jouroal of psychiatry, 1965, 1, 99-
142. eysenck, h.]. "psychotherapy and the experimental approach' , , louroal of
contemporary psychology,1973, 6, 19-27.
fenichd, o. problems of psychoanalytic techniques. nova york: psychoanalytic
quanerly, inc., 1941.
ferenczi, s. further contributions to the theory and technique of psychoanalysis.
londres: hogarth,1926.
festinger, l.a. a theory of cognitive dissonance. stanford: stanford univ. press, 1957.
fineman, s. e warr, p. motivation andludgement ofothers. warwick: occupational
section conference, 1972.
flavell, ].h. a psicologia do desenvolvimento de jean piaget. tradução. são paulo:
pioneira,1975. ford, d.h. e urban, h.b. systems ofpsychotherapy: a comparative
study. nova york: willey, 1963.
forghieri, y.c. "técnicas psicoterapêuticas e aconsdhamemo terapêutico rogeriano".
tese de doutoramento. são paulo: universidade de são paulo, 1972.
frankl, v.e. the doctor and the soul, nova york: knopf, 1955.
frankl, v.e. psicoloterapia e sentido de vida. tradução. são paulo: quadrantes,
s/data.
franks, c.m. e wilson, g.t. (editores). annual review ofbehavior therapy theory &
practice. nova york: brunner - mazd, 1980.
foulkes, s.h. "concerning leadership in group-analytic psychotherapy", lnteroational
louroal of group psychotherapy, 1951, 1, 319-29.
foulquié, p. a psicologia contemporânea. tradução. são paulo: cia. editora nacional,
1960.
freud, s. the basic writings of sigmund freud. a.a. brill (editor). nova york: modern
library, 1938. freud, s. outfine ofpsychoanalysis. nova york: norton, 1949.
freud, s. standard edition of the complete psychological works of sigmund freud.
londres: hogarth, 1958.
fromm, e. escape from freedom. nova york: rinehart, 1941.
garfodd, s.l. e bergin, a. (editores). handbook ofpsychotherapy and behavior
change. nova york: 1978.
gendlin, e.t. "experiencing: a variable in the process of therapeutic change".
amen'can journal of psychotherapy, 1961, 15, 233.45.
gendlin, e.t. focusing. nova york: everest house, 1978.
glanz, e.g. e hayes, r.w. groups in guidance. boston: allyn e bacon, 1967.
goldfarb, a. "psychotherapy of aged persons", the psychoanalitic review, 1955,2,
180-87.
goldman, l. using tests in counseling. nova york: appleton, 1961.
gondor, e.i. art and play therapy. garden city: double.day, 1954.
goodman, c.a. "factorial analysis of thurstone's seven primary abilities".
psychometnka, 1943, 2, 121-29.
gonesman,l.e. "miliieu therapy of the aged in institutions", the gerontologist, 1973,
13, 23-6.
grunspun, h., alzira lopes, p.e. charbonneau, oswaldo de barros santos, isaac
midnik, luiz antonio de sousa amaral. educar para o futuro. são paulo: escola de
pais; livraria atheneu, 1978.
guilford, ].p. e hoepfner, r. the analysis of lntelligence. nova york: mcgraw, 1971.
hahn, m.e. e maclean, m.s. counseling psychology. nova york: mcgraw, 1955.
hall, c.s. e lindsey, g. teorias da personalidade. tradução. são paulo: herder, 1973.
harrell, t.h. e outros. "didactic persuasion techniques in cognitive reestructuring",
american jlournal of psychotherapy, 1981, 1, 86-92.
hart, j.t. e tomlinson, t.m. new directions in client-centered therapy. nova york: h.
mifilin, 1970.
hartman, h. psicologia do ego e o problema da adapfação. tradução. rio de janeiro:
b.u.p., 1968.
heidegger, m. being and time. nova york: harper, 1962.
hersen, m., eisler, r.m. e milier, p.m. (editores). progress in behavior modiftcation.
nova york: academic press, 1979.
herz, m.i. "the therapeutie millieu: a necessity" , international journal o/ psychiatry,
1969,7.
herzberg, f. e outros. the moti1lation to work. nova york: wiley, 1959.
hilgard, e.r. teorias da aprendizagem. tradução. são paulo: e.p.u., 1975.
horney, k. neurosis and human growth. nova york: 1950.
horoey, k. n01l0s rumos na psicanálise. tradnção. rio de janeiro: editora civ.
brazileira, 1959.
jariov, a. the pn'maf scream. nova york: 1970. ,
jaspers, k. essencia de ia psicoterapia. tradução. buenos aires: paidos, 1959.
jensen,' r.e. "cognitive dissonanee in behavior therapy: some basic treatment
strategies". american journal of psychotherapy, 1979,2,303.11.
jersild, a.t. psicologia da adolescêdncia. tradução. são paulo: cia. edit. nacional,
1967. jordaan,j.p. the counseling psychologi,jt. nova york: teachers college,
columbia university, 1968. jung, c.g. the psychology o/the unconscious. nova york:
dodd, mead & co., 1927.
jung, e.g. the integration o/ personality. nova york: farrar & rinehan, 1939.
jung, e.g. analytical psychology: its theory and practice. nova york, 1968..
karasu, t.b. "toward unification ofpsychotherapies: a complementary model".
amencan joumal of psychotherapy, 1979,4, 555.63.
kasscchau, p,l. en1lelhecimento e gerontologia. são paulo: instituto sedes
sapientiae, 1976. keller, f. aprendizagem: teona do r,e/orço. tradução. são paulo:
e.p.u., 1974.
'kestenberg, j . s. "the role of movemem patterns in development" , psychological
quarterly, 1967,36, 356.409.
kierkgaard, s. concluding unscientifiç postscript". princeton: princeton university
press, 1941. klein, m. the psychoana/ysis'o/ children. londres: hogarth, 1949.
klein, m.j. e outros. "behavior therapy, observations and retlections" ,}oumal o/
consulting and clinical psychology. 1969, 3, 259.66.
klineberg, o. introdução à psicologia social. são paulo: universidade de são paulo,
1946. klineberg, o. e outros. psicologia modema. são paulo: agir, 1950.
knight, r.p. "evaluation of the results os psychoanalitie therapy", american }oumal
o/ psychiatry, 1941, 98,434.46. '
kohut, h. the restoration o/ the sei! nova york: 1m. univ. press, 1978.
korzybski, a. science and sanity. laneaster: scienee press, 1941.
kovcl,). a complete guide to therapj. nova york: pamheon books, 1976.
krech, d. e crutchficld, r. elementos de psicologia. tradução. são paulo: pioneira,
1963. krumboltz, j .d. (editor). re1l0lutiopn in counseling. boston: h. mifflin, 1966.
kunkcl, s. "resocialization: a technique that combat londiness", nursing homes,
1970, 19. laban, r. the masterj o/ m01lement. londres: medonald & evans, 1960.
lacan,). the language o/ the self the function o/ language in psychoanalysis.
baltimore: john hopkins, 1968.
lacan,). ecnts. norron: nova york, 1977.
lacan,). o seminário. tradução. rio de janeiro: zahar, 1979.
laing, r.d. o eu di1lidido. tradução. rio de janeiro: zahar, 1963.
laing, r.d. the politics o/ experience. nova york: 1967.
lazarus, a.a. beha1lior therapy and beyond. nova york: mcgraw, 1971. .
lazarus, a.a. climcal beha1lior therapy. nova york: brunner/mazd, 1972.
lazarus, a.a. e outros. terapia multimodal do compor/amento. tradução. são paulo:
ed. manole,1977.
lesse, s. "psychotherapy in combination with antidepressant drugs in severely
depressed out-patienrs - 20 year evaluation", americanjoumal o/psychotherapy,
1978, 1,48-73.
lewin, k. "a dynamic theory of personality". nova york: mcgraw, 1935.
lewin, k. principies o/topological psychology. nova york: mcgraw, 1935.
licht, s. music and medicine. boston: new england conservatory of music, 1946.
linden, m. e manns, m. psicofarmacologia para psicólogos. tradução. são paulo:
e.p.u., 1980.
lion, j.r. the ar/ of medicating psychiatric patients. nova york: w. and wilkins, 1978.
lopes, a. a escola de pais no brasil, são paulo, s/do
lowen, a. the betrayal of the body. nova york: 1967.
marruseelli, c. os expen'mentos de inierrupação de tarefa e a teoria de motivação
de kurl lewin. são paulo: universidade de são paulo, 1959.
maslow, a.h. "a theory of human motivation", psychological re1liew, 1943,50,
370.96.
maslow, a.h. e murphy, g.h. moti1lation and personality. nova york: harper, 1954.
masters, w.h. e johnson, v.e. human sexual inadequacy. boston: lide, brown, 1970.
maurin, e.w. "zc:n buddhism: a psyehologieal review", foumal of consulting
psychology, 1962, 26, 362-78.
may, r. "modero dancing as a therapy for the mentally ili", ocupational therapy,
1941,20/2,
101.06.
may, r. o homem ii procura de si mesmo. tradução: são paulo: vozes, 1973.
may, r. psicologia existencial: tradução. porto alegre: globo, 1976.
may, r. a ar/e do aconselhamento psicológico. tradução. pettópolis: vozes, 1977.
meclelland, d.e. e outros. the achie1lement moti1le. nova york: appleton, 1953.
medougall, w. an introduction to social psychology. nova york: barnes & noble,
1960 (edição original: 1908).
meehl, p.e.clinical versus statistlcal prediction. university of minnesota, 1954.
menninger, w.e. "bibliotherapy", menninger clinical bulletin, 1937, i, 263-74.
meyer, a. psychobiology: a science of man. springficld: thomaz, 1958.
mikulas, w.l. técnicas de modificação do compor/amento. tradução. são paulo:
harper e row do brasil, 1977.
miller, m. "abordagem da gestalt centrada na pessoa". manuscrito não publicado,
1981.
mira y lopes. e. avaliação crítica das doutrinas psicanalíticas. rio de janeiro: f.g.v.,
1964.
moraes passos, a.e. hipniatria: técnicas e aplicações em fobias. são paulo: gráfica
cairú, 1975.
moreno,j.l. "psyehodrama", in s. atieti (organizador). american handbook of
psychiaitry. nova york: basic books, 1959.
morse, w.c. e wingo, g.m. psicologia e ensino. tradução. são paulo: pioneira, 1978.
moustakas, e. the self explorations in personal growth. nova york: harper, 1956.
mowrer, o.h. "what is normal behavior?", in pennington, l.a. e berg, i.a. an
introduction do clinical psychology. nova york: the ronald press, 1954.
mowrer, o.h. (editor). psychotherapy: theory and research. nova york: the ronald
press, 1953.
murray, e.j. motivação e emoção. tradução. rio de janeiro: zahar, 1978.
nepveu, a. "les rclations imerpersonndles en oriemation scolaire et professionnélle.
le process du conseil", binop, 1961,3, 163-76.
nuttin, j. psicanálise e personalidade. tradução. rio de janeiro: agir, 1955.
oliveira lima, l. por que plaget? - a educação pela inteligência. são paulo: senac,
1980.
pages, m. orientação não diretiva em .pslcoterapia e psicologia social. tradução.
rio de janeiro: editora forense, 1976.
patterson, e.h. counseling and psychotherapy. theory and practice. nova york:
harper, 1959.
pennington, l.a. e berg, i.a. an introduction to clinical psychology. nova york: the
ronald press, 1954.
pepinsky, h.b. e pepinsky, p.n. counseling: theory and practice. nova york: the
ronald press,1954.
perls, f.s. gestalt therapy verbatim, nova york: bamam books, 1976.
pfromm netto, s. psicologia da adolescência. s_o paulo: pioneira, 1978.
perry, w. g. . 'on the rc:larion of psychotherapy and counselling", in chester w.
harris (editor).encyclopedla ofeducational research. 1960.
phillips, e.l. psychotherapy, a modem theory and practice. englewood cliffs:
prentiee hall, 1956.
piaget,]. la psychologie de i'intelligence. paris: 1947.
powdermaker, f.b. e frank, ].d. group psychotherapy. cambridge: harvard univ.
press, 1953.
rank, o. will therapy and truth and reality. nova york: a.a. knopf, 1945.
reich, w. character analysis, pn'nclples and techniques for psychoanalysis in
practice and in training. nova york: orgone]. press, 1945.
reik, t. listening with the third ear. nova york: f. strauss, 1948.
robinson, f.p. pnnciples and procedures in student counseling. nova york: harper,
1950. rogers, c.r. counseling and ps:jchotherapy. boston: h. mifflin, 1942.
rogers, c.r. client-centeredtherapy. boston: h. mifflin, 1951.
rogers, c.r. e dymond, r.f. psychotherapy and personality change, chicago: univ. of
chicago press, 1954.
rogers, c.r. "the necessary and sufficient condirions of therapeuric personality
change". journal of consultlng psychology, 1957,21,95-103.
rogers, c.r. on becoming a person. bosron: h. mifflin, 1961. rogers, c.r. e kinget,
g.m. psychotherapie et relations humaines. paris: béarrice-nauwelaercs,
1965 (a).
rogers, c.r. "the therapeuric relationship". conferência. melbourne: 1965 (b).
rogers, c.r. e outros. de pessoa para pessoa. são paulo: pioneira, 1978.
rogers, c.r. freedom to learn. columbus: c.e. mem'l, 1969.
rogers, c.r. encounter groups. londres: penguin books, 1970.
rogers, c.r. becoming partners: mamage anel its alternatives, nova york: delacorte
press, 1973, rogers, c.r, e rosenberg, r,l. a pessoa como centro. são paulo: e.p,u.,
1977.
rogers, c.r. sobre o poder pessoal, tradução. são paulo: marrins fontes, 1978.
rogers, c.r. a way of being, boston: h, mifflin, 1980.
rosen, e, dance in psychotherapy, nova york: columbia university 1957.
rosen, ].n. direct analysis, nova york: grune & stratton, 1953.
rosenberg, r,l. "um estudo da percepção de condições psicoterápicas em grupos
de aconselhamento psicológico". tese de doutoramento. são paulo: universidade
de são paulo, 1972.
rush, a.]. e beck, a,t, "cognitive therapy ofdepression and suicide", americanjournal
of psychotherapy. 1978, 2, 201-19.
sartre, ].p. l 'Étre et le néant, paris: galimard, 1943.
sartre,].p. existencial psychoanalysis, tradução. nova york: hazel and barnes,
1953.
schaefer, c. (editor). the therapeutic use ofchlld's p/ay. nova york:]. aronson, 1976.
shaffer, l.f. e shoben, e.]. th psychology of adjustment, boston: h. mifflin, 1956.
scheeffer, r. aconselhamento psicológico. rio de janeiro: fundo de cultura, 1964,
schneck,].m. "bibliotherapy and hospitallibrary activities for neuro-psychiarric
patients", psychlatry,1945, 8, 207-28,
schoop, t. won 't you join the dance? paio alto: mayfield pub. co., 1974.
schultz, ].a, e luthe, w. autogenic training - a psycho-physiologic approach in
psychotherapy.nova york: stratton, 1959.
sears, r.r. "relation ofearly socialization experience to agression in middle
childhodd" ,journal of abnormal and social psychology, 1961,63,466-92.
serra, m.a. dança-terapia: introdução teónca à análise do movimento, 1981.
shoben, e.j., jr. "personal worrh in education and counselinf', in john d. krumboltz
(editor). revolution in counseling. boston: houghton mifflin, 1966; 49-77.
skinner, b.f. the behavior of organisms: an expen'mental analysis, nova york:
appleton, 1938. skinner, b.f, ciência e comportamento humano. tradução. brasília:
univ. de brasília, 1967.
skinner, b.f. "the phylogeny and ontogeny of behavior", in endler, n.s. e outros
(editores). contemporany issues and developmental psychology, nova york:
rineharr, 1968.
small, l. as pszcoteraplas greves. tradução. rio de janeiro: imago editora, 1974.
solomon, e.g. e bumpus, a.k. "the running meditation response: an adjunct to
psychotherapy", american journal of psychotherapy, 1978, 4, 583-92.
spiegel, h. e spiegel, d. trance and treatment: clinical uses ofhypnosis, nova york:
basic books, 1978.
spoerri, th. compêndio de psiquiatna. tradução. são paulo; livraria atheney, 1974.
stekel, w. technique of analytical psychotherapy, nova york: norron, 1940.
stefflre, b, e grant, w.h. teonas de aconselhamento, tradução. são paulo: mcgraw,
1976. sullivan, h.s. the psychiatric interoiew, nova york: norton, 1954.
sundberg, n.d. e tyler, l.e. clinzcal psychology. nova york: methu"n & co., 1963.
super, d .e. "transition ftom vocational guidance to counseling psychology" ,journal
of counseling psychology, 1955, 2, 3-9_
symonds, p.m, the ego and the self. nova york: appleton, 1951.
telford, c.w. e sawrey, j.m. o indivíduo excepcional. rio de janeiro: zahar editores,
1974. thurstone, l.l. "primary mental abilities", psydometn'ka monographs, 1938, 1.
tiffin,]. e mccormick, e.j. psicologia industnal. tradução. são paulo: herder, 1969.
truax, c.b. e carkhuff, r.r. toward eflective counseltng and psychotherapy ". chicago:
aldine pub.co., 1969.
van kolck, o.l. técnicas de exame psicológico e suas aplicações no brasil.
petrópolis: vozes, 1975 (2 vols.).
watley,j.d. "counseling philosophy and counselor predictive skill" , journal of
counseting psychology, 1)67, 2, 158-64. .
watson, ].b. behavionsm, nova york: norron, 1930.
willard h.s. e spackman, c.s. occupational therapy. philadelphia, lippincott, 1970.
williamson, e.g. how to counsel students. nova york: mcgraw, 1939.
wolberg, l.r. the technique ofpsychotherapy. nova york: srratton, 1977.
wolman, b.b. "new ideas on mental desorders", amen'can ]ournal of
psychotherapy,. 1977, 4,546-60.
wolpe,j salter, a. e reyna, l.]. coul1ditioning therapies: the challenge in
psychotherap]'. nova york: holt, rineharr & winston, 1966.
wood, j.k. "person-centered group therapy", in g. gazda (editor). basic approaches
to group psychotherapy and group counseling. springfielcl: charles c. thomaz,
1980.

english-abstract

psychological counseling and psychotherapy:


self-assertion as a basic determinant of human behavior

paper for presentation in an interactive session at the 20th international congress


of applied psychology, edinburgh, 1982

the author relates his experience as a clinical psychologist after having


worked for many years in the field of industrial psychology and vocational
guidance. the book which is now being published and this communication refer to
his work in clinical psychology started in the sixties after having completed his
graduate course at columbia university (usa) and after his doctoral dissertation at
the university of são paulo (brazil).
first of all, the author comments on the long course from diagnosis to
psychological help and proposes a classification of the methods of counseling and
psychotherapy into three main categories: 1) social-cultural-context-centered
methods; 2) personal-context-centered methods; 3) problem-centered methods an
others. one specific chapter is dedicated to rogerian ideas and techniques and
neo-rogerian position is suggested.
initially, starting from person-centered therapy, according to rogers theories
and techniques, the author relates his observations over twenty years. those
observations led him to explore an important fact that occurred during therapy: the
majority of clients who attended counseling or therapeutic sessions would improve
as long as they were able to attribute the reasons for their problems and difficulties
to themselves and not to external causes. at this moment an important question
was then raised by the author: would there be any psychological phenomenon
related to the self-concept that could be responsible for the reduction tension and
better adjustment to life conditions? using this as a reference point over the years
it was observed with all clients, independent of their social or economic status, that
the improvement was strongly associated with .alterations in their self-image, self-
esteem, self-concept and self assertion.
obviously, the above conclusion is not new. all systems and psychological
theories have shown that, including freud, adler, jung, same, may, rogers and many
others. however, the important point - which might be considered as a new
contribution - is the role of self assertion in human behavior.
in order to clarify those ideas it was necessary to review some basic concepts
on motivation. following those lines, the author arrives at the hypothesis that se/f
-assertion is one o/ the most significant determinants o/ human behavior,' perhaps
the most prevailing goal of human life, except in the biological field namely natural
needs of survival.
self-assertion is a complex phenomenon: it could be understood as a large
and varied revision of the ego, both cognitive and emotional, followed by the
judgment made by the person about himself (personal i) and about his adaptability
to the expectations from the outside world (social i). the basis of human behavior,
that is, the needs and motives that consciously or unconsciously would establish
the goals of the activity, excluding purely organic factors, would be centered on the
concepts about himself and about his role in life. to be someone recognized as a
person would be the significant goal, even with limits and failures. examples can be
found every day in all kinds of human behavior: children who want to do things for
themselves; adolescents who try to show that they are grown up; adults who
search for status and power. on the other hand, the most traumatic experience
seems to be the feeling of being ignored, of having no value, of being forgotten or
placed in an inferior position in any aspect of life. it also means the feeling of being
incapacited when faced with social values and social expectations.
the consequences of such observations over the years may seem trivial; a
kind of well know and unimportant conclusion. nevertheless, the success of
therapy was always associated to the revision of the self and to the attainment of a
stronger feeling of self-assertion. the book on that matter and this communication
aim to call attention to this focus of emotional life and to indicate the possibility of
giving direction to a new understanding of human behavior. this direction would
also mean new ways in the therapeutic process as well as in prophylactic attitudes
in other fields.
many modem positions like the humanistic movement, existentialism and anti-
psychiatry have already arrived by different ways at similar conclusions. many
other therapeutic theories and techniques have suggested that the feeling of
personal value, the self-image and the self-concept have significant influence in
therapy. this is more perceptible in adler and rogers. even the reinforcement in
skinner' s theory is somewhat connected to the main idea: the effect of having
completed a task might be in itself a kind of self-assertion. although many theories
have postulated some effect derived from the feeling of seif-esteem and self value,
there is no theory or technique which emphasizes &elf-assertion as the most
significant factor in human existence and, as a consequence, in psychological
therapy.

the main contribution of the book and of this communication to a psychological


congress is outlined as follows: 1. human motivation is highly influenced by self-
assertion; this concept raises the hypothesis of self-assertion being the most
significant determinant of behavior; 2. in the author experience, better results have
been found with rogerian and similar theories and techniques, when there is
emphasis on self-assertion, that is, when therapist and client act in the cognitive
and emotional areas examining together successes or failures throughout life,
without fears and anxieties; when both are able to conciliate the personal i
(characteristics and personal needs) with the social i (group and social
characteristics and needs); 3. psychological structure becomes stronger as long as
the person recognizes himself as a real living organism with characteristics that are
his own; when he is able to appreciate his own territory; when he feelds himself as
someone with his own ideas and way of being, open to the world and able to feel,
to think and to act in function of his capacities and limitations, without permanent
feelings of loss or inferiority.
meanwhile there is only clinical data supporting the hypothesis. the
contribution which is now presented comes from a sample of 80 clients (adults and
adolescents, male and female, of different social and economic status) who were
observed in their behavior during counseling or therapy. a check-list with 13
indicators of progress was informally used to guide the observation.
there is a strong need for research in this field. the author tries only to open a
new way, with an empirical foundation, for expanding our understanding of human
motivation. the consequences might be of high value for the improvement of the
psychotherapeutic process as well as in handling other aspects of life.
many examples are given by the author related to the family, school life, the work
situation and elderly people.

oswaldo de barros santos são paulo, brazil, 1982

También podría gustarte