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Comentários sobre Contrato

de Adesão e suas Cláusulas


Abusivas
ii
iii

MARCELO MACIEL MARTINS


ADVOGADO
PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

Comentários sobre Contrato


de Adesão e suas Cláusulas
Abusivas

1ª EDIÇÃO

RIO DE JANEIRO
EDIÇÃO DO AUTOR
iv

2008

Copyright © by Marcelo Maciel Martins

Produção Editorial
Marcelo Maciel Martins

É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio


ou processo, inclusive quanto às características gráficas
e/ou editoriais. A violação de direitos autorais constitui
crime do Código Penal, art. 184, §§, e Lei n° 6.895, de
17/12/1980, sujeitando-se a busca e apreensão e
indenizações diversas (Lei n° 9.610/98).

CIP – Brasil. Catalogação-na-fonte


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

MARTINS. Marcelo Maciel.


Comentários sobre Contrato de Adesão e suas Cláusulas
Abusivas. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008.
52 p. ; 14 cm x 21cm

ISBN 978-85-907605-7-3

1. Código Civil. 2 – Contratos. 3 – Adesão. 4 – Código de


Defesa do Consumidor.
CDU -34

Todos os direitos desta edição estão reservados à


Marcelo Maciel Martins
macielmartins.adv@gmail.com / macielmartins@ig.com.br
(21) 7811-9528 / (21) 9316-1272 / (21) 3555-3409

Impresso no Brasil
v

Printed in Brazil

NOTA INTRODUTÓRIA

O estudo pelo tema surgiu no momento

em que me deparava com os freqüentes ilícitos que costumam

surgir nas entrelinhas de um contrato de adesão, e a sua

fragilidade diante da impotência econômica e técnica do

consumidor, que em sua grande maioria, não tem como evitá-

lo. Então, percebe-se a grande necessidade de avançar no

estudo do tema, pois, só assim, alcançaremos resultados

satisfatórios, solucionando as lides que se estabelecem no dia-

a-dia nas relações consumeristas.

Assim, este trabalho procura

demonstrar o que vem a ser um Contrato de Adesão e a

importante ênfase lhe foi dada no Código de Proteção e Defesa

do Consumidor, destacando a proteção que é traçada na

medida em que o consumidor o adere, e as possíveis

ilegalidades que normalmente surgem nesta nova forma


vi

contratual largamente utilizada pelas empresas do setor de

consumo.
vii

O Código de Defesa do Consumidor,

também conhecido como CDC, se apresentou como a primeira

norma legal que regularizou o Contrato de Adesão, trazendo a

luz do Direito uma clara definição, e fornecendo um eficiente

método para a sua interpretação. Já no Código Civil, o tema é

tratado de forma muito tímida, que faz alusão em apenas dois

de seus dispositivos.

Ademais, o Contrato de Adesão será

tratado de forma objetiva, pois, tais contratos têm sido

impulsionados de forma assustadora em nossa economia,

gerando reflexos que se traduzem em possíveis vícios que nele

possa haver; fazendo com que o leitor possa compreender de

forma sintética as modificações e implementações que o Código

de Proteção e Defesa do Consumidor trouxe para esta forma

contratual, bem como seus benefícios para a sociedade.

Enfim, este trabalho, será, dentre um

grande universo que vem se construindo, um importante

degrau para o estudo no campo dos Contratos de Adesão,

cabendo-lhe aos consumidores em geral, universitários e até

mesmo aos profissionais que já estão inseridos na referida

área; utilizando-o como um guia de consulta rápida, seja no

uso da vida profissional, acadêmica ou no consumo em geral.


viii

OBRAS DO AUTOR

A Exceção de Pré-executividade no Sistema Processual Civil Brasileiro. Rio


de Janeiro : Edição do Autor, 2007.

Os Contratos pela Internet sob a Ótica da Legislação Brasileira. Rio de


Janeiro : Edição do Autor, 2007.

A Posse e suas Aplicações nas Ações Possessórias e Petitórias. Rio de


Janeiro : Edição do Autor, 2008.

O Princípio da Função Social dos Contratos no Direito Societário. Rio de


Janeiro : Edição do Autor, 2007.

As Disposições da Lei n° 11.232/2005 se Aplicam às Execuções de


Prestação alimentícia. . Rio de Janeiro : Edição do Autor, 2007.

A Sucessão do Cônjuge em Concorrência com os Descendentes do


Falecido, de Acordo com o Código de 2002. Rio de Janeiro : Edição do
Autor, 2007.

Comentários sobre o Bem de Família no Código Civil e na Lei


n° 8.009/90. Rio de Janeiro : Edição do Autor, 2008.

ARTIGOS

A Constituição do Capital Social e sua Intangibilidade. Ano 2002

A Empresa e a Teoria do Estabelecimento Comercial. Ano 2002

Como Desenvolver uma Boa Redação. Ano 2008.

Quando os Softwares de Proteção dos Bancos Interferem no Sistema


Operacional Travando o Windows. Ano 2008.
ix
x

SUMÁRIO

Nota Introdutória, v

1. Introdução, 11

2. Noções Gerais do Contrato, 14

3. Contrato de Adesão, 19

3.1. Conceito e Características, 19

3.2. Condições Gerais do Contrato X Contrato de


Adesão, Contrato de Adesão X Contrato por
Adesão: A problemática da terminologia, 25

4. O Código de Defesa do Consumidor, 30

5. Cláusulas Abusivas, 36

6. Considerações Finais, 44

7. Referências Bibliográficas, 49
xi
12

1.0. Introdução

As relações contratuais nos dias

atuais, especialmente as de consumo, são fortemente

influenciadas pela economia de mercado, reflexo do

processo de globalização enfrentado por toda a

sociedade contemporânea.

O Direito não existe de per si,

isolado, como em uma cúpula de vidro. O Direito não

consegue se portar de maneira independente frente aos

demais subsistemas normativos éticos. A economia é,

portanto, uma das maiores influenciadoras no

desenvolvimento jurídico.

Assim, guarda a economia

intrínseca relação com os contratos de consumo. O

consumo depende do desenrolar da economia de


13

mercado, tendo em vista que os contratos são

instrumentos de circulação de riquezas.

Com a exigência desse mundo

econômico e globalizado, surgem os contratos de

adesão, como forma de proporcionar maior

uniformidade, rapidez, eficiência e dinamismo às

relações contratuais, especialmente as de consumo.

O mundo contemporâneo não

suportaria se todos os contratos de consumo se

desenvolvessem da forma paritária, isto é, ensejassem

uma discussão prévia entre o consumidor e o

fornecedor.

Surgem, portanto, os Contratos de

Adesão, como uma necessidade do mundo globalizado,

apesar de já existir a algum tempo, especialmente na

Itália. Entretanto, o Contrato de Adesão traz consigo

um perigo, que é a existência de cláusulas abusivas,

que, nas quais, apenas umas das partes, isto é, aquele


14

que está propondo a aderência a toda a proposta, sai

beneficiado em relação ao aderente.

Como forma de suprir um pouco

essa deficiência no controle das cláusulas abusivas nos

Contratos de Adesão, surgiu, entre nós, a Lei nº

8.078/90, mais conhecido como Código de Proteção e

Defesa do Consumidor, que tem como destinação

primordial a salvaguarda dos direitos do consumidor

nas relações contratuais de consumo.

Ao longo do presente estudo,

serão analisados os conceitos e as características

desses contratos, suas cláusulas abusivas e os

instrumentos de proteção previstos no Código de

Defesa do Consumidor.
15

2.0. Noções Gerais de Contrato

O conceito moderno do que hoje

conhecemos como contrato foi formado em

conseqüência da confluência de diversas correntes de

pensamento, dentre as quais podemos destacar as

Escolas Canonista e a do Direito Natural.

Os Canonistas influem na medida

em que atribuíam relevância ao consenso e à fé jurada.

Preconizavam que a vontade é fonte de obrigação,

abrindo os caminhos para a formulação dos princípios

da autonomia da vontade e do consensualismo.

Já a Escola do Direito Natural,

bastante racionalista e individualista, contribuiu para a

formação do conceito de contrato quando defendiam

que as obrigações encontravam seus fundamentos na


16

vontade livre dos contratantes, isto é, bastava o

consentimento para obrigar.

À época do liberalismo econômico,

havia a concepção do contrato como o reflexo do

desenvolvimento do mercado de capitais, que deve

funcionar livremente, sem a ingerência estatal.

O desequilíbrio nas relações

contratuais tornou-se latente, pois não havia forma de

controle estatal até então. Para compensar tal situação,

o Estado, intervindo e ditando a economia, editou

diversas e abundantes leis que deram tratamento

especial a determinadas categorias, compensando

juridicamente a sua frágil posição contratual, proibindo

a inserção de determinadas cláusulas e, em algumas

vezes, a sua autorização.

A política interventiva estatal

atingiu, por sua vez, o contrato, ao restringir a

liberdade de contratar, na tríade liberdade de


17

celebrar contrato, liberdade de escolher com

quem contratar e liberdade de conteúdo.

Nos contratos contemporâneos,

que se realizam em série, a preocupação é a defesa dos

aderentes, mediante normas legais que proíbam

cláusulas iníquas, até porque as regras de declaração

de vontade e os vícios do consentimento, quase não se

aplicam.

O contrato é uma espécie de

negócio jurídico que se distingue, na formação, por

exigir a presença de pelo menos duas partes. É,

portanto, um negócio jurídico bilateral ou plurilateral1.

No que concerne ao conteúdo do

contrato, há duas correntes: a subjetivista e a

objetivista. Os subjetivistas alegam que o conteúdo do

contrato é composto pelos direitos e obrigações das

partes, sendo fonte de relações jurídicas, sem ser ato


1
GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 18 Ed., 1997. p.
04.
18

propulsor das relações obrigacionais. Já os objetivistas

acham que o conteúdo é composto de preceitos, com

substância normativa, visando a vincular a conduta das

partes.

A vida econômica desdobra-se

através da vasta rede de contratos que a ordem

jurídica oferece aos sujeitos para que regulem seus

interesses.

Tem, portanto, o contrato uma

grande variedade de funções econômicas, dentre as

quais promover a circulação de riquezas, a colaboração,

a conservação, a prevenção de riscos, a concessão de

créditos e outras.

A função econômico-social foi

consagrado no contrato, sustentando-se que o Direito

intervém, tutelando determinado contrato, em razão de

sua função econômico-social, isto é, o contrato deve


19

ser socialmente útil, de modo que haja interesse

público na sua tutela.


20

3.0. Contrato de Adesão

3.1. Conceito e Características

Define-se o Contrato de Adesão

como sendo o negócio jurídico onde a participação de

um dos sujeitos da relação sucede pela aceitação em

bloco de uma série de cláusulas formuladas

antecipadamente, de modo geral e abstrato, pela outra

parte, para constituir o conteúdo normativo e

obrigacional de futuras relações concretas.

O Contrato de Adesão

caracteriza-se por permitir que seu conteúdo seja pré-

construído por uma das partes, eliminado a livre


21

discussão que precede normalmente à formação dos

contratos2.

Primeiramente, podemos destacá-

lo como um negócio jurídico bilateral, formado pelo

concurso de vontades restrito, mas existente. Em sua

formação, apresenta-se como a adesão alternativa de

uma das partes ao esquema contratual traçado pela

outra, inexistindo as negociações preliminares e

modificação de cláusulas, próprias dos contratos

paritários.

Há um esquema contratual

constituído por uma série de cláusulas ou condições

destinadas a normatizar a seqüência das relações

jurídicas contratuais. Essas cláusulas são caracterizadas

pela generalidade, uniformidade e abstratividade.

O conteúdo desses contratos têm

uma determinação prévia e unilateral, sendo as

2
GOMES, Orlando. Ob. cit. p. 109.
22

cláusulas redigidas antecipadamente por um dos

sujeitos da relação.

Os Contratos de Adesão

representam uma oposição à idéia dos contratos

paritários, pois enquanto esse significa igualdade entre

as partes, naqueles há uma aparência de imposição de

vontade.

Não pretende, assim dizer, com

isso, que inexista a autonomia da vontade no contrato

de adesão, pois ainda resta a liberdade de contratar,

mas é observável que essa autonomia é bastante

limitada.

A maioria dos contratos de

consumo realiza-se por adesão, significando uma

redução de custos, uma uniformidade de tratamento e

uma racionalização contratual. Dentro do princípio

capitalista, deve-se buscar o máximo de lucros com o

mínimo de custos, e isso se aplica aos contratos de


23

consumo, tendo em vista que seriam excessivamente

onerosas as relações se em cada uma delas houvesse

uma prévia deliberação.

A função do contrato de adesão

é, portanto, agilizar os negócios jurídicos,

democratizando as relações negociais, possibilitando

que um maior número de contratantes tenha acesso

aos bens. É, conforme já comentamos, uma função

estreitamente relacionada à vida econômica e social.

Há, entretanto, desvantagens no

contrato de adesão. Ele normalmente só é lembrado,

debatido e estudado em função dessas desvantagens

conhecidas como cláusulas abusivas.

Normalmente, essas cláusulas não

são percebidas e identificadas no momento de

contratar, isto é, o aderente normalmente não tem

idéia do que está acordando. Esse tema específico

voltará a ser debatido mais adiante.


24

No que concerne à formação do

Contratos de Adesão, existem duas posições: um

primeiro entendimento alega que este é ato unilateral,

e o outro, um simples ato de manifestação de vontade.

Segundo a primeira opinião, no

Contratos de Adesão as cláusulas são pré-

estabelecidas, não existindo livre manifestação da

vontade, ficando portanto a vontade do aderente

restrita à vontade do predisponente.

Por essa razão, entendem que tal

relação não aparenta ser de cunho contratual, tendo

em vista a falta do requisito básico da livre

manifestação da vontade.

Já para a corrente dos

contratualistas, que entendem existir manifestação de

vontade no Contratos de Adesão, o aderente participa

da relação manifestando sua vontade no ato da

contratação, tendo sob esse aspecto bilateralidade.


25

Entretanto, a opinião majoritária a

cerca da matéria, entende que, apesar de ver

restringido sua liberdade de deliberar sobre o conteúdo

dos contratos, o aderente ainda tem a liberdade de

contratar, isto é, ainda tem para si reservada a

garantia de manifestação de sua vontade própria.


26

3.2. Condições Gerais do Contrato X


Contrato de Adesão; Contrato de Adesão X
Contrato por Adesão: A problemática da
terminologia.

Não obstante todas as discussões,

estudos e debates acerca da natureza, da formação,

constituição, conceito e características dos Contratos de

Adesão, ocorre ainda uma célere discussão acerca da

terminologia deste tipo de contrato, a saber: uma, para

diferenciá-lo das condições gerais do contrato, a outra

que o distingue dos Contratos por Adesão.

A figura jurídica do Contrato de

Adesão apresenta-se sob duplo aspecto, conforme o

ângulo de análise. Assim, na perspectiva da formulação

das cláusulas por uma das partes, de modo uniforme e


27

abstrato, denomina-se Condições Gerais do

Contrato.

Quando analisado no plano

efetivo, já tomado corpo na eficácia jurídica, é chamado

Contrato de Adesão, sendo observado sob o prisma

do modo que se formam as relações jurídicas bilaterais.

Vê-se, então, que Condições

Gerais do Contrato e Contrato de Adesão representam

dois momentos cronologicamente diversos, mas

inseridos em um mesmo fenômeno.

Enquanto não ingressam no

comércio jurídico, tais condições não têm interesse

prático ou dogmático. Por seu turno, o comportamento

do cliente que provoca a formulação de uma relação

concreta somente reveste significação particular se

implica adesão às condições gerais previamente

estatuídas pelo empresário.


28

Não há como precisarmos qual dos

momentos é mais importante ou relevante. Pode-se

afirmar, sim, que ambos são necessários, podendo tal

fenômeno ser batizado com o nome de Contrato de

Adesão ou de Condições Gerais do Contrato.

Entre nós, profundamente

influenciados pela doutrina francesa, há uma maior

utilização do termo Contrato de Adesão, expressão

igualmente consagrada pelo Código de Proteção e

Defesa do Consumidor.

Quanto à segunda questão que

fora suscitada, cabe-nos distinguir os Contratos de

Adesão dos Contratos por Adesão.

Na verdade, segundo o Código de

Defesa do Consumidor, não há qualquer diferenciação

entre os dois termos. Essa é também a posição da

doutrina brasileira.
29

Entretanto, encontramos

exemplos, até jurisprudências apontando as diferenças

entre os dois termos.

Contrato de Adesão seria aquele

em que o consumidor só teria uma empresa para

buscar o produto, então o consumidor não poderia fugir

daquele contrato, sendo uma espécie de monopólio.

Já o Contrato por Adesão seria

exatamente aquele em que haveria outras opções para

o contratante aderir, isto é, apesar de não deliberar

com ninguém previamente, possui diversas opções para

aderir, como por exemplo, ocorre com os cartões de

crédito.

Essa "opção" que o consumidor

possui com os Contratos por Adesão dava margem à

existência de inúmeras cláusulas abusivas, e as

empresas se eximiam alegando que o consumidor tinha

outras opções, mas preferiu aderir àquelas cláusulas.


30

Talvez em virtude disso, nossa

doutrina majoritária tem adotado, exclusivamente, o

termo Contrato de Adesão, sem distingui-lo do Contrato

por Adesão, posição que foi adotada também pelo

Código de Defesa do Consumidor.


31

4.0. Código de Defesa do Consumidor

Desde meados da década de 70,

existe em nosso país a idéia de constituição de um

corpo orgânico de normas de proteção ao consumidor,

resultado do frágil regime até então vigente, de

ineficientes intervenções estatais nas relações de

consumo.

Válido é de se ressaltar a

contribuição importante dada pelas associações

específicas de consumidores, em vista do

recrudescimento do espírito associativo.

Essas associações representaram

um importante meio de pressão na posterior sagração

constitucional, em 1988, dos direitos dos consumidores


32

e, posteriormente, com o Código de Defesa do

Consumidor.

O Conselho de Defesa do

Consumidor, criado muito tempo depois dessas

primeiras manifestações em defesa do consumidor, foi

o responsável pela idéia de preparação de um Código

de Defesa do Consumidor, com uma comissão de

juristas liderados pela Professora Ada Pellegrini

Grinover.

Esse conselho ofereceu a versão

final do anteprojeto, como contribuição do Executivo

para a missão do Congresso Nacional, que promulgou a

então Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990, ou

melhor, o Código de Defesa do Consumidor.

Esse Código, destinado à proteção

dos consumidores, não poderia ter vindo em momento

mais propício, diante das constantes investidas que a

massa geral de consumidores, principalmente os menos


33

avisados, vinha sofrendo pelos reflexos negativos

decorrentes de desigualdades fáticas e por um

instrumental jurídico ineficiente.

Analisando o seu contexto

normativo, constata-se que o seu surgimento rompeu,

em alguns pontos, com os esquemas tradicionais, para

dotar o consumidor de um sistema protetivo e

adequado.

Dentre outros temas, o Código

prevê um regime de informações claras e precisas ao

consumidor; veda as práticas comerciais consideradas

abusivas; define e regula os contratos denominados de

adesão; possibilita a inversão do ônus da probante em

prol do consumidor, se verificados requisitos

necessários.

Os mecanismos de proteção ao

consumidor no Brasil representam nada mais que a

internação do regime de controle já praticado, com


34

êxito, em outros países, mais desenvolvido que o

Brasil, dentre os quais a Itália, que já fala no tema

desde o início da década de 40.

O Código de Defesa do

Consumidor, i.e., a Lei n.º 8.078/90, é um complexo de

normas para o plano das relações privadas, em que os

protagonistas centrais são, no pólo disponente, o

produtor, o fabricante e o intermediário; e no pólo

adquirente, as pessoas físicas ou jurídicas, que se

servem dos bens ou serviços3.

As relações que se submetem ao

sistema do Código são as chamadas relações de

consumo.

Mas também não se limita às

situações descritas no seu contexto, pois o legislador

fez consignar norma geral que acolhe, como protegidos,

3
GARMS, Ana Maria Zauhy. Cláusulas Abusivas nos contratos de
adesão à Luz do Código de Defesa do Consumidor.
www.jus.com.br/doutrina/clabusi.htm, outubro, 2001.
35

direitos outros reconhecidos aos consumidores em

tratados e convenções internacionais, bem como em

Leis especiais e derivadas de princípios gerais do

direito, analogia, costumes, equidade.

Verifica-se uma nítida proteção ao

consumidor, em vista das distorções detectadas ao

longo dos anos, da posição de desvantagem em que

sempre se encontrou em face dos complexos

empresariais.

Na ruptura com o sistema

tradicional, o sistema define princípios, conceitos e

regras próprias, fazendo com que, no fundo esse direito

do consumidor se esteja compreendido em um contexto

maior, que é o do Direito Econômico.

Como destaque no Código,

podemos apontar na regulamentação processual, em

que legitima as entidades de representação e as de

defesa a agir judicialmente a favor dos consumidores.


36

É louvável a existência desse

Código. Apesar de extremamente retardatário, pois já

se discute isso no mundo há décadas, o Código vem

atender a uma demanda crescente dos consumidores,

face à existência dos contratos de adesão e das muitas

cláusulas dotadas de abusividade embutidas nos

contratos.
37

5.0. Cláusulas Abusivas

O contrato, ainda enquanto

unilateral, isto é, condições gerais do contrato, são

defensivas de interesses, predefine cláusulas e ingressa

como proposta para negociação, a que o acolhimento

dos interesses imprime, verdadeiramente, o feitio de

contrato.

O código tem por fim estabelecer

o equilíbrio contratual, invocando o princípio da boa-fé

e da equidade, ou seja, da função social do contrato.

Prevê-se e busca-se um regime

protetivo onde a Administração pública e a privada

possam equilibrar as relações de consumo,

principalmente com a prescrição de cláusulas abusivas

em Contrato de Adesão.
38

Os Contratos de Adesão, reflexos

da necessidade econômico-social e da realidade de um

mundo globalizado, apresentam inúmeras vantagens,

possibilitando a uniformidade, a redução dos custos, a

racionalização contratual.

Entretanto, sabe-se também que

existem desvantagens para tais contratos, dentre as

quais o, quase infinito, número de cláusulas abusivas.

Essa é a grande problemática do

Contrato de Adesão. O motivo pelo qual ele é mais

lembrado e criticado é por que ele dá margem às

cláusulas abusivas, que colocam o consumidor em

desvantagem, incompatíveis com a boa fé.

Assim, esse é o momento de

intervenção do Estado, pela vis Legislativa,

Administrativa ou jurisprudencial, para proteger os

consumidores, tornando nulas essas cláusulas dotadas

de abusividade.
39

A previsão de nulidade das

cláusulas abusivas está prevista no artigo 51 do Código

de Defesa do Consumidor, que elenca em seus incisos

algumas dessas cláusulas4.

Abusiva é a previsão da

irresponsabilidade por vícios e defeitos de qualidade,

isto é o produtor ou fornecedor, que não pode se eximir

4
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem,
exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de
qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou
disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o
consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em
situações justificáveis; II - subtraiam ao consumidor a opção de
reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código; III -
transfiram responsabilidades a terceiros; IV - estabeleçam obrigações
consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
eqüidade; V - (Vetado); VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em
prejuízo do consumidor; VII - determinem a utilização compulsória de
arbitragem; VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro
negócio jurídico pelo consumidor; IX - deixem ao fornecedor a opção de
concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; X - permitam
ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira
unilateral; XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato
unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; XII -
obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua
obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a
qualidade do contrato, após sua celebração; XIV - infrinjam ou
possibilitem a violação de normas ambientais; XV - estejam em desacordo
com o sistema de proteção ao consumidor; xVI - possibilitem a renúncia
do direito de indenização por benfeitorias necessárias.
40

de sua responsabilidade em havendo quaisquer vícios

ou defeitos de qualidade.

O consumidor não pode também

abrir mão de seu direito de reembolso das parcelas já

pagas em caso de rescisão, sendo considerada uma

hipótese de abusividade.

Não se pode, também, admitir

também que se transfira a responsabilidade contratual

a terceiros. Essa prática, apesar de comum, é

extremamente abusiva.

Sabe-se que o ônus da prova da

veracidade da informação ou comunicação publicitária

cabe as quem patrocina, logo, esse ônus não pode ser

transferido ao consumidor.

Não se pode, por exemplo, exigir

representante para concluir ou realizar negócio pelo

consumidor, como tem acontecido comumente com os

contratos de leasing.
41

O Código proíbe, também, o

arrependimento unilateral, isto é, a cláusula que deixa

ao fornecedor a obrigação de concluir ou não o

contrato.

O CDC veda que os reajustes nos

preços sejam feitos de maneira unilateral, pois

certamente acarretaria prejuízos aos consumidores.

É negada qualquer cláusula que

autorize o fornecedor a modificações unilaterais dos

contratos, segundo o princípio da inalterabilidade dos

contratos.

Ademais, proíbem-se cláusulas

que estejam em desacordo com o sistema de proteção

ao consumidor.

Isso deixa claro que os incisos que

o Código elencou acerca da abusividade foram

meramente exemplificativos, não taxativos. Como

exemplo comum de cláusulas que não estão previstas


42

diretamente pelo artigo 51, temos a questão da eleição

do foro e da teoria da imprevisão.

Quanto à eleição do foro,

encontramos a abusividade no caso de o fornecedor ou

produtor estabelecer como foro o local onde reside, em

detrimento do consumidor.

Isso vai de encontro ao sistema de

proteção ao consumidor, pois reduz ou impossibilita a

defesa de seus direitos. Por isso, o foro deve ser

sempre o do consumidor.

Já no tocante à teoria da

imprevisão, que vem prevista no Código de Defesa do

Consumidor, em seu artigo 6º, inciso V, dizendo ser um

direito do consumidor a modificação das cláusulas

contratuais que estabeleçam prestações

desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos

supervenientes que as tornem excessivamente

onerosas.
43

Esse fato superveniente deve

também ser imprevisível. Portanto, apoiando nesse

direito do consumidor, é abusiva a cláusula que veda

qualquer alteração contratual, independente de fato

superveniente e imprevisível.

Não se pode dizer que a cláusula

abusiva seja uma conseqüência lógica do Contrato de

Adesão. Pode até vir a ser uma decorrência de seu

caráter econômico, em virtude de criar maior peso,

maior ônus para o contratante mais fraco, frágil, tanto

economicamente quanto técnicamente.

O Contrato de Adesão é propício

ao surgimento dessas cláusulas abusivas, já que o

fornecedor tende sempre a querer assegurar sua

posição, colocando condições que romperão com a boa

fé ou romperão o equilíbrio entre as prestações de cada

parte.
44

Deve, em virtude disso, para

proteger o consumidor, o Contrato de Adesão ser

escrito de forma clara, acessível ao leitor, de modo que

não se crie embaraços à rápida compreensão das

respectivas cláusulas.
45

6.0. Considerações Finais

Conforme analisamos ao longo do

presente estudo, o Direito é profundamente

influenciado pela economia e pela realidade social.

As necessidades de um mundo

globalizado já não mais suportava que, nas relações de

consumo, especialmente, os contratos tivessem suas

cláusulas discutidas previamente.

Como resposta a esse anseio

econômico-social, têm-se os Contratos de Adesão, que

é aquele no qual não há discussão prévia a respeito das

cláusulas, cabendo a uma parte aderir totalmente à

vontade da outra.

As relações de consumo, em

quase sua totalidade, são realizadas por meio de


46

Contratos de Adesão.

O Direito do Consumidor passou,

então, a ser um elemento importante na afirmação da

cidadania, ditando o tom do regime jurídico e legal das

condições gerais dos contratos.

A tutela dos consumidores é feita

pelo Estado, em três planos: administrativo, com a

instituição de órgãos próprios estatais; legislativo, por

meio de leis específicas de proteção; e judicial, com a

fixação de jurisprudência protetiva.

Visa-se ao equilíbrio contratual,

pois essa liberdade contratual deve estar subordinada

ao limite do tratamento isonômico entre as partes.

Os Contratos de Adesão oferecem

inúmeras vantagens às relações contratuais,

especialmente às relações de consumo, dentre as quais

a racionalização contratual, a redução de custos e a

uniformidade.
47

Entretanto, em virtude de ter suas

cláusulas predispostas por apenas uma das partes,

geralmente a mais forte, dá margem à existência de

cláusulas abusivas, isto é, que atentem à boa fé e

coloquem o consumidor em posição mais desfavorável

do que a já possuída.

Neste sentido surge o Código de

Defesa do Consumidor, com o objetivo de proteger

integralmente o consumidor em face do fornecedor,

determinando que se cumpra a igualdade contratual.

Desta forma, no controle das

cláusulas contratuais, prevalecerá sempre a boa fé.

Excedendo tal princípio, será considerada abusiva e

sem eficácia.

Vimos, portanto, que os Contratos

de Adesão refletem uma realidade dos dias atuais,

como forma de simplificar e otimizar relações

contratuais, especialmente as de consumo.


48

Não deve ser lembrado apenas

pelas suas desvantagens, como a possibilidade da

existência de cláusulas abusivas, mas, pelo contrário,

deve-se buscar a cada dia, o aperfeiçoamento desses

contratos, através de leis específicas e por meio do

controle e da intervenção Estatal, no sentido de manter

íntegros os princípios da boa fé e da igualdade

contratual.
49
50

7.0. Referências Bibliográficas

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do Consumidor : Comentado pelos Autores do
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