IN: Conversas com quem gosta de ensinar. Campinas, SP: Papirus, 2000, pp.13-27.
Rubem Alves, professor da Unicamp e psicanalista, escritor de
crônicas e artigos, sendo autor de diversos livros. Fez doutorado em Princeton, Estados Unidos. Convidado a falar sobre a "formação do educador", o autor, faz uma excursão por diversas profissões, mas que agora estão extintas ou em extinção, onde cita os tropeiros, os caixeiros, os boticários, etc... Mas, que foram esmagados pelo advento da industrialização e dos progressos da modernidade. Quanto ao seu tema: "formação do educador", primeiramente, recorre à distinção entre o professor e o educador, sendo o professor ligado mais a questão técnica ou da profissão. Enquanto o educador teria uma ligação com a vocação, pois é definida pelo amor. Nos mostra que podemos confundir professores e educadores, pois dá tudo na mesma. Porém, como sua analogia, entre jequitibá e o eucalipto, ele nos mostra que há uma diferença, qual seja, o habitat de cada um. O jequitibá está ligado ao mistério e o eucalipto a organicidade do mundo moderno. Daí o educador-jequitibá, pois tem uma "estória" a ser contada, através da troca de experiências, ou seja, educador-educando. Já os professores estão engessados aos cargos e limitações do status que, onde deixamos o pessoal para o funcional e toda sua institucionalidade, bem como sua posição de entidade descartável. Rubem Alves nos mostra que, na modernidade o utilitarismo fez com as pessoas se reconheçam pela função produtiva e perca de vista sua identidade. Por isso o professor está conectado ao regenciamento e administração da personalidade, já que o educador se define pela paixão e a interioridade faz a diferença. Porém, existe um problema. O gerenciamento e administração do professor, enquanto ligado ao quantitativo é eficiente, mas como verificar o qualitativo, pois o professor está inserido num mundo incomensurável da dificuldade avaliativa, a Educação. O problema é: Como formar o educador, se não dispomos de critérios infalíveis para pensar a educação? Não se pode pensar o educador que se move no espaço da liberdade, sendo que, a modernidade exige o imediato da funcionalidade. O autor nos mostra que, apesar de aparentemente existir certa distinção entre professor e educador, o que se mostra é a dialética dos contrários, onde não somos isso ou aquilo, mas isso e aquilo. Tanto que a busca pelo educador para do próprio professor, pois esse é que sonha com a liberdade de educar. Na verdade, não se trata que descobrir o educador, mas acordar o que existe no professor, tendo a interioridade como diferença e, a paixão e a criação como expressão do trabalho educacional. Rubem Alves conclui dizendo que não sabe como preparar o educador, pois não é necessário, já que o educador adormece na figura do professor, anestesiado pela institucionalização do mundo moderno. Mas como outras profissões, permanecem na nossa memória. Há necessidade de despertar do "sono burocrático" da funcionalidade e, como o artesão, renascer a cada peça de arte, pois, mesmo que aparentemente, a peça de hoje, seja semelhante à de ontem, ela está impregnada pela individualidade do artesão e do outro que olha a mesma peça, mas a vê de forma diferente. No meu entendimento, assim deve ser o professor-educador, deve criar espaços propícios ao novo, mesmo que aconteça na sala de aula de todo dia. Onde o educador e educando possam, acima de tudo trocar experiências, tendo a estética da vida prevalecendo sobre a utilidade da modernidade.