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Texto 1 - BIBIANA
O verão se foi, entrou o outono e Bibiana – que esperava o primeiro filho para meados da primavera –
começava a ficar deformada pela gravidez. Seu ventre estava crescido, as feições um pouco intumescidas e o
busto mais cheio. Rodrigo contemplava-a numa confusão de sentimentos. A idéia de que ia ter um filho deixava-o
alvoroçado, orgulhoso, e ele contava os dias nos dedos, desejando que o tempo passasse e outubro chegasse
mais depressa. Havia, porém, em sua alegria um elemento de impaciência. Porque Bibiana como que se
desmanchava aos poucos ante seus olhos sempre gulosos. A rigidez de suas carnes dera lugar a uma flacidez
descorada e ela de repente como que se fizera mais adulta, mais mulher. E ele, que já não se podia entregar aos
mesmos excessos amorosos – pois além de ser obrigado a cuidados especiais com a esposa já começava a achá-
la menos atraente – ficava irritado com a situação e agora já pensava em outras mulheres.
Bibiana percebeu isso, mas não disse nada. Vivia em constantes acessos de nervos, chorava às
escondidas de medo de pensar no parto. Quando comunicava esses temores à mãe, D. Arminda, para a consolar,
dizia:
– Não há de ser nada minha filha. A tesoura de tua avó está aí mesmo.
Mas isso, longe de confortar Bibiana, dava-lhe um terror frio, pois achava horrível a idéia de cortarem o
cordão umbilicar da criança com aquela tesoura negra e enferrujada.
(Érico Veríssimo. Um certo Capitão Rodrigo. São Paulo, Globo, 1987)
1. Como já estudamos, é impossível um texto ser inteiramente descritivo. Neste texto ocorre somente a descrição?
Por quê?
Não, porque o texto se desenvolve de forma narrativa, introduzindo personagens numa relação de tempo,
estado e mudanças progressivas, trazendo percepções de anterioridade e posteridade. Mesmo em
algumas partes descritivas, são apresentadas de forma subjetiva, onde o autor usa expressões denotando
sua visão pessoal.
2. De acordo com o texto, como se sentia Bibiana com a chegada do primeiro filho? Descreva-a.
Ela de repente se fizera mais adulta, mais mulher. Porém, percebeu que o marido não a via mais tão
atraente, mas, nada dizia. Vivia em constantes acessos de nervos, chorava às escondidas de medo de
pensar no parto, por vezes comunicava esses temores à mãe, que a deixava mais desconfortável, sentia
um terror frio com a horrível idéia de cortarem o cordão umbilical da criança com uma tesoura negra e
enferrujada.
Produção de texto
Conforme o texto lido, Bibiana e Rodrigo viviam sensações diferentes diante do nascimento de um filho.
Hoje, por várias razões, os pais utilizam outros recursos para realizar esse sonho.
Para que você possa expor a sua opinião sobre tais recursos, leia novamente o texto “Ilusões à venda”
(distribuído e lido na aula de 24/05) e o trecho, abaixo, de uma tese de mestrado, de Mauro Nicolau Junior, da
disciplina de Bioética e Biodireito (Universidade Estácio de Sá – R. Janeiro) que aborda esse mesmo assunto.
Texto 3 –
“Durante muito tempo, assinalava François Jacob (prêmio Nobel de medicina em 1965 por pesquisas e
descobertas relativas às atividades regulatórias das células dividido com André Lwoff e Jacques Monod), tentou-se
ter prazer, sem filho. Com a fecundação in vitro, tiveram-se filhos, sem prazer e agora, consegue-se fazer filhos
sem prazer, nem espermatozóides! Será que teremos paz no mundo? Esse comentário ácido ilustra perfeitamente
como foi recebida pela opinião pública a grande questão familiarista do fim do século XX.
No início do século XXI, vivencia-se o dilema da incerteza, de complexidade, talvez, similar àquela
experimentada no período romano sucedido pelo cristão, quando se entendia que a vontade do homem era o
condutor e único propiciador da existência de filhos para, posteriormente, passar-se tal atribuição unicamente a
Deus. Convive-se, agora, com a possibilidade de ver a criação de pessoas e filhos, dependendo da vontade já não
mais de Deus ou dos pais, mas de terceiros, servindo-se de conhecimentos científicos que, por óbvio, não são
acessíveis à esmagadora maioria da população, carreando sérios e fundados temores quanto ao futuro e à própria
existência da raça humana como conhecemos hoje.” (Trecho extraído do trabalho de pesquisa de Mauro Nicolau
Junior.
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL, CLONAGEM DO SER HUMANO E SEXUALIDADE. OS EFEITOS PRODUZIDOS NA FAMÍLIA,
DO PRESENTE E DO FUTURO. O NECESSÁRIO OLHAR ÉTICO ANTE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS. http://www.justitia.com.br/artigos/14bxwz.pdf, 25/05/2011).
Produção de texto
O que você pensa sobre as propostas da ciência, com a criação de bebês em laboratórios? Lembre-se de colocar
um bom título. Seu texto deverá ter no máximo 25 linhas.