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NEUROTEOLOGIA 1

INSTITUTO ROBERTO DOS SANTOS

Centro de Estudos e Pesquisas Avançadas

Teologia. Filosofia. Educação. Direito.Psicanálise

NEUROTEOLOGIA

Prof. Dr. Roberto dos Santos, PhD

Doutor em Filosofia, Cambridge

Doutor em Estudos Religiosos, Friends University

Doutor Honoris Causa em Letras, Jerusalem University

Mestre em Educação, UEP

Especialista em Docência Superior, Universidade Gama Filho


NEUROTEOLOGIA 2

Teólogo. Psicanalista. Pedagogo


NEUROTEOLOGIA 3

Capítulo 1

NEUROTEOLOGIA

"Neuroteologia", também conhecida como Bioteologia ou


Neurociência Espiritual é o estudo da base neural da
espiritualidade e emoção religiosa. A meta da Neuroteologia
está em descobrir os processos cognitivos que produzem
experiências espirituais ou religiosas e relacioná-las com
padrões de atividade no cérebro, como elas evoluíram nos
humanos, e os benefícios dessas experiências .

"Neuroteologia", também conhecida como Bioteologia ou


Neurociência Espiritualé o estudo da base neural da
espiritualidade e emoção religiosa. A meta da Neuroteologia está
em descobrir os processos cognitivos que produzem experiências
religiosas e relacioná-las com padrões de atividade no cérebro,
como elas evoluíram nos humanos, e os benefícios dessas
experiências para o ser humano.
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Áreas de estudo da Neuroteologia

Existem varias áreas de estudo dentro da neuroteologia.


Algumas delas sao:

Estudo sobre como o cérebro humano pode ter evoluído


para produzir essas experiências (alguns chamam esta área
de Neuroteologia evolutiva)
Estudo do desenvolvimento espiritual na criança e sentido
de Deus,do nascimento ate a infância (alguns chamam esta
área de Neuroteologia desenvolvimental)
Estudo do comportamento espiritual e religioso da raça
humana por toda a história, e de ancestrais de humanos
como o homo erectus, e outras espécies como o
neanderthal (alguns chamam esta área de
Neuroteoantropologia)
Estudo do comportamento religioso de primatas e outros
mamíferos (alguns chamam esta área de
Zooneuroteologia)

História e Metodologia de estudo

Ciêncistas há muito tempo têm especulado que sentimentos


religiosos poderiam estar ligados a lugares específicos no
cérebro. Um dos mais antigos escritos sobre o assunto datam de
1892 nos quais alguns textos sobre doenças cerebrais falavam de
uma ligação entre "emoção religiosa" e epilepsia.

O MRIscanner e um instrumento
que ajuda a estudar o cerebro em
funcionamento. E um instrumento de
grande ajuda a Neuroteologia.

Em estudos na década de 1950 e


de 1960, foram tentados o uso de EEGs
para estudar o comportamento das ondas cerebrais relacionado
com estados espirituais. Em 1975, o neurologista Norma
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Geschwidn descreveu pacientes epilépticos com intensa


experiência religiosa.

Durante a década de 1980s o Dr. Michael Persinger estimulou o


lobo temporal de pacientes humanos com um campo magnético
fraco usando um equipamento que ele chamava de capacete de
Deus (God helmet). Os pacientes relataram ter a sensação de
"uma presença celestial no quarto". Esse trabalho ganhou
atenção na época, mas não foi explicado o mecanismo que
causava esses efeitos. Em 1987, Michael Persinger publicou um
livro sobre o assunto intitulado "Neuropsychological Bases of
God Beliefs".

Numa tentativa de focalizar o crescente interesse no campo, em


1994, o professor Laurence O. McKinney publicou o primeiro
livro com o termo neuroteologia no título: "Neurotheology:
Virtual Religion in the 21st Century" (Neuroteologia: Religião
Virtual no Século XXI), escrito para uma audi ência leiga. O livro
ganhou grande interesse de pessoas como o Dalai Lama e o
eminente teólogo Harvey Cox.

Um livro de 1998 sobre o assunto ganhou muita atenção foi "Zen


and the Brain", escrito pelo Neurologista e Praticante de Zen,
James H. Austin.

No final da década de 90, os neurocientistas Andrew Newberg e


Eugene d’Aquili usaram varias tecnicas de neuroimagem em
budistas experientes em profunda meditação, e nos anos
subseqüentes fizeram testes em freiras enquanto estavam
rezando. Andrew Newberg e Eugene d’Aquili escreveram vários
livros sobre o assunto:

em 1999, "A mente mística : entendo a biologia da


experiência religiosa"
em 2002, "Porque Deus não quer ir embora: Ciência do
cérebro e a biologia da crença".
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em 2006, "Porque acreditamos no que acreditamos:


Descobrindo sobre nossa necessidade biológica por
significado, espiritualidade e verdade "
em outubro de 2007, "Nascidos para acreditar: Deus,
Ciência, e a origem da crença ordinária e extraordinária".

Alguns recentes estudos com o uso de neuroimagem para


localizar as regiões no cérebro ativas durante experiências que os
pacientes associam como espiritual. David Wulf, um psicólogo da
Wheaton Universidade de Massachusetts, disse que o "estudo de
imagens do cérebro com os novos e poderosos aparelhos de
neuroimagem como o MRIscanner (imagem), junto com a
consistência do histórico de experiências espirituais por várias
culturas, pela história e por religiões, sugerem um ponto em
comum , e que isso reflete a estrutura e processos no cérebro
humano. Ecoando antigas teorias de que sentimentos associados
com experiências místicas ou religiosas são aspectos normais do
funcionamento do cérebro sob circunstâncias extremas, e não
comunicação direta com Deus ou outras entidades."

Alguns cientistas dizem que a neuroteologia pode reconciliar


religião e ciência, mas, se não conseguir, a neuroteologia pode
desevolver métodos seguros e precisos de indução a
experiências espirituais para pessoas que nao conseguem tê-las
facilmente. Por causa dos efeitos positivos que essas
experiências causam em pessoas que já a tiveram, alguns
cientistas especulam que a habilidade de induzí-las
artificialmente pode tranformar a vida de algumas pessoas,
tornando-as mais felizes, saudáveis e com melhor concentração.

"Gene Divino"

A hipótese do gene divino propõe que alguns seres humanos


carregam um gene que lhes dão a predisposição para episódios
interpretados por algumas pessoas como revelação religiosa. A
idéia foi postulada e promovida pelo geneticista Dr. Dean Hamer,
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diretor da Unidade Estrutura do gene e regulação , no Instituto


nacional do câncer nos Estados Unidos . Hamer escreveu um
livro sobre o assunto intitulado, O gene divino : Como a fé e pré-
programada dentro dos nossos genes . (The God Gene: How Faith
is Hardwired into our Genes)

De acordo com a hipótese, o gene divino (VMAT2), não é


“codificado” para a crença em Deus, mas é arranjado
fisiologicamente para produzir sensações associadas, por alguns,
com a presença de Deus ou outras experiências místicas, ou mais
especificamente espiritualidade como um estado da mente.

Que vantagens evolutivas isso pode levar, e de que esses efeitos


vantajosos são efeitos colaterais , são questões que ainda estão
para serem totalmente exploradas. Dr. Hames teorizou que a
transcendência faz as pessoas ficarem mais otimistas, o que leva
elas a ficarem mais saudáveis e com mais probabilidade de
terem muitos filhos.

Principais dúvidas dentro da Neuroteologia

A oração pode levar a pessoa a ter


emoções religiosas, como a sensação
de estar em contato com Deus.

Evolução - Porque e como as


experiências espirituais surgiram?
Idade – Pode-se relacionar o desenvolvimento da crença
“religiosa” (crença no sobrenatural e/ou pós-morte ou
crença em Deus) com o desenvolvimento do cérebro na
criança? Existe alguma relação neurológica com o fato de
que a maioria dos líderes religiosos tiveram suas epifanias
nos seus 30 anos?
Doenças Mentais – Pode se mapear a relação entre
comportamento religioso em pessoas com doenças
mentais como esquizofrenia, com o comportamento
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religioso normal nos fatores neurológicos de determinada


doença mental?
Alucinógenos e Enteógenos – Pode-se relacionar o
comportamento religioso que surge sob a influência de
alucinógenos com o conhecimento do efeito neuroquímico
dessas substâncias?
Sexo – Como homens e mulheres diferenciam-se em crença
e comportamento religioso, e se podemos estabelecer uma
relação entre os dois e como o cérebro se diferencia em
estrutura?
Sonhos - Qual é a relação entre experiências de Deus ou
sobrenatural enquanto a pessoa esta dormindo e enquanto
a pessoa esta acordada e a diferença nos preocessos
neurológicos nos dois estados?
Hipnose – A crença religiosa é uma forma, ou compartilha
mecanismos com a hipnose?
Musica - Cerimônias religiosas quase sempre envolvem
música, e música pode gerar sentimentos religiosos,
provando que a neurologia da música pode dar insight na
neuroteologia.
Genética – Em adição aos aspectos Histórico-Cultural, e às
idéias transmitidas, que são base para a religião, podem
haver fatores genéticos específicos também, como aqueles
que podem predispor certas pessoas para o
comportamento e crença religiosa?
Espécies – Pode-se relacionar a diferença entre o
comportamento religioso dos primatas avançados e de
humanos primitivos com os dos humanos modernos, com o
nosso conhecimento de como nosso cérebro evoluiu em
cima dos deles? (neurozoologia)

Definindo e medindo a espiritualidade

Neuroteologia tenta explicar a atual base neurológica para


aquelas experiências, que são popularmente chamadas de
"espirituais" religiosas, ou místicas ou outros termos para formas
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anormais de cognição, que quase sempre envolvem um ou mais


dos seguintes itens:

União com o universo


A sensação de que o tempo, medo ou consciência do "eu"
se dissolveram
Encontro com Deus ou alguma entidade "superior"
Êxtase
Iluminação
Estados alterados de consciência

Essas experiências são vistas como base de diferentes formas de


religião e crenças e comportamentos.

Eventos que podem causar experiências espirituais

Meditação
Oração
Rituais religiosos
Experiências de quase morte
Exercícios de respiração
Música
Dança
Jejum prolongado
Consumo de substâncias psicoativas (Como DMT, Salvia
divinorum, Peiote e várias outras).

Partes do cérebro relacionadas a experiências espirituais

Lobo frontal em azul; Lobo parietal em


amarelo; Varias partes do cérebro estão
relacionada com experiências místicas.
São elas: *Lobo occipital em vermelho;
Lobo temporal em verde.
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Lobo parietal : diminuição de neuro-sinapses levando a


sensação de união como o universo.
Lobo frontal : Concentração ampliada (meditação) bloqueia
outros impulsos neurais.
Lobo temporal : Ativa intensa emoção , como prazer e
medo
Lobo occipital : Processa imagens que facilitam praticas
espirituais (velas,cruzes, etc.)

Livros sobre Neuroteologia

NeuroTheology: Brain, Science, Spirituality, Religious


Experience]
Why God Won't Go Away: Brain Science and the Biology of
Belief
Why We Believe What We Believe: Uncovering Our
Biological Need for Meaning, Spirituality, and Truth
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Capítulo 2

NEUROBIOLOGIA DA RELIGIÃO OU NEUROTEOLOGIA

Uma nova área do conhecimento científico está a dar os


primeiros passos em Portugal e no mundo. Provavelmente
chamar-se-á: «Neurobiologia da Religião» ou «Neuroteologia».
O título Fátima e a Ciência - investigação multidisciplinar das
experiências religiosas, integra-se na coleção Ciência e
Consciência e a coordenação científica está a cargo do Centro
Transdisciplinar de Estudos da Consciência (CTEC), com sede na
Universidade Fernando Pessoa, no Porto.
Fátima e a Ciência... é um estudo que se pretende «inovador,
enriquecedor e não-dogmático», sendo que o objetivo central, é
«identificar as zonas do cérebro que possam estimular,
deliberadamente, as sensações transcendentes». Para os
investigadores, «as primeiras sugestões assinalam que as
experiências religiosas dependem de 'cada cultura' e que o
cérebro criou a necessidade de experimentar o 'mais além' como
parte do processo evolutivo humano».
A obra dedica-se com especial acuidade aos fenômenos e
experiências pararreligiosas, nomeadamente às «aparições
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marianas», debruçando-se sobre os eventos da Cova da Iria, em


1917, e sobre outras manifestações semelhantes como aquelas
registradas em Medjugorge, na ex-Jugoslávia.
O propósito do volume é contrariar a falta de interpelação
científica a estas matérias, tradicionalmente «delimitadas ao foro
confessional e à crença, no pressuposto de que seriam exclusivas
e indignas de observação e reflexão racionais». Estas análises
têm colidido com a interpretação católica oficial dos episódios de
Fátima.

É importante que estes fenômenos sejam estudados e que


seja encontradas explicações científicas para situações em que
o homem, só pela via espiritual ou religiosa - no meu entender,
não consegue ir além das suas subjetivas respostas.
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Capítulo 3
NEUROLOGIA E ESPIRITISMO

Também conhecida como


Bioteologia ou Neurociência
Espiritual é o estudo da base
neural da espiritualidade e
emoção religiosa. A meta da
Neuroteologia está em descobrir
os processos cognitivos que
produzem experiências
espirituais ou religiosas e
relacioná-las com padrões de
atividade no cérebro, como elas evoluíram nos humanos, e os
benefícios dessas experiências.
No início do séc. XX a psiquiatria e a psicologia viam os
estudos com as experiências religiosas com indiferença e
remeteram as experiências místicas para o quarto escuro do
inconsciente, isto é, experiência mística seria o mesmo que
desvio mental ou doença mental. Hoje, com as descobertas da
neuroteologia, a religião e a fé deixam o quarto escuro do
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inconsciente preconceituoso de outrora para fazer parte das


experiências neurológicas e psicológicas, que apontam para uma
interação entre espiritualidade e o cérebro, daí podermos
considerar a neuroteologia como uma aproximação da biologia
com a fé.
Na década de 90 foi feita uma pesquisa pelo Instituto
Gallup, que apurou o seguinte: 53% dos americanos adultos
admitiram terem vivenciado um momento súbito de despertar
espiritual. No Brasil, o Instituto Vox Populi apurou em uma
pesquisa que 99% da população compartilham a crença em Deus.
Pelos resultados podemos concluir que as experiências
transcendentais não se limitam apenas aos círculos religiosos.
As pesquisas neuroteológicas foram iniciadas nos anos 70
pelo psiquiatra e antropólogo Eugene d’Aquili (já desencarnado).
No início da década de 90 d’Aquili se juntou ao radiologista
Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, que aos 35
anos tornou-se uma das principais figuras da emergente ciência
da neuroteologia, que explora as ligações entre espiritualidade e
o cérebro.
O radiologista Andrew Newberg submeteu a exames
tomográficos o cérebro de budistas tibetanos mergulhados em
profunda meditação e um grupo de freiras franciscanas, que
rezavam fervorosamente durante 45 minutos.
O resultado da pesquisa mostrou que as imagens do lobo
parietal superior acusavam uma queda na atividade dessa região,
que chegava a ficar bloqueada no momento mais intenso, isto é,
no momento que o meditador experimenta a sensação de
iluminação religiosa. O mais interessante é que essa área do
cérebro proporciona ao homem o senso de orientação no espaço
e no tempo. Isso levou os pesquisadores a concluírem que,
privados de impulsos elétricos, os neurônios do lobo parietal
desligariam os mecanismos das funções visuais e motoras do
organismo. Isso levou Newberg a dizer: “O sentimento de
unicidade parece paralisar os receptores sensórios da região
parietal”. Exatamente por isso, o cérebro não consegue traçar
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fronteiras e por isso percebe o “eu” como um ente expandido,


ilimitado e unido a todas as coisas. As imagens dos lobos
temporais, na região do “cérebro emocional”, também
conhecida como sistema límbico, indicam uma atividade intensa
dessas áreas durante as experiências contemplativas.
Para ratificar essas experiências Michael Persinger, da
Universidade Laurentian, em Sudbury, no Canadá, inventou uma
engenhoca (um capacete) que, através de estímulos elétricos na
base do sistema límbico, pode provocar alucinações ou a
sensação de estar fora do corpo e o senso do divino.
Os resultados dos testes foram apresentados no livro “Why
God Won’t Go Away: Brain Science and the Biology of Belief”
(Por que Deus não vai embora: a ciência do cérebro e a biologia
da fé”), ainda sem tradução no Brasil.
Allan Kardec esclarece que “a Ciência e a Religião são duas
alavancas da inteligência humana” porque “uma revela as leis do
mundo material e a outra as do mundo moral.” Daí conclui que:
“Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio que é Deus,
não podem contradizer-se. Se fossem a negação uma da outra,
uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade,
porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria
obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas
ordens de idéias provém apenas de uma observação defeituosa e
de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um
conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância.”
Entre as causas de conflito está o reducionismo (“tendência
que consiste em reduzir os fenômenos complexos a seus
componentes mais simples e a considerar estes últimos como
mais importantes que o fenômenos observados”) que é um dos
principais argumentos do materialismo; ora, o Espiritismo é o
antípoda do materialismo.
O Livro dos Espíritos na questão 367 aborda o tema
materialismo e mostra o erro do reducionismo científico:
“Unindo-se ao corpo, o Espírito se identifica com a matéria?
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- A matéria é apenas o envoltório do Espírito, como o


vestuário o é do corpo. Unindo-se a este, o Espírito conserva os
atributos da natureza espiritual.”
O atributo essencial do ser humano é sem dúvida a
inteligência, mas a causa da inteligência não reside no cérebro
humano, mas sim no ser espiritual que sobrevive ao corpo fí sico.
A neuroteologia na verdade levantou apenas uma ponta do
véu, pois a matéria é como um “vidro muito opaco” que embaça
a visão dos cientistas reducionistas. Kardec, comentando a
questão 368, esclarece que: “Pode-se comparar a ação que a
matéria grosseira exerce sobre o Espírito a de um charco lodoso
sobre um corpo nele mergulhado, ao qual tira a liberdade dos
movimentos.”
Na questão 369 Kardec pergunta: “O livre exercício das
faculdades da alma está subordinado ao desenvolvimento dos
órgãos?” E os Espíritos respondem com sabedoria: “Os órgãos
são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma,
manifestação que se acha subordinação ao desenvolvimento e
ao grau de perfeição dos órgãos, como a excelência de um
trabalho o está à da ferramenta própria à sua execução.”
Bem sabemos que a ciência sempre tentou encerrar o
Espírito no cérebro, como se ele fosse um prisioneiro, para
dissecá-lo e provar que o cérebro é a causa de tudo, mas o
Espírito sempre escapa do reducionismo cientificista ileso.
Kardec, conhecedor das idéias de Franz Josef Gall (1758-
1828), médico alemão e anatomista renomado e também
fundador da frenologia (“que liga cada função mental a uma
zona do cérebro”), pergunta aos Espíritos: “Da influência dos
órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o
desenvolvimento dos do cérebro e o das faculdades morais e
intelectuais?” A resposta não deixa margens para dúvidas: “Não
confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das
faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão
as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento
dos órgãos.”
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Não devemos confundir “alhos com bugalhos!” O Espírito é


a causa e o cérebro a conseqüência.
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BIBLIOGRAFIA:

1. Revista Superinteressante, edição 168, setembro de 2001,


págs 98 e 99)
2. Revista Superinteressante, edição 179, agosto de 2002, págs.
58, 59, 60 e 62
3. O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, 110ª edição,
tradução de Guillon Ribeiro, 3/1995, FEB, cap. I, págs. 57 e 58,
Aliança da Ciência e da Religião.
4. Grande Enciclopédia Larousse Cultural, Nova Cultural, 1998,
volume 20, pág. 4952.
5. O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 30ª edição, tradução de
Guillon Ribeiro, 1967, FEB, questões 367, 368, 369 e 370.
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Capítulo 4

O ENDEREÇO DE DEUS NO CÉREBRO HUMANO

Resenha critica sobre o livro A RELIGIÃO DO CÉREBRO: As


novas descobertas da neurociência a respeito da fé humana.
Prof. Raul Marino Jr. (169 p) Editora Gente, agosto 2005.
professor da Faculdade de Medicina da USP
O Neurocirurgião, Psiquiatra, livre-docente em Neurologia,
médico laureado pela Academia Brasileira de Neurologia, com
um livro editado em 1975. Fisiologia das Emoções pela editora
Sarvier, que serviu de base para esse novo trabalho. Conta com
mais de 200 artigos científicos publicados e mais de 400
participações em Congressos e eventos científicos, com trabalhos
realizados no MIT – Massachusetts Institute of Technology,
especializado na Harvard Medical School, em Boston, e na McGill
University, em Montreal. Fundador da Divisão de Neurocirurgia
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funcional e do centro de estudos de Psicofisiologia Humana do


Hospital das Clinicas de São Paulo, onde atua como professor e
orientador de teses de mestrado e doutorado em Neurologia e
Neurocirurgia. Atua também como Teólogo desenvolvendo
pesquisas no campo da Neuroteologia, como esta obra que
acaba de lançar.
A obra tem como tema central as pesquisas do autor,
realizadas durante a sua vida profissional, na busca do
entendimento racional do que acontece no cérebro durante as
orações e na contemplação do transcendente Espiritual, de
modo que possa explicar a interação do humano com Deus.
Acredita e demonstra pela neuroanatomia e pela neurofisiologia
que existem áreas cerebrais que promovem essa comunicação
relacional com o Altíssimo.
O trabalho do professor Marino Jr estabelece uma ponte
entre a razão e a fé na arena mais complexa da natureza e da
criação de Deus, o cérebro humano. Local central de onde
emana todo o controle físico, emocional, sensitivo,
contemplativo e, sem dúvida, o espiritual. Com isso, restabelece
o elo entre consciência e corpo, perdido com Descarte, trazendo
de volta luz sobre a integralidade entre mente, matéria e
Espírito.
A Obra inicia-se com uma reflexão profunda de que a
ciência não pode provar a não existência de Deus. Ë nesse ponto
que as neurociências deveriam se embasar da Neuroteologia e
acatar a fé, que, como resposta afirmativa à revelação, é
também um instrumento de conhecimento da verdade, superior
a nossa limitada razão ou raciocínio. Ela é uma sabedoria
revelada pelo Espírito, e não pela razão, mas, que age na
matéria, nos sentidos e nas emoções, fluindo no natural, no
fisiológico, no endócrino, no corpóreo, e no físico-sensorial.
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Destaca que todo ser humano possui três tipos básicos de


conhecimento: o olho da carne, o olho da mente e o olho da
contemplação. A visão da carne aprofunda-se no empirismo da
ciência a visão da mente atua no conhecimento racional e lógico,
enquanto a visão da contemplação relaciona-se com a gnose ou
conhecimento espiritual. Com isso, demonstra também que
possuímos três cérebros em um conjunto cerebral o retilíneo que
se envolve com a preservação e por ser primitivo tem a
conotação do réptil (serpente), atuando com agressividade o
segundo cérebro trata do comportamento animal e das
perturbações psicossomáticas, além dos instintos de
sobrevivência: alimentação, defesa e procriação finalmente a
última aquisição dos mamíferos superiores é o terceiro cérebro,
que MacLean denominou de neocórtex .
O autor apresenta toda a arquitetura físico-funcional do
cérebro, dissecando-o com precisão neurocirúrgica,
demonstrando a estrutura e o funcionamento de cada área,
mapeando os milhões de neurônios e encanta aos leitores com
sua narrativa desse relacional com o contemplativo-espiritual,
fornecendo dados de anatomofisiologia e dos mecanismos
neurais da emoção, bem como, a ação das substancias e dos
hormônios naturais produzidos pelo cérebro quanto em
meditação e oração contemplativa, ou seja, quando em contato
direto com Deus mediante a oração, a contemplação e o louvor,
demonstrando ser esta a forma racional de Deus agir na
fisiologia e na funcionalidade das emoções físicas, provinda do
espiritual (direto do Trono do Pai).
Na questão relacional do córtex pré-frontal, giro cíngulo e
dos temporais, em especial do temporal direito, o autor
demonstra toda a geometria cerebral usada na meditação, no
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louvor e na oração que nos levam daqui de dentro para o


contato com o lá fora (relacional Superior) com Deus, dando-nos
o caminho dessa suprema interação, com êxtase emocional que
se reflete na fisiologia do cérebro e que pode desencadear todo
o processo de comunicação neural e neuronal, atingindo todo o
corpo, manifestando-se fisicamente. Seria esse o caminho do
Espírito Santo em nós?
Depois de apresentar toda a anatomia e fisiologia do
cérebro, demonstrando os efeitos dos medicamentos e das
drogas nesse órgão, demonstra também que reações
semelhantes de contemplação e de revelação provocam esse
tipo de fisiologia, sem danos, mas, ao contrario, dando-nos
naturalmente a sensação de segurança, felicidade e alegria. O
autor nos leva a entender que essas áreas são operadas pelo
Espiritual, sem nenhuma droga exógena, mas apenas com o
desencadear fisiológico realizado por esse relacional.
O livro esta bem estruturado em 14 capítulos e um
glossário dos termos médicos utilizados, além de um excelente
referencial teórico como bibliografia da obra. Capa muito bonita
e atraente.
A obra traz também a questão da nova visão da Teologia
que adota a ciência como principio instituído por Deus e que
Ciência e Religião não deveriam ser incongruentes e antagônicas,
mas intrínsecas entre si, com leis naturais criadas por Deus, por
método peculiar, onde nem o criacionismo e nem o
evolucionismo são incongruentes ou incompatíveis entre si, mas
complementares e explicativos, nessa complexidade criada pelo
Pai.
Destaca a nova forma de pesquisas neste campo da
medicina, através da Neuroteologia, levando-nos a traçar
paralelos para outras áreas do saber cientifico, que poderão
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abraçar esse elo, entre razão e fé e entre a ciência e a teologia,


tais como: cosmoteologia, física-quantica e teologia,
sociobiologia e teologia, bioquímica-molecular e teologia, e
especialmente computação relacional e teologia. Sem dúvida o
autor abriu a porta da academia para debates sérios em relação
ao elo entre ciência e religião.
Recomenda-se a obra pelo seu instigante conteúdo e por
levar o leitor a uma profunda reflexão sobre essa comunicação
com Deus. Somos imagem e semelhança de Deus, portanto,
infere-se que essa vibração espiritual se faz por meio de um
relacional, cujo canal se estabelece tal qual no sistema
computacional, da mente de Deus para o nosso Cérebro. O seja,
se estivermos ligados, plugados no Pai, então o contato se faz e
as sensações são neurotransmitidas, revelando a presença do
Espírito Santo de Deus. Tal qual Cristo nos revelou: “Somos
templo do Espírito Santo de Deus”. O autor nos leva à essa fé
racional e quebra um grande paradigma, dando um salto, no
propósito de ligar o saber humano à Sabedoria de Deus.
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Capítulo 5

NEUROTEOLOGIA E PSICANÁLISE-OS NERVOS DE DEUS NÃO


SÃO NEURÔNIOS

ANTES DO PAI: BIOLOGIA COMO FIGURA DO MATERIALISMO


A reportagem de capa da revista "Forbes" [1] celebra o
encontro das neurociências com o marketing produzindo uma
nova disciplina, a neuromarketing. Existe também a
neurofilosofia, que advogando a tese de naturalizar conceitos
como desejo, intencionalidade, consciência, foi transformada por
Churchland de um neologismo curioso em uma disciplina
reconhecida. Há também a neuroética, a neuropsicanálise, a
neurobica, etc.
A significação do prefixo neuro implica numa referência às
neurodisciplinas e, como sugere Luc Ferry [2], denota a biologia
como uma nova figura do materialismo. Fazendo-se porta-voz do
NEUROTEOLOGIA 26

privilégio atribuído às neurociências na atualidade, Francis


Fukuyama [3] comentando as conseqüências da revolução da
biotecnologia, prevê um controle social que no futuro será
regulado pelo controle do comportamento. Este controle social
teria se tornado possível pela passagem da
neuropsicofarmacologia, antes restrita unicamente à
modificação de sintomas intensos, para uma atuação sutil no
estado anímico, no que foi chamado por Peter Kramer [4] de
farmacologia cosmética.
Haveria uma neurobiologia específica dos Homens bomba,
dos serial killers, seria exata a hipótese a existência de uma
‘Síndrome amidaliana’ hipótese de uma malformação dessa
estrutura cerebral para explicar condutas extremas? Existiria a
molécula do fanatismo?
O que caracteriza as neurociências atuais são os avanços
tecnológicos na área das neuroimagens que permitiram uma
investigação dos neurotransmissores produzindo uma revivência
do localizacionismo. Depois da radiografia e da tomografia, a
ressonância magnética (MRI) é o mais novo instrumento de
investigação do cérebro. Mais recente é, a ressonância
magnética funcional que, fornecendo informações sobre
mudanças no volume, e oxigenação do sangue, produzem
imagens de como regiões específicas do cérebro funcionam.
Porém, o mais notável avanço na investigação do cérebro é a
tomografia por emissão de pósitrons, ou PET que difere da
ressonância magnética, por mostrar não apenas a estrutura e o
funcionamento do cérebro, mas também como este usa a
energia bioquímica.
A partir de imagens obtidas por PET, pesquisadores
procuraram entender o relacionamento entre espiritualidade e
cérebro, lançando as bases de uma biologia da fé.
Segundo um novo ramo da neurociência, chamado
neuroteologia, há uma ligação entre o cérebro humano e a
experiência religiosa. A neuroteologia, ou o estudo da
neurobiologia da religião e da espiritualidade, foi destaque
NEUROTEOLOGIA 27

graças a um artigo da revista "Newsweek" e ao livro "Why God


won't go away: brain science and the biology of belief" ("Por que
Deus não vai embora: a ciência do cérebro e a biologia da fé").
Andrew Newberg e Eugene Aquili descobriram em
pesquisas feitas com um grupo de monges budistas tibetanos e
numa comunidade de religiosas franciscanas que algumas partes
do cérebro são estimuladas e outras ficam inativas pelas
atividades religiosas como a meditação e a oração.
Segundo os autores “a sensação que os budistas chamam”
"unidade com o Universo" e que os franciscanos atribuem à
presença palpável de Deus, é uma cadeia de eventos
neurológicos que podem ser observados objetivamente,
registrados. As tomografias revelaram que, nos momentos de
pique das preces e da meditação, o fluxo sanguíneo sofria uma
redução drástica e uma intensa atividade elétrica nos lobos
temporais acompanhava o êxtase místico, o que leva a
considerar uma conexão entre o fenômeno religioso e o ataque
de epilético, quando idêntica atividade dos lobos é registrada.

O PAI E O HOMEM DESNATURALIZADO


Para a psicanálise não há nenhum Deus, nenhuma natureza
bondosa, existe a dor dos desamparados e a neurose religiosa
dos que acreditam estar protegidos por Deus.
Os seres humanos moldam Deus à imagem do “pai”. Deus é
“um pai enaltecido”; “uma transfiguração do pai”; “um retrato
do pai”; uma sublimação do pai, “um suplente do pai”, “um
substituto do pai”, "uma cópia do pai", Deus ”é realmente o pai”.
Os deuses são encarregados de uma tarefa tripla: exorcizar
os terrores da natureza, reconciliar os seres humanos com a
crueldade do destino e compensá-los por seus sofrimentos.
O monoteísmo renovou o relacionamento com o pai. “Agora que
Deus é uma única pessoa, as relações humanas com ele podiam
recobrar a intimidade e a intensidade da relação da criança com
seu pai”.
NEUROTEOLOGIA 28

ALÉM DO PAI: O DEUS DE SCHREBER E A MULHER


Lacan assimila Deus ao Outro, lugar da verdade. Para Lacan,
Deus não seria nem uma sublimação nem uma idealização do
pai. As religiões seriam tentativas de domesticar Deus, de
modelar o real com o simbólico das palavras e o imaginário dos
corpos. Em lugar de ser uma sublimação ou uma idealização do
pai, como supunha Freud, para Lacan as religiões seriam
rebaixamentos dos deuses à indignidade do pai.
Lacan delimita um ponto que falta na reflexão filosófica
moderna: Deus é existir e não ser. Os filósofos árabes concebem
o ser criado como uma essência que não contém em si a razão
de sua própria existência. A existência se distingue da essência.
Para Deus, existência e essência faz sempre um.
Na leitura de Lacan, a existência reduz a importância da
essência: “Sou o que sou”. O ser é uma essência a qual só sua
causa confere a existência.”O tetragrámaton impronunciável”
Yahve significa a existência necessária. O nome de Deus é mais
um eu sou, que um ser ou uma essência.
Zizek no texto "O real da ilusão cristã: notas sobre Lacan e a
religião" [5] aponta dois aspectos do Real lacaniano: a Coisa
primordial e a letra/fórmula sem sentido, como no Real da
ciência moderna. A esses dois Zizek acrescenta um terceiro Real,
o “Real da ilusão”, o real de um puro semblante.
Para Zizek há três modalidades do Real, pois a tríade IRS
reflete-se no interior da ordem do Real, de tal modo que temos o
“Real” (a Coisa aterradora, o objeto primordial), o “Real
simbólico” (o significante reduzido a uma fórmula insensata,
como as fórmulas da física quântica), e o “Real imaginário” (o
insondável que introduz uma divisão em um objeto ordinário).
Como Lacan diz que os Deuses são da ordem do Real, a
Trindade Cristã poderia ser lida como Trindade do Real: Deus, o
Pai, é o “Real real” da violenta Coisa primordial; Deus, o Filho, é
o “Real imaginário”; o Espírito Santo é o “Real simbólico” da
comunidade dos crentes.
NEUROTEOLOGIA 29

Freud no estudo de Schreber, mostra a satisfação que o


leva a contemplar, vestido de mulher, sua imagem no espelho,
que no seu delírio, o leva a copular com Deus fazendo-o digno da
fecundação divina.
A este gozo sem limite Lacan chamou de “empuxo-à-
Mulher”, explicado como um gozo ligado à falta da função fálica,
pois este Deus que goza dele, é o gozo do Outro, um gozo não
fálico ligado à falta da castração.
Escreve Lacan: “Sem dúvida a adivinhação do inconsciente
adverte o sujeito, desde muito cedo, de que, na impossibilidade
de ser o falo que falta à mãe, resta-lhe a solução de ser a mulher
que falta aos homens” ou ser a Mulher de Deus.
A inclinação para a feminização, o “empuxo-à-Mulher”, é
uma obrigação na sexuação do psicótico. No livro “Memórias...”
com sua transformação em mulher e sua posição diante de Deus,
Schreber dá um exemplo da feminização no psicótico: “Só a
título de uma possibilidade que haja que ter em conta lhe digo:
minha emasculação, de qualquer maneira, ainda poderia
produzir-se, ao efeito do que uma nova geração saia de meu seio
por jogo de uma fecundação divina”.
Ainda nas “Memórias...” Schreber afirmou: “Por duas vezes
já tive órgãos genitais femininos, ainda imperfeitamente
desenvolvidos, e experimentei no corpo movimentos de saltos,
parecidos às primeiras agitações de um embrião humano. Nervos
de Deus, correspondentes a um sêmen masculino, haviam sido
projetados em direção a meu corpo por um milagre divino, e
desse modo se havia produzido uma fecundação”.
Schreber se coloca como objeto do gozo do Outro, pois
"empuxo-à-Mulher" exige a confrontação com as exigências de
um Deus tirânico, o que justifica outros sintomas c omo a
tentação suicida, a cadaverização do corpo, o prejuízo do
sentimento íntimo da vida, a perda da identidade viril, as
tentativas de automutilação, e a demanda de operação cirúrgica.
NEUROTEOLOGIA 30

Schreber o exemplifica com sua transformação em mulher


e sua posição diante de Deus: “como seria bom ser uma mulher
copulando e ser a mulher de Deus”.
A identificação ao desejo da mãe está no fundamento da
psicose: por não poder ser o falo que falta à mãe, resta -lhe a
solução de ser a mulher que falta aos homens.
Freud e Lacan mostram a satisfação que leva Schreber a
contemplar, vestido de mulher, sua imagem no espelho. É a
dimensão do gozo ligado à cópula divina que o conduz a tornar-
se digno da fecundação divina. Nesta figura de Deus que goza
dele, evoca-se o gozo do Outro, um gozo não fálico ligado a uma
falta da castração.
É este efeito diante do chamado do gozo sem limite, que
Lacan chamou de empuxo-à-Mulher, gozo ligado à falta da
função fálica. Escreve Lacan: “Sem dúvida a adivinhação do
inconsciente adverte o sujeito, desde muito cedo, de que, na
impossibilidade de ser o falo que falta à mãe, resta-lhe a solução
de ser a mulher que falta aos homens” ou, ser a "Mulher de
Deus".
A foraclusão do Nome-do-Pai tem como efeito fazer existir
A Mulher. “Deus é a mulher tornada toda”. “Dito que faz da
mulher não-toda o Deus da castração” [6]. “O que, porém, não
faz de Deus um Todo não há Outro que responda como parceiro
- sendo a necessidade da espécie humana que haja Outro do
Outro. É aquele a que se chama geralmente Deus, mas que a
análise revela que é simplesmente a mulher encarnação de um
gozo infinito, uma Mulher completa, não marcada pela
castração” [7].
NEUROTEOLOGIA 31

BIBLIOGRAFIA

[1] Set de 2003, pag. 62


[2] Ferry, L., A sabedoria dos modernos
[3] Fukuyama, Francis. Nosso Futuro Pós-Humano
[4] Kramer,P., Ouvindo Prozac
[5] Zizek S.,O real da ilusão cristã: notas sobre Lacan e a
religião, in Um limite tenso: Lacan entre a filosofia e a
psicanálise,Wladimir Safatle (Org), Editora Unesp, 2003.
[6] RSI in Ornicar? Num 5 pg. 25
[7] RSI in Ornicar num 9 pg. 39
NEUROTEOLOGIA 32
NEUROTEOLOGIA 33

Capitulo 6
ALGUNS TEMAS SOBRE A NEUROTEOLOGIA

A discussão da relação entre ciência e fé nunca pára de nos


surpreender de novo e estar na moda. Certamente, muitos dos
nossos leitores vão ficar espantados com o título do artigo.
Neuro ... Por quê? Sim, como parece, neuroteologia.
Dois estudiosos da Universidade da Pensilvânia, Aquiles
Andrew Newberg e Eugene tornaram pública a sua investigação
sobre o impacto da meditação no cérebro humano. Achilles,
professor de psiquiatria e, simultaneamente, um antropólogo da
religião, morreu em agosto de 1998. Newberg é um membro do
programa de medicina nuclear do hospital da universidade:.
Ambos têm trabalhado juntos desde 1993 e divulgou os
resultados de sua pesquisa no livro "A Mística Mind Sondagem
de Biologia da Experiência Religiosa ( Fortaleza, 1999) e Por que
Deus não vai embora: Brain Science & the Biologia da Self
(Ballantine, 2001), este último assunto a mais ampla revisão.
Para sua pesquisa, Aquiles e Andrew usaram criatividade, a
Specter, que permite obter imagens da atividade cerebral. Eles
NEUROTEOLOGIA 34

analisaram dados de um estudo com monges budistas tibetanos


e freiras franciscanas, meditando in'extreuen uma chocante
conclusão: O impulso religioso é enraizado na biologia do
cérebro. Em outras palavras, Deus está usando e-terminologia
"wired" (hard-wired) no cérebro da pessoa humana. O cérebro
humano é, pois, segundo eles, geneticamente estruturado, ao
mesmo tempo que incentiva a fé religiosa.
A pesquisa começou em 1970. Foi a prova de que a
meditação ea oração causar variações significativas nos dados
fisiológicos, tais como ondas cerebrais, batimentos cardíacos e
respiração e consumo de oxigênio. Tem sido demonstrado que a
estrutura do cérebro não é tão estático como se pensava
anteriormente. O cérebro, recentes estudos que revelam, está
constantemente mudando. Sua estrutura
e função são modificados em relação ao
comportamento humano, moldando-los.
A meditação de um monge budista, uma
oração ou religiosa católica, têm efeitos
físicos sobre o cérebro, especialmente nos
lobos pré-frontais, resultando na sensação
de unicidade com o universo vivenciado um monge, ou
proximidade Deus sente a freira franciscana. Estas experiências,
sentimentos que transcendem o mero plano individual, nascido
de um fato neurológico: a atividade dos lobos pré-frontais do
cérebro. Esta parte do cérebro que corresponde à capacidade de
concentração, perseverança, apreciar, pensar abstratamente, de
força de vontade e senso de humor e, finalmente, a integração
harmoniosa do ser.
Os autores destes estudos, utilizando uma palavra de
Aldous Huxley, têm chamado a Neuroteologia disciplina
emergente dedicada a compreender a complexa relação entre a
espiritualidade ea atividade do cérebro, baseado em alterações
no cérebro experimental no uso de práticas espirituais. Com
dados científicos oferecer uma reflexão teológica a partir de uma
perspectiva neuropsicológica. Essa nova ciência é estudada hoje
NEUROTEOLOGIA 35

como um assunto em diversas áreas de especialização em


universidades e centros acadêmicos da América, por exemplo,
em "The Ohio State University, na" Harvard Divinity School ", em
A Faculdade de Medicina da Pensilvânia e do "Seminário
Teológico Evangélico Garrett.
D'Aquila e André tentam responder a questões como a
origem da elaboração de mitos, a ligação entre il'orgasme êxtase
religioso, sexual e dados que proporcionam experiências de
quase-morte sobre a natureza dos fenômenos espirituais .
Onde a necessidade humana de magia mitos? Muitos
pensadores Secularitzants acreditam que a religião é uma
invenção nascida da necessidade psicológica de encontrar e
aliviar os medos existenciais e conforto, essas âncoras no meio
de um mundo confuso e perigoso. Id'Aquili Newberg defende,
por sua parte, aprovando-o com dados científicos já
mencionadas, o impulso religioso está enraizada na biologia do
cérebro humano. O sentimento de unidade com o cosmos ou a
aproximação de Deus não é uma mera ilusão ou um fenômeno
puramente subjetivo da psicologia, mas é uma cadeia de eventos
neurológicos que podem ser observadas, registradas e
fotografadas hoje. Obviamente Ambos os investigadores dizem
que não são imagens de Deus em seus estudos.
Usando dados e da reflexão que dedicar mostram que o
cérebro humano está configurado (set up) para ter sucesso na
vida. Religião e experiências religiosas, dizem os cientistas, e que
o cérebro faz para nos mover na mesma direção. Mesmo
adversas, como dissemos, que Deus é, nas palavras dos
pesquisadores, a fiação no cérebro humano.
Outros cientistas têm apoiado esses dados científicos e as
respectivas conclusões. Na verdade, o Dr.. Peter Van Houten,
diretor da Faculdade de Medicina da Família e Clínica Serra
médico residente durante algum tempo na aldeia de Ananda,
uma comunidade que se originou nos ensinamentos de
Paramahansa professor Yogaranda e ligado à tradição da Kriya
Yoga, e intitulou um de seus artigos "Projetado para Divinity - O
NEUROTEOLOGIA 36

Cérebro (The Brain, desenhado pelo Divino). Outro estudioso, o


Dr. Richard Davinson Universidade de Wisconsin, mostra que
podemos trabalhar nos lobos pré-frontais ou com medicação
(tais como o Prozac, Paxil e Zolof), quer com a meditação. No
entanto, a remoção da medicação, o efeito acaba, enquanto os
efeitos remanescentes da meditação: um pesquisador na
vanguarda da ciência neurológica, a defesa, sem medo de que a
prática continuada da meditação e decisiva influência positiva
sobre esta parte cérebro e, portanto, sobre o comportamento
humano. Nós podemos avançar num futuro próximo, a
prescrição de momentos de meditação, melhorar nosso caráter
ou comportamento de qualquer deficiência. Mas não há nada
novo sobre a Terra desde Pio XII, em 27 de junho de 1949,
afirmou na Segunda Assembléia Mundial da Saúde que "a Igreja,
longe de considerar a saúde como um objeto de forma única
biológica, sempre sublinhou a importância, a fim de mantê-lo, a
moral e as forças religiosas. "id'Aquili Newberg procurar
materialismo médico argumentar contra um fechado e barrados
para a transcendência. A interpretação dos dados é, no entanto
bivalente. Fé em Deus é o resultado da atividade do cérebro?
Quem é, na verdade, o engenheiro que desenvolveu um cérebro
tão complexo? A religião é apenas um produto da biologia (uma
ilusão neurológica), ou o cérebro humano tem sido
misteriosamente capacidade de conhecer a Deus? Ele é criado
pelo cérebro on'és Deus, o Criador? Além disso, tais experiências
religiosas são percepções reais do Absoluto, ou não são nada
mais do que a percepção que o cérebro faz a sua própria
atividade? A experiência religiosa ou mística reverência pode ser
reduzido a um mero fluxo neurológico? O neuroteòlegs já
reconhecem que não há certeza científica total a ser
determinado exclusivamente e afirmam que o religioso
experiencial dimensão mística transcende os eventos
bioquímicos, que concluem, ao mesmo tempo defendendo a
primazia da realidade transcendente.
NEUROTEOLOGIA 37

Os resultados de Aquiles e extrair Newberg acordo com a


reflexão teológica católica do homem criado como capax Dei. "O
desejo de Deus, diz o Catecismo da Igreja Católica, está inscrita
no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e
para Deus. Deus continua a atrair o homem para ele, e só Deus, o
homem pode encontrar a verdade ea felicidade que você deseja
constantemente "(CEC 27). Todos estes resultados são uma
reminiscência do célebre frase de Santo Agostinho: "Você é a
instigação, fazendo com que ele encontra prazer no louvor,
porque você nos fez para si e para a nossa ansiedade é o coração
enquanto não repousar em ti" ( Conf. 1,1,1). Os resultados,
dizem, o que não quer dizer que seu argumento não exige, como
veremos mais tarde, um atento discernimento.
A partir da reflexão filosófica, a prova da existência de
Deus, porém, desde o seu objectivo al'anuència perfeita
liberdade de consistência, não sujeito a coerção. A existência de
agnosticismo e ateísmo são bastante decisiva para a afirmação
deste. A tradição cristã tem desenvolvido um conjunto de
argumentos que demonstram a existência do Criador. Existem
duas formas de abordagem: o mundo eo homem. O mundo de
movimento e devir, da contingência, da ordem e beleza, se
refere a Deus como origem e fim do universo. O homem, por sua
abertura à verdade e à beleza, por seu senso moral do direito e
liberdade para a voz da consciência e da aspiração de infinito e
de felicidade, interroga-se sobre a existência Deus. Através de
tudo isso, vê sinais de sua alma espiritual que traz em si uma
semente de eternidade, irredutível a um sujeito (cf. CEC 31-35).
De agora em diante, com os estudos neurológicos, podemos
acrescentar um outro: a estrutura eo funcionamento do cérebro
humano.
No entanto, o fato de que existe uma relação comprovada
entre a meditação efetiva atividade cerebral não é deduzido
cientificamente que Deus existe. No entanto, esta harmonia
profunda da estrutura humana e as suas ambições com os
NEUROTEOLOGIA 38

ensinamentos religiosos abre a porta para mais de um pedido de


desculpas por não irracionalidade.
Esta interpretação é aberta à transcendência, entretanto,
sido alvo de críticas. Visões da existência materialistas se
baseiam em dados científicos fornecidos por Aquiles e Newberg
para sustentar à luz das experiências similares em pessoas
psicóticas ou sob efeito de substâncias tóxicas, como LSD,
cogumelos, ou outras substâncias químicos que o sentimento de
unidade com o todo, durante o tempo da meditação nada mais é
que uma produção do cérebro, e não tem que ser uma
percepção real do fato divino. J. Allan Hobson (A Química do
Consciente Estados: Rumo a um modelo unificado do Cérebro e
da Mente [Little Brown & Co., 1994]), por exemplo, reduz o
conhecimento de que certas combinações de substâncias
químicas genéticos e ambientais. Cientistas que pensam como
ele são deterministas. Eu limitei a quantidade de anatomia
humana com suas predisposições, história química da função
cerebral ao longo da nossa existência e influência de fatores
ambientais. Para Hobson, alma, mente e espírito não existem
em si, mas sim uma descrição da experiência de reações
químicas do cérebro.
Outros, que também reduz a explicação do ser humano a
um cientista visão, fornecer dados que são dignos de
consideração. Estudos neurológicos confirmar-Dr. Jesus Pujol-
CETIR pesquisador mostram que a repetição contínua de um ou
curta frase, palavra ou com conteúdo semântico religioso,
significa que não quer, ou a prática comum de exercício das
palavras de pesquisa que começam com uma determinada carta,
ou por estímulos externos tais instrumentos por parte magnética
do cérebro tem uma influência real nos lobos pré-frontais que
causam efeitos semelhantes aos registrados por Aquiles e
Newberg.
De outra perspectiva, sem negar a conclusão dos religiosos
dimensão intrínseca da pessoa humana, pelo contrário, Wayne
Proudfoot, Professor de Religião na Universidade de Columbia
NEUROTEOLOGIA 39

em Nova York, mostra que a experiência religiosa sabiamente Eu


não posso descrever apenas em termos biológicos. Na verdade,
toda a experiência é interpretada pela pessoa, e é esta a
interpretação que fez no caso do religioso. Dois indivíduos
diferentes podem ser interpretadas de forma diferente, e
mesmo opostos, a mesma experiência, embora detectada em
seus cérebros, a partir da fenomenologia e pontos de vista
biológico, o técnico mesmos parâmetros. Além adve significado
religioso. O estudo da experiência religiosa exigida, também,
algo mais do que química pura e dados fisiológicos. Na verdade,
deve-se considerar o histórico e contexto cultural em que as
experiências são interpretadas internamente, bem como a
realidade espiritual do ser humano. Você não pode, portanto,
dispensar, e tentar id'Aquili Newberg, as condições históricas e
culturais, a fim de oferecer uma explicação da religião para todos
os homens de todos os tempos e lugares. Os operadores que
alegadamente controlar o sentido de unidade, porque o cérebro
od'emoció, os autores eliminam a necessidade de estudar os
juízos e interpretações, bem como a linguagem e os conceitos
com os quais eles são feitos. Então rebitagem Wayne Proudfoot,
a partir de uma técnica simples ponto de vista não pode ser dada
razão experimental para fazer esta experiência religiosa.
A íntima conexão entre as dimensões física e mental do ser
humano é bem conhecida. A perda de auto-conhecimento de
algumas pessoas que sofreram acidentes traumáticos mostra
que a noção de quem eu sou e experiência são indissociáveis em
neurônios e na química do cérebro em si. Também substâncias
químicas, como LSD ou outras drogas causam alucinações e
consideráveis experiências sensíveis. Além disso, existem
fenómenos que a relação entre nossos pensamentos,
sentimentos e as reações químicas do cérebro não é
exclusivamente causada por dados químicos. De fato, mudanças
repentinas podem causar depressão emocional real. Ambos os
casos refletem a unidade intrínseca do ser humano corpo, e,
NEUROTEOLOGIA 40

corpo, mente e alma corporalitzada animado, filosofia


personalista unidade tem posto em relevo mais.
Os dados obtidos em experimentos de química e atividade
interações cérebro revelam algo do que está acontecendo no
cérebro. Mas isso é atividade cerebral elétrica e produtos
químicos causou o resultado final, da mesma forma como um
programa de computador faz com que o computador
programado para gerar uma resposta? Se assim for, conceitos
como liberdade, responsabilidade, o bem eo mal, amor e arte
seria subsumits em bioquímica e categorias elétrica.
Se a responsabilidade está no campo da química, as
condenações seriam motivos judiciais para elétrica do cérebro
produtos químicos discriminação. É poesia, arte, literatura,
cultura, mera questão de química? Poderia atingir apenas
determinadas actividades causando homem capacitéssim
neurológica para a poesia? Ou é mais uma atividade da alma
que, como toda atividade humana, exige um suporte orgânico?
É um amor fiel profundamente pessoal, dedicado ao heroísmo,
incondicionalmente pura, química generoso? É apenas um amor
químicas e não os outros:? Convincingly Acho que a resposta é
não negar que a responsabilidade ea química do amor e até
mesmo repercussões fisiológicas, mas sempre podemos inverter
os papéis. Devemos, portanto, manter a realidade espiritual que
transcende a mera fisiologia humana, sem negá-lo.
A interpretação bivalència desses fenômenos neurológicos
está presente no espelho e balcão. Hobson argumentou contra
Aquiles e Newberg mostram efeitos semelhantes provocados
pela ingestão de certas substâncias químicas que borram a
fronteira do que é a percepção real. Outros observam, mas
também endossando estudos científicos, a diferença na captura
da realidade sob a influência de drogas. É como se fosse real,
eles dizem, mas não percebem a realidade dessa experiência.
Stanislav Grof (Além do Cérebro. Nascimento, Morte e
Transcendência em Psicoterapia [SUNY Press, 1985]), fornecendo
uma terceira interpretação, procura mostrar a relação entre a
NEUROTEOLOGIA 41

mente humana e da unidade do cosmos e do mundo


sobrenatural, com uma destina-se a evidência clínica: os
pacientes sob efeito de LSD fornecer informações que
anteriormente não tinham, com dados muito precisos, o que
revela a existência dessa link.
Do mesmo modo, a hipnose tem se tornado comum na
fronteira da realidade do que é experimentado. Na prática, o
sistema judicial americano desacreditado testemunhas sob
hipnose. Não aceitar a incapacidade de distinguir entre a
memória real e impressões experiente no estado de hipnose,
que de fato não aconteceu na realidade.
É, portanto, também por razões bioquímicas e elétrica do
cérebro interpretar os mesmos dados tão diversos? Explicado
isso neurológico? E se sim, porquê? Qualquer questão científica,
se honesto com o pedido, uma resposta extremamente
filosófico, metafísico e, finalmente, religiosa.

ALGUNS DETALHES SOBRE A MEDITAÇÃO E ORAÇÃO


Como vimos, e Newberg conclusões de Aquiles foram
baseadas em dados obtidos a partir da observação de monges
budistas tibetanos e religiosos franciscanos enquanto meditava.
Nós podemos, do ponto de vista católico, colocar no cesto de
meditação budista e mesmo a oração cristã, entendida como um
diálogo com Deus?
A meditação budista é algo peculiar. De acordo com as
escolas, por vezes, é uma técnica de yoga, outros uma espécie de
esforço para se preparar para o nirvana, entendida como um
estado místico no sentido negativo do caminho dos gnósticos.
Oração, no entanto, envolve uma dinâmica diferente. Para Santa
Teresa do Menino Jesus é "um impulso do coração, é um simples
olhar dirigido para o céu, é um grito de reconhecimento e amor,
tanto o teste e na alegria" (Ms. Autobar. C 25R) . São João
Damasceno descreveu como "a elevação da alma a Deus ou a
submissão a Deus bens desejáveis. "Oração", diz o Catecismo da
Igreja Católica, "nós sabemos ou não, é o encontro da sede de
NEUROTEOLOGIA 42

Deus e nossa. Deus tem colocado que temos sete Dele" (CCE
2560). E nunca devemos esquecer que Deus é uma Trindade. A
oração torna-se uma relação de aliança cristã entre Deus eo
homem em Cristo. "É a ação de Deus e do homem nasce do
Espírito Santo e que tudo se encaminhava para o Pai, em união
com a vontade humana do Filho de Deus feito homem" (CCE
2564). A oração é cristã enquanto é comunhão com Cristo
is'escampa na Igreja, que é o seu corpo. "
Portanto, precisamos de pontos como a Carta da
Congregação para a Doutrina da Fé sobre alguns aspectos da
meditação cristã (15 de Outubro de 1989), a partir de uma
premissa essencial: a oração cristã é sempre determinado pelo
estrutura da fé cristã, é configurado como um diálogo pessoal,
íntimo e profundo entre o homem e Deus Trino, e é o encontro
de duas liberdades, a Deus que o homem finito infinito. No
entanto, essas advertências não excluem o uso de métodos
orientais de meditação como uma preparação psicofísica para
um cristão verdadeiramente contemplação.
Nivelamento de oração budista de meditação cristã
significa o esvaziamento da dimensão dialógica do seu profundo,
vivido pelo dom do Espírito Santo. A tentação, porém, não é
uma novidade. Desde o Novo Testamento menciona vários erros
semelhantes (cf. 1 Jo 4.3, 1 Timóteo 1, 3-7). Mais tarde, os
Padres da Igreja teve que lidar com dois desvios: o pseudognosi e
messalianisme. A primeira considerou a matéria como algo
impuro, negativo, que a alma envolta em uma ignorância do que
estava para entregar a oração. O messalianisme, poder
carismático do século IV, identificou a graça do Espírito Santo
com a experiência psicológica da sua presença na alma.
Confrontado com estas reducionista não pode degradar ao
nível da psicologia natural que deve ser considerado é a graça de
Deus. A união com Deus é o mistério, não só para o ano chegou
a uma técnica de meditação. Esta união pode ser feito também
através de experiências de sofrimento e até desespero.
NEUROTEOLOGIA 43

Capítulo 6

A SOBREVIVÊNCIA DA FÉ

Deus foi morto no século XIX e os matadores são


conhecidos. Karl Marx, Charles Darwin, Friedrich Nietzsche e
Sigmund Freud, para ficar nos nomes mais grandiosos,
elaboraram teorias para o mundo e para a natureza humana que
prescindiam das explicações tradicionalmente oferecidas pela
religião. Mais do que prescindiam: competiam com elas, com
todas as vantagens oferecidas pela lógica e pela irreversível
marcha da História. Os seres humanos, que desde a noite dos
tempos se perguntavam de onde viemos e para onde vamos, já
podiam buscar respostas fora da esfera divina. Viemos de um
longo processo de evolução, muito mais fabuloso do que
qualquer lenda bíblica sobre um boneco de barro transformado
pelo sopro daquele Senhor de Barbas Brancas e cara de poucos
amigos. E iríamos certamente para um lugar melhor, onde não
existiriam crendices primitivas, nem a vigilância castradora do
Deus judaico-cristão, nem a injusta ordem social alimentada
NEUROTEOLOGIA 44

pelas hierarquias religiosas. Num mundo onde predominassem a


ciência e a razão, todas as perguntas essenciais seriam
eventualmente respondidas. Pela ordem natural das coisas,
impulsos religiosos e crenças em entidades sobrenaturais
acabariam no mesmo arquivo dos tempos em que se acreditava
que a Terra era plana e o Sol girava em torno dela.
Desnecessário dizer que as coisas não aconteceram
exatamente assim. A ciência progrediu, sim, e de uma forma tão
espantosa que hoje muitas vezes mais intimida o leigo do que
oferece respostas compreensíveis. Ouvir explicações
cosmogônicas de um cientista é quase como tentar encetar
diálogo com um ET.
O fabuloso progresso material desencadeado com o
alvorecer da Era da Razão é contrabalançado pelas mazelas
sobejamente conhecidas que atormentam o mundo
contemporâneo. "Acreditava-se que a ciência resolveria todos os
males e seria o instrumento para
melhorar o mundo. Ela criou uma série de aspirações e
expectativas que não conseguiu satisfazer", resume Lísias
Nogueira Negrão, sociólogo estudioso da religião da
Universidade de São Paulo.
A morte de Deus operada por Marx, Freud e companhia, e
sua substituição pela ciência, também não foi um espetáculo de
alegre libertação. Na definição do filósofo francês Jean -Paul
Sartre, o desaparecimento de "uma das maiores idéias humanas
de todos os tempos" deixou na consciência dos homens "um
buraco em forma de Deus" (Sartre foi um dos coveiros mais
recentes do divino, propondo que, mesmo que Deus existisse,
seria necessário rejeitá-lo, pois a idéia dele nega a nossa
liberdade). Para a teóloga inglesa Karen Armstrong, autora de
Uma História de Deus, o fim do Senhor de Barbas foi
"acompanhado de dúvida, temor e, em alguns casos, um agônico
conflito". O sofrimento psíquico provocado pela morte de Deus,
somado à decepção com as promessas não cumpridas pela
ciência, ajuda a entender por que quase dois séculos de
NEUROTEOLOGIA 45

destruição sistemática dos pilares religiosos do Ocidente ainda


não produziram uma maioria generalizada de não-crentes. Ao
contrário, o que se vê hoje em muitos países de tradição cristã é
uma linha divisória entre uma minoria, geralmente da elite
intelectual, que seguiu adiante com a visão laica do mundo e, do
outro lado, uma maioria que se apega obstinadamente à fé e a
diferentes concepções religiosas. Em outras palavras, se Deus
morreu, sua sombra se recusa a deixar o mundo.
As pesquisas sobre crença e religiosidade apontam
números impressionantes, especialmente no continente
americano. Estados Unidos e Brasil têm um forte traço em
comum: cerca de 90% da população declara acreditar em Deus.
Os EUA são a exceção entre os países industrializados. Na
Alemanha, os que declaram crer em um Criador caem para 53%.
Na Suécia, o número de crentes é o mais baixo do mundo
desenvolvido: 36% da população. Além da esmagadora maioria
que crê em Deus, os americanos também acreditam em milagres
(84%) e, mais surpreendentemente, continuam a não aceitar o
darwinismo quase 200 anos depois de sua exposição ao mundo:
44% acreditam que o homem foi criado exatamente da maneira
descrita na Bíblia, há menos de 10 000 anos.
Examinar as razões da sobrevivência da fé e da religião
exige um enorme exercício de neutralidade. Em questão de fé,
quem não tem se sente implicitamente superior a quem tem. E
quem tem olha com pena, quando não com desprezo, os
desprovidos dela. É possível responder com equilíbrio à
pergunta: por que a fé existe e sobrevive? Ao longo dos tempos,
as explicações para o sentimento da fé, e o seu desdobramento
na forma de religião organizada, têm se dividido em duas
correntes. Uma busca-as em razões exteriores, freqüentemente
de cunho utilitarista. Outra as localiza nas profundezas da
natureza humana (seja na alma, como reza a crença tradicional,
seja nos genes, como alegam alguns cientistas contemporâneos).
O bom senso mais elementar consegue alinhavar, sem muito
esforço, uma pilha de motivos que explicam a necessidade de
NEUROTEOLOGIA 46

religião e de fé. A mente humana exige explicações para o


sentido da vida (e não resiste a respostas fáceis para perguntas
muito difíceis, acrescentariam os incréus), nosso coração precisa
de conforto e as sociedades não florescem sem a ordem
legitimada por um mandato de inspiração divina. A religião
atenua nosso terror diante da finitude da vida, dá alguma
explicação para a origem do mundo, impõe obediência a valores
morais essenciais para a convivência humana – uma necessidade
resumida magistralmente por Dostoiévski através de seu Ivan
Karamazov: "Se Deus não existe, tudo é permitido".
A outra vertente das explicações para a fé finca raízes em
águas mais profundas. Entre os teólogos modernos, seu
representante mais conhecido é Rudolf Otto, autor de O
Sagrado, termo que escolheu para substituir a palavra Deus.
Otto defendeu a teoria de que o sagrado existe por si só e as
religiões são respostas a essa existência. Os homens não criam
nada nesse campo e as manifestações religiosas, mesmo
moldadas pelo filtro da cultura, são uma simples reação a uma
dimensão que já existe. O teólogo, que viveu na Alemanha no
início do século XX, colocava essa dimensão fora, ou mais além,
do humano, mas a moda hoje entre cientistas que pretendem
comprovar a existência do divino é vasculhar não os mistérios da
alma, mas os circuitos do cérebro. São todos dos Estados Unidos,
um país onde quatro em cada dez cientistas têm algum tipo de
crença religiosa – com certeza um recorde da categoria. Eles
dizem, resumidamente, que existe uma área do cérebro
especializada em sentimentos religiosos.
Esse novo "ramo" de pesquisa já tem até um nome:
neuroteologia. Entre os mais conhecidos estão o radiologista
Andrew Newberg e o psiquiatra Eugene d'Aquili, autores do livro
Why God Won't Go Away (Por que Deus Não Desaparece). Eles
partem do princípio de que as práticas místicas foram
fundamentais para a sobrevivência e a evolução de nossos
ancestrais. A partir daí, dão um grande salto, afirmando ter
encontrado evidências de "um processo neurológico que evoluiu
NEUROTEOLOGIA 47

de forma a permitir aos seres humanos transcender a existência


material e se conectar com uma parte mais profunda e espiritual
de nós mesmos, percebida como uma realidade absoluta e
universal". As provas do tal "cérebro religioso", afirmam, foram
constatadas através da monitoração da atividade cerebral de
dois grupos: um de budistas, em processo de meditação, e outro
de freiras, durante orações fervorosas. Outros adeptos
conhecidos da neuroteologia são Carol Rausch Albright e James
Ashbrook, estudiosos da religião e autores de Where God Lives in
the Human Brain (Onde Está Deus no Cérebro Humano). A tese
deles é mais exótica ainda: o próprio circuito cerebral seria uma
espécie de espelho dos atributos divinos.
Cientistas sérios riem dessas teorias – alguns até notam
que tanta empolgação é alimentada pelas pilhas de doações
legadas por piedosos milionários americanos para pesquisas q ue
"comprovem" a existência de Deus. Os proponentes da
neuroteologia "misturam no mesmo saco os termos e os
métodos da ciência e da religião na tentativa de conferir a esta a
autoridade daquela", escreveu o médico e pesquisador Jerome
Groopman, que é judeu praticante. "A ciência é uma disciplina
que demanda medições precisas de fenômenos para a
elaboração de modelos de causa e efeito. As dimensões do que
chamamos de alma, a centelha divina na vida humana, não
podem ser medidas dessa forma."
Teólogos sofisticados também desprezam essas tentativas
de comprovação científica da existência de Deus, que reduzem
os anseios espirituais e o desejo de transcendência dos seres
humanos a simples mecanismos automáticos. Para eles, aliás, o
Deus pessoal e histórico já foi mesmo desta para a melhor, e isso
representa um progresso. "Aqueles de nós que tiveram
problemas com a religião consideraram um alívio quando se
libertaram de um Deus que lhes aterrorizou a infância", escreveu
a ex-freira Karen Armstrong. "É maravilhoso não ter de se
acovardar diante de uma divindade vingativa, que nos ameaça
com a danação eterna se não seguirmos suas regras." Em lugar
NEUROTEOLOGIA 48

do Senhor de Barbas, parecido com o retratado por


Michelangelo na Capela Sistina, que pairou durante séculos
sobre as consciências ocidentais, cultiva-se nesses círculos de
crentes intelectuais um certo misticismo chique, com uma
divindade rarefeita e intelectualizada. "Esse Deus deve ser
abordado por meio da imaginação e pode ser visto como uma
espécie de arte, semelhante aos outros grandes símbolos
artísticos que têm expressado o mistério inefável, a beleza e o
valor da vida", diz Armstrong. Complicado? Pois nesse meio até a
palavra Deus, tão carregada de significados, já foi superada. O
termo que mais se aproximaria do conceito moderno de
divindade transpessoal seria Ser-em-si.
Imagine-se um avião em plena pane com os passageiros
crentes rezando: Valha-me, Ser-em-si. Mais delicada ainda seria
a situação dos não-crentes, enfrentando a possibilidade do fim
apegando-se a quê? Ao Big Bang? À Teoria das Cordas? Ao
grande fluxo da vida? Quem não consegue se ver em nenhuma
dessas situações entende por que o Senhor de Barbas, o Deus Pai
tradicional, ainda estará entre nós por um bom tempo,
atestando a extraordinária sobrevivência da fé nos corações
humanos. Quem consegue pode rezar simplesmente para que o
piloto seja muito, muito bom.
NEUROTEOLOGIA 49

Capítulo 8

NEUROTEOLOGIA - DIVINO CÉREBRO

Em livro, médico descreve


asdesscobertas da neuroteologia,
ciência que estuda reações
cerebraisdiante das experiências
místicas.
Cilene Pereira e Mônica Tarantino

O neurocirurgião Raul Marino Jr., 68 anos, conhece o


cérebro humano como poucos. Em 35 anos de carreira, estudou-
o, analisou as mudanças de comportamento relacionadas à sua
química e se preocupou em explicar os caminhos das emoções
entre os 100 bilhões de neurônios do órgão. Trabalhou em
alguns dos melhores centros de pesquisa, como o Massachusetts
Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Estudou para
entender o que acontece no cérebro durante as orações, transes
e outras práticas místicas. Na semana passada, Marino, professor
de neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de
NEUROTEOLOGIA 50

São Paulo, lançou o livro A religião do cérebro (Ed. Gente), no


qual resume as descobertas mais recentes sobre a origem e os
efeitos da experiência religiosa ou mística. “Fiz um depoimento
sobre o que existe e acredito, como, por exemplo, o fato de que
somos dotados de áreas cerebrais para que possamos nos
comunicar com Deus”, disse Marino – além de médico, cristão –,
na entrevista concedida a ISTOÉ.
ISTOÉ – Qual a concepção mais atual sobre o
funcionamento do cérebro?
Raul Marino Jr. – Um dos princípios da neurociência do
comportamento é que nossas experiências são geradas pela
atividade cerebral. Assim, os sentimentosde amor, a consciência
e até a presença de uma divindade estão associados a eventos
que acontecem no cérebro.
ISTOÉ – E o que é a neuroteologia?
Marino Jr. – Estudamos o processamento das emoções
relacionadas à religião,à espiritualidade, no cérebro.
ISTOÉ – Como são feitos os estudos?
Marino Jr. – Foram feitas experiências com monges e
freiras em clausura mostrando como e quando áreas cerebrais se
alteravam durante a meditaçãoe a oração. Viu-se que, em estado
meditativo, eles apresentam alterações reaise detectáveis. Há
mudanças na química do sangue e das ondas cerebrais.
ISTOÉ – Qual foi, até agora, o maior achado da
neuroteologia?
Marino Jr. – Foi ter encontrado, no cérebro, as áreas
ativadas pelaoração e pela meditação, quando entramos em
contato com o divino.
ISTOÉ – E quais são essas regiões?
Marino Jr. – Uma das mais importantes é o lobo límbico e
suas conexões.Lá estão estruturas que nos ligam ao Criador e ao
significado do mundo.
ISTOÉ – Seu livro descreve experiências de estimulação de
áreas do cérebro situadas no lobo temporal direito, seguidas de
NEUROTEOLOGIA 51

reações que podem ser interpretadas como experiências


místicas. Pode explicar isso?
Marino Jr. – Durante os últimos 15 anos, um importante
pesquisador, Michael Persinger, aplicou campos magnéticos
sobre o hemisfério direito do cérebrode jornalistas, músicos,
escritores e estudantes. Todos referiram-se à sensaçãode uma
presença ou ao deslocamento para fora dos seus corpos. Uma
das conclusões foi a de que crenças sobre a existência de deuses
são propriedades normais do cérebro humano, tendo se
desenvolvido em nossa espécie como funções para facilitar nossa
adaptabilidade. O autor mostrou a evidência de que certas
experiências de cunho religioso podem ser simuladas em
laboratório. Isso não quer dizer, porém, que elas sejam fruto do
cérebro. A experiência mística é algo que vem de dentro. E só o
ser humano pode ter essa experiência divina. Só ele possui as
estruturas cerebrais capazes de processá-la.
ISTOÉ – De que maneira os conhecimentos da
neuroteologia podem melhoraro atendimento ao paciente?
Marino Jr. – Pode-se usá-los em favor do doente. É como
ajudá-lo a usar umafonte de benefícios que ele tem em si
próprio, mas que muitos desconhecem.
ISTOÉ – Quais são esses benefícios? Marino Jr. – A vivência da
espiritualidade ajuda no bom funcionamento do organismo. As
pessoas que têm fé se recuperam melhor de tratamentos
dedoenças crônicas, por exemplo.
ISTOÉ – No livro, o sr. afirma que a intuição é uma
ferramenta que desprezamos cada vez mais. Como usá-la
melhor?
Marino Jr. – Uma das maneiras é aprender a fazer silêncio
para ouvir a sua voz.Ela não é alta e clara, dizendo faça isso ou
aquilo. É um sopro, um sentimento,uma certeza. Isso depende
de prática, de meditação, oração ou como você quiser chamar
esses momentos em que a pessoa se desliga da corrente dos
acontecimentos e entra em contato consigo e com Deus.
Extraído do site:
NEUROTEOLOGIA 52

http://www.terra.com.br/istoe/1870/medicina/1870_divino_cer
ebro.htm
NEUROTEOLOGIA 53

Capítulo 9

A NEUROTEOLOGIA E A HISTÓRIA DAS EXPERIENCIAS MISTICAS


TRANSCENDENTES.

O MRIscanner é um dos instrumentos usados por


neuroteólogos para estudar o cérebro durante experiências
religiosas . Neuroteologia, também conhecida como bioteologia
ou neurociência espiritual, é o estudo da base neural da
espiritualidade e emoção religiosa. A meta da neuroteologia está
em descobrir os processos cognitivos que produzem experiências
religiosas, relacioná-los com padrões de atividade no cérebro,
descobrir como evoluíram nos seres humanos e os benefícios
dessas experiências para o ser humano.
Existem várias áreas de estudo dentro da neuroteologia.
Algumas delas são:
estudo sobre como o cérebro humano pode ter evoluído
para produzir essas experiências (alguns chamam esta área de
neuroteologia evolutiva).
Estudo do desenvolvimento espiritual e do sentido de Deus,
do nascimento até a morte (alguns chamam esta área de
neuroteologia desenvolvimental).
NEUROTEOLOGIA 54

Estudo do comportamento espiritual e religioso da raça


humana por toda a história e de ancestrais de humanos como o
Homo erectus e outras espécies como o homem de neanderthal
(alguns chamam esta área de neuroteoantropologia).
Estudo do comportamento religioso de primatas e outros
mamíferos (alguns chamam esta área de zooneuroteologia)

PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
A psicologia transpessoal é uma área da psicologia que
estuda o transpessoal, o transcendente ou o aspecto espiritual
da experiência humana. Dentre os assuntos estudados na
psicologia transpessoal, estão as experiências religiosas.
A psicologia transpessoal tem entre seus objetos de
trabalho e pesquisa os estados não ordinários de consciência que
abrangem das experiências com alucinógenos (Grof, Huxley) aos
estados místicos das tradições religiosas mundiais. Ken Wilber,
um dos seus principais teóricos, em O espectro da consciência,
propõe uma cartografia do ser que abrange do físico ao psíquico
e deste ao espírito. Assim, a psicologia transpessoal abrange o
ego, como as demais escolas de psicologia, e os estados além do
ego (transpessoal).
De acordo com a psicologia transpessoal, existem cinco
níveis de consciência, sendo eles:
Níveis de consciência de acordo com a psicologia
transpessoal a sombra - aqui o homem tem seu self distorcido. A
sombra acumula porções da psique que causam incongruências,
incompatibilidades. É um nível negativo e patológico.
Ego - é o nível superficial da consciência, onde o homem se
identifica com uma imagem criada, seu self individual, sem se
interessar profundamente em questões sociais ou ecológicas, ou
seja, pensando em si próprio.
Biossocial - neste nível, o homem tende a ter uma
preocupação com o outro, enxergando também o que o rodeia.
Ele aceita uma responsabilidade perante os outros e pelo
ambiente natural.
NEUROTEOLOGIA 55

Existencial - o homem encontra, neste nível, a ligação entre


corpo/mente, que tende à auto-organização. É ligado a um alto
grau de desenvolvimento e auto-realização. É o grau perfeito
para a filosofia e o humanismo. Emoção e razão se unem para o
crescimento.
Transpessoal - este é o nível que a psicologia transpessoal
estuda. É o nível mais profundo a que, atualmente, se consegue
chegar. É o nível aproximado das experiências místicas, onde
tudo está imerso no todo, o Tao, como uma gota d'água no
oceano, mas não de uma forma linear, cartesiana.
Os limites do ego são ultrapassados. É possível entrar em contato
com o inconsciente coletivo, entre outros fenômenos
relacionados.

PSICOLOGIA DA RELIGIÃO
A psicologia da religião é a área da psicologia que estuda as
experiências, crenças e atividades religiosas.
A psicologia da religião também estuda enteogénos e
meditação. Entre os psicólogos mais famosos que já escreveram
sobre a psicologia da religião estão Sigmund Freud, Carl
Jung,William James,Rudolf Otto,Erik Erikson,Erich Fromm, dentre
outros.
O trabalho de Carl Jung consigo mesmo e com seus
pacientes convenceram-no de que a vida tem um propósito
espiritual que vai além das buscas materiais. Nossa principal
tarefa, ele acreditava, era a de descobrir nosso mais profundo e
incondicionado potencial, como a capacidade de uma lagarta de
virar borboleta.
Baseado no seu estudo sobre o cristianismo, hinduísmo,
budismo, gnosticismo, taoísmo e outras tradições, Jung percebeu
que esta jornada de transformação está no coração de todas as
religiões.
É uma jornada para encontrarmos a nós mesmos e ao
mesmo tempo encontrarmos o divino. Paralelamente a Sigmund
NEUROTEOLOGIA 56

Freud, Jung pensava que a experiência espiritual era essencial


para nosso bem estar.

BASE GENÉTICA PARA AS EXPERIÊNCIAS RELIGIOSAS


A hipótese do gene divino propõe que alguns seres
humanos carregam um gene que lhes dão a predisposição para
episódios interpretados por algumas pessoas como revelação
religiosa. A ideia foi postulada e promovida pelo geneticista Dr.
Dean Hamer, diretor da unidade de estrutura e regulação do
gene, no instituto nacional do câncer dos Estados Unidos. Hamer
escreveu um livro sobre o assunto intitulado: O gene divino:
como a fé é pré-programada dentro dos nossos genes (The God
Gene: How Faith is Hardwired into our Genes).
De acordo com a hipótese, o gene divino (VMAT2) não é
“codificado” para a crença em Deus, mas é arranjado
fisiologicamente para produzir sensações associadas, por alguns,
com a presença de Deus ou outras experiências místicas, ou mais
especificamente, espiritualidade como um estado da mente.
Que vantagens evolutivas isso pode levar e de que esses
efeitos vantajosos são efeitos colaterais são questões que ainda
estão para serem totalmente exploradas.
Lobo frontal em azul; Lobo parietal em amarelo; Lobo
occipital em vermelho; Lobo temporal em verde.Dr. Hames
teorizou que a transcendência faz as pessoas ficarem mais
otimistas, o que leva elas a ficarem mais saudáveis e com mais
probabilidade de terem muitos filhos.

PARTES DO CÉREBRO RELACIONADAS A EXPERIÊNCIAS


RELIGIOSAS
Lobo parietal: Diminuição de neuro-sinapses levando a
sensação de união como o universo.
Lobo frontal: Concentração ampliada (meditação) bloqueia
outros impulsos neurais.
NEUROTEOLOGIA 57

Lobo temporal: Ativa intensa emoção, como prazer e medo


Lobo occipital: Processa imagens que facilitam praticas
espirituais (velas, cruzes, etc.)

ORIGEM EVOLUTIVA DAS EXPERIÊNCIAS RELIGIOSAS


As experiências religiosas são tipicamente complexas,
envolvendo emoções, pensamentos, sensações e
comportamentos. De acordo com cientistas, essas experiências
são muito complexas para acontecer apenas em um local no
cérebro.
É possível que a evolução da capacidade do ser humano (e
de outras espécies próximas aos seres humanos) de ter
experiências religiosas seja sub-produto da evolução de várias
partes do cérebro. Sendo isso verdade poderíamos descartar a
hipótese de que a experiência religiosa evoluiu por ela ajudar na
sobrevivência da espécie.
Alguns cientistas teorizam que a experiência religiosa tem
relação com o orgasmo humano e dizem que o orgasmo e a
experiência religiosa evoluíram juntas, baseado em estudos
feitos no cérebro durante experiências religiosas e experiências
de orgasmo e a semelhança entre áreas ativadas no cérebro
durante essas experiências.

HISTÓRIA DE EVENTOS RELACIONADOS A EXPERIÊNCIA


RELIGIOSA:
A relação dos humanos com as experiências religiosas durante o
curso da história.

PRÉ-HISTÓRIA
130.000 anos atrás - Surgimento do cérebro humano
moderno
12.000 anos atrás - Práticas xamânicas são possivelmente
as primeiras formas de religião, sendo elas da época paleolítica e
Neolítica .
NEUROTEOLOGIA 58

Várias práticas xamânicas existentes hoje em dia contém


uso de enteógenos e experiências religiosas , e possivelmente
seres humanos vêm usando técnicas e substâncias para obter
experiências religiosas desde a época paleolítica.

IDADE ANTIGA
Aproximadamente 2500 a. C. - A meditação, que é uma das
técnicas para se conseguir obter uma experiência religiosa, existe
desde antes da escrita. Arqueólogos dizem que a prática pode
ter surgido entre as primeiras civilizações indianas.
Várias esculturas descobertas na Civilização do Vale do Indo
(3300–1700 a.C.) mostram figuras em posturas de meditação.
Nas Upanishads (escrituras sagradas hindus), existe umas das
primeiras referências a meditação. Ela é feita no Upanishad
Brihadaranyaka.A Civilização do Indo (por volta de 2000 a.C.)
pode ter a primeira imagem representando meditação . A
imagem representa Shiva.
Aproximadamente 2000 a.C. - Abraão recebe uma ordem
divina e se muda da Mesopotâmia para a Palestina, dando início
ao povo judeu.
Aproximadamente 1500 a.C. - Moisés lidera os judeus na
saída do Egito e institui os Dez Mandamentos sob inspiração
divina.
Século VII a.C. - Zoroastro funda uma nova religião na
Pérsia, o Zoroastrismo, baseada na luta do bem contra o mal.
599 a.C.(ou 540 a.C.) - 527 a.C.(ou 470 a.C.) - Mahavira
propaga a religião jainista na Índia. Uma das características
principais do Jainismo é a defesa da não-violência.
Por volta de 563 a.C. - 483 a.C. - Siddhartha Gautama cria o
Budismo na Índia, tendo como base a extinção dos desejos.
8-4? a.C. – 29-36? - Jesus Cristo cria o Cristianismo, religião
que se baseia no amor ao próximo. Após ser perseguido pelo
Império Romano, o Cristianismo torna-se a sua religião oficial. O
calendário ocidental posteriormente passa a ser contado a partir
da suposta data do nascimento de Jesus.
NEUROTEOLOGIA 59

IDADE MÉDIA
570 - 632 - Maomé, um comerciante da cidade de Meca, na
Península Arábica, recebe uma revelação do Arcanjo Gabriel
incitando-o a criar uma nova religião, o Islamismo.
788 – 820 - Shânkara foi um reformador do Hinduísmo,
filósofo brilhante e autor de muitos milagres.
1207 - 1273 - Rumi, um poeta afegão muçulmano, escreve
algumas das melhores poesias místicas de todos os tempos.

IDADE MODERNA
1515 - 1582 - Teresa de Ávila reforma a ordem das freiras
carmelitas, na Espanha, vivencia muitos fenômenos místicos e
deixa escritos muitos clássicos da literatura religiosa mundial.
1531 - Aparição de Nossa Senhora de Guadalupe no México
a um índio asteca convertido ao catolicismo.
1542 - 1591 - São João da Cruz, com o apoio de Santa
Teresa de Ávila, reforma a ordem dos carmelitas na Espanha e
escreve também muitos clássicos da literatura mística mundial.

IDADE CONTEMPORÂNEA
1469 - 1539 - Guru Nanak
1817 - 1892 - Bahá'u'lláh
1836 - 1886 - Ramakrishna
1847 - 1910 - William James
1858 - Aparição de Nossa Senhora em Lourdes, na França
1875 - 1941 - Evelyn Underhill
1893 - 1952 - Yogananda
1894 – 1963 - Aldous Huxley
1915 – 1968 - Thomas Merton
1917 - Aparição de Nossa Senhora de Fátima em Portugal
1926 - Satya Sai Baba

COMO SE TER UMA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA?


Quais técnicas existem para ser ter uma experiência
religiosa? Existem substancias ou equipamentos que causam
NEUROTEOLOGIA 60

experiências religiosas? Quais são as causas passivas que causam


experiências religiosas?
Os processos e técnicas para conseguir uma experiência
religiosa têm diferentes nomes dependendo da religião ou
filosofia como:
Faqr (Sufismo)
Dhyana or bhakti (Hinduísmo)
Wu-wei (Taoísmo)
Fana (Sufismo/Árabe e Persa)
Makhafah/Mahabbah/Ma'rifah (Sufismo/Egito)
Nobre Caminho Óctuplo(Budismo)
O caminho
Enteogenia

TÉCNICAS

MEDITAÇÃO
A meditação consiste na prática de focar a atenção,
freqüentemente formalizada em uma rotina específica. A
meditação pode ser utilizada para se ter experiências religiosas.

ZAZEN
Zazen é um tipo de meditação e tambem é a base da
prática Zen Budista. O objetivo do zazen é "apenas sentar", com
a mente aberta, sem apegar-se aos pensamentos que fluem
livremente. Isto é feito tanto através do uso de koans, o principal
método Rinzai, ou o sentar-se completamnete alerta (o "apenas
sentar", shikantaza), o qual é o método da escola Soto. O
princípio do zazen é o de que uma vez que a mente esteja livre
de suas diversas camadas, pode-se realizar a natureza búdica,
atingindo-se a iluminação (satori).

ORAÇÃO
Oração é prática religiosa comum a diversas tradições
religiosas. É um ato de reconhecimento e louvor diante de um
NEUROTEOLOGIA 61

ser transcendente. A oração assim como a meditação pode ser


utilizada para se ter experiências religiosas.

ORAÇÃO CONTEMPLATIVA
No Cristianismo mistico, a oração contemplativa é uma
oração em que o praticante controla a respiração, ou repete
cantos ou apenas se concentra para acalmar os pensamentos e
sentimentos e entra em comunicação com uma entidade q ue
muitos acreditam ser Deus.

ORAÇÃO DE JESUS
Oração de Jesus também chamada Oração do Coração, é
uma oração curta cuja fórmula é orada de forma repetida. Ela foi
amplamente praticada, ensinada e discutida através da história
do Cristianismo Oriental.
A Oração de Jesus é, para os ortodoxos orientais e os
católicos orientais, uma das orações mais profundas e místicas; é
frequentemente repetida continuamente coma parte de uma
prática ascética. Apesar de existirem muitos textos da Igreja
Católica sobre a Oração de Jesus, sua prática nunca atingiu a
mesma popularidade da Igreja Católica Ortodoxa.

RITUAL
Exercicios de Respiração
Jejum
Música
Música Sacra (Música Religiosa)

DANÇA SUFISTA
Dança Sufista A order sufista Mevlevi nas suas práticas
dhikr atribuem grande importância à música e à dança. O
exercício de meditação da ordem, denominado sama, envolve a
recitação de orações e hinos, após os quais os participantes
realizam voltas à sala, numa dança em que abrem os braços à
NEUROTEOLOGIA 62

altura dos ombros, com a palma da mão direita virada para cima
e a da mão esquerda para baixo.
Os membros desta ordem são mais conhecidos no Ocidente
como os "dervixes rodopiantes". Sufistas procuram experiencias
religiosas por meio trances misticos e estados alterados da
mente induzidos por meio da desta dança.

CHACRAS

MANDALA.
Sri YantraChacras são, segundo a filosofia ioga, canais
dentro do corpo humano (nadis) por onde circula a energia vital
(prana) que nutre órgãos e sistemas. Existem várias rotas
diferentes e independentes por onde circulam esta energia. Os
chakras são os pontos onde essas rotas energéticas estão mais
próximos da superfície do corpo.
Várias terapias, como o Reiki e a cromoterapia se utilizam
dos chakras como base para o tratamento do corpo físico até o
espiritual. Concentrar-se no que está fazendo, pensando na
região do chakra já é uma forma de reativá-lo. Procure ficar em
um lugar tranqüilo, para que nenhum barulho possa tirar sua
concentração. " Coloque uma de suas mãos aberta em frente ao
chakra, sem tocar no corpo, e faça movimentos circulares no
sentido horário, como se estivesse massageando o local, mas à
distância. " Sentar-se na posição de lótus - pernas cruzadas -
tronco ereto - e fixar o olhar na ponta do nariz estimula o chakra
frontal ou do terceiro olho.

KUNDALINÍ
Kundaliní é o poder espiritual primordial ou energia
cósmica que jaz adormecida no Múládhára Chakra, o centro de
força situado próximo à base da coluna, e aos órgãos genitais. É a
energia que transita entre os chakras.
Enquanto está adormecida, assemelha-se a uma chama
congelada. O "despertar" da energia divina Shakti Kundalini
NEUROTEOLOGIA 63

requer a orientação de um mestre realizado, para que o


ativamento e desenvolvimento sejam apropriados e conduzam à
meta suprema do Yoga que é a paz interior e a realização divina.

MANDALAS
Mandala é a palavra sânscrita que significa círculo, uma
representação geométrica da dinâmica relação entre o homem e
o cosmo. De fato, toda mandala é a exposição plástica e visual do
retorno à unidade pela delimitação de um espaço sagrado e
atualização de um tempo divino.
Em termos de artes plásticas, a mandala apresenta sempre
grande profusão de cores e representa um objeto ou figura que
ajuda na concentração para se atingir outros níveis de
contemplação. Há toda uma simbologia envolvida e uma grande
variedade de desenhos de acordo com a origem.
A mandala representa para o homem o seu abrigo interior onde
se permite um reencontro com Deus.

Uso de Enteógenos
Algumas substâncias psicoaticas, particularmente enteógenos ,
tem sido utilizado para propositos religiosos desde tempos pre-
historicos.

DMT
O chá de ayahuasca contém DMT, podem induzir a pessoa a
ter experiências religiosas
Delosperma contém DMT é a abreviação da substância N,N-
dimetiltriptamina . DMT é encontrada in natura em vários
gêneros de plantas (Acacia, Mimosa, Anadenanthera,
Chrysanthemum, Psychotria, Desmanthus, Pilocarpus, Virola,
Prestonia, Diplopterys, Arundo, Phalaris, dentre outros), em
alguns animais (Bufo alvarius possui 5-Meo-DMT, um alcalóide
bastante parecido em estrutura e em propriedades químicas) e
também produzida pelo corpo humano.
NEUROTEOLOGIA 64
NEUROTEOLOGIA 65

Capítulo 10

NEUROTEOLOGIA INVESTIGA A CRIAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS


MÍSTICAS INDUZIDAS

A base neural da espiritualidade podem ser ativados de maneiras


diferentes

Neuroteologia é um ramo da neurociência que estuda a


componente neurológico das experiências religiosas. Foram
descobertos os padrões de atividade eletromagnética do cérebro
que são ativados por certos costumes, como a meditação, ou por
outros métodos, como a indução de pulsos eletromagnéticos do
cérebro, substâncias psicodélicas, e até mesmo a modificação
genética. Neuroteologia agora investigar se é possível integrar
artificialmente experiências religiosas em nossas vidas. Para
Yaiza Martínez.
NEUROTEOLOGIA 66

O cérebro (esquerda) e na meditação. Andrew Newberg.


A revista Slate abordada em dois documentos
recentemente apareceu que desenvolvem pesquisas sobre o
comportamento humano religioso e sua base neurológica
possível. De acordo com essas
investigações, experiências místicas
parecem ser o produto de certos
padrões de comportamento
eletromagnético dos nossos neurônios
próprios.
Esses padrões podem ser facilitadas com algum tipo de
atividades (tais como o pulso eletromagnético ou o consumo de
certas substâncias), da qual se infere que a espiritualidade não
pode ser um ato consciente transcendente, mas imanente ao
cérebro e, portanto, pode propiciar "Talvez, quando nós
queremos.
No primeiro artigo, intitulado " Como ligar o seu cérebro
para os Religiosos ecstasy "fala John Horgan sobre a" máquina
de Deus ", um dispositivo que foi repetido em 2004 a revista
Nature e foi desenvolvido pelo neurocientista Michael Persinger
parece capaz de induzir experiências místicas entre seus
usuários, graças a um solenóide que, colocado na parte externa
do crânio, o cérebro estimula alguns pulsos eletromagnéticos.
Persinger é um dos estudiosos do campo da neuro (que
visa explicar o fenômeno da religião a partir dos orçamentos das
neurociências), um ramo da ciência que se infiltra
profundamente na sociedade pelos seus métodos curiosos para
induzir experiências religiosas.
Como tal, poderia ser definido experiências espirituais que
parecem fugir de nós mesmos. De fato, essas experiências foram
experimentadas desde tempos imemoriais, sem artifícios, por
determinadas atividades como yoga, meditação ou oração, com
a qual o cérebro parece ser capaz de desenvolver padrões de
NEUROTEOLOGIA 67

comportamento eletromagnéticas que produzem os mesmos


sentimentos Os solenóides, por exemplo.

BIOLÓGICA PERSONAGENS MÍSTICOS


Mas a "máquina de Deus" não foi a única tentativa de
reproduzir em laboratório, artificialmente, as sensações. Já em
1950, o neurocirurgião canadense Wilder Penfield , para
preparar os pacientes para cirurgia de epilepsia, estimulada pela
exposição de suas o efeito de eletrodos no cérebro:. O resultado,
alguns deles começaram a ouvir vozes e música e até mesmo
para perceber aparições em resposta à estimulação na região do
cérebro chamada lobo temporal .
Mais recentemente, houve outras tentativas de induzir
experiências religiosas, como aquele realizado por outro
neurocientista Todd Murphy , que fez uma versão da máquina
chamou Deus Shakti (hindu prazo para a divindade).
O geneticista Dean Hamer do National Cancer Institutes of
America, disse que a existência de um gene associado com a
auto-transcendência ou espiritualidade, e Rick Strassman , um
psiquiatra da Universidade do Novo México, sugeriu que, se
esses genes estão ligados a uma substância, dimeltitriptamina ,
o único conhecido psychedelic naturalmente nosso cérebro, que
poderia modificar a nossa genética artificialmente para modular
os níveis de religiosidade.
Em seu livro The Spirit Molecule , Strassman apresenta
evidências de que esta substância pode produzir visões místicas,
alucinações e até mesmo psicóticos abduções alienígenas, assim
como as experiências de quase-morte. Portanto, Strassman
aponta que a nossa capacidade natural mística pode ser
aumentado modificando os genes que produzem
dimeltitriptamina.

O CÉREBRO RELIGIOSO
Outras tentativas foram envolvidos nas substâncias
psicodélicas como o LSD e psilocibina, o agente ativo dos
NEUROTEOLOGIA 68

chamados "cogumelos mágicos" e falamos em outro artigo


Tendencias21 . Neste artigo, explicou que esta substância pode
induzir experiências místicas e espirituais idênticas às descritas
por pessoas que tiveram experiências desse tipo ao longo dos
séculos, como demonstrado pelos resultados de experimentos
realizados na Universidade americana John Hopkins.
Mas o que acontece no cérebro quando ele é submetido a
estímulos tais? Conforme explicado pelo segundo artigo na
Slate, o cientista Andrew Newberg da Universidade da
Pensilvânia estudaram os cérebros de monges franciscanos e
meditação budista dedicado a descobrir que tinha aumentado a
atividade no lobo frontal (associada à concentração e atenção),
enquanto o lobo parietal , associado com a informação sensorial,
tinha pouca atividade nestes indivíduos.
Em Tendencias21 já explicado neste contexto que esta
pesquisa também mostrou que a atividade cerebral muda com
atividades espirituais. A atividade é intensificada na parte frontal
do cérebro quando ele desenvolve sua própria concentração de
meditação ou oração. Ao mesmo tempo, revelou um decréscimo
na atividade na região dos lóbulos parietais, que é o papel
fundamental desempenhado pelo espaço, e permite-me a
distinguir-se dos outros.

POSSIBILIDADES
O decréscimo da atividade nos lóbulos parietais causas
anormais percepções espaciais e perda do sentido usual de ser
que é no estado de vigília. É neste momento que tornou possível
a experiência chamada mística, que é o que permite ao indivíduo
transcender sua identidade individual e se identificar com tudo o
que sustenta o universo físico é conhecido.
Por outro lado, a pesquisa de Richard Davidson , da
Universidade de Wisconsin, com monges tibetanos também
mostraram que os padrões do eletroencefalograma dessas
pessoas tinham níveis mais elevados de ondas gama durante os
períodos de meditação, e mesmo depois deles.
NEUROTEOLOGIA 69

Essas investigações revelaram que haveria, portanto, ser um


modelo de cérebro, no caso de experiências espirituais. A
pergunta seria: se conhecido métodos artificiais para provocar a
mesma experiência religiosa e conhecer o efeito destes métodos
no cérebro, podemos sempre artificialmente integrar essas
experiências em nossas vidas?
De acordo com John Horgan, o neuroteólogos poderá em
breve encontrar uma tecnologia definitiva, que nos permite
desenvolver um sentido de transcendência espiritual ou
permanentemente e sem efeitos colaterais.
NEUROTEOLOGIA 70
NEUROTEOLOGIA 71

Capítulo 11
À PROCURA DA CHAVE CIENTÍFICA PARA A RELIGIÃO

Livro de jornalista científico


examina aspectos da pesquisa sobre a
fé, da antropologia à neuroteologia.
Para que ela serve? Provado está seu
aspecto genético. E que os religiosos se
reproduzem mais.

Cavernas de Lascaux, no sudoeste da FrançaO ser humano


é religioso e as provas disto se encontram espalhadas por todo o
mundo: das pinturas rupestres em
Lascaux, passando pela arte dos xamãs
san nos rochedos da África do Sul (que,
apesar de muito mais recente do que as
obras das cavernas européias, apresenta
motivos pictóricos semelhantes),
seguindo pelo budismo e o hinduísmo
NEUROTEOLOGIA 72

até as modernas "religiões patchwork" (cujo edifício espiritual é


composto de elementos de diferentes tendências teístas).
Toda cultura conhece formas de concepção religiosa, por
mais distintas que sejam daquilo que o Ocidente considera
religião. O jornalista Ulrich Schnabel, redator de ciência do
semanário Die Zeit, defende a tese que a religião é uma
predisposição humana original. Em seu livro Die Vermessung des
Glaubens (A medição da fé), lançado recentemente, ele tenta
compilar tudo o que se sabe sobre o tema, do ponto de vista
científico. Entre outras tendências, ocupa-se do ramo da
neuroteologia.
"Segundo todos os dados de que se dispõe, a crença
religiosa tem acompanhado a humanidade desde o princípio.
Certos biólogos evolucionistas afirmam ser a fé a única
característica que realmente nos distingue dos animais. Pois
todas as habilidades, como linguagem, cultura e emprego de
ferramentas, se encontram também em forma rudimentar entre
os animais. Apenas a fé religiosa não é observada em nenhuma
outra espécie, é exclusiva do homem."

COMO NO FUTEBOL
Capa do livro de Ulrich SchnabelO homem é, portanto,
religioso por natureza. Entenda-se aqui "por natureza"
realmente no sentido antropológico, e não genético. Schnabel
considera total disparate o "gene de
Deus", que o biólogo molecular norte-
americano Dean Hamer pretende haver
descoberto já há alguns anos.
"Entretanto está provado existir uma
bem definida disposição genética geral
para a fé. Simplificando bastante: quem tem pai pastor tenderá
antes a procurar um sistema religioso do que alguém em cujo lar
a religião não representa qualquer papel."
Se a fé é humana, de uma maneira ou de outra, não há
realmente como se decidir contra ou a favor; a questão é apenas
NEUROTEOLOGIA 73

como esta predisposição se expressa em cada indivíduo.


Schnabel encontra resquícios dela mesmo nos mais ferrenhos
críticos da religião, como Christopher Hitchens ou Richard
Dawkins.
Para ele, a grande discussão sobre o assunto em todos os
níveis, até o da "luta das culturas", fundamenta-se justamente
em crenças, ou seja, em posições pessoais, defendidas com
veemência mas sem base real em dados empíricos. "E tenho a
sensação de que esta discussão tem se realizado num nível bem
baixo", recrimina o jornalista.
Hooligans em DresdenO sentimento religioso certamente
traz sempre consigo a ameaça da mentalidade tacanha, a qual
pode levar ao fundamentalismo. Mas aqui Schnabel traça um
paralelo com outro fenômeno, bastante
determinante em nossa época. "No
futebol, dá-se exatamente o mesmo. Ele
é também forte amalgamador em nossa
sociedade, e também aqui há o perigo de
a coisa desandar, ou dos hooligans, que
abusam dessa qualidade. Creio que forças tão poderosas, que
tocam as pessoas tão fundo, jamais são apenas positivas, mas
sempre as duas coisas, e é preciso ter isso em mente."

FÉ E REPRODUÇÃO
Peregrinos na LituâniaEm sua "Medição da fé", o jornalista
científico traça um quadro bem
completo das descobertas da pesquisa
teológica, e inquire quanto à sua
plausibilidade. Além disso, ele reúne
respostas bastante contraditórias sobre
o efeito medicinal da fé, ou se ela é
capaz de tornar os seres humanos mais
felizes.
Schnabel menciona ainda as incertas constatações da
neurociência em relação à meditação, e busca a influência da fé
NEUROTEOLOGIA 74

nos campos social e demográfico. E aqui se registra um efeito


pouco espetacular, porém mensurável, da religião: em todo o
mundo, as pessoas religiosas têm, em média, mais filhos do que
as que não se consideram religiosas.
NEUROTEOLOGIA 75

Capítulo 12

PROGRAMADO PARA A FÉ

Imagens do cérebro, obtidas durante sessões de preces e


meditação, ajudam a neurologia a desvendar os mistérios que
cercam os fenômenos espirituais e indicam que há uma base
biológica para a crença humana

No início, é só uma sensação de crescente tranqüilidade.


Pequenos incômodos ambientais, como o zumbido de um
mosquito ou a elevação da temperatura, deixam de ser
obstáculos à concentração. A ansiedade cede lugar à observação
serena da vida, a uma paz indefinível. Então, numa súbita e
indelével onda tem-se a impressão de que o corpo e a própria
individualidade se dissolveram. Não existe mais limite entre o
indivíduo e o resto do mundo, não há tempo nem espaço. Uma
"iluminação" repentina parece esclarecer todas as coisas.
Você já experimentou ou deve conhecer alguém que
passou por uma experiência semelhante. Delírio? Viagem?
NEUROTEOLOGIA 76

Mergulho numa outra dimensão? O Dalai Lama diz que já


passou por isso (e, muito à vontade, repete a dose diariamente).
No século XII, São Francisco de Assis, o santo do mundo natural,
experimentou as mesmas sensações. Chico Xavier, o médium
brasileiro que morreu no dia 30 de junho, conhecia o fenômeno
desde criancinha. Na verdade, não existe uma única religião no
planeta sem casos do gênero para narrar. Mas, afinal, o que é
esse estado alterado de consciência tão constante em todos os
credos? A resposta pode estar no seu cérebro. Pelo menos,
segundo a mais recente tentativa da ciência para explicar a
origem das experiências místicas que une a neurologia com a
teologia: a neuroteologia.
O estudo das experiências religiosas não é novo. Mas quase
nunca a ciência levou a sério esse tipo de pesquisa. A psiquiatria
e a psicologia do início do século XX incluíram a experiência
mística dentro do rol de doenças mentais. "Apesar da sua
importância na vida das pessoas, a religião sempre foi tratada
com indiferença ou apatia pela maioria dos psicólogos e
neurocientistas", diz David Wulff, psicólogo e professor do
Wheaton College, em Massachusetts, Estados Unidos. Com a
neuroteologia, isso está mudando. A partir de imagens obtidas
por tomógrafos que detectam quais áreas do cérebro são
ativadas em diferentes atividades, pesquisadores procuram
agora entender o complexo relacionamento entre
espiritualidade e cérebro, lançando as bases do que vem sendo
considerada uma biologia da fé.
Não se trata de conversão dos céticos cientistas às crenças
milenares. Eles continuam exigentes como antes na busca de
provas que possam ser confirmadas em experiências realizadas
por laboratórios. A diferença está nas novas técnicas de
investigação e na importância crescente atribuída a esse tipo de
pesquisa. Para isso, certos cientistas não têm hesitado sequer
em se transformar em cobaias de seus próprios estudos. Eles se
submetem ao fenômeno da consciência alterada durante transes
naturais ou provocados, a fim de avaliarem nas entranhas a
NEUROTEOLOGIA 77

sensação de estar fora do espaço e do tempo relatada pelos


religiosos. E, ao retornarem à normalidade, quase sempre
trazem consigo alguma descoberta.
Nessas ocasiões, é comum um místico afirmar que se
encontra na presença de Deus ou de uma entidade espiritual.
Um cientista pode ter uma resposta diferente, como ocorreu
com o neurologista americano James Austin quando
experimentou, há 20 anos, uma sensação semelhante à descrita
no início desta reportagem. Austin apreciava o rio Tâmisa fluir
enquanto esperava um metrô em Londres quando tudo
aconteceu: o senso de individualidade desapareceu e ele sentiu-
se unido aos edifícios, ao rio e às nuvens, em meio a uma
sensação de eternidade. Foram segundos infindáveis de
deslumbramento. "Todos os meus receios, inclusive o medo da
morte, desapareceram.
Eu havia alcançado a compreensão da natureza última das
coisas", revelou Austin, há três anos, no livro Zen and the Brain
(O Zen e o cérebro), publicado pelo Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, o MIT, e ainda não traduzido para o português.
Para o neurologista, no entanto, o extraordinário fenômeno não
foi uma prova da existência de Deus. "Foi uma prova da
existência do cérebro", diz o pesquisador.
O estudo de Austin tem o mérito de ser um dos pioneiros
na nova vertente de pesquisas dos eventos místicos, mas está
longe de encerrar o assunto. De lá para cá, várias outras
experiências foram realizadas por cientistas de universidades
renomadas, como Harvard e Columbia, culminando com uma
incursão inédita no território cerebral realizada por dois
pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, também nos
Estados Unidos: o radiologista Andrew Newberg e o psiquiatra
Eugene d’Aquili, falecido há dois anos. Os dados da pesquisa
estão no livro Why God Won’t Go Away (Por que Deus não vai
embora, ainda sem tradução no Brasil) e confirmam o avanço do
estudo dos fenômenos místicos em relação às técnicas
tradicionais. Antes, podia-se apenas medir a alteração das ondas
NEUROTEOLOGIA 78

cerebrais – de beta para alfa – durante as experiências


contemplativas, mas não se sabia por que a mudança ocorria
nem que áreas do cérebro eram responsáveis por isso.
Newberg e D’Aquili avaliaram o desempenho cerebral de oito
praticantes budistas, durante sessões de meditação, e o de um
grupo de freiras franciscanas, enquanto elas rezavam
fervorosamente durante 45 minutos. A maior novidade emergiu
das imagens do lobo parietal superior, a área do cérebro
localizada na parte de trás do crânio. Constatou-se que, no
transcorrer das meditações, a atividade nessa região diminuía
gradualmente até ficar praticamente bloqueada no momento de
pico, aquele em que o meditador experimenta a sensação de
iluminação religiosa. Justamente a mesma área do cérebro que,
em estado normal, proporciona ao homem o senso de
orientação no espaço e no tempo, bem como a diferenciação
entre o indivíduo e os demais seres e coisas.
É como se, privados de impulsos elétricos, os neurônios do lobo
parietal desligassem os mecanismos das funções visuais e
motoras do organismo. Quando a experiência foi repetida com
as franciscanas – cujas rezas enfatizam mais palavras que
imagens – registrou-se uma excitação da região associada à
linguagem, na base do lobo parietal, mas elas também tiveram
os impulsos da área de orientação bloqueados ao atingirem o
êxtase.
O que os budistas e as freiras sentiram não é resultado de
auto-sugestão ou de uma doença mental, asseguram os
pesquisadores. É algo real, baseado em eventos biológicos. "O
sentimento de unicidade parece paralisar os receptores
sensórios da região parietal", diz Newberg. Com isso, o cérebro
fica impossibilitado de traçar fronteiras e percebe o "eu" como
um ente expandido, ilimitado e unido a todas as coisas. A
sensação de unicidade, porém, é apenas uma – talvez a mais
marcante – das impressões causadas pelas experiências místicas
profundas. Os êxtases incluem, ainda, uma intensa alteração
NEUROTEOLOGIA 79

emocional com expressões de alegria e pavor. E, nesse aspecto,


as imagens do cérebro trazem mais revelações.
As imagens dos lobos temporais, onde repousa o chamado
"cérebro emocional" ou sistema límbico, mostram uma atividade
redobrada dessas áreas durante as experiências contemplativas,
o que ajuda a explicar as marcas deixadas por tais eventos na
personalidade das pessoas. Formado numa etapa remota da
evolução, quando surgiram os répteis, o sistema límbico está
associado às emoções e reações instintivas. Nos humanos esses
impulsos estão integrados a funções cognitivas superiores
produzindo assim uma complexa experiência emocional. Cabe ao
sistema límbico monitorar nossas vivências, atribuindo a cada
uma delas um valor sentimental, o traço emotivo que permanece
na memória e, não raro, pode ser a causa de fortes mudanças de
atitude.
Você certamente já ouviu falar de alguém que mudou
radicalmente os hábitos e o modo de ver a vida depois de
escapar ileso de um acidente ou após ser alvo de uma
demonstração extrema de amor num momento de dificuldade.
Em escalas diferentes, eu e você certamente já fomos
protagonistas de cenas do gênero, nas quais o sistema límbico
assume o papel de diretor da peça. Na história das religiões
eventos como esse são freqüentes. O judeu Saulo, por exemplo,
comandava uma blitz policial para prender líderes cristãos no
século I, quando teria experimentado um transe durante o qual
viu o próprio Cristo propor-lhe uma nova vida. Depois disso,
convertido, tornou-se o apóstolo Paulo, o grande responsável
pela propagação do Cristianismo.
Sabe-se agora que uma intensa atividade elétrica nos lobos
temporais pode levar alguém ao êxtase místico, o que faz com
que alguns pesquisadores associem uma conexão entre o
fenômeno religioso e o ataque de epilepsia, quando idêntica
atividade dos lobos é registrada. Não há nada conclusivo sobre
tal hipótese, mas uma engenhoca concebida para testá-la – um
capacete que emite descargas elétricas, inventado por Michael
NEUROTEOLOGIA 80

Persinger, da Universidade Laurentian, em Sudbury, Canadá –


confirmou que estímulos elétricos na base do sistema límbico
podem provocar alucinações, a sensação de estar fora do corpo e
o senso do divino. Ao estimular a mesma área, durante cirurgias
no cérebro, alguns pacientes também relataram sentimentos
religiosos.
A influência decisiva do "cérebro emocional" nos eventos
místicos, diz Newberg, pode esclarecer, ainda, por que os rituais
são uma prática tão importante nas religiões. Os movimentos
estilizados e repetitivos, os símbolos como a cruz e as imagens
sagradas e os cânticos usados nas cerimônias religiosas as
diferenciam das ações cotidianas e, desse modo, ajudariam o
cérebro a percebê-los como eventos mais significativos. Esses
acessórios ativam o sistema límbico, ora produzindo alegria e
harmonia, ora tensão e medo, facilitando a transição para os
estados alterados de consciência.
E as experiências transcendentais não estariam restritas
aos círculos de iniciados, mas são comuns mesmo entre as
pessoas que não são religiosas. Na década passada, uma
pesquisa do Instituto Gallup apurou que 53% dos americanos
adultos admitiam já ter vivenciado um momento de súbito
despertar espiritual ou insight, um lampejo intuitivo. Os relatos
dessas experiências aumentavam com a idade, a educação e a
renda das pessoas ouvidas. Apesar de não existirem dados
precisos sobre o assunto no Brasil, seria razoável admitir que
uma sondagem do gênero poderia registrar percentuais ainda
maiores que os da pesquisa americana, se considerarmos que a
crença em Deus é compartilhada por 99% da população, segundo
apurou o Instituto Vox Populi no semestre passado – e o país é
um celeiro mundial de religiões mediúnicas.
Os pesquisadores acreditam que não existe um só homem
com as funções cerebrais em dia que não tenha experimentado
um estado de êxtase semelhante aos dos místicos. Lembra
aquele grito de gol que você deixou sair no meio da torcida
organizada do seu time? Pois é, aquela impressão de que o
NEUROTEOLOGIA 81

tempo parou e você ficou maior que o estádio, enquanto


berrava? É a mesma que, desde o início deste texto, estamos
chamando de sensação de unicidade. E aquele arrepio que
tomou conta de você ao cantar o hino nacional naquela
passeata? Até quando você dança ou ouve um discurso
empolgante – enfim, quando está diante de algum recurso que
desperte o sistema límbico – é possível sentir, pelo menos
parcialmente, o que os místicos costumam vivenciar quando
buscam Deus.
Newberg e D’Aquili estudaram essas variantes e concluíram
que isso acontece com pessoas absolutamente saudáveis. Os
portadores de psicoses, como os esquizofrênicos, podem até
entrar em transe, ter visões e ouvir vozes. Mas, nesse caso,
segundo os pesquisadores, o fenômeno, relacionado a processos
obsessivos, é repetitivo e torturante e não espontâneo e criativo
como ocorre nas experiências místicas. Robert Formam,
especialista em religiões comparadas do Hunter College de Nova
York, diz que os indivíduos que passaram por uma experiência
mística se mostram mais abertos a inovações e apresentam um
grau maior de tolerância com a ambigüidade e a incerteza. Em
compensação, diz o psicólogo David Wullf, eles também teriam
mais dificuldade em distinguir o que é imaginação do que é real.
OK. Depois de tudo o que foi escrito, podemos então dizer que o
funcionamento do cérebro explica todas as sensações que, ao
longo de milênios, o homem tem atribuído aos deuses e a outras
forças imponderáveis? Não é bem assim. No fundo, a polêmica
continua. O que mudou foram os novos argumentos trazidos
pela neuroteologia.
Proponha-se a questão a um neurofisiologista
convencional, como o professor Luis Eugênio Mello, da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e a resposta virá,
taxativa: "As experiências místicas têm relação direta com o
efeito placebo, que pode ser gerado por condicionamento ou por
expectativa. O fato de se acreditar que alguma coisa vai
acontecer acaba gerando conseqüências sobre as reações
NEUROTEOLOGIA 82

fisiológicas". Luis Eugênio não aceita a hipótese de que o cérebro


foi "meticulosamente preparado" para a experiência
transcendental, como acredita Newberg, e acha que se temos
essa predisposição à fé ela surgiu "por acaso", usando áreas
relevantes para outros processos neurais. Idéia semel hante têm
ateus e materialistas, para os quais o denominador comum de
todos aqueles fenômenos é o cérebro e nada mais.
"Não podemos dizer que eles estão errados", afirma
Newberg. "Nem que estão errados os que acreditam na
existência de algum tipo de interação do cérebro com algo
divino." O único consenso, por enquanto, é que todas as nossas
experiências, sejam as da realidade concreta sejam as místicas,
ocorrem em nossa estrutura cerebral. A neuroteologia, no
entanto, levanta suspeitas sobre o que poderia ser uma
dimensão da consciência além dos lobos e feixes de neurônios, a
partir da constatação de que a consciência persiste quando o
indivíduo perde a noção do "eu" e os sentidos deixam de
funcionar.
O fato de as experiências espirituais estarem associadas à
atividade dos neurônios não quer dizer, necessariamente, que
tais experiências são meras ilusões neurológicas, segundo
Newberg, mas certamente que a engrenagem cerebral possui um
mecanismo para a transcendência. "A questão central é
determinar se a atividade neurológica associada à experiência
espiritual significa que o cérebro é a causa dessa experiência ou
se, em vez isso, está percebendo uma realidade além do corpo",
acrescenta o cientista. Até que se alcance um consenso, só a fé,
seja numa teoria científica seja num dogma, será capaz de
responder se Deus é uma criação do nosso cérebro ou se o nosso
cérebro foi criado por Deus.
O cérebro de uma freira se altera quando ela se concentra
em uma oração
NEUROTEOLOGIA 83

Na década passada, uma pesquisa do Instituto Gallup


revelou que 53% dos americanos de diversas religiões já
vivenciaram um momento de súbito despertar espiritual
Ninguém precisa ser religioso para ter uma experiência
transcendental
Há 50 000 anos, os neardentais que vagaram entre a África,
a Ásia e a Europa, tornaram-se as primeiras criaturas a sepultar
seus mortos com cerimônia. Junto com os corpos, eles
enterraram ferramentas, armas, roupas e outros suprimentos
que deixaram para a posteridade uma dúvida: teriam os nossos
primos da Idade da Pedra equipado os defuntos com utensílios
por acharem que, além do túmulo, eles continuariam a viver?
É significativo que tais esboços de prática religiosa, os mais
antigos de que se tem notícia na história, estejam associados a
esse grupo. Segundo Andrew Newberg, em seu estudo sobre o
"circuito espiritual" do cérebro, eles foram os primeiros a possuir
uma estrutura cerebral suficientemente poderosa para
compreender a morte, dotada de um lobo parietal semelhante
ao nosso, e, portanto, habilitada a processar as construções
mitológicas. Em resumo: sabiam diferenciar a vida da morte e
transcender a essa com a crença na imortalidade. Milhões de
anos antes, outro ancestral humano, o Australopithecus,
também chegou a exibir um lobo parietal desenvolvido mas, ao
que parece, jamais foi capaz de produzir algum tipo de cerimônia
elaborada. Faltava-lhe a estrutura neuronial necessária à
linguagem, outro detalhe fundamental no desenvolvimento dos
mitos.
Com o lobo parietal, possibilidades opostas – por exemplo,
vida-morte, existência do predador-não-existência do predador –
foram resolvidas por meio das mesmas funções cognitivas
usadas para perceber o mundo físico. Como conseqüência, isso
pode ter induzido a mente a transformar idéias em convicções e
possibilidades em crenças. Os mitos e a própria religião seriam,
dessa forma, quase uma conseqüência da evolução da nossa
NEUROTEOLOGIA 84

espécie. Isso explicaria, então, porque os mitos estão presentes


em todas as culturas humanas.
Pascal Boyer, professor da Universidade Washington, em
Saint Louis, Estados Unidos, é um dos poucos pesquisadores que
discordam dessa "inevitabilidade biológica" para a crença nos
mitos. No livro Religion Explained (A religião explicada, ainda não
traduzido para o português), Boyer diz que a suposta
universalidade de tais conceitos é apenas o efeito de uma
seleção aleatória. A experiência humana, afirma, teria gerado um
gigantesco arquivo de informações que o homem só conseguiu
preservar parcialmente, em meio a milhões de mensagens
perdidas, esquecidas, ignoradas, distorcidas e, algumas vezes,
inventadas por nada. Formou-se então, segundo Boyer, uma
sopa de representações e mensagens das quais só algumas
acabaram fixando-se no imaginário coletivo. Seria o caso de
alguns mitos religiosos.
Joseph Campbell, o renomado especialista em religiões
autor dos livros As Máscaras de Deus e O Poder do Mito, foi um
dos primeiros pesquisadores a destacar a universalidade de
algumas dessas narrativas. Virgens que concebem enviados
divinos, dilúvios, expulsões do paraíso, regiões celestes e
infernais, tentações demoníacas e ressurreições não seriam
exclusividade da Bíblia judaico-cristã. São argumentos
mitológicos que se repetem nas diversas tradições religiosas do
planeta e têm origem, segundo Campbell, em aspirações e
crenças comuns. Veja-se, por exemplo, o episódio da tentação de
Cristo. O Evangelho narra que Jesus retirou-se para orar no
deserto e ali, durante 40 dias, foi assediado por Satanás, disposto
a desviá-lo do seu propósito mediante a oferta de poder e
prazeres. Cristo sobreviveu ao cerco e retornou fortalecido para
cumprir sua missão. Cinco séculos antes, conforme a tradição
budista, o jovem príncipe Sidarta enfrentou provação
semelhante.
Ao exilar-se na floresta para meditar, durante 40 dias ele
combateu as insinuações do demônio Mara, obstinado em tirá-lo
NEUROTEOLOGIA 85

da sua busca. Sidarta resistiu e alcançou a meta da iluminação


espiritual, tornando-se Buda.
São igualmente universais certos elementos da ritualística
religiosa, como a música e os movimentos ritmados, importantes
na estimulação do sistema límbico que levariam ao estado de
transe. Durante a história, a humanidade experimentou transes
provocados pelo canto, pela dança ou por plantas alucinógenas.
Alguns pesquisadores dizem que a perda desse costume – ainda
preservado pelo espiritismo, os cultos afro-brasileiros, os
evangélicos pentecostais e os católicos carismáticos – pode ter
sido nociva ao homem.
"Trata-se de uma perda perigosa", diz o doutor em
Antropologia da Religião José Jorge de Carvalho, da Universidade
de Brasília. "As pessoas que praticam o transe formam uma
grande reserva de autocontrole. Muitas são capazes de enfrentar
situações de adversidade extrema sem se estressarem." A ênfase
dada à racionalidade na civilização moderna privilegia as
atividades do córtex cerebral mas, de acordo com José Jorge, o
córtex é eficiente para mapear e controlar o mundo externo, não
para lidar com o mundo interior, o mundo das emoções. "No
transe, o cérebro emocional é exercitado", diz José Jorge.
No passado, acredita Newberg, o sentimento e as práticas
místicas foram fundamentais para a própria sobrevivência e
evolução da humanidade, ainda que as religiões estejam
associadas aos conflitos mais sangrentos da civilização. Os rituais
ajudaram a reduzir a agressividade dos membros do grupo e a
estabelecer laços sociais fortes entre eles. Evitaram a dispersão e
facilitaram o esforço coletivo como nenhum outro recurso. "O
poder dos mitos está no fato de que seus símbolos e temas nos
conectam à parte mais essencial de nós mesmos de um modo
que a lógica e a razão, sozinhas, não conseguem fazer", diz
Newberg.
Os mitos seriam uma conseqüência natural da evolução
humana
NEUROTEOLOGIA 86

NA LIVRARIA
Why God Won't Go Away, Andrew Newberg e Eugene D'Aquili,
Ballantine Books, EUA, 2001
Religion Explained, Pascal Boyer, Basic Books, EUA, 2001
O Universo Autoconsiente, Amit Goswami, Rosa dos Tempos, Rio
de Janeiro, 2001
O Tao da Física, Fritjof Capra, Cultrix, São Paulo, 1999

NA INTERNET
www.andrewnewberg.com
www.innerworlds.50megs.com
NEUROTEOLOGIA 87

Capítulo 13

METANEUROLOGÍA

Visão espiritual do cérebro:


O estudo de crânios fósseis está acumulando revelações
surpreendentes sobre o cérebro de animais que viveram há
milhões de anos. Esta nova especialidade, neuropaleontología,
estudando pequenos sinais marcados no crânio desses animais.
A expansão do cérebro como o uso dominante da mão direita, a
melhoria da visão em detrimento do olfato, a capacidade de
produzir ferramentas e para o desenvolvimento das áreas de
linguagem, que se reflecte nas alterações crânio em
determinadas áreas que nós vemos mais tarde , milhares de anos
mais tarde.
Desde os anos setenta do século passado os cientistas
notaram que o cérebro poderia considerar exibindo mecanismos
biológicos. fenômenos complexos, tais como atenção, memória e
linguagem são analisados, agora, dos neurônios, sinapses,
neurotransmissores, redes neurais e sistemas modulares
comprometidos com essas funções. Foi criado e neurociência
cognitiva, cujo objetivo é revelar quais são os fenômenos
biológicos que ocorrem no cérebro que estão relacionadas a
determinados fenômenos psicológicos.
Por outro lado, analisando os comportamentos que
ocorrem em animais de diferentes níveis de desenvolvimento, os
pesquisadores criaram a psicologia evolucionista e quantificar a
participação dos genes ligados a estes comportamentos pode ser
desdobrada genética comportamental.
Progressos na neurociência está revelando a função
cerebral nunca suspeitou. Assim, até de espiritualidade, que se
NEUROTEOLOGIA 88

revela em muitos tons diferentes em cada um de nós, está a ser


estudada cientificamente. Neuroteologia foi identificar a
atividade do cérebro que se relaciona com esse tipo de
sentimento.
O cérebro funciona através da mobilização de multi-
funcional, integrado e organizado em um sistema hierárquico.
Um fenômeno simples como sentir o aperto de uma picada de
agulha é um lugar de anatomia em uma região do cérebro ligada
à sensibilidade à dor, mas o seu impacto psicológico movimentos
diferentes áreas. Por outro lado, as funções complexas como a
linguagem, matemática, escrita, memória e exigem decisões
desde o início, a integração das diversas regiões anatômicas,
cada um desses procedimentos pode recrutar caminhos
diferentes para a execução.
A interpretação de cada fenômenos cerebrais que
sabemos, ainda exige o raciocínio reducionista utilizado pelo
método científico. Em uma área particular do cérebro, que
motiva o nosso interesse, podemos estudar as rotas de entrada e
saída do seu eixo de fibras nervosas e estender sob o
microscópio para estudar neurônios. O neurônio, por sua vez,
revelará as suas membranas, receptores e desencadeia a sua
comunicação química com seus milhões de habitantes. A
composição química de neurotransmissores e é identificada em
dezenas de substâncias que contêm. Temos métodos
bioquímicos para identificar sua produção e distribuição em
regiões específicas do cérebro. Sabemos, por exemplo, onde
circulam serotonina, noradrenalina e dopamina em várias
regiões do cérebro.
No estudo de funções complexas para as quais já nos
referimos, também seguem o caminho inverso. Adicione funções
de diversas áreas na tentativa de entender toda a complexidade
que envolve o fenômeno. Memória e linguagem são bons
exemplos para exigir a nossa reflexão sobre a sua multiforme
apresentação. O que nos faz esquecer? Porque a criança como se
expande rapidamente seu vocabulário e adultos têm dificuldade
NEUROTEOLOGIA 89

em aprender uma segunda língua? Como podemos lembrar de


um rosto familiar em uma multidão?
As várias áreas da neurociência são, na verdade,
produzindo um enorme avanço na interpretação do cérebro e da
mente, entretanto, ainda está longe da fronteira final. Física e
consolidada com as teorias que funcionam muito bem em seu
papel de explicar o mundo físico. A relação de identidade entre
energia e matéria princípios unificados entre estas teorias.
Biologia e construiu a sua fundação, a descobrir o celular, a
evolução das espécies e DNA, mas a psicologia, fingindo estudar
a mente, mas produz apenas teorias provisórias e não certificada
como válida. Temos de reconhecer que ainda estamos longe de
ter uma teoria unificadora para explicar a mente.
Quando eu escrevi sobre o "corpo mental" Tenho a
intenção de trazer para a neurociência um estudo clínico, pode
introduzir um novo paradigma na compreensão da mente. Sem
qualquer presunção de que estou chamando este conhecimento
como metaneurología.

AS FUNÇÕES CEREBRAIS
Vamos considerar os mecanismos de que as funções do
cérebro já estão razoavelmente bem conhecidas:
"A visão de um objeto - a luz que reflete sobre o objeto é
projetada em nossos olhos sinalização neurônios da retina. De lá,
atravessa o estímulo nervoso com este vias anatômicas estimular
o córtex visual. Distribuído em superfícies concêntricas como as
camadas de uma cebola, os neurônios codificam em áreas
vizinhas, cada uma das características do objeto a ser exibido.
Assim, temos um lugar específico para ver a forma do objeto,
outro local para ver a sua cor e ainda um outro sentido ao
movimento. Este objeto pode ser, por exemplo, chamar a mão
de alguém. Depois disso, enfrentamos um grande enigma: como
o cérebro essa informação quebrado selo: a forma, cor e
movimento em um único objeto, juntamente com o seu
NEUROTEOLOGIA 90

significado, ou seja, o reconhecimento de um objeto que é


familiar ou não ?
"Vamos falar sobre a memória - todos sabem que temos
uma memória de curto prazo, que nos ajuda nas decisões
cotidianas. Qual é o meu compromisso hoje? O que acabei de
assistir na TV? Quando a minha mulher perguntou a que horas
eu lhe disse que iria voltar para casa? Nós também temos uma
longa memória. Quem são meus pais?, Onde eu nasci? e qual o
medicamento que eu uso para dor de cabeça?. Esta memória
pode ser recuperada em parte de um esforço. Nós nos
lembramos das cenas que vivemos na viagem de férias passado.
Às vezes, essa memória é traiçoeira e não vamos nos permite
lembrar o nome de um amigo. estudos sistemáticos sobre a
recuperação da memória confirmou que todos os fatos
memorizados história estão imbuídos de imaginação. Podemos
afirmar, também, que as pessoas não se lembram o que
aconteceu, de fato, lembrou do que pensamos que aconteceu.
Mente cientistas estão usando a "facção" para se referir a essa
mistura de realidade com a ficção. E a nossa memória é generosa
na criação que mistura explosiva.
"A língua falada - Em 1867, Paul Broca, confirmou que o
giro frontal inferior do hemisfério esquerdo está relacionado
com a emissão da língua falada e, alguns anos mais tarde, Carl
Wernick, compreensão da linguagem relacionadas a uma área
situada um pouco há, no lobo parietal esquerdo. De lá, com
adições de neurologistas eminentes como Pierre Marie, foi
definido um "anel", com estruturas sub-corticais e corticais
relacionadas à nossa capacidade de revelar os nossos
pensamentos, a língua falada e ser compreendido por aqueles
que nos ouvem. Após Noan trabalho Chronski, sabemos que o
bebê nasce com uma forma gramatical que o torna fácil de
aprender qualquer língua humana. O estímulo do ambiente ea
cultura de cada cidade é vocabulário acrescentando que se
instala na língua da criança da mãe.
NEUROTEOLOGIA 91

"A escrita - atividades motoras simples, como estender a


perna, pode ser realizada com o reflexo patelar, que envolve,
teoricamente, dois neurônios - um para estimular a reflexão e
outro para desenvolver a resposta. Segurando a mão e exige
uma certa dose de intencionalidade e digitando um texto,
implica a capacidade de criar uma idéia, jogando-o em um texto
com palavras, e utilizado um instrumento como a caneta ou o
computador para transcrever.
"O diálogo humano - uma conversa com um amigo que
acabou de chegar vai nos forçar a mudar uma série de idéias e
transmiti-los em palavras. Esse amigo pode perguntar: "Que
carro você dirige agora?" Eu quase que imediatamente
respondeu: "A Honda verde Cyvic". Daí a pouco, nós dois
ouvimos a voz de minha esposa fazer uma correcção - "o verde
da Honda foi o carro do ano passado, têm agora uma Honda
preta." Fui traído pela distração e falta de memória.
"Dreams - neurologia e esclarecemos os ritmos viajamos
durante o sono e alguns mecanismos químicos associados a ela.
Centros já foram identificados no hipotálamo que estimulam o
lobo frontal ficar acordado e núcleos de neurônios localizados na
ponte que nos leva a dormir. Sabemos também que, durante
alguns períodos de sono, os olhos se movem, revelando que
neste momento estamos sonhando. O sono eo sonho são
essenciais para nossa própria sobrevivência. Temos que ficar
mais tempo sem alimento do que sem dormir. O sonho está
intimamente ligada à consolidação da memória. Nosso Eva não
será lembrado, se não dormir e sonolento, alguns deles ligados
aos últimos momentos da festa que nos incentivou.

O ESTUDO DA MENTE
Grande parte da atividade cerebral é fácil de ser conhecida
e definida. Por exemplo, os reflexos são respostas para o sistema
nervoso produz, em reação a estímulos.
Os comportamentos podem ser reduzidos a um conjunto
de atitudes. A emoção é um estado de humor. Quando definimos
NEUROTEOLOGIA 92

a mente, não há termos e acordo entre os especialistas.


Classicamente, a mente é vista como um conjunto de funções
complexas, incluindo memória, percepção, linguagem,
consciência e emoção. De qualquer maneira, a mente é o
produto de uma complexa atividade do cérebro.

O CORPO MENTAL
Neurociência compreende que todos os fenômenos
psicológicos que há um substrato biológico é revelada na
atividade cerebral. despolarizar neurônios, circuitos que estão
organizados em redes, áreas do cérebro que se especializam em
movimento e as sensações e as regiões que compõem as funções
são agrupadas de memória de construção mais ou menos
complexas e escrever o idioma. A mente seria o resultado da
atividade cerebral inerente complexa. Sem o cérebro, não
haveria mente.
Minha proposta para o "corpo mental" é baseado em
evidências clínicas. exemplos neurológicos sugerem a existência
de um corpo composto, construídos e expressos os fenômenos
da mente. Com o "metaneurología" intenção de liquidar a idéia
de que possamos investigar e adicione, aos poucos, o
conhecimento da anatomia e da fisiologia do "corpo mental".
fragmento de Neurologia obtido várias funções do cérebro.
Sabemos, por exemplo, onde o cérebro decodifica as
características físicas de um objeto, mas não sabe como o
cérebro faz a integração dessas informações. Como o cérebro
integra nossas memórias para nos oferecer uma identidade única
e permanente? O "corpo mental" pode resolver todas estas
questões.
A investigação do que acontece em condições clínicas, tais
como a histeria, o sonambulismo em transe, na narcolepsia, no
fantasma, que nos permite acreditar na existência de uma
fisiologia específica do "corpo mental". Dessa forma,
consideramos que ele não aprisionar os limites do nosso corpo
físico não está restrita aos circuitos e os caminhos da anatomia
NEUROTEOLOGIA 93

do cérebro e viaja através de ambientes que transcendem a


realidade física que conhecemos.

CORPO FUNÇÕES MENTAIS


-Visão - O olho humano registra o pulso de luz que nos
permite identificar os objetos ao nosso redor. O "corpo mental"
não vê necessidade de luz. Ele assume as propriedades dos
objetos. Vamos considerar que estamos diante de uma moeda.
Com nossos olhos nós sabemos o seu tamanho, cor, forma,
talvez a sua origem e valor. Digamos que uma moeda é o tempo
do Império. Com o "corpo mental", independentemente da luz
que ilumina a moeda, vamos identificar, além das características
físicas relacionadas, podemos registrar todos os eventos
relacionados com esta moeda. A atmosfera de fabricação e as
mãos onde era negociada várias vezes. O "corpo mental" registra
os eventos físicos e psicológicos relacionados a ela.
O olho humano não é o instrumento da visão de "corpo mental".
Como ele sente a vibração dos corpos, os objetos são percebidos
em qualquer parte do "mental", por exemplo, as pontas dos
dedos tocando o objeto.
"A língua falada - a capacidade de falar, ler e escrever estão
intimamente relacionados. Para cada uma dessas funções, o
cérebro usa um conjunto de módulos que estão vinculados por
meio de associação. A criança ouvinte aprende a falar com as
pessoas ao redor aumentando gradualmente seu vocabulário.
Para ler e escrever, ele terá de absorver o significado dos
símbolos que representam coisas e idéias em palavras.
Há pacientes clínicos neurológicos didaticamente ilustram o
comportamento dessas funções. Nós podemos produzir lesões
incapacidade de reconhecer palavras - agnosia visual; a escrever
- agrafia; de ler - dislexia; para falar - afasia. No corpo mental
essas capacidades estão ligadas à percepção do conteúdo mental
das idéias, independentemente da forma como são expressas.
Vamos agora considerar que estamos diante de um livro.
Precisamos ler todo o seu conteúdo para saber o que é. Com o
NEUROTEOLOGIA 94

"corpo mental" que levou das ideias expressas no livro, os


eventos relacionados a ele e seu autor.
"A Memória - A média individual é capaz de memorizar
uma seqüência de sete números, a família mantém alguns
telefones, você conhece o endereço de alguns amigos, lembre-se
seus nomes e é capaz de relacionar o que ele fez nos últimos
dias. Quando histórias de eventos passados, como festas ou
reuniões com amigos, diz mais ou menos incompleta,
observando que alguns desses encontros foram mais acentuadas
e são consideradas inesquecíveis. Cada uma destas histórias,
quando confrontado com o testemunho dos outros, sempre tem
uma versão colorida de outros mais ou menos enfático. Desc reva
um baile tem muitas versões como o número de diplomados.
A memória de um computador nos permite abrir um texto já
escrito e revisado para corrigir ou acrescentar detalhes. A
memória do "corpo mental" nos permite abrir o cenário do
ambiente experimentado durante os eventos que presenciamos.
Ele nos permite reviver o passado e se você trouxer para o
presente. Vivendo uma chacrinha, podemos acrescentar
elementos que não tinha notado a primeira vez que aconteceu.
Um detetive poderia ver um assalto e, desta vez anote a placa do
carro que gira em vôo.
"Sonhos - O" corpo mental "não é um prisioneiro do corpo
físico durante o sono, é possível liberar parte mais ou menos. A
emancipação do "corpo mental", previsto pelo sonho coloca o
"corpo mental" na frente de outras realidades que ele descobre
que seu nível de conhecimento. Uma pessoa inexperiente
colocado na frente de um ambiente estranho notará muito
pouco do que você está testemunhando. Nenhuma experiência
seremos totalmente perdida na UTI (Unidade de Terapia
Intensiva) de um hospital, em meio a uma densa floresta na
direção de um avião ou no meio da multidão em um país
estrangeiro. E assim, essas experiências terão que ser notificados
após passar pelo filtro do cérebro físico. Às vezes, em situações
NEUROTEOLOGIA 95

especiais, conseguimos gravar uma cópia fiel da fixação de


eventos ao vivo sonhando com toda clareza.
"A mente - nós supor que a mente é uma entidade que
incorpora em uma estrutura organizada que chamamos de"
corpo mental ". Esse órgão tem existência extra-cerebral e
propriedades que diferem de função do cérebro conhecida.
Semiologia neurológica, analisando certas condições médicas,
podem revelar as características que confirmam claramente a
existência de "corpo mental". Podemos ver que a fisiologia do
"corpo mental" nos dá informações confiáveis que está além do
cérebro físico. Explorando suas memórias podem claramente
reviver o passado. Nós confirmamos que a sensibilidade é
afetada pela vibração das substâncias. Sua maneira de percepção
nos permite manter contato com o conteúdo e significado dos
objetos, mas com a forma e linguagem são processadas através
da transmissão de idéias
O "corpo mental" abre um novo paradigma para a
neurociência clínica.

(Dr. Nubor Orlando Facure (aposentado médico, escritor e


professor da Universidade de Campinas - São Paulo, Brasil)
NEUROTEOLOGIA 96
NEUROTEOLOGIA 97

Capítulo 14

PSICOLOGIA JUNGUIANA À LUZ DA NEUROCIÊNCIA

Carlos A. C. Harmath M. D.
Neuropsiquiatra. Analista membro
da ABPA e da IAAP. Ex-Professor
Titular de Fisiologia e Biofísica da
Universidade Estadual de Londrina.
Ex-Professor de Neurofisiologia da
Universidade Federal do Paraná.
A neurociência compreende um conjunto de metodologias
e técnicas utilizadas para estudar os múltiplos aspectos
estruturais e funcionais do Sistema Nervoso. Neuroanatomia,
Neurohistologia, Neurofisiologia, Psicofisiologia, Neurobiologia
Molecular, Neurogenética, Neuroetologia, Neurobiologia
computacional, Neurociência cognitiva, Neuroteologia etc. fazem
parte do conjunto das Neurociências. Todas se interagem na
NEUROTEOLOGIA 98

busca de compreender como o Cérebro cria a Atividade Mental e


os Comportamentos – isto é – como esses fenômenos resultam
da atividade cerebral (1).
Jung lançou as bases para a estruturação arquetípica da
natureza humana, campo hoje também investigado pela
neuroetologia, considerando que tanto a psique, como o corpo
humano, têm uma estrutura definida que compartilha a
continuidade filogenética com os demais filos do reino animal
(2).
Jung adiantou-se aos conhecimentos de sua época.
Enquanto a psicologia acadêmica e a própria psicanálise, em
parte, insistia que o repertório do comportamento humano era
infinitamente plástico, quase que completamente dependente
das vissitudes e ocorrências do ambiente e pouco influenciados
pelas estruturas inatas ou geneticamente predeterminadas, Jung
insistia no oposto – enfatizava a estruturação arquetípica do
comportamento humano (3). Para Jung o homem não luta para
se tornar uma totalidade, já nasce como uma totalidade que
buscará se desenvolver, realizar suas potencialidades na sua
interação com o ambiente, com o social e com o cultural (4). Na
visão de Jung, compete ao homem desenvolver esse todo, esse
potencial genético que se manifestará fenotipicamente a partir
das influências peristáticas (5). Em 1935, na Clínica Tavistock em
Londres, Jung dizia: “O cérebro nasce com uma estrutura
acabada, funcionará de maneira a inserir-se no mundo de hoje,
tendo, entretanto a sua história. Foi elaborado ao longo de
milhões de anos e representa a história da qual é o resultado.
Naturalmente traços de tal história estão presentes como em
todo o corpo, e se mergulharmos em direção à estrutura básica
da mente, por certo encontraremos traços de uma mente
arcaica (6) .” e no campo da neurofisiologia Paul D. MacLean
NEUROTEOLOGIA 99

aborda a análise da evolução funcional filogenética do cérebro,


da qual fala Jung, e propõe o modelo do cérebro triuno (7). Tanto
estruturalmente como na sua função o cérebro retrata a sua
longa evolução. Apresentando-se constituído por estruturas
características dos mamíferos mais evoluídos, que manifesta o
seu mais alto grau de complexidade e desenvolvimento no
homem. A seguir observam-se estruturas próprias dos
mamíferos mais primitivos e estruturas que compartilhamos com
os répteis. Esses três cérebros funcionam em uníssono, porém
não em harmonia. Os etologistas dizem que a emissão dos
comportamentos ambientalmente estáveis (invariantes) e
ambientalmente instáveis (variantes) depende do
funcionamento dos três subsistemas propostos por MacLean, e
que integram circuitos neurais presentes indistintamente nos
três cérebros. Similarmente ao que afirma Jung, MacLean
descreve: “Radicalmente diferentes na estrutura, na química e
evolutivamente separados por incontáveis gerações, as três
formações constituem uma hierarquia de três cérebros em um –
um cérebro triuno. Tal situação sugere que as funções
psicológicas e comportamentais estão sob a direção conjunta
de três diferentes mentalidades. Nos seres humanos
acrescenta-se a complicação das duas formações mais antigas
não disporem da possibilidade de comunicação verbal” (8). A
presença dessas estruturas neurais dá embasamento às
afirmações de Jung: “Não há nada que impeça de assumir que
certos arquétipos existam até mesmo nos animais, e que eles
(arquétipos) se fundam nas peculiaridades dos organismos
vivos e que, portanto expressam diretamente a vida, cuja
natureza não pode ser em maior profundidade explicada. Não
somente os arquétipos são aparentemente, as impressões
incontavelmente repetidas de experiências, mas ao mesmo
NEUROTEOLOGIA 100

tempo, comportam-se como agentes que promovem a


repetição dessas mesmas experiências” (9), e “ Mas existem
várias coisas na psique humana que não são aquisições
individuais, pois a mente humana não nasce tabula rasa, nem
sequer cada ser humano é dotado de um cérebro novo e único.
Ele nasce dotado de um cérebro que é o resultado do
desenvolvimento de incontáveis elos ancestrais. Esse cérebro é
produzido em cada embrião com toda a perfeição diferenciada,
e quando começa a funcionar, produzirá fielmente os mesmos
resultados que foram produzidos inumeráveis vezes ao longa da
linha ancestral. Toda a anatomia humana constitui um sistema
herdado idêntico em sua constituição aos ancestrais e que
funcionará da mesma maneira. Todos os fatores que foram
essenciais aos nossos antepassados, recentes ou remotos,
continuam essenciais para nós,estão embebidos no nosso
sistema orgânico hereditário(10).”
Ë inegável, como se vê nas citações acima, que Jung
considerava o cérebro como o órgão essencialmente ligado à
psique e valorizava a influência da genética. Antecipou -se à
moderna concepção de que a mente resulta de um complexo
processamento eletroquímico de informações pelas estruturas
neurais (11). Modernamente o cérebro é considerado um
sofisticado sistema hipercomplexo que processa e gera
informações como substrato das emoções, dos pensamentos, da
cognição, da criatividade e dos comportamentos. A mente é o
principal produto do funcionamento cerebral. É o resultado da
pressão evolutiva que como conceitua Max Delbrück (Premio
Nobel, um dos fundadores da moderna Biologia Molecular),
quando diz: “No contexto da evolução, a mente de um ser
humano adulto, o objeto de centenas de anos de estudos
filosóficos, cessa de ser um fenômeno misterioso, uma coisa em
NEUROTEOLOGIA 101

si. A mente passa a ser considerada como um processo


adaptativo em resposta às pressões adaptativas, como todos os
processos vitais” (12).
O grande erro de Descartes foi o de considerar a mente
como algo com vida própria, independente do corpo, o que
influenciou a psicologia acadêmica e o pensamento ocidental
durante séculos, constituindo um paradigma que só agora
começa a mudar (13), (14).
“O cérebro está organizado em processadores (sistemas
neurais) que funcionam de maneira independente (até certo
ponto). Uma vez que cada um desses sistemas tem tarefas
específicas, várias atividades podem ser executadas pelo
cérebro simultaneamente, isto é, esses sistemas trabalham em
paralelo. Essa arquitetura permite que você masque chicletes, e
caminhe pela rua, dirigindo-se a um destino sentindo-se feliz e
lembrando-se do numero do telefone que seu amigo lhe
forneceu na quadra anterior, tudo isso ao mesmo tempo em
que a sua postura é mantida ereta, sua pressão sangüínea é
mantida num nível adequado e a sua freqüência respiratória é
sincronizada pela necessidade de oxigênio exigido pelas
atividades em que está engajado nesse momento” (15). Para
executar todas as atividades necessárias à homeostasia e
interagir com o ambiente físico e social em que se encontra o
sistema nervoso processa dados captados pelos canais sensoriais
transformando-os em informações pertinentes à situação do
momento e ao estado mental, que também é o resultado de
processamento em outras redes neurais, e dessa complexa
atividade neural resulta o estado mental, as emoções, as atitudes
e os comportamentos.
Os elementos básicos constituintes dessas redes neurais
são os neurônios. Existem cerca de 100 bilhões de neurônios e
NEUROTEOLOGIA 102

uns 10 mil tipos de neurônios no cérebro humano. São células


excitáveis capazes de produzirem sinais elétricos e químicos,
verdadeiros bits, representando dados que permitem codificar
tudo que nos atinge tanto do meio externo quanto do meio
interno. Basicamente o neurônio apresenta o corpo celular do
qual emerge dois tipos de prolongamentos. Prolongamentos
múltiplos e ramificados, os dendritos que são especializados para
a recepção de sinais de entrada, e um prolongamento longo e
único o axônio, que veicula os sinais de saída. O axônio se
ramifica profusamente estabelecendo contato com os dendritos
ou com o corpo celular de outros neurônios e eventualmente
com outros axônios. A região onde ocorre esse contato é
denominada sinapse. A sinapse pode ser considerada como um
chip biológico (16), onde ocorrem as operações computacionais
efetuadas pelas redes neurais. Cada neurônio estabelece
contatos sinápticos com cerca de 10 mil outros neurônios, em
média. O total de sinapses ultrapassa 100 trilhões. As sinapses
são extremamente plásticas e participam ativamente na gênese
de todas as atividades mentais. “O desempenho da sinapse
equivale ao dos transistores nos computadores, com a
diferença de serem muito mais versáteis, permitindo uma vasta
gama de possibilidades em vez de simplesmente aberto -
fechado (17).” “As sinapses codificam quem você é (18). ” Nas
sinapses, onde as proteínas codificadas no genoma são
moduladas durante o processamento de sinais, é que se
estabelecem elos entre a atividade eletroquímica da membrana
neuronal e o código genético. Forma-se assim uma conexão
entre o meio ambiente e os genes – uma alça química
informacional entre o ambiente e os genes estabelecendo a
ocorrência da expressividade gênica (19), (20).
NEUROTEOLOGIA 103

O desenvolvimento e estruturação das conexões sinápticas


dependem em parte do código genético e em parte dos eventos
vivenciais de cada individuo. Pode-se postular que o conjunto de
circuitos e sinapses predominantemente programados pelo
código genético sirva de suporte para os arquétipos enquanto
que os circuitos e sinapses formados durante o
desenvolvimento ontogenético constituem o suporte para os
complexos que se formam ao redor dos núcleos arquetípicos.
Os genes contêm as informações necessárias para, em sinergia
com o ambiente químico intra-uterino, estabelecer a
estruturação da circuitaria básica (21), constituindo o que Jung
denominou sistemas básicos de ação – “Os arquétipos
constituem sistemas de prontidão para a ação e constituem ao
mesmo tempo imagens e emoções. São herdados juntamente
com a estrutura do cérebro – constituem na verdade o aspecto
psíquico dessa estrutura (22)”.
NEUROTEOLOGIA 104
NEUROTEOLOGIA 105

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

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neurociências para psicólogos e psiquiatras. No prelo
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3. Stevens, A.: Archetype a Natural History of the Self.
Routledge & Kegan Paul. 1982. Page21.
4. Hall, C. S. e Nordby, V. J.: Introdução à Psicologia
Junguiana. Editora Cultrix 1980, pagina 25.
5. Hall, C. S. e Nordby, V. J.: Introdução à Psicologia
Junguiana. Editora Cultrix 1980, pagina 26.
6. Jung, C. G.: Collected Works. Vol XVIII. Parágrafo 84,
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7. MacLean, P. D.: A Triune Concept of Brain and
Behavior. University of Toronto Press. 1969.
8. MacLean, P. D.: In Primate Brain Evolution. Edited by E.
Armstrong and D. Falk, Plenum Press 1982. On the
origin and progressive evolution of the triune brain.
Pages 291-316.
9. Jung C. G.: Collected Works. Vol VII. The Personal and
the Collective Unconscious. Pages 43-44. Pargraph 109.
10. Jung, C. G.: Analytical Psychology and
Weltanschaung. Page 371 and 372. Paragraph 717 and
718).
11. Bownds, M. D.: The Biology of Mind – Origins and
Structures of Mind, Brain, and Consciousness.
Fitzgerald Science Press. 1999.)
12. Delbrück, M.: Mind from Matter? Blackwell Scientific
Publications.1986.
13. Goldberg, E. The Executive Brain – Frontal Lobes and
the Civilized Mind. Oxford University Press. 2001.
NEUROTEOLOGIA 106

14. Damásio, A. R.: Descartes’ Error Emotion, Reason,


and the Human Brain. G. P. Putnam’s Sons. 1994.
15. LeDoux, J.: Synaptic Self. Viking Press 2002
16. Lent, R.: Cem bilhões de neurônios. Conceitos
Fundamentais de Neurociência. Atheneu. 2002
17. Harmath, C.: Mente – Cérebro: noções básicas de
neurociências para psicólogos e psiquiatras. No prelo
18. LeDoux, J.: Synaptic Self. Viking Press 2002.
19. Siegfried, T. The Bit and the Pendulum – from
quantum computing to M theory. The New Physics of
Information. J. Wiley. 2000.
20. Black, I.: Information in the Brain. MIT Press. 1991
21. Harmath, C.: Neurociências, Psicanálise e Psicologia
Analítica 1990. Trabalho de conclusão apresentado à
SBPA, não publicado.
22. Jung, C. G.: Collected Works: Vol X, Mind and Earth.
Page31, paragraph 53.
NEUROTEOLOGIA 107

Capítulo 15

FILOSOFIA DA MENTE

Mariluze Ferreira de Andrade e Silva (Orientadora)

Dentre as discussões abordadas na Filosofia da Mente


contemporânea, nota-se, nas últimas décadas, um interesse
crescente pelo debates concernentes à noção de consciência.
Discute-se, sobretudo, com o avanço dos programas de pesquisa
advindos da Neurociência e da Inteligência Artificial, a
possibilidade de inserção dos estudos sobre a mente consciente
no campo do saber científico. No entanto, as teorias que
habitam a área da Filosofia da Mente parecem estar longe de
chegar a um consenso quanto ao tema em questão. Afinal de
contas, até que ponto poderia fornecer uma explicação científica
para o domínio consciente dos estados mentais?Em termos mais
precisos, estaríamos confinados a conceber a consciência como
uma propriedade irredutivelmente subjetiva, não-analisável,
indecomponível (não relacional), que faz com que os estados de
consciência sejam, de maneira privilegiada, acessíveis apenas
para o próprio sujeito, do ponto de vista da primeira pessoa? Ou
estaríamos diante de um fenômeno que pode ser objetivado,
NEUROTEOLOGIA 108

passível de receber uma definição e uma explicação causal,


necessariamente formulada na terceira pessoa?

INTRODUÇÃO
O conceito de consciente que usamos hoje nasceu com o
"pai" da psicanálise, o austríaco Sigmund Freud. Sendo que em
sua primeira descrição apresentou o nosso aparelho psíquico em
três instâncias (níveis): o inconsciente, o subconsciente e o
consciente.
O consciente é a parte do nosso aparelho psíquico que tem
a noção da realidade do nosso meio ambiente imediato. É a zona
responsável pelo contato com o mundo exterior.
Ao consciente corresponde a zona da razão conhecida através da
introspecção (descrição das próprias experiências ou padrões de
comportamento).
No passado, acreditava-se que, em alguma parte do corpo,
havia uma substância responsável pela formação da consciência.
Essa idéia "queimava os neurônios" dos pensadores gregos da
antiguidade, os quais achavam que a mente e a consciência
tinham assento nos pulmões, sendo o ar o elemento responsável
pela sua produção.
Mesmo quando os conceitos se modificaram em meados
do sexto século A.C., e o cérebro passou a ser reconhecido como
o centro das atividades mentais, ainda assim persistiu a idéia da
existência de uma substância determinante dessas atividades, a
responsabilidade tendo sido transferida para o líquido céfalo-
raquiano.
Aliada a essa concepção, surgiu outra indagação: Existe um
"centro cerebral da consciência"?
No século XVII, por assim pensar ou talvez por receio das
poderosas pressões teológicas da época, René Descartes
enunciou estar à mente assentada na glândula pineal e que,
através dela, a "alma" (uma espécie de etéreo consciente
superior, mais tarde representada, metaforicamente, por um
homúnculo – símbolo herdado dos teólogos medievais), se
NEUROTEOLOGIA 109

comunicava com o soma. Assim, "alma" e mente (e, por


inferência, a consciência) se dissociavam do cérebro e do corpo.
Estava criado o dualismo. Três séculos depois, Daniel Dennett,
em seu livro "Consciousness Explained", ao se referir à teoria de
Descartes como sendo "O Teatro Cartesiano", contestaria, com
veemência, a sua validade.
Mas as tentativas para "localizar" a consciência
prosseguiram: Ao constatar que pacientes com a síndrome do
"split-brain" (cada um dos hemisférios cerebrais funciona
separadamente), ainda assim se identificavam como uma única
pessoa, Derek Parfit concluiu que isto só poderia ser explicado
pela existência de uma "região executiva da consciência", para
onde convergiriam todas as informações geradas no cérebro.
Recentemente, Joseph Bogen situou o mecanismo de formação
da consciência (não ela em si) no núcleo intralaminar do tálamo.
Conquanto tais estudos sejam relevantes, tudo indica que a
consciência não está circunscrita a essa ou aquela área, mas se
espalha, difusamente, pelo cérebro, em consonância com uma
de suas principais características: ser, simultaneamente, uni
temporal e múltiplo espacial.

TEORIAS DA CONSCIÊNCIA
Poderíamos neste momento de nossa pesquisa e na
intenção de criar um vasto liame conceitual, discorrer a respeito
de uma série de postulados á respeito de “Teorias” que dizem
respeito à consciência em sua formação, conteúdo e outras
abordagens.
Mais nos ateremos em apenas dois postulados que tenham
mais consonância com a pesquisa em Filosofia da Mente e com o
módulo de estudo em questão. A razão desta teorização através
de mais autores intenta enriquecer a discussão sobre a
consciência, para posteriormente estarmos seguramente
fundamentados para discussão sobre consciência primária e
consciência elaborada e suas implicações.
NEUROTEOLOGIA 110

Discutiremos então a Teoria Subjetivista de John Searle e a


Teoria Reducionista de Daniel Dennet, o que em muito
enriquecerá nossa pesquisa.
Temos uma teoria subjetivista da consciência, defendida
por John Searle, que se apóia na idéia de que os nossos estados
de consciência (experiências sensoriais, pensamentos, etc.) são
estados intrinsecamente subjetivos e, portanto, quanto a esse
aspecto, irredutíveis a qualquer definição e explicação de caráter
científico, cuja formulação estaria ancorada no ponto de vista da
terceira pessoa. Presume-se, na abordagem proposta por Searle,
que os referidos estados de consciência – enquanto estados
irredutivelmente subjetivos – somente possam ser revelados
para o próprio sujeito, do ponto de vista da primeira pessoa.
Outra teoria que consideraremos é a de Daniel Dennett,
que apoiado em programas de pesquisa em Neurociência e em
Inteligência Artificial, irá adotar uma teoria reducionista da
consciência, que busca, do ponto de vista da terceira pessoa,
analisar a estrutura da mente consciente em termos funcionais,
ou seja, tal teoria caracteriza-se pelas tentativas de definir e
explicar os estados e processos mentais conscientes em termos
de uma atividade funcional específica (não necessariamente
exercida pelo cérebro enquanto um órgão biológico), que
envolva, por exemplo, a capacidade de um sistema de receber
estímulos ambientais, processar um conjunto de informações e
exercer uma resposta comportamental para qual seja requerida
algum nível de inteligência. Para Dennett, nosso cérebro pode
ser comparado a uma espécie de computador e a consciência –
enquanto uma propriedade funcional – a certo tipo de software,
uma “máquina virtual” em nosso cérebro. Enquanto Dennett
empenha-se em mostrar que a consciência é um fenômeno de
terceira pessoa e, por isso mesmo, passível de ser analisado
cientificamente, Searle chamaria nossa atenção para a
irredutibilidade do “caráter subjetivo” intrínseco à experiência
consciente, acessível apenas do ponto de vista da primeira
pessoa. Tal “caráter subjetivo” (denominado de qualia – termo
NEUROTEOLOGIA 111

em latim para designar as qualidades fenomenológicas de nossa


experiência consciente, tais como, perceber o vermelho, sentir o
sabor do amargo, ouvir um ruído barulhento, etc.) torna-se, para
Searle, o aspecto essencial de nossos estados de consciência.
Searle acusa Daniel Dennett de negar, em sua teoria
funcionalista da consciência, a existência de fenômenos como os
qualia, isto é, de negar a existência de experiências subj etivas,
fenômenos de primeira pessoa, e assim por diante. Searle é
categórico em afirmar que: “O problema da consciência, tanto na
filosofia quanto nas ciências naturais, consiste em explicar tais
sentimentos subjetivos” (p. 118). Mas, como superar o desafio
de explicar tais “sentimentos subjetivos”? Conceber
propriedades subjetivas em termos de “propriedades
intrínsecas” significa concebê-las em termos de propriedades
não-relacionais, o que pode sugerir, em princípio, a idéia um
tanto quanto inadequada em ciência de que uma coisa possa ser
explicada em seus próprios termos (ou em si mesma).
Para pensar a consciência, Dennett parte de uma ontologia
extrinsecalista ou funcional, apoiando-se na tese de que não há
algo como “propriedades intrínsecas”.
A concepção de Dennett pressupõe a idéia de que as
propriedades de uma coisa são “propriedades extrínsecas”
(analisáveis, decomponíveis, relacionais, etc.). Em uma teoria
extrinsecalista, a propriedade de uma coisa não é aquilo que está
intrinsecamente presente na coisa, enquanto uma “essência
real”, mas sim, aquilo que possibilita a descrição (identificação,
classificação, quantificação, etc.) da coisa. Dennett propõe, em
sua teoria funcionalista da consciência, que a propriedade de
“ser consciente” possa ser pensada como uma propriedade
extrínseca (ou funcional), passível de definição e explicação
causal, possibilitando, então, que determinados estados e
processos exercidos pelo cérebro (ou mesmo por algum outro
sistema capaz de exercer tais processos) sejam identificados,
classificados, enfim, descritos objetivamente enquanto estados e
processos mentais conscientes. O desafio ao qual Searle se
NEUROTEOLOGIA 112

refere – de explicar tais sentimentos subjetivos intrínsecos à


experiência consciente – somente seria um desafio legítimo para
Dennett, caso esse último traísse a sua ontologia funcionalista,
abrindo uma exceção para a mente consciente, concebendo -a
em termos de propriedades intrínsecas. Conforme o próprio
Dennett faz questão de ressaltar: “Postular qualidades internas
especiais que são não apenas privadas e intrinsecamente
valiosas, mas também que não podem ser confirmadas nem
investigadas é apenas obscurantismo” (p. 126).
Se Searle atém-se às qualidades subjetivas da experiência
consciente em função das “evidências” intuitivas da primeira
pessoa, Dennett nega tais qualidades para não auto-contradizer
a sua própria ontologia extrinsecalista. Além disso, Searle supõe
que o acesso privilegiado do sujeito aos seus próprios estados de
consciência (experiências sensoriais, pensamentos, etc.)
comportaria certa infalibilidade, isto é, do ponto de vista da
primeira pessoa, o autor presume que o sujeito jamais poderia
estar errado quanto ao estado de consciência em que se
encontra naquele momento, pois, de acordo com a abordagem
em questão, no que se refere à consciência, a aparência é a
realidade. Ao confrontar, no ponto de vista da primeira pessoa, a
aparência com a realidade, Searle exclui a possibilidade do erro,
justamente aquilo que, em princípio, parece ser condição para a
corrigibilidade de qualquer ponto de vista, algo imprescindível
para a possibilidade de refutação de qualquer teoria, para a
formulação de novas hipóteses ou conjecturas teóricas.
Ao contrário de Searle, Dennett coloca em questão a
existência dos qualia, ao afirmar que: “… aparentemente, para
nós, os qualia existem. Mas isto é um julgamento errôneo que
fazemos sobre o que, de fato, acontece” (p. 119). Colocando em
questão o que para Searle é uma “evidência”, Dennett
restabelece quanto ao que nos é revelado do ponto de vista da
primeira pessoa, a distinção entre aparência e realidade. Não
poder fazer tal distinção significa “não poder errar”, não poder
estar errado é algo que tornaria a própria evolução da vida e da
NEUROTEOLOGIA 113

inteligência impossíveis, pois, sem feed-back negativo a vida


seria impossível, já que essa evolui em sistemas abertos; e sem
ensaio-e-erro-e-novo-ensaio… a inteligência também seria
impossível, já que essa evolui em sistemas capazes de aprender
com a experiência.
Portanto, se os motivos de Searle para defender uma
“ontologia subjetiva” da consciência justificam-se, em princípio,
na peculiaridade das qualidades subjetivas intrínsecas à
experiência consciente e na “evidência intuitiva” através da qual
tais qualidades subjetivas nos são reveladas, os motivos de
Dennett para questionar tal subjetivismo encontram justificativa
em sua ontologia extrinsicalista e na legitimidade da distinção
entre aparência e realidade para aquilo que nos é revelado do
ponto de vista da primeira pessoa.

Consciência Primária e Consciência elaborada


Podemos distinguir dois tipos de consciência nos animais,
segundo Edelman, a mais simples delas é a consciência primária,
apoiada, anatomicamente, nos sistemas córtico-talâmico e
límbico (com o auxílio de núcleos do tronco cerebral). O primeiro
organiza a informação enquanto o segundo atribui valores.
Consciência primária é um estado de consciência ou
entendimento dos acontecimentos, que considera apenas um
‘estar ciente’ em relação ao Mundo presente, não estando ligada
a nenhum sentido de passado ou futuro.
A consciência primária está embasada em um pequeno
intervalo de memória, determinado no tempo presente, sendo
que nela não encontraremos uma noção explícita ou conceito de
um EU pessoal e nem lhe sendo rogada a capacidade de modular
um objeto no passado ou futuro, ou como parte de uma cena. Na
consciência elaborada estou apenas ‘ciente’, mas não
contextualizado; como numa fotografia eu capto única e tão
somente o agora. Isto não significa que um animal com
consciência primária não desenvolva memória de longo prazo ou
NEUROTEOLOGIA 114

aja segundo ela, significa apenas que, em regra geral, ele não
tem consciência desta memória ou lança mão dela para planejar
ou agir no futuro.
Nesta primeira forma de consciência, o animal constrói
categorias conceituais de suas percepções (cheiros, imagens,
emoções, etc.).
Há fortes indícios de que a maioria dos mamíferos e aves
possui este tipo de consciência, que deve ter surgido há cerca de
300 milhões de anos. Sugere-se ainda que animais de sangue frio
tivessem dificuldades para desenvolvê-la, por não possuírem um
aparato bioquímico estável capaz de sustentá-la. Uma hipótese
de trabalho, ainda não comprovada empiricamente, é que
animais, para os quais olharem nos olhos de outros tem algum
significado, possuiriam esta capacidade.
O outro tipo de consciência, evolutivamente mais recente,
é a consciência elaborada que evoluiu apartir da anteri or e se
diferencia dela por permitir uma percepção de continuidade no
tempo: eu sou o mesmo que fui no passado e serei no futuro. A
consciência do indivíduo reconhece seus próprios atos/e ou
afetos, tendo lucidez de estar consciente (consciente da
consciência). Nesta forma de consciência, há uma memória
simbólica, um gigantesco avanço no processamento de
informações pelo cérebro. É um saber não inferencial ou
apriorístico dos acontecimentos, sendo inserido dentro de um
contexto, não apenas como uma fotografia, mas com ligações e
inferências temporais, espaciais e fenomenológicas. O indivíduo
consciente torna-se também capaz de introspecção – a
possibilidade de refletir sobre si mesmo. Este progresso é
possibilitado pela emergência de duas novas estruturas
cerebrais, as áreas de Brocca, que evoluiu do córtex motor, e
Wernicke, que evoluiu do córtex auditivo. Nos seres humanos,
elas respondem respectivamente pela produção da fala e pelo
entendimento da linguagem.
A consciência elaborada seria então aquela que envolve o
reconhecimento por um sujeito pensante, dos seus próprios atos
NEUROTEOLOGIA 115

ou afetos, um modelo do que é pessoal, do passado e do futuro,


tal como presente. Exibe uma forma direta de estar ciente. É
aquilo que como seres humanos possuímos para além da
consciência primária.
Para que esta forma de consciência seja própria apenas dos
seres humanos, ela deveria ter evoluído muito rapidamente, em
algumas centenas de milhares de anos, o que não seria muito
provável. Porém, ainda que nenhum dos grandes macacos tenha
a linguagem ou mesmo as áreas de Brocca e Wernicke
desenvolvidas como o Homo sapiens, a comunicação por meio
dos gestos, comum nos grandes primatas, é uma precursora da
linguagem oral e parece ter surgido há bem mais tempo, entre
25 a 30 milhões de anos atrás. Também sabem que, se os olhos
de outro animal estão voltados para uma direção, é para lá que
está dirigida sua atenção. Esta capacidade de perceber que há
outra mente por trás de outros olhos chama-se “teoria da
mente” e é considerado um atributo da consciência elaborada.
Nos seres humanos, uma anormalidade no desenvolvimento das
partes do cérebro responsáveis por esta habilidade leva ao
autismo, uma patologia do desenvolvimento infantil com graves
déficits no relacionamento social.

CONSCIÊNCIA PRIMÁRIA E CONSCIÊNCIA ELABORADA:


IMPLICAÇÕES PRÁTICAS
Quaisquer que tenham sido as pressões ou razões para o
desenvolvimento da consciência entre os seres vivos, estas
mesmas pressões favoreceriam o desenvolvimento de diversos
avanços como a cultura e a capacidade de simbolizar e
exteriorizar percepções. A entrada no mundo simbólico só foi
possível com o advento da linguagem nos seres humanos,
segundo a Psicologia, e Edelman, por sua vez, vai relacionar o
advento da fala e da linguagem com o surgimento da consciência
elaborada e do "eu". De acordo com Edelman (1998), a
capacidade de atribuir significados às coisas já está presente
antes da epigênese da fala, isto é, antes do aparecimento da
NEUROTEOLOGIA 116

linguagem. Isto implica que o significado é anterior ao


significante. Portanto, assim como o "bootstrapping perceptivo"
(conexão entre as imagens percebidas pelos sentidos e a
memória categoria-valor) estaria na origem da consciência
primária, o "bootstrapping semântico" (epigênese da fala e
advento da linguagem) estaria na origem da consciência
elaborada.
Também a Cultura pode ser considerada uma aquisição
herdada do processo evolutivo da consciência, sendo a cultura
um método de aprender pelo aprendizado dos outros sem pagar
o preço que eles pagaram para tal. Um exemplo eloqüente é o
de um de grupo de elefantes africanos que, inocentes, se
deixaram abater após terem destruído algumas plantações.
Depois de assistirem à matança, animais que nunca tinham sido
agredidos ou alvejados por armas de fogo passaram a temer os
seres humanos, o que não é cultura, mas aprendizado. Quando
os filhotes deste bando, muito depois da caça ter sido banida da
região, continuaram a temer os humanos, repetindo o
comportamento aprendido dos mais velhos, temos, então, uma
forma de proto-cultura. (Wright, 2000, pp.282-97). No entanto, a
cultura dos animais não produz mitos, lendas ou obras de arte
como nos humanos, mas sabe criar hábitos alimentares, regras
sociais e criações tecnológicas.
Outra consideração que podemos refletir a respeito do
impacto da Teoria de Edelman sobre consciência elaborada e
primária na prática é que, não somos os mesmos sempre,
estamos em constante modificação através de processos de
conexões neuronais, muitas vezes provocados pelas
necessidades de resposta de adaptação ao meio externo, e
também por movimentos subjetivos: lembranças, crenças,
sentimentos, aprendizagens, etc.
A partir desta Teoria poderíamos postular algumas
reflexões: Somos os mesmos indefinidamente? Como podemos
nos posicionar em nossas relações, considerando a inconstância
ou da fluidez da consciência, da plasticidade dos organismos,
NEUROTEOLOGIA 117

considerando a plasticidade do outro, assim como a de nosso


próprio ser? Por outro lado, constatando a existência desta
constante dialética Heraclitiana podemos afirmar que sempre
fomos e sempre seremos de determinada maneira? Podemos
acreditar na capacidade de mudança semântica e simbólica em
nossa forma de percepcionar nosso próprio mundo?
Concluímos esta pesquisa com a certeza de que apenas
começamos a descortinar o universo da Consciência e que à
medida que evoluirmos nossos estudos poderemos inclusive
inferir, dentre outras coisas, a respeito dos nossos processos
existenciais, epistemológicos e outros, questionando até que
ponto são dirigidos e influenciados ou não pela consciência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AIUB, Mônica. Causação Mental. –
www.filosofiadamente.org/textos
COSTA, Cláudio. Filosofia da mente. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2005.
EDELMAN Gerald M. Bright Air, Brilliant Fire: On the Matter
of the Mind. New York, NY: Basic Books, 1992.
EDELMAN, Gerald M.. Biologia da consciência: as raízes do
pensamento. Lisboa: Inst. Piaget, 1995.
EPISTEME, Porto Alegre, n. 14, p. 181-184, jan./jul. 2002.
KRICHMAR, J, et all. Characterizing functional hippocampal
pathways in a brain-based device as it solves a spatial
memory task. The Neurosciences Institute, 10640 John Jay
Hopkins Drive, San Diego, CA 92121. Contributed by Gerald
M. Edelman, December 30, 2004
SEARLE, John. A redescoberta da mente. São Paulo: Martins
Fontes, 2006.
NEUROTEOLOGIA 118

SEARLE, J. O Mistério da Consciência. São Paulo: Editora Paz


e Terra. 1998. 239 p.
REVISTA MENTE E CÉREBRO, A consciência. Junho 2007.
São Paulo: Ed. Planeta.
VERMONT, Andréa. Trabalho de Prévia para tese de
Doutorado. Instituto Packter – Módulos de I a VIII.
Uberlândia, 2008.

LEITURAS COMPLEMENTARES

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo:


Martins Fontes, 1999.
COSTA, Cláudio. Filosofia da mente. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2005.
DALBÉRIO, Osvaldo. Metodologia Científica. Uberaba. MG-
2004.
EDELMAN Gerald M. Bright Air, Brilliant Fire: On the
Matter of the Mind. New York, NY: Basic Books, 1992.
GARDNER, H. A nova ciência da mente. Uma história da
revolução cognitiva. 2. Ed. São Paulo: Edusp, 1996.
NEUROTEOLOGIA 119

Capítulo 16

PSICANÁLISE & TEOLOGIA: IMAGO DEI NO PROCESSO DE


CONSTRUÇÃO DO SUJEITO
MOISÉS
A doutrina da imagem de Deus procura responder a
seguinte pergunta em termos genéricos: em que sentido o
homem é semelhante a Deus? Segundo as Escrituras o homem
foi criado à imagem de Deus. O texto de Moisés que relata essa
declaração encontra-se em Gênesis, capítulo um, versículo vinte
e sete: Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou (Bíblia Anotada).
NATUREZA
A palavra imagem no hebraico vem do termo tselem e do
grego eikón, podendo significar a idéia de que a imagem tem
uma participação da natureza essencial e básica do Criador,
dando a entender que o homem participa da natureza espiritual
e moral de Deus, embora não de sua divindade essencial.
NEUROTEOLOGIA 120

TERMO
Para Champlin, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e
Filosofia, analisa que as discussões sobre os termos hebraico e
grego envolvidos: não ajudam muito a entender a questão da
imagem, são palavras por demais plásticas e ambíguas, não
dando sempre indicações precisas e, por isso, não dá para
entender o sentido da imagem pela definição das palavras, mas
só por meios interpretativos (Champlin, 1991, p. 244).
QUESTÃO
Por essa indefinição do termo imagem, começou-se a ter
várias questões sobre a imagem de Deus no homem, como por
exemplo: a imagem tem a ver com o imaterial do homem, ou o
corpo também representa esta imagem? Qual é a condição
espiritual da imagem Deus? Qual é a essência dessa imagem? Até
que ponto a queda no pecado do homem maculou essa imagem?
A imagem está somente no homem, ou na criação toda? Quais
são as características da imagem de Deus? Quais são os
elementos que compõe a imagem de Deus? Os animais possuem
a imagem de Deus? E, Deus é a imagem do homem?
FILÓN
O primeiro a pensar mais precisamente sobre a imagem de
Deus depois de Moisés foi o filósofo judeu Fílon de Alexandria,
que viveu no primeiro século da era cristã, que influenciou
posteriormente, com a sua filosofia, a doutrina da imagem de
Deus no cristianismo, viu na alma humana a imagem de Deus,
alma no sentido de logos, que seria a mente racional, que
através da qual, o ser humano pode participar do Logos Divino,
dando, portanto, ênfase ao lado imaterial do ser humano nessa
imagem.
NEUROTEOLOGIA 121

PATRÍSTICA
No período patrístico, que abrange do segundo ao oitavo
século, houve influência da filosofia grega, principalmente a de
Platão, a imagem de Deus foi pesquisada por vários Pais da
Igreja, entre quais estão Clemente de Alexandria, Gregório de
Nissa e Aurélio Agostinho.
CLEMENTE
Para Clemente de Alexandria essa imagem tem três
elementos: primeiro a do logos, que diz respeito à inteligência
racional, em que leva o homem a inteligir com o logos da Razão
Divina; o outro elemento recai sobre todos os homens, visto na
ação daquilo que o homem faz, consistindo no fazer o bem e
governar o mundo; e o último elemento seria a imagem de Deus
no cristão, tendo como resultado essencialmente o
conhecimento e o amor, que são expressos pela ação de Deus na
vida do cristão, e essa ação é mediada por Cristo.
GREGÓRIO
Gregório de Nissa, afirma que a imagem de Deus, refere-se à
imagem de Deus ideal e imagem de Deus real, histórica. Na
primeira o Criador decidiu criar a humanidade, em que a alma e
o corpo são traços marcados dessa imagem, com a alma o
homem se relaciona com Deus, e o corpo enquanto irradiação da
beleza da alma, e instrumento para a atividade física e
intelectual, leva para o exercício de sua realeza, que seria o
domínio do homem sobre todos os outros seres criados. Na
imagem real, histórica, refere-se à criação do homem e da
mulher, dotando-os de sexualidade, pela qual podem se
reproduzir, onde essa imagem é continuada na procriação.
NEUROTEOLOGIA 122

AGOSTINHO
Aurélio Agostinho é considerado o maior expoente dos Pais
da Igreja, pensa que a imagem de Deus representa a triunidade
de Deus no homem, sendo esta, portanto, de natureza espiritual,
e pela queda do homem no pecado, essa imagem foi
desfigurada, mas, não perdida, e pela mediação de Cristo o
homem pode restaurar plenamente a sua imagem divina.
ESCOLÁSTICA
No período escolástico, que abrange o nono século ao
quatorze, que teve a influência da filosofia de Aristóteles, a
imagem de Deus foi analisada por Boaventura e Tomás de
Aquino.
BOAVENTURA
São Boaventura acredita que a imagem de Deus é
percebida nas imitações que as criaturas podem fazer de Deus,
mas em graus diferentes, algumas apenas por vestígios, outras
por imagem, e outras por semelhança bastante aproximada de
Deus. O vestígio encontra-se em todas as criaturas, por serem
irracionais, não se relacionam com o Criador, mas são criaturas
dele; a razão de imagem encontra-se em todos os intelectos
racionais, que seria o homem de maneira geral; e a razão de
semelhança encontra-se somente nos cristãos, que podem
relacionar-se com Deus.
AQUINO
Tomás de Aquino, visto como o expoente máximo do
escolasticismo percebe que a alma do homem é a imagem da
trindade, vista principalmente na natureza intelectual, que é
capaz de imitar a Deus, possibilitando ao ser humano conhecer-
se e amar-se e, conseqüentemente, conhecer e amar a Deus,
NEUROTEOLOGIA 123

assim, o homem é, contudo, da essência da imagem perfeita de


Deus, decorrente dele como do exemplar, não há nele imagem
quanto à igualdade, porque o exemplar excede infinitamente
àquele que é exemplado.
REFORMA
Na Reforma do século XVI, Martin Lutero e João Calvino
estudaram a imagem de Deus, tendo cada um uma conclusão
diferenciada, ambos foram influenciados pelo humanismo e pelo
movimento da renascença.
LUTERO
Para Lutero a imagem de Deus perdeu-se completamente
com o pecado de Adão, e que só pode ser restaurado mediante a
fé e o amor a Deus, e isso só é possível através da graça de
Cristo, portanto, se um homem tem boa vontade, bons impulsos
morais e o espírito de amor, isso só foi possível porque essas
virtudes lhe foram restauradas na regeneração que o Cristo
propõe ao ser humano pecador.
CALVINO
João Calvino vê a imagem de Deus num sentido mais amplo
e num sentido mais restrito. No amplo a imagem é percebida em
toda a criação, onde a mesma reflete, como um espelho, a
presença de Deus, e através desse espelho o homem é capaz de
ver a glória de Deus manifestada na criação. No sentido
particular, o homem reflete a imagem de Deus, quando dá uma
resposta inteligente à revelação bíblica de Deus, caracterizada
por uma vida de retidão que se traduz em constante
dependência de Deus, algo que somente é feito pelo cristão,
portanto, para Calvino, o homem, antes da queda, além de trazer
a imagem de Deus, também tinha capacidades sobrenaturais e,
NEUROTEOLOGIA 124

por ocasião da queda, o homem perdeu essas capacidades,


embora retendo a imagem de Deus, deformada, porém, não
perdida, que através da graça de Cristo é restabelecida,
impulsionando o homem a buscar a Deus novamente.
CATOLICISMO
Na teologia católica romana permaneceu uma
compreensão diferenciada da Reforma, que afirma a
impossibilidade da destruição da imagem de Deus, isto porque a
imagem faz parte da substância do homem, pois, se a imagem
tivesse sido destruída na queda, por conseguinte, o próprio
homem deveria ter deixado de existir, mas para que ele usufrua
plenamente essa imagem, precisa ser ajudado pelos meios da
graça, ministrados através da igreja romana, portanto, o homem
possui verdadeiramente a imagem de Deus, e pela razão o
homem pode buscar o Criador, sem, contudo, precisar da
intervenção sobrenatural, levando, assim, o homem ao
conhecimento de Deus, mediante a razão e a natureza.
TEÓLOGOS
Na teologia contemporânea existem muitos estudos sobre
a imagem de Deus, em que os teólogos, sob a égide da filosofia,
principalmente da filosofia cartesiana, procuram resgatar essa
doutrina na história da igreja cristã, além de estudarem o texto
de Moisés em Gênesis, fazem várias interpretações dessa
doutrina.
BERKHOF
Berkhof, que é um teólogo americano protestante, afirma
que a essência do homem consiste em ser ele a imagem de Deus,
distinguindo-se de todas as demais criaturas, sendo a expressão
máxima da criação, isto é, o homem é visto como um ser que é e
NEUROTEOLOGIA 125

leva a imagem de Deus, tendo recebido do Criador a autoridade


para dominar o restante da criação, portanto, no homem existe a
imagem de Deus que é constituída por esses elementos: que a
imagem de Deus não significa que o homem é igual a Deus, mas
assemelha-se a Ele, nos aspectos da moralidade,
intelectualidade, espiritualidade, imortalidade e autoridade.
LACY
Lacy investiga a imagem de Deus, mostrando que existem
três características dela no homem: personalidade, como
consciência e determinação própria, para cumprir a vontade do
Criador na sua vida; a outra se refere à santidade, que fora
contaminada pela queda no pecado, mas que pode ser
restabelecida através da renovação da fé cristã; e o última a
imagem seria vista na autoridade do homem sobre as demais
criaturas, mas em virtude do pecado ele perdeu a perfeição
desta característica.
MUNYON
Munyon, numa perspectiva da teologia pentecostal
americana, pensa que a imagem de Deus não pode ser vista no
aspecto físico, pois Deus não tem o aspecto material; nem
mesmo pode ser notada como se o homem fosse um pequeno
deus, mas se expressa no aspecto moral-intelectual-espiritual,
demonstrando mais o que as pessoas são essencialmente, do
que elas fazem; pelo elemento espiritual o homem pode ter a
capacidade de conhecer a Deus e ter uma comunicação
inteligente com o semelhante; na imagem da imortalidade, que
fora resgatado no sacrifício vicário de Cristo, o homem pode
viver com Deus por toda a eternidade; e por fim, a imagem é
percebida pela liberdade volitiva, em que a pessoa pode ter livre
escolha, ou seja, a capacidade de aceitar ou rejeitar a Deus.
NEUROTEOLOGIA 126

ERICKSON
Erickson, teólogo americano, entende que a imagem de
Deus tem três concepções diferenciadas: substantiva, relacional
e funcional. A imagem substantiva inclui as características físicas,
psicológicas e espirituais do ser humano; na imagem relacional
vincula-se a vivência de um relacionamento entre os homens e
Deus e dos homens entre si; e na imagem funcional, refere-se às
realizações das pessoas no seu cotidiano; portanto, a imagem de
Deus distingue o homem de todas as outras criaturas, e é nessa
imagem que o homem caracteriza-se como humano, traduzida
nas aptidões da personalidade, que o faz interagir com as demais
pessoas, de pensar e refletir, e finalmente, de possuir livre-
arbítrio para fazer o que quiser na vida.
WOLFF
Wolff, teólogo alemão, estuda a imagem de Deus no texto
de Moisés, pensando que através da imagem de Deus, o ser
humano foi criado para ser o regente administrador do mundo,
mostrando que toda criação de Deus é o mundo do homem e por
isso existe uma correspondência entre ambos: correspondência
na palavra, no interesse e na administração; essa administração
deve ser efetuada coletivamente, estando unidos uns com os
outros, tendo o interesse como homens e mulheres a
multiplicidade de seus membros, cabendo à humanidade
transformar e modelar o ambiente, e que o domínio do homem
sobre outro adultera a imagem de Deus.
RICOUER
Ricouer, filósofo francês, analisa a partir dos Pais da Igreja a
imagem de Deus, dizendo que é tarefa de todos os séculos
refletirem de forma renovada esse símbolo indestrutível, que
NEUROTEOLOGIA 127

pertence também ao futuro, e a veracidade bíblica vai depender


de como os teólogos interpretam essa imagem, e que a imagem
de Deus precisa ser vista no ser humano no sentido individual e
coletivo, impulsionando-o para um crescimento progressivo e
orientado para a visão de Deus.
CRÍTICA
Ricouer critica a visão da imagem de Deus meramente
espiritualista, pois, para ele, o homem supera a sua própria
consciência, tendo uma estrutura passível, como de uma
psicanálise da imaginação, que lhe permitiria dar-lhe força e
evolução, sendo nesse sentido que a cultura se institui no nível
da tradição do imaginário e, nesse nível também se deve
pesquisar os sinais do Reino de Deus; e essa imaginação tem
uma função metafísica, que não se poderia reduzir a uma
simples projeção do inconsciente vital recalcado, mas tem uma
imaginação em função do prospectivo, que leva à exploração das
possibilidades humanas.
FILOSOFIA
Em cada período da história da Igreja Cristã a imagem de
Deus foi interpretada pelas correntes filosóficas predominantes,
na patrística o predomínio foi da filosofia platônica, no período
escolástico teve-se a influência aristotélica, na reforma a égide
interpretativa foi o humanismo e o movimento da Renascença, e
na teologia contemporânea a interpretação recai sobre a
filosofia cartesiana.
CONSCIÊNCIA
Em todas essas abordagens percebe-se o predomínio de
uma teologia que leva em consideração apenas o sujeito humano
consciente, reduzindo o ser humano numa esfera
NEUROTEOLOGIA 128

essencialmente espiritual que o leva a relacionar-se com Deus,


com o próximo e com o mundo criado, refletindo na imagem de
Deus algumas características do Criador, como notado em todas
as abordagens.
INCONSCIENTE
Exceto Ricouer que se preocupa não só com a questão
moral e individualista da imagem de Deus, mas procura
contemporizá-la aos movimentos da humanidade,
principalmente após o advento da psicanálise, que mostra o
homem muito mais do que consciência, tendo um sujeito
inconsciente, ainda que seja recalcado, que pode suscitar no
homem forças inspirativas para a sua evolução na conquista da
plena realização da imagem de Deus.
COGITO
Por sua vez, a teologia da tradicional vale-se da idéia de
Descartes que a existência do homem está na medida do seu
cogito, dando a entender que o centro da aprendizagem do
homem seria o seu Existo, sem levar em consideração que o
homem existe, segundo a psicanálise, a partir do seu sujeito que
vai além do seu consciente, que seria a manifestação da
existência da inconsciência, sendo a pessoa sempre percebida
como singular, isto é, que cada um constrói a sua constituição
humana, sendo diferente nessa construção uns dos outros,
tornando-se cada pessoa um sujeito singular.
PSICANÁLISE
Porém, a teologia interpretada a partir da psicanálise, que
leva em consideração a linguagem, faz associações diferentes
quanto à imagem de Deus, perguntando, por exemplo: em que
sentido Deus se parece como o homem? Pode-se dizer que Deus
NEUROTEOLOGIA 129

se parece com o homem na fala, isto é, tem-se Deus que fala


infinitamente, e que cria um ser que fala a palavra finitamente.
LINGUAGEM
Sendo assim, uma das características que aparecem no
texto de Moisés em Gênesis é a linguagem; Deus aparece nos
capítulos um e dois falando ao criar ao mundo, inclusive, quando
criou a humanidade, dando a entender que a linguagem, que é
expressa pela fala oral de Deus, constitui-se uma estrutura da
Divindade.
CONSTITUIÇÃO
Tudo leva a entender que Deus já tinha esta estrutura antes
de criar o homem, e não a criou pelo fato de criar o ser humano,
mas ao contrário, o homem ao ser criado à imagem de Deus
passou a ter a mesma estrutura de linguagem como parte de sua
constituição.
SUJEITO
Linguagem aqui não somente entendida como
comunicação direta entre os sujeitos, mas compreendida no
sentido psicanalítico em que o ser humano é introduzido na
linguagem, onde os sujeitos são tecidos através da linguagem e
da fala. Portanto, Deus é constituído de uma linguagem que
infinitamente pode ser por Ele falada, e o homem tem uma
linguagem que nem sempre, por causa do registro real, pode dar
conta desta linguagem.
TEOLOGIA
Na teologia da consciência (a teologia da consciência
refere-se à teologia convencional que é ensinada nos seminários
em geral) prioriza-se a aquisição de conhecimentos, e na teologia
do inconsciente (a teologia da inconsciência refere-se ao que
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esta tese preconiza inicialmente, isto é, uma leitura da teologia a


partir de alguns conceitos psicanalíticos) espera-se que o cristão
elabore o conhecimento no nível do saber.
SIGNIFICANTE
Por isso, a linguagem seria o meio pelo qual o homem pode
interagir com o Criador, ainda que a linguagem humana
dificilmente possa captar a Deus, por que Deus não pode ser
definido completamente nesta linguagem, mas já que Deus
também utiliza a linguagem para expressar-se na criação do
mundo, a linguagem no ser humano pode construir significantes
para compreender a revelação de Deus nas Escrituras.
IMAGO DEI
O texto de Gênesis sobre a imagem de Deus pode,
portanto, ser associado em diferentes aspectos a partir da
psicanálise, mostrando que é possível laçar novos fundantes a
partir da psicanálise sobre a Imago Dei, levando assim a uma
compreensão melhor o processo de constituição do sujeito.

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