Está en la página 1de 19

Mais do que um passeio cultural, a visita à Quinta da Regaleira, em Sintra, é uma viagem

a um universo de símbolos e metáforas, presentes em toda a propriedade. Aqui nada é


apenas o que parece, mas sempre sinal de algo mais forte, transcendente e misterioso.

Sintra foi desde sempre considerada pelos vários povos como o fim do caminho, um ponto de
chegada aprazível, rico em água e terras férteis e de clima ameno. Além do mais, Sintra
sempre transmitiu fortes sentimentos telúricos. A forma serpenteante que entra pelo mar, a sua
proximidade com os astros (o facto de nascer abruptamente de uma planície fá-la parecer mais
alta do que é) e as árvores milenares tão apreciadas pelas civilizações druídicas conferiram à
serra o cariz sagrado que, na Antiguidade Clássica, serviu de inspiração para a designação de
Promontório da Lua.
Neste contexto, a Quinta da Regaleira apresenta-se como o mais significativo e imponente dos
monumentos simbólicos edificados em Sintra.

Um percurso glorioso
A história da Quinta da Regaleira, como ela se apresenta nos nossos dias, começa em 1892,
altura em que é adquirida por António Au-gusto Carvalho Mon-teiro. O Monteiro dos Milhões,
epíteto que popularizou esta misteriosa personagem, nasceu no Rio de Janeiro em 1848, filho
de pais portugueses. Herdeiro de uma grande fortuna familiar, multiplicada no Brasil com o
monopólio do comércio dos cafés e pedras preciosas, este homem rapidamente se tornou
conhecido pela imprensa da época graças ao carácter, simultaneamente altruísta e excêntrico,
que o levou a gastar uma verdadeira fortuna na realização desta fantasia.

Licenciado em Leis pela Universidade de Coimbra, Carvalho Monteiro tinha como grandes
interesses os livros, a ópera, os instrumentos musicais, os relógios, as conchas, as borboletas
e as antiguidades. Tinha também o desejo de construir um espaço grandioso, em que vi-vesse
rodeado de todos os símbolos que espelhassem os seus interesses e as suas ideologias. Esse
espaço encontrou-o em Sintra, um local que Monteiro considerava representar a essência de
Portugal, uma espécie de baluarte da alma lusitana. Assim, decidiu comprar a Quinta da
Regaleira (propriedade de uma rica família de comerciantes do Porto agraciados com o título
de barão) por 25 contos de réis.

Cinquenta anos mais tarde, já com as características actuais, a quinta foi vendida a Waldemar
D'Orey que, sem ter desvirtualizado o que tinha sido concebido com tanto método, procedeu a
pequenas obras que lhe permitissem acolher a grande família que tinha. Em 1987 a Quinta da
Regaleira passa a ser propriedade da empresa japonesa Aoki Corporation, entrando num pe-
ríodo de dez anos de plena inactividade.

Em 1997, dois anos depois de Sintra ter sido classificada Pa-trimónio Mundial, a Câmara
Municipal adquire este valioso património, iniciando pouco depois um exaustivo trabalho de
recuperação do património edificado e dos jardins. Uma vez concluídas as obras, a quinta foi
finalmente aberta ao público como centro de actividades culturais.

Artes, artífices e estilos


Mas regressemos à história da Regaleira. O arquitecto escolhido por Carvalho Monteiro para a
concepção da Regaleira foi o italiano Luigi Manini, que trouxe para trabalhar consigo os
mestres coimbrãos, formados na prestigiada Escola Livre das Artes e Desenho. Arquitecto,
pintor e cenógrafo, Manini veio para Portugal em 1876 para trabalhar no Real Teatro de São
Carlos. Tinha trabalhado no Scala de Milão e gozava de muito boa reputação no meio artístico.
O seu trabalho na construção do Palácio-Hotel do Buçaco agradou especialmente a Carvalho
Monteiro. Porém, não era só nas questões estéticas que Monteiro e Manini estavam de acordo,
ambos partilhavam as mesmas filosofias e estas afinidades foram determinantes para o
desenvolvimento do projecto de concepção da Quinta da Regaleira.

O início das obras deu-se em 1898 com a adaptação da Casa da Renascença (actual sede da
Fundação CulturSintra) para residência do casal Carvalho Monteiro. Seguiu-se a remodelação
das cocheiras, depois a construção da capela e, finalmente, a edificação do palácio. Durante
todas estas obras, até 1910, o trabalho dos artífices de Coimbra foi exclusivamente dedicado a
Carvalho Monteiro, sendo a maioria das peças artísticas trabalhada na oficina de João
Machado e depois enviada para Lisboa por comboio.
Da conjugação dos sonhos de Carvalho Monteiro com as artes de Manini e dos artesãos da
pedra, nasceu um edifício arquitectonicamente muito rico num misto de estilos e de grande
originalidade. Traços manuelinos são visíveis na utilização de ornamentos como cordames,
elementos vegetais, esferas armilares e colunelos torsos, sendo utilizados uma série de novos
elementos como animais e espécies antropomórficas, símbolos esotéricos relacionados com a
alquimia e a maçonaria, revelando as ideias e convicções de Carvalho Monteiro.

O grande mentor da Regaleira era um homem conservador, monárquico e cristão gnóstico e,


como tal, adepto de uma arte simbólica, com o objectivo de ressuscitar o passado. A
predominância do estilo neomanuelino e a recorrência a elementos do sobrenatural e do
sagrado não é mais do que o assumir a nostalgia dos tempos gloriosos e ricos dos
descobrimentos. Neste mesmo contexto, a Arte Gótica é escolhida como a mais representativa
da Quinta. Baseada na repetição de linhas geométricas e na forma ogival das abóbadas e dos
arcos, sugere, para além dos objectos reais, os seres e animais estranhos que povoam os
nossos sonhos e pesadelos. Castelos em ruínas, florestas sem saída, mansões com alas
desertas e corredores escuros, criptas ocultas e subterrâneos húmidos, passagens secretas e
portas interditas através das quais se adivinha a presença dos espíritos, são os ingredientes
essenciais do cenário gótico que tão bem representado está na Quinta da Regaleira.

O romantismo dos jardins e a magia do poço

A Entrada dos Guardiães e Terraço Celeste.


Poço iniciático, uma galeria subterrânea em espiral, por onde se descem nove patamares até às
B profundezas da terra.
Capela da Santicima Trindade, com uma magnifica fachada que aposta no revivalismo do gótico e do
C manuelino.
D Lago dos Cisnes e Banco 515, na Gruta da Catedral.

E A Torre da Regaleira, foi construida para dar a quem a sobe a ilusão de se encontrar no eixo do mundo.

A visita a todo este universo começa junto ao chamado Patamar dos Deuses, terraço onde
estátuas de vários seres divinos estão alinhadas ao longo do caminho. Daqui parte-se para
uma visita ao interior dos jardins onde a cada momento o visitante é surpreendido por lagos,
fontes, torres, terraços, grutas e muitos elementos simbólicos.

Românticos de concepção, os Jardins da Regaleira são construídos sobre socalcos e


constituídos por uma mistura de plantas e árvores, trazidas das mais variadas partes do globo,
que foram integradas de forma harmoniosa com a vegetação autóctone. O passeio pelos
jardins e pelo bosque faz-se por caminhos de ascensão, partindo das zonas delicadas e
subindo até à floresta espontânea, onde a vegetação é plantada sem ordem aparente, tão ao
gosto da sensibilidade romântica vigente durante o século XIX.

A certa altura do percurso surge, num dos lugares mais bonitos da mata, um aglomerado de
pedras que esconde uma disfarçada porta de pedra. Essa porta transporta-nos para um dos
locais mais impressionantes da quinta - o fantástico poço iniciático, que, como se fosse uma
torre invertida, nos leva ao interior da terra. De quinze em quinze degraus descem-se os nove
patamares circulares do poço, recriando o ritual em que se descia ao abismo da terra ou se
subia em direcção ao céu, consoante a natureza do percurso iniciático escolhido. Os nove
patamares aludem aos nove círculos do Inferno, às nove secções do Purgatório e aos nove
céus do Paraíso, que Dante consagrou na Divina Comédia. Lá no fundo, a carga dramática
acentua-se. Gravada em embutidos de mármore em tons rosa, sobressai a grande cruz dos
Templários, aliada a uma estrela de oito pontas, afinal o emblema heráldico de Carvalho
Monteiro. É neste último patamar que entramos num conjunto de grutas que nos conduzem ao
exterior, em autênticos labirintos, pelo mundo subterrâneo, aqui e além porventura povoado de
morcegos. De construção artificial, na sua maioria, estas galerias aproveitam, no entanto, as
características geológicas da mancha granítica da Serra de Sintra. Uma vez cá fora, espera-
nos a luz e um cenário habitado por animais fantásticos, cascatas de água e passagens de
pedra que parecem flutuar à superfície dos lagos.

Depois da experiência marcante de atraves-sar caminhos tão místicos, o passeio continua,


cada vez mais deslumbrante até chegar à Capela da Santíssima Trindade. De nave única, este
templo segue a mesma linha decorativa que reveste o palácio, assentando, sobretudo, no
revivalismo do gótico e do manuelino. Mas a Capela revela uma outra surpresa, escondida de
olhares menos atentos. Umas escadas estreitas situadas à entrada do lado direito descem em
espiral até à cripta. Trata-se, na verdade, de outro templo, de decoração despojada, com
pavimento revestido a mosaico em xadrez preto e branco, um local imerso na escuridão,
proprício à meditação e à comunhão com os mortos.

Muito perto e um pouco mais acima, encontra-se


finalmente o palácio de onde se tem uma vista soberba
do vale por onde se estendem os jardins, da Serra e do
Palácio da Pena. O monograma de Carvalho Monteiro
destaca-se na fachada do edifício, todo ele ligado por
cordas, nós, laçadas e frisos, num manifesto recurso aos
elementos típicos do estilo manuelino.
A arte gótica impele-nos a olhar para cima. O edifício
desafia as leis da gravidade e prolonga-se em direcção
ao céu, numa sucessão de capitéis, gárgulas e pináculos
ogivais, muitos deles quase imperceptíveis.
A visita termina no interior do palácio, onde se destaca o
lindíssimo pavimento polícromo de mosaico veneziano.
Riquís-simo nos seus ornamentos, o palácio alberga
actualmente uma exposição dedicada à colecção de
objectos maçónicos de José Eduardo Pisani Burnay, um
dos mais importantes acervos mundiais do género,
constituído por mais de 600 peças.

Os Templários

Criada no auge das Santas Cruzadas, a Ordem do


Templo era constituída por monges-soldados que tinham
por missão proteger os lugares santos da Palestina contra
os infiéis. Com o decorrer do tempo, estes cavaleiros
foram adquirindo riquezas e poderes e,
consequentemente, inimigos muito fortes. De tal forma

Poço Iniciático: de quinze em quinze


degraus se descem os nove patamares
desta imensa galeria subterrânea,
construida em espiral.
que, em 1314, a Ordem foi perseguida e extinta pelo papa e pelo rei de França. Em Portugal,
D. Dinis afectou os bens dos Templários à Ordem de Cristo. Mas o desaparecimento dos
templários não significou o desaparecimento do templarismo, cujo espírito, resumido na defesa
dos lugares sagrados e na luta contra o mal, renasceu em várias correntes e organizações
iniciáticas. A cruz templária no fundo do poço iniciático e a cruz da Ordem de Cristo no
pavimento da Capela, testemunham, precisamente a influência do templarismo em Carvalho
Monteiro. Há ainda, na Regaleira, referências à corrente esotérica iniciada no século XVII, de
tendência cristã, utilizando os símbolos conjuntos da rosa e da cruz. O movimento Rosa-Cruz
propunha reformas sociais e religiosas, exaltava a humildade, a justiça, a verdade e a
castidade, apelando à cura de todas as doenças do corpo e da alma.

Iniciação e Maçonaria
A Franco-Maçonaria tem origem nas associações profissionais de pedreiros-livres e de
construtores de catedrais medievais, que se reuniam em lojas para debaterem questões
profissionais e questões de carácter filantropo, moral e religioso. Com o decorrer do tempo,
estas sociedades secretas começaram a aceitar membros estranhos à profissão, mas que
partilhavam dos mesmos ideais. Esta degeneração fez com que, em 1717, surgisse em
Inglaterra a Maçonaria moderna, já desligada das práticas profissionais originais. Sempre
rejeitados pela Igreja Católica, os ensinamentos maçónicos que defendiam a caridade, a
imortalidade da alma e a existência de um princípio espiritual superior (o Grande Arquitecto do
Universo), tinham também implícitos na sua simbologia, afinidades com correntes esotéricas
como a Alquimia, o templarismo e o rosacrucianismo
Memória histórica
A documentação histórica relativa à Quinta da Regaleira é escassa para os tempos anteriores à sua compra por
Carvalho Monteiro. Sabe-se todavia que, em 1697, José Leite adquiriu uma vasta propriedade no termo da vila
de Sintra que corresponderia, aproximadamente, ao terreno que hoje integra a dita Quinta - a esta data parecem
remontar, pois, as origens da quinta em questão.

Francisco Alberto Guimarães de Castro comprou a propriedade - conhecida como Quinta da Torre ou do Castro
- em 1715, em hasta pública e, após as licenças necessárias, canalizou a água da serra a fim de alimentar uma
fonte ai existente.

Em 1800, a quinta é cedida a João António Lopes Fernandes estando logo, em 1830, na posse de Manual
Bernardo, data em que tomou a designação que actualmente possui. Em 1840, a Quinta da Regaleira foi
adquirida pela filha de uma grande negociante do Porto, Allen, que mais tarde foi agraciada com o título de
Baronesa da Regaleira. Data provavelmente deste período a construção de uma casa de campo que é visível
em algumas representações iconográficas de finais do século XIX.

A história cia Regaleira actual principia, todavia, em 1892, alio em que os barões da Regaleira vendem a
propriedade ao Dr. António Augusto Carvalho Monteiro por 25 contos de réis (Anacleto, 1994: 241).

O célebre "Monteiro dos Milhões" nasceu no Rio de Janeiro em 1848, filho de pais portugueses, que cedo o
trouxeram para Portugal. Licenciado em Leis pela Universidade de Coimbra, Monteiro foi um distinto
coleccionador e bibliófilo, detentor de uma das mais raras camonianas portuguesas, homem de cultura que
decerto influenciou, se não determinou mesmo, parte bastante razoável do misterioso programa iconográfico do
palácio que construiu para si, nas faldas da serra de Sintra

Maçonaria e a Quinta da Regaleira


Chama-se esotérico a um conhecimento oculto, seja doutrina ou técnica de expressão simbólica, reservado aos
iniciados:. O esoterismo é, pois, o conjunto de práticas e de ensinamentos esotéricos, no contexto de uma
tradição multifacetada que abrange diferentes épocas, lugares e culturas. A Alquimia, a Maçonaria e os
Templários, por exemplo, incorporam teorias, rituais e procedimentos herméticos que se integram no âmbito do
esoterismo:.

Na tipologia do misticismo judaico, firmado na procura de Deus e na experiência da divindade, o esoterismo


baseia-se, fundamentalmente, na lei das correspondências, que visa encontrar, através do recurso à analogia,
relações simbólicas entre o divino e o terreno, entre o transcendente e o imanente, entre o visível e o invisível,
entre o homem e o universo:. A passagem de uma a outra dimensão opera-se em cerimónias de iniciação, por
meio de encenações e rituais de carácter mágico, nos quais o neófito recebe o segredo da transmutação, aceita
a filiação no grupo de companheiros e acede a um nível espiritual superior:.

A Franco-Maçonaria antiga, dita operativa, deriva das confrarias, das corporações, dos agrupamentos
profissionais de pedreiros livres e dos construtores das catedrais medievais:. À defesa dos interesses
profissionais, juntavam os franco-mações preocupações de carácter filantrópico, moral e religioso:. Os grupos
maçónicos, organizados em sociedades secretas e reunindo em lojas, foram perdendo o carácter
exclusivamente operativo e começaram a aceitar membros estranhos à profissão mas que perfilhavam os
mesmos ideais iniciáticos:.

O declínio das confrarias origina, por filiação directa, o aparecimento em 1717, em Inglaterra, da Maçonaria
moderna, dita especulativa, uma vez que já não existe ligação à prática do oficio de construção, tendo utensílios
como o esquadro e o compasso adquirido um valor eminentemente simbólico:.

A Maçonaria provocou, praticamente desde o início, a oposição da Igreja Católica, embora muitos dos
ensinamentos maçónicos, de inspiração cristã, preconizem a crença nas virtudes da caridade, na imortalidade
da alma e na existência de um princípio espiritual superior denominado Grande Arquitecto do Universo:. Grande
parte da simbologia maçónica, sobretudo a dos altos graus, inspira-se em correntes esotéricas tais como a
alquimia, o templarismo e o rosacrucianismo, inscritas em diversos locais da Regaleira:.

Apesar da diversidade de percursos que a Quinta da Regaleira oferece, todos os caminhos podem conduzir a
um aglomerado de pedras erguidas, com a aparência de um menir, num dos locais mais belos da mata:. E eis
que uma curiosa porta de pedra roda impulsionada por um mecanismo oculto e nos faculta a entrada para outro
mundo:. É o monumental poço iniciático, espécie de torre invertida que mergulha nas profundezas da terra:. A
terra é o útero materno de onde provem a vida, mas também a sepultura para onde voltará:. Muitos ritos de
iniciação aludem a aspectos do nascimento e morte ligados à terra:.

De quinze em quinze degraus se descem os nove patamares desta imensa galeria em espiral, sustentada por
inúmeras colunas de apurado trabalho, que vão marcando o ritmo e o aprumo das escadarias:. Os nove
patamares circulares do poço, por onde se desce ao abismo da terra ou se sobe em direcção ao céu, consoante
a natureza do percurso iniciático escolhido, lembram os nove círculos do Inferno, as nove secções do Purgatório
e os nove céus do Paraíso, que o génio de Dante consagrou na Divina Comédia:.

Os capitéis dos colunelos enrolam longas folhas de acanto:. E lá no fundo, a carga dramática acentua-se:.
Gravada em embutidos de mármore, sobressai uma cruz templária, aliada a uma estrela de oito pontas, afinal o
emblema heráldico de Carvalho Monteiro:. As galerias conduzem-nos, em autênticos labirintos, pelo mundo
subterrâneo, aqui e além porventura povoado de morcegos:. De construção artificial, na sua maioria, estas
galerias aproveitam, no entanto, as características geológicas da mancha granítica da Serra de Sintra:. No
interior, a abóbada divide-se entre os maciços de rocha mãe, de um granito granular médio, geralmente de cor
rosada ou parda, e zonas preenchidas com pedra importada da orla marítima da região de Peniche:. É esta
pedra, desgastada pelo mar e pelo tempo, que vai contribuir, sobremaneira, para a sugestão de um mundo
submerso:.

Ao chegarmos ao exterior, esperam-nos a luz e os cenários minuciosamente construídos:. São animais


fantásticos, artifícios de água em cascata, passagens de pedra que parecem flutuar à superfície dos lagos, ou
nuvens silenciosas de vapor que dissimulam as entradas para este universo singular:.

A simbólica alquímica parece estar presente em vários locais da Regaleira:. Desde logo, na Capela, na pintura
da Coroação de Maria por Cristo, na qual a Virgem ostenta, para além das três cores da Obra alquímica - o azul
ou negro, o branco, o vermelho ou rubro - uma faixa dourada que poderá simbolizar o Ouro Alquímico:.

Também num alto relevo existente nas traseiras da Capela, encontra-se representado um castelo com duas
torres, separado por uma zona de labaredas, e uma goela infernal:. Trata-se de uma figuração da tri-unidade do
mundo e do homem: o mundo superior ou espiritual, o mundo intermédio da alma e o mundo inferior ("ad infero"
ou do inferno) material:. A torre rubra é o Atanor, ou forno alquímico:.

Nas cocheiras, sinais de Alquimia voltam a estar presentes, em duas esculturas que formam símbolos clássicos
da Arte de Hermes: a serpente que morde a cauda, simbolizando a Unidade, origem e fim da Obra, e a luta
entre as duas naturezas, aqui representada por dois dragões, cada um mordendo a cauda do outro. Igualmente
susceptível de uma leitura alquímica é a gruta ogival, onde Leda, segurando uma pomba na mão, aparece numa
escultura à beira de um pequeno lago, enquanto Zeus, disfarçado de cisne, a fecunda bicando-a na perna:.
Trata-se de uma alegoria pagã ao mito, ou mistério, da Imaculada Conceição, ou concepção, que decorre num
lugar escuro e húmido:.

A alquimia tem por objectivo a transmutação real ou simbólica dos metais em ouro e por fim último a salvação
da alma:. As operações alquímicas são realizadas num Atanor, ou seja, num forno alquímico de combustão
lenta, com um cadinho e um balão nos quais se pretende espiritualizar a matéria e materializar o espírito:. Este
propósito essencial da Alquimia operativa, executada em laboratório, é a obtenção da Pedra Filosofal, simbiose
entre matéria e espírito, da qual poderia resultar, segundo os alquimistas, além da transmutação dos metais em
ouro, a realização de um dos desejos ancestrais da humanidade: o elixir da longa vida, capaz de proporcionar
saúde e eterna juventude:. Neste sentido, há quem considere a procura alquímica como uma metáfora da
condição humana:. A Alquimia assumiu, depois do século XVIII, um carácter manifestamente religioso,
dedicando-se sobretudo ao estudo das relações espirituais e energéticas entre o homem (microcosmo) e o
universo (macrocosmo):. A partir de um trabalho erudito de equivalências e analogias, aceita-se que o universo
nos engloba e nos interpela num só movimento existencial - ele é ao mesmo tempo transcendência (Outro) e
nós próprios:.

Parece evidente que a concepção religiosa do mundo que preside à Regaleira assenta no Cristianismo, mas
num Cristianismo escatológico, que tem a ver com o fim dos tempos:. Quer recorramos à lição da escatologia
cósmica, que prenuncia o fim do universo e da humanidade, quer nos atenhamos à escatologia individual, que
assenta na crença da sobrevivência da alma depois da morte, é a mesma ideia obsessiva que encontramos:. É
também um Cristianismo gnóstico, apoiado em discursos míticos e em conhecimentos sagrados que prometem
a salvação dos fiéis e o retorno dos espíritos:. É, enfim, um Cristianismo imbuído de ideais neo-templários,
associados ao Culto do Espírito Santo, que encontramos na tradição mítica portuguesa:.

Os templários foram monges-soldados, cuja ordem militar, fundada no período das Cruzadas em 1119, visava
proteger os lugares santos da Palestina contra o perigo dos infiéis:. Os votos de pobreza e castidade não
impediram os Cavaleiros da Milícia do Templo de enriquecer e de desempenhar um importante papel económico
e político, tanto no Oriente como na Europa, a ponto de criarem poderosos inimigos, como o rei Filipe IV de
França e o Papa Clemente V, que levaram à perseguição e à extinção da ordem em 1314, sob acusações,
porventura falsas, de blasfémia e imoralidade:. Em 1317, D. Dinis de Portugal afectou os bens dos templários à
Ordem de Cristo, que muitos aceitaram como sua sucessora:.

Desaparecidos os templários não desapareceu o templarismo, cujo espírito, resumido na defesa dos lugares
sagrados e na luta contra o mal, renasceu em várias correntes e organizações iniciáticas como sendo a
afirmação simbólica da sobrevivência da Ordem do Templo:. A cruz templária no fundo do poço iniciático, a cruz
da Ordem de Cristo no pavimento da Capela, bem como todas as outras cruzes dispostas na Capela,
testemunham a influência do templarismo no ideário sincrético de Carvalho Monteiro:.

Há ainda, na Regaleira, referências rosacrucianas, em alusão à corrente esotérica iniciada no séc. XVII, de
tendência cristã, utilizando os símbolos conjuntos da rosa e da cruz:. O movimento Rosa-Cruz propunha
reformas sociais e religiosas, exaltava a humildade, a justiça, a verdade e a castidade, apelando à cura de todas
as doenças do corpo e da alma:. Tornou-se grau maçónico de várias Ordens e, ainda hoje, existem escolas
esotéricas e sociedades secretas que pretendem assumir-se como reaparições do mito Rosa-Cruz:.

Quinta da Regaleira, un Edén en el monte de la Luna

Enmarcado en la paradisíaca sierra de Sintra, este palacio es uno de los mejores


ejemplos del revivalismo romántico luso. Un desafío para quien decida emprender
su viaje iniciático y desentrañar los códigos esotéricos que surgen por doquier.

La sierra de Sintra es un vergel que se adentra en el Atlántico a través del cabo de Roca,
apéndice nasal del rostro europeo, extremo occidental del continente. De estas fértiles
tierras con árboles milenarios emanan propiedades telúricas, un aura espiritual que el
hombre ha percibido desde tiempos inmemoriales. Es sabido que en este monte de la Luna
se realizaban cultos al astro nocturno en la prehistoria. Durante las noches de luna, su
resplandor ilumina las retorcidas carreteras de la sierra, donde aún parecen resonar los
coches de caballos de antaño.

Aquí, el escritor Luis de Camões presintió náyades escondidas en el rumor de las fuentes.
Numerosas órdenes monásticas situaron sus cenobios a lo largo de los siglos en este
panorama concebido para la contemplación: templarios, jerónimos, trinitarios, carmelitas y
franciscanos. Los reyes y las familias más notables de Portugal escogieron Sintra como su
lugar favorito de veraneo. Tras una cierta decadencia que comenzó a finales del siglo XVI,
Sintra renació en todo su esplendor a mediados del XVIII. Se mandaron entonces construir las
impresionantes fincas de Seteais y Monserrate. Y en el XIX se levantó el excéntrico Palacio da
Pena. Cuando Lord Byron conoció Sintra, embriagado por su esencia, lo llamó “glorioso
Edén”.

Quien llega a la Quinta da Regaleira lo hace imbuido de la magia del lugar, después de haber
recorrido los caminos arbolados de la sierra, de haber caminado entre la magnificencia de las
fincas decimonónicas y, probablemente, con la misma sensación de incredulidad ante
tamaña maravilla que sacudió a insignes viajeros, como Richard Strauss, y que deleitó a
escritores de la talla de Gil Vicente, Eça de Queirós y Almeida Garrett.

Suspense

Ideada por su propietario, António Augusto Carvalho Monteiro, como una mansión filosofal, la
Quinta posee multitud de códigos simbólicos que el visitante debe desentrañar poco a poco,
penetrando en la fragante espesura de un jardín repleto de misterios y profundizando en el
autoconocimiento. El arquitecto, pintor y escenógrafo italiano Luigi Manini realizó esta obra a
la medida de Carvalho entre 1900 y 1912, participando de su contenido espiritual, bebiendo
de las fuentes de la masonería templaria, la alquimia y la mitología lusa, para construir toda
una visión cosmológica en la que no ha de perderse de vista que Carvalho era católico,
monárquico y conservador. Manini utilizó recursos de varios estilos precedentes para fijar en
piedra creencias fundamentales de la civilización occidental, ya se escriban en románico,
gótico, renacentista o manuelino. De esta forma, la Quinta da Regaleira constituye uno de los
mejores ejemplos del llamado revivalismo romántico. La condición de escenógrafo de Manini
se hace patente en el aire teatral de gran parte de las construcciones, que somete al
caminante a un permanente suspense.

Construida sobre la falda de la sierra, la Quinta se halla integrada en el entorno, a través de


un jardín que semeja un bosque, un paraíso en el que reina un caos ordenado. En la parte
inferior, existe una galería escultórica de dioses griegos; Hermes, el mensajero de los dioses
y la divinidad por excelencia de la alquimia, es el más cercano al palacio. Los miradores, los
bancos y setos alineados, así como los árboles tropicales originarios de Brasil, hacen de esta
zona la más clásica, la más “domesticada”. Según se asciende, la vegetación se torna
aparentemente salvaje y la ornamentación se funde con el paisaje natural.

En la casa egipcia, destaca el mosaico de los ibis, aves sagradas de largos picos que
representan al dios egipcio del tiempo, y de los libros Thot, que también simbolizan la lucha
contra las fuerzas del mal en el lenguaje cifrado de la Quinta. Este significado está realzado
por una fuente próxima que presenta dos delfines con la cola entrelazada y una concha,
alusión al bautismo, al nacimiento de Venus y al peregrino; en definitiva, al renacer en una
vida nueva espiritual. Aquí se levanta la mesa del trono, con un conjunto de bancos de
piedra, donde se podría sentar el capítulo de un hipotético cónclave masónico, junto a varios
jarrones con decoración dionisíaca: cabezas de machos cabríos, sátiros y racimos de uvas.

Cerca, se alza una torre cilíndrica, en cuya base se creó una gruta y un estanque, presididos
por una dama con una paloma en la mano y un cisne a la altura de la pierna. Este conjunto
parece aunar el simbolismo católico de la Virgen, fecundada por el Espíritu Santo (paloma); y
la referencia pagana al mito griego de Leda, fecundada por Zeus en forma de cisne.

De la mano de Dante

Conforme ascendemos, la flora se vuelve más intrincada. A las especies exóticas suceden
ahora las autóctonas de la sierra, castaños, robles, encinas y alcornoques. Algunos ladrillos
devorados por la espesura constituyen la única pista para distinguir la factura artificial de
una chimenea incineradora que se eleva como un gran tronco. En este retorno a lo natural,
se nos aparece una especie de menhir, un conjunto de grandes piedras envueltas en musgo
que señalan el principio del más apasionante viaje interior. Al empujar una de las rocas
verticales, ésta gira sobre sí misma, como una suerte de “ábrete sésamo”. Nos hallamos ante
el pozo iniciático, una torre sumergida treinta metros en las entrañas de la tierra, nueve
tramos de escalinata que se desarrollan en forma de galería cilíndrica con una preciosa
columnata, y que conducen al visitante a través de la oscuridad y la humedad hasta el fondo
del abismo.

El pozo es una de las mayores joyas de Regaleira. Permite realizar un simbólico descenso a
los infiernos, para renacer después a una vida espiritual, algo ya presente en la antigua
cultura egipcia y en Grecia, y que los alquimistas exponen en la máxima “visita el interior de
la tierra, rectificando encontrarás la Piedra oculta, verdadera medicina”. En el fondo del pozo
existe una cruz de ocho puntas que alía el emblema heráldico de los Carvalho Monteiro con
la cruz templaria.
En este recorrido se hace referencia a Dante, pues los nueve tramos podrían relacionarse con
los nueve círculos en que se divide el Infierno de la 'Divina Comedia'. Asimismo, el pozo
conduce a varias galerías subterráneas laberínticas, ¿Purgatorio?, que desembocan en la
terraza Celeste, o celestial (Paraíso), una sorprendente construcción arquitectónica en la que
dos grandes lagartos sostienen una concha que contiene otra concha dentro y protegen la
desembocadura del pozo, coronada por un mirador. Frente a ella se alza una torre como un
zigurat mesopotámico, referencia a la vida celeste, lugar elevado desde el que se entra en
contacto con la divinidad.

Pero hay otra salida desde las galerías enterradas a un lago majestuoso, que, como el Leteo
clásico y dantesco, permite a los que han muerto en el mundo profano olvidar lo que dejan
atrás. Más allá del lago, un jardín paradisíaco con bancos esculpidos en los que también
existen enigmáticas referencias a Dante y a su espiritual Beatriz ofrece luz y sosiego al
viajero. Así, el iniciado realiza su viaje a las tinieblas para profundizar en el conocimiento,
rechazar su vida anterior y renacer en sabiduría y espíritu.

El Temple

Muy cerca del Palacio se yergue la muy bella capilla de la Santísima Trinidad. En derredor,
lucen flores de distintas especies, pero todas ellas de tonos violetas y morados, colores de
renovación. La fachada es apuntada, de filigrana pétrea, un homenaje revivalista al gótico y
al manuelino. Un relieve de la Anunciación corona el pórtico, flanqueado por las esculturas de
San Antonio y Santa Teresa. A la entrada, en el techo sobresale uno de los emblemas
masónicos más representativos, el delta luminoso o triángulo flameante con el ojo de Dios,
sobre una cruz templaria. El interior es reducido, policromo y acogedor. Llama la atención el
impresionante pavimento, un mosaico veneciano que representa varias estrellas y cruces,
entre las que resplandece la templaria central, dispuesta sobre una esfera armilar.

En el altar hay una pintura de la Coronación de la Virgen por Cristo resucitado, obra con
abundantes alusiones, como los colores de la Virgen, que son los de la Obra alquímica, azul,
blanco y rojo; la faja dorada de la cintura podría hacer referencia al oro alquímico. Y unas
escaleras conducen a la zona más misteriosa de la capilla, la cripta austera en la que sólo se
halla un desnudo altar de piedra; el pavimento es de losetas blancas y negras, como el de las
ermitas templarias. El silencio, la penumbra y el recogimiento de la cripta facilitarían la
espiritualidad más ferviente. En la parte trasera de la capilla, un relieve representa el atanor
u horno alquímico, y la consiguiente tri-unidad del mundo, mediante un palacio con dos
torres (mundo superior o espiritual), una zona de llamas (el mundo intermedio del fuego
secreto o del alma) y una garganta infernal (mundo inferior o material).

Epopeya marítima

La fachada del palacio de Regaleira integra de nuevo el recuerdo del gótico, en su ascenso
hacia el cielo, en las agujas, pináculos y gárgolas fantásticas; la ornamentación renacentista
de medallones y vegetación estilizada; y el manuelino portugués, caracterizado por las
cuerdas, nudos, boyas, esferas armilares y demás elementos que aluden a la epopeya
marítima lusa. Entre los relieves simbólicos, se distingue un pelícano que se infiere una
herida para alimentar a sus crías con su propia sangre, símbolo de Cristo muy utilizado por la
masonería.

La que fue vivienda de Carvalho Monteiro -también conocido como Monteiro “de los Millones”
debido a su fortuna, procedente del monopolio del comercio del café y las piedras preciosas
en Brasil-— está concebida a escala humana. Las estancias, pequeñas y confortables, tienen
elegantes mosaicos venecianos y se enriquecen con la calidez de las maderas nobles.
Sobresalen la sala de la Caza, con alusiones al apellido Monteiro, y la del Renacimiento. Para
penetrar en la sala del Billar o de los Reyes, hay que golpear las aldabas con cabeza de león,
símbolo solar y de la realeza. Desde lo alto, nos saludan los monarcas portugueses más
representativos de la identidad nacional, excluidos por tanto los españoles. En el piso
superior, las habitaciones privadas son más reducidas y la decoración, más sobria. En el
techo de la sala de las Tres Virtudes, están retratadas las tres hijas de Carvalho Monteiro,
que representan las tres virtudes masónicas, la Fuerza, la Sabiduría y la Belleza. A través de
los balcones, escalinatas que conducen a miradores y ventanas, el microcosmos interior de la
casa se integra plenamente en el macrocosmos del jardín exterior, propiciándose el
encuentro entre el hombre y la naturaleza.
El palacio acoge también una exposición sobre costumbres, documentos, objetos y
emblemas masones que fueron recopilados por José Eduardo Pisani Burnay. Y la Fundación
Cultursintra promueve todo tipo de actividades culturales: recitales, conciertos, muestras y
espectáculos. Durante el pasado verano, la compañía TapaFuros convirtió los jardines
frondosos de Regaleira en el bosque shakesperiano del “Sueño de una noche de verano”. Los
visitantes pudieron descubrir hadas entre los árboles, y creyeron ver o soñaron duendes
descolgándose por las altas torres, entre las nubes bajas de una noche de verano en Sintra.

Los niveles del pozo aluden a los nueve círculos del Infierno, a
las nueve secciones del purgatorios y a los nueve cielos del
paraíso que Dante consagró en su divina comedia. Hay
muchas más sorpresas en esta quinta pero no me excederé en
descripciones porque hay que reservarse para la visita.Ahora
mismo la quinta da Regaleira contiene una exposición de
objetos de la masonería.

Palácio da Regaleira

El Palácio da Regaleira es el edificio principal y el nombre más común de la Quinta da


Regaleira. También llamado Palácio do Monteiro dos Milhões (Palacio de Monteiro el de los
Millones) por el apellido de su primer propietario, António Augusto Carvalho Monteiro. El
palacio está situado en pleno Centro Histórico de Sintra y está clasificado como Patrimonio
Mundial por la UNESCO. Carvalho Monteiro, ayudado por el arquitecto italiano Luigi Manini,
da a la Quinta de cuatro hectáreas el palacio, jardines lujuriantes, lagos, grutas y edificios
enigmáticos, lugares que esconden significados relacionados con la alquimia, la masonería,
los templarios y la rosacruz. Modela la quinta con construcciones que evocan las
arquitecturas románica, Arte gótico|gótica, renacentista y Manuelino|manuelina.

Localización
Situado en la Estrada Nova da Rainha, en pleno Centro Histórico de Sintra y muy cerca del
Palácio de Seteais, la quinta se beneficia del microclima de la sierra de Sintra, que
contribuye en gran medida con sus nieblas constantes al aura de misterio de los lujuriantes
jardines.

Historia
La documentación histórica relativa a la Quinta da Regaleira es escasa para los tiempos
anteriores a su compra por Carvalho Monteiro. Se sabe que, en 1697, José Leite era el
propietario de una vasta propiedad en los alrededores de la villa de Sintra, que hoy integra la
Quinta. Francisco Alberto Guimarães de Castro compró la propiedad (conocida como Quinta
da Torre o Quinta do Castro en 1715), en subasta pública, canalizó el agua de la sierra con el
fin de alimentar una fuente. En 1830 pertenece a Manual Bernardo, y toma el nombre que
posee actualmente. En 1840, la Quinta da Regaleira es adquirida por la hija de una
comerciante de Oporto, Allen, que más tarde recibió el título de Barones da Regaleira|
baronesa da Regaleira. Data de este período la construcción de una casa de campo, visible en
algunas representaciones iconográficas de finales del siglo XIX. La historia de la Regaleira
actual comienza en 1892, ano en el que los barones da Regaleira venden la propiedad al Dr.
António Augusto Carvalho Monteiro por veinticinco contos de réis. La mayor parte de la
construcción actual de la quinta estaba terminada en 1910. La quinta fue vendida a Waldemar
D'Orey en 1942, quien, sin desvirtuar la concepción original del lugar, realizó pequeñas obras
para acoger a su gran familia. En 1987 la Quinta da Regaleira es adquirida por la empresa
japonesa Aoki Corporation y deja de servir como alojamiento; fue entregada al cuidado de
guardeses y permaneció cerrada al público. En 1997, el ayuntamiento de Sintra adquirió este
valioso patrimonio; poco después inició un exhaustivo trabajo de recuperación del patrimonio
edificado y de los jardines. Desde entonces, la Quinta da Regaleira está abierta al público y
alberga diversas actividades culturales.

La masonería y la Quinta da Regaleira


Parece evidente que la concepción religiosa del mundo que preside la Regaleira se asienta en
el cristianismo, pero en un cristianismo escatológico, relacionado con el fin de los tiempos.
Quiere recordarnos la lección de la escatología cósmica, que anuncia el fin del universo y de la
humanidad, y al mismo tiempo que nos atengamos a la escatología individual, asentada en la
creencia de la supervivencia del alma después de la muerte. Es también un cristianismo
gnóstico, apoyado en discursos míticos y en conocimientos sagrados que prometen la
salvación de los fieles y el retorno de los espíritus. Es, en fin, un cristianismo imbuido de
ideales neotemplarios, asociados al culto del Espíritu Santo, que encontramos en la tradición
mítica portuguesa. La cruz templaria en el fondo del pozo iniciático, la cruz de la Orden de
Cristo en el pavimento de la capilla, así como todas las otras cruces dispuestas en la misma,
testimonian la influencia del templarismo en el ideario sincrético de Carvalho Monteiro.

La Quinta
Carvalho Monteiro tenía el deseo de construir un espacio grandioso, en el que vivir rodeado de
todos los símbolos que reflejaran sus intereses e ideologías. Conservador, monárquico y
cristiano gnóstico, Carvalho Monteiro quiere resucitar el pasado más glorioso de Portugal, de
ahí el predominio del estilo neomanuelino, relacionado con la época de los grandes
descubrimientos geográficos; esta evocación del pasado incluye también el gótico y algunos
elementos neoclasicismo|neoclásicos. La diversidad de la quinta está enriquecida con
simbolismos de esoterismo|temas esotéricos relacionados com la alquimia, la masonería, los
templarios y la Rosacruz.

Lugares de interés
Bosque

El bosque, que ocupa la mayor parte del espacio de la Quinta, no está dispuesto al azar.
Comienza más ordenado y cuidado en la parte más baja da quinta, pero se va haciendo
progresivamente más salvaje a medida que se asciende hasta la parte alta. Esta disposición
refleja la creencia en el primitivismo de Carvalho Monteiro.

Patamar dos deuses (Rellano de los dioses)


A la entrada de este rellano, una estatua de Hermes, el mensajero de los dioses y la
personificación de la revelación de la sabiduría, parece anunciar los otros dioses que bordean
este rellano. En el centro hay dos estatuas de Quimera (mitología)|quimeras, símbolos de
ilusión y utopía.

Entrada dos Guardiães y Terraço Celeste

Pozo iniciático

Una galería subterránea con una escalera en espiral, sustentada por columnas esculpidas,
desciende hasta el fondo del pozo a través de nueve rellanos. Los nueve rellanos circulares del
pozo, separados entre sí por quince peldaños, evocan referencias a La Divina Comedia de
Dante, y pueden representar los nueve círculos del infierno, los del paraíso, o los del
purgatorio. Según los reputados ocultismo|ocultistas Albert Pike, René Guénon y Manly Palmer
Hall, es en 'La Divina Comedia' donde se encuentra por primera vez expuesta la Orden
Rosacruz. En el fondo del pozo está, embutida en mármol, una rosa de los vientos sobre una
cruz templaria, el emblema heráldico de Carvalho Monteiro y, simultáneamente, indicativo de la
Orden Rosacruz. El pozo se denomina iniciático porque se sabe que era usado en rituales
Masonería|masónicos de iniciación; se dice que la explicación del simbolismo de los nueve
peldaños se encuentra en la obra ''Conceito Rosacruz do Cosmos''. La simbología del lugar
está relacionada con la creencia de que la tierra es el útero|útero materno de donde proviene la
vida, pero también la sepultura a donde volverá. Muchos ritos de iniciación aluden a aspectos
del nacimiento y de la muerte ligados a la terra, o al renacimiento. El pozo está comunicado
mediante varias galerías o túneles con otros puntos de la quinta: la entrada dos guardiôes
(entrada de los guardianes), el lago de la cascada y el pozo imperfecto. Estos túneles, otrora
habitados por murciélagos, hoy en día alejados por los muchos turismo|turistas que visitan el
lugar, están recubiertos con piedra importada de la costa marítima de la región de Peniche,
para sugerir un mundo sumergido.

Capilla de la Santísima Trinidad

Con una magnífica fachada neogótico|neogótica y neomanuelina.

Lago de los Cisnes y Banco 515

Torre da Regaleira

Fue construida para dar a quien la sube la ilusión de encontrarse en el eje del mundo.

Palacio

El edificio principal de la quinta está marcado por la presencia de una torre octogonal. Toda la
exuberante decoración estuvo a cargo del escultor José da Fonseca.
La historia actual de la Quinta de Regaleira comienza en el año 1892, cuando es adquirida por Antonio
Augusto Carvalho Monteiro por 25.000 reales. Poco después encarga la realización de la urbanización del
terreno al arquitecto y escenográfo italiano Luigi Manini (1848-1936), que había realizado varias obras
en Portugal desde su llegada en el año 1876. Como sucedió en Barcelona con la colaboración entre
Gaudí y Güell para la construcción del Parque Güell, también en Sintra la actuación conjunta del
promotor de la obra con el arquitecto va a producir la realización de una obra maestra, en la que se
mezclan el revival manuelino con el culto a la naturaleza y la creación de una mensaje críptico,
esotérico e iniciático, emparentado con antiguas sociedades secretas, algunas de las cuales habían
tenido su implantación en Sintra en plena Edad Media, como es el caso de la masonería templaria. No
sabemos si Carvalho estuvo afiliado a alguna de esas sociedades secretas imperantes en la Europa del
siglo XIX como la Masonería o los Rosacruces, aunque sí debió conocerlas, ya que el propio monarca
lusitano Fernando II, constructor del Palacio de Pena, fue candidato al puesto de Gran Maestre de la
Obediencia Masónica Gran Oriente Lusitano Unido. También se ha señalado la inspiración cristiana de
Regaleira, aunque se trata de un cristianismo escatológico, relacionado con el fin del mundo.
El estilo utilizado en algunas de las construcciones más importantes, el palacio y la capilla, tienen
también su modelo más próximo en el Palacio Real de Pena, construido a partir de 1838 por Don
Fernando.
Luigi Manini contó con la colaboración del maestro Antonio Gonçalves, fundador de la Escuela libre de
Artes y Diseño de Coimbra, junto con los escultores Joâo Machado, Rodrigo de Castro, Costa Mota y
Antonio Gomes, que ya habían trabajado con anterioridad en el Palacio Hotel de Buçaco en Coimbra.
Junto a ellos colaboraron también los escultores José da Fonseca y sus hermanos Luís y Julio. La
envergadura de la obra, que suponía no solo la construcción del Palacio y la capilla, sino la
transformación de toda la montaña, que fue incluso horadada para construir cuevas y lagos artificiales.
El Palacio es una grandiosa construcción realizada en piedra dentro de una estética neomanuelina
predominante, donde se mezclan los muros almohadillados con una profusa decoración figurada,
predominando los animales fantásticos junto con los temas propios del estilo: las cuerdas, los nudos, las
lazadas, los capiteles, las gárgolas, los pináculos y la vegetación neorrenacentista, destacando el gran
relieve de la Niña de las Palomas, situada bajo el gran balcón de la fachada oriental.
Junto al palacio se halla la Capilla, consagrada a la Santísima Trinidad, que se halla cargada de
esculturas religiosas y de símbolos. Orientada de este a oeste, en su fachada occidental destacan las
esculturas de Santa Teresa y San Antonio de Padua en dos hornacinas situadas junto a la portada
central, adornada con el tema de la Anunciación bajo la bendición del Padre Eterno. En su interior
destacan la decoración con mosaicos polícromos provenientes de Venecia y las vidrieras traidas de
Milán. La capilla cuenta también con una cripta, realizada con una gran austeridad inspirada en las
ermitas de la orden del Temple. El pavimento está recubierto con mosaico ajedrezado en blanco y
negro.
Pero sin duda es el bosque circundante la verdadera maravilla de Regaleira, que llevó a la UNESCO a
declararla Patrimnomio de la Humanidad. La quinta fue visitada por Gil Vicente, que la llamó Paraíso
Terrenal, y por Lord Byron, que la define como Glorioso Edén.
Inspirado en el bosque sagrado del mundo clásico, que influyó poderosamente en la creación del sacro
bosque de Bomarzo, se construye sobre una montaña cubierta por una tupida vegetación boscosa, que
es necesario recorrer por caminos sinuosos ascendentes. El bosque se concibe como un museo o
escenario al aire libre, donde se suceden los caminos sinuosos, las terrazas, los miradores, las escaleras,
los bancos, las grutas,y las construcciones acastilladas. El recorrido presenta una gran unidad y tiene
una clara intención iniciática.
Dentro de los elementos paganos pueden destacarse en la zona inferior la terraza de los dioses, donde
se alinean una serie de esculturas clasicistas de dioses del mundo antiguo, la Casa Egipcia con los ibis, y
el Lago Mayor con la Fuente de la Abundancia y la Gruta de Leda.
La segunda etapa, de naturaleza cristiana, empieza en el Pozo Mayor, una especie de torre construida
en las entrañas de la tierra, adornada con una gran galería en espiral, al final de la cual se halla la cruz
templaria junto a una estrella de ocho puntas, emblema heráldico de Carvalho Monteiro, y que continua
hasta lo alto hasta llegar a la Luz, terminando en la cripta y en la capilla de inspiración masónica-
templaria, dedicada a la Santísima Trinidad. Más adelante se hallan la Torre de Regaleira, símbolo de la
vigilancia y de la meditación, la Terrraza Celeste, construidas ambas dentro de la estética del castillo
medieval, la Gruta de Oriente, la Fuente de la Abundancia, el Portal de los Guardianes, inspirado en los
monstruos guardianes de puertas y de accesos a cuevas y jardines, la Terraza de los Mundos Celestes, y
la Gruta de la Virgen.
Una vez que hemos llegado al final, situado en lo alto de la montaña, una vez que hemos logrado el
conocimiento de lo oculto y estamos ya iniciados, ya podemos bajar y salir al mundo exterior.
Patamar dos deuses

También podría gustarte