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Direito Internacional Público

Introdução

I – Noção de Direito Internacional

O Direito Internacional é um ramo da ciência jurídica. Analisa-se, pois, num corpo de


normas jurídicas. É uma ordem normativa e um factor de organização social.
O Direito Internacional aplica-se à Sociedade Internacional. Isto significa que a
Sociedade Internacional existe ao lado da sociedade nacional ou interna.

II – Direito Internacional, Direito Interestadual ou Direito das Gentes

Actualmente, a sociedade internacional não é constituída apenas por estados. Para além
do estado soberano, existem muitas outras entidades que tornaram a sociedade internacional
mais vasta e plural.
A expressão Direito das Gentes recebe o favor de certa doutrina pois no seu sentido
literal engloba todos os sujeitos de direito internacional.
Em conclusão, trata-se de um problema menor pelo que Direito internacional e Direito
das Gentes são perfeitamente equivalentes.

III – Direito Internacional Geral e Direito Internacional Particular

Resultado da heterogeneidade dos estados que compõem a sociedade internacional,


compreende-se que o Direito Internacional haja de reflectir essa heterogeneidade e seja, ele
próprio, feito da justaposição de regras gerais e de regras especiais.

1 – Sociedade internacional universal e Direito internacional Geral

Embora a heterogeneidade dos Estados, existe um Direito que os submete a todos ao


mesmo ordenamento jurídico. Deste modo, fala-se de Direito Internacional Geral para significar
o direito que se aplica à comunidade internacional universal. Conjunto de normas aceites pela
comunidade internacional de Estados no seu conjunto.
Fazem parte do Direito Internacional Geral as normas de costume geral bem como
convenções de alcance universal.

2 – Sociedades internacionais restritas e Direito Internacional Particular

O Direito Internacional Particular resulta das afinidades que surgem entre certos
estados. Ao lado da sociedade internacional surgem sociedades particulares. Há normas, assim,
de conteúdo mais específico, que se aplicam a sociedades mais particulares.
Fazem parte deste Direito internacional Particular as normas de Costume Regional e
Local e as que constam da maior parte dos tratados internacionais.

IV – As funções do Direito Internacional

Com o nascimento dos estados modernos, surgiu o medo pois o novo status quo
comportava riscos evidentes, designadamente o da institucionalização de um clima de anarquia
e de violência entre aquelas comunidades soberanas que não se achavam limitadas por qualquer
autoridade política superior.

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Direito Internacional Público

A doutrina da soberania formulada em 1576 por Jean Bodin na sua obra de Teoria
Política de República e os seus desenvolvimentos de Thomas Hobbes em Leviathan,
contribuíram para adensar ainda mais o receio do futuro previsível das relações internacionais.

Perante este cenário, tornou-se imperioso fundar as relações internacionais num ideal
unificador. Esse ideal seria o da submissão dos vários estados seculares a um conjunto de
normas reguladoras das suas relações recíprocas.

Em resumo:
● Permitir a coexistência entre estados heterogéneos e juridicamente iguais;
● Satisfazer necessidades e interesses comuns que começaram a surgir na sociedade
internacional.

V – os termos sociedade e comunidade internacional

Seguindo a teoria prosseguida por Marcello Caetano, entre outros sociólogos alemães:
→ No termo comunidade os factores de agregação sobrelevam os de conflito ou afastamento;
→ No termo sociedade os factores de conflito sobrelevam os de agregação.
Nas relações internacionais perpassam dois movimentos antinómicos. De um lado:
→ A tendência para os Estados afirmarem a sua soberania e independência; de outro:
→ A sua aspiração a uma verdadeira comunidade.
O Direito Internacional nasce destes dois movimentos de sinal contrário, tendo como
objectivo compatibilizá-los e harmonizá-los.
Em conclusão, se por um lado os estados são diferentes, por outro, eles submetem-se ao
Ordenamento Internacional.

Ver em pag 18

VI – a Normatividade Internacional: Indefinições do Momento Presente

Ler da página 19 a 28 (não é relevante)

Capitulo I

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Direito Internacional Público

Evolução histórica do direito internacional

I – introdução

II – Modelo clássico ou de Westfália

- Período de tempo que vai de 1648 até 1945.


- Vasta planície interestadual em que os estados se situam num plano paritário;
- Os órgãos estaduais são simultaneamente os órgãos da ordem internacional e da ordem
interna – desdobramento funcional;
- Ausência de regras que impusessem, aos estados, limites na sua actuação concreta;
- Direito de Laisser-Faire;
- As normas tinham uma eficácia objectiva e subjectiva limitada;
- Direito feito por Estados para Estados;
- Houve normas sobre:
1) A soberania;
2) Responsabilidade internacional;
3) Tratamento de estrangeiros;
4) Normas sobre privilégios e imunidades diplomáticas consulares;
5) Normas sobre o recurso à guerra…
6) Conclusão e condições de validade dos tratados;

1 – A personalidade jurídica

→ A Personalidade jurídica praticamente se circunscrevia aos estados soberanos.


→ Eram os únicos sujeitos de direito internacional: Tinham liberdade irrestrita.
→ A soberania entendia-se como absoluta – Estado entendido como comunidade perfeita.
→ Como consequência havia dispersão do poder, dada a descentralização da estrutura da
sociedade internacional.
Ao direito internacional apenas cabia dar o consentimento dos equilíbrios de força. Não
se esperava que as normas alterassem o status quo.
As normas de Direito Internacional eram de eficácia limitada tanto do ponto de vista
subjectivo como objectivo.

2 – Fontes de Direito

No que se refere às fontes de direito, estas resumiam-se:

→ Ao costume (definir o que é). Este tende a assumir uma importância acrescida numa
sociedade descentralizada, desprovida de órgãos vocacionados para a criação autoritária do
direito.
→ Tratados ou convenções bilaterais (definir o que é).
→ Eram raros mas vislumbravam-se já alguns tratados multilaterais.

3 – Três funções típicas


Havia, nesta época, devido à fraca institucionalização da sociedade internacional, um
exercício descentralizado das funções legislativa, executiva e judicial. Cabia a cada estado, de

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per se, levar a cabo estas tarefas. Os Estados autolimitavam-se na sua soberania para criar
normas.
Quanto à produção normativa, a imagem de marca do Direito Internacional é o
voluntarismo.
No que diz respeito à imposição de sanções, esta era feita em regime de auto-tutela.
Havia já tribunais internacionais mas a sua competência não era obrigatória por força de lei.
A reintegração dos direitos tende a ser de auto-reintegração e não de hetero-
reintegração.
O mesmo se diga quanto à efectivação das sanções contra os infractores. São notórios
neste período os abusos e as arbitrariedades. O recurso à força era um direito dos Estados.
Contudo, este direito não protegia, como é óbvio, os mais fracos.

4 – Principio da efectividade

Outra característica é a precariedade dos limites jurídicos no que diz respeito ao recurso
à força nas relações internacionais. Desde a paz de Westfália até ao século XIX, os Estados
tinham plena liberdade de fazer a guerra, de acordo com os fins, dos quais, aliás, eram únicos
juízes, que com ela visassem alcançar.
Daqui resulta que os princípios jurídicos internacionais não ofereciam aos sujeitos de DI
seus destinatários, uma protecção consistente.
Predomina também neste primeiro período o princípio da efectividade, ou seja, só as
situações que se encontrassem já consolidadas produziriam efeitos jurídicos.

5 – Responsabilidade Internacional por factos ilícitos

A responsabilidade por factos ilícitos era, como nos diz Cassese, assunto privado entre
os Estados directamente envolvidos. A prática de acto ilícito fazia surgir uma relação jurídica
nova de carácter bilateral.
Por outro lado, a responsabilidade internacional neste período é colectiva, ou seja, eram
os Estados e não as pessoas concretas quem eram responsabilizados.
A responsabilidade internacional clássica tem ainda como característica o seu carácter
meramente reparatório, isto é, visava apenas reparar os danos ocorridos, o que se traduz única e
exclusivamente na reparação dos danos sobrevindos à prática de um acto internacionalmente
ilícito.

6 – Conclusão

Em conclusão, este modelo visava apenas:

→ Assegurar a coexistência e justaposição entre os Estados.


→ Era um direito axiologicamente neutro, não havia valores superiores nem a intenção de
corrigir desigualdades.
→ A normatividade internacional era horizontal. Todas as normas tinham o mesmo valor.

III – Modelo Moderno ou da Carta das Nações Unidas

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1 – Plano dos sujeitos de direito internacional.

Período que se inicia após a II Guerra Mundial. O Direito Internacional vai sofrer
profundas alterações e vai aproximar-se cada vez mais do direito interno.

Factores:

→ Aumento de estados devido à descolonização;


→ Verifica-se um alargamento do elenco de sujeitos de Direito Internacional, que deixam de ser
apenas Estados;
→ Proliferação de Organizações Internacionais que são verdadeiros centros de imputação de
direitos e deveres;
→ Tornou-se frequente o surgimento de grupos organizados, que luta em nome de um povo
contra determinadas estruturas de opressão;
→ Também o indivíduo integra hoje o leque de sujeitos de direito internacional;
→ A partir desta altura começam a proteger-se alguns direitos das minorias; mas é com o Pacto
internacional sobre os Direitos Civis e Políticos que as minorias vêm os seus direitos
reconhecidos, embora a sua personalidade jurídica ainda continue titubeante;

2 – Fontes de Direito

Também as fontes de direito sofreram alterações. Passamos a observar a partir de agora


outras fontes como:
→ Costume selvagem – inversão do seu modo de formação: em primeiro lugar surge um
sentimento de obrigatoriedade jurídica e só depois surgem, paulatinamente, os comportamentos;
este procedimento torna bem mais célere o surgimento dos costumes como fonte de direito.
→ Os tratados multilaterais – As convenções internacionais cessam de ser bilaterais. Existe
cada vez mais recurso aos tratados multilaterais. Muitos destes tratados são abetos, ou seja,
autorizam que qualquer estado possa juntar-se a ele, através de um acto unilateral, sem que
tenha estado na sua formação e sem que as outras nações o possam impedir;
→ Tratados multilaterais gerais – têm vocação universal e são uma espécie de acordo colectivo;
→ Actos jurídicos unilaterais, ou seja, os que dimanam das organizações internacionais, isto é
as resoluções;

3 – Recurso à força nas relações internacionais

No Direito Clássico o recurso à força era legítimo. Agora consagra-se o princípio da


proibição do recurso à força nas relações internacionais. O recurso à força deve constituir uma
espécie de última ratio que apenas o conselho de segurança da ONU pode decretar – Carta das
Nações Unidas, artigo 2º/4.
O princípio da efectividade perde importância, a tal ponto que surgiu mesmo um
postulado que o vem mesmo contrariar – referimo-nos ao dever de não reconhecimento de
situações ilícitas, firmado pelo secretário de Estado americano Lewis Stimson.

4 – Preocupações Ambientais

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Direito Internacional Público

As preocupações ambientais passam a estar no centro das preocupações do Direito


Internacional Público. Este é, a bem dizer, um dos ramos mais importantes do Direito
Internacional Público mais moderno.

5 – Axiologia

A partir da segunda metade do século XX começaram a surgir um conjunto de


princípios jurídicos reputados de fundamentais pelos componentes essenciais da comunidade
internacional. Este surgimento deve-se a valores que emergiram a partir da segunda metade do
século XX. Dois deles afirmam-se como primaciais:
→ Paz;
→ Protecção da dignidade fundamental da pessoa humana;
A identificação destes princípios torna as normas de Direito internacional
teleologicamente orientadas à consecução de certas finalidades. Para mais, a esta hierarquização
de valores, haveria de corresponder uma hierarquização das normas – emergência dos princípios
fundamentais do ordenamento jurídico internacional.

6 – Responsabilidade Internacional

A responsabilidades internacional deixa de ser assunto privado dos particulares,


convertendo-se em assunto público. Contudo, para os assuntos de menor gravidade, continua a
ser um assunto privado. Se houver violação dos valores e princípios fundamentais em número
anterior mencionados, a Responsabilidade Internacional é assunto público. Este ponto abre a
porta para o surgimento de uma hierarquia de ilícitos.
Neste contexto se insere a distinção entre crimes e delitos internacionais.
A finalidade deixa de ser meramente reparatória e passa a comportar uma dimensão
sancionatória. As sanções são impostas pelas organizações internacionais.
No modelo moderno de Direito Internacional a responsabilidade internacional por
factos ilícitos individualizou-se. O indivíduo tornou-se sujeito de direito internacional.
A responsabilidade dos Estados por actividades não proibidas pelo Direito
Internacional, responsabilidade objectiva, pelo risco ou sem culpa, constitui outro tipo de
responsabilidade.

7 – Em síntese:

O Direito Internacional contemporâneo é um direito axiologicamente fundado e


materialmente interessado. As suas normas visam moldar e conformar a realidade a que se
dirigem, indo mais além do que a mera consagração de igualdade formal entre os estados.
Verifica-se uma crescente integração e institucionalização de uma cada vez mais
comunidade e não sociedade.

Capitulo II

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As relações entre o Direito Internacional e o Direito Interno

Relações entre o Direito Internacional e o Direito Interno

I – introdução
O direito internacional público traduz-se num ordenamento jurídico autónomo, ele tem
uma qualidade jurídica – é pois um conjunto de normas que disciplinam, num dado momento, as
relações entre Estados.
Como é que as normas internacionais são recebidas na Ordem Jurídica Interna? Uma
vez recebidas, que normas prevalecem? Eis o enunciado da questão.

II – Soluções Teóricas

1 – Teses dualistas

Para os dualistas há duas ordens jurídicas diferentes uma da outra. As duas ordens
consubstanciam dois sistemas distintos e para que uma norma internacional fosse recebida teria
de ser transformada em Direito Interno.
Os postulados em que se alicerça esta teoria são o positivismo e o estadualismo. O que
está em causa é o consentimento do Estado. Este consentimento é fundamental.
Triepel, diz-nos que o direito interno traduz as relações internas, as relações entre o
cidadão e o Estado. O Direito internacional regula as relações externas, relações de Estado para
Estado. O direito interno tem como origem a vontade de um Estado, o direito internacional
traduz a existência de vários Estados.

2 – Teses monistas

Para os monistas existe uma essencial unidade do mundo jurídico. Existe um sistema
total de direito. É uma ideia que trata de unificar o direito internacional e o direito interno num
único sistema jurídico.
Autores como Grócio, Suarez e Victoria pretenderam fazer assentar o Direito
internacional num direito natural.
A unidade do direito radica no valor da dignidade da pessoa humana. Tanto o Direito
Interno como o D.I. radicam neste valor.
Fundamento material da tese monista: dignidade da pessoa humana.
Fundamento formal da tese monista: os pactos são para se cumprir. Influência de
Kelsen. Este princípio é transportado para o Direito Internacional a partir da segunda guerra
mundial.
Porém, existem variantes nas teses monistas. Monismo com primado do direito interno
e Monismo com primado do direito internacional.
Estas correntes falam-nos da prevalência das normas em caso de conflito.

2.1 - Monismo com primado do direito interno

Esta variante coloca no direito interno a prevalência da vontade do Estado em caso de


conflito de normas de D.I. e de D. interno. Esta tese não é mais de que um direito estadual

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externo. O Estado é a fonte de todo o direito e a vigência e aplicação de normas de direito


internacional dependem da vontade do Estado.

2.2 - Monismo com primado do direito internacional

Esta variante afirma a superioridade do direito internacional, assente em conteúdos de


ordem politico-moral. É ao Direito Internacional que cabe validar as ordens jurídicas nacionais.
A soberania reside no Direito internacional, todo ele voltado para a dignidade da pessoa
humana.
Numa versão mais radical defende-se a homogeneidade da Ordem Jurídica. Tal
homogeneidade assenta no suposto que as normas internacionais se situam num plano superior
às normas internas.

Avaliação doutrinal das teorias

Encontra-se subjacente à posição do DIP uma posição monista. É pretensão da tese


monista dar resposta à globalização. A globalização também se faz no âmbito do direito.
O nosso curso aponta para a teoria monista. Por outro lado, podemos afirmar que o
nosso ordenamento jurídico-constitucional tende claramente a assumir uma posição monista. A
nossa constituição é amiga do direito internacional público na medida em que está em sintonia
com a DUDH e CNU. A comprovar esta afirmação estão os artigos 7º, 8º e 16º da CRP

III – soluções positivas

1 – Técnicas de incorporação: várias técnicas de recepção do direito internacional


em geral admitidas

Técnica de recepção automática

Segundo esta técnica, a Ordem Jurídica interna aceita sem quaisquer restrições a
vigência das normas internacionais no plano interno. A norma internacional passa a produzir
efeitos mantendo a qualidade de norma internacional.
Dentro deste sistema, porém, a Constituição do Estado em questão, não deixa de impor
algumas condições, mas são meras condições de eficácia: por exemplo, publicação. Esta
condição é uma condição leve.
Esta técnica revela uma concepção monista do direito, mais precisamente do monismo
com primado do direito internacional.

Técnica da transformação

Aqui, a Ordem Jurídica já não aceita a vigência de forma automática. O Estado opõe-se
à vigência do Direito Internacional e vai impor condições em concreto: exige-se que o
legislador ordinário reproduza a norma através de um acto normativo da sua competência.
Como se vê, a norma internacional perde essa qualidade pois foi transformada em direito
interno.
Relativamente à problemática da interpretação e das lacunas, os critérios adoptados
podem já ser os do direito internacional.
Esta teoria reflecte uma concepção dualista do direito.

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Técnica da recepção semi-plena (sistema misto)

É um sistema que conjuga os dois últimos sistemas. Assenta numa distinção das normas
internacionais de acordo com o seu conteúdo. Assim, as normas internacionais respeitantes a
certas matérias, vigoram automaticamente no plano interno, as demais, necessitam de um acto
de transformação.
Esta técnica tem subjacente uma conjugação entre as concepções monistas e dualistas,
acerca do relacionamento entre a ordem internacional e a interna.

IV – relevância e hierarquia no direito internacional na ordem jurídica portuguesa

Em Portugal são os artigos 7º e 8º e 16º da CRP que nos falam sobre as relações entre o
Direito Internacional e o Direito Interno. Como vemos, no caso português, a questão da
recepção do direito internacional foi decidida ao mais alto grau – poder constituinte.

Artigo 7º

O artigo 7º consagra os princípios por que se rege o Estado Português em matéria de


relações internacionais. O nosso Estado é aberto ao Direito Internacional. A nossa constituição
consagra a técnica da recepção automática do direito internacional pois alicerça-se numa
concepção monista do direito.
Portugal pretende reforçar a ideia de continuidade material entre o direito internacional
e o direito interno.

Artigo 16º

O artigo 16º/1 abre o catálogo de direitos fundamentais em sentido material. EX.: pactos
internacionais sobre direitos do homem.
O artigo 16º/2 tem a ver com a DUDH. Esta deve ser considerada como princípio de
direito geral ou comum. Embora não seja vinculativa, o nosso legislador constituinte veio
transforma-la em instrumento interpretativo da nossa constituição.

Só em situações muito raras será possível conflito entre normas de direito internacional
e direito interno.

1 – Análise do artigo 8º da Constituição da República Portuguesa

O artigo 8º trata do problema da incorporação das normas de Direito Internacional na


Ordem Jurídica interna.

a) Direito Internacional geral ou comum – artigo 8º nº 1

Temos aqui implícita uma ideia de direito das nações.


No artigo 8º/1 temos a técnica de recepção automática do Direito Internacional. É uma
questão pacífica na doutrina portuguesa.
Direito Internacional Geral ou Comum: trata-se de um conjunto de normas de Direito
Internacional que vinculam todos os sujeitos de Direito internacional. São normas de:

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→ Costume geral.
→ Tratados universais ou para-universais.
→ Princípios gerais de direito internacional reconhecidos pelas nações civilizadas.

Porém, relativamente à inserção, no plano interno, dos costumes bilaterais e regionais,


têm-se levantado algumas dúvidas.
Não fazia sentido que os costumes bilaterais e regionais não vigorassem na nossa
Ordem Jurídica, embora a CRP seja omissa relativamente a tal preceito.

Tese de Silva Cunha

No que respeita ao costume regional ou local, o que preside à sua recepção no direito
português é uma recepção semi-plena. O costume universal é incorporado no direito português
segundo a técnica de recepção plena.

Tese de Moura Ramos

Devido ao âmbito alargado do costume de direito internacional, todo o costume vigora


no ordenamento jurídico interno, de acordo com a técnica de recepção automática.

Azevedo Soares

Interpretação extensiva! No direito internacional temos direito internacional geral,


direito internacional particular, e o especial. Há que distinguir se o costume regional se
constituiu com a participação do Estado português.

Apesar das divergências doutrinais, temos que fazer uma interpretação extensiva do
artigo 8º/1, defendida por Azevedo Soares. Neste sentido, integram e vinculam, o Direito
Português, os costumes bilaterais ou regionais em que cuja formação Portugal haja participado.

b) Direito internacional Particular (convencional) – artigo 8º, nº 2

Para as normas constantes de convenções internacionais, a CRP enveredou igualmente


pelo sistema de recepção automática, mas condicionada. A CRP exige que as convenções
internacionais sejam ratificadas e bem assim aprovadas em Diário da República. No artigo 8º/2
temos uma condição mas não é uma condição de validade. É uma mera condição de eficácia – a
publicação. Esta publicidade tem apenas como objectivo garantir o princípio da segurança
jurídica e da protecção da confiança dos cidadãos.

“Vigora no plano interno enquanto vincular o Estado Português”. Significa isto que
uma convenção internacional só começa a produzir efeitos na ordem interna quando começar
também a produzir efeitos na ordem internacional. O mesmo se diz para a situação inversa, se
na Ordem Externa a CI deixar de produzir efeitos, cessam também efeitos na ordem interna.

c) Direito derivado das Organizações Internacionais – artigo 8º nº 3

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Este artigo foi acrescentado na revisão constitucional de 1982 para adaptar a CRP à
futura adesão de Portugal às comunidades Europeias e a um Direito com características
supranacionais.
Pela leitura do nº 3 do artigo 8º da CRP, facilmente se conclui que não é exigida
nenhuma formalidade para que os actos de Direito Comunitário vigorem na Ordem jurídica
interna. Esses actos gozam ainda de aplicabilidade directa.
Porem, este número impõe duas condições:

a) Que as normas emanem ou provenham de órgãos competentes dessas organizações;


contudo, esta condição não encontra paralelo no Direito Comunitário originário, nem na
jurisprudência comunitária, nem na prática internacional na matéria.

b) Que se encontre estabelecido nos respectivos tratados constitutivos o mencionado


regime de aplicabilidade directa;
Mas, o único acto que o Tratado de Roma previu aplicabilidade directa é o
Regulamento.
Por isso, na revisão constitucional de 1989 suprimiu-se o advérbio expressamente o que
terá significado uma implícita aquiescência ao efeito directo de outros actos de Direito
comunitário derivado para além dos regulamentos.

Afigura-se que os interesses gerais da União Europeia nos levem a ter que fazer uma
interpretação extensiva da expressão normas de sorte a permitir englobar também os actos.

Dualidade de critérios nos números 1 e 2 do artigo 8º

O artigo 8/1 fala no direito internacional geral ou comum. No número 2 fala do critério
da fonte. O nosso legislador constituinte não seguiu o mesmo critério.
Contudo, entendemos que neste artigo o nosso legislador quis falar em três grandes
tipos de Direito internacional.
No número 1 do artigo 8º fala do Direito internacional geral ou comum.
No número 2 aludiu ao Direito Particular.
No número 3 a um Direito especial que emana de Organizações de Tipo União
Europeia.

2 - Hierarquia entre as normas internacionais e internas

a) Direito internacional geral ou comum

Para a generalidade dos autores, este direito tem um valor supralegal, pois o Direito
internacional relaciona-se com o núcleo de princípios que vinculam todos os sujeitos de Direito
internacional. São normas de ius Cogens, imperativas, relativamente às quais se formou um
consenso geral e por isso não se poderia aceitar que uma norma interna contrariasse esses
princípios. No que diz respeito às relações com a CRP, a questão já é mais complexa.
Relativamente à legislação ordinária, não há grande contestação, a própria CRP, no
artigo 8/1, considera como fazendo parte integrante do direito português os princípios de direito
internacional.
Relativamente às relações com a CRP, este Direito Prevalece sobre as normas
constitucionais precisamente pelos mesmos motivos, embora este seja um ponto em que há

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divergência doutrinal. Ainda assim, como permitir que uma norma constitucional viole os
princípios de um direito que é comum a todos?
No artigo 16/2 da CRP existe um indício desta superioridade do Direito internacional. A
D.U.D.H. é um preceito de Direito internacional Geral ou comum e a CRP manda interpretar as
normas constitucionais de acordo com a D.U.D.H.
Do ponto de vista prático não tem importância discutir este problema pois não se
concebe que um estado promulgue legislação contrária aos Princípios de Direito Internacional.

b) Direito internacional Convencional (particular)

Apesar de a CRP não resolver de modo expresso este problema, a doutrina e a


jurisprudência, principalmente a do Tribunal Constitucional, apontam para que o direito
internacional Particular tenha valor supralegal face ao Direito Ordinário Interno.
Razões que defendem tal posição:
- Se a legislação ordinária tivesse valor superior revogava a legislação internacional.
Mas, segundo o artigo 8º/2, a convenção internacional tem uma posição hierárquica superior
relativamente ao Direito Ordinário interno.
A suportar esta afirmação existem dois indícios:
- Artigo 7º e 8º da CRP – atitude de grande abertura do Estado Português perante o
Direito Internacional;
No artigo 8º/2 diz-se que as CI vigoram no direito interno enquanto vincularem
internacionalmente o Estado português. Podemos inferir a partir deste preceito a supra
legalidade das CI.
- Artigos 119º da CRP – as convenções internacionais figuram em segundo lugar, logo
após as leis constitucionais; critério de ordenação dos diversos instrumentos normativos.
Se uma lei interna estiver em desacordo com uma convenção internacional, seja qual for
o vício, cremos que a consequência é a sua ineficácia, invalidade (Jorge Miranda) ou
ilegalidade.

Quanto à constituição

Relativamente à constituição, existem duas teses diferentes:

Tese a favor da superioridade da constituição

A constituição é a norma fundamental do Estado, logo os tratados devem estar abaixo


da Constituição.

Tese contra a superioridade da Constituição

Esta tese afirma que o direito internacional tem uma importância fundamental e por isso
deve estar acima da própria constituição. Esta tese baseia-se no artigo 27 da CV.

Porém, o próprio acto de recepção do direito internacional é um acto estadual. Há um


princípio de soberania dos Estados pelo que o direito interno está acima das convenções
internacionais. Artigo 3º/3 e 277º.

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Uma vez que as normas de Direito Internacional das Convenções internacionais estão
sujeitas à fiscalização Constitucional, significa que essas normas são supra-legais, mas infra-
constitucionais. Artigo 278 e ss.
Há porém excepções a esta fiscalização da constitucionalidade. Ex.: os pactos civis e
políticos, bem como os económicos, sociais e culturais.

c) Direito das Organizações Internacionais

Direito Comunitário Originário: o Direito Comunitário Originário é aquele que


consta dos tratados que instituíram as três comunidades Europeias, bem como os tratados
modificativos.
Direito Comunitário Derivado: Direito que é emanado pelas instituições comunitárias.
Relativamente à legislação comunitária, aquela tem valor supra-legal pois emana de uma
organização Internacional Supra-nacional.

As relações desse Direito com a Constituição suscitam mais dúvidas. Contudo, a revisão
Constitucional de 2005 veio clarifica-las.
Segundo o princípio do primado do Direito Comunitário, o Direito Comunitário
prevalece sobre o Direito interno, artigo 8º/3. Este princípio resulta de uma exigência do próprio
Direito Comunitário. Foi um sentimento que se foi forjando na Comunidade Europeia.
Uma norma estadual que contrarie uma norma comunitária tem como consequência a
sua ineficácia e inaplicabilidade.
Relativamente às relações que este Direito tem com a CRP, temos aqui um problema
mais complexo. Temos que recorrer novamente ao princípio do Primado do Direito
Comunitário. Resta então saber se uma vez transferidas determinadas competências para a
União, o controlo da Constitucionalidade das suas normas também está a cargo da união: Uma
resposta positiva implica um grau de integração que ainda não existe. Ainda assim, é evidente
que o TC tem uma limitação no seu âmbito de intervenção. O TC deveria apenas, segundo
alguns autores, limitar-se a averiguar a compatibilidade das normas com os princípios
informadores e estruturantes da CRP.
Também o mecanismo do reenvio pré-judicial por parte do TC para o tribunal de Justiça
das Comunidades em matéria de interpretação e validade do Direito Comunitário traduz uma
intervenção de última ratio do exercício dos poderes do TC.
Por fim, o tratado da U.E., considerando obrigatórios para a união, como princípios
gerais de Direito Comunitário, quer os direitos fundamentais consagrados na convenção
europeia dos direitos do homem, quer os que resultam das tradições constitucionais comuns aos
estados membros, reduzem de forma significativa o campo de conflito entre as normas
constitucionais e o Direito Comunitário.

Capitulo III

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As Fontes de Direito internacional

I – Introdução

A fonte de Direito é o procedimento técnico de onde se revela a norma jurídica. É


evidente que estamos perante uma linguagem metafórica.
Em sentido material, fonte de direito remete-nos para o fundamento sociológico das
normas jurídicas.
Mas, concentremo-nos no sentido formal. A comunidade internacional não dispõe de
uma constituição. Há um texto de valor universal em que praticamente todos os Estados
aderiram que é o Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça.
O artigo 38º do Estatuto desse tribunal enuncia as Fontes de Direito internacional.

Fontes formais

a) Convenções internacionais;
b) Costume internacional;
c) Princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas;

d) Sob reserva do artigo 59º, as decisões judiciais e a doutrina de juristas


consagrados nas mais diversas nações; A jurisprudência e a doutrina apenas surgem para
auxiliar e determinar o conteúdo das normas já existentes não fazendo parte do elenco das
fontes formais.

O tribunal pode ainda decidir segundo critérios de equidade, se as partes o autorizarem.

Conclusões:

a) A lista das fontes formais não é exaustiva.


b) Há outras fontes que ficaram de fora deste elenco, nomeadamente o Direito das
Organizações Internacionais e os actos jurídicos unilaterais dos Estados.

Falamos aqui dos actos jurídicos unilaterais, quer os dos Estados quer os das
Organizações internacionais. Por altura da feitura do Estatuto do TIJ, esta fonte não tinha a
importância que veio a ter mais tarde.

c) Não há relação de hierarquia entre as fontes de Direito Internacional. O que pode


haver é hierarquia entre as normas reveladas por essas fontes.
A verdade é que esta ordem das fontes não foi ordem do acaso. Significa que os juízes,
perante um caso, decidem em primeiro lugar recorrer às fontes segundo aquela hierarquia.

d) Foram enumeradas as fontes mas não se deu uma definição de cada uma delas. Existe
porém uma norma costumeira que nos diz em que consiste cada uma das fontes.

II - Convenções internacionais
1 - Noção

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Direito Internacional Público

As Convenções internacionais constituem um instrumento já muito antigo. Por isso, não


é susceptível de gerar discussão.
As C.I. são acordos entre dois ou mais sujeitos de D.I. destinados a regular
juridicamente a conduta desses sujeitos e disciplinada pelo Direito internacional mas também
pelo próprio Direito interno.

Manifestação de vontades concordantes

É um acordo de vontades que pode até nem ser simultâneo. Podem mais tarde associar-
se outras declarações de vontade. Os interesses podem até ser divergentes.

Entre dois ou mais sujeitos de direito internacional

Os acordos podem ser entre Estados, podem ser entre organizações internacionais e
Estados ou apenas entre Organizações internacionais.

Destinada a vincular juridicamente a conduta desses sujeitos

As convenções internacionais vinculam os Sujeitos de Direito Internacional numa


Relação Jurídica. Uma C.I. é assimilável a um negócio jurídico.

Regulada concorrentemente pelo direito interno e pelo direito internacional

O direito Interno também regula as Convenções internacionais, pois estamos em


presença de uma matéria interdisciplinar em que se recorre a miúdo aos Direitos internos dos
Estados, como seja por exemplo o procedimento de conclusão das Convenções internacionais.

3 - Procedimento de Conclusão das Convenções Internacionais.

3.1 - Procedimento Comum às convenções bilaterais e multilaterais.

1ª Etapa: negociação

É o momento em que é discutido e adoptado o futuro texto da Convenção Internacional.


As delegações nacionais fazem propostas, emendas etc.
São os plenipotenciários quem negoceiam as Convenções Internacionais, pois estão
munidos de plenos poderes para participar no conjunto de operações técnico-diplomáticas que
essa primeira etapa de conclusão dos tratados envolve.
Tradicionalmente tem que haver uma pré-habilitação expressa constante do órgão
competente.
Hoje a competência para negociar faz parte do PR, PM, MNE, etc. essas entidades não
precisam de uma habilitação expressa. Segundo o artigo 197º/1 - b) CRP, em Portugal é ao
governo que compete a função de negociação das Convenções internacionais. Os governos
regionais devem participar nas matérias que lhes digam respeito: 227/1 – t) CRP.

No fim da negociação há três pontos formais da Convenção Internacional.


3 Elementos formais da convenção

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Direito Internacional Público

1) Preâmbulo: figuram aqui:


→ As partes contratantes (altas partes contratantes) por ordem alfabética.
→ O local da conclusão.
→ A data.
→ Os motivos essenciais da conclusão da convenção internacional.
Constitui um valioso elemento de interpretação do tratado.

2) Dispositivo ou corpo da convenção: é aparte mais importante. É composta:


→ Pelos artigos da convenção.
→ Pelas cláusulas finais. As clausulas finais, por exemplo: entrada em vigor, duração etc.

3) Anexos: disposições de carácter técnico juridicamente obrigatórias. Autonomizam-se


para que a Convenção internacional não tenha um aspecto pesado.

2ª Etapa: autenticação ou assinatura pelos plenipotenciários

Consiste na assinatura da Convenção. Muitas vezes esta autenticação não se


consubstancia numa assinatura pois o plenipotenciário do Estado pode não estar munido da
faculdade de assinar. Pode perfeitamente colocar apenas as iniciais do nome ou referendar. De
qualquer modo, esta assinatura deve ser posteriormente confirmada por quem tem esses
poderes.
A este acto do plenipotenciário ligam-se certos efeitos.

Três efeitos decorrentes do acto do plenipotenciário em acordos solenes:

1) Inalterabilidade do texto: depois de autenticada, não se pode alterar mais o texto.

2) Dever de boa fé: dever de abstenção de actos que atentem contra o objecto ou fim da
Convenção Internacional.

3) Direito de praticar actos para defesa da integridade do tratado

À luz do Direito Constitucional português, as convenções podem revestir a forma de


tratado solene ou acordo em forma simplificada.

Se se tratar de um Acordo em forma simplificada, acresce um outro efeito:

4) Vinculação do Estado ao acordo, ou seja, aquela assinatura vale imediatamente


como consentimento à vinculação, ao contrário dos acordos solenes que precisam da ratificação
pela entidade competente para essa manifestação de consentimento à vinculação.

Estes três efeitos estão previstos na Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, de
1969, nos artigos 10º, 12º e 18º.

3ª Etapa: aprovação

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Direito Internacional Público

Todas as convenções têm que ser aprovadas pelo governo. Após a Revisão
Constitucional de 1997 o governo passou a aprovar apenas acordos em forma simplificada e a
Assembleia da República a aprovar acordos solenes e alguns acordos em forma simplificada.
Relativamente aos acordos em forma simplificada, o Estado fica logo vinculado. Nos
tratados solenes é necessária a ratificação prevista no artigo 135º CRP.

Ratificação: acto em que órgão competente que, via de regra, é o chefe de Estado,
declara a vontade desse Estado a ficar vinculado a esse tratado.

Ratificação imperfeita: acontece quando não observa regras prescritas na CRP. EX:
não ser aprovada pela A.R., excesso de forma… 107 e 108.
Se acontecer esta situação, importa saber quais as consequências no plano internacional
e no plano interno.
No plano interno o artigo que regula as consequências é o 277º da CRP. No plano
internacional é a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados no artigo 46º.

Consequências internacionais – artigo 46º CV

Segundo o artigo 46º da Convenção de Viena, os Estados não podem desvincular-se do


tratado. É a regra.
Neste domínio pretendem ponderar-se dois valores diferentes:
→ Regularidade do procedimento interno de conclusão dos tratados;
→ Estabilidade, certeza e segurança nas relações internacionais. A CV achou por bem tutelar o
valor segurança e certeza nas relações internacionais. Porém, excepcionalmente pode haver
desvinculação caso a norma seja manifesta e se disser respeito a uma norma de importância
fundamental. Estes requisitos são de verificação cumulativa.
Será uma violação manifesta se as outras partes se aperceberam ou deveriam ter-se
apercebido.
O segundo aspecto é mais complexo pois os preceitos constitucionais são todos de
importância fundamental. porém será norma fundamental ex.: ratificação sem prévia aprovação
pela AR e ratificação de CI sobre matérias do interesse das RA sem a participação destas.

Consequências internas

A CRP pretendeu declarar a Convenção de Viena. O nosso legislador arranjou uma


norma de interpretação difícil. Artigo 277º nº2 CRP. Este artigo suscita algumas perplexidades
de hermenêutica ao intérprete. Em primeiro lugar fala de regularmente quando deveria ser
irregularmente. Não faz igualmente sentido a menção à inconstitucionalidade orgânica pois só a
AR pode aprovar tratados solenes.
Contudo, podemos concluir que a nossa Constituição admite a vigência de tratados
irregularmente ratificados com a condição de reciprocidade.

4ª Etapa: entrada em vigor – 24 e 25 CV

A Convenção internacional entra em vigor:


→ Na data fixada e nos termos aí previstos.
→ Na falta destas disposições entra em vigor mediante acordo das partes.

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Direito Internacional Público

→ Se nada se disser na Convenção e não houver acordos das partes, esta entra em vigor quando
todos manifestarem o seu consentimento. Artigos 24º e 25º da Convenção de Viena.

5ª Etapa: registo e publicação – 80 CV e 102 CNU

Uma convenção é registada junto do Secretariado das nações unidas. Se não for
registada não pode ser invocada junto dos órgãos das nações unidas. Contudo é perfeitamente
válida entre as partes. Artigo 102º da Carta das Nações unidas. Artigo 80º/1 Convenção de
Viena.
Um tratado que não seja registado permanece perfeitamente válido, simplesmente não
poderá ser invocado perante os órgãos daquela organização, em particular, perante o Tribunal
internacional de Justiça.

4 – A participação nas Convenções internacionais

A tendência actual é a facilitar, o mais possível, a participação dos Estados nos tratados
multilaterais. Contudo existem tratados fechados que não permitem a entrada de novos Estados
por mera cláusula aí constante mas antes pela fixação das condições pelos Estados originários.
Nos tratados abertos basta um acto unilateral para permitir a um Estado fazer parte
desse tratado, sem que a isso se possam opor os contratantes iniciais.

4.1 – Mecanismos tendentes a facilitar a participação dos Estados nos Tratados

Reservas – Artigo 2º/1 d); 19º a) e b) da Convenção de Viena

Uma convenção internacional pode ser objecto de reservas pelos estados partes. Estes
podem concordar globalmente com o objecto e conteúdo do tratado, mas discordar de algum ou
alguns preceitos desse tratado. Esse Estado, ou não se vincula à Convenção Internacional, ou
então declara extinguir alguns preceitos ou modifica-los, atribuindo-lhes um significado
diverso, aceitável para si próprio. Artigo 2º/1 d); 19º a) e b) da Convenção de Viena.
Vigora neste domínio o princípio da liberdade. Mas, este princípio, como decorre do
artigo 19º c), em caso de silêncio do tratado, a reserva será permitida se não for incompatível
como o objecto e o fim do tratado.
Ver artigo 20º da CV
Com o mecanismo de reservas facilita-se a participação dos Estados nos tratados.

5 – A eficácia das convenções em relação a terceiros

5. 1 - Principio da relatividade dos efeitos dos tratados ou principio da eficácia relativa

Como regra, as Convenções internacionais não produzem efeitos ultra partes (para
terceiros). Artigo 34º da Convenção de Viena – codificação de um costume preexistente. Os
efeitos jurídicos são assim relativos. Por vezes os tratados produzem efeitos para terceiros com
o seu consentimento. Há casos ainda que produzem efeitos para terceiros sem o seu
consentimento – autêntica excepção.

5.2 – Aplicação das Convenções internacionais a Estados terceiros com o seu


consentimento

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Direito Internacional Público

Acordo colateral – Artigo 35º C.V.

Há um acordo inicial entre dois ou mais Estados para vincular um terceiro Estado. Mas
terá de haver um novo acordo com esse Estado terceiro de forma expressa e escrita.
É este acordo colateral que constitui o fundamento jurídico da obrigação que passa a
vincular o Estado terceiro. Artigo 35º C.V. sem este acordo colateral, não há obrigação.

Estipulação em favor de outrem - Artigo 36º CV

Se houver um direito ou vantagem para esse terceiro estado presume-se o seu


consentimento e por isso dispensa-se a forma expressa ou escrita. Terá de existir uma forma
expressa ou escrita se esse terceiro Estado quiser renunciar a esse benefício. Artigo 36º C.V.
A diferença relativamente ao acordo colateral é a seguinte: não se pode presumir o
consentimento de quem vai ficar sujeito a um encargo, mas já se pode concluir esse
consentimento a quem vai auferir uma vantagem.

Cláusula da nação mais favorecida

Há um tratado inicial entre dois ou mais Estados. Se algum dos Estados vier a assinar
um tratado com um terceiro sobre a mesma matéria e for mais vantajosa, aplica-se ao primeiro
tratado.
Há, assim, Estados que vão beneficiar de tratados em que não participaram. É muito
utilizado em tratados de taxas aduaneiras.
O consentimento do Estado é manifestado por antecipação, pois logo no tratado inicial
se previu que em acordos subsequentes com Estados terceiros, mais vantajosos, esses acordos
produziriam efeitos também sobre si.

5.3 - Aplicação dos tratados a terceiros sem o seu consentimento

Artigo 38º da CV

Estes tratados vão produzir efeitos para terceiros, por via costumeira,
independentemente do seu consentimento. Admite-se que uma convenção internacional possa
convolar-se em norma costumeira e tornar-se obrigatória para Estados não partes.

Tratados que criam situações objectivas ou Estatutárias

Há tratados que servem para instituir estatutos políticos ou territoriais. São tratados que
em virtude do seu conteúdo se impõem a terceiros independentemente do seu consentimento.
Ex: tratado de desmilitarização da Antártida. Como emerge desses tratados uma situação
objectiva, vão aplicar-se a Estados terceiros.

Disposições convencionais destinadas à criação de novos sujeitos de Direito

A criação de novos sujeitos de Direito é oponível a terceiros. Podem eles ser


Organizações internacionais, novos Estados. De facto, o surgimento destas entidades reconduz-
se à criação de uma situação objectiva, que a todos se imporá.

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Direito Internacional Público

Tratados de Codificação do Direito internacional – tratados normativos

O direito internacional é largamente Costumeiro. Existem vantagens em codificar essas


normas. Se algumas dessas normas forem codificadas elas produzem efeitos ultra partes. A estes
tratados chamam-se convenções de codificação.

6 - Condições de Validade nas Convenções internacionais

Para uma Convenção internacional ser válida é necessário que as partes tenham
capacidade. O consentimento das partes deve ser regularmente manifestado e é também
necessário que o objecto da Convenção seja lícito.

6.1 - Capacidade das partes

São os sujeitos de Direito Internacional quem têm capacidade para celebrar tratados -
Estados e as Organizações internacionais. Em certas situações específicas também os
movimentos de libertação nacional têm essa capacidade.
Os Estados por regra têm plena capacidade jurídica – artigo 6º CV. Há contudo duas
situações que podem anular essa capacidade:

- Acordos de protectorado – acordo em que um Estado passa a representar outro


Estado nas relações internacionais. O Estado protegido perde parte da capacidade de exercício.
Este Estado não tem capacidade jurídica para concluir tratados. Embora não perca a sua
personalidade internacional nem a sua capacidade de gozo de direitos, vê uma boa parte da sua
capacidade de exercício amputada – semi-soberania.
É um acordo que caiu em desuso.

- Conclusões de um tratado de um Estado membro de um Estado federado – estes


Estados têm incapacidade para concluir tratados.
Quanto à sua capacidade para celebrar a convenção é o direito constitucional do Estado
Federal que lhe reconhece ou não essa capacidade.
Quanto à imputação do tratado a esse sujeito desencadear-se-á responsabilidade
internacional ao Estado federal.

Organizações internacionais

Esta capacidade é derivada e limitada ou parcial:


→ Derivada porque foram os Estados quem lhe concederam essa capacidade.
→ Uma vez criadas a sua capacidade é limitada pelo princípio da Especialidade. As
organizações internacionais só têm as competências que estão previstas no seu tratado
constitutivo e que são necessárias para a prossecução dos objectivos. As competências são
funcionalizadas.
As consequências de um tratado ou convenção em que tenham intervido entidades sem
capacidade para o efeito são:
→ Se a Convenção foi concluída por Estado desprovido de capacidade de exercício, a
consequência é a nulidade;

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Direito Internacional Público

→ Se a Convenção foi concluída por um uma entidade que não é, sequer, sujeito de
Direito internacional, ou seja, não tem capacidade, a consequência é mais grave: será a
inexistência.

6.2 - Regularidade do consentimento

Para a Convenção Internacional ser válida é necessário que o consentimento seja


manifestado de forma regular. Muitas vezes a vontade pode estar viciada.
Essa vontade tem que se manifestar, tanto do ponto de vista formal como do ponto de
vista substancial.

Irregularidades formais - Artigo 46º CV

Se for formal estamos perante uma irregularidade relativa à competência e ao


procedimento. Estão em causa não normas de fundo mas regras formais.
Estamos perante ratificações imperfeitas e do ponto de vista da validade dos
compromissos internacionais, esse assunto já foi tratado antes. Artigo 46º CV.

Irregularidades substanciais

Do ponto de vista substancial não pode, de igual modo haver vícios: concretamente,
vícios da vontade ou do consentimento dos negócios jurídicos. Esses vícios podem ser o erro,
dolo, corrupção e coação. Na Ordem jurídica interna esses vícios conduzem à anulabilidade dos
negócios jurídicos.
O artigo 48º/1 do CV fala do erro-vício. O artigo 49º CV fala do dolo. O artigo 50º da
CV fala da corrupção artigo 51º e 52º fala da coação.

Erro – 48º CV

Apenas vicia o consentimento do Estado quando for essencial e desculpável.


A verificação destes duas condições é cumulativa. Deve demonstrar-se que se não fosse
esse erro, o Estado teria tido uma orientação diferente ou nem tinha acordado a CI.
Por outro lado, se o Estado, em razão da sua conduta, contribuiu para a ocorrência do
erro, este já não é desculpável.
O erro provoca a nulidade relativa da convenção.

Dolo – 49º CV

O dolo é também um erro mas provocado pela outra parte. A outra parte assume uma
conduta fraudulenta por forma a enganar aquele Estado.
O dolo provoca a nulidade relativa da convenção.

Corrupção sobre um representante de um Estado– 50º CV

A troco de uma oferta de algum proveito de carácter pessoal, um delegado coloca de


parte os interesses do seu Estado, aceitando que o outro Estado faça valer os seus próprios
interesses.
A sanação é a nulidade relativa.

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Direito Internacional Público

Coação – 51º e 52º CV

Coação sobre o representante do Estado – 51º CV

O representante do Estado é aqui encarado como individuo e não como órgão Estadual.
Podem estar aqui em causa diversos actos como violência física ou ameaça, violência contra a
sua família, divulgações de informações privadas susceptíveis de comprometer a carreira do
delegado internacional.

Coação sobre o próprio Estado – 52 º CV

Aqui as ameaças ou o emprego da força dirigem-se contra o próprio Estado. Resta saber
se a coerção económica e política entram neste conceito.
A CV não esclarece este facto. Contudo, parece poder incluir-se neste conceito as
medidas de coerção económica, num certo limiar, nomeadamente quando estão em causa
Estados economicamente dispares no seu desenvolvimento.
Relativamente às consequências, na coação a sanção é a nulidade absoluta.

6.3 – Licitude do objecto. Artigo 53º e 64º da CV

É ainda necessário que o objecto seja lícito, ou seja, não viole princípios fundamentais
de Direito Internacional, de Ius Cogens – não seja contrário à ordem pública internacional.
Artigo 53º e 64º da CV. Esta ilicitude origina a nulidade absoluta.

6.4 – Regime das nulidades dos tratados

Nulidades relativas e nulidades absolutas

Nulidades relativas

Estão em causa vícios menos graves e estão em jogo os interesses particulares dos
Estados participantes. O que origina as nulidades relativas são a ratificação imperfeita, o erro, o
dolo e a corrupção.

Nulidades absolutas

Servem para sancionar vícios mais graves. Casos em que estão em jogo interesses gerais
da Comunidade internacional. O que origina as nulidades absolutas são a incapacidade das
partes, a coação e a ilicitude do objecto.

Três aspectos de distinção das nulidades relativas das nulidades absolutas: (artigo 42º e ss
da CV).

Direito a invocar

Desde logo, em ambas as nulidades, o direito de invocar pertence apenas às partes


contratantes. Mas passemos às especificidades de cada uma das nulidades:
- Nas nulidades relativas apenas o Estado vítima tem o direito a invoca-la.

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Direito Internacional Público

- Nas nulidades absolutas qualquer das partes na Convenção, mas apenas essas, o
podem fazer.

Principio da indivisibilidade - Artigo 44º/2 e 3 da CV

Há casos em que se admite anular apenas as cláusulas que sofrem de nulidade. É uma
excepção ao princípio da indivisibilidade. Como se mantém em vigor o restante texto do
tratado, estamos perante um caso que se chama – divisibilidade extintiva. Artigo 44º/2 e 3 da
CV.
Sucede que isto só é válido para as nulidades relativas. Portanto, tratando-se de coação
ou de incompatibilidade do tratado com uma norma do ius Cogens, (nulidades absolutas), vigora
o princípio da indivisibilidade.
Esta divisibilidade é obrigatória no erro e facultativa no dolo e na corrupção, pois nestes
últimos houve má fé.

Sanação: Artigo 45º CV – Artigo 45º CV

Consiste em aceitar o tratado apesar do vício. Pode ser feito de forma expressa ou de
forma tácita. Artigo 45º CV.
- É possível no caso das nulidades relativas.
- Não é possível no caso das nulidades absolutas.

Em resumo:

→ O que dá origem às nulidades absolutas é a incapacidade das partes, a coação e a ilicitude do


objecto.
→ O que dá origem às nulidades relativas são as outras situações, a saber: ratificação
imperfeita, o erro, o dolo, a corrupção.

9 - Causas de Extinção e Suspensão da vigência da CI – Artigos 54º ss da CV

Extinção: deixam de produzir efeitos de modo definitivo;


Suspensão: deixam de produzir efeitos temporariamente;
Artigos 54º ss da CV.

Causas da Extinção e Suspensão

Vontades das partes

Quando, logo de início, a CI é concluída por um determinado período de tempo, ou


então, quando as partes decidem criar um termo ou uma condição, (Termo – quando se submete
a CI à verificação de um acontecimento futuro mas certo. Condição – submissão da CI à
ocorrência de um acontecimento futuro mas incerto).

Comportamento das partes

Uma outra causa pode resultar do comportamento das partes. Já não se trata da vontade
mas de um comportamento contrário ao previsto na Convenção Internacional. ex.: violação de

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disposições por uma das partes contratantes. Estado de guerra – Esta situação leva à caducidade
das convenções bilaterais e suspensão das convenções multilaterais entre os Estados
Beligerantes.

Costume derrogatório

Também o costume derrogatório leva à caducidade das Convenções internacionais. O


Costume, uma vez que tem no DI uma paridade hierárquica com as CI leva a que se aplique o
princípio de que lei posterior derroga a anterior.

Causas exteriores à vontade das partes

1) Impossibilidade superveniente de execução. 61º CV

Está prevista no artigo 61º CV. Consiste na destruição de um objecto indispensável à


execução de um tratado. Se for meramente temporário, a CI retomará a sua vigência quando
cessar o motivo que levou à sua suspensão.

2) Alteração fundamental de circunstancias

É uma figura que serve para evitar que uma alteração profunda das circunstâncias que
rodeou a conclusão de uma CI, tenha como consequência um prejuízo injusto para uma das
partes – artigo 62º CV.
Se realmente houver uma alteração, as partes podem invocar este artigo. Contudo, só
certas alterações são susceptíveis de ser invocadas:
1) É preciso que essa alteração de circunstâncias seja fundamental, ou seja, quando as
circunstancias que existiam no momento da conclusão constituíssem a base essencial da
conclusão do tratado.
2) É preciso que essa alteração tenha como consequência uma alteração radical na
natureza das obrigações assumidas pelas partes.
Exceptuam-se de invocação de uma alteração fundamental de circunstancias as
situações de delimitação de fronteiras, pois estas criam uma situação objectiva – artigo 62ºCV,
as alterações que tenham sido provocadas pelas partes, bem como fica impedido de invocar a
clausula de extinção das CI por alteração fundamental de circunstancias os Estados ou os
Estados que aceitem expressa ou tacitamente a manutenção do tratado em vigor – artigo 45º CV.

11 - Vinculação internacional do Estado Português em face da Constituição

Quando falamos em Convenção internacional a CRP emprega a designação de CI como


género generalíssimo. Convenção internacional, artigo 8/2, abrange os tratados solenes e os
acordos em forma simplificada.

11.1 - Competência do Governo – artigo 197/1 – b), c)

Convenção internacional em sentido amplo. Ao governo compete negociar as


convenções internacionais, sejam tratados, sejam acordos, nos termos do artigo 197º/b;
O governo tem competência para aprovar acordos em forma simplificada. Antes de
1997 também podia aprovar tratados.

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Direito Internacional Público

O governo pode também submeter à AR a apreciação de acordos internacionais. Os


acordos são deliberados por Conselho de Ministros.
A forma de aprovação é a de decreto – artigo 197/2. O PR assina o decreto – artigo
134/b.

11.2 – Competência da Assembleia da República – 161/i

A Assembleia da República tem um papel fundamental na medida em que é órgão


representativo, democrático, dos cidadãos portugueses.
De acordo com o artigo 161/i apenas a AR pode assinar tratados solenes. Apesar da
CRP não nos oferecer um critério material que nos permita distinguir os tratados solenes dos
acordos em forma simplificada, podemos apelar a dois critérios de distinção:

Reserva material de tratado – artigo 161/i

Certas matérias só podem ser objecto de tratados solenes. É a AR que aprova os


tratados. Artigo 161º/1 – i);

Teoria da essencialidade

Há matérias, que pela sua importância, têm que ser objecto de tratado solene. Este
elenco de matérias não é exaustivo. Pode acontecer que na Convenção Internacional surja o
termo Acordo, mas pode efectivamente tratar-se de um Tratado solene. Perante isto tem pois
que analisar-se a CI e ver se estamos perante um Tratado ou um acordo em forma simplificada.

Além de aprovar os tratados, a AR aprova também acordos em forma simplificada:


artigo 161º; 164ª; 165º;

11.3 – Competência do Presidente da República

O PR é o chefe de Estado. É o órgão que representa o Estado Português. Tem


competências avultadas em sede de relações internacionais.

Acordos em forma simplificada: 134º b);


Tratados: 135º b)

11.3.1 – Discussão a cerca do acto da assinatura

1 - Pró internacionalista

Para se facilitar a cooperação internacional, o PR estaria obrigado a assinar os acordos


internacionais.

2 – Tese que reflecte a importância do órgão do PR

O PR é eleito. Ele pode dissolver a AR, demitir o governo, com que lógica ele pode,
sem mais, ser obrigado a assinar um tratado internacional? Ademais, com aquelas competências,

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o PR dissolvia ou demitia respectivamente a AR ou o Governo antes de o tratado ou acordo ser


assinado por eles.

III – Costume internacional

1- Noção e natureza particular desta fonte de Direito Internacional

É uma outra fonte de Direito Internacional: artigo 38º ETIJ. Relativamente a esta fonte
parece haver aqui algo de paradoxal. Falamos em fontes formais para aludir às fontes de Direito
Internacional mas o costume não é uma fonte formal. As normas costumeiras resultam de
comportamentos dos Estados e outros sujeitos de Direito Internacional.
Contudo, trata-se de uma fonte formal pois trata-se de um procedimento.
As normas costumeiras pressupõem a conjugação de dois elementos: o elemento
material ou objectivo – prática, e o elemento psicológico ou subjectivo – convicção da
obrigatoriedade.

1.1 – Elemento material, objectivo ou consuetudo

Este elemento consiste em determinados comportamentos que são levados a cabo pelos
sujeitos de Direito Internacional durante um determinado período de tempo, de modo constante
e uniforme. Estes comportamentos designam-se também de precedentes. Mas, com este
elemento, temos apenas os usos como por exemplo as regras de cortesia internacional.

1.2 – Elemento psicológico ou subjectivo

Para que exista costume e não apenas os usos temos que aditar ao primeiro elemento um
segundo elemento que é justamente o elemento subjectivo ou psicológico.
A certa altura, entre os sujeitos de Direito internacional que levam a cabo os tais precedentes,
forma-se neles a convicção de que adoptar esses comportamentos é uma obrigação. Esses
sujeitos formam em si, ainda, a convicção de que se não obedecerem a esses comportamentos,
podem efectivamente ser sancionados.
O costume tem, contudo, alguns problemas de operatividade que resultam da sua
incerteza cronológica e da sua existência incerta.
Como a sociedade internacional não é tão institucionalizada quanto a sociedade interna,
o costume reveste no Direito internacional uma importância maior que não reveste na Ordem
Jurídica interna.

3 - Fundamento da obrigatoriedade do costume. Duas doutrinas

3.1 - Doutrina voluntarista ou do pacto tácito

Esta doutrina entende que a força obrigatória do direito internacional provém da


vontade dos Estados. Relativamente às normas costumeiras, a vontade dos Estados revestiria a
forma de acordo tácito, dada a natureza do costume.
Para esta doutrina só os Estados que tenham participado no costume estariam
vinculados ao costume. Porém esta doutrina esbarra em três razões de peso:
1) Esta doutrina assenta na sobrevalorização do elemento psicológico.
2) Não explica a vinculação dos Estados ao costume geral.

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3) A ideia de acordo tácito é apenas concebível para os acordos bilaterais ou regionais.

3.2 - Doutrina anti voluntarista ou da formação espontânea do costume

Para esta doutrina, as normas costumeiras formam-se em resultado de um processo de


natureza sociológica explicável em virtude de determinadas necessidades que impulsionam o
processo costumeiro.
Apenas esta teoria permite fundar, de modo credível, a validade erga omnes dos
costumes gerais.

4 – Processo costumeiro

4.1 – Elemento material

4.1.1 – Comportamentos susceptíveis de constituírem precedentes

Para se saber se estamos perante precedentes, temos que ir, desde logo às práticas dos
sujeitos de Direito internacional que são os actos dos órgãos incumbidos das relações
internacionais.

Actos do Estado

Trata-se de actos praticados pelos órgãos estaduais e que contendem com as relações
internacionais. Ex.: os actos que promanam do Ministro dos negócios estrangeiros.

Tomadas de posição dos representantes governamentais

As tomadas de posição dos agentes dos Estados, no decurso dos processos judiciais
internacionais ou então em tomadas de posição junto das organizações internacionais, podem
desencadear um processo costumeiro.

Próprios actos interestaduais

Os próprios actos interestaduais, designadamente as Convenções internacionais. Essas


normas podem estar na base de um processo costumeiro, podem consistir em precedentes.

Sentenças dos tribunais judiciais e arbitrais

Tribunais arbitrais são tribunais ad hoc e tribunais judiciais são tribunais


permanentes.
Estas sentenças podem desenvolver precedentes noutras sentenças e desencadear um
processo costumeiro. Os tribunais podem decidir através de precedentes.

Práticas das organizações internacionais

As práticas das organizações internacionais, quer no seu plano interno, quer no seu
plano das relações internacionais, podem desenvolver um processo costumeiro.

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Direito Internacional Público

Práticas de organizações não governamentais

Estas organizações são associações de pessoas públicas ou privadas que não têm fins
lucrativos e prosseguem inúmeros fins, de entre os quais fins humanitários. As regras por que se
regem certas destas organizações podem resultar em larga medida em normas de costume
internacional.

Porém, para que exista costume, é necessário também que os comportamentos sejam
constantes e uniformes.
Comportamentos constantes: verificam-se ao longo de um determinado período de
tempo. Hoje, todavia, diz-se que é preciso cada vez menos tempo e fala-se mesmo de costumes
selvagens.
Comportamentos uniformes: é necessária a concordância dos sujeitos de direito
internacional.

Costumes gerais

Não se exige unanimidade de todos os sujeitos. Exige-se uma prática geral.

4.2 - Elemento psicológico ou subjectivo

4.2.1 – Distinção uso/costume

Sem este elemento o costume não passa de mero uso.

5 - Estatuto do objector persistente

Acontece quando um Estado, persistentemente, de modo firme e inequívoco se opõe à


formação de um costume que está a surgir e pretende ainda que os seus efeitos não se lhe
apliquem. No plano internacional admite-se que um Estado recuse a aplicação destas normas,
mas:
→ É preciso que esse estado tenha recusado ainda durante o processo de formação da norma.
Neste caso, o Estado adquiriu o estatuto de objector persistente.
Uma nota importante:
→ Se a norma constar de natureza de Ius Cogens, não se admite que o Estado se furte à sua
aplicação.

IV – Princípios gerais de Direito reconhecidos pelas nações civilizadas

1 – O carácter directo e autónomo desta fonte de direito internacional

Houve autores voluntaristas que contestaram a autonomia dos princípios gerais de


direito no quadro das fontes formais de Direito internacional. Esses autores não contestavam o
valor jurídico desses princípios mas entendiam que eles só deviam ser aplicados se isso
estivesse previamente expresso e autorizado numa Convenção Internacional.
Contudo, muito antes da criação do Estatuto do tribunal internacional de Justiça, havia
um costume, que já remonta aos finais do século XVIII, de recurso aos princípios gerais de
direito enquanto fonte directa e autónoma de Direito Internacional.

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Direito Internacional Público

Do ponto de vista das fontes de Direito Internacional, o Estatuto do Tribunal


internacional de Justiça é uma convenção internacional que autoriza os juízes a solucionar os
casos que lhe sejam submetidos.

2 – Natureza jurídica e função dos princípios gerais de direito

2.1 – Controvérsia doutrinal

Os princípios gerais de direito são fonte de direito.


Há autores que entendem que eles são de natureza internacional, outros autores dizem
que são de natureza interna, outros ainda de natureza mista.
A verdadeira natureza jurídica destes princípios não é a do Direito Internacional mas
sim do direito interno. Os autores da primeira e terceiras teorias acima mencionadas confundem
os princípios gerais de direito com os princípios fundamentais de direito internacional. Estes
últimos, como o princípio da proibição do recurso à força, não são fonte formal, ou seja, não
constituem um processo técnico de produção ou revelação de normas jurídicas internacionais.
São regras gerais que se deduzem do espírito dos costumes e das convenções internacionais em
vigor, carecendo assim de autonomia em relação a estas fontes de direito internacional. Por isso
não pode radicar aqui a natureza dos princípios gerais de direito.

Os princípios gerais de direito são oriundos do direito interno dos Estados e são três as
razões que justificam esta opção:

1) Uma análise dos trabalhos preparatórios do artigo 38º do ETPJI revela que se
pretendeu aludir aos princípios consagrados nas diversas ordens jurídicas do mundo.
2) Os juízes do Tribunal internacional de Justiça podem recorrer aos Princípios Gerais
de Direito quando não encontrarem solução, nem nas convenções internacionais, nem no
costume. Radica aqui uma especificidade própria dos Princípios Gerais de Direito.
3) Os princípios gerais de direito só podem radicar no direito interno pois a eles se
recorre quando o direito internacional não dá resposta aos litígios.

O recurso aos princípios gerais de direito, em caso de lacuna, foi previsto porque à
justiça internacional subjaz um princípio de consensualidade.

3 – Modo de operar com os princípios gerais de direito: Dois requisitos para aplicar os
princípios gerais de direito:

3.1 – O requisito da generalidade

Só podem aplicar-se internacionalmente os princípios em vigor na maior parte das


ordens jurídicas nacionais ou internas. Note-se que a regra da unanimidade não é exigida.

3.2 – A condição de serem transponíveis para o Ordenamento jurídico internacional

É necessário que os princípios gerais de direito tenham virtualidades e sejam


compatíveis ou conciliáveis com as características fundamentais do Ordenamento Internacional
para se aplicarem a casos da vida internacional.

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Direito Internacional Público

5 – Breve reflexão sobre a importância e a autonomia futura desta fonte de Direito


Internacional

Há autores que, a respeito da autonomia dos princípios gerais de direito, falam deles
como uma fonte “transitória e recessiva”, pois, alguns destes princípios podem converter-se em
costume, dada a sua sistemática aplicação, perdendo aí autonomia.
Porém, Nos domínios novos, os princípios gerais de direito ainda não foram aplicados e
por isso eles ainda são uma fonte autónoma.

V – Actos jurídicos unilaterais (outra fonte formal não mencionada no artigo 38º)

1 – Noção e dificuldades que encerra o estudo dos actos jurídicos unilaterais

Os actos jurídicos unilaterais podem ser dos Estados ou das organizações internacionais.
É um acto imputável a um só sujeito de direito internacional, destinado a produzir determinados
efeitos jurídicos.
Os actos jurídicos unilaterais, além de contribuírem para a formação de normas
costumeiras eles não constam das fontes formais porque há época em que o Estatuto do TIJ foi
elaborado, estes ainda não tinham a importância que vieram a adquirir posteriormente.
Eles integram o elenco de fontes formais da nossa disciplina.
São actos que emanam de um só sujeito de direito internacional e destinam-se a
produzir determinados efeitos jurídicos. Criam direitos ou impõem obrigações, quer para o autor
desses acto, quer para terceiros. No primeiro caso são actos auto-normativos, no segundo caso
são actos hetero-normativos.
Para um acto jurídico unilateral ser fonte de direito internacional tem que ser autónomo.
Significa que têm que produzir efeitos por si próprios, não estando ligados a outra fonte de
direito internacional, dispensando-se ainda a aceitação pelos destinatários.

2 – Os actos jurídicos unilaterais do Estado

2.5 – Tipologia: exemplos de actos jurídicos unilaterais do Estado

Reconhecimento

É um acto através do qual um Estado aceita os efeitos jurídicos de determinado acto, ou


determinada situação, em cuja criação ele não participou, por entender que esse acto ou situação
está de acordo com o direito internacional. Ex: reconhecimento de um Estado novo na
comunidade internacional.

Protesto

É no fundo o oposto do reconhecimento. Acto através do qual um Estado manifesta a


sua oposição em face de uma situação ou acto jurídico com os quais não está de acordo por
entender que infringem o direito internacional, visando com essa atitude que lhe não venha a ser
oponível no futuro.

Notificação

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Direito Internacional Público

Acto destinado a levar ao conhecimento de outrem de uma determinada situação, facto


ou documento, daí resultando certas consequências jurídicas.

Promessa

Acto através do qual um Estado se compromete a adoptar um certo comportamento,


positivo ou negativo. Essa promessa pode fazer nascer direitos em benefício de terceiros, ou,
pelo menos, uma expectativa juridicamente tutelável.

Renúncia

Acto através do qual um Estado abdica de um direito próprio, do qual era titular. Um
Estado abdica de uma parcela de soberania.

Estes são os actos jurídicos unilaterais susceptíveis de serem autónomos. Contudo


podem ser emitidos no âmbito de uma convenção internacional. Porém, para lograrem
concretizar-se, torna-se necessário estarem preenchidos três requisitos: (pág. 186 a 188)

Imputabilidade

O acto jurídico unilateral tem que ser imputável ao Estado. Deve ser emitido por um dos
órgãos que vincule o Estado no plano internacional.

Oponibilidade

É necessário que o acto jurídico unilateral seja oponível a terceiros e deve estar em
conformidade com o Direito Internacional. O acto jurídico unilateral não tem que ser aceite por
terceiro. Eles dispensam a aceitação de terceiros, até porque a maioria deles não têm que ser
receptíveis.

Publicidade

A sua adopção deve ainda rodear-se de suficiente publicidade, a vontade do Estado


deverá ter sido manifestada de forma clara e manifesta.

3 – Actos unilaterais das Organizações Internacionais

Os actos jurídicos unilaterais que provêm das Organizações internacionais designam-se


de resoluções. Essas resoluções podem ser de três tipos:

Decisões

Actos com força jurídica obrigatória. Impõem uma obrigação de conduta aos
destinatários.

Recomendações

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Direito Internacional Público

Já não são actos obrigatórios. A organização internacional limita-se a propor a adopção


de comportamentos.

Pareceres

Os pareceres são actos jurídicos pelos quais a organização internacional se limita a


emitir uma opinião a cerca de um problema que tenha sido suscitado.

Temos aqui uma ordem decrescente de vinculatividade. As recomendações e os


pareceres costumam ser designados de soft law.

Fontes auxiliares de Direito Internacional

Estas fontes não são formais porque não criam normas. São fontes auxiliares porque
ajudam a determinar o conteúdo das normas existentes. Dadas as características próprias da
sociedade internacional, a jurisprudência e a doutrina assumem no plano internacional uma
importância maior do que na ordem interna.

VI – Jurisprudência

Conjunto das decisões judiciais (ou arbitrais), sobretudo, agora, dos tribunais internacionais. Até
há pouco tempo essas decisões eram dos tribunais arbitrais. Com a criação do Tribunal
internacional de Justiça foi-se criando um corpo homogéneo de decisões judiciais.
Existe um prestígio das decisões judiciais que radica na objectividade e imparcialidade
nos procedimentos judiciais. Esse prestígio pode, contudo, ser um pouco abalado com o facto de
se permitir que os juízes discordantes possam publicar as suas discordâncias no acórdão, quer
através da sua opinião individual ou opinião dissidente, facto que passa uma idéia de divisão ou
de fractura num colectivo de juízes.

Opinião individual: opinião emitida por um juiz que concorda com a decisão, mas discorda do
fundamento da sentença.

Opinião dissidente: é o voto do vencido. É quando um juiz não está de acordo com a decisão.

VII – Doutrina

É o conjunto das opiniões (tomadas de posição), individuais ou colectivas, dos autores


de direito internacional sobre os diversos problemas jurídicos internacionais, sobretudo na
clarificação das normas costumeiras, sem que tais opiniões jurídicas vinculem os sujeitos de
direito.
A doutrina desempenha um importante papel na determinação das normas de direito
positivo.
A doutrina tem, ainda, um papel importante também no plano do direito a constituir.
Serve para afirmar a existência de normas futuras a partir do direito preexistente.
As próprias decisões judiciais louvam-se muito nos ensinamentos da doutrina.

VIII – equidade

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Direito Internacional Público

Segundo o artigo 38º ETIJ é necessária a autorização das partes para se recorrer a
critérios de equidade.
A equidade não é por certo uma fonte de direito, pois não serve para criar normas
jurídicas. Tratam-se de critérios de bom senso, idóneos, critérios que se aplicam no caso
concreto para os solucionar idealmente à luz do sentimento dominante de justiça. A equidade
desempenha assim uma função complementar ou de justiça correctiva, em relação às fontes de
Direito internacional.

Equidade secundum legem

Servem para corrigir as injustiças que resultam de uma aplicação mecânica das normas
jurídicas. Serve pois para atenuar a aplicação do direito.

Equidade praeter legem

Serve para complementar o direito aplicável. Há sempre lacunas e para se colmatarem


recorre-se à equidade.

Equidade contra legem

Afasta-se o direito aplicável e julga-se apenas segundo critérios de equidade, desde que
as partes expressamente o prevejam.

Que equidade? Por nossa parte parece-nos que não deve admitir-se o recurso à equidade
contra legem, quer por razões de segurança jurídica, quer porque aceitar esse tipo de equidade
conduziria a um completo desvirtuamento da função jurisdicional.

Em conclusão, isto quer dizer que, em concreto, afigurasse-nos apenas viável o recurso
à equidade secundum legem e, mediante autorização expressa das partes, é possível o recurso à
equidade praeter legem.

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Direito Internacional Público

Capitulo IV

Os sujeitos de Direito Internacional

I – introdução

Quando se fala em sujeitos de Direito internacional, fala-se de entidades que são


sujeitos de direitos e obrigações no plano do Direito internacional. São os destinatários directos
das normas jurídicas de Direito internacional.
Só se pode falar em sujeitos de Direito internacional quando a norma internacional
provocar directamente alterações nos sujeitos de direito internacional.
Inicialmente, até meados do século XX, eram apenas os Estados os SDI, hoje há mais
sujeitos para além dos Estados. As organizações internacionais, os povos não autónomos e até o
indivíduo ascendem à qualidade de actores na senda internacional. Porém, o Estado é o mais
importante relativamente aos demais. Eles são os sujeitos primários de Direito internacional.
Constituem a Espinha Dorsal da Comunidade internacional. Exercem plena soberania sobre um
determinado território. Os outros sujeitos de DI são sujeitos secundários, em virtude da sua
capacidade jurídica ser mais limitada e terem um menor protagonismo.
A existência dos estados resulta de um processo de facto – sujeitos originários de DI.

II – Estado

1 - Noção

Um Estado pode definir-se como uma entidade composta por três elementos. População,
território e Governo. Mas há uma característica que é exclusiva do Estado e que permite
destaca-lo de outras entidades que, embora não desempenhem o papel de destaque dos Estados
no plano internacional, também reivindicam semelhantes características, que é a soberania. Os
Estados não se encontram organicamente subordinados a nenhuma outra entidade de Direito
Internacional.
O Estado é um fenómeno histórico, sociológico e jurídico que o direito analisa.

2 – Elementos constitutivos

2.1 - População

Quando se fala em população pensa-se em agrupamento de pessoas. Um Estado não


pode existir sem população embora esta possa ser exígua.
Há várias acessões do termo população. Em sentido amplo, população é um conjunto de
pessoas que vivem e trabalham num certo Estado – habitante. Porém, este termo não é
satisfatório pois há desde logo estrangeiros aí domiciliados e cidadãos desse Estado que vivem
no Estrangeiro.
Outra acessão engloba um conjunto de indivíduos ligados de forma estável e efectiva a
um Estado através do vínculo jurídico da nacionalidade. Esta permite que os Estados exerçam
um sem número de poderes sobre os nacionais, onde quer que eles se encontrem.

Nacionalidade, Nação e povo

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Direito Internacional Público

A nacionalidade tem que exprimir um vínculo genuíno entre a pessoa e o Estado. A


população é um conceito jurídico e estatístico.
Nação e povo são conceitos de natureza sociológica.

Estes conceitos não se confundem com o de população, pois há Estados que têm várias
nações, embora apareçam diversas vezes associados.
Nação pode definir-se como um conjunto de indivíduos ligados entre si por afinidades
de vária ordem: étnicas, linguísticas, históricas, culturais, religiosas etc, que manifestam
vontade de viver em comum.
Houve no século XIX a intenção de se fazer coincidir a nação com o Estado. Esta
tentativa tem hoje uma reminiscência no princípio do direito das nações à autodeterminação.
Porém, este direito vale apenas para certos povos, nomeadamente, para os submetidos a uma
dominação colonial.

2.2 – Território – princípio da integridade territorial: artigo 2º CNU

Para se falar num Estado tem que se falar num mínimo de território. Há uma ligação
estreita entre território, população e governo porque a população é sedentária, pressupõem
desde logo um território e o exercício do poder político e administrativo implica a existência de
um território.

O território é delimitado por fronteiras. Não é obrigatório que essas fronteiras já estejam
plenamente definidas e, ainda, caso o Estado esteja envolvido em disputas territoriais, este facto
não obsta a que seja reconhecido como tal pelos seus pares. As fronteiras podem ainda ser
naturais ou artificiais. Do território fazem parte o domínio terrestre, fluvial, marítimo, lacustre e
aéreo. É neste espaço compreendido pelo território que o Estado vai exercer plena soberania.

2.1.1 - Território terrestre

Abrange o solo e o subsolo que se encontra no interior das fronteiras do Estado.

2.1.2 - Território fluvial

É constituído pelos cursos de água que atravessam um Estado ou o separam de outros.


Podem ser rios nacionais ou internacionais.
Os rios nacionais nascem e desaguam num determinado Estado e fazem parte do
domínio público dos Estados.
Os rios internacionais atravessam ou separam vários Estados. Os que atravessam são
rios sucessivos. Os que separam são contíguos. Os rios internacionais suscitam problemas
internacionais.

2.1.3 - Território marítimo

São superfícies de água salgada, incluindo o solo e o subsolo. Os Estados exercem


poderes de soberania e, em algumas zonas, meros poderes de jurisdição.

2.1.3.1 - Poderes de soberania

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Direito Internacional Público

São poderes que são inerentes ao Estado, que são próprios de entidades soberanas e são
exclusivos e praticamente ilimitados. São exercidos sobre as águas interiores e sobre o mar
territorial.

a) Águas interiores – artigos 5 e 7 da Convenção Montego Bay

Mares interiores, baías etc. a linha imaginária é a linha normal de maré baixa e as águas
interiores são aquelas que se situam entre essa linha e o território, exceptuando, evidentemente,
as superfícies de água doce. Sobre estas águas interiores o Estado exerce soberania total ou
praticamente total.
A soberania é quase ilimitada e abrange até o direito de passagem inofensiva. A única
restrição diz respeito a certos ilícitos disciplinares e criminais praticados a bordo de navios de
guerra ou privados.

b) Mar territorial – Convenção de genebra sobre mar territorial art. 14/2 e C M Bay art.2

Vai desde a linha normal de maré baixa até uma distância de 12 milhas marítimas.
Compreende as águas, o leito e o subsolo do mar territorial.
1 Milha = 1850 metros aproximadamente. Aqui a soberania é quase total. Há uma
norma costumeira, já codificada na Convenção de Genebra, que estipula a liberdade de
passagem inofensiva de navios estrangeiros.

2.1.3.2 - Poderes de jurisdição

Já são poderes limitados. São poderes que derivam do direito internacional. São poderes
atribuídos, pelo que já não faz sentido falar-se em território. Só relativamente às zonas em que
os Estados exercem poderes de soberania é que se pode falar de território.

a) Zona Contígua – artigo 33 Convenção Montego Bay

Faixa marítima com 24 milhas a contar a partir da linha normal de maré baixa. Aqui o
Estado exerce poderes de fiscalização, pois a zona contígua destina-se a prevenir ou a reprimir
quaisquer infracções às leis do Estado que possam ocorrer no seu mar territorial ou no seu
território costeiro: domínio aduaneiro, sanitário, fiscal e emigração.

b) Plataforma Continental

Via de regras, há um prolongamento no solo marítimo, rico em minerais, vegetais e


animais. Formou-se um costume que acabou por ser codificado em 1958 na Convenção de
Genebra. A convenção de Montego Bay fixou esta plataforma nas 200 milhas contadas desde a
linha de base.

c) Zona económica exclusiva – artigos, 50 e ss, 69º e 70 da Convenção Montego Bay

Conta-se a partir da zona normal de maré baixa até às 200 milhas marítimas. Os Estados
devem partilhar estas zonas com Estados sem território marítimo e com Estados em vias de
desenvolvimento. Os direitos estão nos artigos 56º e ss.

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Direito Internacional Público

2.1.3.3 - Zonas internacionais

São zonas que se encontram subtraídas, tanto aos poderes de soberania, como aos
poderes de mera jurisdição.

a) Alto-mar – 87º Convenção Montego Bay

Faixa marítima que se situa após as duzentas milhas. Vigora um regime de quatro
liberdades:
→ Navegação;
→ Pesca;
→ Sobrevoo;
→ Colocação de cabos submarinos, oleodutos etc.
→ Construção de ilhas artificiais;
→ Investigação científica;
Porém, com este regime de liberdade total, os Estados mais desenvolvidos saem
beneficiados. É um regime de internacionalização negativa pois é uma igualdade meramente
formal.

b) Zona ou área

Fundos marinhos e subsolos para além dos limites da jurisdição nacional. Solo e
Subsolo do alto mar.
O regime jurídico é diferente. Vigora aqui um princípio jurídico diferente. Foi criada
uma organização internacional “autoridade internacional para os fundos marinhos”, que se
encarrega de superintender na exploração e distribuição dos recursos da zona, mas de acordo
com o princípio da desigualdade compensatória, que se traduz em favorecer os Estados mais
desfavorecidos.

2.1.3 - Território lacustre

São os lagos que são superfícies de água doce circundada por terra. São-lhe aplicadas,
em princípio as normas dos mares internos.

2.1.4 - Espaço aéreo

A soberania do estado estende-se ao espaço aéreo suprajacente aos domínios terrestre,


fluvial e marítimo.
Inicialmente, até à primeira guerra mundial, o limite de espaço aéreo era de liberdade
total. Depois surgiu a ideia de ar nacional. Hoje, por razoes de segurança, entende-se que não
existe limite.

2.3 - Governo

O Estado como entidade abstracta precisa de órgãos que o representem para exprimir a
sua vontade. Governo aqui significa exactamente o conjunto dos poderes públicos do Estado:
ordem política, legislativa, judicial e administrativa.

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Direito Internacional Público

O direito internacional não se imiscui nas formas políticas internas.

Princípio da autoridade Constitucional e política do Estado

Os Estados gozam de liberdade no que toca à escolha dos sistemas políticos internos.
Há uma autonomia política e constitucional do Estado em que o Direito Internacional não se
imiscui.

Principio da efectividade governamental

O governo deve mostrar capacidade efectiva para levar a cabo todas as suas funções
conaturais ao poder estadual tanto no plano interno – manutenção da ordem e da segurança,
como no plano internacional – observância dos compromissos e obrigações internacionais.

2.4 – A Soberania e respectivos corolários

O Estado goza de soberania que é a competência das competências. A competência de


cada Estado é limitada pela soberania dos outros Estados que são juridicamente iguais. A
independência reconduz-se à capacidade do Estado assegurar o seu próprio bem estar e
desenvolvimento, sem interferências exteriores, nomeadamente da parte de outros estados.
Da soberania decorrem vários corolários: uns positivos e outros negativos.

Como corolários positivos temos da soberania:

→A ausência de subordinação orgânica e jurídica do Estado face a outros sujeitos de Direito


Internacional.
→ O direito dos Estados de exercerem jurisdição sobre os respectivos território e população.
→ Autonomia constitucional e política do Estado.

Como corolários negativos temos:

→ Exigência de respeito pelo direito internacional.


→ Dever de não ingerência nos assuntos internos de outros Estados.
→ Principio de proibição de recurso à força nas relações internacionais.
→ Obrigação de solução pacífica dos assuntos internacionais.
→ Dever internacional de cooperação.

3 – Competências do Estado

O Estado tem um conjunto de competências que, sendo-lhe algumas inerentes da sua


condição de entidade soberana, outras são-lhe conferidas pelo Direito internacional. De entre
elas, umas são competências internas, outras são competências internacionais. Ambas são
exercidas de forma plena e com exclusividade.

Competências internas
Competência territorial

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Direito Internacional Público

O Estado tem competência, segundo reconhecimento do Direito Internacional, para


exercer, discricionariamente, actos de autoridade impedindo que outros os exerçam.

Competência pessoal

As competências pessoais reconduzem-se às competências de atribuição da


nacionalidade, quer seja a pessoas, que seja a navios, aviões, satélites e demais engenhos
espaciais.
As competências pessoais exercem-se sobre os seus nacionais mas também sobre os
estrangeiros, pois a lei do Estado, nomeadamente a lei penal, aplica-se a actos praticados no
respectivo território. Há casos até em que a lei do Estado se aplica a actos dos estrangeiros no
estrangeiro, quando nomeadamente esteja em causa a segurança desses Estado, falsificação de
moeda, selos, marcas oficiais etc. Por isso é que nas ordens jurídicas internas existe um direito
dos estrangeiros.
Embora se afirme um princípio de equiparação entre nacionais e estrangeiros,
estabelece-se no entanto uma certa discriminação, como por exemplo o exercício de funções
políticas. CRP 15º.

Competências internacionais

São competências que decorrem da soberania dos Estados. Classicamente os Estados


tinham três competências.

Jus Tractum: direito de concluir tratados ou convenções internacionais;

Jus Legationis: é próprio das entidades soberanas o estabelecimento de relações diplomáticas


ao nível dos embaixadores;

Direito de Legação activo – envio de missões diplomáticas.

Direito de legação passivo – recepção de missões diplomáticas.

Direito de Reclamação internacional

Ao Ius Tractum e ao Ius legationis poderá acrescentar-se o direito de reclamação


internacional. Não é exclusivo dos Estados, pois as organizações internacionais e o individuo
são também hoje sujeitos de direito internacional. Analisa-se no possível recurso dos Estados de
se socorrerem de meios político – diplomáticos ou jurisdicionais junto de determinadas
instâncias internacionais para fazer valer direitos no plano internacional.

Jus ad Bellum: direito de fazer a guerra.


Actualmente, fruto da consagração do princípio da proibição do recurso à força nas
relações internacionais, 2º CNU, 51º CNU, sobejam apenas as duas primeiras.

Jus In Bello: resulta da necessidade de um conjunto de regras jurídicas que regulem o Estado
de guerra. Hoje designa-se por direito internacional humanitário. São normas atinentes ao tipo
de armamento que se pode utilizar. Convenções de Haia e Convenções de Genebra de 1949.

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Direito Internacional Público

4 - Responsabilidade internacional do Estado

Distinção entre normas primárias e normas secundárias:

Normas primárias: são normas jurídicas que impõem a adopção de certo comportamento aos
destinatários.

Normas secundárias: são normas que estabelecem determinadas consequências jurídicas que
se ligam à violação das normas primárias.

4. 1 – Responsabilidade por factos ilícitos

4.1.1 – Pressupostos

A prática de um facto internacionalmente ilícito

A responsabilidade internacional de um Estado desencadeia-se quando um Estado viola


uma norma primária, por acção ou por omissão, uma obrigação internacional a cuja observância
estava vinculado.
A ilicitude afere-se tomando como parâmetro o direito internacional, pois pode haver
uma conduta internacional ilícita que internamente seja lícita, ou o inverso.

Nexo de imputação do referido facto ilícito ao Estado

Pode ser imputável quando tiver sido adoptado por órgãos estaduais ou órgãos que estão
subordinados à autoridade do Estado. Esses órgãos podem ser individuais, colectivos,
descentralizados ou centralizados.

Ocorrência de danos

É preciso que esse acto ilícito cause danos na esfera jurídica de terceiros.

Nexo de causalidade entre determinado comportamento e os danos sobrevindos

É preciso demonstrar que aqueles danos foram causados por aquele acto ilícito em
causa. Estes devem, portanto, resultar ou ser consequência do facto praticado pelo agente.
Verificados estes pressupostos, pode dizer-se que um Estado incorre em
responsabilidade internacional.

Consequências da verificação destes pressupostos – da responsabilidade internacioal

A generalidade dos autores aponta, como sendo próprio da responsabilidade


internacional, o surgimento de uma relação jurídica nova entre o estado autor do acto ilícito e o
estado vítima. O Estado vítima tem o direito subjectivo de exigir a reparação dos danos e o
estado autor tem o dever de os reparar.

4.1.2 – Graus de ilicitude – artigo 19º projecto de artigos do RI da CDI

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Direito Internacional Público

Com o nascimento da teoria do Ius Cogens e das obrigações erga omnes foi ganhando
forma a ideia de ordem pública internacional. Certas normas passam a ter um valor superior e
por consequência passam a existir vários tipos de responsabilidade internacional. Por
consequência, as consequências jurídicas seriam também diversas.
A comissão de direito internacional veio pois fazer uma distinção entre crimes e delitos
internacionais.

Crimes internacionais: violação grave de obrigações internacionais particularmente


importantes. Como está em jogo o interesse geral e a ordem pública, todos os Estados estão
habilitados a reagir – universalização da responsabilidade internacional.

Delitos internacionais: infracção a normas internacionais menos importantes. Como se trata de


interesses particulares do Estado vítima, só este está habilitado a exigir a reparação dos danos,
bem como só ele a seria lícito tomar mão das contramedidas – responsabilidade enquanto
assunto privado.

4.1.3 – Modalidades de reparação – artigos 35 e ss da CDI

A reparação de danos como consequência da violação de um compromisso, constitui um


princípio geral de direito, aplicável também ao ordenamento jurídico internacional.

Restitutio in integrum

Consiste na restituição em espécie. Significa que quando é praticado um acto ilícito, o


que é desejável é a reposição da situação actual hipotética. Consiste isto em colocar as coisas no
estado em que estariam se o acto ilícito não tivesse sido praticado. Esta reposição só é possível
através da restituição em espécie.
Porém, nem sempre é possível fazer a restitutio in integrum. Assim:
→ O acto jurídico pode ter causado danos irreversíveis;
→ Os danos materiais podem ter redundado num dano definitivo para o Estado vítima;

Deve afastar-se ainda a restitutio in integrum:

→ Se a forma de reposição representar para o Estado autor do ilícito um prejuízo


desproporcionado relativamente às vantagens para o Estado lesado, não há lugar a restitutio in
integrum.
→ Também não há restitutio in integrum se esta puser em causa a independência política e a
estabilidade económica do Estado autor.

Reparação por equivalente ou indemnização

Consiste na atribuição da entrega de uma quantia pecuniária ao estado lesado, pela


prática do acto ilícito, correspondente à que teria a restituição em espécie, a fim de o ressarcir
pelos danos causados. Esta indemnização deve cobrir não apenas os danos emergentes mas
também os lucros cessantes.
Muitas vezes torna-se difícil calcular o montante da indemnização e para o calcular
existem regras usualmente usadas nesta matéria:

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Direito Internacional Público

→ O cálculo é feito à luz das normas de direito internacional e não de direito interno;
→ O grau dos prejuízos sofridos deve aferir-se por referência ao montante presente;
→ Deve ter-se presente que não é uma forma de sanção. Esta sanção não serve para
sancionar mas sim para reparar danos causados.

Que danos são susceptíveis de serem compensados? São os danos economicamente


valoráveis. Tanto podem ser danos causados directamente aos Estados como aos seus cidadãos.

Satisfação

Forma de compensação dos danos que revistam um carácter moral, como por exemplo:
→ Um pedido oficial de desculpas;
→ A cominação de sanções internas ao agente autor do acto alícito;

Pode acontecer, porém, que os danos sejam simultaneamente morais e patrimoniais,


pelo que as formas de reparação podem actuar simultaneamente.

4.1.4 - Causas de exclusão da ilicitude internacional – artigos 20 a 25 CDI

Consentimento

Pode haver Estados que aceitem que outros infrinjam uma obrigação internacional.
Traduz-se num acordo entre o Estado autor e o Estado vítima, através do qual o agente consente
a adopção desse comportamento. Porém são necessários certos requisitos para que este
consentimento seja válido:

1) É necessário que esse consentimento tenha sido validamente prestado, sem vícios.
2) É necessário que esse consentimento seja claro e inequívoco. Pode ser tácito ou expresso.
3) Não pode ser meramente presumido. Tácito significa não expresso, ou seja, resulta de um
comportamento do Estado. Presumido significa conjecturado.
4) É necessário que esse consentimento seja imputável ao Estado.
5) Têm que ser respeitados os limites substanciais e temporais do consentimento. O estado autor
só pode praticar os actos que o estado lesado tenha consentido e apenas durante aquele tempo.
6) É irrelevante ao consentimento a prática de um acto ilícito que traduz a violação de uma
norma de Ius Cogens.

Legítima defesa – 51º CNU

Está prevista no artigo 51 da CDU. Hoje o recurso à força pressupõe o consentimento


do conselho de segurança das nações unidas. Aos Estados só está autorizado o recurso à força
para usos defensivos – legítima defesa, individual ou colectiva, no caso de ocorrer um ataque
armado contra um membro das nações unidas.
Porém este recurso à força tem que obedecer a requisitos:

Requisitos substantivos

1) Respeito pelo princípio da proporcionalidade.

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Direito Internacional Público

Requisitos procedimentais

1) O estado que actue em legítima defesa tem que comunicar ao Conselho de Segurança das
Nações Unidas as medidas que adoptou no exercício desse direito.

O direito de legítima defesa é transitório. Só se pode actuar até que o Conselho de


Segurança intervenha adoptando medidas para repor a paz internacional.

Contramedidas

Perante um acto internacional ilícito, admite-se que o Estado vítima reaja. São
faculdades reconhecidas pelo Direito Internacional.

1) Retorções

São actos inamistosos mas lícitos. Ex.: Corte de relações diplomáticas.

1) Represálias

São actos inamistosos e ilícitos. Mas essa ilicitude desvanece-se porque a represália é
motivada por um acto ilícito, prévio, por parte de outro Estado. Ex.: incumprimento de um
tratado.

Porém, só se admitem represálias pacíficas. Não se admitem represálias militares.

Força maior ou caso fortuito

Designa uma situação em que um Estado se vê obrigado a desrespeitar uma obrigação


internacional por causa de uma força exterior ou acontecimento imprevisto. Ex.: catástrofe.
É característico haver uma impossibilidade material de cumprir a obrigação
internacional. O Estado vê-se obrigado a actuar contra o Direito Internacional. É esta
característica que permite distinguir do Estado de Necessidade do Perigo Extremo.
Porém, para que a ilicitude seja excluída devem verificar-se dois requisitos:

→ A força maior deve ser irresistível e o acontecimento exterior de todo imprevisto;


→ Importa que esses Estado não tenha contribuído para a aludida impossibilidade material de
observar a obrigação internacional a que estava vinculado;

Perigo Extremo

Situações em que um órgão estadual ou agente do Estado vê no incumprimento de uma


obrigação material a única forma de salvar a sua vida ou de pessoas da sua guarda. Ressalta aqui
uma diferença relativamente à força maior que é a de que teoricamente é possível o Estado
cumprir a sua obrigação. Teoricamente existe opção.
Porém, é necessário que exista uma certa proporção dos interesses em jogo, ou seja,
entre o interesse protegido e o interesse sacrificado, e, ainda assim, quando este último deva
considerar-se de valor inferior aquele.

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Estado de Necessidade

Casos em que um estado viola uma norma de Direito Internacional porque sofreu uma
ameaça a um seu interesse essencial que inclusivamente pode por em jogo a sua sobrevivência
enquanto Estado.
No estado de necessidade, teoricamente, também existe a situação de opção entre
cumprir e não cumprir a obrigação internacional. Porém, esta causa de exclusão da ilicitude é
diferente do perigo extremo porque o que está em jogo é a existência do próprio Estado e não do
agente do Estado ou pessoas à sua guarda.
Para prevenir o recurso abusivo ao estado de necessidade existem algumas cautelas:

1) O interesse do Estado que se encontre ameaçado deve ser realmente essencial;


2) A violação do direito internacional deve ter constituído o único meio utilizável de conjurar o
perigo;
3) Não pode sacrificar um interesse essencial do Estado vítima;
4) O Estado não pode ter contribuído com a sua conduta para esse estado de necessidade;
5) Também não pode ser invocado o Estado de Necessidade cuja invocação tenha sido excluída
num tratado inicial, ou, por qualquer forma, tenha contribuído para a sua verificação; artigo 20º
da CDI
6) Não há Estado de necessidade se o comportamento do Estado violar uma norma de Ius
Cogens;

Intervenções humanitárias como causa de exclusão da ilicitude

Sobre se saber se é legítimo o recurso à força com fins exclusivamente humanitários, as


opiniões dividem-se.

Vozes contra

→ Admitir novas causas de exclusão da ilicitude pode levar ao fim do princípio da proibição do
recurso à força;
→ A figura da intervenção humanitária presta-se a alguns abusos; os Estados podem invocar
fins humanitários para intervenções que servem para o Estado satisfazer interesses próprios.
→ Não estão definidos com clareza os critérios substantivos e procedimentais que possam
legitimar uma intervenção humanitária;

Vozes a favor

→ Os objectivos previstos na CNU podem legitimar o recurso à intervenção com fins


humanitários;

Podemos concluir que a avaliação é casuística, mas também aqui pode nascer o
problema dos dois pesos e duas medidas.

4.2 – Responsabilidade internacional objectiva – Responsabilidade internacional por


factos lícitos ou por actividades não proibidas pelo Direito internacional

4.2.1 – Noção e significado

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Com o progresso tecnológico, os estados desenvolveram um conjunto de actividades


que o Direito internacional não proíbe mas que, excepcionalmente, comportam riscos,
susceptíveis de causarem danos a terceiros. Se de facto vierem a produzir-se efeitos na esfera
jurídica de terceiros, há que reparar esses danos. Porém, esses danos já não se vão fundar na
ilicitude do Direito Internacional, Vão sim fundar-se no nexo de causalidade entre o Estado e o
acto de modo a estabelecerem-se determinados deveres de reparação.

4.2.2 – Situações conducentes a esse tipo de responsabilidade internacional

1) Utilização pacífica de energia nuclear; transporte marítimo de substancias nucleares.


Convenção de Paris de Julho de 1960, C. Bruxelas de Maio de 1963.

2) Transporte de petróleo e seus derivados;


Convenção de Bruxelas de Novembro de 1969 e de Dezembro de 1971.

3) Danos causados por engenhos espaciais; Responsabilidade Internacional Objectiva do


Estado – única situação.
Convenção de Londres – Moscovo – Washigton de Março de 1972.

Estas três situações podem conduzir à responsabilidade internacional objectiva. Mas


apenas em uma delas existe Responsabilidade Internacional Objectiva do Estado que é a dos
danos causados por engenhos espaciais.
Nas outras duas situações a responsabilidade é imputada a título individual ao particular
explorador das instalações ou navios nucleares, ou transportador de hidrocarburos. Só há
Responsabilidade do Estado a título subsidiário se se provar falta de diligência por parte do
Estado. Nesta situação entende-se que o Estado já não cumpriu os seus deveres e já estamos
perante responsabilidade subjectiva e não objectiva, pois trata-se de um acto ilícito.

Dois outros casos de Responsabilidade objectiva

1- Actos de funcionários que tenham actuado para lá das suas competências

Nestes casos a responsabilidade é imputada ao Estado a título objectivo. “quem tem


funcionários, tem riscos”.

2- Danos transfronteiriços ou risco anormal de vizinhança

Trata-se da responsabilidade do Estado por danos causados a estados vizinhos por


poluição, com origem no seu território, ainda que essas acções poluentes transfronteiriças não
sejam imputáveis ao estado ou aos seus órgãos.

III – As Organizações Internacionais

A) Teoria Geral

1 – Evolução histórica

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2 - Noção

É um dos novos sujeitos de direito internacional. Só se pode falar das organizações


internacionais enquanto sujeito de direito autónomo após a II Guerra Mundial.
Sendo Sujeitos de Direito Internacional, as OI passam a dispor de determinados direitos
e estar sujeitas à observância de determinadas obrigações no plano do direito internacional.
As OI são associações voluntárias de Estados, criadas por tratado internacional (Carta
Constitutiva), dotadas de uma estrutura orgânica permanente e possuidoras de uma
personalidade jurídica internacional distinta da dos Estados membros. Os órgãos dessas
instituições são de três tipos:

1) Órgãos em que têm assento todos os membros da organização, obedecem à ideia de


democracia directa;
2) Com composição mais restrita, em que participam apenas alguns dos membros da
Organização – ideia de democracia representativa;
3) Órgãos de carácter técnico e administrativo;

Direitos das organizações internacionais

1) Concluir tratados;
2) Jus Legationis – enviar e receber missões diplomáticas;
3) Direito a serem ressarcidas pelos danos que lhe tenham sido causados, através de uma
reclamação internacional;

Dado que as Organizações Internacionais não dispõem de território, elas têm que
concluir um tratado com um Estado membro para poderem funcionar nesse Estado membro.

3 - Classificações

Quanto à Estrutura jurídica

Organizações intergovernamentais ou de cooperação

Em rigor, estas organizações deveriam chamar-se organizações interestaduais pois


estamos a falar de estados.
A organização interestadual é o tipo mais frequente. Normalmente, entre as
organizações e os Estados, verificam-se relações horizontais de mera coordenação de soberanias
nacionais.
Dos órgãos destas organizações fazem parte representantes dos Estados membros que
participam na vida da organização, subordinados às orientações e directrizes dos seus governos.
Eles acabam por estar na organização a defender os interesses dos seus Estados e estes
prevalecem sobre os interesses da organização.
Estas relações têm consequências no plano das decisões. A regra das deliberações é a da
unanimidade, com excepção da ONU. Assim equivale a um direito de veto de cada Estado
membro e isso permite que eles defendam sempre os seus interesses.
Além disso, destas organizações internacionais são emanadas normas que por via de
regra se dirigem aos Estados membros e só indirectamente aos indivíduos. Estas normas não são

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dotadas de aplicabilidade directa, pois entre qualquer deliberação e os sujeitos internos


interpõem-se sempre os órgãos estaduais.
Imporá ainda salientar que estas organizações não têm poder de impor decisões aos seus
membros, lançando mão por isso de meras recomendações.

Organizações supranacionais ou de integração

Estas organizações, representam uma limitação de soberania para os Estados. São


organizações em que as relações entre elas e os Estados já são verticais e de subordinação, isto
sem embargo de naturalmente continuarem a existir domínios em que subsistem relações de
simples coordenação.
Dos seus órgãos fazem parte indivíduos que estão ali a representar os interesses das
organizações internacionais. estes devem dar mostras da sua independência e para tanto actuam
em nome próprio não devendo ser encarados como representantes dos Estados. Eles estão ali na
qualidade de funcionários das organizações internacionais e exprimem uma vontade
verdadeiramente internacional.
Geralmente, nestas organizações, a regra da votação é a da maioria e não a da
unanimidade.
Estas organizações estão habilitadas a aprovar actos que são obrigatórios para os
Estados membros e são ainda dotados de aplicabilidade directa, dirigindo-se directamente ao
indivíduo – EX.: União Europeia.

B) A Organização das Nações Unidas ONU

1 – Contexto em que surgiu a ONU

Foi criada após a II Guerra Mundial, em 1945, em Ialta, depois das bases terem sido
lançadas na Conferencia de Bretton Woods, através da criação do FMI e do BIRD, pelas
potências vencedoras do conflito – EUA, União Soviética e Reino Unido e ainda da conferencia
de Dumbarton Oaks, no mesmo ano. Na conferência de São Francisco, em 26 de Junho de 1945,
foi aprovado o texto definitivo. A Carta entrou em vigor a 25 de Outubro do mesmo ano.

O seu principal objectivo foi evitar um terceiro conflito à escala mundial – garantir a
paz e a segurança mundiais. As potências vitoriosas procuraram instituir uma nova ordem
internacional.

2 - Objectivos da organização - 1º da CNU

Os objectivos estão consagrados no artigo 1º da CNU.

1) Manutenção da paz e da segurança internacionais - 1º/1.

2) Desenvolvimento de relações cordiais e amistosas entre os Estados – 1º/2.


3) Cooperação internacional em ordem à resolução de problemas económicos, sociais, culturais
e humanitários, no respeito pelas liberdades fundamentais da pessoa humana – 1º/3.

4) Centro de encontro dos Estados da comunidade internacional (…) Artigo 1º/ 4 CNU

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3 – Princípios em que se baseia o seu funcionamento - artigo 2º da CNU

Os princípios pelos quais se pauta a ONU estão previstos no artigo 2º da CNU. Trata-se
de autênticos princípios fundamentais de direito internacional – direito constitucional
internacional.

1) Igualdade soberana entre os Estados – artigo 2º/1 CNU

Este é um dos princípios porque se rege a ONU. A própria CNU faz letra morta deste
princípio num outro preceito do mesmo documento. As potências vencedoras encarregaram-se
de atribuir a si própria uma posição privilegiada no seio da ONU.

2) Princípio da boa fé – artigo 2º/2 CNU

Cumprirá aos Estados observar este princípio no cumprimento das suas obrigações
recíprocas.

3) Dever de resolução pacífica das relações internacionais – 2º/3 CNU

Este artigo articula-se com o artigo 33 do mesmo documento.

4) Proibição do recurso à força – 2º/4

Principalmente na integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado.


Este princípio articula-se com o anterior e logicamente a ordem deveria ter sido a inversa.

Princípios limitativos da acção da organização

5) Principio do domínio reservado - artigo 2/ 7 CNU

Permanece controvertida a delimitação do âmbito material de incidência do conceito


vertente, e é exactamente é sede de relações entre Estados e organizações internacionais que se
coloca o problema de não intervenção em assuntos que dependem essencialmente da jurisdição
interna daqueles.

6) Legítima defesa – artigo 2/ 4 e 51º CNU

Esta constitui uma das excepções admitidas ao princípio da proibição do recurso à força
nas relações internacionais.
Uma interpretação literal do artigo 51º conduz-nos a encarar a prévia ocorrência de um
ataque armado como pressuposto necessário da utilização da força em legítima defesa.
Os partidários da legítima defesa preventiva atestam que a legítima defesa pode pois ser
exercida na eminência de um ataque armado, pois isso contribui para a própria preservação da
paz mundial, além de que, esperar pelo ataque, pode significar para o Estado ofendido a sua
destruição.

Sistema de segurança colectiva

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Este princípio baseia-se no seguinte: um ataque a um membro da ONU é um ataque a


todos os outros membros. Este princípio leva a que o direito de legítima defesa tenha uma
vertente colectiva.

4 – A estrutura da ONU: membros e órgãos – artigo 7º/1 CNU

4.1 – Competências dos órgãos principais

Assembleia-geral das nações unidas – artigos 9º a 22º

A Assemblei-Geral das NU é o órgão plenário da organização já que é composta por


todos os Estados Membros. Funciona em plenário, mas também em comissões.
A assembleia-geral é o único órgão que tem uma competência genérica. No âmbito
dessa competência só pode adoptar recomendações. Porém, nos seus assuntos internos as
recomendações têm força obrigatória.
As deliberações da AG são tomadas por maioria simples dos membros presentes e
votantes. Porém, em certas questões importantes (exemplificativas no artigo 18º/2) essa maioria
é qualificada e é de dois terços. As abstenções estão excluídas.
A AG tem uma sessão ordinária por ano e sessões extraordinárias sempre que as
circunstancias o exijam.
Como a AG só pode emitir recomendações, sempre que for necessário emitir uma
decisão, a AG submete a questão ao Conselho de Segurança.

Conselho de Segurança – artigo 23º e seguintes

Órgão central e vocacionado para a manutenção da paz e da segurança internacional.


É composto por quinzes estados membros, sendo cinco permanentes e dez não
permanentes. Os membros não permanentes são eleitos pela AG por dois anos, sem que possam
ser reeleitos no biénio seguinte – 23º/1 e 2. A escolha é baseada, geralmente, em critérios
geográficos. Os cinco membros permanentes têm direito de veto e são os membros que saíram
vencedores da II Guerra Mundial – China, França, Rússia, Reino Unido e os Estados Unidos).
O CS pode adoptar resoluções imperativas, mas também recomendações.

Procedimento de decisão do Conselho de Segurança

As decisões são tomadas por maioria qualificada de nove votos. Porém, o procedimento
varia em função da natureza da questão que o conselho de Segurança vai apreciar. A natureza da
questão pode ser:

– Questões de natureza processual ou procedimental


– Questões de natureza material ou de fundo

Conforme se trate de uma ou de outra questão, o processo de votação é diferente.


1 - No caso de questões processuais ou procedimentais é necessária uma maioria de nove votos,
quaisquer que eles sejam.

2 - No caso de questões materiais ou de fundo é igualmente um sistema de maioria qualificada


de nove votos, cinco de entre eles deverão obrigatoriamente ser dos membros permanentes.

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Por vezes surgem dúvidas relativas sobre saber se as matérias são de natureza material
ou procedimental. Se não se sabe, é preciso qualificar essa questão. O CS tem que fazer uma
votação para saber qual a natureza da questão. Porém, este acto de qualificação é em si
considerado um acto de natureza material, logo pode haver direito de veto, por parte de cada um
dos membros permanentes, a que a questão seja qualificada como processual. Num momento
subsequente, um dos membros permanentes pode vetar novamente. Eis-nos perante o chamado
sistema de duplo veto.
Com aquela qualificação inicial, salvaguarda-se o direito de veto dos membros
permanentes, pois se, qualificar a questão fosse considerada uma questão de natureza
processual, o direito de veto dos membros permanente ficaria congeminado.

A questão da abstenção e o costume contra legem

De acordo com a letra do artigo 27/3, a ausência de voto afirmativo por parte de um
estado membro equivalia a um direito de veto. A verdade é que formou-se um costume contra
legem e a simples abstenção não paralisa a decisão, mas só um voto negativo produzirá esse
resultado.

Como órgão responsável pela manutenção da paz, sempre que um acontecimento ponha
em causa a manutenção da paz, o conselho de segurança:

1 – Qualifica a questão: tem que a qualificar segundo uma das três possibilidades da carta –
artigo 39 CNU

1 – Ameaça à paz
2 – Ruptura da paz
3 – Acto de agressão

2 – Procura adequar medidas – artigos 40, 41 e 42 da CNU

1 – Medidas provisórias

As medidas provisórias revestem a forma de recomendações, feitas aos Estados em


causa, no sentido de reverter a situação.

2 – Sanções não militares

São medidas tomadas através de resoluções imperativas, decisões. São essencialmente


medidas de carácter económico ou diplomático. As de natureza económica são mais eficazes e
por isso mais utilizadas.

3 – Sanções militares
São resoluções imperativas. Concebe-se uma ampla margem de discricionariedade.

Refira-se ainda que a ordem que aqui é exposta não é obrigatória para o conselho de
segurança das nações unidas. Assim, o CS, se assim o entender, pode optar por aplicar de
imediato sanções militares.

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4 - Operações de manutenção de paz

É uma operação de polícia internacional, “capacetes azuis”, fornecidos pelos Estados


membros. Essas acções não envolvem o recurso à força, com excepção da legítima defesa, e são
levados a efeito, não numa lógica de sanção, mas numa lógica de consenso e acordo entre as
todas as partes envolvidas: nações unidas, estados que fornecem os contingentes militares e os
estados onde têm lugar essas operações. A sua missão é congelar o conflito, cessar-fogo.
Estas operações não estão previstas na carta mas pela força do costume elas foram
surgindo. São normas costumeiras atinentes à manutenção da paz.

Sistema de segurança colectiva

Efectivamente não existe um exército internacional e as nações unidas apoiam-se nos


exércitos dos Estados membros. Na prática, as nações unidas autorizam ou legitimam as
intervenções.

Conselho económico e social – artigo 61 CNU

É composto por 54 membros, eleitos em sistema rotativo pela Assembleia-geral, por um


período de 3 anos. É um órgão pesado, burocrático e ineficiente.
Tem um amplo leque de competências. É um órgão que trata da cooperação entre os
Estados em vastos domínios, como cooperação económica, social, cultural, sanitária e no
âmbito dos direitos humanos. Apenas não se imiscui nas matérias políticas e administrativas.

Conselho de tutela – artigo 86 CNU

Ele foi criado para superintender na administração dos territórios sob tutela. Estes
territórios eram territórios em trânsito para a autodeterminação mas que ainda não tinham
condições para ser dotado de auto-governo e, portanto, careciam de uma administração
supervisionada internacionalmente.
Já não tem muita importância este órgão. Já esgotou a sua razão de ser. Desde 1994, ano
em que se deu a independência do último território sob tutela, que este órgão deixou de ter
importância.

Tribunal Internacional de Justiça – 2º; 31º/2 e 3; ETIJ

O TIJ é órgão judiciário mais importante da comunidade internacional. Ele faz parte da
ONU e sucedeu ao Tribunal Permanente de Justiça Internacional da SDN. O estatuto do
Tribunal Internacional de Justiça é praticamente igual ao do da SDN.
O TIJ é composto por 15 juízes que são recrutados e eleitos segundo os critérios fixados
no artigo 2º do ETIJ e são eleitos pela AG e pelo Conselho de Segurança. A sede é na Haia, no
palácio da Paz – artigo 9º.
O TIJ exerce dois tipos de competência:

Competência contenciosa – 36º ETIJ: no âmbito da qual o tribunal profere sentenças ou


acórdãos;

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Quem pode recorrer?


Apenas os Estados podem ser partes nas relações contenciosas. Porém, podem ser
discutidas questões que também tenham a ver com o indivíduo e com os seus direitos. Diversas
vezes os Estados exercem protecção diplomática dos os seus cidadãos. 34º ETIJ.

Refira-se que o TIJ não funciona como os tribunais internos dos Estados. À partida os
Estados não estão directamente submetidos à jurisdição deste tribunal. Pelo contrário, eles têm
que dar o seu consentimento – princípio da consensualidade. E como se atribui esses
consentimento? Diga-se desde já que os Estados podem submeter os seus conflitos à jurisdição
do TIJ já depois da ocorrência desses conflitos ou ainda antes.

Comecemos por ver como se processa o consentimento já depois da ocorrência dos


conflitos:

1 – Acordo especial

Trata-se de um acordo através do qual dois Estados, que estejam em conflito, aceitam
interpor uma acção em tribunal para que este se pronuncie através de uma sentença ou acórdão.

2 – Forum prorogatum

Forma de aceitação tácita da competência do tribunal. Existe um comportamento ou


atitude do Estado demandado que leva o TIJ a supor que esse Estado aceitou tacitamente essa
competência. Ex.: comparência do Estado demandado no tribunal para discutir a acção. Um
Estado que aceite tacitamente a jurisdição do TIJ não pode depois vir a contesta-la. Tal violaria
o princípio da boa fé.

Há, como se disse em cima, situações em que se pode reconhecer a competência do


tribunal antecipadamente. Quando isto acontece podemos afirmar que o TIJ estabelece uma
jurisdição quase obrigatória ou compulsória. São aquelas em que a função contenciosa pode
ser activada independentemente de qualquer acordo ad hoc entre os Estados para cada litígio em
que se vejam implicados. Há aqui várias possibilidades (continua a ser necessário o
consentimento desses Estados):

1- Celebração de uma convenção internacional bilateral ou multilateral.

Essa convenção versa sobre o problema geral da solução pacífica dos conflitos
internacionais, em que as partes acordam em submeter ao TIJ, quaisquer conflitos hipotéticos
que no futuro possam surgir entre eles.
2 – Cláusula compromissória de sujeição

Dois ou mais Estados Estados concluem uma CI sobre um qualquer tema e nessa CI
inserem uma cláusula (cláusula compromissória de sujeição), nos termos da qual será o TIJ a
julgar os casos que possam resultar da interpretação ou da aplicação dessa convenção.

3 – Cláusula Facultativa de jurisdição obrigatória – 36º/2 ETIJ

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Os Estados partes no Estatuto não ficam, ipso facto, vinculados a todas as suas
disposições. Existe uma particular cláusula pela qual eles não ficam automática e imediatamente
obrigados. Ela prevê que qualquer Estado parte declare, unilateralmente, que aceita no futuro a
jurisdição do TIJ. O Estado terá que fazer uma declaração e envia-la ao secretário das NU.
Cada Estado pode faze-la individualmente, não há, portanto, acordo com outros
Estados. Por isso, vai ser em concreto, por forçado encontro de dois consentimentos unilaterais,
que o TIJ vai exercer a sua jurisdição. A subscrição da cláusula é facultativa, mas uma vez
subscrita a jurisdição do TIJ é obrigatória. Daí o nome aparentemente paradoxal.

O problema é que apenas cerca de 50 Estados até ao momento subscreveram aquela


cláusula e, ainda para mais, metade deles com reservas.

1 – Reservas de aceitação temporal – acontece quando um Estado subscreve aquela clausula


mas só por um determinado período de tempo.

2 – Reservas de carácter substantivo – exclui litígios que tenham a ver com determinado
conteúdo.

Competência Consultiva – no âmbito da qual o TIJ emite pareceres consultivos. Artigo 96º
CNU

Esta competência pode ser desencadeada, quer pela Assembleia-geral, quer pelo
Conselho de Segurança. O tribunal internacional de justiça emite um parecer consultivo sobre
uma qualquer questão jurídica.
Também outros órgãos ou até organismos especializados das NU podem solicitar um
pedido de parecer ao TIJ mas mediante autorização da AG e apenas sobre matérias que tenham
a ver com a sua competência. 96º/2 CNU e 65ºETIJ.

Secretariado – 97º CNU

É um órgão de carácter técnico e administrativo, pesado e burocrático, constituído pelo


secretário-geral e pelo pessoal exigido pela organização.
O secretário-geral é eleito pela AG sob recomendação do Conselho de Segurança, e é o
principal funcionário da ONU.

Não se deve ter a ideia de que é um órgão meramente administrativo. Devido à paralisia
do Conselho de Segurança, o Secretário das Nações Unidas avultou algumas competências do
Conselho de Segurança e vê-se diversas vezes o secretário-geral a imiscuir-se em assuntos de
política e diplomacia. Artigo 99º. Detém assim hoje competências que vão para além das
previstas na Carta.

V – O indivíduo

1 – O indivíduo (pessoa física) como sujeito de Direito internacional

Sobre se saber se o indivíduo é ou não sujeito de relações jurídicas internacionais


sempre foi um problema muito discutido.

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Dualistas e voluntaristas

Estes entendiam que apenas os Estados eram sujeitos de direito internacional. Os


indivíduos jamais viam a sua esfera jurídica alterada pelas normas de direitos internacional, por
isso, não eram SDI.

Monistas

Estes passaram de um extremo ao outro e vieram dizer que apenas o indivíduo é sujeito
de direito internacional, sendo o Estado como um instrumento de gestão de interesses
colectivos.

Acontece que aos poucos foram surgindo correntes mais moderadas e admite-se hoje
que para além do Estado há outros sujeitos de Direito Internacional. O papel do indivíduo tem
vindo a crescer e fala-se hoje numa mutação de paradigmas.

No direito clássico

O indivíduo não era sujeito de direito internacional porque não era destinatário directo
das normas internacionais. Para se ser destinatário directo era necessário que as normas de
direito internacional alterassem a esfera jurídica dos sujeitos de direito internacional. No direito
clássico só mediatamente as normas de direito internacional alteravam a esfera jurídica do
indivíduo.
Por este facto, assumia especial importância o instituto da protecção diplomática. Este é
um mecanismo indirecto de tutela de direitos individuais no plano internacional, que é activado
pelo Estado. Era o Estado da sua nacionalidade quem podia assumir a tutela dos direitos
individuais dos cidadãos, mas note-se que, embora prerrogativa exclusiva do Estado, este só
defendia os seus cidadãos se assim o entendesse. Para que o Estado pudesse exercer essa
protecção era necessários alguns requisitos:

→ Era necessário que o vínculo da nacionalidade em causa seja estável, efectivo e genuíno, e
consequentemente, oponível a terceiros, não podendo ser uma ligação oportunista, episódica.

→ É necessário que o indivíduo sofra um acto ilícito do Estado estrangeiro, nesses Estado,
provada que seja a relação de causalidade adequada.

→ É também necessário que o particular esgote previamente os recursos graciosos e


contenciosos que estão à sua disposição no estado estrangeiro. Este princípio confere ao
instituto da protecção diplomática um carácter subsidiário.

Recursos graciosos – no seio da própria administração;


Contenciosos – judiciais interpostos no tribunal;

Motivos que exigem um prévio esgotamento dos recursos à sua disposição:

1) Parte-se de um princípio que os cidadãos confiam nas vias de recurso ao seu dispor
nos países estrangeiros.

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Direito Internacional Público

2) Os Estados, para que haja uma sã convivência, têm que confiar nos outros Estados
em matéria de administração de justiça, e, por isso, é, preciso por elementar prudência, que se
dê ao Estado estrangeiro a oportunidade de demonstrar que afinal não praticou qualquer acto
ilícito, ou, se o praticou, está disposto a ressarcir o particular.

→ Requisito clean hands - Seria ainda necessário demonstrar que o próprio individuo não
violou uma regra interna do país de residência. Este último requisito não é muito aceite na
doutrina porque se entende que mesmo que o individuo tenha violado uma lei interna do Estado
da residência, este tem direito a ser defendido.

No que toca às modalidades de exercício, O Estado tem ao seus dispor os vários


métodos de solução pacífica de conflitos admitidos pelo direito internacional, desde os métodos
político-diplomáticos, aos procedimentos judiciais e arbitrais.

Actualmente começa a surgir um novo paradigma. O indivíduo passou a ser SDI, facto
que lhe permite assumir internacionalmente, de forma directa, a tutela dos respectivos direitos,
com a correlativa subalternização, em tais casos, do instituto da protecção diplomática.

2 – O indivíduo como sujeito de direito internacional geral ou comum

Reconhece-se que há normas de direito internacional que vinculam todos os membros


da comunidade internacional. Os dois maiores domínios onde o indivíduo é hoje destinatário do
direito internacional são os crimes internacionais e os direitos humanos.

2.1 – O problema dos crimes internacionais e do contencioso penal internacional

Há certos comportamentos dos indivíduos que afectam interesses gerais da comunidade


internacional e por isso houve a necessidade de qualificar essas condutas dos indivíduos como
crimes internacionais. Mas, o indivíduo pode actuar sob duas roupagens distintas, às quais vão
equivaler infracções diferentes:

1 – A titulo privado, por sua conta e risco; delicta iuris gentium

Temos como exemplo a pirataria, tráfico de escravos, estupefacientes. Aqui o individuo


actua em privado e não podemos dizer que ele sujeito de direito internacional porque as normas
internacionais autorizam/impõem, aos Estados a punir as infracções. Essas normas não se
dirigem directamente aos indivíduos.
Neste tipo de crimes dificilmente se poderá sustentar a tese da personalidade jurídica
internacional do indivíduo, pois as normas de Direito Internacional, embora prevendo a
respectiva punição, dirigem-se em primeira linha aos Estados e só mediatamente aos indivíduos.
Estas autorizam/obrigam os Estados a julgar os indivíduos.

2 – Como órgão público, por conta do Estado ou agente do Estado; crimes under international
law

Temos como exemplos crimes contra a paz, crimes de guerra, crimes contra a
humanidade, genocídio. Neste tipo de crimes, o indivíduo já é sujeito de direito internacional

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Direito Internacional Público

geral ou comum, pois o TPI está habilitado a julgar estes crimes, pelo que as normas se dirigem
directamente ao indivíduo.

2.2 A protecção internacional dos Direitos Humanos à escala universal

Há autores que falam numa mudança de paradigmas no direito internacional porque os


indivíduos são hoje uma preocupação do direito internacional. Há um processo de humanização.
Essa necessidade de instituir mecanismos jurídicos internacionais de protecção do
homem fez-se sentir de modo mais vincado e premente após a II Guerra mundial.
Na Carta das Nações Unidas há vários preceitos que aludem ao respeito universal e
efectivo dos direitos e liberdades fundamentais do homem, sem distinções de sexo, raça etc.,
que a organização se encarregará de promover e estimular. Porem, embora juridicamente
obrigatórios, eles são meras proclamações gerais. São uma espécie de normas programáticas.

Adopção de instrumentos normativos

Houve pois tentativas para concretizar os preceitos da Carta.

→ DUDH – 1948;
→ Pactos Internacionais (1) sobre direitos civis e políticos e (2) e sobre direitos económicos,
sociais e culturais – 1966;

Estes três instrumentos normativos constituem a chamada Carta internacional dos


Direitos do Homem.
Porque esta diferença temporal? É que a Declaração Universal dos Direitos do Homem
é uma mera recomendação, pois foi adoptada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas e esta
só adopta recomendações. Muitas destas normas eram Costumeiras o que fez perder algum
significado aquele aparente constrangimento jurídico-formal.
Os pactos foram uma forma de dar concretização de matérias mais específicas e uma
tentativa de dar continuidade à Declaração através de textos juridicamente obrigatórios.

Grandes princípios que presidiram à protecção dos Direitos Humanos no plano


internacional

Princípio da Universalidade

Significa que deve haver um respeito e uma promoção dos Direitos Humanos mais
essenciais, independentemente dos particularismos regionais. Claro que os particularismos
regionais podem levar a uma certa flexibilidade na protecção desses direitos, mas de forma
alguma podem ser postos em causa. Admite-se diferentes culturas que flexibilizam os direitos
humanos mas sem por em causa o núcleo essencial dos Direitos Humanos. Deve salientar-se
que há um núcleo de Direitos Humanos que é objecto de um consenso mais ou menos geral na
comunidade internacional.

Obrigação erga omnes

Obrigações que cada Estado toma para com a Sociedade Internacional no seu todo.
Todos os Estados têm um interesse jurídico na protecção desses direitos. Logo, qualquer Estado

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pode intervir quando se violem esses direitos. É aqui que se funda a tese das intervenções com
fins humanitários.
Até certa altura os Direitos humanos eram assunto interno dos Estados. Mesmo aquando
da elaboração da Declaração, havia a oposição dos países de leste e dos afro-asiáticos. Porém,
operou-se uma mudança radical.
De qualquer modo, quem modelou o conteúdo essencial dos direitos humanos foi o
bloco dos países do ocidente e são tributários das concepções liberais e democráticas.
Em conclusão, estes instrumentos normativos atribuem directamente direitos e
obrigações aos indivíduos. Alguns destes direitos prevêem até a possibilidade de reacção a
instâncias internacionais para tutela desses direitos. Alguns direitos contidos nesses preceitos
constituem até efeito directo.

3 – O indivíduo como sujeito de Direito Internacional particular

Vamos olhar as manifestações da personalidade jurídica internacional do indivíduo no


âmbito mais circunscrito das várias sociedades internacionais particulares.

3.1 – A protecção internacional dos direitos do homem à escala regional

Sistema Europeu

Impõem-se uma palavra no âmbito do Conselho da Europa.

Conselho da Europa

Neste organismo internacional assume especial relevo a protecção dos direitos


humanos. Daí que o seu estatuto estabeleça como condição de aquisição da qualidade de
membro do Conselho da Europa que se submetam ao império do direito e têm de assegurar a
todos os indivíduos sob sua jurisdição o respeito pelos direitos mais essenciais da pessoa
humana. Explica-se a pronta actividade de produção normativa, sob a égide do Conselho da
Europa, que desembocou na elaboração dos seguintes instrumentos normativos:

Programa normativo que terminou com a Convenção Europeia dos Direitos do Homem –
1950;

Enuncia um catálogo de direitos fundamentais, reconhecidos directamente ao indivíduo,


e sem distinção alguma, agrupados em seis categorias:

1 – Integridade física;
2 - Liberdade e tutela jurisdicional;
3 – Intimidade pessoal e familiar;
4 – Liberdade intelectual;
5 – Actividade política;
6 – Direito de propriedade e educação;

Prevêem-se vários mecanismos para assegurar o controlo da observância destes direitos


por parte dos Estados Membros.

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1 – Informações fornecidas pelos Estados mediante solicitação do Secretário Geral do Conselho


da Europa.

2 – Queixas interestaduais: qualquer Estado-Membro do Conselho da Europa pode denunciar


outro Estado por alegadas violações de determinados direitos enunciados na Conexão.

3 – Queixas ou demandas individuais: permite-se que os particulares possam recorrer


directamente ao Tribunal Europeu dos Direitos do homem. É aliás um mecanismo inédito
porque trata-se de verdadeiras sentenças. Porém, os particulares só podem recorrer depois de
esgotados os recursos internos e depois dispõem, após esses esgotamento interno, de um prazo
de seis meses para recorrer.

Carta Social Europeia – 1961;

Enuncia os direitos económicos, sociais e culturais e entrou em vigor em 1965.

1 – Direito ao trabalho;
2 – Direito Sindical;
3 – Negociação colectiva;
4 – Segurança social;
5 – Assistência social e médica;
6 – Direitos de família;
7 – Trabalhadores migrantes;

Também aqui há um mecanismo de vinculação inédito dos Estados. Cada Estado pode
comprometer-se a adoptar cinco dos sete direitos previstos na Carta.
O sistema de controlo resume-se ao exame dos relatórios apresentados pelos Estados
partes, não estando previstas as queixas interestaduais ou individuais, como vimos suceder no
âmbito da CEDH.

Sistema Americano

O sistema americano tem por base a Convenção Interamericana de São José da Costa
Rica de 1969 e o Protocolo de São Salvador de 1968.
Estes instrumentos normativos enunciam uma série de direitos fundamentais da pessoa
humana. Muitos deles são decalcados da DUDH e dos Pactos. São declarações para o plano
regional. Um órgão não jurisdicional – a comissão Interamericana dos direitos do homem, o
outro jurisdicional, o tribunal Interamercano dos direitos do homem, encarregam-se de
assegurar a salvaguarda dos direitos consagrados naqueles instrumentos convencionais.

Comissão Interamericana para os Direitos do Homem

Podem os particulares ou grupos de particulares dirigir petições escritas contendo


queixas ou denúncias de alegadas violações dos direitos do homem.

Tribunal Interamericano dos Direitos do Homem

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É uma instância jurisdicional. Só podem recorrer ou a Comissão ou os Estados


Membros.
Este sistema torna o sistema menos eficaz do ponto de vista do indivíduo,

Sistema Africano

A Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos de 1986 constitui o normativo
fundamental. Fala-se em direitos dos Povos para se lhes garantir certos direitos como à
existência, descolonização.
Este sistema é inovador porque fala dos direitos do indivíduo, mas também dos deveres
para com a família, o Estado e Comunidade Internacional. Do ponto de vista da fiscalização,
não há nenhuma instância de jurisdição.

4 – O indivíduo como sujeito de Direito Comunitário

Também se trata de uma manifestação da personalidade jurídica no plano regional mas


comporta especificidades. Ela não resulta apenas dos tratados que instituíram as Comunidades
Europeias, mas também do direito derivado e da jurisprudência do Tribunal de justiça.

4.1 – Principais manifestações dessa qualidade

Inicialmente essa personalidade jurídica do indivíduo resumia-se ao regime das quatro


liberdades – liberdades de circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais, para defesa
da concorrência no Espaço comunitário, este último entendido como um direito ou liberdade.
A personalidade jurídica comunitária assenta na característica de o direito comunitário
derivado ser dotado de aplicabilidade directa, não precisando de transposição ou mediação pelos
órgãos estaduais para valer na Ordem jurídica interna. Alem disso, ele não se dirige aos Estados
mas directamente aos indivíduos.
Há ainda outros actos que têm efeito directo. Certas directivas e outras decisões não têm
aplicabilidade directa, porque os destinatários são os Estados e não os indivíduos, mas têm
efeito directo porque os cidadãos podem invocar esses actos junto do Tribunal de justiça das
Comunidades europeias.
Uma outra manifestação consiste em que os cidadãos podem recorrer directamente ao
Tribunal de Primeira Instancia e ao Tribunal de justiça, requerendo a avaliação de actos que
tenham lesado os seus direitos. Esta manifestação assemelha-se ao contencioso administrativo.

O Tratado da união Europeia traduz uma etapa decisiva no processo de aprofundamento


da personalidade jurídica do indivíduo nas Comunidades Europeias.

1) O Tratado de Maastricht considerou obrigatório, para a União Europeia, como


princípios gerais de direito comunitário, quer os direitos fundamentais consignados na
Convenção Europeia dos Direitos do Homem, quer aqueles que resultam das tradições
constitucionais dos Estados membros.

2) O Tratado de Maastricht instituiu a chamada cidadania europeia ao lado das cidadanias


nacionais, materializada na atribuição aos cidadãos da Europa Unida de um amplo
catálogo de direitos civil e políticos:
- Capacidade eleitoral activa e passiva;

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- O direito à protecção diplomática por qualquer Estado membro no território de


Estados Terceiros;
- Direito de Petição ao Parlamento Europeu;
- Direito de Queixa ao Provedor de Justiça.

4.2 – A protecção dos direitos fundamentais na ordem jurídica comunitária

Começa, pois, a dar-se atenção aos direitos fundamentais. Inicialmente os objectivos da


união eram apenas de natureza económica, não se encontrando qualquer menção expressa aos
direitos humanos fundamentais e à necessidade de garantir a sua salvaguarda.
Porém, os recorrentes invocavam frequentemente direitos fundamentais de que
beneficiavam nas suas constituições nacionais. Mas, o Tribunal de Justiça não se achava
competente para apreciar a compatibilidade do Direito Comunitário com o Direito
Constitucional dos Estados membros. Então, fruto da contestação de alguns Tribunais
Constitucionais, em particular dos Tribunais Constitucionais da Alemanha e da Itália, começou
a entender-se que os direitos fundamentais entram no património jurídico da união Europeia.
Com o Tratado da União Europeia a questão conheceu desenvolvimentos significativos.
Foi estipulado que a União respeitará, como princípios gerais de direito comunitário, tanto os
princípios fundamentais consagrados na Convenção Europeia do Direitos do homem de 1950,
como os que resultam das tradições constitucionais comuns aos Estados Membros.
O Tribunal de justiça veio assim em 1996 por em relevo que tal observância pelos
direitos fundamentais constitui um requisito indispensável para a validade dos actos
comunitários, devendo por conseguinte, guiar a actividade dos órgãos da união Europeia.

Tudo isto veio a culminar na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia em
2000, em Nice.

Capitulo V

Métodos de solução pacífica de conflitos internacionais

I – Introdução

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O dever de solução pacífica de conflitos é um princípio de direito internacional e está


consagrado no princípio da proibição do recurso à força. A carta das Nações unidas faz
referência a este princípio no artigo 2º e 33º. Muitos outros textos normativos fazem referencia a
este princípio. Nos conflitos internacionais, devem pois adoptar-se métodos de solução pacífica.
Mas faz-se a pergunta, que métodos?

Alguns métodos são de natureza consuetudinária, outros estão consagrados em


Convenções internacionais. Quando há um conflito entre dois ou mais Estados há três
possibilidades:

1 – Negociação directa entre os protagonistas desse conflito. É desde logo o mais desejável
método.

2 – Heterosolução – esses Estados aceitam uma solução que lhes é imposta por um terceiro.
Neste caso estamos perante métodos jurisdicionais, que podem assumir a forma de
arbitragem ou solução judicial.

3 – Autosolução – eles próprios chegam a acordo para solucionar o conflito, ainda que as mais
das vezes por influência de um terceiro. Porém, este terceiro limita-se a ajudar a encontrar a
solução.
Neste caso estamos perante métodos político-diplomáticos, os quais são susceptíveis de
encontrar concretização prática nos procedimentos dos bons ofícios, da mediação, do inquérito e
da conciliação.

II - Métodos político-diplomáticos

1 – Sem intervenção de terceiros

1 – Negociação directa

As partes envolvidas entram em negociação, propondo-se solucionar o caso. Não há


intervenções de terceiros. Este método é o mais antigo e tem origem consuetudinária.
No essencial, a negociação diplomática envolve o estabelecimento de conversações
entre os contendores, subordinados ou não a condições prévias, que culminarão na chegada a
uma solução concertada ou na verificação do malogrado do processo negocial. Daqui decorre
que a negociação pode chegar a bom porto ou não.
Refira-se que não tem que haver negociação apenas perante um conflito já
desencadeado, ela também pode ser preventiva.

2 – Com intervenção de terceiros


Mas nos métodos político-diplomáticos com intervenção de terceiros, quem são esses
terceiros? Pode ser o secretário das nações unidas, um prémio Nobel da paz etc. Tem é que ser
imparcial e procura encontrar uma solução, por iniciativa própria ou por iniciativa das partes.

2.1 – Mediação e bons ofícios

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São dois métodos com origem consuetudinária, embora tenham sido codificados pelas
Convenções da Haia de 1899 e 1907. Entre ambos há apenas a assinalar o grau de intervenção
do terceiro.
Bons ofícios: há um terceiro imparcial que, fazendo uso da sua autoridade mora e
política, intervém mas limita-se a por em contacto as partes em conflito. Esse terceiro não chega
a fazer propostas de solução. Ele não interfere directamente na solução.
Mediação: aqui o terceiro, para além de tentar colocar face a face, à mesa das
negociações, os protagonistas da controvérsia, o mediador empenha-se na busca de uma solução
concertada.

2.2 – Inquérito internacional

Já não tem origem consuetudinária. Consiste em levar o conflito ao conhecimento de


um órgão internacional colegial, designado por comissão de inquérito. Esse órgão colegial vai
apreciar os factos que estão na base desse conflito e, uma vez feita essa averiguação, elabora um
relatório que depois é entregue às partes. Trata-se de um procedimento facultativo no seu
alcance. Tal relatório não tem o valor de uma sentença arbitral, podendo, os destinatários, dar-
lhe o seguimento que entenderem.

2.3 – Conciliação - 43

O seu desencadeamento pressupõe sempre um prévio compromisso convencional, não


lhe subjazendo qualquer obrigação costumeira.
É um método quase jurisdicional, pois o procedimento é cindido em duas partes
distintas e baseado no princípio do contraditório.

É composto por duas fases:

1 – Serve para tratar da questão de facto;

Dois princípios essenciais:


1 – Princípio da igualdade das partes
2 – Principio do contraditório
Esta fase serve para ser produzida a prova. Têm que ser consignados os factos para se
produzir a prova.

2 – Serve para tratar da questão de direito;

Cada parte litigante apresenta os seus argumentos. As partes aqui são os Estados,
representados pelos agentes. Estes agentes estão normalmente acompanhados por advogados ou
consultores.

Estas fases são comuns a todos os processos judiciais. A conciliação baseia-se num
procedimento semelhante ao dos tribunais – Comissão de Conciliação.

3º Momento

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Direito Internacional Público

É o momento da decisão. Essa decisão é aprovada por maioria, sendo que o presidente
do Tribunal tem voto qualificado. Esta decisão não se traduz numa sentença obrigatória para as
partes.

III – Métodos Jurisdicionais

1– Solução ditada por um tribunal permanente

1.1– O tribunal internacional de justiça

1.1.1 – Interposição da acção e fases do processo contencioso – 40º, 42º, 43º, 46º, 54º, 55º,
56º, 57º, 59º, 60º, 61ºETIJ

Nos termos do artigo 40 do ETIJ, as acções são interpostas mediante notificação do


acordo especial, ou através de uma petição escrita dirigida ao escrivão, nos demais casos.
Deverão ser indicados, nesse momento inicial, o objecto da controvérsia e as partes que
pleiteiam.
O processo tem duas fases: uma escrita e outra oral.
Pela redacção do artigo 43º, no processo escrito constam comunicação ao tribunal e às
partes de memórias, contramemórias e eventualmente réplicas.
No processo oral o tribunal ouve testemunhas, peritos, agentes, consultores e
advogados.
As audiências são públicas. As partes podem contudo pedir que o processo decorra à
porta fechada bem como o próprio tribunal assim o pode decidir também – artigo 46º.
Nos termos do artigo 54º, o tribunal retira-se para deliberar. As decisões são tomadas
por maioria dos juízes presentes, tendo o juiz presidente voto de qualidade em caso de empate.
55º.
Por fim, há um dever de fundamentação da decisão. Os juízes minoritários podem
publicitar a sua discordância – artigo 56º ETIJ, através da opinião individual e da opinião
dissidente. A decisão tem uma eficácia que se circunscreve às partes litigantes e ao caso sub
Júdice – 59º, regra que pretende excluir os precedentes jurisdicionais.
Quanto à possibilidade de haver recurso diga-se que este não é possível pois o TIJ é um
Tribunal de última instância – 60º. Excepcionalmente, a pedido de qualquer das partes, admite-
se que o Tribunal interprete o acórdão.
Porém há uma possibilidade contemplada no artigo 61º. Essa possibilidade existe
apenas quando se verifica a descoberta de um facto novo que pode revelar-se decisivo para
alterar o sentido da decisão. Esse desconhecimento não pode ser devido a negligência das
partes. Depois de conhecido desse facto novo, o prazo de recurso é de seis meses.

1.1.2 – Incidentes processuais

Este processo pode ser interrompido pelos incidentes processuais. Estes podem ser
suscitados pelo próprio Tribunal, pelas partes, ou por um terceiro. Estes incidentes processuais
podem assumir a forma de excepções preliminares, de medidas provisórias ou conservatórias ou
de intervenção.

1 – Uns têm a ver com a competência do Tribunal;

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2 – Outros dizem respeito à preservação dos direitos das partes na acção ou do efeito útil da
acção.
3 – Outros podem ainda ser relativos aos direitos dos Estados terceiros.

Excepções preliminares – 36º/6

Pode levantar-se o problema da competência do Tribunal. Logo, as Excepções


preliminares são um expediente processual através do qual um Estado demandado contesta a
competência ou a jurisdição do Tribunal Internacional de Justiça para julgar um determinado
caso. Quem decide esta questão? É o próprio TIJ. Este é juiz da sua própria competência.
Excepcionalmente pode ser o Estado demandante a formula-las, com o propósito de
salvaguardar direitos de Estados terceiros que pudessem ser afectados com o julgamento.
À luz do princípio da economia processual, o tribunal deve aprecia-las logo no início do
processo.
Que tipos de excepções preliminares temos?

1) Ratione Materiae

Poderá o Estado demandado suscitar um incidente processual alegando por exemplo que
a questão não tem relevância internacional.

2) Ratione personae

Poderá ser invocada pelo Estado demandado – ex.: violação do principio da


consensualidade em que se baseia o TIJ.

3) Ratione temporis

Tem a ver com situações de expiração do prazo.

4) Inadmissibilidade do pedido por falta de interesse em agir.


Acontece quando o Estado demandado considera não existir da parte do Estado
demandante interesse processual, quer dizer, necessidade de usar o processo e de fazer
prosseguir a acção, ainda que, porventura, seja sua a titularidade da relação material.

Medidas provisórias ou conservatórias

Assemelham-se às providências cautelares. Servem para impedir que a sentença não


tenha efeito útil. No processo internacional elas não são especificadas – 41º ETIJ.
Visto carecerem de autonomia, as providencias cautelares são meros incidentes ou
preliminares das acções.
Trata-se de preservar os meios de prova, a necessidade de evitar um agravamento ou um
alastramento, a protecção dos direitos de cada parte ou a garantia do efeito útil da sentença que
o Tribunal irá proferir. o TIJ só poderá decreta-las se estiver convencido que há um risco sério
irreparável e do risco sério do agravamento do conflito. O seu poder é de natureza
discricionária.

Intervenção – 62º

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Consiste num pedido feito ao TIJ por um Estado que não é parte na acção contenciosa
mas que entende que a sentença a proferir pelo TIJ possa afectar um interesse na sua ordem
jurídica.
Nem sempre o TIJ profere estas pretensões porque muitas vezes pode ser utilizado
abusivamente, com o consequente desrespeito pelo princípio do consentimento prévio dos
Estados que aceitaram a jurisdição do TIJ para um particular conflito.

1.2 – Tribunais internacionais de competência limitada

Ao lado do TIJ, existem outras jurisdições internacionais mais especializadas. Como


exemplos temos o Tribunal do Direito do Mar, Tribunal Europeu dos Direitos do Homem etc.
matéria facultativa.

2- Solução arbitral

São Tribunais de Constituição ad hoc. Constituem-se propositadamente para julgar


determinados litígios. Os árbitros são também juízes.

2.1 – Características gerais dos Tribunais arbitrais

A sua particularidade reside no seu carácter não permanente. Como são então
constituídos estes tribunais? São constituídos através de um acordo entre os Estados envolvidos
no conflito – compromisso arbitrário. Este acordo torna este método mais respeitador da
soberania Estadual.
O tribunal arbitral interpreta o compromisso de arbitragem mas se fizer um abuso nessa
interpretação pode levar a um excesso de poder.
O compromisso de arbitragem tem também que prever qual é o direito que se vai
aplicar. Se nada se disser ele aplica o direito internacional. Claro que uma cláusula especial do
compromisso de arbitragem pode prever que o tribunal decida segundo critérios de equidade.
Em princípio a sentença proferida é definitiva, a menos que as partes hajam convindo
no contrário. Se por ventura o Tribunal Arbitral julgar por exemplo uma questão diferente da
que lhe foi suscitada ou não seguir as regras substantivas previstas no compromisso de
arbitragem, a sentença arbitral será nula. O problema da nulidade será submetido a uma nova
arbitragem ou eventualmente ao TIJ, desde que observado o princípio da consensualidade.
Mas, há duas possibilidades de se pedir a revisão da sentença.

1 – Pedido aclaração da sentença - quando esta seja dúbia no seu alcance, e de rectificação de
erros puramente materiais.
2 – Descoberta de um facto novo - posteriores à prolação da sentença, susceptíveis de
influenciar o sentido da sentença.
Este pedido é feito nos mesmos termos em que se aceita no TIJ.

2.2 - Tribunal Permanente de arbitragem

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Verdadeiramente não se trata de um Tribunal permanente. Este Tribunal foi criado pelas
Convenções da Haia de 1899 e 1907. Tem uma designação paradoxal, mas de facto não é um
verdadeiro Tribunal.
Trata-se sim de uma lista internacional de juízes arbitrais. Os Estados pares nas
Convenções da Haia ficaram obrigados a nomear, por períodos de seis anos, quatro juízes
árbitros que no seu conjunto formam a lista internacional de árbitros.
Quando surge em concreto um litígio entre esses Estados, constituem-se em concreto os
juízes. Cada Estado litigante escolhe dois juízes, sendo que apenas um pode ser seu nacional.
Esses quatro árbitros nomeiam um quinto árbitro.
Esta lista permanente revela uma tentativa de integração. Existe ainda um secretariado
e, ainda, um modelo de regras. Acerca do procedimento arbitral a observar em caso de lacunas
no compromisso de arbitragem.

2.3 Formas de submissão um litígio a um Tribunal Arbitral

São basicamente três as formas de submeter os litígios interestaduais à apreciação de


um tribunal arbitral.

1 – Convenções gerais de arbitragem

São convenções que dois ou mais Estados podem concluir de modo a assumirem que
será um Tribunal Arbitral a julgar futuros conflitos em que intervenham esses Estados Partes.
Trata-se de conflitos eventuais hipotéticos.

2 – Clausula arbitral

Clausula que se insere num Tratado prevendo que será também um Tribunal arbitral a
resolver possíveis conflitos que tenham a ver com a interpretação e aplicação dessa convenção.

3 – Compromisso arbitral

Tem a ver com os casos em que o conflito já surgiu. Traduz-se num acordo mediante o
qual as partes interessadas aceitam submeter a controvérsia à arbitragem.
Do compromisso de arbitragem devem constar:
- A indicação das partes litigantes e o objecto do litígio;
- A menção ao direito material e objectivo a aplicar;
- A forma de constituição do Tribunal e de nomeação dos juízes árbitros;
- O vencimento que estes irão auferir etc.;

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