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A indústria musical é uma indústria cultura ou criativa? Porquê?

Por Núria Pinto

A destrinça entre as actividades que se situam dentro do campo das indústrias culturais e
aquelas que se situam sob o escopo das indústrias criativas é quase tão nebulosa como a
própria tentativa de encontrar uma definição rigorosa que faça a distinção conceptual
entre os dois termos.

Vários são os autores que, e neste caso específico, argumentam sobre a possibilidade da
integração da indústria musical quer no campo das indústrias culturais quer no campo das
indústrias criativas.

Através do presente ensaio, começarei por definir os conceitos de indústria cultural e


indústria criativa sob a perspectiva dos diferentes autores e abordagens. Seguidamente,
procurarei argumentar sobre as suas perspectivas com o intuito de fundamentar aquele
que acredito ser o verdadeiro campo de actuação da indústria musical.

O’Connor começa por definir indústrias culturais como uma actividade que lida
primeiramente com bens simbólicos, isto é, bens cujo valor económico deriva do seu valor
cultural. Desde sempre, a música tem sido um dos meios mais e melhor utilizados para a
transmissão daqueles que são os valores culturais e traços identitários de determinadas
sociedades, grupos, subgrupos ou tribos urbanas bastante específicas. Nas suas mais
diversas formas, a música encerra em si a capacidade de evocar elementos culturais com
particular significado simbólico para as audiências a que se destina.

Assim sendo, e na actual economia de consumo, os objectos que anteriormente


pertenciam à esfera da cultura situam-se agora na esfera mercantil, passando a ser vistos
como bens de consumo. Se tomarmos como exemplo a nova música popular portuguesa e
a sua explícita intenção em retomar o contacto com elementos tradicionais portugueses
(através de composições musicais em que se volta a recorrer a instrumentos tradicionais
portugueses e a efectuar incursões pelo folclore nacional ou, do mesmo modo, através da
utilização de elementos tipicamente nacionais como o xaile, o galo de Barcelos, trajes,
bijutaria e outros adornos regionais) podemos considerar estarmos a assistir a uma
massificação e comercialização de objectos considerados estandartes da cultura nacional.
A música transforma-se, assim, num produto cultural à medida que a indústria musical
procura adaptar a sua oferta de bens culturais às necessidades do mercado e dos
consumidores, numa perspectiva economicista.
Por outro lado, é a estreita relação que a música possui com a propriedade intelectual que
envolve que a parece transportar para a categoria de bem cultural per si,
consequentemente inserido numa indústria que se define pela necessidade de visualizar a
cultura como um segmento de mercado.

Contudo, o termo indústrias criativas, cuja definição proposta pelo Departamento para a
Cultura, Media e Desporto do Governo Britânico (DCMS) compreende todas as actividades
que têm a sua origem nas competências e nos talentos criativos individuais e que têm um
potencial de criação de riqueza e de emprego através da geração e valorização da
propriedade intelectual vêm contribuir para o acentuar das divergências em definir quais
as actividades que se situam no campo da indústria cultural e no campo da indústria
criativa.

Não compreenderá, a indústria musical, um aglomerado de actividades resultantes das


competências e talentos criativos individuais, ao mesmo tempo que cria riqueza, gera
emprego e valoriza aquela que é uma das características mais vincadas da totalidade de
bens culturais, como é o caso da propriedade intelectual?

Autores como Roodhouse, Calhoun, Lupuma e Postone olham para o desenvolvimento das
indústrias criativas como uma constante definição e redefinição das artes enquanto sector
industrial. Actualmente, produtos como a multimédia ou o software têm um papel
fundamental no seio das indústrias culturais embora não se insiram nem no domínio da
arte nem no domínio da cultura. São, contudo, inovações suficientemente radicais para
transformar significativamente a organização das famílias e dos modelos de consumo bem
como todas as formas de comunicação, divertimento e lazer. A indústria musical como a
conhecemos actualmente está intrinsecamente ligada à utilização das referidas inovações.

É minha opinião que o termo indústrias criativas surge como tentativa de aproximar a
chamada indústria cultural das artes criativas, como é o caso da multimédia ou do
software mas também de outras actividades como a moda, a publicidade ou o design.
Segundo Cunningham, o termo indústrias criativas parece enquadrar-se melhor no
contexto político, cultural e tecnológico em que vivemos actualmente pois foca-se no facto
do valor principal associado à cultura ser a criatividade e, ainda, no facto dessa mesma
criatividade ser produzida, distribuída, consumida e usufruída de forma significativamente
diferente nas sociedades pós-industrializadas.

Neste sentido, parece-me óbvio constatar que a indústria musical não poderá ser vista
como pertencendo unicamente ao campo da indústria cultural. Embora, e tal como referi
anteriormente, sejam vários os factores que a associem à produção de bens e serviços
culturais (bens esses investidos de significado simbólico determinante para o
estabelecimento de um determinado valor económico) são, do mesmo modo, óbvias as
evoluções sofridas pela indústria musical no sentido de se adaptar às actuais
necessidades de mercado ao incorporar, em si mesma, variadíssimas actividades que se
situam ao nível das artes criativas.

Por outro lado, a própria definição de indústrias criativas proposta pelo DCMS encontra-se,
a meu ver, melhor adaptada à própria cadeia de valor intrínseca às diferentes actividades e
profissões que compreendem a indústria musical.

Tal como comecei por referir, a questão em torno das actividades que se inserem no
conjunto daquelas que compreendem a indústria cultural e aquelas que compreendem a
indústria criativa é ainda bastante discutida e alvo de muitas incertezas. Sinónimo disso, é
a crença partilhada por muitos de que a crescente utilização da referência às indústrias
criativas, parcialmente construída a partir da referência prévia das indústrias culturais,
gerou uma questão metodológica não resolvida (…) enquanto não se entender que a
criatividade se pode aplicar globalmente a “actividades”, num sentido mais próximo de
“profissões”, mas não a “actividades”, num sentido mais próximo de “indústrias”.

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