Está en la página 1de 1
Oa > CIDADANIA Ba 4 (05/2004 yen DEVIDA NAS RUAS primeira vez que varreu ja Feira Hippie, em Goiinia, a gari Eliamar Rodri- gues Barbosa, 33, teve uma crise dechoro,a ponto de ser carrega- da por outros colegas, até o ca- minhao que 0s transportou, O fato ocorreu trés dias depois de tersido contratada, efetivamen- te, como servidora da Compa- nhia de Urbanizacao de Goiania (Comurg). ‘Aop¢ao pelo concurso piibi- co-veio quando perden o cargo comissionado de recepcionista edigitadora, em um posto de sa- tide da capital, no ano de 2007. "Meu marido trabalha, mas pre- iso garantir uma renda extra pa- rao sustento de dois filhos. Ser concursada da estabilidade’, afirmou. Apesarda seguranga do atual emprego, ela quer mudar de vida. Para tanto, com 0 sala- tio que recebe da Comurg, tam- bém paga 0 curso superior de Servigo Social na Faculdade Ara- guaia. “Meu sonho sempre foi trabalhar como assistente soci- al’ disse, Assim como Eliamar, o gari José Merilho, de 44 anos, éexem:- plo para os. demais colegas, Ar- tista plistico e formadoem Teo- logia pela Universidade Catdlica. de Goids, agora ele esta se prepa- rando para as provas domestra- doemAntroy , a Univer- sidade Federal (UPG), “Sempre incentive meus companheirosa estudar, principalmente aqueles que pararam de frequentara es- cola, antes de coneluiro Ensino Médio”, destacou, © gari, muitas vezes, chepava mais cedo &“ga- ragem” de Campinas para estu- dare ler seus livros dos tempos da faculdade. Merilho também optou pelo concurso publico depois de nao tero contrato, como educador José Merilho, 44, é gari hd 30 anos e gosta deler nas horas defolga Social, renovado pela atual ges- téo municipal. DIGNIDADE Emboraafirme nao ter mais tanta vergonha da profissio, Eli- amar Rodrigues ainda esconde oque fazdealgumas pessoas. "E um tabalho digno como outro qualquer, mas a propria socie- dade discrimina o gari", ressal- ‘tou, “Outro dia, viuma mae que, para punir adesobediéncia do filho, disse que o entregaria pa- 1a 0 ‘lixeito: As vezes, quando Passamos nas ruas, as criangas Saem correndo, de medo’, rela~ ‘tou, Hla fez questo de dizer que, quando alguém se refere & pro- fissdo dela como “lixeiro’, logo corrige: “Somos coletores”, Aocontrario das dificuldades enfrentadas pela. colega, José Merilho garante que tem muito ongulho de ser gar. Do dia a dia no trabalho, que comeca as 17e termina as 23 horas, ele ainda ti- Taligdes para sua vida profissio- nal. “Na semana passada, uma mulher viciada em crack queria que eu camprasse uma.cesia ba- sica, qué ela havia ganhado, por 5 reais, Preferipagarum lanche’, contou. “A tealidade das ruas: sempre me faz pensar naquilo Fable Line que posso fazer para mudar 0 meio onde vivo’, disse Merilho, Formando em Histdria pela Faculdade Sul D’América, em Aparecida de Goiania, o gari Wenderson Alves Ferreira, 30, também se orgulha da profissao, embora destaque que a op¢a0 pelo concurso também veio por causa da estabilidade financei- 1a, Ex-cozinheito de restauran- te, ele relatou que também ja so- freu discriminacdo nas ruas. “Uma mie falou ao filho, que nao queria entrar em casa para estudar, que 0 resultado da ne- gagio seria virar gari. Nao aguentei e fii perguntar qual era aformacao dela. Ao dizer que ti- nha concluido o Ensino Médio, rebati o/preconceito informan- do que estou concluindo o cur- sode Historia’, relatou Segundo a psicéloga Romé- nia Gomes, especialista em Ges- fo de Pessoas e Marketing, a busca pela qualificacao,mesmo depois de ter passado em um concutso piiblico, éimportante para manter os objetivos de cres- cimento. "Muitos tém aconcep- ao de que virar servidor publi- co significa trabalhar pouco. Es- se pensamento é tipico do aco- modado.” (Marjorie Avelar)

También podría gustarte