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famílias de línguas.
Classificação e esboço tipológico
Wolf Dietrich
O tupi-guarani
Família tupi‑guarani
(Guiana Francesa, Brasil [Amapá, Amazonas, Pará, Maranhão, Tocan-
tins, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro], Amazônia pe-
ruana, Oriente boliviano, Paraguai, Argentina [Salta, Jujuy, Formosa, Chaco,
Corrientes, Misiones]).
O tronco tupi e as suas famílias de línguas 11
Grupo asurini-tenetehara-tapirapé
(1) Grupo Tocantins‑Maranhão:
(a) Asurini do Tocantins/do Trocará/akwawa, ‘índio bravo’ (Bra-
sil: pa, Trocará, 350 falantes).
(b) Parakanã (autodenominação awareté, ‘gente verdadeira’; Brasil:
pa, margem esquerda do Tocantins médio, 450 falantes em 1996).
(c) Suruí (autodenominação aikewára, ‘nós’; mudjetíre, nome dado
pelos kayapós; Brasil: sul do pa, 140 falantes em 1995).
Grupo do Xingu-Tocantins‑Gurupi
(1) Anambé/anambé do Cairari (Brasil: pa, 5 falantes de 125 anambés
étnicos, moribundo).
(2) Amanayé/manajo/amanajé (66 ou menos falantes em 1996).
(3) Araweté/bïde (Brasil: pa, ao sul de Altamira, rio Ipixuna; 290 fa-
lantes em 2003).
(4) Asurini do Xingu/awaté (Brasil: pa, perto de Altamira, 124 falantes).
(5) Kayabi (autodenominação dejanare; Brasil: mt, Parque Nacional
do Xingu, rio dos Peixes; sul do pa, nas margens do rio Teles Pires;
800 falantes, muitos plurilíngues).
(Sateré‑)mawé
(Brasil: am, pa, 9 mil falantes em 1994).
Aweti/tuoi
(Brasil: mt, Parque Nacional do Xingu, 115 falantes, cf. Drude, 2002)
16 O português e o tupi no Brasil
Família arikem:
Karitiâna (Brasil: ro, 95 quilômetros ao sudoeste de Porto Velho,
população 200, 170 falantes, autodenominação taso sa’em’em).
*Arikem, *kabixiana.
Família ramarama:
Karo (arara do Guariba, uruku, ro, AI.2 Igarapé Lourdes; mt, AI.
Arara Beiradão, ao norte da AI. Aripuanã, 150 falantes). *Itogapúk/
ntogapíd.
Família poruborá/puruborá
(Rio Guaporé, ro, moribundo; etnia de umas 200 pessoas, entre elas
2 falantes).
Família mondé
(1) Cinta‑larga (Brasil: ro, mt, população de mil pessoas, talvez mil
falantes).
(2) Gavião (ikõrõ, digüt, ro, população 500 pessoas, 420 falantes).
(3) Suruí/surui do Ji‑Paraná (845 falantes), (suruí-)paiter (ro, mt,
população 800 pessoas, 587 falantes).
(4) Mondé/sanamaikã/salamãi (ro, rio Apídia, igarapé Tanaru, popu-
lação 80 pessoas, 2 falantes).
(5) Aruá, dialeto aruáshi/aruáchi (ro, AI rio Guaporé, AI rio Branco,
Aruá i, Aruá ii, Aruá iii, população 40 pessoas, falantes 12).
(6) Zoró/pangyjej, língua pouco diferenciada do suruí; muitos falam
gavião (mt, Aripuanã, AI Zoró; ro, AI Igarapé Lourdes; população
800 pessoas, talvez somente 80 falantes do zoró).
O tronco tupi e as suas famílias de línguas 17
Família juruna:
(1) Juruna (Brasil: Parque Indígena do Xingu, mt; 200 pessoas, a
maioria falantes da língua, alguns monolíngues).
(2) Xipaya/shipaya (pa, zona de Altamira, vivem com os kuruáyas,
veja adiante; 2 falantes, língua quase extinta).
Família tupari:
(1) Tupari/haarat (ro, AI rio Guaporé, 300 pessoas, 150 falantes).
(2) Ayuru/ajuru/wajuru/wayoró (ro, AI rio Guaporé, população 80
pessoas, talvez 10 falantes; língua misturada com o makurap).
(3) Akuntsu (ro, rio Omerê, município de Corumbiara, última etnia
contatada há poucos anos, 7 pessoas sobreviventes de um massacre
anterior, todas falantes).
(4) Makurap (ro, AI Mequens, AI rio Guaporé, AI rio Branco, Ma-
curap, município de Rolim Moura; 200 pessoas, tendem a falar
português; talvez 50 falantes).
(5) Mekéns/mequéns/mekém/sakïrabiát/sakiráp: subgrupos saku-
rabiat (23 falantes), Guaratira/koaratira/kanoé (20 falantes),
koarategayat/guarategaja (ro, TI3 Guaporé e rio Mequéns, mu-
nicípio de Cerejeira; população 100 pessoas, língua moribunda já
que os mekéns tendem a falar português).
Família munduruku
(1) *Kuruáya (pa, zona de Altamira, população 300 pessoas, só uma
pessoa se lembra da língua, que está extinta desde 2007).
(2) Munduruku (pa, Alto Tapajós/am, AI Coatá-Laranjal, rio Cunumã;
população 7,5 mil pessoas, 2 mil ou mais falantes; autodenominação
wuyjuyũ).
18 O português e o tupi no Brasil
Esboço tipológico
(1) o-mo-mendar-ukar-eme
3ª p-fact-casar-caus-subord
‘quando [o] faz casar’
(2) o-poro-er-ok-ba’e-pwér-a7
3ª p-objhum-nome-tirar-nom-asp-arg
‘quem batizou’.
Notas
1
O asterisco (*) marca uma língua extinta.
2
AI = Área indígena.
3
TI = Território indígena.
4
Os exemplos são de Anchieta (Anchieta, 1595: 12 recto-12 verso), alistados em forma paradigmática, com a
tradução latina: “Tetê corpus, absolutè. / Cetè, eius, eorum, vel earum corpus. / Xéretè meum corpus. / Pedro
retè Petri corpus. / Oetè suum corpus”. Veja-se também Rodrigues (1997: 384-385).
5
Na análise sintática do português, neste caso, o pronome clítico -te é o complemento de objeto indireto, ao
contrário do tupinambá, em que oro- é o complemento de objeto direto, em forma de clítico prefixado.
6
É claro que isso depende muito da definição do que é uma palavra.
7
A adaptação ortográfica é minha.
8
Cf. tupari wat, karitiana hot (‘ir muitos’).
9
O gênero, a classificação nominal típica das línguas europeias, é inerente ao nome, mas também se manifesta
morfologicamente (por exemplo, -o, -a) e, sobretudo, na concordância com o adjetivo. Em línguas bantu e
tupi, por exemplo, a classificação se refere à forma, consistência etc. do objeto designado pelo nome.
Bibliografia
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