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RELATO DE EXPERIÊNCIA

Didática de ensino da música e


prática pedagógica IV: reflexões
sobre práticas musicais em um
curso de licenciatura em música
The Didactics of Music teaching and Teaching Practices IV: reflections on musical practices in a Music teacher education course

  MARIA CECÍLIA DE ARAUJO RODRIGUES TORRES

Professora do Centro Universitário Metodista/IPA/ Doutorado em Educação


e-mail: mariaceciliaartorres@yahoo.com.br

RESUMO abstract

O texto apresenta algumas reflexões de cenas This text presents a number of reflections from
das práticas pedagógicas de alunos do Curso de moments in the teaching practices of students
Licenciatura em Música do Centro Universitário from the Music teacher education course
Metodista/IPA, na cidade de Porto Alegre/RS. offered by the Centro Universitário Metodista/
Ao ministrar as disciplinas Didática do Ensino da IPA, in the city of Porto Alegre/RS. While
Música (2008/II) e Prática Pedagógica IV (2009/II), ministering the courses on The Didactics of
organizou-se uma articulação com as práticas Music Teaching (2008/II) and Teaching Practices
pedagógico-musicais desenvolvidas durante a IV (2009/II), an articulation was formed with the
disciplina de Estágio Supervisionado I, por meio music-teaching practices carried out during
do diálogo com autores das áreas da Educação the Supervised Internship I course, via dialogue
Musical, entre eles Silvia Sobreira, Jusamara with authors from the field of Music Education,
Souza, Maura Penna, Maria Cecilia Torres, including Silvia Sobreira, Jusamara Souza,
Guilherme Romanelli, Leila Sugahara e Cecília Maura Penna, Maria Cecilia Torres, Guilherme
França, além de autores da área da Educação. Romanelli, Leila Sugahara and Cecília França, as
Estes materiais foram significativos para a well as authors from the field of Education. These
socialização das propostas e para a análise das materials were significant for the socialization
práticas e concepções musicais desses alunos e of the proposals and for analysis of the musical
professores em sua atuação como educadores practices and conceptions of these students
musicais. and teachers in their work as music educators.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS

Didática da música. Práticas pedagógicas. The Didactics of Music. Teaching Practices.


Licenciatura em música. Music teacher education course students.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

1 Introdução

Este texto é um relato de experiência que apresenta reflexões sobre duas disciplinas
ministradas no Curso de Licenciatura em Música do Centro Universitário Metodista/IPA, ao
longo dos semestres 2008/II e 2009/II, na cidade de Porto Alegre/RS. Como professora das
disciplinas de Didática do Ensino da Música, que ocorre durante o terceiro semestre do Curso,
e de Prática Pedagógica IV, oferecida a alunos do quarto semestre, selecionei algumas cenas,
temas e atividades musicais desenvolvidos ao longo das mesmas, no sentido de refletir sobre
as ações dos alunos da perspectiva de uma professora formadora.

2 Na aula de Didática do Ensino da Música

Trago alguns pontos e questionamentos que auxiliaram e delinearam a composição e


estruturação do Plano de Ensino de Didática do Ensino da Música e, posteriormente, deste relato.
Quais tópicos e leituras selecionar para o trabalho nesta disciplina, que antecede ao semestre
do Estágio I em um Curso de Licenciatura em Música? Este certamente foi meu primeiro desafio ao
organizar o Plano de Ensino da disciplina, que estreava no currículo novo deste Curso no primeiro
semestre de 2009. A partir da ementa da disciplina, organizei os seguintes objetivos:

1. Situar aspectos da Didática para o ensino de música no campo da Didática geral;


2. Exercitar a observação de questões relacionadas às práticas e à didática, que embasam as
concepções de aulas de música do ensino fundamental e médio;
3. Conhecer e analisar parte dos métodos e propostas de Educação Musical adotados no Brasil;
4. Organizar planos de aula, executá-los e produzir textos articulando a revisão bibliográfica
com a produção escrita;
5. Promover o contato dos alunos com experiências musicais diversificadas, além da re-
flexão acerca de questões pedagógico-musicais.

Preparei o Plano de Ensino a partir destes objetivos, englobando as atividades, formas de


avaliação e bibliografias básica e complementar. Organizei ainda uma relação de oito textos
básicos para a leitura ao longo do semestre, com o intuito de contemplar diferentes temas,
paradigmas e concepções de planejamento, aula e música:

1º) Didactica Magna – Saudações aos leitores (COMENIUS, Jan; 1633-38)


2º) Pedagogia Musical Brasileira no século XX – Introdução (PAZ, Ermelinda; 2000)
3º) Reflexões sobre a obrigatoriedade da música em escolas públicas (SOBREIRA, Silvia; 2008)
4º) Aula de música: do planejamento e avaliação à prática educativa (HENTSCHKE, Liane e DEL
BEN, Luciana; 2003)
5º) Música Popular Brasileira na escola (TORRES, Maria Cecília; 2000)
6º) A fala como recurso na Educação Musical: possibilidades e relações (PENNA, Maura; 2008)

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7º) A aula de música na escola: reflexões a partir do filme Mudança de hábito 2: mais loucuras no
convento (GONÇALVES, Lilia Neves; 2008)
8º) Desafios para a Educação Musical: ultrapassar oposições e promover diálogo (PENNA,
Maura; 2006)

Alguns dos textos foram lidos e discutidos em sala de aula, enquanto outros foram
recomendados como sugestão de bibliografia para embasar a organização de planos de
aulas e propostas musicais para os estágios. Destaco que os textos sobre a obrigatoriedade
da música nas escolas, sobre a fala como recurso e sobre o planejamento para aulas de música
geraram diversas discussões e questionamentos por parte do grande grupo.
A seguir apresento algumas das atividades realizadas durante a disciplina:

2.1 Lembranças de uma cena musical da infância como professor ou aluno

  PROPOSTA

Descrever a cena de uma aula de música, como aluno ou professor, destacando aspectos
dos conteúdos musicais abordados, assim como das estratégias e metodologias
aplicadas. Explicitar se a aula foi individual ou em grupo, se envolveu algum instrumento
musical, o conteúdo trabalhado e como foi o trabalho musical. Boa escrita!

Esta proposta está centrada nas narrativas dos alunos a respeito das memórias musicais
de aulas das quais participaram como alunos ou professores, como um momento de reflexão
sobre sua ação e formação. É um tema que está entrelaçado em nossas vidas, seja através da
formação nos cursos de graduação, seja dentro dos múltiplos espaços de formação continuada,
em uma constante articulação com nossas práticas pedagógico-musicais.
No campo da Educação Musical, e envolvendo as lembranças musicais e narrativas
biográficas, trago algumas pesquisas como as de Barret e Stauffer (2009), que discutem
aspectos das investigações com narrativas no campo da música, a de Louro (2008), sobre
narrativas de docentes universitários-professores de instrumento, e a de Torres (2008), com
narrativas de si e memórias musicais de professoras do ensino fundamental. Estes são alguns
dos autores que promovem reflexões a respeito das memórias e narrativas musicais de alunos
e professores em diferentes espaços e tempos.
No campo da Educação, trago dois autores, dentre outros, que desenvolvem pesquisas
sobre os saberes e a formação de professores: Cunha (2002) e Tardif (2002), no que se refere
aos estudos que envolvem a reflexão dos professores sobre sua formação e ação, sobre o “ser
um bom professor” e sobre outros aspectos constitutivos da identidade deste profissional,
através de narrativas e discursos. Tardif argumenta, em sua obra, dentre vários temas referentes
ao trabalho docente, que é importante levar em conta os conhecimentos do cotidiano do
professor em seu trabalho – perspectiva também discutida no presente relato de experiência.

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2.2 O trabalho com “trava-língua”

Outra proposta que levei para esta disciplina foi a de que cada grupo da turma, composta
por 42 alunos, trabalhasse com um exercício de “trava-língua” baseado em uma letra do alfabeto
– material retirado do livro Quem lê com pressa, tropeça, de autoria de Elias José (1992). A partir
do texto original, os grupos tiveram a tarefa de organizar uma proposta pedagógico-musical a
ser desenvolvida em sala de aula. Destaco que alguns alunos tiveram dúvidas sobre o objetivo
e significado musical desta proposição, o que certamente foi um desafio para mim, pois já
havia desenvolvido atividades com trava-língua junto a alunos de um Curso de Pedagogia,
mas nunca em um Curso de Licenciatura em Música. Após explicar cada passo da tarefa,
começamos a organizar dos trabalhos. A proposta inicial foi de que cada grupo mantivesse
o texto original, explorando a percussão corporal e sons vocais para acompanhamento. Na
perspectiva de Souza (2006),

transformar textos em música tem larga tradição na área da educação musical. Talvez tenham sido Carl
Orff e Murray Schafer quem definitivamente introduziu de uma forma mais sistemática a necessidade
de improvisar e criar música a partir de parlendas como trava-línguas, fórmulas de escolhas e
mnemônicas, assim como rimas, quadrinhos e ditos populares. Aos textos advindos da literatura oral
foram dados alturas, timbres, ritmos e, assim, as palavras passaram a cantar (SOUZA, 2006, p.9).

Após a apresentação das propostas musicais dos colegas, cada grupo organizou sua
atividade por escrito, detalhando as etapas do desenvolvimento do trabalho. Esta fase durou
quatro aulas e cada dupla ou trio teve 15 minutos para a apresentação de sua atividade, com
mais alguns minutos para perguntas e sugestões. Ao final do seminário, houve um momento
de avaliação em que os alunos destacaram diversos aspectos musicais abordados durante o
planejamento, tais como ritmo corporal, melodias, células rítmicas, timbres diversos, trabalho
com prosódia, composição, leitura musical, interpretação, improvisação, prática musical em
conjunto e escrita musical analógica. As letras escolhidas do livro do “trava-língua” foram as
seguintes: A, B, C, D, G, I, J, L, N, T, U, X, Z.
Seguem dois exemplos de letras retiradas do livro para a criação e organização da
atividade:

Um bode bravo O gaiteiro Garibaldi


É uma barra Guarda a gaita
E o bode berra E gargalha com graça
E o bode baba Se vê a graça, da Graça
Na barba. Engraçando toda a praça.

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O material organizado com as propostas do “trava-língua” foi socializado entre os colegas e,


posteriormente, utilizado e adaptado por alguns deles nas práticas musicais realizadas durante
os estágios supervisionados nas escolas, conforme relatos dos mesmos.
Trabalhamos ainda com “lengas–lengas” (BEINEKE e FREITAS, 2006), parlendas e provérbios
populares, buscando ressaltar a musicalidade das palavras nestes textos. Dessa maneira, foi
possível dialogar com ideias e fundamentos de educadores musicais como Carl Orff, que, por
meio do uso de palavras com ritmos e formatos diversos, buscou transformá-las em música.
Em relação a esta temática, destaco o trabalho de Penna (2008), intitulado “A fala como recurso
na Educação Musical: possibilidades e relações”, o qual foi lido e comentado em sala de aula,
desencadeando reflexões e questionamentos nos alunos.

3 Prática Pedagógica IV: início do estágio I

Ao desenvolver esta disciplina no segundo semestre de 2009, tive a intenção de dar continuidade
a certos questionamentos dos alunos a respeito das práticas musicais em sala de aula, além de
reorganizar as sugestões dos alunos que haviam cursado a disciplina no semestre anterior. A seguir,
descrevo e analiso duas propostas realizadas com esta turma, composta por quarenta e um alunos
do turno da noite, que renderam muitas reflexões, criatividade, planejamentos, leitura e dúvidas.
A primeira proposição foi a elaboração de Planos de aulas de música para a escola: entre
planejamentos e práticas pedagógicas, fundamentava na perspectiva de destacar a necessidade
dos planejamentos, como ressalta Sugahara (2007):

Organizar as atividades das aulas de música nem sempre é tarefa fácil, dada a diversidade de
métodos, estratégias de ensino e abordagens de conteúdos existentes. Então, por onde começar?
Se, por um lado, dar aula sem nenhum planejamento é missão quase impossível, um bom
planejamento pode oferecer ao professor a segurança necessária para que sua atuação seja
eficiente, justamente por delimitar o que será desenvolvido em sala de aula. É aí que entra em ação
o plano de aula (SUGAHARA, 2007, p.41).

A primeira parte da tarefa consistiu na escolha e seleção de uma peça musical para trabalhar
com os alunos em sala de aula. Após esta etapa do trabalho, os alunos se dividiram grupos
por interesse, a partir de cinco eixos temáticos: execução vocal; execução vocal e instrumental;
execução instrumental; apreciação musical e composição/improvisação.
A segunda etapa da atividade teve como objetivo a organização de um plano de aula
contendo fases detalhadas e referencial teórico coerente para subsidiar a atividade prática que
seria desenvolvida em sala de aula. Uma das características da proposta foi dar a cada grupo
um tempo para conhecer as músicas trazidas pelos colegas, e, juntos, escolherem três delas
para trabalhar em aula. Cada grupo teve 25 minutos para sua prática e, após as apresentações,
houve tempo para avaliação e análise das propostas. Tivemos a formação de oito grupos e as
apresentações aconteceram em forma de Seminário de Práticas pedagógicas.

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Dentre o repertório selecionado, listo as seguintes músicas:

Tabela 1 – Musicas listadas

1. Olá (Maurine Benson Ozment) 2. Vou-me embora Prenda minha (Folclore


do Rio Grande do Sul)
3. Lá no frio do Sul (Renate e Ieda Moura) 4. Bambalalão (Domínio público)
5. A pulga (Vinícius de Morais/Toquinho/
6. Las manzanas (Rubem Rada)
Sérgio Bardotti)
7. The Lion sleeps tonight (G.Weiss/H.Pereti/
8. Alegria – 9ª. Sinfonia de Beethoven
L.Creatore)
9. Tema de flauta doce (Giovane Pasqualito) 10. Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto
Teixeira)
11. Modinha (Folclore de São Paulo) 12. Sereia (Roda de verso: arranjo Viviane
Beineke/Sérgio Freitas)
13. Adeste Fideles (J. Reading: arranjo de
14. Dó-ré-mi (Richard Rodgers)
Larry Yester)
15- A galinha do vizinho (Domínio público) 16. Cai, cai, balão (Domínio público)

Outro tópico que merece destaque é concernente aos procedimentos ou metodologias


selecionados pelos alunos, envolvendo desde exercícios de concentração com os olhos fechados até
a identificação de timbres de instrumentos, passando pela execução rítmica da canção com sílaba
“ta”; leitura à primeira vista; realização da música em forma de cânone; aquisição de habilidades
aurais; divisão das turmas em grupos; atividades com mescla de voz, flauta doce e percussão
corporal; aquecimento vocal; e improvisação e criação de arranjos para determinada melodia. É
importante enfatizar a diversidade de propostas musicais que emergiu através das práticas, além
do retorno dos colegas por meio de sugestões, complementações e questionamentos.
É importante, também, ressaltar a diversidade do repertório selecionado, no qual estão
inseridas peças do folclore brasileiro e de outros países, além de trilhas sonoras de filmes, peças
do repertório clássico ou erudito – como Alegria, da Nona Sinfonia de Beethoven – dentre
outros estilos e compositores.
Um último ponto que ressalto nesta atividade está ligado aos objetivos organizados pelos
grupos, que focalizam aspectos como:

• “desenvolver técnicas básicas e conhecimento de conjunto vocal”;


• “trabalhar com a identificação de instrumentos dentro de uma música”;
• “apresentar as músicas com um integrante do grupo cantando, outro tocando flauta e
outro fazendo percussão corporal”;

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• “vivenciar a experiência de execução instrumental junto ao grande grupo, identifican-


do e avaliando a dinâmica utilizada”;
• “explorar uma melodia de várias formas, usando diversos instrumentos”.

Finalizo este tópico ressaltando o entrelaçamento que aconteceu entre os planejamentos e as


práticas dos alunos desta disciplina e as ideias de França (2009), nas quais a autora defende que

aula de música não é aula de sons. Aula de música é aula de música, com música e por meio
da música. Muitos programas de ensino adotam como princípio organizador os conhecidos
parâmetros do som (especialmente altura e duração) [...] Nas minhas visitas e pesquisas em
escolas regulares e especializadas tenho observado que, muitas vezes, estímulos poderosos como
canções, brinquedos cantados ou histórias são subaproveitados devido àquele modelo de ensino
fragmentário (FRANÇA, 2009, p.25).

Analiso que o ponto principal de união destas práticas e reflexões foi o fazer musical de
múltiplas maneiras, em uma mescla de formas e sentidos que envolvem a musicalidade de
diferentes pessoas, em tempos e contextos diversos.

3.1 Vamos construir instrumentos em aula?

Esta parte do texto trata de um projeto de construção de instrumentos musicais que surgiu
durante o semestre através de conversas com os alunos, com o objetivo fazer uma ponte entre
o conteúdo das aulas e as práticas musicais nos estágios. Tornou-se concreto a partir da leitura
de reflexão de dois textos: “Materiais didáticos na aula de música do ensino fundamental”
(OLIVEIRA, 2007) e “Construção de instrumentos musicais a partir de objetos do cotidiano
“(TORRES, 2000)1. Estes materiais foram instigantes e desencadearam afirmações como: “Na
minha escola não tem nada para trabalhar com música”; “Eu fiz este material com meus alunos”
ou “Quais materiais utilizar ou comprar para a aula de música?”.
Entre perguntas, dúvidas e materiais levados pelos alunos para ilustrar as práticas musicais
realizadas durante os estágios, decidi propor o projeto de construção de instrumentos musicais,
a partir de uma ficha preenchida e discutida em sala, e da posterior apresentação das etapas
de seleção e construção dos mesmos.
No que tange ao processo de construção de instrumentos a partir de objetos do cotidiano,
destaco o excerto de Torres (2000) que ressalta que uma proposta como esta:

[...] além de estimular a pesquisa sonora, a criatividade, a improvisação musical, a socialização e a


oratória, está inserida nos territórios do cotidiano do aluno. A título do material que foi produzido,
pode-se indicar a criação de composições musicais, com a grafia de partituras analógicas, a
gravação e apresentação das peças em um grande grupo (TORRES, 2000, p.149). 1
Para mais informações sobre a temá-
tica da construção de instrumentos
Esta atividade teve a aceitação do grupo composto por quarenta alunos neste semestre, os musicais, ver “Construindo instrumen-
tos musicais no Curso de Pedagogia:
quais, ao final, apresentaram seus projetos com as fichas, os instrumentos e as possibilidades entre chocalhos e ganzás” (TORRES,
2000).

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sonoras, inclusive com a gravação de improvisações criadas por três alunos a partir de seus
instrumentos. Dentre os instrumentos confeccionados, prevaleceram aqueles da família da
percussão rítmica, além de outros de cordas e sopro.
Certamente, atividade oportunizou a socialização das ideias dos alunos para o grupo,
com perspectivas de inserirem os materiais em suas práticas musicais nas escolas. O exercício
explorou a musicalidade de alunos e professores de muitas maneiras: pela percussão de um
tambor ou pandeiro, no soprar da flauta de Pan construída de tubos de metal ou no sacudir e
tocar nas cordas de um berimbau de taquara.

4 Amalgamar sonoridades e propostas: finalização

O exercício de mesclar o planejamento de aulas de música com a construção de


instrumentos musicais, aliado ao trabalho com “trava-línguas” e parlendas, foi uma
oportunidade para todos nós, professora e alunos, aprendermos uns com os outros,
experimentarmos atividades musicais, cantarmos, gravarmos e refletirmos sobre os desafios
que envolvem o “ser professor de música” em diferentes espaços.
Uma das propostas das duas disciplinas incluiu a leitura e discussão de textos, como os
citados no quadro da Didática do Ensino da Música (vide item 2). A partir destas leituras,
emergiram perguntas, dúvidas e questionamentos relacionados às práticas musicais na sala
de aula, com destaque para o período dos estágios supervisionados em Música.
Cabe ressaltar que, ao longo do semestre da disciplina Prática pedagógica IV, organizei uma
atividade de escrita reflexiva com os alunos a partir de quatro questões: “Qual é a escola ideal?”;
“Quem é o aluno ideal? ”; “Qual é o professor de música ideal? ”; e “Como é a aula de música ideal? ”
Meu objetivo, ao propor estas perguntas a partir do termo “ideal”, foi o de conhecer
algumas concepções dos alunos sobre a escola, seus alunos, professores e aulas de música na
perspectiva do que imaginam e idealizam e, desta maneira, desencadear estranhamentos e
reflexões no grupo. Estas questões perpassavam os aspectos constituintes da identidade do
professor de música que atua na escola de educação básica e estão também amalgamadas
com os ideais, projetos e concepções de música e aulas de música na escola.
Feitas estas considerações, finalizo este texto e destaco que as reflexões, avaliações e
proposições dos grupos de alunos ao longo das disciplinas – tanto de Didática do Ensino da
Música quanto de Prática pedagógica IV, foram fundamentais para minhas reflexões sobre o
trabalho como professora formadora em um Curso de Licenciatura em Música, no constante
processo de ensinar-aprender. Acredito que tenham sido, também, momentos importantes
de reflexão e aprendizagem para este grupo de alunos em processo de formação e de
organização de atividades e planejamentos de aula para os estágios supervisionados no
campo da Educação Musical.

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REFERÊNCIAS

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Sulina, 2008.

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