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AT RA VÉS
DOS
CAMPOS
JOdt da <SIlva 'P/CãO
JOS É DA S I LV A P ICÃO
ATRAVÉS
DO S
CAMPOS
U S O S E COS T U M ES A G RI C OL O .A L E N T E J A N O S
(CONCEL HO D E EL VAS)
2.° EDIÇÃO
LISBOA
NEO (: RAV U H:A, LIMI 'I' .\ D A
Travessa da Oliveira (à Estrêla), G
) 1 9 ~ 7
À G U I S A D E INTROD UÇÃO
f}1111 EU caro Dr. Ti erno da Silva: - Con fesso-Lh e: - mio s ei bem p or qae
I I L tltulos, (afora os qu e m e em p resta o seu solido e velho afect o. e o
consequen te desej o ele m e ver aqui) eu dou. com igo na larg a p or-
tada deste sério e belo livro. em fan ções de reposteiro -mor, Confesso-the,
ainda e m ai s llma l)ez : - afiqura-se-me um [eio a cto de usurpaçã o a ceitar
um p08tO~ p or direito p ert encente a outrem q ue, p or mérito prôprio, m ais o
m erecesse e co m eLe m elhor se h ou vesse. Ma » co nfesso-lhe, tam bé m com a
mesm a franqueza: - d es vaneci dos 08 men ·s escrúpulos p elo imperativo da
sua insistência , dá-m e uuz tríplice prazer este cargo d e introdut or em qu e a
sua a m izade m e investiu.
Em p rim eiro lugar, o ensejo d e p oder p resta r h omena g em a q uem , co mo
o Autor desta obra , soube di gnificar a n obre arte d e escrever p elo bom. uso
que de la [e z , e p ara o m ell gosto d e a dm irar lim a co nsolaç ão e norme,
Em sequndo, d esoanece-me a p ossibilidade d e co laborar, (ainda que t ão
pobre e apaqada mente) num a cto d e rep a ração m ental, com O é o d esta ca ri-
nhosa ex umaçào ás inércias d o esquecimento e111 que a inqratid ão d os vivos
o havia sep ulta do, de nm LivI'O que, p ela riqueza d a su a s ubstância e pela
sagestividade da s aa fo r ma, nà o so tem todo o d ireito a ser- lido pelos q ue o
ignorarem e r elido p elos q ue j á o co n hecem, m a s, ainda e também , to dos as
condições p a ra continuar a ser, p ela co nstância da lei tura, nm zr {orça
a ctuante e fec u nda d e cultu ra e d e amor ri Terra , Em terceiro Iuqa r, (este t«
de na tureza pessoal e subjectiva), o f alar d este Livro r epres en ta p ara mim
um retorno p elos atalhos d a m em ória a tempos di s tantes, que as primeiras
saudades d a velh ice começam a r edourar d e pungente encanto . " "
Eu lhe co nto :
/{"'\ OBR ARr1. o cabo d os vin te a nos - ve rdes e seicosos vinte a nos, men inos
U e m oços, am imados p elos a fa g os m a ternais d essa s uavissim a paisaq eni
d a beir a - V oug a q ue os tro uxer a a os p eitos e a o co lo _ q ua ndo 08 a8a1'e8
de urna mal-encetada burocracia a tiraram co m igo , d e 8u rp resa, par a as
extremas do A lto A lentejo, rás-cée da s Esp a nhas.
O A lentejo I . . .
P ara a minlia imaqina ç ão d e beirã o co n fi nado n os horizo n tes limitados
da sua p roo incia niontezinha, e n es ses b ons tempos , em q ue a ve locid a de
desfloradora do s transportes m odernos lid o havia, ainda, obliter ado a
noçà o e o mistério da s distâncias, es ta palavra sugeria o q ue r que fos s e de
a ventura - de tal s or te ela so ava d entro d e m im. a long e. a [im-de-mundo . . ,
v
Conservo, viva e chocante como se {ora de ontem, a lembran ça da emoção
com que desgarrei da terra e dos aluoroços de iniciaçã o em que fiz a pri-
meira viagem para lã.-começos de um estnan te e atriçareiro Lunlio, a o longo
de um comprido dia ois toeamonte amanhecido por entre os viços primaveris
do meu r eflorido rincão e d esoladamente anoitecido 1108 longes en ig m á ticos
da savana. por en tre searas já retisnadas p elo 8 0l~ campinas d esertas de
povoado e e:'!I:angues, de cor, a caminho d e Eloae.
Ainda me sangra n os olhos e na alma o exaspero viole nto d es se cre-
p úscuto 1 Aos seus reverberas d e {ogo entrei a s p ortas da cidade. p or onde.
já noite. diambulei, es ba r ra nd o a cad a esq uina d e ruela esga lg a d a . já m er-
gulhada na sombra. com os esp ect roe do Passado d e que as s ombras
enchiam o velho burgo prenhe d e História.
R eoejo-me, mais tarde. por h oras altas de uma ardente velada d e «tr a -
vessia», l ZO terra ço alcandorado d o h ot elzito em qu e m e Iiospedei .. e r evivo a
cur iosidade qua 8e d olorosa de min úcias com que os m eu s olhos excitados e
inson es p ers crutaram a novidade est ra nh a de tudo o qu e m e ro de aoa i-s d esde O
casario apinhoado e miudinho d o mumificado burgo m ourisco, es torceqado
p elo abraço n egro das muralha s. lodo ca iado de um branco q ue suger ia a lb or-
nozes. d entro da noite aluarada e branca. atê 0.'3 con f ins vagos da linha do
horiz onte. cortando em. r ecta o cé u translü cido, com o a s d o mar-alto . . .
T onto de fadiga. de calma. d e luminosidade, d e amplidão. ali m esmo
adorm eci sob a mais d escons ertante das iutpre sôes : - a de n as curtae h aras
d e um dia d e j ornada. ndo m e haver apenas d eslocado UUla centena d e légua s
110 esp aço , mas dado. também , o salto de atquus m eses no tempo. ta l a s en-
saçào viole nta d e outono com. que a atn areidã o dos ca mpos, a seq uid ão d o
ar. haviam agredido os m eu .'3 sentidos. p ela tarde {ora. e a n oite , e ll tâo ~
completava. enooloe ndo -tne no esta g na mento cá lido da s ua flvida agon ia. paz'
sobre tanta coisa llova em qu e o m eu olh a r s e es treava .
charnecas adu stas. [e r re tea d a s p elo ritue amargo da ester ilid a de. atra vess ei.
balaceando-m e num churri ão de molas d e aziulio, ao cho uto sonolento de uns
corp ulen tos muares. os «b a r ros » d e Elvas. caminho de Campo Moior.
Tal jornada [oi, p or a ssim diz er. o m eu prim eiro co rpo-a -co rp o d e
h om em do Norte e do Vale com o Sul e a Planície.
Oh 1 E como tudo o que eu ia vend o era estranhamente hostil ao senti-
VI
menta da natureza arreigado dentro de mim pela terra em que m e criara-
com se us horizontes fechados cm abraços sobre nós; sua qrandeza suave de
montanhas .. a do çura idIlica dos s eus va les ; a gama infinita e aleqre das
suas tintas; a variedade continua das suas p erspecti va s; a p oesia misterioea
das s uas alfombras, das suas levadas e d os seus rios . . .
A toda a roda, por entre farrap os de mato arborescente, d e esteoas vir-
gen s , de olioed os e cliaparrais, estiravam-se léguas e léguas d e terras d e
amanho e de pousio, em chão ra so. Um leve encre sp a r d e colina s tentava,
a qui, mai.Q a lém, illtumecer a crosta do 8010; mas breve abatia como vaga s
quebradas. na p la nu ra te imosa, n ivelando-se e empastando-se com a distdn-
cia n as p ince lad as indecisas dos Últimos p lanos,
O q uadro que m e rodeava era 'em d úoida grandioso; mas pobre d e
g raça e de ritmo, d e p ormenores, d e va r ied a d e e d e co r, para além d os
ama relos do sol e das ervagens secas, d o verd e cin zento d os olived os e d os
azin hais, do azul cril e envolvente d a a tm os fera, Outros tons, s e os havia ,
perdiam -se. Iundidos na cenograf ia baça d os long es.
Lés a lés do h oriz on te, o d esp ovoa do a lastrava . Aqu i, a lém, emerq io m
da lisura obstinada do solo, projectand o- se no infinito, as s ilhue tas r ara s
e extáticae de pastores, contorno» triang ulares d e «medas» , o vo lume
branco de a lgum «m onte», em cujos tijolos ru bros a lu z se enlabaredava ,
Esses tra ços e esses volumes, ganh a vam relevos d e itn p reuisto , em q ue a
vista repousaoa m omeut áneamente, -para log o to m bar, d esamp arada , n os
prain os douradas d a estepa. Mourej a oa-ee esforçadamen te no p elejar das
«assefas», «fo lhas» a lém , sob a chicotada candente da Iu z: Um silêncio a r den te,
ofegante. pesava sobre as coisas, apenas co rtado, aqu i. a lem, p or u m choca -
lha r de boiada in oisioel, o vo zei rar longinquo de a lqu ma «cama r a da» d e
ceifeiros, o ruid o de um m oinho d e vento, m ooend o-se com esforço li passagell1
do traoeesio, o m atra quear d e uma cegon ha, d es enhando { u,g id iae sombras d e
asae sobre {[ palidez da imensa e IÜJa pais ag em sem som b ras . . .
.. Doia m -me os olhos, de tanto olh al' aquela oastid ão, se m um monte, 11111
colo d e nerdura, um r egaço d e à[Jua.9 em q ue p ou s arem e d es cansarem, até
qu e, manhã jú alta, a vi/azinha fronteiriça. 81l1'9iu, en f im ! d o er m o .
Revejo-a com os olhos d esgostosos d essa h ora: - l i brotar do d escampado
deser to de gcntes e mal-trapido d e vegetações e li a colher-me, p or detrás d o
se u castelito em ruinas e d as 8ua8 muralhas esca laura d u s d e f ortalez a in útil,
com o mesmo e vetusto ar d e d esc onfiança com que, havia secu los, escold r i-
níunsa 08 plainas incertos d e Ca stela . . .
Ali m e destinaca. P or ali fiqu ei.
Espéci e d e «ra ti n ho» s en timen ta l, s em «guantes» d e cana nezn ceitoira
afiada nos dedos, mas de p ena na mào e od ie n to manga d e alpaca no braço.
ali fiquei - de senraizado e triste J
Em ca da dia qu e passava , mais se a centuava d entro d e mim. entrado
d e n oetalqia, o apeg o a os lunges d o m eu vergel natal, cujo Iiumos se diria ir
seca ndo e esf'arelando n as rai zes profund a s d o m eu se r como a terra d os
vive iros seca e se esfa rela nas rai zes da s árvores que se treeplantam , long e
d o Iuunos onde brota ra m . . .
A• minha vo lta. exacerb ando-se d e agrestia em agressivid a de, com os
desesperos do estio q ue a m orti fica va , sempre. a quela desam par a d a vas·
t idâo d os h orizon tes ; aquela monotonia obsedia11te da planura e suas
vastas p er sp ectivas sem paisagem. cenoqra fadas a a marelos d e s earas
e azul de céus : aqueles in term iná veis de sdobr a mentos de a rgila oer metlia
e enxuta, poluo renta, sangra ndo á.1J m ord eduras inclementes do sol, sem um
entreluzir de àquae, que lh e matasse a sede ; aquela lividez h ôstil d os ras-
tollios, d e g umes em riste ; aquela ca rên cia d e ram aqeu s, r eduzidas.
limitadas a o verde cin zento ou m etálico d os olivedos, do s sobreiros, do
chaparrais retorcid os; aquele len to rolar. p or cim a da s cois as atónitas .
das h oras rutila s d e ca lm a o u cios tetarqos ofeg a n tes das n oites requeima.
das ; aqueles abismados silêncios d e m orte. que constantemente p esavam
s obre a a flitiva im obilidade dos ca m pos _ continuaram a desorqanizar-me
oS)lerv08 . A tal p onto, m eu Amig o. que, acic a ta do p or uma saudade. tornada
p ela solidão d e p uro res sentimen to d a alma em anq úetia d o próprio sang ue,
[ui este ndendo d a s coisas d a n a tureza à natureza das criatur as, que me
r odea vam. scm m e a colherem . um tal r essaibo d e estran heza, d e d es con-
fi ança. de desentendimen to, que. p OI' um tris, m e lui o ia incompatibilizando
com tudo e co m todos : - terra e gen te . clima e costumes.
B roi, en tão. q ue co n heci este Livro.
VlIl
d e simpatia e d e com unicabilidade d o se u próprio entusiasmo, ndo so a o
longo DIa s na intimidade de tu d o O q ue d e ca racterts tico, d e ttpico , d e ort-
g i.na l, d e pintores co, d e bOIJl~ d e belo, d e in spirador, existe sob re o solo a le n-
tejano. Apresen t ou-me a P rouincia ; p ôs-me em co ntacto co m a a lma d a s ua
g ente, tã o acolhedo ra e lhana, desde q ue ultrapassemos, p ela co nfiança, a
cro sta d e retra imento co m. que se d efende d e estran hos .. f ez -me se ntir, em
toda aSIla plenitude, a {Jeól"{Jica épica d o ."" e..fo rço aqrlcola , ii [Ior d a
g leb a d ura e ava r a .. a p oesia semi-poqã das s uas wsanças~ das .suas tr ad i-
ções, das suas [estas, da s ua religiosidade auete ra, quase despida d e cu lto
externo " desvendo u -me, fa z end o-ma sen ti r, a beleza maq es t àtica , gra lldi08a~
solene. da natureza que me envolv ia e q l1e~ ate. ali, m eu s olhos enamorados
da doçura li rica de nm vale r ibeirinho de L afô ee, nào haviam sabido d eei·
[ ra r e entend er .. .
Foi, es te Livro . enf im, q ue . revelan d o-m e n a profundidade d a s ua s ubs-
tância ínt im a , um A le ntejo, qu e eu a penas co n hecera até ali c/n e:'l;te nsào,
ndo so me reconciliou co m ele, co mo m.e ensinou a s enti-lo, e a querer-Ihe
como V. sabe que h oje lh e quero.
[X
páginas s up rem a s . Fi alho , p orem . fê -lo frag mentariamente. eruptioatnente,
fo ra d e qualq uer unida de de plano. em ampliações de exaltação literária,
q ue, por vez es, d eformam p ela ânsia tras cen den te da beleza plástica, a
exacta e m ed ia ta obj ectividade das coisas. Silva P icão, ao con tra r io , cin g e . s e
li «ve rdade» limita d a dos temas; e t rata-os neio apenas com a ex a t idã o
objectiva de uma obser vação escr up ulo s a e de um conh ecimen to p erfeito,
minude n te . m a s ainda com aquele s entimento de so lidariezante s imp a tia . d e
en ter necim en to a fecuuo , que 8 Ó o am a I às coisa» descritas por si m esmas e
ndc p elo q ue possam s ugerir, pode comunicar à p ena de quem a s descreoe ,
08 m otioos t ranetaçanoe que. no sobe r bo àq ua -o fr tista de «08 Ce i fe iros»,
nà o passaoam, CO Ill O qnaiequ er ou tro s, d e m er08 en sejos tematicos sobre qu e
a ,sua d esbordante im aq ina ç ão pt âsüca se expandia e complica va e m neuro-
ses d e es tilo, sào para Silva Pic ão, d e temperamento mais realista, sereno
e co ncen t rado, nÚo um «meio» , mas um «f im», a atingir ; n à o um pretexto
para s in fo n iza r e o rq ues tr a r p ala vras c di vaga ções -ma . sim «fac tos» q ue,
a cima d e tudo. pret ende historiar, d es crever e m 0 8tTar ~Jl 0 S . E nquan to
aquele - esteta -lav r ad or - p ó s os aesuntoe a o se rviço d a literatura . este -
la vrador - artista - p ô . a ling ua g em e a a r te ele bem a traballia r ao serviço
dos a s suntos. O qu e [unda ntentaltnente lh e interessa ti m oetrar- noe a 811a
proolnci a, a s [eicóes ca racte r leticae du sua fisionomia, a [en om oloq ia tipica
e r epresentativa d a sua «m a ne ira d e ser» como unidade colec tiva, [oca udo-a
e rep rodu z indo-u, p orm en or a pormenor, traço a t raço.
Merc ê des se intento, a centuad amente etaq nostico , a _sua obra resultou,
1111te.'I d e mais nada e a cim a d e tud o, rep ositôrio inesq otá oet de inform es
realistae e práticos sobre li terra e a vida tran staqanae, em tod o!'; 0 8 .seuf'i:
a specto s: -pais ayistico , s ocial, agrário, agricolo, [olctàrico, dom estico .
ético, etc . Não [allta um p orm en or. Co n hece tudo o que n os conta, como o
d on o da casa lh e conh ece os ca n tos, ao m O.'Jtra-la ao uindiço q ue ch eg a ,
á vido d e lhe esoicerar os recessos mai« intima s .. .
Cem p o r ce n to alentejano, aferrado ti terra, ti {o mitia e ci tradicã o
étnicas p elos la ços gregários do .~a ngu e e da vocaç ào . S ilva Pi c ão r ealiz ou
o tip o ideal do camponês d e elite. con sciente, artstocratizado p ela intelig ên cia ,
a quem nil o é estranh o, em teoria e exercicio , nenhum d os sen t imento », d a s
tendências tem p era m en tais, d os u sos. d os costumes, d ue actividad es, d as
a legrias e da s d o res , d e que, e para que vive a su a casta . E dai, a d omi-
n ante impr es e ào que. a o lê-lo, temos d e q uase o ve l'/ll.Os [ieicamente p or
de trás de tudo o que 11 0 S relata - patrão-la orador, p erc orrendo co nosco , d e
x
j a leca e chapéú rod ad o, s ob r e o seu. cava lo, a e:de n sà o das «H er d adess :
m aioral d e safões e samarr a, p or en tre 08 r eba nhos e as man ad a s d os
«Morüados» ; ceife iro -abos te/ado d e p oj eiras e suor-es, to rso a o so l, aventa l
d e pele apresilliado à cintura, foice r elu z ente n os d ed os , se r evive co nosco a
epopeia esf or çad a e obscura de «Os R a t inhos » . Ór1 em.o çâ o directa q ue n os
dá das coisa s r esulta n d c da s ua observação exterio r, m a s d o profundo e
vivido conhecimen to que dela s tem .
No fondo ancestral, a tá vico, do Seu ser, se ele n ào [oi tu d o aquilo - de
pasto r a patrão _ sabia , pelo m en os . co mo se g oza O ll sofre, (la s ê-lo . Sabia -o
co mo homem e sabia-o co mo Artista, que O er a : _ autênticam ente e co mple-
xamente: p intor de p ulso. quando nos dá a pinceladas la rgas o desenho e
-s-
Xl
co nversa, rica d e ensina men tos, d e n ovidades, e, dai, d e interesse para a
curiosidade do leitor. I s to, quando a s ubstân cia temática é, por força das
circun stância s, d e ca r ácte r mera men te dis sertativo OlI monoqráf'ico : mas .
sem p re que os m oti vos se alarqam , e 110S d es creve certos aspectos da nata-
re: a, o p ito I esco co lorido d e ce rtos costu m es ou faina s cczno, por exem p lo
«A V ida [lOS Mo ntes» e «08 Ratinhos», a prosa a la rqa-se, tamb ém, Directa
e fá cil, a qui r emordida pelo sol. alem on d ula ndo -se como as searas .. nesta
p ágina, p icada p elo s al d a s expressôes region a is ; naquela, ve stindo o b om
p ano d a linguagem cu lta - sabe a terra , cheira ao serpol e ao leite dos m on-
tados, soa a a len teja no e a p ortugu ês . ..
Nes tes tempos , eaz q ue a n os sa linqua e a nos sa prosa andam a r espirar
teia m a l ler o «Através d os Campos» é fa z er uma cura de ares T
í/) OR tudo isto, mell A migo, e , a inda, p ela b oa a cção que rep resen ta n108-
I trar docume ntalmente q ue a vida d os n0880s campos neio é, apenas
aquele dram a d e seruidão espezin hada e d e patronato espoli ador q ue o [also
r eg ionalismo d e uma litera tura d e neo-realiemos diriqidos anda p or ai a
apreg oar, a sua inicia tiva de [aze r ressurgir do esque cimen to publicit ário
o «A tra ves d os Campos», é caso p ara lh e dar um grande a b raço 1 A hora
em q ue se letn b rou: de o fa::e r, d eve co nta -la en tre as horas mais fecundas
da sua ex isténcia d e Lain-ado r-ínte íectn ol.
Nem só se fertiliza a te rra, la n çand o nos r egos da a ra d a 08 9 1'liOS da
semente. O Espirita e a sua h erdad e mais rica, que é a Literatura, t êui
também a sua la vou r a e as :.mas . earas,
Cultivá -Ia é mais do q ue [e rtiliz.ar o solo : é fertilizar a V id a.
-
1 o s e• d a s 1
•
I v a p 1
•
c a o - •
B IO -B IBL IOGRAF IA
XlI I
V . E.\:." qu e esse m ell d escuido, d eg en erado d ep ois em. olvido tempor ário , nem
p or so m br as significa m ingu a d e conside ração p or V. Ex» Oll men osprezo
p ela m em oria d e A ntonio T'h otnoz P ires, co m quem privei durante mu ito s
an08 e a cuj a m em oria sou q rotieeimo. O meu a llud ido es quecime nto, d erivou
sim d e ser criatura dietrahida , a lgo a bstrata, cheia d e affazeres e so ffrendo
a o tempo d e Lima p ertina z doença q ue mu ito m e a b a lou.
«A inda a ssim ~ Ilii o t endo p a chorra p ara escrever , incumbi então m ell
sobr inho A ugusto T ello d e pessoalmente com unica r a V. Ex ." a minha
a dli es ão ao seu 11Onr080 con ci te, o qu e elle f ez. Eu e q ue falte i d ep ois! . . .
Co nsequentemente, e p enitenciand o-m e da {alta, venho remediai-a quanto
p os sioel : na p róx im a 2 ." [eira, zn eu sob rinho A ugusto Tello irá en treq a r a
V. Ex:" a m odesta verba co m q ue d esde o se u convite resolvi contr ibuir paZ'a
a ob ra iniciada lou vavelm ente por V. E:'C. e outros cavalheiros. P edindo
fJ
desculpa da demora s ubscrevo -me de V. Ex;" tu ," att» e cr ." obg. - José d a
Silva P icão - Santa Eul ália 3 d e Out ," d e 9 14».
XIV
de vulto e sob os aUSp tCIOS ed ito ria is d o b ibliófilo António [oeé T orres d e
Caroalho la nça a p úblico () li vr o A t ravés dos Campos - Uso s e co stum es
ag r íco lo -a le n teja noa (concelho de Elvas) .
Quando a obra apareceu , em 1903. a critica [oi u llâ nim e em tecer -lhe os
maiores elogios.
Trindade Coelho escreoia a o editor:
«Dig a a o Picão qu e es tá f az en d o uma verdadeira obra prima, uma r ea-
liseitna e completa mara vilha ] Qu e s ur p reenden te ve r dade em tudo o que ele
descreve, e a m aneira co mo descreue I Qu e a dm ir ável artista é esse h om em ,
e como tudo Uz e sa i espon tâ n eo . vivo.. a b und a n te. colorido e cheio d e pito-
resco, d a Bu a p ena d esafectada! C ODI OH n otas - tã o minuciosa s e tão pre-
ciosas - da vida r eal, positioa, At ravés dos Campos . que abund ância d e
ano tações p sicoló gicas para o estud o da alm a do Povo! Este livro não é só
sinqutariseimo /l O assunto p o r que nào h ã outro que se lhe pareça se q uer : e
oriqinallseimo na maneira como trata O a s su nto, Única a m eu ver, que s e lhe
adapta, chega ndo . deba ixo d este a spect o, a ser UDt trabalho literário d e
attlss imo va lor 1 Qu er a creditarvl Produ-z-m e em oçà o absolutam ente idêntica
ti qu e m e ca us a a leitura dos lior os d e Jlilio Diuiz, N ão s ei diz er-lhe, meu
caro António Ca rvalho, toda a m in ha admiraç ão p or es ta ob ra s u rp r een -
d ente. Eis aqui u m. li vro q ue [ ica, u m. livro qu e os s ábios e os artistae li ão- d e
adora]' sem p re co m en ternecimento. Já {alei no livro ao Fi alh o de A lmeida.
VOll-O p rocura r para lhe ralha r: se ainda IUI O O leu T»
No diário lis boeta O Pop u la r o gra nde jornalista e es ta d is t a Maria n o
de Ca r va lh o classificava o estudo d e [ose da Silva Pic ão «com o o principal
e mais p erfeito que a té agora se tem es c rito /10 n OS80 p ais , co m r espeito a
tão importante assunto».
O publicista Tude Mendes d e Sousa escreve na P lebe:
«Muito têm a aprender no livro do sr. Silva P icão, aqueles que p or qual-
qu er circunstancia, tenham a n ecess id a ae d e conhecer a estru tur a in tim a d a
lavoura a len tejana e aqueles q ue, p or ou tra or d em d e estudos se d ed iq u em
à investigação de costumes e tradições dominantes nes ta região .»
Anos m ais ta rde, o escritor d r. Edua r do Pimenta r eferia -se a J os é Picão
/l OS seguintes termos :
« Co m uma instru çà o a d q ui rida n a modesta escola d e Santa Eulália
educou-se a s i m esm o, de muito no vo, cu ltiv a ndo a s qualidades invu lga res
de observador cuidado so.
«Lacrado r e fil h o d e la vrad or es, lembro-me d ele a in da m a ço m onta ndo
xv
uma eg ua preta, nascida nas manadas marcadas com o ferro d e sua casa e
p ercorrendo a v a !~ ta la voura atento aos m enores detalhes, agasalhado lUlIn
fo rte capot ão, nas épocas em que os rios e ng l'ossam e a chuva ensopa 08
alqueives, ou d e jaleca e som b reiro n os dias em que o s ol aperta e as pare-
lhas r ed op ia m. IlDS ca tcadonros da s eiras inundadas d e eston te an te luz .
«Al a is tarde, um grup o d e es tud io sos, co nsag rados na8letra8~ intentar-am
o árduo encargo d e ensin a r li grei o que ela (ora e o que ela ainda é . Cotiti-
nuaçào do a d m ir ável es forç o d o maravilhoso es critor Oliveira Martins ,
Fundara-se a Portug ália. sequência natural da tentativa da «Sociedade
Ca r lo s Ribeiro». Falta va o etnogra{ista com a conhecimento perfeito do
Alentejo p ara d escrever a vida r ústica desta interessante p ro ulncia ,
«S ilva Pic ão foi escolhido . As paginas que escreveu sào modelares de
sobriedade, rigorosa observação . COlll. um sa bor popular, mas de luna ral'a
clareza e requintada eleg â n cia . i1Ja is tarde O ed itor Antonio Carvalho, o
eru d ito bibliófilu d e El va s, lançou no m ercado o primeiro volume da obra
celeb re - A t ravés doa Cam pos .»
jl identificacà o d o va lo r da ob ra encon tra -se p orem no monume ntal
traba lho d o grande m estre. dr. J . Leite d e V asc oncelos, Etnografia Portu-
g uesa. onde a p aginas 282 d o vo lu me I s e lê:
«Silou Pic ão [a leceú em 19 2 2 . deixando incompleta a sua obra, de que~
ainda a ssim o ed itor d ela. T orres d e Caroa lho, conseq aiu formar dois volu-
m es: I , 1903; II. 1905 ; a o todo n ove ca p itulas. que passam de um volum e
para o outro, isto e. 1) as herd a d es ; 2) os « m o n tes » (em sentido rural};
3) o s mo n t ad o s : 4) pessoa l d e u rna lavo u ra; 5) cos tu mes dos campónios;
fi) os Ratinhos ; 7) a lfaia. a g rí co la s ; 8) sea ras : 9) la vo u r a s (muito ex te ns o e
s em num era çã o: começa a p. 11 d o vai. II, e va i a te p, 100, a últ im a}»,
E acres cen ta llllma chamada:
«Prestaria va lios o serviço li Etn ografia quem desta obra fizesse Uln
índice m etódico (d es en volvido), e outro alfab éticos
O senhor g eneral L acerda Machado . es critor ilustre. di z de J ose da
Si/va Picào:
«Tale nto es pon tâneo , Auto-didata, adqui riu uma cultur a oa r ia d a, que
raramen te se a lcança por esforço próprio. As páginas virg ilia nas d o s eu
livro Através dos Campos. s à o um p oema campestre, O hino triunfal da
la voura alen tej ana.
« . . . POI" estas e análogas cOllsideraçõ es~ é d e admirar e m erece reqist o,
a circunst ância sing u la r d e qu e~ te ndo José da Silva Picão nascido e vivido
•
XVI
no meio rural qu e nos d escreve. nada d e interessante lh e esca pou a o espirita
observador. ti slla intuiç ão de etnógrafo. Os p ormenores minim os q ue r elata
e define. sem aridez s empre com precis ão e inteligência, p or uezes levemen te
tocados d e ironia. teriam [àcitm ente passado despercebidos. vela d os pelo
há bito. nã o só a um esp irita m enos observador. mas a qu em não s entisse o
bucolismo qu e o enfeitiçaoa».
A ntó nio Sardin ha tin ha por J os é Pic ão uma {arte admiração lite rá ri a ,
aliada a uma es treita amizade p essoal, cla r a m ente tradu -zida na d edicatória
da poesia Canção do espeto no lu m e. d o li vro Q uando as nascentes desper tam ,
S ard inha con sid ero u J osé Picã o, num a r tigo inserto no D iário d e Lisboa
(1924), o «fu nd a dor da literatura r egion alista p ortu guesa».
E di z o escr itor :
«O s eu ún ico li vro publicado. Através dos Cam poso nunca saiu d e um
circulo es t reito d e agricultores. n a s ua maioria os m enos preparados para
lhe abra ng er a larga e admirti vel inten são. Não ri só um trabalh o d e et no -
gra f ia - detalhado e cheio de cor . Com o s er um breviário p erfeito d e econo-
mia agrária d o Alto Alentejo, 9 u a r d a tamb ém nas s uas p áginas alguns d 08
mais belos e cris ta linos pedaço s d e prosa p ortuguesa n os Últimos trinta allos .
Bspressão castiça e s em requintes atorm entados, borbulha com o UnI fi o d e
dgua na co r rente. E. b rotada do co nvivia im ediato d o p ovo, por ela se ve r i-
fi ca qu e h á em cada llng u a um com o que class icis mo. qu e tanto é da aristo-
cracia liter ária , como da gente r ud e das atdeias . . .
«Em J os e da Silva P icão ex is ti a um temp eramento d e barrista s in cer o e
ínqenu o, que m odela va d e um s opro a s suas figura,~. tocadas por ve Zes de
uma encantadora e inimitá vel gaucherie.
• Não p ossu indo o pituralism o alucinante d e Fialho d e Alm eida. 1108 seus
Ratinhos. J osé da S i/va Picã o conseg ue, Sem esfo rço, sob repõe -se a os Ceifei-
ros; o tema e o m esmo. pela harmonia d as prop orções e a ind a p elo condoido
sentido humano co m que a s almas se abra çam e fundem na agonia crispada
dos rastollios , P ena é que Através dos Campos não ob tivesse uma irradiaçã o
~ maior, p orque. s e n a n ossa terra p alpita qualquer estremecim en to regi ona-
lista. é ali qu e lhe terem os de buscar a or ig em e a li ç ão, Desde a riquez a d o
oocabul ário, a o m ovimento da [ra se e li precisão das imag ens. J osé d a S ilva
Picã o é m estre que rica - e que {ica CO Jll p oderosa individualid ade . . .
«Livro tll1ico, li vro claro. s adio, o livro de j ose da Silca Pic ão h á-d e
ser arrolado en tre os m elho res padrões da nossa literatura co n tem porâ nea» ,
Eis o d ep oim en to de A ntónio Sardinha,
-.
XVll
Um outro trabalho de j os e da Silva Pic ào, A cam inho d a Cego n ha, foi
das primei ras ru tila ç õee elo seu talent o .
N ele se d es cre ve a odis .•eia de uma a ldeia a lente j a na _ Santa Eulãlia-
cond ena d a ao m artlrio periódico da falta de áglla, q ue dif icilmen te se adq ui-
r ia ezn p oços ou em eecaesos mananciais, d e ond e era tirada p or m eio de um
choca lho. Acerca deste costume - que J osé Pic áo descreve p ito rescame nte -
diz A n tó nio Tomás Pires, no seu interessante op úscu lo Tradições Po p ula res
Transtag a na s :
«A' beira d os p oços , em ce:C de ca ldeiros para t irar água, véem-se fre-
q uentem en te qrandes cltocallr os a iss o d estinados». P or isso o p o vo opina.
em seus m otej os , lJ ue em Sa nta Eu l ália quem nào tem choca lh o nào b ebe . . .
A Ca mi nho da Cegonh a é ullIa p equena obra -prima da literatura r egion al,
pelo valo r d o estilo, a certo no emp rego dos vocá bulos e rigor d es critioo,
Fo i p ela prim eira ve = pu blicada Ilum cotu mezin ho intitutado «O Elve nse»
- Nú mero brinde aos senhores as s ina n tes em 1894: .
Em 1940 o autor desta s linlra .• prom oveu a publicação de um a nova
edição d esta bela n o vela reqionalista,
DOMINGOS LAVADINH O
Da A ' $OCÚI1"ÜO dOI Arq ueólogos PorturJuclu
,
A t r a v e s d o s Campos
,
generosa condescendência d o in signe escr itor e meu b om A 1ll igo~
A J oão Corrêa d 'Otivei ra, um d os mais a ltos expoen tee d a m entalidad e
portuguesa e da mais requin tada se nsib ilid a de artietica, se d eve o
precioso prefá cio d esta verd a de ir a ob ra -p r im a d a literatura region al, d e q ue
José da S i/va Pic ão [o i p or a s sim di zer o ge n uino cr iado r e O maio r ap ôs-
tolo de amor li terra mater, re a lizando o q ue , e ll l s iutese, se poderá conside-
rar a m aior e m elhor definiç ão d o Alentejo.
O leitor, antes m esmo da apreciaç ão directa d este livro, se ntiu-ee, d e-
certo , atraido p elo deleite da cr itica em polgan te d a In trodu çã o, onde co m
tanto carinho e d elicadeza se denun cia ex ube rantemente o alto valo r d e
quem a escreveu . Igualm ente se a ssocia ao m esmo objectivo, llUlll admirá vel
estudo bio-bibtioqràfico, Dominqos L a vadiulio, um d os m elhores va lores
intelectuais da q eraç ão a ctual e um profundo e escrup u loso in vestigador
cultural em todas a s m odalidades e a ctividades d o esp lr ito, e que tã o bri-
lhantemente dirige a Biblioteca Municip al d e Elv as.
Rendem os a n ossa enorme gra tidtio p elo esfo rço, justiça e talen to dis-
pendidos pelos d oi s formidá veis escr ito res, cuja de dicação ti causa alentejana
eu creio qu e os leitores verã o ex ub er a n temen te con firm ada nos primoros os
capitulas, qu e antecedem esta minha li geira referéncia.
O meu papel fica, a ssim , redu zido à m ais sim ples expreesão , lim ita ndo-me
a aviva r alguma s reminiscências. j á d esbotadas uuz p ou co p ela nevoa d o
tempo, de um. pa ssado que muitos se apostam em cre r qu e nda mais p ode
voltar, mas que se m e afigura p os si oel trazer ate n ós, se m p re qu e o tenuts-
sitno rio da esp iritua lid a de que lig a a s a lm as ete rn amen te, impere e p resida
aos nossos p en samentos.
A lg um as impress ões p ess oais d eixar ão en trever a minha f ervorosa
admiraçà o e indesbot ãcet s a ud ade p or essa estra n h a p ersonalidade, que f oi
o autor d este lior o, J ose da Sil va Pic ão, o m ais m odes to d e t odos os escrito-
res, de uma inq énua simplicidade, que feria e en ca ntava to dos os que o
conheciam e qu e lhe roubava p or comp le to a m ais ligeira visito d o que vir ia
a ser a sua obra, projectada a tr avés do tempo e d o futuro. Nun ca teve a
consciéncia do va lo r da sua ob r a '
Mais de 40 anos sào pass ados qu e o admirável arquitecto d a literatura
regiona l trouxe a lume. primeiro num alvoroçante folhetim em j ornal elve nse
e. seguid am en te, em livro ed itado p elo saudoso bibliografo A n ton io J osé
T orres de Carvalho, es ta ob ra magistral. que é o « A trave8 d os Ca m pos».
Esse trabalho cau s ou já entâo o maior a ss ombro. p oi s ninguém divisara
XIX
que dentro daquela frágil fi,qurillha d o seu autor ardesse a mais rubra
ch a m a do talento, numa afirmação intelectual onde a garra d o escr ito r
dominu oa triu nfalm ente.
Depressa s e esgotou a ed ição e com o d obar do tempo cavou-se a 8 01u~
çà o d e continuidade, qu e con d uziu. ins en sioetm ente ao olv ido . sen d o ] 'a1'0 8 os
que fi caram {ieis ci lembra nça d esse [ormosl ssuno estud o da vid a l'listlea.
Contudo. alqune adm iradores mais p ersecerantee e espe rançosos soube-
ram esp erar a oportunidade d o ressurgimento dessa bela ob ra. ond e Ii á
lJluito qu e aprender e ainda muito mais que se n tir o vib r a r da a lm a d o que
p oderemos chamar a p edra angular d o valor da grei, na sua mais { DI 'te
liga çd o p s iq uica e econó m ica li celula da Nação.
E essa h ora a bençoa d a clieqou, envolvida na sa ud a d e indelével que o
grande escritor e ndo m en ol' 01111,gO soube con q uis ta r ao nosso espirito, e
até ao 11 0 8 8 0 orqu ltio , que a joelha em êx tases perante esse mago d ecantado]"
dos lindos seg re dos d o prodigios o viver rúetico, p onto d e partida d e tod a a
b ele za e d e toda a rique za que informa a vid a camp esin a . que nunca é antiga
nem m oderna, p orque é se mp re a constan te e p erpétua tranefiquraç ão da
natureza, no seu ineeqot àoel d esdobramento humano.
N ão [u zia, pois, s entido, n este alto d e curva cu ltu ral, deixa r j azer 110
abandono. pelo m enos - já que a obra é in corrupto e [i carà ete r namente
em b a lsam a d a n o 'e u próprio va lor intrínseco - a a ssombrosa li ç ão e pre-
cioso ensin a m en to q ue dela irradia. li a seu amor exasperado pela grandeza
d o.• cam pos e p ela d o Alentejo, ou t ro ra a malfadada ch a rneca e, no diz er
d e Lé on. P oinsard, a regín o m enos co n hec id a da Europa.
H o]e, essa grandeza alentejana já entr a p elos olhos do português, ca n -
tada em todos os tons p or escr itores ilustres, com a mais nltida com p re ens ão
da s ua riqu eza multiforme,
Desde António T'om az Pires, glorioso Elv ense, um colos s o do [olclorismo
alentejano, com as s u as d ez mil quadras p opulares-s-possuselmente o prim eiro
da Europa - d esde Vit orino d e Almada, o ex a us tivo investigador g eo gráfiCO
d o Concelho d e El va s e alquns outros d evotados cultores d o « Mi s té r io da
Campina», até a o d outor Celes tino Da vid, incansável e brilhanttssimo nos
seus estudos históricos e Jo se A lves Ca pela e Silva, talentos o e in vulgar
interpretador e re ctificador da linguagem_ l'Ll stica a le n tej ana - toda ess a
pleiade se lan çou n a cruza d a bendita d e alTQnCal' o 1lDS80 Alentejo ao encra-
vada e imerecido obscurantismo em que ja z eu tanto tempo.
Para tant o, J osé Pic ão d eu um b elo e sa lu ta r tributo, ele qu e, ,uio dispondo
senão de lima instruç ão eiementa r so ube por m atiz próprio ilustrar-s e s uf'i-
l
cientement e, aproveitando o seu inato gé n io assim ilador e esm er alzd o-se por
escrever num es tilo tã o pr ôx imo da natureza e numa identi f ica çã o tão ajusta da
com ela, que sem o m ais p equen o esforço a copiava co m tam anha per feição .
Era a p a r dis so um cavaqueado r d e rara vivacid a de deleitan do -se n a s
sugestivas leitura s d o di vino Ca m ilo, que ad ora va n o mais a lto gr a u, d o
encantador Eça, que o d eslumbrava com a s ua prosa delici osa. d o adm irá -
vel Trindade Coe lho, q ue o cativava d everas , d o es ca ld an te Fialho. q ue o
empolgava e a té Balzac lh e era [a miliar, com p razen do-se em m ergulhar o
espirita nessa nebulose rom ântica d o g ra nd e m es tre.
Uma das s uas fa cetas mais ex p r essiva s era a m aneira como esqu a d ri-
nhava a p sicologia rú etica, até a os se us refolhas mais in timas, e assim b em
sabia que a vida dos cam pos se equilibr a en tr e os m aiores deslumbramentos
da alegria e as maiores in quieta ções d a tristeza, tilo p erturbante e in stável
e o cená rio d esse ambiente inconfundl oel, que um poeta humilde e igll orado
traduziu nesta einq ela q ua d r a :
-1 -
A TRAv ts DO S C ;>. MP OS
2
ATRAvts DOS CAMPOS
-3-
ATRAv t S DOS CAMP O S
-4-
ATRAvtS DOS CAMPOS
- 5-
ATRAV J'. S DO S C A M POS
dução superior. Isto, porém, r epito, é r egra g era l que. d e resto. tem muitas
excepções em qualquer das hipóteses.
Dimen sões :L' tudo quanto se pode conceber de mais irr egular e a rbitrário.
Há a té herdades que a certa altur a es t reitam bastante, prolongan-
do-se por entre duas vizinhas. A estes p r olongam en tos chama-se-lhes m an gas
ou Bsuilhões. Em o utras notam- se par ticularidades m ais curios a s, ve rdadeiras
anomalias que devem desapa recer.
E' O ca so da herdade À ter dentro encravada de todo uma ecurela perten-
cente à vizinha herdade B . E a B é por sua vez devassada por u ma outra
courele n as mesmas condiçõ es q ue p erten ce intei r a me n t e à herd ade A .
- 6 -
ATRAv tS DOS CA M P O S
conveniências d e classe, o que lhes é honroso. Mas a par dos que cumprem com
esses deveres, há quase sempre o ambicioso desmedido para quem t odas a s
herdades parecem poucas afim de satisfazer os seus planos vingativos, egoístas
e a bsorventes.
Àparte excepções, 09 grandes senhorios fidalgos e capitalistas ainda têm
umas certas e valiosas considerações pelos seus rendeiros, que é de justiça
recon hecer e registar. Se os há que não escru pu ltaam em aceitar «leva n tes » de
renda s propostas p ara satisfação de vinganças odientas, ou por ambiçõe!J des-
vaira das e egoístas, m uitos mais se conhecem que repelem com nobre altivez
essas prop ostas aviltantes.
A s cas as Cadaval. C o n d e d e S . Martinho. Marqu ês d e P en alva. D uqu e de
Albuquerque e outras timbram em conservar e p roteger os seus ren de iros anti-
' os como pro cedimento qu e carecteeieave a velha fidalguia portuguesa.
D e entre os grandes proprietários modernos também se encontram espíritos
guiados pela m esma louvável orientação. O falecido capitalista de Lisboa,
António J os é de Andrade, foi um gr an d e protector dos seus arrendatários
lavrador es, exemplo n obremente seguido pelos seus di gnos descendentes.
J acin to d a Silva Falcã o, tamb ém d e Lisboa, era outro amig o valioso da.
lavoura a len tejana . E. co mo estes. mais alguns que não q uere re tud o para si,
entend endo, com r a zã o, que o rend eiro d ev e auferir l ucro s pro porcionais ao
seu trabalho e capital.
-7 -
AT RAV e S DOS C AMPOS
- 8 -
•
•
I
ATRAvtS DOS CAMPOS
- 9 --
ATRAVfs DOS CAMPO S
Por sua vez o antigo, is to é e qu ele que sai u em 31 d e de z emb ro, cumpre-
- Lh e retirar a sua s ear a em r am a até ao dia 15 de agosto. Digo «em ra m a », po r -
que o m esmo antigo r endeiro n ã o t em di r eito d e d ebulhar a seara dentro da
h erdade q ue d eixou. Só o po de faze r media nte licença d o re n de iro n o vo, o que
n u nca s e pede por n ão convir a o dono da seara, qu e p recis a de palhas no local
para onde se m udou.
D e qua lq u er fo r m a o r endei r o antigo só te m d ir eito a u m corte n a ter ra
que semeou . Quer dizer: n ão pode cor ter a r estolho o u h a m b ur raI q ue esca pou
à ceifa, o q ue s eria evide ntemen te seg u ndo cor te . P ode porém gadanha r os
fenos cria dos n os va les, n esga s, san jas d a s t erra s p antanosas, inculta s, existen-
tes na folha d a s ea r a e Das n ó d oas da m esm a sear a em que n ão ceifou coisa
algu m a . Em r esumo : n o sí tio em q ue ceifou nã o p ode gadanhar; n o local onde
gada n h ou não po de ceifa r.
En treta nto o r endeiro antigo te m ainda o direito de aprovei tar o a gosta -
dout o da sea r a última a q ue m e 'Tenho refe rindo, com en d o-l h e a espiga e
sementes co m O gado su ino q u e entende r. e bem assim com o número de bois ou
bestas estrita men te n ecessárias ao acarreto respectivo.
Na hipótese de se em p regarem b ois n o acarreto t êm eles de ser no qu ãd ru-
pIo do número de carros o cu pa d os. P or ex emplo, se os ca rros forem quatro, e o
servi ço se efectuar de r ev ezo, como s e cost uma, podem pastar n o r estolho 16
bois, metade de dia e todos de noite.
S e, porém, O t ransporte se efectuar co m muares ou ca valares estes s 6 podem
comer no agcstadouro du r a n t e a noite, vis to tra balhare m o dia t odo, excepto à
hora d a merenda, ao m eio dia, em que é d e uso selem a rre çoedcs.
P a ssa d o o di a 15 d e agos to tem que estar a restolhice despejada e o
gado fora, para o novo rendeir o ficar no pleno disfru to de t oda a herdade.
Nas herdades de montados ao re ndeiro que sai cumpr e-lhe levantar a.
bo lota a t é ao dia 31 de dezembro, salvo se há q ualquer acordo ou contrato
especial que prolo n gam esse praz o.
II
- 11-
AT RA V !'. S DOS C AMPO S
SITUAÇÃO E ASPECTO
- 12 -
AT R AVÉS DOS CAMPOS
..
cons truirem-se mede s. O vage r é po uco e a l en h a não sobeja.
,.
O s montes considera m -se albe rga rias fran cas pe ra caminhantes e mendigos.
hospício de ne cessitado s, e a té por vezes refú gio de perseguidos . Encarado s por
outro prisma sirnbolíznm o rrabs lhc e a abastança p or que reunem e exibem à
larga os melhores produto s d a t erra . D e feição ess encialmente cria dora, sinre-
ti.. em si toda a vida agrícola alentejana. T oda. desde a s messes de lavoura até
às aves dom ésti cas, que a li s e multiplicam livremente em viveiro fecund o e
constante. Às av es pel os cantos e estrídulo s de suas voz es, r epetidas por cente-
nas de ga l.in âcios e dezenas d e palm ípedes, con s tit ue m a nota m ais alegre e
animad ora dess es centros rurais, s obrem odo interessantes.
... ... .... .. . . . . .... .... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . ... . . .... .. . . ... . . . ...... . . ..
A s con st r uções de cada m onte m oldam- se g era l m en te nas dos sistemas
vulgares das t er ra s pequena s da provfnciu, e comp õ em-se d e h abita ções para
uso doméstico, d e casas pa ra fins div ersos e d e várias depend ênci a s ex te rio r es .
Entre os maiores, há-os p rov id os de ca pela para exercício d o culto divino, q ue
outrora tinham capelã o. Hoje n ão O têm e em p ou ca s se diz misso . Só p or a caso
em alguma qu e fi ca próxima de sede de fres uez ia de ca m p o (paró quia er ma, sem
povoado junto), onde o pároco não encon t r a ouvínte s quando n o domin go l á
aparece, vindo d a vila . dispos to a cel eb r a r . Em tai s circunstâncias. o pri or
vendo-se a penas com o sacristão , r esol ve ir dize r missa à cap ela d o monte. Ali,
pelo menos t erá m eia dúzi a de a ssistent es qu e O esc u t em .
- 13 -
AT RAv t s DOS CAMPO S
Coz inha Numas partes é de caráct er ex cl usiv o, n outras serve sim ulta n ea m en te
para am os e criad os. E m qualq u er d as h ipó t eses, consist e num vasto
compartimento de lareira d escomu na l, s empr e d e lume aceso, s ej a de di a ou de
noite. Em volta d a cas a, p elas p aredes t od as d e a lto a b aixo, como n a ca sa d e
entrada, ostentam-se igualme nte as or na me ntações caracterís t icas d os dom i ci-
lias rurais alentejanos.
Nas gutrlendas e est a n h ei ras, lá s e vêem tam b ém os se rviços d e cob r e,
arame, estanho, ferro e barro, onde se de stacam tach os e as a d as m onstruosa s,
- 14 -
ATRAv t S DOS CAM PO S
por entre pratos, fdgideiras e panelas d e lotes d iversos, t udo rea lçando p el o
brilho. disp osição e ap u ro de um cuidado inexcedível.
À um d os cantos depara-se com o pote da água. ele mento q ue também
existe n os câ n tar os d e cobre, l at a e barro. que figuram n os poiais. À cozinha, em
certas partes. t ambém serve d e refei tório da ganbaria e r estante pessoa l, como
carpi nte iros, ferrador. etc. Noutras, porém, a s r efeiçõ es a os cdados t êm lugar
n a casa de enteada, junto à p orta p ri n ci p a l. À mesa cost um a s er comprida e
estr eite, de madeira em gers l, e d e p edra por excepção.
- 15 -
A T RA v t S DOS C AMPOS
Forno de cozer pão E difi ca ção tosca e gr osse i ra" Da da n otável quanto à s ua
a plicação principal. Mas como sob a desig n a çã o ge né-
rica de fo rno s e us a com p ree n d er a elpedrade qu e o precede, impõ e- se a r eferência.
atendendo a q ue este l o cal é o a g asalho o u al berg ue habitual de mendigos e va g a-
bun d os que, n o ge ral do Alentej o, são con h ecido s por maItes es. Que cenas de
vadia gem e per versã o se n ã o pro jecta m nesses to scos pardi eiro s, atulhados n a s n oi-
tes d e inverno por dez en as d e m al andr os. en tre um o u o ut ro i nfe liz di Ana de
m elho r sorte l . .. Quem co nh ece o Alen tej o sa be pe rfe ita me n te como os fornos
são teat ros de planos crimi nosos e o utra s vergonh a s so ciais qu e ninguém trat a d e
extinguir.. . Em alguns m ontes o forno co m unica co m a h abitaç ão familiar. N este
caso a m altess ri a aco ita-se em albergue próprio. mais ou m en os distanciado.
O s ciganos não pernoita m junto dos maItes es, com o s quais não gostam de
- 16 -
A TRA v t S DOS CAHPOS
Casa da lã ou laneiro S erve pa r a div er sa s aplicaçõ es, a lé m daqu ela por que
se me nciona . D e r es t o, a lã é a coisa q ue m e n os t em p o
8 ocupa , po r se r cost ume ve n de r -se e ex p o rt ar- se no verão, l ogo d epois da t os-
quia. M a s como em a lg u ns a nos se n ã o v ende de p ro nto e é fo rçoso eo nse rvé -I e ,
destina- se- I b,e uma ce se para a rm aa êm .
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ATRAvt S DO S C A M POS
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ATRAVt.S DOS CAMPOS
ticissimos, fe itos a carvão, destacando -se u m ou outro que re vela traços firmes
e vocação artística do autor.
Tudo aquilo é obra dos ganhões arteiros, que têm queda para as pintorices,
e que ni sso se entretêm algumas noites, distraindo-se a si e a os cama ra d as.
Traça m então j u n ta s de bois com o ferro de casa; cenas tauro máq uicas;
tipos da s cidades ; as fig uras do sol e d a l ua, monstros marinhos. neptunos,
sereias, n av ios, pavões, cegonhas, lobos, vasos de flo res. o sino saimão, etc ., etc.
C om pletan do o quadro, é frequente penderem do tecto cordas e paus com
qu e i mp rovisam erap ésios. São para a rapaziada fazer e rtemsge», o que
em calão local significa exercícios gi n âst'icos e acrobáticos. Ali pois espino-
team à vontade com o seu t rambulhão, à m is t u r a, unanimemente festejado.
Ora, o conjunto de tudo isto, casa e habitantes, dá à casinha dos ganhões uma
aparên cia original, que se torna fantástica. quando à noite a s chamas da
lareira projectam a sua luz esf umaçada e indecisa sobre os vultos da habitação.
A tristeza ra ro se nota n a q u eles r eci n tos originais. Ali a s noites deconem
alegre s. se a maioria dos assistentes se co mpõe de r apaaes solteiros, exub er an-
tes de vida. alheios a cui dados. En tão t udo se ani ma a valer l Simúlacros
de touradas; artemagesi jogos de brincadeiras para logro dos novatos; tudo
enfim que revela despreocupação de espírito. O s velhos. coitados. q ue já não
podem tomar parte naquelas pândegas. sentem-se rejuvenescer, e lá do canto
da «chaminé». onde acalentam o sangue am ortecido. aplaudem os divertimentos
da família moça e estúrdia - partidas que eles também já fizeram e de que se
recor dam com saudade.
Noutras noites não há s.rtemsges, nem touradas. nem jogos. nem desenhos;
mas o serão passa-se divertido. se não de alegria ruidosa, pelo menos com o
praze r suavíssimo que disfrutam as almas simples ao o uvirem nar r ações estra-
nhas, maravilhosas. Nestas n oi tes os pap eis in ver tem-s e: são os velhos que
distraem os novos. Àqueles, to mando ares de superioridade paternal, propõem
adi V'in hações, recitam décimas, narram contos de princesas e mou ras encantadas,
casos de bruxedos, e até episódios das guert'as da primeira metade do século, de
que eles ou os ascendentes foram testemunhas oculares.
Com que atenção os moços os escutam, e com que ufania o s velhos referem
aquelas histórias variadas. de exageros manifestos I Os que as ouvem, ficam
emb asbacados a ponto de um ou ou t r o exclamar: «C a r a m b a, rapaaes l Sempre
o tio Fulano sabe muito!. .. t um p oço sem fundai Não sei como lhe cabe
na cabeça tanta coisalll Se fosse homem de letras era um doutor!. . .
Nas noites grandes, quando se esgota o reportório de historietas e mouras
encantadas, m uda-se de assunto até qu e se chega à co scovflhtce r eles. N es ta
altura , diz -se mal dos amos, dos abegões, do prior da freg uezia. do exagero das
contri bui ções, e por associação de ideias. dos poderes constituidos. D is cu t e- s e
en fim, incluindo mesmo a astronomia, que lhes merece comentários e aprecia-
ções originais em que abundam os disparates. Mas quem os dia, fica muito
ufano COmo se proferisse uma sentença " " .
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ATR AVÉ S DOS C AMPO S
ARREDORES
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A T RA v t S DO S CA MP OS
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A.TRA.V e S D O S CAMPO S
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ATRA v t S DOS CAMPOS
* * *
L ogo d e madrugada principia a azáfama. Os prim eiros a levantarem - se
são os cri ados de portas ad entro. isto é. o cozinheiro e o amassador de há
muito acor dad os pelo ca ntar dos ga l os.
À s du a s e meia ou t r ês d a ma n h ã no O u tono e começo d o Inverno e às
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N as ccaia nças:.
AT RA V e S DOS C A~1P OS
quatro no res tan te do ano vêem- s e j á erguidos aqu eles homens. O amassador
para de spachar os amaa silhos - doi s e três por dia, co nfor m e as precisões.
O cozinheiro para cu ide r do lume, d a s a sa d a s com á gua a aquecer, do ordenho
das ('8 bras, etc.
E.ntret an to os do is bocej am. tro ca n d o as impr essões próprias d a h ora e do
meio. bate -lhes à po rta O a begão e preparar o al moço para a ganharia. Abrem -
-lh a log o, entra e d iz: - D eus os sa lve I» c Salve-o D eus I. respondem os qu e
estavam, ret rib ui ndo a s a u dação.
O s três d irig em-s e para a chami n é e ai a o lume m ata m o bicho, fa z em O
cigarro e falam do t empo. O seu pa l a vr iado, a ebulição da ág ua e o crepitar
das ch amas do az in ha qu e iluminam em cheio tod a a ca sa , d enunciam os pri-
meiros rum ores da labuta em com eço.
É curta a parola . Sat isf eito o vício ou o hâb íto, ca d a q u a l t rata d os s eus
deve res. O cozinheiro p rossegue n os j á iní ciad os, O a massado r põe o f orn o a
arde r; e o abegão, e nq uanto a ág ua abre a I er vure, põ e a mesa colocando - lhe a
toalha, os m err ocetes e as azei ton as.
Ao fer ver a óg ua em cac hão, vaza -se a escaldar das asa das para os barra-
nhões já temperados d e azei te . sa l e alho, p reparu n do - se a s sim o cald o da
e ssc rdu , que deste m odo im ediatamen te cond uz par a a mesa. D epois sai à rua
e, em tom forte e p r ol o ngad o. gríta : - «A o a l moço l .. . » A criadage m acode,
entra, almoça e sai. C h eg a então a vez de se a centuar o movimento. T od os d ão
rum or de si tratando de m a r ch ar pa r a as ocupações, por en tr e uma VOzearia de
ditos. entremiados de pergu ntas e r esposta s.
O s almoc reves de i tam fo ra a s parel h as, engata m os carros e gira ; a ga n haria
(moços de la voura) também se põem a cami n ho d o traba lho; os m alteses esguei-
ram-se à f ormiga receando empr naament os importunos, e por último os
do més ticos d o mo n t e a p ouco e p ouco aparecem também. Carros e ganhões
saem ain da d e n oi te duran te a semente ira do Outo n o, e a o ser do di a n o
tempo do alqueive. En tretan to erg ue m-se os lavradores, chegam dif erentes
ga nadetros a r eceb erem o a lmoço e al g umas ordens, e assi m, num vai-vem de
saidas e entradas, a ani mação ge ne ral iza-se. A o nascer d o sol t udo está a
postos, no m ourejar do es ti lo.
D es pa chado d os afa zeres do m onte, o lavrador monta a cava lo e parte a
dar volta aos arados, 8 0S rebanhos e a o mais que tem es pal h ad o pelos campos.
Quer endo, n ã o lh e falta q ue ver e provid enciar.
A s u a a ssi s tên cia no monte é m enos necessária. A esposa s u bs ti t ui- o a í
com va ntag em , tant o mais que, p or direito tra dicional, é ela que t em o mando
n os labores casei ro s inerentes a o g ra ng eí o a g rícola.
Nesta s circ u n stân cias a lavradora põe e disp õe o s eu talante. Logo ao
lev antar m erece-lhe parti cular interess e, a s olta das ga linh a s, o s erviço da
casa, e o tratamento da Aadez8, como cruem diz dos bicos de criação e dos
porcos do chiqu eie o. Neste propósito e noutros q ue o decorrer do dia lhe sugere,
farta- se de estí mular o zelo de criados e criadas, entregando-se ela própria a os
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pobreza e a feição das pe d in tes. P elo que estas p rocu ra m ce tequisar a s lavrado -
Ias pOI todos os meios imagináveis. MoI chega m à p orta ofe recem-se pare varrer
e lavar" adicionando 80S oferecimentos de serviços, vários presentes de ninha-
rias r el es como trapos para esfregões, m olhos de ervas para mist uras, etc.
O s serviços re cusam -se as mais das vezes; os p rese ntes aceitam-se por
complacência . remunerando-se à larga po r meio d e comestíveis.
D a parte da s mulherzinhas b eneficiadas ret umbam os ag radecimentos e as
bajulações s lavradoras, já Ba ba n do - lh es a s q ualidades, já na r r ando -lhes com
ê
* * *
À. volta d o sol posto. mu lheres e homens. amos e criados d om ésti cos, t odos
em fra te rnal convívio. sem preocupe ç â o de classes. reun em-se cá fora n o terreiro
do monte em misteres secund ários. se O tempo o permite. Ali. ao ar livre.
escolhem-se legumes, debul ham-se batatas. migam-se couves e ou'tra s hortaliças.
esce rp eia-se lã. etc. E de mistura. sustentam-se palestras alegres, famili aríss i-
mas. animadas por umas r estea zin h a s de sol a m eno que a pouco e po uco vai
de sapar ecen do até se mergulhar de todo.
C om o ocaso do sol esvai- se a an imaç ã o dos assistentes. que passam a con-
cen tr ar-se num remanso d e mutism o e quietude mística. sugestionada sem
dúvi da pelos tons da natu reza. infundindo mela ncolias.
Ao longe so am os choca lhos do s r ebanhos. o coaxar das r ã s. e o mat raquear
das cegon h a s. E como s e t u d o isto não fosse suficiente pa ra t r ansp or ta r a s almas
dos simples a o m aravil h oso e indefi n ido, do al vej an te campaná rio d a ermida
próxima, ta ngem de espaço as tri n da d es da noit e. anun cia n d o o d esca n so. in ci-
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• • •
E ntretanto an oitece.
À peq uena distâ ncia distin guem- s e as parelhas d e m ua res, que tilíntando -
-lhes as esquilas e guisos recolhem ao monte, u mas de canga com o carreiro a
cavalo, outras engatadas.
À medida que se aproximam aumenta o som dos 41jorges at é os carros
rodarem p ela calçada do terreiro e es tacarem para a soLta .
O barulho do desengate e re colhimento das bestas com a vozearia dos que
chegam a pé ocasiona certo bulício m omentâneo. Instantes depois, ceia a cria-
dagem, medem-se as rações e a r raçoe m -se as bestas. E em seguida cada um
entretem- se como pode «co m os da sua ígualha» . Ent retengas predilectas. O
jogo da bisca lambida. contos, adivinhações, etc.
Por volta das nove horas reina o soss eg o. À esse t empo va i o serão decor-
rido ap ós d emoradas comb in açô ea entre lavrad or e governos sobre os se rviços a
efectu ar. Mais d ois d edos de ce va co com a ci garrada d a praxe que o amo lhes
oferece e eis tudo concluído. De po is tr o cam- s e as . boas n oites... e cada q ua l
recolhe à ca m a para s e entregar a M orf eu n um r e pous o r eparad or.
Se o mo nte fica próxim o da vil a ou aldeia, os m oços solteiros, mal ceam,
giram a caminho do p o voado a co nve rsar em co m os namoros, ou a passearem
pelas ru e.e, cantando em magores. .E. p or lá andam o melho r da noite, até
regressarem à obrigaçao.
(s) Er .. .....lm "nl U . hn u 4 " l",u ""'o'. Agor a lá ",i o • L.m . " im . lIJo llar.,). em H Z di or.;i5 u . tUI ..-n d. 0:01....
1II11lfld.D ....
•
III
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ATRA V e S DOS CAMPOS
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Suinos no montado - A matança
A TRAVÉ S DO S CAMPO S
dídos, fossem cres cendo a pouco e pou co, ao embate de mil co n t ingên cia s e
destro ços, até s e destacarem tanto, q u e desp er1avam a atenção do lavrador.
Fraca a t ençã o, que se r estringia a limpá-los antes ou depois da s queimadas,
que d e 8 em 8 ou d e 10 em 10 an os co s tu m a varo fazer nas terras sujas, a fim de
a s sem ea re m e l avrar em «à fac e» . Mas a s r oça s r epresentam um vandalismo
inaudit o.
C h a parrai s imens os h a vi a, e at é s obreirais e azi n h a is , en t re mancha s
en ormes de extra ordinária al tura, qu e s e r oçavam im prudentemente, nã o se
resguardando o arv ored o co m ac eir os e arruada s es pa çosas, que os defendessem,
ou sequer p oupassem, d os estragos do fogo. O lume larga va-se «à va le n t on a», e
tudo a quilo s e tran sformava em cham a s g iga n t escas. s ob o s ol ard ente d e
a gosto, por en t re nu v ens d e fum o n egro. q ue se a vi stava a dezena s d e l ég u a s .
Era medonho I O s pob r es d o s chapa rros, un s morriam l ogo, o u t r o s fica vam
mei os queimados, e os mais r esi stentes, lá conseguiam es ca par, mas com a r ama
afo guead a, em as pe cto des olador.
Mos n in g ué m estranhava . Era estilo. E por ser costume, pou co impor ta va
que ard ess em. P or mui t as q ue se q u eim as se m algumas es ca pariam . E, se todas
se p er de ssem, l á fica va a ce pa vi g oro s a, que outros criari a t ão bon s o u melho-
r es. E a cepa cria va-os efec tiva m ente. em bo r a com a rr aa o . P orque f oss e como
foss e. e a d espeito de t odas as s el vajarias, os montados vetusto s existem em
largu í ssima escala por toda a p rovín ci a, atestando o triunfo da natureza sobre
o vandalism o do s h omens. Triunfo rel ativo, porque, certamente, se n ão h ouvesse
de va stações. ma io r es e melhores a rvo redos exis tir iam.
C om o s m ontados m oder nos. p ouco s e praticam o s sistemas b á rbaros, pri-
mitivos, aind a muito em v oga h á cerca d e 2.5 anos. Mas a s u a o rige m é a m esma
que a dos a n t ig os. À pa r t e excepções in si gni fica n t es, h) são fil ho s do carrasco e
desen vol vem - s e ond e por ac aso nas cer am. C om a difer ença que s e tr atam
melhor que antes. b enefic ian do -se com arroteamentos e limpezas que os p r eser-
vam de estrago s sensíveis.
TRATAMENTO
(I) [ u .. t:I:u,~l'i u cCl1u b ltm n .. pl.nt.~ i3 u I nm....tili.. d• •obnl.l'o, qla' . a t i . ru Uzad o flll. .I'IIDa PODtO' . com o
" ' U I., lo II' I. p. d. rui d. VII. Vho•• • 1m am a OD .lu.. L.nd. d.. do CO DUlL.O d. [!T.... N.d•• cOlDp. n llu lD•• 'I. com
• <1•• • ad. crJ .~lo llPOfl.tlIl U .
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A T R A v t S DOS CAMPOS
Lim p e za d a s terras E xecu ta m-s e desde o princípio d e jan eir o a 6ns de m a io,
precedendo a lav oura d e a lqu eive. o u d ep ois, de 8g0 St O
ao S . M igu el. C o n si s te n a d estruição to tal o u p arci al d o mato p r õp r 'ia m en.te
d i to. Faz-se por três sistemas : um radical - o ar ra n que ou arroteamento - ; dois
s u pe r ficia is - a desmoita e a ro ça.
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A T RA v t S DOS CAMPOS
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AT RAvt S DOS CAMPOS
mesma forma qu e ao enfermo que t em uma p er n a ga ngr en a da, o cir u rg ião lha
amputa co m o rem édio heróico para lhe salva r a existência, assim a árvore
decr épfte necessita que lhe inutilizem as pernadas doentes para ficar só cn o s ã o .
e r ejuvenescer. embora não mais al cance a p rimitiva corp u l ên cia . Mas an te s
p equen a e vi çosa do q u e g ra n d e e d oente, condenada a m orrer breve. Que só
n estes ca sos extremos s e impõe a troncharia. Noutros é um crime despojar as
á rvo res , no todo ou em parte. da s pernadas s ã s co m q u e mu ito bem podem e
que tantos an os demoram a cri a r .
Nas azinheiras velhas, ocas e nudosas, de h á muito recuadas, a limpeza
res tringe-se ao indi sp ensável.
Os sobreiros deixam-se com asp ernac1.as mais nuas e Auiadas. q u ero dizer,
me n os compostas d e ramos, q u e a s ou t ra s do azinha.
Os velhos elcornoques, prestes a exting u irem raras vezes p ermitem limpeza
vistosa; assim a contece com a a zinheira de an áloga vetustez.
• • •
O s h omens emp r eg ad os n os cortes design am-s e po r corta - ramas.
Uns saem da ganharia, outros a justam-s e ex p r essa m e n t e a r azão d e cinco
a seis mil re is p or m ês, co m i d a e u ma s du as carradas d e lenha. O manag eí ro
ga n ha um pouco ma is.
O cor ta - r a m a a n t es de subir para a á r vor e q u e se propõ e li mpar, en cos ta-
-lh e 8 0 t ronco o burro (esteio cha nfr ad o a servir de escada) e p or ele trep a a
ga lgar o ponto desejado. S em p re de pé. e munido d o machado, p ro cede à lim-
pez a salta n do de u mas para o u t ras p ern a das, como pode e sabe. Em que di spo-
sições difí ceis, incómodas e perigos a! el e tem de se aguenta r m u itas v eze s pa r a
se sa i r do erebalho com de sembara ço prov eito s o I
D o al to da a zinh eira. no qua se extrem o d e uma d as h ast es, sem ou t ro
apoio, além d os p róp r io s pés; mal se conceb e co mo ess e h om em se equili br e e
poss a vi bra r o m achad o sobr e a l en h a num vai-vem sonoro e cad enci a do.
M a s vi bra e com fouteza. Os go lpes sucedem-se certei ros e rijos, tanto que
o made iro, fen di d o em volta , num instante estala, esge r ra e cai. vencido de todo
pelo ousado trabalhador. D est em i da criat u ra que n em sequer pe n sa no p er igo,
Um ligeiro descuido ou imprevista casu a ü da de, e eí -Io da árvore abaixo, a os
trambulhões. À quantos têm s ucedido desses precalços que alguns pagam com
a invalidez ou a morte. C oita d os, fazem parte do martirológio d o t raba lho rude
e obscuro, ig n ora dos das multidões sem os elogios das gazetas .
• • •
À boa conservação e aumento dos montados merece es pecial protecção das
municipalidades a le ntejanas. Nos códigos de posturas d e todas ou quase todas,
cominam-se m ultas aos que de rri barem á rvores. chaparros e perna das 'leais,
se m mo t ivo justo. Na s escritu ras de arrendame nto também os senhorios se
acau tel a m dos rendeiros por a busos sem elh unr es.
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PRODUTOS
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Bolota Fruto seco, oleoso, d e côr esc u ra e forma oblonga. A d e azinha avan -
te ia- se à d e sobro em sa bo r e q u ali dades nutritivas . C on st i tui a prin-
cipal receita da a z in h eira e a s egunda do sobreiro. Te m alta importância pa ra
a economia r u r al da p rovíncia. Al ém de ser um bom a limen to para gados de
todas as espécies que, como tal, o procura m com avidez em cima e p or b aixo d o
arv oredo - Aplica -se princip almente, com n o t ória va nta gem, na criação, s ust ento
e r á pi da engo rda de muitos milha res d e suínos. Para este s é sem dúv ida o
melhor dos alimentos. Com r azão se diz que a Natureza criou a bolota para os
porcos, e que os porcos n as cem para a bolota.
C on sid era d a sob o ponto de vista gera l, a sua col h ei ta, é, em regra , dimi-
nuta, comparada COm a das outras á r vo r es.
No sobro predominam as prod uções peri6dicas : n uns anos n o vid a de ch eia ;
noutros nada.
Com o azinha observa-se menos esse f enómeno. Em regra, e em maior ou
m enor escala, num mesmo «ma t o » há em abundânc ia ár vo res ventu reiras e
estéreis por entre algumas castiças. D est a ca n d o sempre as d e p rodução escassa
insignificante.
C om ef eito, se r epararmos bem n a enorm e quantidad e de azinh eiras d e um
m ontado g r a n de. e dep ois so u ber m os da s ua produção. m esmo nos a no s abun-
dant es. reconhece-se l ogo quanto é fraca. Só d ois alqu eires que desse ca da árv ore.
os m ontados produziriam três ou q u a tr o vezes mais da m édia habitual. M as
a ssim como sã o, se po r aca so uma a zinheira g ra n d e. excepcional e castiça, pro-
du z 30 ou 40 decalitros, centen a s existem q u e nem meio dã o, e mu it as n ada
m esmo em a n os con se cut ivos. A q ue dá d ez al qu eires de b olota já s e co nsi de ra
muito b oa. E pois dif ícil calcular a p rod ução média de cada á r vo re mesm o p o r
q ue o s eu n úm ero t otal em cada mon tad o, ignora-se ordinàr i amente.
* * *
o azinha produ z uma s6 camada de bolota, vari ando muito em t a m a n ho e
qualidade, conforme as ca st a s, a natureza da terreno e os cui d ad os d e cu lt u ra s.
A b olot a criada nas terras bravias é amargu e miud a, sob r et u do n o a r vo r ed o
basto, assim como é g ro ssa e de melhor sab or na s t erras cultivad as , d e «ma to»
ralo. A bolota miuda chama-se pombeira p or ser a preferida dos p ombos
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Às lebres den unciam a bolota do ce. Onde 8 haja r oida por elas é com cer-
teza de s uperior qualidade.
• • •
À azinheira principia a florir ao desp ontar da pri mavera, p ouco dep ois dos
mar meleiros. Pela n ovidade dos marmelos formulam-se j uizos s obre a produção
dos montados. No conceito po pular a fl oração d os marm elos aparece s em p r e em
ab undância ou escassez igual à q ue se verifice, semanas depois n a s azinheiras
e sobreiros.
C omo quer que seja, n o fim de maio o u começo de junho, reparando-se
be m , já se d ivis a a bolota como cabeças de alfinetes. A que tra z O pé curto
con sidera-se viável - vivedo ura - sã e resiste n te j se mostra pé co m prido, r epu-
ta-se infe rior de p éss imo a ugúrio, propen sa a estragar-se por contingê ncias
atmosféricas, como chuvas no verão, seguidas de calores intensos, et c. Me la e
perde-se bastante.
Em ag osto a bol ota de azinha é d o tama nho d e a velãs, m eia en volvida n o
csscsbnlho, m antendo a côr verde, primitiva, q u e em s etembro s e mod i6 ca,
amarelando um po uco, ao atingÍ:I maio:r desenv olvim en to, para em ou tubro se
comple tar, raiand o d e es cur o - pintona -. Em novembro escurece por inteiro,
com a côr se m elh a n te à das cas tanhas.
D epois, em princípios de de z embro, abrilhanta- se e aloira, ap ós a q ue d a em
perfeito esta do d e maturação. A ca ida é m orosa. varia n do d e ár vo r e para árvo r e.
em an ál ogas con d ições, aparentes pelo menos. A o passo q ue a de umas azinhei-
ras cai l ogo que amadurece, a d e o u t ra s conse r va-se po r dezembro fora e até
janeiro, e ai nda inde6nidam ente precisando varejar-se para se não a vela r e
recozer-se em cim a .
Mas d esd e q ue nasce a té amadurecer, quant a se: inutiliza com o g'ran 'iso
das saraivad as - ped risco - ou por efei to de d oen ça s, prin cip almente n a período
6nal da criação, em qu e síngn (cai) ev arí ede ,
A s ch u va da s de se te m b ro e outubr o a çoitam o emet os, d errubando-lhes pre-
ma turamente muita bo lo ta em ssrás - m eia verde. Mas nesta a ltura, já se n ão
estrag a em a bsoluto, po rque Q. ap roveita com ap etite toda a espécie de gados.
N enhum a des de n h a . em bora com peco - (dete riorada). E ainda um ma d ura ,
m a s pe nden te d a s á r vo res, so fre imenso com a s ge adas grandes a com pa n h adas
d e ven to do suão. E scane ves (co mo lhe chama o v ulgo) que d eixam a bo lota
com o q ue a rd íde . R.ecoz ida, d ia -se tamb ém. M a s só a p ende nte, xep i to. A já
caida n a d a sofre, an tes se conserva perfei tamente no chão não lhe chovendo
muito. Q ua nd o se molha grela, sim, um pouco mas estraga-se menos do que
estando ar recadada e amontoada em casa de pouca ventilação. Aí arde e sue,
isto é, ferm en ta e apodrece se não se beneficia com voltas amiudadas.
• . ..
o so b rei ro
produz três ca madas de bo lo ta : bas tão , Jand e e ien eirin lxs, q ue
s e distinguem pelo tamanho e época em q ue sazon a m . O bastão é grosso,
40
ATRAvtS DOS C A M P OS
Cortiça Casca g r ossa , fendida e bastante leve q u e rev este o tronco e pernada s
do sobreiro. Em atingindo um certo de senvolvimento, perde n a época
própria. (maio a a gosto) as propriedades de a d er ência, desa gregando- se f àcil-
mente sem prejuízo da árvore. À q u a l, d escortiçada u m a vez, passa a d ar cortiça
melhor, demorando a. criação d e ca da t iragem 8 ou 9 anos nos sobreiros novo s
e 10 o u 11 nos velhos~A p rimitiva chema-s e-Ihe virgem. eas sás ordinária p or
g r osse i ra. muito rugosa, servindo apenas para co m bus tí vel, inferior e desa gra-
d á vel. e para corti ços d e abelhas, na melhor das hip óteses. A das t ira gen s
subs equentes à virgem. d enomina-se amadia. t a cortiça p or ex celê n cia , aprecia-
d issima para diversas aplica çõe s. tend o p or i sso alt o valor n o mer cado .
Entre a. amad ia e o co r p o lenhoso da á rvore, existe um segund o r ev esti-
ment o men os g ro ssa qu e o prim eiro. q ue ve m a ser a casca prop ri am en t e dita ,
tamb ém conhecida por en tre -casco.
• • •
L ogo que o t ro n co d o so breiro a lcança a g ross u ra igual à àa p er n a d e um
h o mem o u m a is, u sa-s e d es cor ti çá-lo da virgem no tempo próprio, p re parando - o
ass im para a b oa prod uçã o corticeira. N o p é entende- se, e n ã o na s p er nadas
q ue continuam n o es tado prim iti vo, para só r eceb erem aq ue le ben efí ci o anos
depois, a pouco e p ouco. à medid a q ue se r obus t ece m. O de scorriçamen to per-
ma tu ro r etard a e prejudica o d esenvolvimento da árvo re.
D o principio d e junh o a fim de agos to procede-se à tira gem da cortiça p o r
conta dos comp radores, geralmente. com h om ens expe rie nte s as sa lar i a dos a 400
ou 420 r eis. Tra b alho s imples a qu e se procede co m o auxílio do machado.
Ap roveitando q u a nto p ossível a s Fendas n a t ura i s. go lpeiam perpen d icu la rmen te
nos sí tios a desco r tiçar e. à ca u t e la. de m odo a não feri r em o entre-ca sc o. E m
seg ui da com o cabo do machado e um pequeno impulso desagregam a co r tiça
que. dando bem, sal ta em ca nud os e pranchas de maio r ou m enor v olu me.
À pós a tiragem, reun e-se em g randes montões em can os o u à ca r ga e fic a
ai a enx uga r uns 15 dia s, se ndo depois aferida (apara da) e enfard ada em ccseais,
que, pesados ou não , se g uem para as fábricas e estações do ca minh o de f erro.
P or vi a de r egra este prod uto pe r ten ce aos senhorios d a s herdades. e n ão
aos rendeiros que só por acas o de le dispõem, se rep re se nta quantidade insigni-
Êcante.
C ostum a ser a cs rAs a u nidade aceite pa r a os cálculos da p rodução. e tam-
bém. às vezes, pa ra o preço da venda . C a d a carga regula pOI 8 a 10 arrobas.
- 4.1-
•
ATRAV J'. S DOS CAM POS
- 42 -
ATR AvtS DO S CAMPO S
Len has R esulta m dos cortes, dos desbastes, das árvores se cas e do ra izeme das
arrot eadas. Há diversas classes d e lenhas, q ue se podem englobar em
tr ês: a g r o ss a , como madeiros, pít ões, r ach as, etc.j a mediana. compreendend o,.
schões, achas e ra íz es ou cepa - e a miuda, representada po r acha s, p equ enas,
delgada s. Isto sem falar do chamiço ou cbapoia que fica da traça, à r oçadoir a ..
reb otalho de tudo.
O s madeiros e pítões s ão partidos a ma chado, ser r otes e cunhas ; as a cha s
e ach ões, a machado, ap enas, e a miuda à r oçado ir e o u pedes.
Como s e sab e, as lenhas d estinam- se a co m b us tível, já no estado n a tural,
mas ef eit a" (traçada) já reduzida a carv ã o p ara o ga s to local e abas tecim ento
dos mercado s de Lis bo a e o u t r os.
O g as to da lavoura, compreen dend o monte e dep endências, consome pa rt e
imp ortante, s enão t oda, co m o a contece nas h erdades d e montad os pequen os. Só
quem presenceia esse dispêndio pode faz er id eia da s ua i m p o r t â n cia .
N outro s t em p os em q u e ha vi a mu ito mais l enha e bem men os co mp rado res,
o s t erraço s d os m ontes era m o r namentados co m medas gigantescas, p it:âmida is,
de t OTOS d e todas a s dim ens õ es, ar ti sticam ent e erguidas pelos criados de lavo ura
na s vaSaturas. P or este m eio arma zenavam-se p orções a vultad íss im a s, que a ssim
p ermaneciam an os, até se derribar em p or ne cessida de d e con su m o. E a lém d a s
medas, amon toavam -se a esmo quantidades s em el h a n t es pa r a qu eim ar n os
p rimeiros tempos. Calcule-se, p ois, a q ua n to m ontaria a t o tali da de.
Àctual mente acumula-se muit o m enos lenha e economi za -se um p o uco
mais, mas ainda s e gas ta bast ante nas lareiras dos montes e na q u e s e dá e os
criados, p or costume, f av or ou condi çã o. E a es ta temo s de a dicionar a que os
m ate ir os furtam de fugida.
À s lenha s de azinho são as melhor es q ue s e co nhecem. A sua combustão é
d ura d oíra, intensa e odorífera.
Na da mais atraent e n o Alentejo d o que passa r o s erão d e um a n oite frí gi-
d í9Sima em vol ta da clássica cha min é, pro vid a d o b om l u m e d e azinho. Conforto
delicios o qu e d eix a a perder de vis ta quanto s fo gões se inventem .
Já li algures que a lareira u n e a lamílis e qu e o l ogão separa- a. Deve ser
assim .. . m áxi m o se o lume f ôr de azinha .
• • •
Ant es de s e desp ej ar o co rte, o carpinteir o, ou outro h omem habilitado, v a i
as sinar os pecs que pela s u a configuração especial s er vem pa r a «m a d eir a» - isto
- 43
AT tl.AVt. S D OS CAM PO S
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A TRA v t S DOS C A M P O S
* * *
Na s l enh a s e ca rvão - carvoarias - empregam-s e centena s d os melho res
jornaleiros d a s fre gu esias p r óx imas, co mo S ant a E u láli a , Assum ar , A legr et e,
Ar r on ches, etc., e tamb ém os de o u tra s di s tant es, s ob r et udo os do Pe~o, q ue
t êm o ep íte to de peAachos.
O s d e Santa Eulália passa m p or m uito des em b ara çados e sa b edor es, a.
p onto de sere m tradi cionais a s S U 8S a ptidõ es n o géne ro. Tanto, que, desde
temp os r emotos, os habitantes da q uela fre gu esia são a poda d os de carvoeiros .
A podo com q ue a lg uns bisonh os encor do a m, e de qu e os s ens a tos se r i em por
con hece re m o u t ros mais d epriment es, ap li ca dos a os mo r ado res de povoaçõ es
vizinh as.
* * *
D e ja neiro a junho, efe aem-se» as l en h a s. Cada negociante carvoeiro di s p õe
de uma, dua s e tr ês ( am ara do s d e 15 a 30 homens, ao salário d e 360 a 420 r eis
se cos p or eq ui meen a s» ou t em p orada s d e 13 ou 21 d i a s. A a lteração de preços
56 se efec tua n o começo da q ui nze n a à seg u n da-fei ra d e man hã. A s ta be r nas
da s loc alid ad es a cumulam n esse di a as f u nções d e bolsa para a co tação do se l ã-
tio. P or ent re a matadela do bicho, com u m Aovern o de aAuarde n te o u duas
decilitradas, so be m o u d es cem as ofe rtas dos m ana g eiros. r egulad a s pele. ca rê n -
cia do pessoal o u pela abundância. n o caso de baixa.
A alta tamb ém às vezes deriva d o á lcool q ue esquen ta o m iolo d os encar-
re gad os basõ fias . A pinga e a em ula çã o predisp õe-os a. desp iq ue s de ofertas. a
ver qu al apa n h a melhor familha , sobretudo se têm ousadia (carta br an ca ) dos
a mos. O s a ss is ten te s ouvem as pro pos ta s mas nn~em·se m oucos, p a ra entrete-
rem te mpo e fazer jogo. Quando m ui to, dize m : «Vou para q u em mais me
de r . .. » «Q ua n do o p au dá, ti r a -se- lh e a ca sca, etc .».
E n i sto passa m a m anhã, a «fazer em praça» e b ebenicarem em gran de
al g8zaII8, a t é que , meios tor t os, se decidem a sair, seg uros de q ue o preço não
trepa ma is.
Ajustados fin alm en t e, vão a casa, aviam os man timen tos, e, em conclusão,
lá marcha m para o t ra balho, de ser tã na mão, e saco às costas. A sertã é
utensílio típico.
As m ulheres e m ã es d e a lguns acomp a nham-nos à saída pa-ra se certifica-
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ATRAvtS DO S C AM P OS
Carvão Cada camarada, com se u ma na gei.ro, faz a traça para carvão, dividida
em gru po s a trab al h arem n o m esmo corte. Um deles munido d e
c unh as, e lvl ôes, marrã o, s err ote e «ma lhos» (machado s), co r ta a lenh a g ross a,
co mo ma deiros, pitões, pernad as , etc . O s madeiros custam um tra balh ã o insan o
e p aciente, qu e s ó a veríeis co ns u m a da consegu e abrevi ar.
O u tr o g rupo, s õmente co m os m ach a do s, prepara d e p ro nto e a gol p e
certeiro os a ch õ es e acha s, e a in da outro ou o mesmo, ma s à r oçadoir a (p cdoa),
l eva a eito e de firm e a r estante SQnda ia miud a e o q ue se pode apu r a r da
chamiça.
Simultaneamen te, o u n o fim, t od a a l en h a p r epa r ad a acarreta -se em carros
de muares e bo is p ar a os diferen t es sít io s d e «boa cai d a » ( baixas ) em q ue s e
h ã o-de erguer os re spectivos fornos. P ara ca da um di st ribue m- s e de 30 a
60 ce rre dee.
O s qu e :ficam com vin t e o u m enos, chamam-se-l h es bagageir os. Cada f or n o
empina-se p el o seguin te m o do : Prim eiro [e e- s e- lhe a «ca m a» col o ca n d o na base
os g ra n d es ma d eiros, cujos inter val os são preenchidos pelos peq uenos. D ep ois,
sobre a l enha gro ssa, o s e ch ões, 8 S acha s, e p or último a gandaia miuds, pre-
viame nte desbilrada, i st o é, corta da em pe d a cinhos, ali m esmo no a cto da enfcr-
n a cã o. C o m ele s s e preen ch e e rem a ta artistic amen te a superfície do forno-
fig u ra oblon go com um p equ eno vão n a base que «r es pira » p ela eb oee s e ecc e d e» .
C oncl u í d a a em p in a çã o, aterram-se ou tapam-s e os for nos em t ermos de s e
l h es largar lum e e ee rdeeem » por 15 a 20 dias, que t anto d emora o período da
ca r bonização, ch ama d a co zimenta. D u r ante esse tempo adop tam -se a s precisas
ca utelas e vigilância s, d e mane ira qu e, s e por acaso r eben ta o f orno, irrom -
pendo as ch a m as, se possa a ba fa r i mediat am ente com m a is teua, pa ra evitar
prej u íz os to ta is ou parcia is.
Ap ós a cozimen ta , extrai -se o carvão a p ouco e p ou co, sepa r ando -o d os
t Íç os para i r a r refecendo e se apro nta r a imedia t o tra n sporte em sacas ou a g ra nel.
'I'í eos, chamam-se aos p ed a ços d e lenh a ma l carboniza da q ue por Iss o te m
d e ser r ecozida .
P ara o car vã o s air b om é neces sário ficar b em cozido, o q ue se conh ece s e
de r toada d e si n eta quando cair um no outr o. E o superior, é o de canudo, de
a ch as me diana s, prefer i n d o- se o d e a zin ho ao de s ob r o. P o d en d o s er , as l en h a s
de ca da, são enf orn ad a s ê pa r t e.
Desde o largar d o lu m e até fin al, este f abrico con fia-s e a homens exper i-
m en t a d os - os Iorne i ros - sendo o de ma is con .6ança a rvorado em mestre. Cada
negoci ant e em prega doi s ou tr ês fo rnei ros, à iorn « de 450 a 600 reis se cos.
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ATRAvts D O S CAMPO S
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ATR AV t. S D OS CAMPOS
• • •
No ut ros t em pos havia h om en s «en te n d idos» , a f amad os, a q uem os l av rado-
res in cu m bi a m a avaliaçã o das bolet inhas.
Era q u ase sempre trab alh o g r a t u i to. mas ho nroso. O v u lgo q u e via os
avalia dores atravessando os montad os a. mirarem as azinhei ra s «co n t r a o sol»
para. lhe ve rem b em o fru t o. olhava - os com resp ei to com o hom ens de ti n o, d e
lume no o lh o e tacto na cabeça. E eles, ven do -se a lvo de r ep a r os Hscnge i eos,
s en tiam -se u fa n os a f a z er os en ca b eça m en t os. D epois davam conta da i n cu m -
bência. em t er mos claros o u a m bíg u os conforme ss con vicções q ue sentiam .
S e acer t a va m , cres ciam-lhe os crédit os; se erravam, h avia m pr et ex t os d e
sobejo p ara j u stifi ca r O en gano.
J osé Fra n cis co M ou ra, la vrad or no te r mo de Arronch es. foi o avali ador de
maior n omeada no seu t empo em todo o d istri to de Portal egre. E.ra um h om e n-
zar r ão. sobre-negro, de meter medo a um exército, com força p rod igios a , q ue
só se empa relh av a à s ua g ra n d e bonomia e gén i o ga lh of eiro. C o n t a-se que d e
uma vez tirara a pul so d e um po ço um novilho de 2 an os que para lá havi a ca i do.
P elos introítos d o S. M ig u el e depois er a curios o o uv i-lo e v ê- lo esca rra n -
chado em bojuda égua, de m onte em m ont e a i n for mar os com p a d res e ami gos.
T odos o escu tava m com particular a grado n ã o tant o pelos in f or m es que pres -
t ava como p elas f a céci a s qu e dizia. P or en tr e 09 pinches (co m pu t os] q ue botava
a este ou aq ue l e montad o, saia m - lhe àp e r t es pica res co s e historieta s das suas
ealervidades» em fo rça s. co m o el e próprio as elas siíiea ve. Um a legr iste o riginal,
faz endo gala em p assa r p or «bruto», se m o s er. O i nv erso d e mu it os . . •
A o p r es ente procedem às a valia çõ es os g ua r d a s d as h erdade s r espectivas. 0 5
porqu eir a s betíd os, n os t erren os. e até o l a vra d or.
A prá ti ca, como o estar- se m u i to v isto n os matos, a observação const a n te,
e, sobretu do, a comparação da novi da d e ex ist en te com outras ant eriores, ha bi-
lit a a cálculos melhores do qu e o do avali ado r d e ocasiã o que, emb ora , peri to,
erra com fa cili da de.
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ATR AV-tS DO S C A MP OS
fRUiÇÃO
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AT RA v t S DOS CAMPO S
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ATRAvt s DOS CAMPOS
até dez ou vinte de fevereíro 1 Se demoram mais, entraram tarde, ou lhe encur-
taram a comida em principio.
Quando a bolota a caba antes do m eado de janeiro, o g a d o sai ordinària-
mente «por fazer », em nutrição incompleta. Ou a comida foi menos do que s e
calculava, ou o s porcos ex cede ra m a o en ca beça me n to.
Segund o u so: - Aproveitamento com «s ad o de vida », corridas e porcas
de criação.
N estas circ un s tâ ncias n ã o s e des tina piso ne m solu.
O s rebanhos correm o «m a to» em v oltas con stan t es. a tr á s ou a d iant e d os
porque iros, que d e va rejã o ou m anganilha em punho ba te m o arv oredo, q ua n do
a boleia l h es es casae ie. N ece ssida d es ba s tante elás t icas por v ia de reg ca, m as
sem pre de valor e im port â n cia mui tf sa irno m enor q ue a s d o da «ve re».
Aos bécoros d â- se-Ihes a m ante rem -se r eg ul a r m ente, p ara crescerem e
m edra r em. C om os Jarroupos e porca s n ã o há somb ras d e gene r osid a de . C omem
«por tempero», «a co nso lar». O ba stante para s e irem «sustendo» em te r m os de
pa ssa di o sofrível. Tant o , que em a bolo ta ca indo m u ita d e r ep en t e. ao efeito d e
v entani as e chuvad a s, enc urtam-se as vo ltas, rest ringi n do-as q u an to p o ss ível.
Mais podia acrescentar s obre a cria ção e engor da d o s porcos n o s «matos».
M a s iss o cabe melho r na pa rte q ue t en ciono d ed i ca r a o s g ados. Aí relatarei
pois esses de talhes com o d es envolvi me n to q ue m erecem . O s qu e d eixo referi-
d os, sai r a m por a s s ocia çã o de ideias e f actos q ue não p odi a esqu ec er a g ora .
R esta o a pa n ho.
A l ém d a bolota existe nte nas parcelas do solo. evita das dos porcos,
recolhe-se mais a seg uinte : a d a s ribanceiras dos r ibeiros, para não se r a rras -
tada pe las cheias j a das est radas, s ubt raindo-a à cubiça dos tra nseuntes, e por
último a das semeadas (searas), se o d on o não manda «comê-la» com os porcos,
pelas manhãs de geadas intensas em que a terra está d u r a, inacessível à f ossa .
P or t ant o em condições de se n ã o est ragar a sementeir a com a passagem dos s ui n o s.
O apan ho efectua -se com mulh eres, de dezemb ro a fev ere iro, a o jornal d e
140 reis (secos), o u de emprei tada a 15 o u 20 r ei s o a lqu eir e. P or emprei t ada s6
s e t om a no arvoredo basto d e boas solad as .
P or u m o u o utr o aj uste. f or mam- s e r an ch o s na s al d ei a s, que saem pa r a os
m on te s durant e sema nas e q uinz en a s. O mulh erio m a r cha s e ri ef eitc, p r inci-
palmen t e as solteiras. B em s abem que o se rviço l h es prop o r ci on a rá ser ões
estú rd ias e baila r ico! a legr es com os ra pa z es qu e nam oram . F dizes criaturas
que ap ôs um dia de t raba lho, m uitas vezes de ch u va e fr ic .in te n s ísai mo, ain da
s en te m pacho rra , pa ra se entrete r em co m fo lias 1. ....... . . ....... •. ... . . .. . ...
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ATRAvtS DOS C A H P O S
para secarem a b olo ta ao calor de lumes brandos. Avela va m-na, e por conse-
guin t e pre paravam-n a em condições de conser vação dem or a da. V iam niss o
m elhor sist ema de ap r ovei ta m en t o pelo an o fora.
Hoje está banida a usa nça, por ser desnecessária, atenta O aumento do
consumo.
CO NTING ~NCIAS PREJUDICIAIS
8ol eteiro s Assim se classificam os homens que, no temp o próprio, t omam por
indústria os assaltos aos montados para furt os importantes d e
b ol ot a que depois vendem como sua. P or enquanto só lhes dedico a referência .
No capítulo Mal/eitores terão as h onras dos pormenores.
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ATRAvtS DOS CA~IPOS
LONGEVIDADE
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ATRAv t S DOS C AMP OS
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ATR A VeS DOS CAMPOS
agrupamentos, que de m odo algum sig nincam classes nem categori as mas
núcleos distintos p ela natureza d os s er vi ços que d esempenham.
O p r imei r o agrup a m ento comp r eende to d a a família empregada no ama-
n ho das terras, ac a r re tas. eiras, desm o ita s e ou t ros trabalhos, com exclusão das
ceifas e gadanha s. Engloba p ortanto a ABn itaTia, os cerreiros ou almocreves e
a carraça.
Por Aan b aTÍB ou malta, entende- se o troço de ho m ens - Aa.nb.ões - em
número indeterminado, qu e em todo o a no se o cu pa p rin cipalmen te n os se rvi-
ços cultu ra is e cor r ela tivas, à exce pção das ceifa s. T opa a tudo p or assi m dizer,
não obstante ter a s eu exclusivo en ca rg o, a s fainas j á aludida s. O chefe da
8an b aria é o abegão, qu e te m p or imediato s u bs tit uto, o s ota .
O s carreiras tra balham com as par el h a s de m uares, nos labores do carro e
arad o. A o enca r r ega do , ch ama- se maioral d as m u las, e ao imediato. aju d a. Os
restant es são caueiros rasos.
R esta a carraça. qu e é a penas um desdo b ra mento da ganh aria, m ais ou
men os te m porár io . Organiza-se com a ge nte m enos válid a - r apazes e velhos
q ue se aprovei ta m , em s eparado, para a fazer es de po uca m onta a q ue a ma lts
não pod e atender. Tem po r governante o sota ou qualqu er de co nfiança e
p rést i m o.
A constituir o segundo a grupamento estã o aqueles qu e n ã o intervêm DOS
t ra balhos a grícolas m a s em outros diversos e i mp or ta n tíssimos, como o gu a rda
d e herdades, carpinteiros, cozi n hei ro. amassador, et c.• etc.
No terceiro, figura o pess oal transitório, ou melhor diz en d o a qu el e q u e só
desem penha misteres especiais, de ocasião. res tringidos a determin a d as épocas.
D os Aanadeiros (homens ocupados exclusiva m ent e na pastoreação d os
gados manadíos) forma-se o quarto g rupo, que s e por ve ntu ra é menos n um e-
r os o, ne m po r iss o di mi n u i d e importância quanto à escolha e respo nsabilidade
dos 'lu e o r epresentam .
R esumindo: um a lavoura b em m onta da, com plet a e composta de «t udo
qu e lhe é dado» ocup a o seguinte gen tio:
CRIADAGEM PERMANENTE
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A T RAv t s D O S C AMP OS
PESSOAL TRANSITÓRIO
SOLDADAS E SALÁRIOS
H á sol dadas de dua s cla s ses : uma e rrtigu, tradicional, exclusiva do s criados
de an o, de pensão. C ompreende verba em reis e vár ios acn eAas o u avenças de
cobiçado apreço com se ara s, pão na eíra , l en ha, p egu lhe is, etc. O q ue tud o s e
designa também por adições, propinas, squidedes, forra s, etc.
A outra usa n ça, de solda da a dinh eiro s omente, restring e- s e a uma quantia
fixa em reis , e está m ais em voga pa ra com os t emporeiros men sais. e alguns
àe ano sem pensão de v ulto.
O s vencimentos em r eis, a inda se baseiam numas tantas m o edas de ouro
(valor antigo de 4$800), u nid a de s de h á muito abolidas mas q u e parece eterni-
zarem·se pr õ-Ier ma nos aj us t es d o s criados de lavoura. Principalmente nos «d e
ano•. Nos de tempora da e m ese s já s e convenciona por mü reis. E. n os d e entre
uns e outros, também sucede falar-se em libras, costume que deverá p erder-se
brevemente porque n u nca chego u a arr eigar-se, nesta ordem de contratos.
A s soldadas com searas e ad ições várias, sã o as preferidas pelos s erviçais,
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A T RAv t s D O S C AMP OS
PESSOAL TRANSITÓRIO
SOLDADAS E SALÁRIOS
H á sol dadas de dua s cla s ses : uma e rrtigu, tradicional, exclusiva do s criados
de an o, de pensão. C ompreende verba em reis e vár ios acn eAas o u avenças de
cobiçado apreço com se ara s, pão na eíra , l en ha, p egu lhe is, etc. O q ue tud o s e
designa também por adições, propinas, squidedes, forra s, etc.
A outra usa n ça, de solda da a dinh eiro s omente, restring e- s e a uma quantia
fixa em reis , e está m ais em voga pa ra com os t emporeiros men sais. e alguns
àe ano sem pensão de v ulto.
O s vencimentos em r eis, a inda se baseiam numas tantas m o edas de ouro
(valor antigo de 4$800), u nid a de s de h á muito abolidas mas q u e parece eterni-
zarem·se pr õ-Ier ma nos aj us t es d o s criados de lavoura. Principalmente nos «d e
ano•. Nos de tempora da e m ese s já s e convenciona por mü reis. E. n os d e entre
uns e outros, também sucede falar-se em libras, costume que deverá p erder-se
brevemente porque n u nca chego u a arr eigar-se, nesta ordem de contratos.
A s soldadas com searas e ad ições várias, sã o as preferidas pelos s erviçais,
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ATR AvtS DOS CAMPOS
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ATRAVI!. S DO S CAMPOS
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A T R A v t s DOS C AMPOS
* * *
C om o d isse, são os a m os ou s eu s representantes qu em ac omod a m os cr iados.
O s que t êm e desejam con s er ve r, e ai n d a os estranhos qu e precisam a dquirir.
Quant o aos que saem d e uma lavoura e pensam servir no ut ra, par a onde
nin guém lhes «fa lo u», usa-se irem el es à cata d e arranjo. oferecendo-se e tra-
l an d o..se com O novo amo. Ma s ta n to la vradores como s erviçais não se di rigem
logo d ir ecta m en te uns aos outros para o efei to do aj uste. Em da d a s circunst ên -
eias o negócio ca r ece de segre do para qualqu er dos contra tan tes ou p ara os dois
mesmo, já porque o lavrador suspeita de u m coleg a com análogos p r opósitos,
já po rq ue o serv o r eceia n ã o obter o lugar cubiçado e d epois Êca r t a mbém sem
a qu ele em qu e se em p rega . C om o os cães de B orba . . . C oisa prová vel s e O seu
an ti go amo so ube r que p roc urou outro.
P or co ns eq uência, qu a ndo oco r rem tais dúvida~ e re ceios. servem de inter-
mediá ri os n os perliminares d o ajuste os serviça is de confiança q u e «nca m'»l
como ab eg ão, maioral das m u la s, etc. C om ission a d os estes que se pelam p or tais
inc umbê n ci as . T od os a aceitam, pro curando facilitar ou imp edit o contrato. con-
f orme os sentimentos qu e nutrem pe lo fu t u ro camarada. O am o dá - lhe o d evido
desconto e faz o que lhe parece.
t d os bo ns costu mes n enhum la vrador s ério «desafiar » criados de confian çe
d e ou t r em para os emprega r n a mesm a o u se melh ante oc upa ção . O estilo manda
q u e só s e «fa le» na maré p ró pr ia a q ue m se sabe o u consta que sa i. Antes e
nou tr a s circunstâ n cias é fei o e d á nas vi stas.
Mas se n o d ecorrer d o a n o u m lavrador precisa de algu ém p a r a p r een ch er
va ga ext ra or di n á r ia e para isso se lembra d e um jeitoso ac omodado po r fora em
ob rig a ção de categoria inferior, ped e ao amo respectivo lho dispense. e só dep ois
da ced ência l h e manda falar. O procurado. «se sabe on de ca em 8S coisas» (se r
co rtês) não se ajusta definitivamente sem ter «u ma atençã o » com o Brno antigo.
Na região elvense qu an do um serviçal se a justa e fala no a ssun to, di z: -
«E st ou acom odad o. ( ou tretedo),
N outras variam de term o, exprimin d o- s e assim : - «E st ou concertado ». De
maneira qu e acomodar e con certar s ign íji ca m em d ialecto rural al entejano, o
a juste dos criados com os lavra d ores.
.. . .
Àos an u ais. seguem-se os temporeiros, Para o efeit o da sua acomoda ção o
ano agrícola divide-se em três t emp or a da s : a p r im ei r a - a da seme nteira o uto-
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ATRAVÉS DOS C AMPOS
nal - pri n cipia p elo S . Mateus (de 21 a Z;l de s etembro) e lin aliza a i pel..
•Senh ora da C onceição o u N a tal.; a segunda - a do a lqu ei ve e sementeira s de
tremeses - principia imediata m en te à o ut ra e t erm ina n o cabo de m a io; a ter-
ceira e última - a do verão ou das eira s - va i desde o começo de junho até 20
de set embro à noite.
A tempo rad a do alqu eive u sa-s e s ubdivid i-la em d uas épocas : a prim eira
desde o começo até fins de Ievere íro ou m a rço, q ua n d o mu i to ; a segunda todo-
o período tes tan t e. A sub-divisão t em p or único :fim a dif erença do preço por
mensalidades - men os n a p ri meira época e maio r n a segunda.
E is os preços co rresponde ntes às três tempor a das p or ca da ga nhã o e mês:
S em enteir a: - 4$800 a 5$ 500 rei s. Alqu ei ve : - 3$600 a 4$000 r eis de deze m-
bro a fins de feve re iro e 4$500 a .5$000 r eis em m arço, abril e ma io . Verã o -
cinco mil e qu in h entos li se is m il r eis.
P r eços estes que se refe rem a 8anhões rasos de m â osei ra e não aos de
maior es responsabilidades, que vencem mais e em p roporção com a im port â n ci a
do encargo.
O ajuste re aliza -se dias an tes da temporada ou já em principio. Às contas-
ou pagamentos finais, efectuam-se no primeiro dia feriado s ubseque nte ao fim
da época, excepto nos que respeitam à do verão que invariàvelmente têm lugar
no dia 21 de setembro ou na véspera à noite. Assim como aos anuais de pensão
costuma falar o lavrador, os de temporada são apalavrados e justos pelo s
f*overnos» respectivos (com prévia au tor iza ção do amo). D e maneira que aos
*anhões fala o abegâo ou o sote, e aos carre i ro s, o maio ral das m u las. O preço
é ou não estipulado no acto do ajuste. À n tiga m ente tod os se acomodavam sem
preço, sujeitando-se ao que 05 lavradores fizessem n o fim. Hoje a dopta m -se
outras normas m ais racionais. Ou se a comodam a «preço f ei to» ou se conve n ciona
:PB ~9.t e receber pelo maior qu e se «ab ra» de entre os das lavouras vizinhas.
P ar a o serviçal o ajuste fixo e antecipado não passa de uma ficção . S e depois
subir para os companheiros da mesma lavoura ou dos de outras próximas, ele
abala ou exige o excesso. E. não se estranha por ser co r rente. O criado «é pobre
e não pode perder».
Mas se se der o inverso, isto é, se o amo ajustar por exemplo a cinco mil
reis, e depois outros pagarem a quatro, o dos cinco tem de cumprir a palavra.
N ão será coerente mas é corrente. E por isso também se não estranha. À pro-
-pósito: notando-se um dia em palestra de lavradores, esta falta de reciprocidade,
um dos mais velhos, observou com espírito: - «N ós tratamos, mas eles os
criados) conversem. Portanto as «fala s. deles são vozes ao vento» I. . .
Anuais e temporeiros, embora se ajustem por épocas fixas que em bom
direito tinham obrigação de cump rir e encimar, abalam quando q u erem por
futi lidades e caprichos, sem atenções para com os amos ou quem os representa .
P or isso 05 que as sim saem não têm direito a recebe r a soldada vencida antes
do d ia das con tas gerais.
O s chamados governos só «par t em o a n o » por m otivo forte, excepcional.
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ATRAvk: s DOS C AMPOS
«Nosso Senho r lhe d ê mui t o p ala de r a ga n h a r aos pobres ». Ou por este out ro
modo: - . Deus nos d ê sa u de, meu a mo : a vocem ecê para o dST, e a mim par a
O gan har». E o a m o red a rg ue-I h e : - . O br ig ado. D eus te o uça>.
Se alé m das so ldadas têm re cebido do amo quaisq ue r fav ores im portantes
usam muito da seg uinte frase: - cN 05S0 Sen h or l he pague. q u e eu não so u
capaz. - E como não é capaz, endossa a le t ra à Divindad e, :ficando qu ite com o
amo e de consciência tra n q u il a para não mais se lembra r d o obséq uio. Inter-
pretação ch istosa de u m falecido lavrado r qu e m uitos factos corroboram .
N ão obstante é claro q ue agrada sempre toda e qualquer expressão d e r es -
peito e reconhecimento, por banal que seja. O s criados antigos não se exi mem
ao cumprimento desses deveres. O s novos já afinam noutro diapasão. O maio r
número e$tá nas t in t as. para semelhantes etiq uetas.
• • •
U ltimadas as cantas todos se vêem com O se u pecúlio . Mui tos vão 1080
pagar o rol ao sapateiro e os bicos que devem pelas vendas e lojas. t um dia
de pagam en tos e cobranças em q ue o dinheiro gi ra a rodo n a s aldeias como em
nenhum outro do ano. Abe nçoado S. Mateus I. . .
À tarde ou no dia seg uinte de m ad ru gad a, a mos e criados t od os ma rc h a m
pua a romaria e feira do S. Mateus, em Elvas. O s se rviçais vão celebrar com
folguedos e farneis o mourejar de u m a n o in teiro. A li , nos s ubúr bios de E l va s,
no Senhor da Piedade e no rocio do Calvá rio, expande-se em grupos m ulríccres,
um povo trabalhador, n a legítima folgança d e h ora s fullidias que lhe parecem
minut os. Junto dos churriões e ou t ros «ca rros t a pa dos» que pejam a te r rado.
estendem-se os pa nos alvíssimos e come-se à farta . em grupos d e famílias, com
íntim a satisfação. À noi te r egres s am aos lares, e a 23, de ma nhã, i niciam- se a s
lidas elo novo ano a gr ícola, volta n do to do s aos hábitos no:rmais.
O s moços começam logo a pens a r na pân d ega do «S. Mateus » que ve m .
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ATRA V t. S DO S C A MP OS
intermediário, é uso geral durante as s emen teir as e também n o tempo das eiras
em algumas zonas. No resto do ano ajusta-se e paga-se no fim das s ema nas e
à forne, fix a po r ca d a dia, pagando o lavrador ou o abe gã o, se este re cebeu do
amo. Como quer q u e s ej a o a begão assiste ao pag ame nto e, sen do preciso,
informa dos dias que tem cada jor n alei ro . Ào mesmo te m po . 80 ent re gar-lhes
a [orrre despede-os logo, se 05 n ão quer, Mas se p el o contTário Ain da os precisa,
tro ca im pressõe s com eles. para lhes con h ecer o prop ósito. Cos t u m eir a banal
de si mple s p alavria do. S ó depois, pelo dia fo r a e à tard e. nas taber nas e po n tos
d e r eunião das alde ia s, é que ebeg fies e sot as falam a «p recei to» à gen te d e que
precisam, ab ri nd o- lh es ou não o preço por qu e h ão-de sair.
No tempo das sementeiras e D O do verão é d emorado o a j u ste. O trabalha-
dor, ou só se d ecide à última da hora, a guardando m aio r ofe r ta, ou trata-se
s em preço, mas com a condição de receber pe lo mais alto q ue se pagar. A maio-
r ia não sai sem preço feito e assim mesmo só o aceita quando vê que não pode
obter mais.
N o ve rã o, e n a freguesia d e Santa E ul ália, os salários n ão s e d ett.n.em
antes da man hã do d ia seguinte a o da fo lga, na p r aça d a a ld ei a, on de a fam ília
se jun ta a discutir o caso. Ali «fazem p r aça», ouvindo as ofer tas dos governos.
por ent re os co me n tári os de ocasião. Dura isto até às sete o u oito h or a s da
m a n h ã em q ue se decidem a sair para onde m el hor lh es apré s. O trabalh o pré -
xim o, a si m pat ia pelo ab egão, e o bom trato em alime n taçã o constituem moti-
vos de p referência .
C h egados a os s er viç os consideram-se just os, m as por qu alquer n in ha r ia
quebram o com p ro m is so e partem a semana ou quinzena, abalando à. su rdi na
sem se qu er participarem ao abegão. O que às vezes motiva trans torno. M as
como é u sual pouco se estranha, e tan to me nos porq u e os que saem h oj e' de
uma casa , d ia s ou seman as d epois vo ltam para lá com igual semcerim6nia. E-
como as aba ladas são frequ entes em todas, e os q u e dese rta m de um a s lavou ras
vão logo pa ra outras, subarituí nd o-se assim reci pro ca m ente, a s vagas dep ress a
s e preen chem. H á a pe nas mutuaçã o d e ca ras, sem va ntagem para ninguém.
D e in verno a centu a-se a estabilidade. n ão s e discutindo preços. Va i-se com
o tem po, q u e é o d o. ebibe - u ma av eaira, mageisela e h umilde, q u e em bandos
arriba entã o ao Alentej o. Depois, d e a bril em d iante, «q u an do ve m a rola e
canta o cuco», à família pica-lhe a mosca n ão parand o em rem e verde. D e
mansa que esta va passo u a bra va, tão b rav a, q ue aos ad juntos d os do mingos e
segunda s-feira s para os ajust es da semana. por vezes se lhe ch a m a m touradas.
F orça de ex press ão, es tá claro.
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PESSO AL DA LAVOU R A
(E..cuhu ru cm madeira de CapeI. c Silu)
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A TRAVt.S DOS CA M P O S
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ATRAvts DOS CAMPOS
«Homens sem eira nem beira, que só possuem pau e manta». Uns valdevinos,
que nada têm a perder.
No concelho de Elvas todos os guardas de herdades possuem alvará de
guarda rural passado pela municipalidade, o que lhes dá o direito de acoima-
rem por transgressão de posturas. Por esse facto gozam o privilégio do porte
de armas gratuito.
As lavouras muito grandes, ou de herdades dispersas. sustentam dois e
três guardas.
h) b C..... po MaJor clllllll-.t-lh••ptindor. d'll ilo·..., o 11011111 1111 . lId l 0 ' 0 cupfAtd r o 1111 cu:ro• •
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ATRAVÉS DOS CAMPO S
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A TRAV :t S DOS CAMPOS
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ATRAV J'. S DO S CAMPOS
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n u n s, com o gado pr eso por ho ras, n outros. à so lta, con for m e a ép oca, o
costume, os r ecursos pascígoros, et c.
P o r conseguinte ten do d e es ta r «de v eJa» a m aior parte da noi te , enrou-
pa m -se quanto podem. À o vest uário comum ndi ccionam o clássico pelico, a
pelica, os salões l a n zu d os. o t apa-c u e ai n da o casacão ou capot e a gue deirc de
burel. Assim ensnme rr edos, munidos d o gua r d a -chuva e z u ] (in ovação recent e)
e do indispensável cacheiro (ca jad o), passam a noite de ê lerte, ex cepto nos
i ntervalos de descanso . O q ue med ei a desde a socegB, à ent rada da noite, até
às 10 ho ras. e o da m adr ug ada. N o tempo resta nte, m a l d or mi t a m cabeceando,
se tomam a s ério a t reites çgo d os anim a is.
N a s h oras d e d es ca n so, d or m em em qua lq u er abrigada de ocasião, on de
acendem Iume. À í, ao rel ento. envoltos n a cop a, esticam-se, de forma que os
pés, resguar da d os pelas bo tas o u sapatos d e a t a nado, recebam o cal or da
fo g u eira., único meio de atenuarem o ri gor do frio. Mas mesmo então.. por vez es,
inte rro m p em o re po u so para cuidarem do gado.
Às 10 h ora s levantam- no para repasta r livremente n o pr óp rio inverna-
doiro. ou para o ch egarem à palha , ao f en o, rama , etc.
D ecor rid o o tempo do repast o, costuma-se ap a r tar o r evez o da manhã
.ao da te rde, para ass im em separad o descansa rem de n o vo . É a ho ra da
madorna .
E nquanto o gado nmedor n o, o ajuda pega n o competente tarro de cortiça ,
põe o cacheiro a o om bro e vai ao mo nte b u scar a assorda para ele e o m aio ra l
almoçarem no mesmo t a rro a li arrimados a os b ois.
N o a ct o d a aparta ção, s ucede em n oites esc u ras tempes tuosas, f a lt a r um ou
outro boi q ue se es capo u ac ossad o pelo tempo ral o u qu e po r 8u los o f ugiu para
melhor pastagem o u p a ra algu m a folh a.
S e o ext r a vi a do p er t en ce ao r ev ez o da manh ã, pr es t es a ir t ra b a lh a r , ao
ajuda compete procurá- lo e tr a z ê-lo imediatam ente. D ada a hipótes e, a missão
considera-se es p in h osa, atenta a es curidão da n oi te . Mas como se i mp õe, o
boieiro p arte a des em pe nhá- la, espere nd o au xíl io no chocalh o do fu git ivo, cu jo
toqu e conhece d e l on ge como os dos ou tros d as demais r eses. Sem embargo
pragueja-se e maldiz a oficin a e a h ora em qu e a e ge rr o u.
Pross eguindo nas sagas do bodio, aqu i se ata s ca, além caí, adia nte tro peça,
a col á esbarra, mas l á seg u e de trouxo mO ChO, caminhando e es cu t a n d o, es cutando
sempre .. . O u ve enfi m u m chocalho . . . Escuta . .. é o d el e, o do slmodiçoedo
que o fez and ar às a r a n he s, ao s baquinázios, a l t a s h ora s da noite, esc u r a com o
bre u I. .. - «A h boi de um fil ho de curta / . . . j á mos pagas / . .. » - exclama o
encolerizado homem, apr essa nd o o p a ss o, até l obrigar a r ezo
O boi, ouvindo a quele vo z tã o s u a con h eci da , levanta a cabeça, e, instinti-
va mente, p ri ncipia a caminha r em direcção à s camos d os companheiros. Mas o
guarda do r nã o lha perdoa. C o m o le mbrete d irige-lhe no vas e mais re tumbantes
ameaças po r en t re cache íredes certeiras que alcançam o fu gitivo; este, es cara-
mentado e r eceoso, ab re via a marcha, submentend o-se em abs oluto .
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PESSOAL DA LAVOURA
(Escultl;Uu ~l:I1 mad~ir. de Cape i. c Si h·.)
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A T R A V :e S DO S CAMPOS
e m cuidados incessantes, s e p rolo ngasse pelo ano inteiro. Feliz m ente não se
prolonga além de março.
A prim av era e o estio, ga r antem a os rústicos b oieiros algu m as se m anas de
«boa vida », em q u e s e d esf orram d o passad o num rep ouso tran q uilo. D e dia
principalmente, d ormem horas e h oras, de han'íg a para o ar, à sombra agra da·
bilíssima de azin heiras ra m a lhuda s. Apa rte o p eríodo d os aeaer etos, t êm então
um a te m po rad a de d escanso, l egítima i ndemnização d e pass a dos sofrimentos.
M er ecem -na bem, coitados .
. . ...... . . .. . . . . . . . .... . . . . .. . . . ... . .... . ........ . ..... . . . . . . ... . . ... . . . . .. .
Soldadas: s en do a dinheiro r eg ulam en t r e 84 e 86$ 400 reis por ano e
hom em, ou seja a moeda e meia p or m ês. Outr os ve n ce m seis ou oit o m oedas
(28$800 a 38$400 reis) e 60 a lqu eires de trigo ou cen teio. Tendo na s ea r a e pão
na eira (costume quase b a nid o) gan h a m 14$400 reis, sea r a s d e se i s a se t e
alqueires de s emeadura e 40 alqueires d e trigo o u um moi a d e cent eio. No ut ros
casos f a l t a a s eara e o p ã o na eira, mas cada boieiro ve n ce o pegwlh e.l de uma
j u nta de no vi lhos. C ad a um compra dois b eze rro s de a no, que vende a os d oi s
a n os, lucrando o. diferença de preço.
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ATRAV t. S D O S CAMPOS
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A T RA v t s DOS CAMPOS
Ajuda do maio r a l das mulas É o s ubstit uto do maioral para tod os os efei-
tos . C omo ele . t ra balha i gu al m en t e com uma
parelha boa , cum peindo -Ib.e coadj uva r o s eu chefe e camarada em t ud o q ue lhe
est eja a o alcance. G a n ha un s 72 a 78$000 reis an u a is, ou menos em dinheiro e
coisa d e 30 a 40 a lquei res de t rig o.
G era l m e nt e, o aj uda costum a ea n d ar» com a pa re l h a que pucha a o carro,
de cómodo pessoal pa ra o l a vra do r e sua fam ília . E sta circust ân ci a, se p or u m
lado lhe cer ceia um po uco as fol S8s d os d omin gos e o o briga a t ra ja r m el h or
Das oca siõ es de sai da s com os amo s, po r outro , p ropo rci ona- Ib.e muit os mais
di as de buen e , d esf orra ndo-se à g ra n de, com [a rtas co meza inas in eren t es à
ocupaçã o . S ai r com o lavr ador e s o br et u do com a la vradora, a vi si t ar parentes,
o u a r om a ria s e com pra s n a ci da de, é caso pa ra bater p al ma s. E tanto ass im q ue
o ca rr eiro de parelha escolhida para esses acto s é semp re in v ej a d o pe los com pa-
nheiros. S e p or v en tura a missão s e confia a outro que não se ja o ajuda ou o
m ai oral, ma is se a gr ava o despeito. S a b em p erfeitamente o qu e aquilo de ixa
para q uem go sta de trabalhar po u co e com e r bem.
Uma p echincha , q ue o arvorado em co chei r o procu ra conserv ar, e fa z en d o
a s vontades» a os am os. Que é como quem diz ser «bem mandado», dili gen te
e sob re t u do e fe iço a r -se a os m en inos da ca sa , entretendo-os com l ér i a s e festas .
Com ta is r eq uisit os não perde a papinha de conduzir o s a mos e vários
adv errtici os, de qu e recebe boa s es pô rr u le a. C om o o nã o hão -de inv ejar os co m -
p anheiros I Esta ac umulação d e ca rreiro d e tra b alho asrícola e cond utor de ca rro
para có mo do pesso a l , só se usa nas l a v oura s pequenas e nas medíe.nes, N a s
g rande s, há ca rro e cria do própri o para transporte d os l a vred ores e fam ilia res.
O ajuda ga n h a uns s e te n t a e dois a se te nta e oito mil r eis anuai s, ou me -
n os em dinheiro e coi sa d e 20 e 40 a lq ue ir es d e t rigo .
(1 ) M.. J.I~ ;,o', 11.. . chun m Doa cODulhoa do Cruo, Alter do Chio. O",lf OI.
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ATRA vtS D OS CAMP O S
• •
Car pi nteiro s O cupam-se na constru ção e concert o de ca r ros, arados e demais
alfa iais e gticol as de m adeira.
Além d os afaze r es profissíone ís enca rr ega m - se d e outros estra nhos d e
pequena dem ora, co m o po r exemplo a medição do cer ea l para o moleiro reduzir
a farinha, e o s eu p eso &0 cheg ar d o m oinho. ( 1)
O u t r or a os ca r pi ntei ros comiam à mesa do lav:rador. H oj e comem à parte,
alim entação igual à dos familiares do mo nte, melhor que a d os se r vi çai s do
campo.
N o verão al ém do almoço, jantar e ceia, merendam às quat ro ou cinco
hora s d a t a r d e.
Nuns mon tes p ernoitam d e portas adentro em leit o co nf ortável, ou tr os
dorm em n a cabana, em t ar i mba pro vida de colchão de lã.
A s gr an des lavo u ras o cu pam d oi s ca rpi nteiros em todo o ano, as m edianas,
remedeiam-se com u m efect ivo. e a s peq u en as s erve m-se também com um q u e
trabalha à s s emanas, alte r na da mente, em duas ou mais casas.
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ATR Av tS DOS CAMPOS
tento de duas o u t r ês pes soas mais, o que tra duz be nefício valioso p a r a o ser-
viça.l e onus d e v ulto para o a mo. M a s este p rej u ízo fica em parte compensado
pelo ass eio , ordem e importân cia da criação d e a v es, qu e s e D ota DOS m on t es
onde vivem mulheres, incomparà velm ente su p erior à do s só h a bitados p or
h om ens e rapaz es .
C om o quer que s eja. o cozi n h eiro a r vorado em chefe do mont e, j ulga-s e
com r a zã o creat ura bem cotad a. e como t a l t oma certa superioridade so br e os
que o rodeiam. Isto e o co nceito que el e me rece a o am o. de sp erta a inveja d a
criadagem vulgar, que o m alsin a quanto pode. M a s se lhes pre par a r b em
a comida. os aleiv es caem por terra com a defesa ca lo r osa dos sensatos e j usti-
ceiros.
Entr e os cozi nheiros dos montes enco n tra m-s e tipos curiosos, or iginais.
U m conheci, rab uiento p or sinal, q ue tinha pancada p ara a a strologi a . Além
de con h ecer e disc utir a f u ndo a n omencla tura popular da s est relas, no que
falava todas as noites, - ta mbém se entret inha com a s p r evisões do temp o,
dando sota e ás a o s p a rce iros da es p ecialidade. À quil o era m elhor qu e o Borda
d'Água. Pel o q ue d izia, di spunha d e auxiliares precioso s p a r a os se us vaticínios.
Como p r incipais, aponta va cert o galo preto, d e crista r omana, o ve lho burro
de lançamento - o B r an dã o - e a Farrusca, s at orra fei a e aris ca , qu e se assa-
nh ava por qu alque r coisa . Assim, em o galo cantando efora de horas», duas
no ites consec utivas, e m o bu rro apa recen do d e orelha m urcha, e a gata s e n ão
arredando da chaminé, d e rabo vo lta do para o lu me, - palpitava-Lh e mudan ça
de tempo. E se a es t es pr enúnci o s con iugados r eunia outros , como rabiarem-Ihe
os calos, bocejar e d oere m-lhe 8S costel as - ecoi se co m o ponta de Oato»-
ent ão, esta va sabi do, e ra chuva a câ n ta r os. Se não viesse nesse dia, v iria
dep ois, ou no outro q u arto d a lua. E ac resc enta va, cor r oborando: -«As p urgas
n ão obram log o . . . e as l u as f az em enfeto três dias ant es e t rê s aias depois . . . »
O utro havi a com b oss a p a r a os ditos enfá ticos, se ntenciosos, qu e lhe davam
foros de tribuno entre os ga nhõ es a q ue m impi n gia as arengas. Probo, adouto-
rado e p a rlador, er a igualme n t e forreta e sovina. Depois de esta r doen te p erto
de três anos, indo ao h ospital como enfer mo me nd ig o, m orreu em ca s a de uma
en teada, coberto de farra pos, mas co m vinte libras no bolso.
P or últim o alu dir ei a te rce iro, veesefedcr de fama, q u e se entretinh a a can-
tar o fado e a esgerrede, quando os afaz eres lho permitiam .
.. .... .. ..... . .. . . . . . . . . . . . . ... . ......... . . ... . ..... .. . ... . . . . ........... . ..
Ent re os set viça is do campo, o cozinheiro é dos mais difíceis de encontrar
em t ermos. Não porque ten ha de preparar igua ria s finas, es tá claro, m as por
muito convir que esteja à prova d e fiel e assea do, m ôrmente se a cumula as
fun ções d e encarregado d o m onte. P or con seg ui nte, embora seja fácil a sua
&C{uisição, poucos reunem os p redicados n ecessários.
A sol dada varia con fo r me a p ensão e as vant agens inerent es. Os de m uitos
encargos e de b oa re put ação, sae m -se po r 72 a 84$000 r eis anuais. Hã -os qu e
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ATRAVI'.S DOS CAMPO S
vencem seara de le gumes. obtendo por obséquio outra de batatas ou favas nos
a r redores do monte. de que eles próprios cuidam nas horas vacan tias.
Ama ssa do r Este cargo t ambem requer indivíduo probo. com asseio e prática
- do ofício.a que o desempenha com ac erto. entra no número dos
que o amo particularmente aprecia e dos que mais procura conservar.
a amassador cumpre-lhe fazer tudo que diz r espeito à armazenação e penei-
ração da farinha e ao amassilho, tendição e cozimento d os marrocates (pão de
centeio) e das perrumas (pão de sêmea para cães).
Estando o lavrador no monte, também fabrica o pão branco para os amos,
e o ralo para o restante pessoal caseiro, como carpinteiros. criadas, etc.
N o p reparo das difer entes va r ied ad es de pã o. e sobretudo no dos marro-
cat es, precisa ter a máxima cautela. a bom fabrico imp õe -se tanto po r convir
à alimentação dos serviçais. como para evitar q u e el es os desperdicem e estra-
guem de pr opó sit o, o que geralmente praticam qu a n do lhes não a grada. Sabe-se
que em o marrocate sendo ruim, os gs n h õ es s6 lhe co m em a côdea. inutilizan-
do-lhe o miolo. de que ch egam a fazer bolas que espetam nos chavelhos dos
bois, como protesto d e justo e insofrido ressentimento.
Na actualidade é raríssima. semelhante m anifestação. Hoje ex istem melho-
res amassadores e todos porfiam em manip ular com apuro. O que isso não
consegue deixa o lugar, se antes o não despedem.
A soldada oscila entre 60 a 72$000 reis anuais, te ndo o u não seara de
leg um es e p orventura u m a ca rtada. de len ha .
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PE SS O A L DA L A VOU RA
(E ,culturas cm maddra de Cap eI. c sn....)
J • O nquciro: 2· Mulher a. monJ.; J - Ceifdro ; 4 - G.Janhciro
ATRAv t S DO S CAMPOS
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ATRAv t S DO S CAM P O S
req uenoes : chapotar a chamiça e fazer o lume; lavar e limpar a barreleira, s in-
ChOB, asadas, el guidares e m ais utensílios; esfregar o t a ch o d o a tabefe; varrer
e l a va r a ca sa da q ueijei r a j conduzir o que ijo para os caniços eccb u gadores e
dar-lhes a s vo ltas e limpezas de q u e precisem, a rejando -os ou n ã o, confo r m e 8S
ci rcun st ânci a s, etc. I
S e o ala vã o o u nlav ões reunem u m a s 600 o velhas apr oximadamente e o
q ueijo se molda p elo tipo grande. q ue req uer fabrico mais demorad o e cautel oso
q u e os o u t ro s peq u en os - os r o upeiros cos t u m a m s er doi s.
F abricando-s e queij o míudo, ou mesm o grande. desde que a s ovelh as n ão
passem de 300, ba sta um .
Para ;; carg o em q u es tão. requerem-se homens que além de sabedores, sejam
essencialmente e sseados : q ue s e l avem {requen tes vezes por dia e mudem de
roupa a mtu d o. Só assim conseguem atenuar o fé tido que ex a la m , paz efeito d a
ocupaçã o. Cheiro t ã o repelente e activo qu e é d e pro voca r vótimos a os es tr a n hos.
U m fedor pior que o d as sentinas, prfncipe lmente paro. q uem n ã o gos ta de q ueijo.
D os que preparam com apuro o clá ssi co q u eijo grand e, di z-se q ue t êm «boa
mão d e massa» . O q ue eles atr ibuem, uns, às suas aptidões , ou t ros, à sorte.
Quando sobre o assunto falam com o lavrador, ob servam-lhe: - «A s orte é
:minha j mas a gan ân cia é sue».
Se p el o co n t r á rio o qu eijo sa i inferior, nenhum roup eiro s e con fes sa culpado.
Àtribuem o p rec al eo ao calibre do ano, ou 0. ••• mau olbado d e a lguém q ue os
quis de rrotar!. .. O s r oupeiros de fama ganham de sete a sete mil e quinhentos
reis por m ês e u m queijo gra nde po r toda a ép oca .
,
J Leiteiro R a pa z que p ri ncipal men te se em prega, com uma besta, n o transp orte
d o l eite d as ca bra s, para ve nda n o mercado de vila ou cidade: C om
este carácter exclusivo, é oc upação q ue s ó se vê n os centros de lavoura distantes
do bardo das cabras e da povoação a que s e d estin a o leite. Nos outr os próxi-
m os , é d esnecessária semelhante entidade, que se supre perfeitamente com o
paquete. O l eiteiro pod e g an h a r mil e oi to cen tos a dois mil reis por m ês.
* * *
Hortelão Encarre gado d os serviços da h ort a ou quinta . anexa à la vou ro. I gual-
m en t e s e incumbe de ir aos mercados di ários da s p ov oaç ões p ró xi-
m as vender a h ortaliça e frutas q ue sobe jam d os ga sto s d a ca sa . V ai «faz er
vendas» ou «faz er pr a ças», termos que igual m ente se empregam pa ra O fim
m en cion a do. G an h a aproximadamente cinco m il r eis m en sais.
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ATRAv t S D O S CAMPO S
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ATRAv t S DO S C A M P OS
três mil reis pOI: m ês. H oje, que os m el endais aumentara m imenso de impor-
t ância e extensão - a sua g u a r da ria incumbe- se a h omem a p to, n o vi gor da
vida, q u e ven ce cinco mil r ei s p or m ês e co m edo ria s, de sde qu e entra e m a b ri l
ou mai o, a té 80 leva nt e fin a l da fruto, a í p or s etem bro f ora a pr incípi os de
outubro.
Cumpre-lhe tamb ém o s eg u in te : proceder às sementeira s r espectiva s, se
antes es não realizou a ganharia ou ou tro s ; ressemear a s ca sa s falidas; des-
bastar as melancieiras de boa nascença e transplantar a s a rred ias e ven t u reira s
para onde haja faltas ; ancinhar e desg eemee r a t erra por oca sião d a cava e 1080
atrás dos cavadores; arrendar a ancinho os intervalos abatidos por efeito de
chuvadas se guidas d e calor e vento, e b em assim 8S casa s que so fre r em d o
mesmo inconveniente, servindo-se do sacho para estas j raspar à enxad a a erva
nascida d ep ois da cava: cuidar da extinção d os f ormígueiros, r o m eira e o u trOS
insectos nocivos, queimando e enterrando a formi ga j n o m esmo p ropósito ca tar
a miudo o ceseeme todo, arrancand o e en terrand o a s f olha s e matas in vadida s
de piolho e da mela ; descastelar (I ) e ca rregar o me l ão ; f a z er enfim tud o q ue a
exp eriência acon selh a para q u e o mela n cia l triun f e d a s mil even t u a lidade s a
que es tá suj eito.
Em to dos os s er viços men ci o nad os, o m elanci eiro cost u m a ser coad juvad o
por h omen s o u mulheres, em núme ro co rres po n d en te à g randeza d o melan ci a l,
e à u rgê ncia d o s er vi ço.
Não é empre go p aro. d escanso braçal, pelo m enos enqua nt o 8 f ormiga
aperta. Dep ois, d esde que a fru ta começa a desigualar, q uero d izer d esde que há
melancias inchadas a distin guir em-se d e l onge, aguilhoando o ap etite d os tran-
seunte s, se diminuem ou cessam os cuida dos cul t ura is , surgem os da s co lhe itas
e aumenta o da fi scalização e g u a r da . A s co lheitas ficam sob a s ua direcção,
embora com o auxilio de tant os homens co n h ec edo re s q u a ntos seja m p r ecisos
para se despa ch ar pela fres ca. A g u a r da r ia , tomada a sério, obriga a v igilân cia
co ns t a n t e e at enta.
Os m el ancieira s ergue m no l ocal da obrigaçã o o competente cb oço, com seu
scmbr e cbo ex t erior, onde el e e a fa milia p assa m a r esidir. Dura n te o d ia , a
m ulher e os fi lhos, à so m b ra d a alp endrada, ol h a m p elo m elancial, a u xili ados
p el o i nd is pe nsáve l cãozin ho. A o m esmo t em p o, a mulher trat a ig ua lme n te da
co m i da e d a costura , enqu a n to que os filhos espojam-se e ca b riola m pelos arre-
d ore s, al amh azan d o- s e d e mela n ci a à far ta, se p orv entura jã se col he. E le, o
m arid o, se os cuid ad os d e cul tu ra o u de colhe i ta o não e nt ret êm, d orm e à
grand e. lá dentro do clxcço, pa ra à no ite v igiar, mu n id o d e ca rabina e a co m pa-
nhad o do cão . E ste é que s e to r n a o g u a rd a pri n ci pal. O me la n ciei ra p o r v ia de
regra e n a s h oras de m enos p erigo, com a espingarda ou co m as a rm a dilhas d e
cep o, caça as lebres, rap osas e r estant e bicharia, qu e a p arec em no s íti o. atra id os
p ela g u lod ic e. Mas o dano m ai or q u e mais lh e cum pre evit a r são o s fu rtos d os
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A TRAVEs DOS CAMPOS
bichos de dois pés. gente nova das ganharias estranhas, que se pelam po r d e
noite assaltarem impunemente os me lan cie is, quando a fruta escasseia e o calo r
a lembra . . . Se o melancieira os p ressente grita-lhes de largo e eles foge mj ma s
se o apanham descu idado, fer ram -lhe o cão. quando m enos o julga .
Em vindo a abastança , cessam Os assaltos. À fruta então abund a tanto e
d é-se com tal franqueza , que n i n gu ém pensa em furtá -la .
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A TRAVeS DOS C AMPOS
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ATRAvtS DO S C A M P OS
Tosqu iadores Há uns para a tosquia d e muares e outro para o ga d o Ian igero.
Os primeiros são es pa n h o is guit s n os qu e, aos gru pos de dois a
três, tosq uiam , na pr imavera e outono, 8S pa:relhas de muares, ao preço d e 500
reis cada uma . O s s egundos, os tos quíadores de lã, em camaradas de iS a 20
indivíd uos, procedem de z onas da r eg iã o, com o E.lvas, Vila-Boim e Barbacena,
al ém de outros de long e, que vêm anualmente da S erra da Estrela e que por
isso se lhes chama serra nos. Todos tos quiam po r ajustes análog os ou sem elhan-
tes. Em ap erfei çoame nto são os ser ranos que p assam por me lhores.
Desde o fim de abril até meados d e junho (época próp ria), os tosq uiadores
demor am em cada casa tr ês a dez dia s, tosquiand o a 20 r eis por cab eça. i n di s ti n -
tamente, ou a 20 reis pelas ad ultas e a 15 pelos borregos d e amb os os sexos.
O lavrador nã o lhes dá co mida ma s s im O caldo para as so pa s do a lmoço. e
a er va ou pe lha q ue a s s u as besta s cons omem.
Cada ca m a rada tem o s eu m e na gei'ro, que no acto da tosquia ocupa-se
exclus iva me n te em enrolar e atar os v el as. Nu divisão d os Lu cr os entra no
rateio como qualquer tosquiador, tendo a vanta g em de comer por conta d o
lavrado r, em comum com os pastores, e o receb er um velo em cad a casa, ou
espôrtu la de SOo a 1$000 r eis .
M ana geiro e tos quiador es, dur ant e o s er vi ço, t odos se v est em de cal ça s,
blusa s e sa patos o rdine.r íasimcs, como os qu e m eno s s e estrag am po r deite d a
tosq ui a . O suco d a lã suja, emporca-lhes tanto a r ou pa, q ue o se u a specto n o
tendal é repulsivo e n aus eabundo. M a s a eles n ã o lh es causa nojo, tã o
habitua dos estão.
À de s peito da imundície que lhes escorre pe lo fato, é interessante obser-
var-Ihes a d es tr eza no manejar e ten ir cade ncioso das teso uras s obre o lom bo
das r eses. À s quais, apernadas e silenciosas, den u nciam n o mei go olhar u ma
certa sa tis fa ção pelo alijam ento do velo. t ver-lh es a alegria com qu e s e
sacodem e pul am . m al as dei xam em liberdade.
N o a fã d o despacho por vezes a teso ura go lpeia os pacientes animais, que
sofrem em silêncio O d escuido d o tosqu-iador. D escuido vu lgar que se remedeia
imed ia ta m en te. cu ra nd o a fer id a com fulí gem das ch a m inés, d e que se faz prévia
aquiaiçâo - «M oreno !» - gr i ta o t osqui ad or, vend o a r ez golpeada - «L á va
mor eno », r esponde o maioral ou qu alquer incumbido de ministrar o pó negro
para rem édio das f er id a s. E. im ediatamente o golpe é pulverizado com o tradi-
cional m oreno. Se o s go lp es s e repetem em ex cess iva notoriedade. o maioral e
lavrador re preendem os tosquiadores.
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AT R A v t S D O S CAM P O S
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-
•
í
A caminho da sacha
ATRAv t S D OS CAM PO S
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ATRAves DOS CAMPO S
MU LHERES
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AT RAV É S DO S C AMP OS
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ATRAvtS D OS CAMPOS
* * *
Nas lidas campestres cada r a n ch o de mulheres é gove rnado po r u ma das
mais t rabalh adoras e en t en d id a s, que pelo. au to ri d a d e cm que a in v este m deno -
mina-a s msn ogeira. G an ha mais 20 r eis po r di a sobre o sa lário d a s outras.
A man ege í ra a licia as compa n he iras e nel as go ve r na em part e, sem contudo
lhe pe r te n cer a direcção absolu t a d o trabalho. D esse encargo in cum b e- se o
g ua rd e de h erd a d es ou outro homem capaz, q ue pa ra tan to a companha o r an ch o
no ser vi ço, dirigindo -o em tu d o. N ã o se entrega aos cuidado s exclusivos da
managei r e por se lhe r eco n h ecer incompetê nc ia para evitar ou reduzir a cera
p rovenie n te da ta garelice próp rio do sexo frágil.
A boa da mulherzinha poss ui as melhores intenções, sobre o cumprimento
dos seus deveres de s upe riora . M os coitada, os instintos de [oq ua cida de, l eva m-na
a prevaricar inconsciee t em e a re como qualquer, sob retudo em s e tratando da
bisbilhotice a p i m en ta d a, p rato forte e tentador, a q ue nenhuma sabe resistir .
P o r t a n t o. para r ep r im ir esses excessos e evita r os co nsequen te s pr ej u iaos,
ent rega-se a di recção e disciplina do rancho a u m homem sé rio, de confiança.
O qual, co n h ecen do a fundo o feitio das criatu ras que gove rna , não as poupa
em ad ver tê ncies, e a mi udo as r e preen d e, com f rases de tom e conceito, apr o-
p ri adas às ci rc u ns tâncias. Pri m eiro, d irige· lh es u m g racejo eq uí vo co, envol-
v en do censu r a li geira; depois uma ad moes taçã o séria . e po r ú lt i mo, esgotada a
pachorra, Iarna-I hes u ma a pós t rofe vi bra n te, a m ea çad ora, q ue, co m o água sob re
lume, apa ga i med iata me nt e o f og o da lcqua cide de. R em édio de o ca si ã o, de ef eito
passagei ro . T ã o a r r eigudo t êm o vício, q ue lh es r ecrud esce com in t ensida d e a o
cabo d e poucos minut os. Se l he está. no tem perame nto . ..
A i d a d e j u ven il de m ui tas, a p rope n são de t od a s, o m eio em qu e se enco n -
tra m e a s li b erd ad es que o cam po s u gere, são facto r es q u e, l ong e de p redisporem
a o silê ncio e eis u dea, impulsionam ir resis tivelme n te a actos r uidosos, expansivos,
q ue, s e s e aba f a m po r mome ntos, explodem afina l, a p retexto de q ualquer coisa.
O aparecimento d e u m l agar to o u d e o ut ro bicharoco. dá. ensejo a que se
p erca a se riedade. As moços pelo menos. pa rtem a correr, com al aridos de receios
fin gidos. q ue enfurecem o guarda; mas, tão cómicos se tornam, que a ele próprio
s e lhe esva i a ira, pa ssando a rir como elas. até o incidente te rmi na r.
Se d e lo n ge ou perto se avista qualque r homem, caminhando em direcção
de se a proxi m a r, ess e fa cto motiva maio re s e ma is re t umba n tes íolias. En tã o. é
cer ta a va ia ou bois (I) ao pacífico transe u nte, a p retexto de se ma n ter a t rodição.
(II A. ".1., IIpln. nllm 1Iln cllIlum••ntlq l'luilllo. U "D:~U .III mell.un plU bomln•• "lcc-"un. M •••6 .. provoe•
• d'. 11 pll..o.1 q\1• • I>d • • t u b.l h.r, • o} l>lumlll>lI PUI .. cduur.. d. Oluro UllO. Com I dil u'l> c. lIu. ~. mulhu.. COI>-
unlll-'II- Ih.. o UIO 1m lod.. .. f-j l>u do CUIIPO, 10 p."o qll' 10. hom lll' 16 111.. . . lotu.do DO I U"/(O d. Inoun pt bpd. ·
m.n l' dita. l i. . . .1" colb. m-I. d.".i., ... hor.. do d"c.neo • d. comld•.
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AT RAvtS DOS CAMPO S
Mal avistam o caminhant e, o ran cho embandeira, isto é, vo l ta -se para o sujeito,
e desatam a gr ita r- l h e : - «A i, que o n ão tem / . . . ai, que o n ão tem / .. . Fora
qae é feio I. . . fo ra que o n ão qu ere mos l Arreda, gato ve lho i, . . Caminha,
bode .arnozo 1... la bácoro de Arroncbes l Não t em I... não tem I.. . n ã o tem f.. ._
O mo te ja d o o u prossegue na m archa, nad a. respondendo, ou rede r gu e « 80
consoan tes . Se não res ponde, elas continuam com a g r ita ria até o perderem d e
vista; se contesta. o mulherio mais se entusiasma, na m ente de protelar a folia.
enquant o lh o consintam. Mas, se p or a caso o provo cado se d esvia do cami nh o.
tomando a dire cçã o do rancho, no propósit o, .real o u a par ente, de demonstrar a
falsidade d as apr eciaçõ es, a cena m odifica -se lo g o. A o r eceio de um desforço
demasiado atrevido, ou po r intimação enér gica d o go ve r n a n te , m oças e velhas
mete m a vi ola no sa co, afim de o homem retro ced er e d es istir das in t en çõ es .
Se porém ele n ão r etro cede e continua a ava nçe r, as mulherzinhas a n ima m - s e
de n ovo, e, es qu ecendo consideraçõ es, passam a se gunda g ri ta ri a com entusiasm o
doido, d elirante. C omo o encarregado consinta, os r esolutas e possan tes. COrr em
em massa s ob r e o audacios o, agar rando- o e atirando - o ao chã o para lhe dare m
cuJas (I) e 89 velhas o e pepi ne r em com outras p atuscad as.
Tudo p or chalaça algo forte é certo, m a s com q ue poucos se m elindra m,
mesm O por qu e as beies, l evadas ao ex tremo da s cules e ac essórios. raríssima s
vezes se pratica m .
E m ge ra l, ao p ri n ci pia re m , e dep ois mes m o, os h o m ens q ue as ouvem,
riem-se da costumei ra, seguindo sile nciosamente o seu cam in h o, ou contestando
apen as com duas ou t rês facécias. Outro ta nto n ão sucede com a maioria da s
mulheres d ando-se a hipótese co nt rá ria, isto é se n do e las as provocadas.
* *
Na casa do m onte, onde pe rn oita O ranch o, os serões passam-se em varia-
dos Iolgu ed os, principalmente se a eles a ssis t em os g 9. n hões da lavou r a o u os d e
outra s vizi n h a s, que a code m ao sítio por lhes chei ra r a pequen ume. D e qualquer
maneira, a pân d ega é certa a t é às dez ou onze da n oite. C a n ta-s e, t oca-se,
baila-s e. nana m - se contos de princesas encantadas, joga-se u m pouco o padre
cara, e n am ora-s e mu i to . A execução desta ú ltim a p arte, su bordi na -se a certa s
condiçõ es. À s rap a r iga s não podem conversar à f r a n ca com os rap azes, sem
prévia licen ça da m e na g eiea . À qual, concedendo-a, é com a cláusula de fa la r em
a um canto da casa. à vi sta de tod os , ou à port a da r ua: ela, a r apari ga, d e
dent ro ; ele, d e fo r a .
M a s há ocasiões em q u e a gov er n a n te só p ermite cs coló qu io s a m oros os
median te u m a d à di vazi ta , que lhe conso le o estôm ago o u o víci o da cheiro ca.
N est e empenho, resis te a todas a s s úplicas, cede nd o apena s q ua ndo os mo ços
escorregam mar r o ca tes, q u eijos ou u m pataquinho pa r a meio g ross o. Mas u m a
(I) Du r uIu t llJl,Ui r a U''lII'U" 'li lI.tIel1t. pel o. pi• • u b ! c• • • nD put( l o ~ OdZ OD III, b. tll'. l~e o. r o u& dot <! ",d!., •
•obl'l ° ao!o, bam bo le ando - o .Dtl'.t......to upa tJd, ...uu. Cloal :aaDeClo!;" r o m CI o, f i briDU .. "0Iltt 4,.
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ATRA VeS DO S CA M PO S
* * *
N o d omi ngo imediato à semana ou quinzen a d e trabalho, as dos r an chos
v ão r eceb er a s fér ias a ca s a do lavrador, na a l de i a, ou à d e a lgué m, i n cu mbi do
d e paga r . As moças apres entam- se m uito ga rri da s e tafulas, em traj os d omi n -
g Ud IOS, fla man t ís simos, a contrastarem frisantemente com o desalinho e de sl eix o
d as maduras e velhas. T odas se mostram alegres e p alradoras, a po nto de o d ono
d a casa lhes dizer que n ã o estã o em nenhum a p raça.
C on cordam t odas, a ceitando o lembrete e repre en dend c - se mutuam ente, o
q ue a t r a z a um p ouco o silênci o ex igido. A nnal obt ém-se. M as daí a na da , cada
u ma ch ia paro s eu lad o, intro metendo- se nas chamada s e ne a p agas de cada
qua l. C h ega m - se a a cusar umas à s outras d e t erem ven cido dia s a m enos d o
q ue d izem e d e r e ceherem m ais do qu e ve nce m. D en ú n cia s e acla ra ções ge ral -
m en te err6nias e infundadas, qu e s em p re p ro vo ca m di sputas, averi guada a
fa lsi da de. E v erdadeiras q u e sejam , ociosas se t ornam igu a lm en te d esde que
nin gu ém a s reclama . O s en gan os, se os há, t odos s e esclarecem e r esolvem à
vi s ta d a fo lha e das informa çõe s do. ma na g eir e e do encarregado. Mas a despeito
disso tudo e d os recuões qu e sofr em pelos atr evimentos, co n t in u a m a dar à
lí ngua, a pretexto de j ust ificações r econciliatórias, qu e p õem tudo à boa paz.
A sa id a anim am-s e ainda m ai s, d espedindo-se q u a se todas, co m um d ito lison-
g ei ro. V oz es a o vento, pala v r a s ocas, de q uem p re ci sa a gradar ..•
* * *
Tudo que a s r a p a r iga s so lteiras ga n h a m n os s erviços d o ca m p o é «pa r a o
s eu cor po» - qu ero diz er pa ra s e ourarem e ves tirem d e p ont o em branco, nã o
só d o n ecessári o, m c s a i n da pa ra os lux os d oroing ueí r os e d os dias de f es ta , da
confissão, etc. S atisf eitas estas p rim ei ra s ambi çõ es, passa m à compra d o preciso
pare o enxoval, e d o m odesto mas ga rri d o mobiliário co m qu e s e propõ em
ornamentar a futura liebítução . Para ma is fàcilmente r ealizarem esses propós i-
tos, os pais d e a lgum as - D eu s sa b e com que sacrifício - d ã o-lh es, n o t od o o u
em parte, os mant im en t os d e q ue precisam qu a nd o rra be lha m a s eco .
M ais do que as pró pria s fi lha s, eles d ese ja m v ê- Ia s na p o sse d os o bj ect os,
. que em li ng uagem p opu la-r se cha ma a «casa d e u ma n o iva ».
P a r a a co n s ecu çã o d ess e s usp irado de s íderetum, sacr ifica m -se a s n ece ssida-
d es de a lime n taçã o e a s aúde. (I) O essen cia l para elas é a dq u iri re m o u ro, r ou p as,
(1) T lmto ... ralOui.... . o lt el: .. .. uili ~,," a. .. . ceuldadu de boa alllll etl l" . o '0' U"IfU do "'''la b lo • do "' ohUlido
do",h lJ ~ o. tn bal ba tldo a II ~O . 110 campo, O m. b do atl o. qa . , .. .....Iori • • • 1-.. . .. , ...iu ••0 PII'O ltu. o. r. p lIU ..,trtlldu
.... tulo. lho..... i. "01ltl10', "'.. CO IJl ~tl.lo U,.,"U ,,<:Ir conta .lo, bvr• .lou,. 1ll0IlT' Ill-" pilo CODU6.riO ..." uo.e, • II dio• .
- 94 -
A TRAvtS DOS CAMPOS
estan h o, Bra me, louça s, vidros, trebeco s, etc . A moça solteira q ue i sso conseg u e
reunir, con si d er a- s e feliz, e a mã e rep u ta-s e fe licíssima . O a me r maternal p õe-na
vai dosa com o luxo da nIna.
M ui t o u fa n a , mos tra às vizinhas e amigas, a s
prendas que a filha adqu iri u à custa de muito S UO I , d e mui ta privação, d e m ui to
trabalho honrado. E as vizi nhas e as amigas presta m toda a aten ção 80S objec-
tos que lhes mostram , gabam-nos e elogia m a don o. M a s depois. n a a usência
das d ua s, expa ndindo - se em invejas ridícu las. amesqu in h a m tu do aq uilo, cen-
surando os d uas . A fi lh a é «uma impos t ora a querer desben cer da s da s ua
i~u8 1a» ; a mãe «uma 8BV8Z0]s. doi da, que só cuida de ca sar a filha» . M iséria s
human as que abun dam em t odas as cla sses ...
GANADEIROS
(I) Eau pto tlU bo l..d.... tlU ...n d... tl'l. _tld... ..." Que (I alud I. , um Lomam como o maio ral.
- 95 -
ATRAvt S DOS CAMPO S
* * *
Um g a n a de iro. além de st a cla ss ificaçã o co m u m . essencialmente ge nérico .
p ode reunir mais três. esp ecíficas : u m a. rev el ad ora da espécie d e 8ado em que
se o cu pa i outro. definind o a sua categ oria própria; e a última-a menos con s-
tan.te, nem sempre verificada - co m o indicativo da na tu r ez a ou cará ct er especia-
lí ssimo do rebanh o. P orque do mesmo g én er o de animais f ormam-se r ebanhos
distintos. cada qual com n ome próprio. derivado das co n d içõ es das reses que os
co m põ em e do fim a que se d estinam.
Poro. mais fàcilmente se compreenderem essas q ua t ro cla ssifica ções a plica-
das a um 56 homem, darei o s eguinte exemplo: - o ganadeiro Fula n o. porqueiro
e en tregue na Casa Branca. anda e go r e com os Jarroupos e p or isso é i err ou-
peiro. Ora. CO mo es te de ierroupeiro, h á o u t ro s qualifi cativos especialíssimo s,
que mais adian te mencionarei.
- 96 -
ATRAv t s DO S C AM P OS
vez a com oda rem e d esp edir em os a j udas, recl am an do dos l avra dores «as paga s»
respecti va s.
P ara acomoda ção e d espedim ento d os mai orais e entregu es d e ano, s egu em-se
DS prax es us ad a s com os r est ant es criad o s a n ua is, diferind o tão somen te em
algun s, n o que resp eita a p r a aos e época s d e s aí d a s e ent ra das. De sta m a n eir n,
os porq u ei ras r egul a m-se pelo an o civ il, isto é, d e j a n ei ro a. jan eiro. N o caso d e
despedimento d e am o par a criado ou v ice-verse, o avis o d eve-se com u n i ca r
resp ect ivam ent e a t é ao S. Miguel. O s p ast ores e cabreiros s a em e entram pelo
S. P edro, parti cipando a sa id a o u desp edida p or to d o o mês de maio. E, os r es-
tantes como boieiros, vaqu eiros e egue ríe o s, encimam e acomodam-se pelo
S. M ateu s, tal qual os cr ia dos d e lavoura.
Em ger s l, os gune d eiro s anu ais. não «p ar tem o e n o e, isto ê, cumprem o
dever de se rv ir p el o t empo que s e ajust aram . Neste pa r ticul ar m ostram maior
seri edade q ue os ga n hôes e o u t ros. Mas se abalam extempo rân ea m en t e, saem
também com os p esulhais, se o amo i sso exige. S e por ém o la vrador os exp u lsa
antes do vencimento, O q u e ainda menos s e v ê, e só s e p rati ca po r raz õe s muito
pondero sas, o criado tem o direito de não retirar o pegul ha], q u e assim conti n ua.
a ser susten tado à cus ta d o la vrador até :finalizar o praz o d o con tra to .
P ara os ent regues m ensais d e cará cter permanente (qu e al gu n s h á nestas
co ndições). em bora vençam tod os os meses, como se não d es pe çam ou se jam
despedidos com anteced ência d e al guns dias, o silêncio de le s ou d os amos.
signifi ca acor do tá cito para continuação inddinida.
Quanto aos a juda s, adoptam-se praxes semelhantes, se bem que nestes é
menos dura d oira a es ta b ili da de. Ou o rapazelho abala por sua vontade com ou
sem autoriza çã o d os pais, ou o camarada o despede por m otivo fundamentado,
ou por qu alque r n inharia, se nã o para m eter o u tro q u e mais lhe agrada.
O s que são filhos dos pró pri os g u ar d a d or es cons ervam-se mais, mas nem p or
isso se pode con ta r com eles em a bsol u to.
Soldadas V ariam bastan te , j á por efeito e indole das ca t ego rias, já p orq u e a
n atureza dos venci me n tos subordin a-se em ger a l à es péci e dos ga do s
a gua rda r e ainda a os cos t u mes t ra dicio nais d o sítio e m esmo das pró prias
eceses». S e n ã o o contrário, is to é. m olda nd o - s e n os u s os i m pla n ta dos h á p oucos
anos por alg u ns lavra d ores, u s os esses d e car ác te r in t eiram ente opos t o às velha s
tra dições. C omo que r q u e sejam , direi o bastante n o p ar ágra fo corresponden te
a cada grupo de ga nadeiros. Das soldadas que s e vencem a os mes es, a di nh eiro
somente, r egulam ent re 4$500 a 5$000 r ei s m ens ais ca da h om em , a lém d a i orre
da burra . O s a judas ve n cem a í 1$200 a 2$5cxJ reis po r r a pa z e mês, seg und o a
idad e e im portâ ncia d o s eu pap el.
D esd e os maiorais a t é aos ajudas, t odos se alimen tam à custa d os lavra..
dor es, por comedo rias semanais ou mensai s, a co n to. peso e medida, a via das
nos sábados ou n o fim dos meses, confo rm e se verá a dia nte no pa rá gra fo
A liment ação.
- 97 -
A T R A V I':. S DO S CANPOS
Pegulhais (t ) A nt igament e O d inhe iro consti tuia a par te menos important e das
sol dad as. O que prep onder ava, e m u ito, ela o peg ullrel, q u er fosse
ex cl u siv am e nte d o gad o da esp éci e que o g a n nd eir o p as toreava , q ue r t amb ém
i ncluísse «ca beças » d ife r entes. C o m o por exe m plo cabr a s, qu e, além de s e per-
m itirem 80S cab rei r os, tamb ém se fo rrava m a porquei ras e pasto res , o u m esmo
ég u a s q ue, não as possuin do a m aior parte d os eg u a r iços, eram p er mitid a s aos
vaqueiros. I
R e provand o em abs oluto as Fo rras. rep r es entad a s po r ga do d iverso do q ue
o gana d eito apascenta e ainda d e cabra s n os ca bre iros. ( a) a:6,gura-se-me ac eitá-
vel e va n taj os a pa ra o l a vrador a concessão de p eg ul he is d e gado idê n tico ao
que o g au adet ro ,g ua r d a. P elo m enos para os m a i or ais q ue , Assi m l iga dos a os
in ter esses d o am o, n at u r a l é most r a rem m ais permanência, z elo e d ed ica çã o, do
q ue gan hando só a dinhe iro. O si stem a po d e t razer prejuí zo a o lavr ado r" se o
cr iado não for hon rado. Ma s n est e m u n do tudo tem prós e con t ra s e n ã o há
m eda lha s em r ever so. N o caso sujeito, os prós evidenciam-s e p or ta l maneira ,
qu e d eixam n a pe numbra os con tra s m a is ou men os hip otét icos.
Out r ora e h o je. os gua rda do res de gado m iudo, quase t odos p ossu'iem e
p ossuem a sua burra, a uxiliar va lioso para t ra n sportar ma ntime ntos e lenha
pa ra a s n ecessidad es d e s uas famílias. C om p egulhais d e ca bras po ucos se en con -
t ram já . E dos ou t ro s, constit uidos por a n i m a is da espécie d os do r eban h o res-
pec tivo, só os possu em os m aiorais e algum en treg ue an u al, d e estim a e va lo r .
D e on d e se prova q ue os pego lh e is te nde m a dimin ui r na p roporção que
aum en.t am as urrid e.des em r ei s. D iver sa s ca u sa s p ar a isso concorrem . Como
p ri ncipa l. ap onta- se o ex cesso d e ab usos d os 8 a n a d~ i ros d e a gora , m enos escru-
p ulo so s d o qu e os a n tigos. S em n egar n em dis cutir o facto, é to da via certo, q u e
ou t ro s m o ti v os ig u almen te influ em para a va r ia n te do uso . U m deles - fo rçoso
é di zê- lo - d eriva de en t re lavr ad ores e cri ados de confiança ir a frouxa n do
aquel a ar reigad a e m ú tua afe ição, r esulta n t e d a pater n al be ne volência e bi za rri a
dos p r i meiros e d a estabilidade, honr adez e ze lo d os segu ndos . Qualidad es e
v ir tu des q ue ain da se encontram , mas q ue declinam evi d entem ent e p or ... n ã o
estare m na m oda . E é pena que assim aco n teça . P orqu e essa mút ua e leal dedi-
cação criava. antiga me nte u m a r ecipro cidad e d e direitos e deveres, d e b oa m en te
sat isfei to s, h onre d emente cu m pridos.
(t) Em tuml Dolo"a alu'ltjaDa o ...od bu!o IIt, ulb. ' ,ipHic. o alli ma l 01;1. allimab d. qu al Qllu pu . o. qut nio u j a o
l .....r . dor •• q1;l.' U II, por f . ... o r . p.,a 01;1. fona , co nU Do l1 DO' . uu nb'DLo• • oDd. pu ci,.,a cOllj1;l.1Iu mll'l11 com o mail ,ad o.
A o' p,,"Ib. aI. do. ,alladd ru umL fm .. Ibu cb .ma lo rr... em d tlumlDad.. d rCllDIlla ci u .
(:1) t. iDCOIl"Vlitnl. a fo na d. cabru aoa "'brl irol por 4'" a II pu ..çio do I. llt d . . .bnda do .lu do pI,ulh...I. pn Ua -u
fAcl1mla ta ao. abu , o. fn u ~ ullafoa. d. im pou Allci.. b.tlall u , c"'lh cl.
C o m o. put oru a i o podt ba ur .,11 coa tn , por Qut o Il h c .lu l U., u ' lIlcti" .. o....lh .. PUU Dtc ao I....n dor.
- 98 -
ATRA v t S DO S CAM PO S
se exercem n as h erdad es, parece que d evia ter mu itos preten de n tes. P oís nem
por isso. Na ge nte mo ça então, é n otória r elutância à viela pas t oril. Se em
crianças a exe r cem a co n te n to, pronto se enfadam, ma l che gam a homen s.
Nessa altura, p refe rem servi r n as ga n ha rias, onde trabalham m ais. mas, sem
lh es cer cearem a folga e pân deg a do s d o mi ngos, n as aldeia s. T od a vi a aq uel es
poucos q ue aí do s dezoito e n os em clia nte continuam atrás d os re banh os, po r
imposição d os pais, o u po r outro mo t ivo fo rte, t omam tal afeição ao ga d.o e a o
campo que, co mo os deix a m , nã o m ais que re m out ra o cu pa çã o e nela perman e-
cem p or toda a vid a . V ê em-se ve lhos q ue n u n ca fi zeram o u t ra coisa e só numa
classe de gado.
• • •
O s ge na deí r cs são o r di nàría me n te d e índole re con centrada, f ugin d o aos
adjun tos, (1) e a os eXc~S90S de t oda a ordem.
Entre os pastores, tid os com o os ma is pacatos de tod os, há , em maio r escala,
cultores afamados da poesia popula r, que recitam a que m lha q ue r o uv i r .
P or versos e décimas d a s u a la vra o u de outros colega s, usam verberar q u al-
que r crime ou escândalo d e s ensaçã o, s uc edido n os arredores, sobretudo os
adultérios e desflo rame ntos q u e se tornam de do mínio público.
Um cer to pastor ex i s tiu h á anos que pagou ca ra a afeição à poesia. T end o
armado vária s décimas d e escacha para es tigmatizar um caso de sedução, não s6
zurziu a valer o sedutor, m as ai n da beliscou fort e n a s ed uaida. Foi um a con t eci-
men ta . À ve rs a l h a da causou f u r o r, a ponto de correr impressa e s er recitada n a s
taberna s e ba il aricos, como pratinho indi spensável em todo o gén er o de reuniõ es.
Mas o pai d a pe quena a zoou com o sucesso e jurou vingo r -se. M unindo-s e
de um cacet e, a p r ese n to u -se 80 f est ej ado p oeta, e, com bons modos, pediu para
lh e con tar as «décimas da f l h a :l> , coi sa d e funda m ento, s egundo ouvira dizer.
O solicitado h esi tou a o princípio, m as tais r ogos o u viu e tão en vaide cid o
n cou, q ue condes cendeu afinal. Recitou, reci t ou, m a s, a certa a lt u ra , qu a n do
estava n o ze nit e do entusi a smo, o o uvi n te d esan ca-lhe o vara-pau em cima, e
-agor a o ve r eis pesp egn-Ih e uma tu nda de ra ch ar. N ã o passou a pio r, p ela
c-c
atitade do po eta, que, s uplica ndo clemência , sol ta va calo ro sos pro testo s de
arrependimento. F oi O que lh e va leu. D o contrá rio te r ia de ir para o h ospita l.
s e não para O cemitério. M a s s erv iu-l h e a liçã o. Nunca m a is arm ou d écima s,
nem queria que lhe falassem em ta l.
................ ..... ..... ........ ............ .. ... ... .. ... .. ... ....... .... ..
0 3 porq uei ras s alientam -se p elo e er ae io, compost ura e asseio, qu alidades
que bastante os ca rac terizam . À est ética p r eocu pa- os tan to, qu e se l h es n ot a n o
vestuári o e nos apar elhos dos b ur ras, i rrep ree nsivelmente p r epa r ados e cu idad os
por eles p róp rios.
h ) P or ..J/o:nlO' ... ellci oll....... II rlllllH5u d. illdelu... lll " d o Ildmuo d. pU l OU .ntruido . UIl p.lutt.. 00 I b.b.rrl.
'Utal. ,... tl bllll U. A, •• lo... nlç llu d. ' .nte .... qallq uer P. t te... b........•..·lbu ,ulld.. "à/unIU àe l .adIA•. 'fltlluniio
. 11110 pl.h. b . t llt tlld. ·u .
- 99-
AT RAVe s DO S C A M POS
- 100 -
ATRAV-t S DO S CA MPOS
Malhadas Apa rte as vrsrta s a os domicílios n as vi.las e aldeias, onde gera lmente
vão na s n oites d e sábados e domin gos, a pretexto de irem à roupa e,
de caminho, co nduzirem n a b u r ra a sua ce rg uita de lenha-os g anadeiro s pe r -
noitam n a s s uas r esp ectiva s malhadas. (1) C h o ças r ús ticas, que temporàriament e
se adaptam a lar doméstico quan do por lá p assam temporadas as mulheres e os
filhos dos maiorais e en t regu es. Entã o atin g em um cúm ulo d e arranj o, maximé
as dos porqueiros, q ue p ela su a n a t u r eza es tá ve l, são as de maior de safogo e d e
mel hor const r ução. Q uan tas excedem em a s se io e a bast an ça a m u ita s habita çõ es
ur ban as de gente h umilde.
Except uando as m alh a d a s dos pas tores, toda s mais s e a ssem el h a m às cu ba -
t as afri canas, quero dize r mostrando a con figu r a çã o có n ica e o r evesti mento de
mato. Aqui o rev estimento é sempr e de pioxno. A s d os pastores, p ela circu n s-
tância de ser f orçoso muda rem-se com fr eq uência e facilidade, são o qu e h á d e
mais rudimentar em choças. Não passam de simples a bri gos, r eprese ntados por
uma cancela convexa, t ecida de colmo, amp ara da p or d u as m a is pequ enas, u m a
de cada lado.
M a s boas ou deficientes, d e q ualq ue r gana de iro q ue sejam, tornam-se t eg'ú-
rios quer idos desses rústicos indivíduos q ue passam a vida no ca mpo, atrás do s
rebanhos. C om pouco se conten tam tão prestimosos serviçais. Alheios ao b or..
borinho das multidões e a os trabal hos de es forços viole ntos, a existênc ia d esli..
za-lhes t ranquila e risonha, n uma invejável paz de espírito. N as malha das ou
(1) Ttm u llp, llu Ult tu toml. P ..,. o, boltiru ...d.. Ih u ~ .. plid n i, como i ' t i... oculiio d . diur. O, ·. ..quei r o' •
•f,unho' • nbniru t eloP lnc-D o ,plnu D. p al1" d. noil l qu e n i o rt putt m o. ,.elo• . Por UD t o .io o. porqu.it o•• p.n oru
. qo.lu 11.0' m.h .pro..elt..lQ. ai lQ.. Il. .du.
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ATRAv t s D O S CAM PO S
Por aqui finalizo as n otas mais o u m enos comuns a todos os gen ad eiros.
A s referentes a cada especialidad e, adiante se encon t ra rão.
(1) No• • coa qlll 01 'lftaddl'OI du l'aA1ll , ca h lc amCftlC Ioda . el.... de ch oc. U.o•• u quliõlI.
102 -
AT RAV r- S DO S CAM PO S
Boieiros Pela circ u nstân cia de, alternadamente, trabalharem com os ga n h ões,
a sua d es crição figura ent re o s criados de lavoura prõpriamente dita,
como se po d e ver d e pá gina. 70 a 74.
G u ar d ad o r es de gado c aval ar
(I ) Pr lll.dcm-.a • Ulau, 11.0' primliro. dI .. d. D.... c1do• • por h u m pouca r u iu lo d a para . co mp.abarem .. ..,lu 11..
, ulod. , 0\1 pu . 11.10 m.m.um .= tXUIIO . qU' lI.do .. mlt. 11m hlh • .., . hundlnd • • da .ohal o .
( s) huul1l u r ItmporbIlLaaDla .. tu.. ela 'u u por qo.lqocr proullo 'lu" olnu • m . m . d... crl...
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ATRAVÉS DOS C AMPOS
P or-q u elr- c s
Ma io ral Além da fiscalização que u m a vez por o utra , nas ho r as di sponí veis.
deve exercer sobre os entreg ues, incumbe-lhe muito parricula rmente,
a a 6lh ação das porcas e a criação d as ba coradas. Esta é a s u a m aior e mais
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A T R A v t S DOS C AMPOS
espinhosa missão. Para bem a exe rcer, não g'ua rde rebanho al gum, grande parte
do ano, passando quatro meses ou m ais na malhada respectiva. U ) ora a assea r
com escrúpulo as várias acomodações das po rc as e bác oros, or e cuidando da
alimentação das mães e fi lhos, principalmente d os b ácOIOS, qu e, até completa-
rem dois meses, carecem d e cuidados constantes e especiais.
À medida que as porcas vão parindo. cu m p re - lh e distribuir com equid a d e
os leitões r ecém-nascidos , para que umas n ão continuem sobrecarregadas em
demasia e outras nimiamente poupadas. P or ta n t o. às de maio r prole ou fraca s,
deve subtrai r os bacorinhos em exces so , matando os r a qu íticos e aproveita ndo
os i med iatos para os r eunir e a mam en t ar à s o utras menos fec u n d as o u r obustas .
E qua ndo a ssim n ã o cheg ue m pa ra rodas o ca r em b em afilhadas, terá de ir pedir
lei tões às m alha d as dos colegas vizinhos. onde po r certo l hos da rfio s e lá sob e-
jarem. como igual m en t e ele os ced eria. d a n do- se o. h i pótese in vers a. É d a p rax e.
R ea li z ad a a d esmama dos leitões, o maiora l forma co m eles u m r eba nh o de
qu e continua a tra tar n ão só na malhada ma s po r fora, em pastor ia, com a uxí-
lio de e iuda. E, co m os b âcoros p er manece até à s vésper a s d e nova p ar ição,
época em q ue os con6.a a o ut ro po rqueiro , pa ra se ir de d ica r cr iação em
à -
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ATRAVt.S DOS C AMPOS
106 -
•
ATRAV e s DO S C A M P O S
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ATRAVJ'.S DO S CAMPO S
Criação erviça
Ervas da porca (de janeiro a maio) . 600
Rações pa ra a porca , n os meses da cri ação erviça (j aneiro e
fevereiro) . 1$500
Sustent o «a saco» dos 6 bâcoros, desde os 30 dias de nascidos
at é fim de maio, ou sejam 120 dias, ao preço de 18 reis
por dia e bácoro . 12$960
A gostadouro dos mesm os, nos meses de junho, julho e
agosto, 8 700 reis por cada . 4$200
R ação para os ditos bé coros, n o mês de setembro, ao preço
de 20 reis por dia e b âcoro . 3$600
Total da despesa com 8 criação etviçs, até à venda pe lo
S . Mig uel . 22$860
Criação montanheira
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ATRAVÉS DOS CAMPOS
Pastore s
Pondo de par te os ajudas, qu e n a d a ofer ec em di gno de m en çã o. os pastores
consta m ; d o maioral das o ve l h as, qu e é o ch e fe ; d o carneireiro, que g UBr da os
carneiros, e d e d ois, três o u qu atro entregu es mais, sem d enomin a çã o es peci al.
por igualment e a não terem os reb anh os qu e apascentam . Quando s e a pa'rta m
os alavões-rebanhos d e ovelhas que na p rim ave ra se or d enh a m para o fabri co
do queijo - . os entregu es e ajudas r esp ectivos, chamam-se-lhes alavoeiros.
Os pastores - a lé m d e gua rda rem e a pas centarem o ga do ovino - cumpre-
..lh es mais o segu in te : mudar os bard os, O u r edis, um a o u dua s vezes po r dia. h )
conforme a época, para apr ov ei tamento d os estr u mes ; li m pa r as reses d a s
eagaitas vol umosa s qu e se l hes formarem na lã , próximo d as t etas, d os testículos
e da cauda; ca ta rem , co m a ten çã o, o s eu r ebanh o, log o q u e o suspei tem invadido
de ronbe o u d e bexiga, marcando a s eca beça s e q ue en contrarem atacadas, pro-
cede nd o ao seu imediato cu rativo ( 2) e r epe tind o- o enquanto for necessário; fin al-
mente, re gular as horas da solta e r ecolhiment o d os animais, em h armonia com
a época, esce ssê s o u abundância de pastos, condiçõ es d o ga d o e estado do tempo.
110 m. l. ,,,11.1, mud. u m·,. o. b.rdo.UIII. na por dia , DO' m.." d. nlllll bro • f ..,.. nír ol dll " , de m . r ~o. fi ...
d. IAlío : 0:11 . , 'al jou o• • d. dali lIA do" d I.., dora lll.t. O .eri o.
f2\ P ilo. pr ouuol ' I n lall lll.t. ro u1o.lcld ol d. t odo. o. p" IU"• • UIA d. O'l;tto. 4uc 110.. fonal l.. dJudo•• 1' (11I 0 uni
I Dtl JO d. n fuir , 4o " IIl. J o tn tu do. ....10•.
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A T RAv t S DOS C AMPO S
(zl E tUlIlh..o1o; i• • 1I n llj lll.. o' all ri.to, nl o alo o. budo. o",d. pn. olt..... CllI ah4... t r.... o ri .... .. ....IU .i.... ' Cl u. lu
. 1Ic111.1 t. dfllia.do. ' 0 IIrdul. },o d.. 0...11. ...
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A TRAv t S DO S CAM P O S
Alfelr elr os
S ã o tod os os entreguee de q ualquer especie qu e se ocupam com rebanh os
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ATRAvtS DOS CAMPOS
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ATRAV l!. s DOS CAMPOS
P ara a gan haria, carxeiros, carraça e mais gen te que trabalha por fora , a'
comida é dada em refeições, que variam de qualidade e h ora, s egu n d o a época
que vai decorrendo. Em tod a s e em qualquer temp o, predomina o pão de cen -
teio, con hecido por m arrocate, que o pessoal come à franca na quantidade que
lhe ape tece.
Para o fim em quest ão, o ano a grícol a di vid e-se em d ua s épocas : a p r imei r a
desde o começo da seme nteira outonal (22 de setembro) até ao úl ti mo de ma io ;
a seganaa - a de verã o - d esde o 1.0 de junho a té a o «5 . Mateus».
Em am bas, no intervalo d a s comidas, é cor r en te qualquer serviçal com er a
s ua cunba ou pedaço de pão, s endo isso u so ge r al durant e a lavoura propria-
mente dita, por ocasião da primeira ag ua da d e manhã e também na da tarde,
i mediata 80 meio -dia.
( I) POf 0111. d . no mhl ' -u. o cosido dlt l'AlImu o.. h.Oft.IJ,. IJr'J1.udo com . ord ....... to"d.. ho o" .ulll.
ls) 2..u. doI. conam• • 111 . IA" '" mOIUU, co .. fu.. ~.mlt .. t. com .. cri.d.. do .u.. iço domh1lco. d. co mida Cf'101t . oh.$ou
do• • mo• .
(S) Em . lAlln. domla.o. do O"lono. 1m 'lue. .... 0 lolj•• 'ln-te 1m CU I.. 4C.......Imo ço de mi .... em n z d•• ço..d••
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ATRAvtS DOS CAMPOS
- azeite (1) e sal pisado com alho. poeics ou coentros e pim então. Escaldado
o azeite, prove -se, corrige-se a água do sal, e, pronto. está o caldo feito, exa-
lando o cheiro a ctivíssimo dos temperos.
C o m o caldo a evaporar, o abegão o u o sora cond uzem -no nos alguíde res
para a mesa, de antemão posta por eles. Só faltam as sopas que, em breve.
serão mígadas pelos ganhões. P a r a que estes venham imediatamente, o abegão
sai à rua e solta o brado do estilo: - «Ao almoço I. . . » - Brado estridente.
retumbante e pro longado, que. n a s madr ugadas serenas, chega a ouvir-se a
mais de 2 q u ilómetros de distância. O «governo» que tem boa garganta, timbra
co m o es paçar, gritando al to, muito a lto, para que ao longe o ouçam e lhe
gabem a voz.
A chamada, acodem todos. E n t r a m, tiram os chape us e assentam-se à
mesa por ordem. O ebegão ocupa a cabece ira, o sota fica -lhe na frente. Em se -
guida , cada q ua] p uxa da navalha e todos passam a m igur o pão para os e lgui-
dares. a t é mais lhes não caber.
A m olecid a s as sopas, o «g o ver n o » exclama: - «C om Jesus I» - E todos
principiam a comer, em comum, dos barranhões mais próximos, n um silêncio
profundo, em que só se ouve o ruido das colheres de lata e de chavelbo,
quando tocam no vidrado dos e lg uidares.
E' demorado o almoço, assim como todas as refeiçõ es. O homem do campo
tem por hábito comer devaga r, a g u a r d an d o que a comida arrefeça. Não lhe
agrada quente, pela preocupação de q ue lhe estraga os dentes. E o certo é que
qu ase tod os os possu em m a gn í fi co s, n ã o l h es dispens ando cuidad o s.
C a d a g t UPO d e 4 a 6 gsnhões co me n u m só a lguidar , sendo da p raxe, cada
homem , meter a colher sõmente no sí tio onde encet o u. O que transgride o pre-
cei to. é repre en d ido pelos o u t ros, co m o gl u tão e ma lcriado.
Alm o çam enfim. O ebeg êc, ve n do q u e t o d o s deixaram d e comer, dá o sinal
de retirada, p o n d o - s e d e pé a despe jar a mesa com o a uxílio do sota.
O s ganhões saem para a rua. põ em o chape u e atiram fora com os caroços
d as azeitonas. D ep oi s. vai de c'ige r r e d e , em volta da chaminé, na casinha.
Um ins tante a p en a s, a pretexto de se m unirem d os apeiros o u de quaisquer
f erram en t a s q ue tenham de levar para o trabalho.
À partida, p r ont o a a n u nciam 05 «cabeças», saindo do monte co m o saco
d as merendas, em a tit ude de m archa. O s ca rreiras ig ualmente d eita m fora a s
parelhas, pa ra ta mbém s e pô r em a caminh o .. .
M a r cha m todos . A noite a i nda per siste, mas as estrelas anunciam a apro -
xima ção d a aurora .
I s to, r epit o , n o o utono, «na fo rça das sementeiras». D ep o is , madruga -se
men o s, almo çan d o - s e ao amanhece r , e de dia cla ro, em março. abril e maio.
Mas a açorda s ubs iste, s al vo n os dia s «de nomeada», que, a s eu tempo.
r efe r i rei.
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ATRAv t S DO S CAMP O S
Merenda T em lU8aI das onz e ao m eio dia, no local do tra balh o, ao ar livre,
s up r in d o O jantar, qu e n ão é de uso fo r n ecer - se n os se rv iços d e a rado
e de outros lig eiros, durant e a ép o ca a q u e venho aludind o. (1 )
À merenda con st a de p ã o e qu eijo. Um p a t a cad a homem, com o p ã o qu e
tiver na vontade, pouco o u muito qu e seja.
- «Tirem os queijos, o h lsanillu: » - di z o abegão, apresentando o talei go
aberto à gan h ar ia . E a cres centa: - «M eta m a mão, mas não escolham . . .
Tirem o que lhe calhar ... »
P OI sua vez, ca d a qu al tira o q ueijo q ue l he com pe te e igualmente s e
apos sa dos m a rr ocates que calcu la comer.
O tamanho e q u alid ade dos q ueijos, d ã o origem a com entár ios. O g anhã o,
que é desconfiado, p ers u a d e- se q ue tirou dos m ais p equenos, invejando a so rte
do com pan heiro próximo, que tem um que se lhe a figura m aior e de melhor
aparên cia que o seu. D est a s suposi çõe s, su rgem pequena s disp u tas, em gr a cej o,
que muitas vezes t erminam pela tro ca dos q ue ijos, s e a de sig ual dad e não é
evid ente. S end o. o possuid or do maior, q ue em começo fingia querer trocar,
recu sa -s e po r ú ltim o, chaco t ean d o o outro q u e o tomou a sé r io.
Durante a merenda, a malta n ã o es t á silen ci os a . P elo cont rário. falam a
prop ósi to de t u do . Os solteiros fo rm am g ru po àp a r te, come nta ndo a s eu capr i-
cho. os namoros d os ausentes e d os presentes. O u vem e dize m muita p ia da, de
que u ns se ri em à s oc a p a . de que outros se form aliza m . e de que a'lg u ns se
envaid ecem. avo l u m a n do-a s a seu sabor. com o geba ao las q ue sã o.
.... . . .. . . . . ........ . .... . .. ... .. .. ... ... .. .. .. . .. . .......... ... .... . ... . ... .
o abegã o é o p r imeiro a merendar. O s 88n h õ es espaçam q u a n t o podem.
mas, afinal. con clue m t ambém. T od os então fazem os cigarros com a morosi-
dade do estil o, acendendo-os com f uzil e isca .
Nesta a lt u r a, a con t ece que. um dos motejados na co n ver sa sobre namoros,
aproveita a oca siã o para exi bi r uma bolsa nova de petiscos. bordada a missanga
pelas mãos do de r r ic o, Obra d e luxo e de fantasia, que ele mira e remira muito
ufano, a d esp ertar a a t enção dos camara das. Estes, reparando na prenda,
chamam-na a si para a apreciarem e comentarem, s egu n d o o seu critério.
De entr e os qu e a ga bam. h á quem fix e o poss u id o r e lhe di ga: - «C a r a m ba,
Zé, que isto che ira a f êmea I.. . Viva O bem feito I. " Bem se v ê que ela tem
mãos de pratel . .. » E a s orrir-lhe malicioso, conclui: - «A h , m a r oto f que j á a
ganhaste I.. . »
A tais amebe.lidades, o Z é nca derretido. T odo baboso, responde : - . O r a
adeus. as coisas dão-se a que m a s merece 1. • . »
'E, nestes di ch otes prosseg ue m , até o e.begão recomeçar a faina, dando a
merenda por n n da. Uma h ora de interrupção, aproximadamente.
h .) S. por u.np~io . DoUta I pou Iu rl . te oc,,"pa ... tn b.lbo•• ioluI IO' . como c. .... ue . • alo ai mUI D.d. ,. b on
.0 • • 10 di., .... . laI j.atu d. Itpm u lll.lb.Ul.u ... u i.. próp ria. do t ..., po. N. IlJpó IU. d", buer j u u ar •• uia coau.
i • . ... UpM. olb., ou d. 40 ahCCu u -opu.
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ATR Av t S DO S CAMPO S
* * *
A o a n oi tecer , dã-se a ceia. O ab egão ou o sota, senão os dois, põem a mesa,
vasam a olha da a sa da para os a lguidares, separam a boia (q u an d o a h ã) e con-
duzem a comida ao seu destino. D epois, um d eles sai à ru a e grita : - «À ceia 1. .••
- Grito forte, que se ouve distintamente. Fraco q u e foss e, ouvir -s é-ia tamb ém,
atenta a impaciência com que os ga n hõ es o atua rdam.
Mal p ois o ouve m . t od os entram DO m onte, todos s e d es cobrem e to dos s e
sentam à mesa n os l uga res habituais. C omo de cos tu m e, o a be g ão p reside, sen -
tado à cab eceira .
Prim eiro, m tg am-se as sopas sobr e o caldo da olha . Tan tas quanta s possam
ficar em bebidas. F eito isso, o «gover n o» p rofer e a in vocação do : - cC o m J esu s l..
- e a ga nharia p a ssa a co m er vagarosam en te, com o silêncio e o rdem q u e n otei
ao tratar d o al m o ço.
Qua n d o t odo s deixam d e come r os legu m es o u a couve, o a b egã o - se o dia
é ed e carne» - puxa a si a pala Dgana do touci nho e parte a boie ( 3) em t a n ta s
rações iguais q u a n tos são os homens. E. oferece -lha para que a comam em
h ) E.. cn to, di•• (u tJ..o. do IDO, .. ui.. ou o. j' Dt ar .. d o ulut... I.'Dta m. ILon do" ( omo t en! ou,llio d . uf llir.
h ) N., J OIlr U do A I. Au jo d boi• • 0' .. u o. d. lo oda.ho ( OUl qu i n . dob • • olh. do. ai.d o., • qUI d.po l•
• por ..lu co. tdo ta_ h' m d• •btun com pio.
(3) . f" l.no 4 " " em p.rt•• bo/. _ - d i~ ... DO' um pu d. l.I"u qU' Ddo •••10, 1. ",u' m .trtbuh.do.IL • • pr lm. aI. de
m.aJfut • • up.riorld. d• • m qu. l qou coi.. , ' 01,1'1 outro. (nd l..ld" o' d. ca ndh au IIm .I L. o tu, l...ld'D tcm'Dt• • o co.ni to d.
ú .... pro ud. d. qu.l. puno, . ti... do . 1,. ' 10.
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ATRAvt S DO S CAMPO S
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A T R Av t S DOS C A M P OS
enchido. Mas se a m orcela s e s ubs ti t u i por carne f r esc a de badana , com o se usa
durante os serviços da s eiras. essa raçã o vai a vult o. i sto é sem ser a peso;
todavia, calcula-se u m a re z para o jan tar de 16 a 20 o u 24 homens.
Julga muita gente que uma badana é sempre uma o vel h a magra. P ode nã o
ser. E nunca é. D O verão, único tempo em que s e abatem reses para os criados.
A ssim co mo à s va cas e bois velhos se chamam açougueir os, e com o tais,
dep oi s de gor d os, s e vendem p a ra consumo - da mesma forma as o velh as, em
iguais con d içõ es, s e d en ominam badanas, e nessa qualidade são vendid as para
os açougues públicos, ou se matam nos montes para consumo do lavrador e da
cria dag em . O fact o d e serem velhas não impede que engordem. A questão é
estarem s ãdias e t erem pastos em abundância.
Ora os pastos escasseiam-lhes de inverno, e esta circunstância. aliada à
outra de estarem paridas então. influi pa ra q u e, ne sse tempo. as badanas ema-
gr eçam mais que as ovelhas n ovas. Deriva p oi s dessa n ot6ria m a gr eza, o b a ix o
conceito em que o vulg o as tem, co nceito q u e. s e é jus to no i n v erno. n ã o o é
depois no verão. q u a d r a em que se mostra m gor d íssim as. p o r virem co me ndo
quanto qu erem d esde o princí pio da prim a ver a . E tanto assim, que n a f eira d e
Fronteira, a 29 e 30 d e junho. os marcha nt es co m p r a m quantas aparecem, p a r a
forn ecerem os talho s d os arredores de Lisboa.
Em r esum o. a car ne de badan a é apre ci adí ssi m a pelos criados d e lavo ura ,
p ref eri n do- a ao to ucin ho e à morcela . Quando lha apres entam, r ese r vam e
g u a r d a m cuid a d osam ente t oda que lh es sobej a , para a com erem de p oi s. a q u al -
quer h ora disponív el, com o pe ti sco s a boroso e r econstituinte.
. . .. ..... . . . ............ .. . .. . . .. . ...... . ..... ... ... ... . .. . . . . . .............
Voltando 8 0 jant a r. r es t a d izer qu e, n os «dias d e az eite», ca da hom em .
al.ém d a o lha, re ceb e me ta d e d e u m q ueijo. S e o n ã o q u iser com er. dispõ e d el e
à vontade.
N a mai or parte d os s er vi ços do verão, d ep ois do j a n ta r, dorm e-se a ses t a.
o que t u do entr etém d ua s h ora s. N a s eiras em q u e se trabal ha pelos anti gos
processos d e debul ha co m ég uas, nã o co stu m a h aver sesta. P ortant o, o i ntervalo
do meio dia, restringe-s e a uma h ora o u pouco mais.
(1) c .Jpu b.o O" 'up.cllo. qlll por . mb formu .. PTo.." o..,I•• cOIIII, t. ou.m.. IJOP U di pio 1m "II' & 1. e ..lu"rI
com • .,111 , ••1 ••Ib.o pu. do. '0 qU I .I,um pu.ou .didou ... p. a.d.. b.u de plm . .. ra "du , u l.ol. c..... e t om....
cnll. QIU Dto 11I.1. fr l. ut' • IJ"• . melh oT ubor u m o c..p.c ho . to comida pr 6pd. ao. dJ d e calor , u .h .. u~.dJJlm.
em tod o o AI...tl io • Euum . dlU' up.uLol • . Snn -n u i o . 1Im...I' . u cri.du d. t U OIU' . m.. u.IIILflll cm tod. . .. c.....
d. . .lIu I . Idel.. . dud. .....,. pobre .d l m.ia .b"lJd• .
O. cd.do. do campo, qu ...do .10 comn ' 10" .op• • , f fr.q oc.nte db.uuo ' - V. uo o. cU p.clulr.
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ATRAv t S DO S CAM PO S
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ATRAVt. S DO S CAMPO S
(1) Gabado da Irun... a .....a. de Slo reo co m ma il.. 'ordur.. a te mperOl, pndo miDudo a pia:t...ta e o pt.latio.
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...
• Aspectos de povoação
ATRAv t S D O S C A M POS
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ATRAVl!'.s D O S CAMPOS
P o r ocasi ã o d e casamentos e bati sado s Naq uelas lavo u ras onde. até certo
ponto, os serviça is são quase con-
siderados como pessoas de família, eles partilham também das festas dos amos,
por efeito de bodas ou batisados.
N esses dias, todos almoçam e jantam ensopado, carne de porco, galinha
com arroz, bolos, vinho, frutas, etc., tudo em extraordinária abundância .
Se a festa é por celebração de casamento, ta mbém se u sa dar folg a ao pessoal,
para m ais realçar o f est ej o.
À noite permite-se bailarico de criadas com cria dos, ao som do pandeiro e
de ca ntigas de roda .
.. .. .
N as casas de la v ra do res que estão de luto carregado , pela morte de parente
próximo, n ã o há falares nem melhorias de comida em dias festiv os. O luto não
se coaduma co m esses r ega b o fes.
Jejuns E ram antigamente celebrados nas ganh arias e restante pessoal, senão
to dos, que a I greja p receitua, pelo m en o s os da s festas de m a i or de vo-
ção , co rno o da véspera do dia d e T od os os Santos, o do Natal e o de q u inta-
- fe ira. de Endo enças. Presentemente, em poucas ou nenhumas lavouras Se
sat isfaz a fo rmalida de dos jejun s. Digo forma lidade, porque não era outra
coisa. Esses j ejuns. mais pareciam pretexto para f artas comesainas, do que actos
de devoção e pen itência. Tant o a ss im era, q ue n enhum criado havia que, pro-
pondo-se- lh e escolher en tre a alimentaçã o ordiná ria e a u sual em dias de jejum ,
não optasse s empre pela última.
Jejuan do, o sacrif ício limitava- s e à abs tençã o do almoç o, quan do se absti-
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A TRAV É S DOS C A M P OS
nh am, por que muitos n em isso. comendo às escon d ida s pão e quei jo, d e q u e se
muniam surrate iramente na ceia anterior. Mas mesmo que nada alm o ça ssem,
po uco se incomodava m . Às onze h oras da manhã o u antes, em vez d a ha bi tu al
merenda do pão e queij o, apare cia-lhe s um fa r to [a n te r de feij ã o br a nco o u
amarelo, muito bem co n di m enta do . frutas e qu eijo gr a n d e de ovel has. Queijo
bravo, como em frase picaresca lhe chamam os criados, qu eren do a ss im diz er
Qu e esse qu eijo é de superioridade e apreço tal, que po uca s vezes o apanham ...
D epois do jantar havia, à noite. a cei a, qu e se diferençava das ordinária s pOI
con sta r de arr oz com bacalhau, queij o d e ovelh as, passa s. n ozes, vinho. etc.
Enfim, uma p enitência muito su por tá vel !. .. Passou à história, e sup onh o que
sem prejuizo para a salvação das almas.
DIAS FERIADOS
Al ém d os habituais d omin gos de folga , imedi a tos ao fim das q uinze nas ou
sema n as de t r aba lh o (t) - a ga n h aria e os ou t ros cria d os q ue se em p r ega m n as
chama das ocu pa ções braçais, guar dam, a ri gor, os se guint es di as santificados :
Àno B o m, R eis, A s cençã o, Corpo de D eu s, S . J oã o, T od os os Santos, Nossa
Sen h or a d a C on ceiçã o e N a tal. O m ei o dia da ta rde d e Quin ta- fei ra Santa e
o da m anh ã d e Sex ta-f eira da P aix ã o, n ã o são tão geral mente gua rdados,
havendo l a vouras onde s e trabalha nesses do is m eios dias para se fo lgar em
segunda- feira de Pás coa o u na i med iata, a dos Praz eres de N ossa S en h o r a,
també m ch a m a d a segu nda-feira de Pa scoela, ou de «passa r águ as». (2)
P a ra os dias d e No ssa S enh ora d as Candeias, d e S. Pedro. d o C oraçã o d e
J esus e Santa Mari a de A gosto n ã o há r egras in va riá veis, gu ardando -se ou
não, con fo rme a urgên cia dos s ervi ços o u a vo ntade dos la vradores e dos
criados. N os dia s de S. José e d e N os sa S enhora da E n ca rnaç ã o n ã o se usa
folga r .
Na freg uesia d e Santa Eulália sempre se dá feriado na segu n d a- f eira de
P áscoa. N a s de Barba cena e Vila Fernand o gua r da -se. pe la m esm a f orma, a
seg unda- feira de P r az eres.
P el os t rês dias d o C arnaval só se folga n o D omingo G ord o e n a tarde de
terça -feira . M a s na quart a-feira de Cinza, vai de d es ca nso ta m b ém, pe lo m enos
em muitas partes. Este feriado, to r na -se forçoso, em conse qu ên cia d o pessoal
n ão com parecer ao traba lho, por fica r arr ombado das foli as carna va les cas.
Em conclusão de feriados, h á ain da, o s d ois d ias d o fim e p ri ncípio d o a n o
ag'rícol .a , por ocasião d o S . M ateus a 21 e 22 d e setembro e ou t ro s por motivo
(I) Por oeullo d u u merr.teiu.l . I a o le mpo dai elral. ~ ..-.. tn b.lbar por p" sodo l de <l~ ;'u e a ... o.i o te eoulder.o.do
de foi;. O domiaáo il:l tU1D edl h lo . N u u . t . ...... hocu do . ao tI&L.11I.- .. l ' ..mao.... du u a laa do· .. tod o. o. do m/oá o"
SI podm 0.& umla' h' Wl1 di. uatlliudo elO <l a l IC lolj•• tra bllb._u ao doodoá o . au ri or .0 di ••• o.to. ou 0.0 Imedi l1 o.
(s) Po r . o.dálmlo.u .. Ol f r , o.., t. dil . b ·u l i rl Ldru , PUIU II 'áo u . como Ilt u cn- I tiYo eoo.l ra • ' U III .
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ATRAv tS DO S CAMPO S
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ATRA V l!. S D OS C A MP OS
HABITAÇÕES
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AT RAv t S DOS C AM P OS
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A T RA v t S D O S C AMPOS
de m aior vaior - ' a sac a do ce real, a da f ari n h a. a tarefa com A car-ne d e po rco
e o t a bulei r o do pão cozido. Clar o está que es t es re cursos em casa de criado de
servir, só exis tem n a s daquele s cu ja s s old a d as lh.es pe r m ite m r eu n ir , po r jun t o.
s emelhante s co mest íve is . O s o u t r os mai s po bres, q ue constitu em a gran de
m ai ori a. não a massam pão e n em s o nh am em faze r f u meiro. À s s u as f a mí li a s
co m em a crédito das v endas. E já se julgam com so rt e s e o crédito lh es n ã o fal ta .
.... . . . . . . . .... .... . . .. . ...... . ...... . . ... ......... ..... ..... ......... . ... .. .
V o ltando a o m o bi li ári o. p o rm en orizarei o aspecto e lux o d a cama conjuga l,
a m a is n o t á vel coisa que se observa no satão referi do.
A t é h á poucos ano s, o leit o des sas cama s, a q ue vulg ar me n t e chamam ent re,
era se mpre muito alto, d e madeira d e melhor o u pio r q ualidade. sendo v ulgare s
os de p i n h o. tin tos a v ermel ho escu ro . a cola e ver n iz. com o u sem o rnatos de
pint u r a e d e chapas de metal amarel o n a cabeceira . Lei t os gigantescos, de cabe-
cei ra a vantajada, com t orneados de bilros ou macetas n os colu nas, e os pés a t é
à al tura d os enchim en tos, mas s em arm a çã o sobrecelente. Estes leitos, já de si
eno r mes, avolu ma dos, como são, pelas des comu n a is enxergas e colchões, forma m
ca mas tão d esmesu radam ente e levadas, que p a ra se u t il iza r e m , sem maior
es for ço, carec e-se d o a uxílio d e uma cadei ra a l t a , por onde se possa t r ep ar.
O u en tã o u ma escadi n ha ! Algu n s chega-lhes a ca beceira 80 te to da casa, e a
o u tro s é necesaéei o r ed uzir- lhes os pés para lá ca ber em .
P r es entemen t e poucos o u n en huns se cons tro em por semelhante modelo.
D e d ia a dia ge ne raliza m -se os de f erro, m ais cómodos, elega n tes e ec o nómicos.
«C e r r es da mo da », como lhes cham a m as aldeãs.
D e madeira o u de f erro q ue sejam, os prepar os r es pect i vos constam d o
s eg uinte : d u as m ei a s enxergas. ou um enxergão ; um o u dois colc hões de risc ado,
rep letos de l ã ; dois Iencoi s , cober to r o u co ber tor es ; e por último, cobe rta de
ram agem, de co r al e ér e, toda g u a r ne cida de f olhos, a caire m sobre o co rt inado
do roda -pé, corrido em volta. D e en tre a s r oupas brancas. d esta ca m-s e : as du as
almofadas, cheias de lã. enfronhada s em f8cinhas de r en d a s e fo lhas.. m ui to
catitas, claras de neve; o travesseiro, t ambém de lã, envolto em fronha aIv ís-
síma , com g ua r nições de rendas e laços de fitas n a s p on t a s ; e, de r es t o, a a mpla
dobrez do lençol de cima. term inando por rendas engomadas, a produzirem um
vis tão sob re o co lorido da colcha.
Em gente pobre, chega a pa recer fa ntástico tudo isto. P oi s não há a qui
fan t asia. Há. sim, expressão de verd a de, q ue os incrédulos podem verifica r ,
q uer endo. E note-se que, a r esp ei t o de en xo va is de cama , existe mais d e um em
cada casal. O que ficou mencio nado, cos t uma ser o do noivado e dos dias sole-
ne s, como fes tas , batisados, etc. P ara o us o co rren te, exceptua ndo o enxeegêc e
colchões, que sempre são os mesmos, h á mais u ma o u du a s mudas de ro u pas,
menos es pal h a fa t osa s, ma s igualment e co nfor t á veis e a ssea da s.
A p ropósito : assim co m o existem donas de casa q ue dormem habit ualme nte
no cat re , co m o u se m os filhos pequenos - o utr as há , q ue passam muitas noites
consecutivas se m se u tiliza re m do leito. O bsecedee p ela m o n o m a nia do luxo
- 130 -
ATRAvtS DOS CAMPOS
* * *
N a s moradias mais humildes, restringidas à casa de entrada e quarto, os
t rabecos acumulam-se um pouco, mas nem por 15 090 se olvida o asseio e o
arranjo.
Quintal Não existe em todas as habi ta ções, mas as que o têm, são muito mais
apreciadas e valorizadas. O quintal anexo, constitue d esafogo e aces-
sório de primeira ordem, que se ap rovei te para culturas de primavera, ou para
arrecadação de lenhas e cerrado de animais. Em alguns, há o competente poço,
que, em regra, não passa de depósito de água ordinária, só aplicada a caiados
e lavados.
A m aio r parte dos quintais costumam ser povoados de oliveiras. figueiras
e uma a té duas parreiras.
A propósito : anti gamente, as parreiras de latada, também eram vulgares
nas r uas das vilas e ald eias, sobre os portados principais das ca s a s de habitação,
em feitio de a lpendre, firme em colunas d e ferro ou de alv enaria. Produziam
mag nífico efei to. proporcion ave m óptimas sombras e da vam uvas esplêndidas.
Ainda r esta m algumas, fo r mo síesimas, sem causarem estorvo nem prefuiao,
Foi erro g rande, arran carem-se muitas outras. que havia em análogas condições.
(t ) N a aldtl a da Tnru,tlm • 1m Vii i Futl,t1do. , llab. dOI rup.ctl..", baLh. "uu. dlp ult'~'1 l U ' nu p6J.Uca• •
C, d.. 1 fllll -Aa ao I.tio o v. -.m frlat' d, u ... oa d, ruid, a alo d. pou u . ella frO. t u m COU V.ml c'lUl"'o. 401 di !d.la
(1...
IlIllho hoan •• d, proLld ada d. qa l ll " 11 11. O .lmplórlo 4UI lo.. fi.." • • 1m OUU" lun do COIloUUlO. 111 0 lu la li um e..... eo
.0 u Lo d. pOlle. . dlu .
131 -
AT R A v t S DOS C AMPOS
- 132 -
A TR AvtS DOS CA MPOS
VIDA DOMÉSTICA
po ~ e. b.u. o .Judro t ........1. O. U l rllm.. prouDilDI" d. IlIllP'u do . p ocll , õ.. e curul.do•• 011.1. o ••.10 pUlloita .
D UI. mUl lira. cad. cI•• I. d. l III. tlLlD o dlnlto d. tr u r Ila • ./... dou o.. tr h porc o•• p. ' .lldo o ' ''!p ul .do•• aU-
al... t . .. do o. porc o• • 111 . ua c .lu u . 1'0' di • • d. m.... hl I . 0 '01 110.10 . Ao. u ... h or ... o .<luc/ro ch• •• o reb.nh o l .
po r l.. d... li••• b....do -e n cad . ub"1 co rrer 1 .. ont..d,. .... dlr .ctlo 1 ~..Ida.. d . do .1 0"0. 1 u I. do . 1... oco ou d.
u la. t fnur....... tC..i a I ..tt.d.. do••uin o. Il...II•. P.nu u"'. 1, ,1 10 d. I......or .. l"' lIl d ' ll t. . . ..fo.....des, qu. , 'al
co rrnl..... ~tl,lno •• ••• cru ..... p.la. :ru• • , .uop.l.ndo o que I I II... d.p.... .. d u b. rr.n c• • • do • .10110', q UI i D...d.m •
' r " n bl r. h tromb.d.., <:e'o' 11.1 . ,.ofl cld. dc I Como ti.. II .tlum .0 m.ulrll o .m q l" Ih lIu..nt. . . . .:0 ... 1.1. 1.. ,
D. pob. lio O. dono. q ue .. illcumb ..... de o. condu..ir • • d ... . t ... Im que Umbi ch lllu • m. lh.da r u ll. cti....
proprl.d .d. m urúdlll l, d. m. ...llic .. cOl'di,õ u d••Iojo• • !tu.d. 110 r oelo Illlibllco.
h ) J.. lena. ' 0' m aIO•• 1m " b.. 1 c.b't., .ó do • • m ula".. . O. UIIUIJ do. t ub IlL.do r .. ... uh o pobr M uI L,n.
I filL o. d • • b,sõu • o u l . u crl.do' .nuai. d. p. ad o. !lu-IL 1 lum l i, ..... . n'''' t .mIlOU CO lI..ci llm f.r in cómodo.
E m .... 1. uca b.m·,.. dluct'''''IlI' do. I• ..,.do~", l.
c.rr. d cOmO prolll n. qll. ' Illu II.'
.01e1. d.. do. marido•• filh o,.
00 por d.d i.., "OIIl.. I.r1., O. . .... d.l ro. co.tum.... . o r lir dI 1e.. h •• l.m ll h. 1.... lld o·1L•• 1.. .... bllrr.., qO.lldo ..lo •
c.... ol. no !I•.
- 133 -
ATRAvt S DOS CAMPOS
prazem em ir lavar a r oupa sua e alheia, (tl mais a miudo e melhor do que
usam 89 das terras vizinhas, em bons lavadouros próximos.
E,' que o Caia atrai-as a si, pela limpidez apreciável das suas águas e pelas
sombras flesca.!l dos el oendros e salgueiros. retiros deliciosos para liberdades de
lavadeiras. M oças e velhas. passam aí, oculta s, a calma do meio dia , acarredas
em desal inho neglig ente, ii frescalhona, senão em camlsa, como usam a s muito
pobres, enquanto a s saias lhes enxugam Das lezírias e DOS juncos. Mas este
repouso à sombra e à ligeira. não compensa o custo da ca m in h a d a, r ep etida
duas e tr ês veaes p or sema na, O que impele o mulherio a essas jornadas violentas
são as águas da ribeira, á g u a s esplêndidas. que concorrem imenso p ara a fama
das aldeanas como ó p ti m a s lavadeiras. E elas. coitadas timbram e m conservar
a fama que justamente conquistaram .
A que por indolência prefere lavar os «tra p in ho s» nos p êgudtos dos ribeiros.
é classificada d e chelendrona preguiçosa - porca d e chiqueiro a ch a f u r dar em
lamaçais. Lá diz o conhecido remat e de cantigas p opulares:
- 134-
ATRA V t. S D OS C AMP OS
... Habituadas à s labu tas d o campo, d ese m p enham r esignadas m ais essa da
f ont e, s em d ú vid a meno s custos a d o q ue o u tras q u e exe cu ta m o. cada pa sso, na
senda espinhosa da sua humilde exis tência. Às vezes, por se lhes tu rva r o
espirito com a vi sã o d as d es igua lda d es sociais, mal diz em o seu tris t e fad ãrfo,
invectivando a s protegidas d a fortu n a , q ue n em sequ er sonha m com s emel ha n t es
sofrimentos.
Mas tais d esa ba f os n ão p a ssam de en fa dos ligeiros. que se es v a em d e
pro nt o. P orqu e. afina l, 8S jor n ada s a o p o ço, a par das fadigas e tempo que
dem andam. prop or cio n a m atractivos i rresistíveis. S ã o ensejo magnífico para as
mul herz inhas darem CUISO à m u rmuração. narran do e ou vindo o que de bom e
m au se diz e fant asi a pelos a rred ores.
Lá mesm o a enche rem, o u n as esperas. a gu a rdan d o a vez. tagarelam à larga
e à g r and e. F a lam d e t u d o e principalment e em intrigu inhas d e n a m o r o s.
P ara variar, abo rdam ta mbém ao bom e mau governo desta ou d aqu el a.
n ôo esqu ece n d o co me n tá rios sobre a bizarria ou sovinice d as graves. termo d e
co n sid era ção ir ón ica porque designa m . às vezes. a s conte rrâneas de tom .
* * *
G eralm ente, a m u lh er go verna em abs olu to na ca sa . O ma rido , Ba nha ; a
mulher, a d ministra . Ele. entrega - lhe a massa ; ela, apli ca-a como entende. a
ponto d e ser ela qu em co mp ra o tabaco para ele. Da m esma fo r m a , arrend a a
casa p ara onde pretende m udar- s e ; d esped e- s e da qu e habita: paga a s r en da s e
as con tribuições ; co mpra a farinh a par a o ama ss ilh o da s eman a, podend o e
precisando; avia-se na l ojas e v end as, e o m a ri do d á por t u do par a se n ão
eavecer com baTafundas. Farto de li d a s n o q u e é d e o utrem, não te m pacho rra
para t ra t a r das suas. Se por a ca so se mete n iss o. é sô men te pe r a ser ec o d a
mulher. P a r a lhe com p r azer , qu and o o con sulta. se co n s ulta. C omo homem
de brios, não lhe quer ir à mão. Ela q ue po n ha e dis ponha . Se boa ca ma fiz er,
nela se d eitará.
Se ambos pensam em comprar casa para morar, ta m bém o n eg ó ci o s e
p l a n eia e decide sob o influxo da espo sa. C a sa em ru a q u e n ã o l he a gra de, por
b oa e barata que seja, n ã o s e compra. Se. pelo contrá r io, fo r ca r a . m as a r u a
a grade. com pra-se log o, d ê por o n de d er . Qua ndo m ui to, por d escargo d e co n s-
ciência. ele diz lá para os seus botõ es: - «Mulhe r es. s ã o o di abo .. . t ortas como
um ge rrocho l .• . Vejam para o n de lhe h avia de d ar ... Ma s se uma p es soa t em
de ir com elas . .. com as fil has . • . D eix á - l o . .. vá pr'aí . • • Se fo r asn eira.
t amem ela a p aga . • • M ais d isso •.• P ara q u em é a casa ? .. P ara a mulher ..
es t á b em d e v er . •. Quem es tá n o ninh o é a f êmea ... O m a ch o gira .
Ma s q u ando v em ó ninho, q u er cer-ansc . . . E, o ce -ensc só é bom. às boas »
......... .................... ............................ .... ......... .......
N ã o o bs tante, há marid os que ralham freq uen temente co m a s mul heres.
com o u s em ra zão. Entre estes, tam bém um o u o ut ro. oferece e dá o seu soco
- 135 -
ATRAVeS DO S C A M P OS
bem puxado, de longe em longe, não tanto por lhe chegar a mostarda às v enta s,
mas para m os tr a r que é teao, q ue em ele es tando, a casa ch ei r a. a h omem .
F arran cas de o cas iã o, q u e em nada abalam o predomíni o da consorte. Â s boas
ou à s m ás, a chorar ou a rir, ela é a rainha do lar . de soberania discu tida
mom entâneam ente, mas nunca destronada.
Para t a nto. basta-lhe trazer o marido bem v es t id o e calçado. rem endadin ho
a ca pricho, e ao mesmo t empo não lhe falta r com o tabaco. boa comida e boa
ca ma, nos dias e noites q u e vem a casa. Se nos domingos lhe ralhar p a r a q u e
se barbeie. lave e vista em trajo d omingueiro. taoto melhor.
Ora, a t odos es ses deveres e atenções. e a o utros a n á logo s, atendem, so lícitas,
as mulheres d os campónios, sacri.6.cando -Ihes de boamente a sua alim en taçã o.
descanço e v estuário. Comprazem..se em traz er os m aridos c com o uns brincos »,
em ccchego d e comp ost ura e ass eio, q ue nã o dê motivo a censuras, antes a s
eleve no conceito p ú b li co.
P o ss u íd a s da mesma lou v á vel orientação, e s em p re no p ropósito d e a grad a -
rem, muita s. nos domin gos em q ue s e não f olg a . v ão a p é, com os filho s, à s
lavouras on d e trabalham os maridos, a d istâncias de ;; e 4 quilómetros, p a ra aí
ja n ta re m com eles, do que lhes levam d e prop ósito de suas casas, em cesto
ta m bé m provido d e loiça, t oalha e ta lheres, tudo muito Limpo e asse ad o.
O jantar consta da olho.zi ta na panela, p ão de trigo, vinho e frut a . N essa
ocasião, nem eles n em elas comem à custa. do lavrador; m as cada homem
recebe d o e be àãc os marrocat es e q ueijo que lhe pertencem .
À. v ista da mulher com os filhitos p el a m ã o e o ces to d a p a p aro ca à cabeça.
a l em b r a r a saborosa lhe , a boa pinga, e outros mimos que ela lh e tr az expon-
ô
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Vida pastoril, - O rebsnba de ovelhes - A boiede
U1F.NS/L10S DOMtS11COS
- 137 -
ATRAvtS DOS CAMPOS
sem i-nus e sujos. sem q ue isso as p reocupe. P elo menos procedem assim com os
rapazes- capitães de pé descalço, com liberdade de vadiarem pelas ruas e arre-
dores da terra, sem suprema de ninguém. Ás raparigas dispensam maiores
cuidados de arranjo. a par de o utra sujeitação.
Rapazes ou raparigas, as mãis apenas os castigam quando lhes causam
prejuízos, como por exemplo, q uebrarem -lhes louça, perderem-lhes dinheiro. ou
corta rem -se com rebald arias de furtos. Por qualquer dessas faltas. vai tudo
raso: - pagam o s delitos de f ragante e os atrasados. O eaorrague cai-lhes em
cima , n uma fúria selvage m , q ue con trasta com a tolerância qu e 8S mães lhe.
dis p ensa m , o u vindo - lhes e consentindo-lhes i mpunemente. e a toda hora,
pa lavrões ind ecent es e i ns ultantes, de que a t é muitas se riem. S e estra nhos lh es
exprobam semelhante inconveniência, respondem:
- «Ora são inocentes, coitadinhos . Não sabem o qu e dizem . . . Zucsr-lbes,
para quê? Q u a n to mais se lhes auce, pior Entes falarem mal, que furtarem.
A gente era o mesmo . . . Filho és, pai serás »-
Mas não obstante conside rarem-nos inocentes, cob rem - n os de impropérios
à me nor contrariedade, tratando -os por filhos de curta, etc.
- «S e outrem lho há-de chamar, menos de verdade, chamo-lho eu, qu e bem
sei que não o scu.»
Assim se pretendem desculpar quando alguém de respeito as admo esta por
esse tratam ento inj urio so. N i sso 6.cam sem o mínimo receio de perderem a
rep utação. O tratamento de curta e /i lho de curt a, é tão vulgar e admissível
entre o povo rústico d o A lto A lentejo, q ue se profe re a toda a ho ra, sem inten-
ção in jurios a. Àté se ouve em voz a lt a, como gracejo de intimidade I T ris t e
gracejo ...
.
. . . . .. . . . . .. . ... . . . . . . . . . ... . . . . ... . . . . . . . . . .. . . . ... . ..... . . . . . . . ... . . . .. . .
D os seis aos dez anos, a maioria dos rapazes va i ao m ato, ao fe ixe de lenha,
para consumo da casa. Das r.apar igus, poucas vão : as mães p ref erem tere m-nas
d e portas adentro, a [azerem liga, meia ou renda.
D os rapazes, só vão à escola coisa de metade, se tanto, e sõmente qu ando
querem ir. Às mães pouco lhes importa isso, e os pais menos. P o r acaso um ou
o ut ro, de melhor critério, se empenha em que os 6.lhos aprendam a ler. Com as
rapee ige s observam -se factos semelhantes, notando-se, que, as de algumas
freguesias rurais , pop ulosas, inda q ue quisessem aí frequentar a escola, não
podiam, pela simples razão de a não haver. (t )
Os de um e out ro sexo, logo que aos dez ou onze anos principiam a ganhar
no ca mpo, passa também a disfrutar maiores carinhos dos pais. D essa idade
em di a n t e, por muitos qu e se ja m numa casa, a todos, os p ais ambicionam vida
e de t odos cuid am co m in teresse. A a miza de cresce em escala proporcional e
sim u ltânea com o d ese n vo lvimento d os 6.lhos . P ri n ci pa l m en t e da mãe, q ue os
consideran d o casa d oiros, fa z sacrifícios loucos p ar a os ca l ça r e ves tir de po n to
h ) Em 5a rbar~ft •• IIor e:. .. mplo. onda .6 11., ucol. p ioU o .u:o mucu.lIno.
- 138-
ATRAvt S DOS C AMPO S
139
AT RAV ES DO S CA M PO S
• • •
Batisados Pou co o f erecem de notá vel. Em tempos que não vã o lo nge. er a
v u lga ríssi m o os criados de l a voure, e especialme nte os «d e p ensã o ».
co n vida re m para padrinhos d os s eus fi lhos. os l av rad ores da s p r oxim id a des. e
de pref erência os filhos dos respectivo s a mos. embora fosse m cr i a nças. E s t a cir-
cu n s tância. lo nge de s erv ir d e obstá cu lo. pa r ece q ue até in flu ia pa ra os co n v ite s
se r ealizar em e r epetizem com m ai or fo i teza. Os p equ enos. d e ca lças e sa ias
curtas. figura vam a miado co mo p a d r i nhos. e aind a h oje os guinda m a essa s
a ltura s d e ve z em quando. A os pais e irmãos a contece-lhes outro tanto, pelo
m enos a qu eles q u e vivem em maior co n t ac to com a população p obre das aldeia s.
Há muitos exemplos, d e p essoas g ra d as. servirem de padrinhos duas e tr ês
vezes n o m esmo dia e na mesma localidade.
Também se conhecem indiv ídu os, que por muito s filhos que t enham, con-
vidam se m p re padrinhos de u m a s6 família-a do amo o r d inàr ia m en te.
E. a propó sito. q u a n do os convidam , justificam-se di zendo :
- «Já ago r a . t enha paci ên cia: não bato a o u t r a porta; não me a bai x o a
m ai s nin gu ém I. . . »
N ã o obsta n te, es tes u sos vã o diminuindo s en si ve lmen te, sendo m ai s vul gar,
o s p a is d a cr ia nça. co n vida re m pesso as da s u a cla s se para padrinh os. Parentes
pró xim os. so b r et ud o m o ços solteiro s, um d e ca da sexo, q u e s e n ã o na m orem .
Nam orand o-se, o b a tis o n ã o fic a v a lioso à face d e Deus, a firma a s uperstição
p o pu lar 1. .. Também, seg u n d o a mesma cre nça , n inguém t em ente a Deus, s e pode
n eg ar a s er p adrin h o de batisado - «a a j ud a r fazer alma s cris t ã s» - Qu em a
isso s e r ecusar, p erd e a salva ção da a l m a . P ortento, d e melhor o u pior v on t ade.
n in guém o usa r ecusar-se. Ind a q ue n ã o re ceiem a s p enas ete r n a s, temem a cen -
sura dos cren t es.
* * *
Os batisados costumam efectuar-se nas tard es do s d omingos o u dias santi-
ficados . P ela P á scoa, Nata l e o utras festas solenes, realizam-se dezenas d eles
em cada f reguesia rural d a s m a i s pop ulos as.
- HO-
ATR Av tS DO S CAMPOS
(I ) o pri o r nubl. pclo III COU. 480 re lc do pldrio.h.o I 2ÁO uI. 011 lIIacI.ri.Aha. ou CUI III ea .. unc fax. O .. edal.o.
160. 200 relc d. c.d. UIII. ~c pcPOu . bu l.da. COala"CIII dar lIIal•.
( d Nom .. h.'u"I... 1 101. p u • • Ip.jc . o pc dtlo l.o ocapa o lo ' ar d. dluil. I • m cdrio.". o d. " c a ud c I OOaIrU.
a"_1I o Io.'u u o. M.. por Co. llIaar {or m• • 1 ... 1110 ceda a lll. t om a I",ar 0100110 l qu cl. 11111 ocapou o.a 101• . t 10.10 III.Co.oc O
COallUIlI m il. a ••do .
(3) COIOlO I. .. bid o. o..m t odo. 01 b. t1..doa l. ulII m.drio l. • . Muit o. .. u .IJulII COIII 0101. 10 . 01<1.0.10 0. 1.0100 .11 • • lOca nd o
1;Im COIII • pu nd. dc N o... S . n h on . N U I' ca" . , c1u o 11111 lIi o 10., pa'lm.
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ATRAV e s DO S CAMPO S
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ATR Av t S DOS C A MP OS
* * *
D os batisa d os r esul tam p ad ri n hados e co m pad r ios num er osos. q ue vão
m uito al ém d o q ue se pode s upor . A s cria nças ba rísuda s, os pais e os avós, fica m
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AT R A v t S D OS C A MP OS
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ATRA vtS DOS CA MPO S
que quiserem, que ele fará outro t anto, não ol h a n d o a gastos. O pai ac ode em
ref orço, acrescentand o :
- «Q uem olha a g 8St OS , nã o se mete em fu n ções.. . Um dia, não são dias...
Onde não chegar o rapa z, chego eu . .. ou os am igos. se fo r preciso .. . N ã o será,
g r a ça s a Deus.»
E. para corrobar, conclui a sse verando que ele . hom em d e barba s de vergo-
nha na cara , n ão a com panharia se u filho a pedir filh a s d e o ut rem . s e o n ão
sentisse com poss es p ara mud ar d e es ta do e co m q ue se governar alg u m t em po.
Tão bizarras declara ções são escut ad as, com infi n i to p r azer. p el a ge nte da
noiva, que, lá pa ra co n sigo, nunca levariam a b em o utras em contrári o.
Mas, para s al va re m as a p a r ências, r esp ond em que de to da a m an eira fi ca m
contentes; qu e n ã o qu erem incó m odos, qu e far ã o p oucos convites, pa r a se n ã o
tornarem pesados, etc .
A restriçã o n os co n vi tes é a b er tamente co m bat ida pelo n oivo e se u pai,
no propósito de d em o n s trar em cabalme n te que não são so m íticos, e que se
sentem na bolsa, embo ra a r ealid ad e es teja m u ito lo nge d o q ue aparentam.
mas é da peça a la rdea r a bund â n cia, e p o r isso a rrotam .
Á vi sta de tão insis t ente arra zoad o, os pais da n oiva a ca ba m p or d eclarar
qu e enfim semp re co n vida rão a s u a p arent el a, vi sta a boa vo n ta d e d e qu em
faz as d espesa s. Nessa s in t enções já ele s estava m desde o princí pio, ma s parecia
mal dizerem-n o. À s esco vi n h as d os esc r ú p u los sã o preci sas, p or tamb ém Serem
do estilo.
Àrrumada a qu estã o. vem à b aralha o u tr a d e maior transcend ên cia. T em d e
se combinar sob r e qu em h ã o d e se r os padrinhos: se cr iat u ras da egu aIs dos
noivos, ou se gen te gr a v e. N ão h á-de o n oi vo co n vi dar p adrinhos le p ôes e a
noiva madrinha fina. Ou o invers o: a n oiva ir à i grej a acom pan hada p or
mulher campónia, gross eira, e o noivo entre l1gu rões d e g ra vata ou lavrador es
ricos. T em de dizer o 10m com o som .
Nisto não há diver gências, asse n t an do- se lo go qu e os dois padrinhos e a
madrinha serão t od os da mes m a clessete, Discu t em-s e p orém os pró s e os
contras que haverá em con vi dar d os d e colarinho alto o u d os de ge n t e lam-
beruçe, De re sto. optam p elos qu e julgam co n vi r - l h es melh o r. S e escolh er em
pessoas humildes. [us rificam-se alegand o n ão serem interes seiros n em im p osto-
res: qu e vão bem acompanh ado s co m p ob res como e les, g en t e qu e n ã o é de
cerimónias, que tenha de se andar co m ex équies d e co r teei as.
No caso de optarem por padrinhos de condição social superior à s u a ,
a nnam noutro diapasão, sem que por i sso lhes fa ltem argumentos com q ue s e
jus t inquem. Favores recebidos, qu eda para a s pe ssoas, d e pendênci a s, ofe r eci-
m entos antigos mais ou men os Iantaai osos, etc.
D e qualquer maneira é-lhes f orçoso justi.6carem-se perante os a uditó r io s
das soa lhe ir a s e outros pontos de ta gareli ce.
N ão s endo o casamento da vontade da família da noiva, o noivo e q uem o
a com panha saem logo que formulam o p edido e o u v em a re sposta. As delibe...
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AT R A v t S DOS C A M P O S
• • •
L ogo q ue pr-incipiem a correr os pregões, a n oiva deixa d e ir a os t ra ba lhos
do campo, ao p oço , e à ribeira. Também lhe é vedado ir à missa ou a qualque r
diversão. Àt é casa r 56 sai por absol uta necessidad e: a dar parte do casam e nto.
ao exame de do utrina a casa do prior e à confissão na igreja, na v és pera d o
consórcio.
N oi vo e n oiva convidam os padrinhos ante s d e correrem os proclamas.
Demora mai o r. p odia ser t omada pelos convidados com o falta d e consi d er açã o
às s u as pessoa s. Os padrin h os a ceitam g er a lm en t e. mas se p or v entura se
r ec usa m, o caso to r na -se intrincado para os nub ent es, por re cearem q ue a
p es soa ou pessoas a q uem ai nd a te n h a m d e recorrer, igualmen t e se neguem,
co m o fund a m en t o de não servirem para « prato s de seg u n da ccese».
M a s como lhes é fo rçoso sair de semelha n te si tuação, deci dem -se 8 convida r
ou tro padrinho, qu e, e m reg ra, a cei ta. Sucede p oré m o bser var o s eguinte :
- . Pois sim, contem comigo .. . A ceit o po rq ue não te n h o cachaça de opin ioso...
Se f osse co mo a l.~ uns, n ã o se rvia pa ra a s faltas . .. Mas eu cá , n ã o so u de d is -
far ces. . . Basta de ma is aq uelas . .. P or um a lho, nã o se ~d es m a n cha u m a
a lh ada ... »
O n oivo fi ca um pouco estú pido com ta is obse rva ções; n o entanto, como já
co ntava com elas, balbucia vá.r ias d esculpas e tudo se concilia.
S e o ca so se passa com a noiva, h á. ain d a maiores a m u o s d e vaidade por
parte da nova madrinha. Não obstante, tais satisfações lhe dão e ta nto a lison-
geiam, q ue se resolve a aceitar, esq ue cen d o os es cr ú p u lo s.
- 146-
ATRAvtS DOS CAMPOS
- 147
ATRA v t S D OS C A M P OS
e eeende r cas a - a quisiç ã o ba stante difí cil, pela falta de habitações que se n o ta
nos povoados rurais, apesar d e em t odos s e terem construido muito s prédios
nos úl timos vinte ano s. M as a p opulação aum enta em mai or esca l a que a s
m oradia s. E tanto que, devido a es sa falt a. vai s endo vul g ar residirem em
co mu.m duas fam íli a s no mesm o p r éd io - p ai e m ãe, com 6 lh a e ge n ro .
Calcule-se, p or co ns eg u i n t e, as cogit a ções e fez es q u e te m d e s ofr er o p obre
rapaz para alcançar, de r enda, o prédiozÜo que pretende habitar. S e p o r Ie líci-
d ade se lhe depara um , toma -o 10&0 à sua co n ta , q uase sem dis cutir o p reço d a
r enda. S e o não o bté m . ap esa r d e t odos os es forç os e ent revista s in úteis com os
s en h or ios, r esign a- se a ir vi ver em comum com o s sog ro s. co r tan do cerce o pri-
meiro entra ve d os preliminares e n tinup ciais.
. .. . . ... . . . . . . . . .. . . . . ... . ... . . . ....... . . . .. . .. . ... . . . . ... . ..... . ....... . ...
O it o d i as a ntes da boda, o n oivo t em de passa r pelo incó modo d e i r p essoal-
mente a vi s ar os padrinhos. o páro co e os convidados, d o dia e ho ra em q ue
t enciona cas a r . Aos convidados, é da pra x e, r epetir-l h es q ue co n ta com eles,
q u e lhe não faltem a a co m pa n há-lo, q u e le va muito em gosto que t o m em part e
no a j u n t amen to . etc .
Depois, já de t odo eut re g e a os p r epar a tivo s d a ce ri mó n ia e d o banqu ete,
procura d epech é-I os co m esfo rço s d e trabalh o pes s oal, q ue lhe permita m eco no-
mias d e d inheiro. Ele próprio, o u coa djuvado p or a lgu ém, condu z d o mat o a
l enha para ca sa , em carro e parelha em pre stad o s i esp ecu la s obre a m a ne ir a
m ais económica de obter a f a r i n h a para o p ão e b olos da boda i d es pacha os
papéis i (1) e por último vai às h erdades para tra z er o chi bato o u chi ba t o s que
co m pro u ou l h e ofereceram para o bró dio. Na v éspera à noite aind a te m de
servir d e magare fe , a b a ten d o e esfo la n d o as r es es que sacrifi ca à v ora cid a d e d o s
convidad os e do s eheaadteos.
No dia do ca samen n t o, desde que v em da confi ss ão, logo de manh ã cedo ,
at é à hora d e dar a m ão, o s af a z eres mul tip Iicem-se-l h e, m as a t o dos a t end e
pela vontad e que o an i m a . . .
* * *
D o g ov er n o e arranjo da boda. que é como quem diz, d o prepar o d os b olos,
d o despacho na cosinha e d o serviço do alm oço e d o jantar, enca r reg a - se a m ã e
ou irmãs do noivo. a quem ele ou o pai entregam O cabed al p ara os g a s tos
correspondentes- Que não haja falt as . . . Que apare ça tudo que é d ado . . . - São
as instruçõ es q ue pai e filho dão à s mulheres e que el a s cu m p r em à ri s ca .
N este p ropósito. a s encarregadas falam à cosinheira de f a m a . insinuam-lhe o
q ue pretendem, coadjuvam-na no q ue podem, e a o m esmo t empo v ão o u m an-
d am, à s casas abastadas, pedir emprestado os utensílios de que precisam, como
.
( 1) C....tidll.... OlltrOl dOcllm.... IO. I di.p b.i. p.u • ul cbu çlo do U " lllel !.fO . S Iu 6' 111"' dbp..... d. prod..-
m.... ch.. m. m_... . l.L.. ,..p. l. cu n do•• l. Cizc ll.. ltl ncl • •• dh: . u: - Fulano .. fu la Ilio .. . pre, o. m; c...m por
PU" ;' u rn J o• .
- 148 -
A TRA Vr.S D O S C AMPO S
• * •
A ssim como o noivo faz as d es pesa s da boda e do banquete nu pcial, a
n oi va cum p r e-lhe adquirir to do o mohiliáxio e roupas de cama, conforme n o t ei
nas pá ginas 94 e 95, ao t ratar da aplica ção dos salários das mulheres.
P or co nseg uinte. a r a p ari g a pedida em casam ento, se ao tempo ainda n ã o
possui a mobília e enxoval pr eci so s, trata de 08 adqui rir desde logo, contando
sempre com as ofer tos q ue espera r eceb er. O pai e a mãe auxiliam-na com dona-
t iv os impo rta n t es.
- 149 -
ATRAv t S D O S CAMPOS
* * *
H oras antes d o co nsór cio, a noiva en trega-se ao s preparos da toile tte,
a u x ilia d a pelas amigas que a r odeiam. O p en t ea d o e a colocação do v éu e da
g ri n a lda , ex ig em con heci men t os especiais de bom gosto, qu e, no conceito do
vulgo f eminino, s ô p ossuem a s e m estra s» de f a m a . É por conseguinte, u m a
dessa s h abilid osas a incom bida de tais a d orno s, m edian t e convite p révio o u
of erecim ento expontân eo. A o ver em - n a passar, to da a ssedada, à ho ra opo r tu n a .
as vizinhas a sso m am à po r ta e ex cla m a m :
- c Aí vai Fulan a A quilo vai pô r o véu à n oiva . .. Sempre te m u mas
m ão s mui t o d eli cadas E b om sen ti do .. . Onde põe os olhos, esserve tudo . . . ~
Às maldi z ent es, r edarg uem :
- Há q u em lhe ga nhe . . . Se sa be, n ão faz maravilha . .. T eve boas m es-
tras . .. Entes de apre nder com as eg r a v es era uma citoIa ch a m a r em - n a .
N oiva q u e compu sesse• .ficav a sem doairo... A gora, à s a ba s das erfcas», já fanfa »
.... ....... ..... ... ... ... ... ... .. .. ... ... ....... .... ..... .......... .........
o n o ivo prepa r a-s e em m en os temp o, trocando o fa to q ue d e manhã le vou
à confiss ã o, p o r out ro n ovo e mais custoso. S em emba rgo, veste-se à p ressa,
p orque, de poi s d e «co m p osto» acompanhado d o pai, t em de ir às r esidências
dos d ois padrin h os, pa ra, po r seu t ur n o, estes se lhe reu nirem e co m eles r egres-
sare m a casa, o nde, a o t em p o, já os esperam os convidados pont u a is. Para os
n eglig entes, a ind a qu alqu er tem de se r vir d e criado, corren do a avisá- los de
que está tud o pronto, q ue estão à sua espera, q ue são h ora s, q u e se nã o
demorem, etc.
Afina l, lá o s a carretam tod os, a p oder d e paciência e de estafas.
. . . . . . ... . . . " .
Da parte da noiva a bservam - se pra x es s emelha n t es. O pai e os irm ã os,
logo que a vêem preparada , dirigem-se ao domicílio da m a d rinha, para esta. o
marido e filho s, os acompanharem a casa, e de aí segu ire m à i grej a . Se q ua n do
chegam a casa. ainda faltam convidados, e lgaem s e incumhe d e os ir chamar.
até q ue compareçam, dep oi s d e m uit as a r re li as.
Noivo e noiva, ante s d e sairem p ara casar, aj oelham-se diante do pai e da.
- 150 -
A T RAv t S D O S C AM POS
• • •
N a ida para a igreja, o n oivo f orma um cortejo e a n oi va o utro , i n do cada
qual p or sua v ez . A n t es, t om am- s e a s n ecessária s prevençõe s para o s do is a com-
p anhamen t os s e n ã o en contrarem n o traje ct o. É d a praxe a noiva chega r
pr ime iro.
Ambos os co rtejos seguem a p é. gr a ves e ceri mo n i osos, cônscios d e que se
t ornam alvo do po vi n h o, q u e aflu i às esqu i n as e largos da s r ua s pa r a l h es
obse rvar os traj os e a s p ectos.
A n oiva to m a à f rente d o se u séq uito, ao la do dir eito da mad rinh a. V es t e
p ouco mais O u menos com o as noi vas d e toda a p a rte : h ) ve st ido claro. de fi ta s
largas à cintura , co m O la ço e p o n tas ca idas j véu branco e g ri nald a d e fl ores de
laran j eira. N as or elh as, a o p eit o e na s m ã os, os te nta re specti va m ent e b ri n cos,
cordão. broche e a n ei s de o uro. O p io r para ela é q u e parte das jcías, na mai o-
ria dos casos. pe r tence m às p are n tas e a m igas q ue a ve stiram , e que Iha8
colocaram para l h e se rem a grad á veis.
Oura da e m excesso o u suficie n te men t e, a no iva cam in ha de mãos cr uzada s
cabisbaixa , descobri nd o-s e-lh e n o enta nto vestígios d e cho ro r ecen t e. M a is
parece seg uir p a r a u m en te rro, do q ue pa t a a mai or solenidade da s ua vi da .
M a s para sa t isfaz er a costumeiras a snáticas, tem de fing ir tri st eza, e n esse pro-
pósito lá vai aparentando aqu ilo que n ã o se nte.
A mad ri nha veste segundo a s ua p osiçã o. S endo mul h er hum ilde d o camp o
apr ese n ta- se de véu pret o antigo ( 2) e vest ido de lã.
O no ivo m arch a tamb ém n a fr ente d o s eu co rtejo e en t re os do is p adri -
n h os. Traja jaque t a , co lete e ca lças d e p an o p r et o o u d e casimira escu ra , cinta
d e roermo encarnad o, sa pato b ra nco e ch a pé u redon do. À semelhança da n oi va .
m ostra-se ta citurno e preocu pa do.
O s padrin hos, de trajos fest ivos, 80 uso lo cal, ap arentam satisfação evi d ente,
s em con tudo p erderem a n o ta da seriedad e a q ue o se u pa pel os obr ig a .
C o m o n os ba ti sados, antigamente nas bodas. os h omens d o campo, pobr es
(tI Ao co.. t rlrio do II". 'eul ee IC o hn ru. " or to d• • " .rl. do ". b . em . I,um.. " u ·o.a....II. . . . 10111.. do di,.
tril O d. POrl . J, 'rc. como A" ouch °
OOU.'. 011 - 11 cutloliSllmo co.to", . 01.. " 01.... Ir..", c...r d. t oc. ou m. .. UU•• "r.l'
° ...
.. "utido d . "'1' ... . cor • • :u cta "'e.. t. ee ... u mo .. ~ oi.j 'o u . jo com a oe ,,10 II. f, uj. .. oo u .. ocu f6 u. A. m.drl ab..
°
• "n.na .. ulld.. d. 1'0. 1 lol'lll" Nu. m o• •1.,..... " U ' m -.1. 1..." rÓ"rio _ Fu I hur No,.,.Jo do S..pu lcr o.
Ct) O ....... co ... q u. I I . .. I.h d rJ.. Io.. d. co.. dlcio hu i1d. n.' hod b.dn do•• 110 , . tI.lmu l.u . f1 d , o••
• m"rell.do. pllu I...T. dor ~o' o. coa ..n d. pro,, 6. ito " Ui e... prh tf... o•. S. o. .. lo co u " u r i. ... d.l.. d.·
l nú 0' p.dido. II". l u!tll leJll.•• t. 11.. . hum . ° 11oc .lu;• •nn Jo • mUnIluuc 6u . 00 .. n -n -h c ld u. d. codu
11'"m ....0 ",odemo lI'o' " o..e • • • nl eiuado -o I "11'1 ' 0' • 0.0. pn ju dl d ol•• N UII coli .lo, como cOll.h" cdor Jll. u lu• • de-
rll doo CO.le m... f .. lm ru." . d. ...e. "UI o. eJll. prh ll...o. l . t omu r ... . &11..01.. .......1' .. .
- 151 -
ATRAVt. S D OS C A M P OS
e remediados, iam à i gr eja de capa larga e co mpa ída, com ch apeu d e borla, de
abas rev iradas. H oje, v ã o c em co r p o», e também com o s fatos melh ores que
possuem.
.. .. ..
Tod os reunid os n a ig r eja. efectua- s e o cas a m en t o. Em seg u id a , os n oivos
dirig em -se ao s respectivos s ogro s e, a joelh a n do -se- lhes, p edem e re cebem-lhes a
b ênçã o. D ep ois, o u ve m os parabéns d o s a ssistent es, q ue s e r esumem n o seg ui n te :
- «D eus lhes d ê vida e sa ude p or muitos a n os e bons. Nosso Senhor os cub r a
de b o a sorte . . . » , e tc .
Entretanto os p a d rin hos dã o a go r geta ao sac ris tão, (I ) e imediatamente,
a com pan h a d os d o pároc o e d os n oivos, v ã o à s ac ristia para l egalizarem o s t er -
m os. s e ant es se nã o p r o ced eu a esse a cto. N esta a ltura, o p ár o co é co n vi d a do
a reunir- s e a o acompanhamento e a ssistir a o b an quete. Ele a grad ece. aceita n do
o u nã o. Em ge ral . n ão ac eita.
C oncluidas todas as fo rm a lidades. o s d ois s équitos reu nem-se e f u n dem - se
num só. d is po n do - se a sair.
(t ) D . 160 rei . JlU' cim •• d. ud. Jlad rl n bo • d. m.lUlnb•. O. ' lDolam'Dlo, .0 p'roco do p.'o. p. lo 0.01..0 ...&ri.m
d. lre,oul. pu. [n'olll•• No otro. tcmp N. CJI:l .I'om .. 10uUd.dn. o pboco n u bl. do a oi..o um lreleO d...i.Abo • um'
, . li a b ••
152
ATRA VJ': S DOS C A MP OS
• - «Bota fina . . ,»
- cColarinho de lustre . . . /t
- «Botões de o u r o, grandes .. . elam a rea de prata . .. cordão de ouro DO
relógio ... um dinheirão t • ••
- «Q uem sabe se tudo será dele ... Qu em o alheio veste na praça o
despe . . .
E a s si m , com os elogios de umas e 05 desdéns de outras prossegu em os
comentários das palradoras. Entretanto, a boda passa entre as alas da multidão
e o s olhares prescrutadores dos mirones, que fi xa m atentamente os n oivos e toda
Li comparsa ria. para lhes não esca pa r o mais ligeiro pormenor.
Na frente vai a noiva, a madrinha e s eu pa g ecc. L ogo atrás, o n oivo, entre
o s dois padrinhos. e p OI últi mo , o s paren t es e os convidad os.
A o s a i r em , os sinos tangem o s rep iques do estílo - m ais ou m enos espaça-
d o s, s egundo a sorg eta que o sacristã o r ec eb eu - e, ao soarem 0 5 badalos. o
rapazio que traquinava pelo terreiro a os sa lto s e cabriolas. larga as brincad e i-
r as e corre em massa a formar o cou ce d o acompanhamento, numa indis ciplina
d e incorrigível balbúrdia. Muitos garotos t r esm a lham - s e da chusma, seguindo
uns a os lados do cor t ejo, e ou tro s, t oman d o-lhe a f r en t e. como s e foss em a sua
guarda avançada. Pelo ca m i n h o va i en grossand o a turba de rapaz es e raparigas,
qu e se acotovelam, esmurr am, espezinham e beliscam, em alegria doida, na
perspectiva de muitas am êndoas, co nfe i t a s e rebuçados. Uma boda dá -lhes mais
ee gab ofe de g u lo di ces , que cinco ou sei s b atisad os . . .
Os noi vos e seus pais, bem co mo O pessoal restante, caminham vaga ro sa-
me nte â altura da g ra vi d a d e. O s prim eiros m o st ram-s e comovido s e cabisbaix os ;
e nqu a n to que os p adrinhos e comparsas revelam satisfação, cumprimentando
sorrid entes p a r a a direita e para a es q u e r d a . Como quem diz: - «C á vamos ... »
Á man eira que a vançam, das janelas e por tas , la nça m - l hes flo res, g rão s d e
trigo e folhas d e oltve ire, g a la n t eri a que os obsequ ia do s a grade cem levand o a
mã o a o ch apeu.
Cheg am enfim a casa, onde s e realiza o banquete. q u e tanto pode s er a
de st inada à r es id ência dos cônjuges, coma a do pai do n oiv o. Optam pela d e
m a io r cap a ci d a d e.
À p orta a guarda a boda um r ancho d e moça s, em trajos e p enteados
garr idos, q ue es p a rg em fl o r es s obre a comitiva. A vizinhan ça regoIgita nos
limiar es d os p ortados, e a rua coalha-se de gente, q u e acode de diferentes
dir ecçõ es, a o impulso d a curiosid ade . R.epetem~se enfim o s comentários do largo
d a igreja, com tanta o u maior p a smaceira. O rapazio fura por o n d e p od e,
ga lg a n d o obstá culos pa ra tomar p osiçõe s favorá veis ao apanho das am êndoas.
q ue dentro em pouco lhe a t irarã o. Com as mulheres tassalhonas, (1) que s e lh es
metem de p ermei o, n o s m esm o s in tuitos, provocam pequen os desa guisados,
(Jl MuIh"u d. Iintu at llll Iltt"t1o.. . h.h it u.d., .. u.du Jld... na u. duu lfU , t ... dtUUDho d. nlluhio. l.h" do
q",
.lto tO... ~"'p). .", tO"U. Ol • ialfomeu ndo·n o nd. ni o U th..... m. A , n d u , . d. "'Illhu tom,d ld • • n u u d, • ' u i• • nu.
tOlO bo nutU.d•• aru "io.
- 153 -
ATR A V I! S DO S C A M P O S
- 154
ATRAvt S DO S C AMPO S
- 1;,,, -
ATRA V r. S D O S C A MP OS
h) 510 .. .. 1m conl...c1do., pOl que n ndo '.nlm.M. d. dol. por p• .,o.. poh ru , a nu CO' llIma n r lIumlb.d ... luz d.
canil.i...
(s) O pllo ond. II hll l••
- 156 -
ATRAvt S D O S CAMPOS
- 157 -
A TR A vtS DOS C AM PO S
* * *
Nas b od a s da gen te que reside no campo, seguem-s e cos tumes semelhantes
a o s q ue deixo ref erid os ( própri os da s vila s e a ldeias). co m a diferença de que a
mar ch a para a ig reja e o regresso efec tua-se em carros vistosos e cavalgadu ras
de sel a , m u ito bem arreada s. P el o caminho vão em correria s alegres d e q ue,
por v eze s, r esultam formi dá veis trambulhões.
An te s do séqu ito chega r a o m on t e, após o casam ento, algun s jovens ca va-
1) C I..l.ç.. d. ilU iau.çou ••Uclo .... Picard r• •iàaL6.c. ... . llcl• • ee ... o I lltdo tl uadulI c loal . ç a .... d'fum lfta d..
blpÓf.....
- 158 -
A TRAVe S D OS CA M P O S
* * *
R. es t a falar da s b odas à cap ucha, r ealizadas de n oite. em que a m bos os
noivos. ou p el o men os um, são pess oas v elhas, s olteironas o u v iúvas .
Nestas circunstâncias, trata- s e o casa m en to em seg re do , p ara o p úblico n ã o
saber o dia e a h ora em que s e ce le b ra . B al d a d o em penh o, p orque d e rest o o
sigílio transpira s emp r e, d evid o à besbilhoti ce a ld eã . E. en tão, os a lq ueb r a dos
nubentes, n ã o se esc apam ao r i dícu lo qu e o s a gu arda. qu e é co m o a pe na ex pia-
tória da a sneir a qu e praticam, s e é a s n eira casar d ep ois d os 50 a no s.
Quando sae m d a i greja o u j á em casa e n a cama, os seu s o uvido s , p or
avariados q ue este ja m , s entem-se atorm entad os p or m onu mental choca lha d a ,
com qu e a lguns patuscas, munido s de m an g a s e chocalho, lhes a z oinam os
ouvid os, num badalar atro ador. D ep oi s. precorrem a s s im as ruas vi zi n h as,
fazendo ou vi r a m ú sica à po rta d os padrinho s. E,' u m a a lvo r a d a có m i ca , que
d esp erta t odos. Muitos n ã o p recís a m a cordar, p orque prevenidos d o ch i n frim,
a guardam-n o impacientes, para se rirem à cu s ta alh eio . Os noi vos é q u e v ã o à
serra com semel h a ntes ama bilidades. Tem-n os havido qu e se en fu recem a va le r ,
reclamand o a intervenção das au t oridad es. H á e n os, em C am p o Mai or, um
ca so d estes deg enerou em tra g édia, d e q ue foi v íti ma um po p u la r, varad o por uma
bala do s ag entes da ordem púb li ca. S e bem me reco rdo, a v ítim a era um d o s da
a s suada, qu e, se também n ão est o u em erro, ti n h a 8 a gravan t e d e s er diri gida
80 r egedor da paróq uia.
* * *
C om o n os bar ísados, uma b od a d á orige m a numero sa p a d t inha gem e b asto
co m padrio . Os n o ivos e seu s as cendentes fi cam se n do , r es pectivam ente, a fil h ados
e compa d re s, não só d o s p a d rinhos e da m adrinha, com o tamb ém d o s co n ser t es
e p roge n i to r es d es tes e at é do pároco. P or o utro lado. os p ai s e a vós d os despo-
s ad o s, co n tr a em co m p a d rio re cí proco, o que igualm ente s e usa entre o s p adrinhos,
seus ascendentes e co na or'tes. Com ra zã o s e diz que o Alentejo é a terra d os
compadres.
En t e r r o
A o d ar-se um fale cimento de adulto, os ch oro s e gr it o s a n gustiosos
da famíli a alarmam toda a vizinhança, que im edia ta m en t e aco de a
certificar-se do ocorrido e a asso ciar-se ao pranto .
À casa enche-se d e mulher es em alvorot o, a in q uir ir em o que s e p as sou e
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ATRAV É S DOS CAM PO S
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o tra jo d om ing ueiro
ATRAVt.S DO S CAHPOS
ou seis homen s pa gos pela família do morto, ou por seu ofere cimento próprio,
gratuito e es pontâ n eo, conduzem o cadá v er 8 0 cem i t ério no tumba dos pobres.
ou em ataud e al ugado, para ser vir sõmente até à sep ult u r a.
Aco mpa nha m o Féretro, o pároco e s acristão, as m ulh er es da vizinhança e
a s viuvas e ó rfã os p o b res , se p or v ent ura esperam receber es mol a s.
Desde que o pároco sai d a igreja at é o cadáver recolh er ao campo santo. os
sinos dão o s dobres d o es tilo. como d eram os sinais de óbito ao toq u e d e trin-
dades imediato ao falecimento.
Se o enterro é de pessoa de alguns ha veres. a co mpan h am- no, mediante
paga, as irmandades da f reg 'ueaie, d e cru z alçad a, com os irmãos revesti dos de
opa, de vela em punho. f ormando a las. Uma espéci e de procissão, nada ed ífi -
cante pelo desarranjo e remenda gem das opa s.
Em esquife ou caixão. o cadáver vai de sc oberto, pa ra sa t isfaze r a curiosid ade
do público ávido d e sen sa çõ es. e p or r esolução un ânim e da f a m ilia, que julga
honrar-se patenteand o o vestuári o e o a ssei o co m q u e o m orto s egu e à cova.
O antigo prior da fre gue si a d e Santa Eulália. D omingo s Ant óni o do Carmo,
após muitas r el utância s p or parte do s paro q u i a n os. co n segui u que os d efuntos
se transp o r ta ss em velad os por um pan o de cente. Não o bs ta n te . o p o vo nunca
viu be m essa in ovaçã o. e tanto qu e. logo que o mesmo pároco deix ou a aludida
fregu es ia. o vel h o u so ressurgiu e mantém-se. com peefuizo da higiene e do
respeito devi d o a 0 5 mortos.
* * *
Nos funerais de gente abastada, como nr opr iet ár io s e l avradores. o fér etro
é conduzido à m ã o por cria d os de estima d o fale cido . P r ecede m-n o dois o u
três eclesiásticos e 8 S irmandades. acompanhando n a ret a guarda os criado s da
casa. as ganharias dos lavradores vi zinhos, e a ma i o r p a rt e d a população da
paróquia, bem como vári a s p ess oa s das fregue sias li mítro fes. Muitas mul h eres
. ch o ra m ou lacrimeja m. umas p or h ábito de ca r pideiras ofi ciosas. outras por
sentimento re al e sincero. D e vez em quando, o cortejo esta ci ona. p ara os padres
cantarem os responso s qu e a fa rníl.ie en co mendou .
Concluido o fun eral. d is t ri b u em - se esm olas de 80 a 100 rei s pelos pobres
que compareceram. Nun ca m enos de ce m ou m a ts.
• • •
Pelo fale cime n t o d e crianças. a q u e v ulga r men te se chama m anjin h os.
o b s er vam - s e costum es semelh a n te s a os d os a dul t os de classes an álo ga s. h avendo.
é claro. menos demonstra ções de pesar. A lgu n s. p ouco o u n enhu m desgos to
ocasionam. dada a indif eren ça d e cer tos pais pej a m o r te de 6Ihos pequenos.
Os velatórios decorrem alh ei os a tristezas. C o n s ti t u em r eun iõ es pra zentei ras,
e nfmedfssimas, com atra ctivos de a n edota s. ri sada s. contos, adivinhações. et c.
Até se joga o padre cure / . . . Às mulh eres m enos ex pansivas. aproveitam o
tempo fazendo meia e r enda.
- 161 -
ATRA v tS DOS CAMPO S
* * *
Trajos Tinham outrora a feição local, carac terística, inconfundível e dura-
doura. H oje vê-se o contrário, pelo menos na g en t e nova. Homens e
mulheres vestem ao capricho de pretendidas modas, qu e passam d epressa, que
ningu ém sabe de onde precedem, usento também simultâneamente o q u e a SUB
fantasia lhe sugere, ou o que gostaram de ver a outros em qualquer parte.
Em suma, o vestuário do povo rural na actualidade, baralha-se e varia
tanto, que impossível se torne descrevê-lo em todos os seus detalhes. Predomina
a macaquice - a tendência para parodiarem os traj os da s pessoas abastadas d o
campo e os dos operários das povoações.
* * *
No fato de tra zer dos homens. há menos m odernismos. embora já não
tenham a uniformidade e persistência de outras eras. Sem embargo. é aí que s e
conservam alguns trajos típicos dos muitos que dantes havia . Àssim. continuam
a usar a jaqueta (I) e colete de surrebeca e a cinta encarnada ou preta. Os feitios
e as fazendas divergem um pouco, mas a forma essencial conserva-se.
Desapareceu o calção de tripe e a polaina de aaragcça, sem dúvida um trajo
lindíssimo. acentuadamente campesino. de realce inimitável. Em troca vieram
as calças de alçapão. Cal que se usaram por muitos anos. de cetim a zul de um
único padrão. para todas as estações. Hoje quase todas são de portinhola. de
cotins de padrões diferentes, ou de surrebeca, no inverno.
A calça a ntiga, exceptuando no tempo do calor. era acompanhada de polaina
curta sobre os sapatos. Mas a polaina também passou à história, por capricho
da moda e p or n ão se adaptar à s botas cerradas de canos compridos. que se usam
agora, principalmente no t empo da lavoura. Os sapatos continuam a subsistir,
mas servem mais de verão. época em q u e também se usam as e lparge tas, o u tr a
macaquice que está a generalizar-se.
Rá coisa d e vinte anos, nenhum trabalhador do campo usava meias de pé
no. dias de semana. e po u cos por o ca siã o de folga. Na actualidade. já mui tos
as trazem conjuntamente com as b otas ou sapatos. Mas ainda os h á de pé fresco,
calçando em canelas. sem se quererem habituar às meias.
O chapeu de borla redondo e preto. de abas en o r m es. reviradas. com :6ta
( 1) A j.qa.U o u ..h ti •• n:uptu-.a do ... oeuia.. d. . . .I.tl.eI. a .uo. d. ... u lco r aQ a1to • • 6 . aITa DO. di .. d. fri o
I.u"o ou da ei.V.Ta . Á. i. oru da t ra hali. o • d. d n uD.H. -n1lIII ..... -a. UIO qQ.lqu u parta. .. Tlata. N o. d om l• • o., .u ru..
d• •Idd. a f.ftl. c... . trua...- •• aO Olllhro O ....1. do talllp o. No..o. a Ii.oa pufu'J:Il a.ad.r cm muoJla. da ea.ml .
( 2) C.leu da .Ie.pio• • tado atth por eorula d. p.la d. cio t g ra a ili. u.•• o. eolei.du . O. ho l.o. fi e d.l.do.
iu elia.do. pau" tr • .,Ir •• praadl.1II .111 h.ixo, .. h..a do .tupio. por hotõ.. d. lIIo. d• • d. eebe e,
162
ATR Avt S D OS C AM P O S
o...
(1) la.. co I..... de d",u pel .. u ",.. ldu • prepand.. d. lo rma a adapt a u m· . e .obu • c;.. I1,1 n e c.hu d. qllaJ-
(lIlU ...jeito. Sqllf.= ' 0 cor po por melo d. conelu. fin lu 011 bOlõ" pu.u lo cinl1,1 r• • lo. pu.. .., do I.d o d. dc.. tr o.
u... co...pli....-.. d. p.l.. d. cu.. clr o. d. lã c",r u. bre.. u o'" put a . d. br1>. d.. d. ourel u I O1,1. lr o. de pel.. c.. r dd... d. u bu.
ch-II..l o o.. hll.,.,ro.
O. lI. fa.. 1a."I:.. do• • u pcci.l c.. lc o. d. cor preta. (l"c d o o. m . i.....do• • f.bri ca m-" Cm d Unc.. t .. II..."" d o dl.trilo
da t ..ora por p'''ou ot... ..lu", d ln dá .nia . Apu. c.m 1 u lld•••", ' u .. de (lu. lltidlde . .... dH. u .. tu l'. ir .. d o Alut.jo.
co...o por Ilttlllplo ... do S . MI'O;1.I , . '" SOO;1"1. l. .pcr<lccm em d i....... cOlI.d iç llu d. fa brico. u :.cuçiio. Oud. o. de. ",lIho r"
":p.I .., co... forro d. tI .c.do . , ua.rn.lç<:; .. de p."o, bord.d" • u t . mbu . com o. " u' corda .. d. u d• • hOlõ" d. m.tat l a cr. lo.
ai' .a. l1Ia.h IIIOa..to.c, d. pel .m. ordl.. lr lo. d., pro ..Jdo. dc forr o. e d. omito• . T odo , ..ta m por " .. . .. tm ,6 o.....m O.
trah.lh.doru do campo, IllU Il mbt m I....rador.. . p",opri . t h lo • • • tc . • com o u :cal t .. t lbo 1m di .. d. lrio.
O ra.. d. p.l. curdd•• ra p.d• • co.t1,1m.m . n obr. d. , . n . d Oli ro. h . bilido.o. , "O;1t nu bou ",tntl m cOm
..nu tr.ba.lbo. pu••1 <l po r ...co m...d•• m.d i.... u O for elm ••tO d.. ptl.. <l I p" , 01,1 , r .dli c.çlo con upo.. dente . A p..",
d. f.ltOl por corlo.c• • de .. d..d .. uu.. "1,1." u :c1.. . lu m t. h lid .. do trab.lho. ma l lo• • p.num com 1" 11,, • fei ti o . upc-
",I or .oe de li . Na fr.nt• • ot nlto. da p.d...u ' I:ecoç i o. ' m co uro ' p,,,o lo hre pouo' Ol co. ta u do •• capricho. com o "lrel• ••
<conçõ... to.u. b!lld.l•• d.IU , I dutacartm- •• cobra O fu..do " u lII. lho d o p.no. Nu IlItr.mld.d... d.br a.a. d. mUIII' p.l.
Ol/. d. outra md. 8. 1<1...1•• PO.. lo d. co rra ll d. ci o.
E."(l" I"IO .0 p.llca " 0111. " p' el a de ee teee, d. pai . de c. b"" 00 de. cio. CO ID o pdo col1un.do. I.n.lrodo z..c ptl .
c.b.ç•• " tl..elo o corpo. dud. o p..coço . 14 .. ci M O" . <lI:C lp tO O. buço. (loe fic 'm , II .." .. . . du cobnto. AI ' on. p.llco.
mouram Ire .. u Ot.. ltO. hloel. ao . " .. . .. U" ta .. oe " la.. d. p.l. c ut ti d., co.. lou "lI t.l. ri . Em , .ral , pro c.dem d. f.bric o
<lu.ito. PI"" o "o. ID1,1.h.....olh u .. COI j 01,a= h lbllite d... M" o. fdtlOl miu bo i'lItu . pa el ...tu, 1" lum b'III . " l O' C1,1ri oao •
...t'lId ld o•••l......do• .
Do tap ••co pouco h' • dl.ur. U m. pal e (lu.l quCt. COmO 1,1m 1'lI ço P'(l U...... pro..lda dc d1,1" co...",i.. . 4"''' COI coloc. li'
ca.d• • pt Cl'd. a.do lo elolDl" , p,u "... .. udo du .. Ad.,u .
- 163 -
ATRAvtS DOS CAMPOS
t ecid os . Dos de burel ou dos o utros. cada cempomo, bem e n ro u pa do, poss ui
d ois : um bom, p a ra os domingos, na aldeia ; o utro inferior. para ca m po .
N este p ar ti cu l a r , os antigos a in d a se mostravam mais previdentes e lu xuo-
s os . Homem qu e s e presasse . de s de o a b egão a t é ao gunh ãc r8SO , tinha pelo meDOS
o cap ote a g ue d ei r o para us o corrente, a bo a manta de lã de guarnições d e baeta
colorida, com que janotava n os domingos de inverno, e a capa de b riche o u d e
pano azu l. comprida e de fal:ta roda , com alamares na g o la , que 56 servia p ara
ac to s solenes. Pelo dinheiro em q ue impor tava e pela aplicação que tinha. era
o bj ecto de singular apreço, que todos procuravam adquirir, embora à custa de
s acrifícios. Sem capa. ning uém Se a tr evia a casa r. O que a não alcan çasse em
solteiro, passava p or va ldev incs desastrado ou pelfn tre sem vintém . Também ,
a dquirida em f olha uma vez, du r ava a vida do possuidor, e havia -as que se tr a n s -
mitiam de pais a Elhoe, a poder de cu i d a d os de co n s er va çã o . (I ) M as isto j á se
considerava deprimen te. O tom e o s co s tu me s exigia m uma n ova para cada
moço chegad o a homem. A es tr eia da capa, era, por a ssim di z er, a con sa gra çã o
da mai oridade, e. a par, o testemunho de qu e o d ono so u ber a ga.nhar e r eunir
u m r a zo áv el pe cúlio.
Pois, apesar da importância q ue s e lh e liga v a , jaz hoje n o es q u eci m en to.
O u fosse porque t inha de ac abar um dia. co m o todas as co isas, o u po r q u e a
ép oca actua], impondo outras despesas de vestuário, não p ermite a aquisição d e
velharia s ca r as, é certo qu e a o p r es en te s ó us am ca pa. os velhos que a a dq uirir a m
há muito, e qu e teimam em conservá-la com o recordação dos seus bons tem po s.
P or ca u s a s semel ha n tes aca bo u a mant a de lã, de feit io gen u iumente
alentej a n o.
............... .
Enqu ant o solteiro, o ho m em d o ca mp o tem o fa to do t r a ba lho, o d o s d omin-
gos, e o fi no p ara confissão , bodas, hatisado s e d ia s d e fes ta .
D o de trazer é o que disse a tr ás. R.em en d a-s e, Jav a- s e e se r ve a t é à últim a .
O d o s do mingos só dife re do habitu a], p or m en o s usado . Diferen cia-se ap e-
nas pelo a sseio e arran jo. m áxim é n o chap éu, ca m isa e ci n to , com l enço n ovo d e
assoar, à vista. (2) D e r est o, t udo is s o vem a a cabar p o r s ubst it u i r o fa to d e trabalho.
logo que o u t r o m elhor o colo q ue for a do u s o dom ing u ei r o. o u o de se mana esteja
in capaz.
C om O trajo d e gala há que distin gu ir. O d e h á 2$ ou 30 a nos era lindíssim o.
Chapeu preto. r edond o. d e borla; ca misa engo m a da, d e co l ar in ho, com b otõ es d e
o uro; p eitilho d e renda s e p u n hos com bo tões d e ou ro; ja q ue ta de pano preto e
alam ares de prata ; co lete d e corte aberto . de pa no li so o u co m ram o s de v elud í -
lho ; cinta encarnad a de me ei no, cai n do-l he a s fTa nja s sob re o lad o esq u er do;
l enço de seda à m os t r a, entr e a cinta e o co lete ; ca lç ão d e tripe ou d e malha
(I) S ó .. i",udlla.,..m com 0' U IU'OI d. tu,"" Q uu.d o .. re con heci. UIU'eJ:II ""Ili l' pic . el... dUCIl. lI. dl. u J:II-IU ' •
f. d am fuo. p. r. UP':U ' pall a . tlo,.
(2) LaIl.,"O d• • Ijodl o. d. COrU ,.1 a pad.ri o ..i,lolO. 00 • • eutlado . li.o. elo. da . coeo •• DUI" •• 1' " aio bo rd.do.
pel.. . .... 0•• &.. dOI pO" llido.... d..ao.b d o· Jbu boo .eu, 1' .... 0• ••, l",lclili dele I d. l, a . til! ir.... IJIl.OrO .
- 16~ -
A T RA v t S D OS C AMPOS
Chapeu. 1$ 500
Camisa borda da 1$800
Oito botõe s de ouro 20$000
Colete . 1$200
Jaqueta . $$ 200
Alam ar es de p rata pa ra a j aq ueta. 6$000
Calções . 4$800
Fivelas de p ru re 4$000
Abotoadura de 72 moeda s d e peseta. s endo 48 p ara as pernas d os cal-
çõ es e 24 para dependurar ao lado dos bolsos, 1 2 em cada um 17$280
Polainas 1$SOO
Abotoadura de 36 pequenas m oedas de prata para as polainas. 4$320
C in ta de merin o . 1$Soo
Um par de sa pa tos . 3$ 600
S oma - Reis. 72$ 700
Adi cionan do·lhe o cu s to aproximado da capa e alarna res . 16$000
Importava t u do em R e is . 88$700
- 165 -
A T R A v t S DOS CAMPOS
l enço d e seda , en tre a cin ta e o cole te; r elóg io o r di n á rio p r eso a coerente de
prata h l e sa patos o u bo ta s de ca bedal fi no.
Quando a s calças s u bstit uí r a m os calçõ es, todas qu e faziam parte do t raj o
de gala , oste ntavam abotoa du r as d e pesetas, pen d en t es d os b ols os. Durou pouco
essa moda .
Nas j a q u et a s ainda apare cem os a lamares d e prata, posto q u e já também se
vêem s em eles e sim com bet ões, semelhan t es à s que usam os lavrado r es .
O campónio te fulo d e h oje em d ia, possui d o is fatos finos, que, em boa
ve rd a de, não duram a terça p ar te do q u e durava um an t igo . É, po r ém , i sso q u e
lhes ag rada , p a r a v es ti rem de no vo com r el ativa f req uê n cia , embo r a r ecorram.
co mo re correm, a a rt efa tas inferiores m as vistosos, d e il u sória apar ên cia.
O essencia l é bota r figura e dar na s vis tas. Neste p onto estão in t eiramen te d e
acor do co m as ideias da época .
hl o u l6&io ....d• • ,..,ohi.1o .. ..... bollil. d. ulemhu, obr • • ofe u • .1. a orad• .
ct:} },.. blv.u. ta .h•• do du f.o. adn por oouo. tio. .., II i . co•• r o..plAb. ." .. lldtu.
- 166 -
ATRAvt S DO S CAMPOS
eídade, e a s rapa rigas usam - nos a ssim ta mbém nos dias d e f esta e à m assa dos
domin gos.
À s to u radas, a u a ia is e bailes vão muitas em cabelo, co m flores D O penteado.
O cal çado condiz com O r estan te . Cada mulhe r poss ui botas, sapatos e
me ias, aprop riadas às diferentes classes de vestidos.
Rap ariga s solteiras, poucas ou nenhumas andam descalças ou em canelas, e
a q u e tal pratica é s õmente em casa, recolhid a, ou nas caminhadas pelo campo.
O uro, nunca falta no mulherio novo , pelo menos n as orel h a s. Arrecadas
ou a rgolas nos dia s de sem an a e domingos , e brincos p o r oca siã o de festas,
connssão e bodas. À s de mais recursos tamb ém possuem cordã o para o pescoço.
A q u e logra comprá-l o com a competente medalh a , cr uz o u N ossa Senhora da
C on ceiçã o, r ealiza uma das s uas m aiores aspira ções. M u i ta s. s ó o obtêm em
casadas, como dádiva briosa do ma rido. na f eira do S. Mateus imediata a o casa -
m ento, ou em outra, por efeito de bo a s oldada ga n h a nesse ano .
A n eis de o uro é raro possuírem-nos, ma s usam-nos de p r a ta , um ou m ais.
..... . . . ..... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . .. . . .... . . . . . .. . . ... . .... . .... .
H omens e mulh eres, possuem diferentes trajos e ves t em com apuro, enquanto
solteiros e n os primeiros anos de ca sa dos. Depois, à medid a que avan çam na
idade. abandonam a co m pos t u r a do vest u á rio. Dispondo.. como dispõem, d e
po ucos recursos, têm de aplicá - lo s principa lmente. aos enca r gos da família,
r edu zin d o o seu fato próprio à extrema modéstia, maxím é a s m ulheres, que,
ne ssa a ltu ra , passam a and ar r otas e d esalinhadas.
O h omem conserva um pouco m ais o a rra n jo e concheg o d a sua pessoa .
ma s por fim , a falta d e meios, os filh os e a diminui ção d os cuidados da co n sor t e,
arra stam-no também a íd ênnco d esleixo, emb o.ra m ai s t ardio.
Em geral. elas e eles, acabam a vid a co ber tos de andrajo s. s em um visl um -
bre sequ er do cue for am na m ocidad e. Se. p or ventura, desses t empos lhes rest a
alguma coi sa boa, são os filh os q u e a utilizam. E.l es, os pais. d esp ojand o-se de
tu d o que tenh a va l or, já s e r ep u ta m f eli ze s se lhes dão d e co m e r e lhes as seiam
os farrapos. Quantos viv em, t ã o desdi tos os, qu e n em i sso l og r am d os s eu s 1. . •
• •
Alcun has São atributo inerent e à g ra n d e m a io r ia d os h omens d o campo e a
muitas mulhere s. Imp osta s p elo púb li co, co mo al u são a d efei to fís ico
ou m oral do su jei to, s enão p or q ua lquer out r a cir cuns tância. ou h erdadas do s
as cende ntes - os q u e a s r eceb em t ornam-se m u i to m ais co n h ecidos e t rata dos
p el os an exins (1 ) do qu e pel o n om e, ge ralme nte v u lga ríssi mo e assá s confundí-
vel. Em qu e lhes de sa grade. tê m d e se conformar com a s u bs t i t u ição. desd e q u e
fo i san ci on a da pela vontade p opular.
D os h omens, s6 escapam à cr ism a, 0 5 raro s d e n ome próprio a r r evea a do ,
{t I p,to <l Ue e ulI'ill I Itlllp t.'IUllI' U PUI ch uo. r ou " . IU pUJOI!lIIttllt o i rlCll ~ ld u o. hi 401t UCtplou o, dt t lrict tr
.hoa 10' O ou u", oh , ctl o,.
167
ATRAvtS DO S CAMP O S
ou for a do comum . Mesmo de entre aque les que h er dar a m a alcunha do s p ro-
gerrirores, ab un da m os que apanham outras novas.
Uma ou d uas q u e sejam, 1'0'[ qu a l q ue r m o ti vo. é fr equente, com o te m po, o
pú blico p ron u nciá - las p or a breviatura, qu e p or fi m p r evalec e, esq uece ndo o
cogno me q ue a orig ino u. Exemplo: Cascabulho, po r Casca j R ebo lim, por
Rebola , etc.
Nada ma is f antá s ti co do que os anexins aldeão s. É u ma n om encl a tura
gr otesca , des d e os termo s indefiníveis, banais, ut é a os a cen tu adament e p ornc-
grá6cos. Para ha ver de tudo. não faltam os engraçados e os li songeiros, se be m
que este últim o gé n er o não prima pela quantidade.
DIVERSÕES
168
o car r o de mola.!, tapado, pronto para a roma ria do S . M ateuS"
ATRAvtS DOS CAMPOS
* * *
Baile s hl O s ge nuiname nte popu la res, conhecidos por balhos de candeia e d e
porta a be rta . consistem em diversos bailados 80 som do cante dos
rapazes e rapa rigas, (si co m a co m pa n h a m en t o do indispe nsável pandeiro (:5) e das
castanholas. em ce rtos casos. P a r a variar, to.mbém dansam polcas. rnaz u r ca s,
valsas e co ntradansas, a toque de g uitarra ou de armô.niu m , como apareça toca -
dor que se ofereça, ou se preste a tecer mediante pedido e oferta de b eberetes,
senão a sec o, Unicame nte por amor à arte. C o n vid a d o de propósito, com ou sem
a n t eci pa çã o , não é costume em advertimentos vulgares de gente pobre, q ue s e
remede ia e até prefe re, a cantoria ao toque. Convite prévio a tocado r, só s e us a
e m funções de bo d a, e não em todas.
Figurando no balb.o pessoal sabedor , ent ra-se por tudo que se conhece de
an tigo e de m odern o, d esde o s fan d a n g o s e a pombinb.a branca ai D om Solidam ,
até à con rr e d a nsa , marcada ... à f ra ncesa, em term os e str opiado s.
M a s o que to ma o mais d o t e m po são as «saias» , co m as voltas corres po n-
den tes, ao s om de ca n tigas e do pa n deiro, acompa n h a das p or es t alo s s onoros
dos bailado res, com os ded o s p olega r e m á xi m o d e a mba s as m ã o s.
As «sa ias» nad a t êm de g racioso ne m difícil. m as a gradam d e preferência
p o r ser o gé nero que m elhor s e quadr a às ca nto ria s de p r ed il e cçã o p o pul ar. É a í
que os cantistas a fam ad os ex ib em a s suas fac u ldades vo cais e po éti ca s. q u e embas -
ba cam os ouvintes apreci a dores . A o mesmo tempo, a simplicida de d o baila do
per mi t e o a cess o d o s m en o s ent en d id o s, dan d o lu gar a que todos se d i vir tam.
s aib am ou n ã o.
* * *
O s ba iles efectuam-se à noite, nas casas dos locatários que se p resta m a
obseq uiar a m o ci d ad e. e de d ia, de improviso, nas ruas e largos das aldeias, às
(t) r.. 1I.tuai•• pl.bda, al'lU.h.a, ~o.o i' di ... ao tutu" d., boclu. o. I.alluico. du alde:l u e do ~.mpo d.,i·
, ..m· •• por ""u/loo" "/hU e /."Jr-6 u . O ltuollo o ..aI ula.do e.t4to.ddo. p.lo .....0' .0 co.nlLo d. EI .
(2) E.lu.6 U Il.UIII .,u.do a bailar. Elu ct.Il.U. d.""ro • fou do te:nmo, e .... 0 lII.i•• olt.,. tarem d. 'ou,
••u • • e....... do. ull.uacloru.
(II O paado h o l u: I. .bur to. p0Q'ono lambor ,.Ia ....ILatlc. do, ,on•• da lIIathla prima - ,de d. o..-Ib. a o. d.
~.bn , qa . u upui .u pu pa u lII • n o 1II0do. DHne, ee .. ludo , •• [orm., q u. I. etaodr.da • •io ~i1rodriu. A I..... ti. 00
uoa fouaclo. d. bUla nl"lll..IL a, ~O. fu.,.lllf ÕU de pu' o h. bo' a.aulo• • 'uil... N io p....1lIIl da l....trame:afO rodlzeea t . ·
rf ..flllo , d. rem ou 'hlltoid.d. ; pro~ho:d .. do '0'" u"l.nillloa, q". ncnl..... COUhlO af.un m. Todo.I •• alod. Loje o ."uda....
".am aa eapul,.., COlllo o ..1I. n..... u.,a..afOO L' <lO UIO• . O p.nd.ho ., poe . ..1... dJur, o phno du mOfa. campõnlu'
Oa "'OCOI . i o oa POU " . ID , n.m .. loc. m, A pen . . . . tllclrdl"a dl.p OS.m d. pafld.lula /Ii tlp'Dhol. , que . 6 Une .,clo
C aen a. a !.
169
ATRAv t S DOS C A M PO S
h l N . lIue d.ium d. I.. Lh•• , lI" . ..do • d u pl h m dOI m6Y.i• . M uit.. .. n u , lI ut. . drtul1.t'nd ... o 10.11. oL.d.CI . 0
P ' OP õ l il O d. l U; " • n .. l O 00 .. 0 i nQ'u l llno.
- 170 -
ATRAVr,S DOS CAMPOS
(l) A to..l . 00 .<o.lu ao y. n . co• •eo""aall• .Ill • leu. du u atlJ u • re lu. O tls to .1.. n .tI,.. lI.ulu. i D. t-
'"'Tal aUlY h do. "'01. À m61l u Tari. d. ' .... lIO•• t .... po•• •• b... qo ••••pu ee rn oa. r" " ' bO' .1. m.I • • coll• . E.
• <t.da "'0 _ ...... lI.lo ."0'. ~ • • 0<1. DOTO. l..pl,..( l o do 'eIlO. dI!. <t.atador d. '01 10.
' d O priaclplo d . u adlo. t • • to •• m6a ca como •• I.u• •
171
A TRAVt.S DOS C AMPO S
* * *
O balho anima -se a p ouco e pouco, a té atingir o a uge de conco r rência e d o
e n t u sia smo . Ã pa r sobe ta mb ém a tem perat u ra . Ã aglomer ação d e gente, o f u mo
d os ciga rros e o pó dos t ij olos d o p iso, prod u.zem u m a. atmosfera esto nteadora
e s ufocante. A casa t ransfo r m a -se em estufa. e os assiste ntes i n u n d a m - s e d e
suor, q u e lhes escorre em :60 p el os rostos r ubros como p im entô es.
N o rer rei co, os pares sobejam, acotovela m -se e p fsa m -se, bailan do e dan-
sand o a custe , po r falta de espaço. Em red or , n a la r ei r a e a té n o sótão da ce rn a ,
mulh er es e xapar fgas, senta das u m a s na s ou tras e n ã o p ouca s de pé e em cima
de cadeiras, a gl o m e ra m - s e, e mp urram -se c a p ert am- s e, para disfr u tarem m elhor.
As casa das, com os :6lhitos 80 colo, a mam arem o u a d o r 'mi r, s uste nta m
pales t ra s j ocosas so bre os na moros q ue p resenceiam. Quantos aprecia m me li-
ciosa m en t e, metendo - os a ridí culo f Às previstes, co m b ossa para a m á líng ua,
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ATR Avt S DOS C AMP OS
h) o " a h or À6t6nlo T om h Pi' I...a'. ", ah o . ru d i : o • a m do. pr hu: ip.b foldo ri' llI do aOll o pdl, ueo !!...... d.
ltad lçi o oul. d. to dll I I p ro .ln eill. dn 11 e.atl, qu . p.eiea um.nl' coord.aolO. co... l1.p.rior cdt~r;o n ..... ial UU-
"'a ta oLu "Canto. PopII••r e ll l · olCt ..g ur.e o u aei oa"i ro me l. ....to q o. fC t.m co li,ldo. m POrtl.,.1. Du...
dn ....11 U ll tl. . . . . .... u.d • • p.lo mI IlO• ••i o d. procldh lcl . lr. a'I. , . a •• O qu . hon ra Lut.n t• • po u l. pop l1lar do "I. a teio .
Duta n ll 'II O If.L. lho IIli p",Lllcad o , I .' 'I'o luo... l EI.... - T ipo' r. li. Pro'ru~ o . 19\12 J. <Q1 p'a la u . C01Dpru ad. a do
:Sftl caluiall. dnld • • • at. d ...ffi ".d ll. O 2. 0 'I'o la m. Uli n a do illlp u"o a. IIIIIClll' tlpo,n fi. _
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A TR AvtS DOS C AMP O S
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A T RA v t S D OS CAM PO S
sujas. À do n a es b ravej a por tudo iss o, mas de pressa amansa, lem brando-se q u e
a ss im te m d e se r, para a s filhas 80z arem. Não se apanham t r u t as a barbas
enxutas.
* * *
Se na s «fu nçõ es» d e porta s a de n t ro, a ordem é pou ca, n o s bailarico s em
p l en e r u a. ainda é m enos, po rque n ã o r esultam d e o r g a niz ação p re m ed it a d a ,
n em se s u b o r d ina m a a u torid ade a lg u ma . Surg em d e repe nte, imp rovis a d os
pel as m oça s d a vi zinh a n ça. a p retexto d e passa te mpo momentâneo. S e os ra pa z es
aflue m e se p ortam em te r mos co rrectos. o e n t reten ime nto pe r s is te por a lgumas
h o ras ; senã o a fl u em. ou se, m esm o a flc.i n d o, o ca sio nam balb úrd i a e travess u r as,
m one à mín gua d e i n fl u ê n cia , o u acaba de estoi ro para s e evita r em ban zés.
Outra s vez es es cangal ha- s e o ba i lari co por efeito d e r eto iç as ca r n a valesca s.
* * *
Festas e t ou radas R ealizam-s e em d iferentes domingos e m a is dia s feriado s
do verão. E.m ca da vila e ald eia, há todos os ano s u..ma
f esta r i ja, promovi d a pe los lav ra do r es , em h onra d e N ossa Se nh ora, so b a
in v ocaçã o de S enhora do Rosári o, d o Pass o, d a Conceiçã o, etc. Àp esar d e
sere m a s p rin ci pais, nada ofe re cem de n o t á vel, q u e se n ã o pa reça com o qu e se
vê e m mui tos po ntos d o pa í s, salvo as to u r a das, de q ue adian t e falarei.
O r es tante, r esume-se em m ais o u m en o s fi lar m ónicas. fogu etó rio. pr ocissões ,
arra ia is, baza r es, etc.
Na maioria das lo calidad es, a lé m da fe sta aludid a, p a ra que co n tr ib ue m
to dos o s habitantes, ca d a classe ou g r u po de classes, promove o u t r a menos rui-
d o sa.. 80 s a n t o q u e arvora em patrono. O pe ssoal das lavouras co ncorr e muitís-
simo p ara estes festejo s, que.. pela maior parte, s ã o de s u a a b soluta iniciativa.
H á povo ações em que se efect u a m a n u a lm en t e qua tro e cinco f estinha s, cada
qu al promo vida por determinada or d em de se r v iça i s.. 8gre mi a d os em mordomias.
Na a ldeia d e Santa Eulália. p or exe m plo.. os abeg õ es, b oieiro s. vaqu eiros e
gen h ô es, festeja m S. Jo ã o Batista; os pa stores e ca bre iros. S . P edro. e o s por-
q ueiras. Santo Àntão. E stranha ao p es so al agríco la. mas em co n d içõ es s eme-
lhantes, real iza-se t am b ém a de Santo Ant ónio a ca rgo dos almo creves arrieiros
e dos carvo eir os. T odas q uatro. e o ut r a s aná logas. nas fre gu esias viz inha s.
são pequena s fe stas de p obres, de assistência circunscrita à g ente da localidade
e a meia dúzi a d e ra pa zes dos arr ed ores . Constam a p en a s de música por filar-
mónica barateira, missa cantada, sermão. pro cissão, e por último, touros, de
tarde - a diversão principal, quas e imprescindível. Não tourada em form a .. o u
coisa que se ass emelhe, m a s á vara larga, dentro da povoação. g ratis, com # a d o
alentejano. deseecboledo, de trabalho e d e criação. em que se dá liberdade d e
lide a toda a gente. Quem q u er f az de toureiro.. já ch a m a n d o es reses com o
• lenço, jaqueta ou chap éu, já picando-as à vara de a guilhão, o u s imulando p r e-
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AT RAV :e S DO S CA MP O S
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ATRA vtS DOS C A MPOS
* * *
Às dez h o r a s d a manhã, na residência do j uiz o u enti da d e equivalente,
r eun em - s e de no vo os co nfrades e de a í s eg u em para a igreja paroquial. com o
res pect i vo g u ião ou bandeira, a co m pa n h ad os da músic a e d o rapazio . Se o santo
figura n outra igreja. vão lá primei ro com a band eir a . para. o transpo r ta rem pro-
ce ssionalm ente à sed e da paróquia o n de se f az a festa.
Enquant o as cerimónias r eligiosas se r eali z a m na igreja, cá fora, DO adro ,
põem -se em l eilã o as fogaças ( 1) oferecidas, bem como a carne e cereais prove-
nientes dos peditó rios do entrudo e do ve rão. F ogecas, carne e cereais, vendem -
-se por preços variáveis - baratos. se a concorrência é frouxa; subidos. se há
anim ação entre pretendentes bas éfies, que não querem ser suplantados. O s Ees-
tei ro s pimpões f azem render o leilão. cobrindo, por s ua conta, os lanços dos
estranh os. As~im botam figura e defendem os in te resses do santo.
. . ... . . . . . . . .. . . . . . .. . . . . .. . . . . . . . .. . . . . . . . ... . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . .... . ....
A m issa e o se rmão deco rrem com visível despacho. sem incidente n o tá vel.
Àntes d o me io dia j á a procissão está n a r u a, faze n do o trajecto do cos t u m e.
O s mordemos lá vã o com toda a g ravidade, m uito anchos da s ua vi d a , osten-
t an do as re s p ect iva s insígnias: - o ju iz, a va r a; out ros g ra duados. o pe ndão e
os cordõ es. o ando r, etc. O que hasteia o pendão, seg ura -o com todo o aprum o.
en volvendo e a mãos num vistoso lenço de seda.
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A T RA v t S D OS C AM P OS
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ATR AvtS DOS CAMPOS
em co mpanhia al egre dos am igos e d os estranhos q u e lhas inv adem , con fia n d o
na benevolência. O s foi tos e estúrdias, não se incomodam em obstr uir a s portas
que dão para a praça. Pelo contrário, a b r em - n a s de par em par , enquanto dura
a fnn çã o, para, d os limiares respectivos, a gose rem a seu modo, fazendo fr en t e
aos cornúpetos que lá chegam, s enão facultando-lhes a entrada para os a dm i-
rarem como hóspede s.
Deixando-lhes a porta livr e, p ro vo ca m peripéci aa e investidas s encer imo-
niosas, com. qu e esperam r ir i m enso, j á pelo facto em si, já pelo susto q u e se
a poder á dos timoratos.
S eguindo orientação o pos té, os medros os t ra n ca m os seus portados, co m
pranchas a o centro. que lh es sirvam d e parapeito e lhes permitam ver se m
perigo de marra das. As j a n ela s, sacadas e varandas, enchem-se à cunha com o
pequenam e e o mand amismo de consideração. Não há uma só que não reg oe-
gite de moças muito enfeitadas, em traj os multicolores, como açafa tes de rosas-
Quem poss ui janelas ou coisa que o valha, p õ e-se at ónito para a t end er o
mulherio flamante q u e, antecip adamente, pede um l u ga 'rz dn ho de onde veja m
com segurança. Tanto i mportun am os moradore s do largo, que estes d ecidem-se
a dar o sim a todas, caibam o u não. M a s elas lá se arran jam como podem, sem
se importare m co m bagatelas.
Nos carros e n os prédios, t u d o se p reenche e apinha, mais ou menos como-
damente. Abundam as posições caricatas, desde a s dos ca utelosas em exa gero,
que se sentam nos telhados, gatinhando pa ra lá ch egarem , at é às mulher es
menos exi gentes, que s e assolapam en tr e os rodados, espreitando pelas fisgas e
abertas. Acomod am-se assim centenas e centenas d e p essoas, sem co ntar os
aficionados q ue fica m na arena: uns dispos tos a lidarem e correrem, outros
resolvidos a ch ega r em - se para os edifícios e aí formarem barreira. colocendc -se
na defensiva, a p é firme e de pau f or rad o, para afrontarem com as arremetidas
dos comu dos. P el o menos a la r deiam semelhantes intenções, com fum aças d e
val entes. embora depois f ujam a esca pe, logo que O perigo s e avi zinhe.
. . .... . ... . . . . . . ... . . . .. . . ... . . ... .. . . . . ..... . ... . .. . .. . . ..... . . ... ... .. .. .. .
* * *
E m enos de uma hora t odos es t ã o a postos : a m ú sica, nos carros, de pé,
t ocando ou nã o, s eg u n d o a s exig ênci a s do público ou o ca p ri ch o do mestre ;
o lavrador, à p orta d o touril, de va r a o u pampil h o em punh o, para dirigir a
corrida ; os {esteiros, ao la do, muito ufan os, mos t r a n do os mol hos d e fitas com
que brindarã o os a garrad ores. À aut oridade iocal- o regedor - t ambém está à
vista, em qualqu er p arte, de benga la o u cac ete . rodead o de cabos de políci a ,
manuseando espadalh ões ferrugentos, qu e lhe se r ve m de arm a e d istintivo.
Dentro do touril estacio n a m muit os curios os, qu e, ap recia n d o as r ezes,
comentam-nas ao sabor d a s impressões q ue s ente m pelo lav rado r .
Entre os apreciadores 6 guram genh ôes, e outros cri a do s de lavoura de onde
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ATRAvtS D O S CAMPOS
- eN em eles foss em de n osso amo... O gad o lá d e casa sempre fez flor ... » •
... . ... ... ... ......... . ... . . ........ ....... ........ . . .. . . . . ... ........... ....
Nadp. f a lta ndo de essen cial, fe cha-se o espaço q ue fico u paro. o trân sito,
co m p let a n d o- se o en trin cheiram en to. Q uem s e a tre v er a transpor as ba rr eir as,
arri sca-s e a partir as co stel as, o. esb orrach ar o nari z ou a fica r descompo sto.
A s especta do r as retardatárias, q u e s e d estina m às janelas, a r r os t a m com esses
p rec a l ços, galgando os ca rros co m O a u xílio dos pa ren tes e um certo equilíbrio,
que lhes permite vencerem o obstáculo e segu irem a ma r ch a , a tra vessando o la rgo.
E m que saltem incól umes, não se es ca pam às chu fa s e z um bais! d a m ultidão.
q ue as n ã o poupa , vendo-as caminha r m uito Ii r ôs e rem ech i d a s, d e olhos baixos
e o rosto a f o gu ea do, como que a f u rta re m - se aos ap up o s dos tro cista s. S e l h es
gritam q ue f ujam , q u e vaí sair o boi , as infe lizes p er d em a li n ha e desatam a
correr, co mo corças, o q ue au menta a a ssuada, es rr ug 'indo as galhofas e os
a sso bi os .
En t retanto, O povinho, impacie nte, r eclam a o co meço da corrida, bradando:
- «Venha gado' . .. V enh a gado ' ....
. .. . . . . . . . .... . . . . . . . . . . . . . . ...... . . . . . ... . .... . . . . ... . .. . .... . ... . . .. . . .... .
Começa a lide. R ui d osos aplausos celebra m a saida da rez, que, mal
assoma , põe em debandada os grupos que se entretinham na praça. Tudo foge:
u n s procuram empoleirar-se onde possam, outros distanciam-se apenas no pro-
pósito de tourearem, e alg uns vão engrossa r as colunas d os tl eug mâricos encos-
tados às paredes.
O bicho q ue sai primeir o COStuma ser fraco, d e pouco respeito. Sai a título
de ensa io, por assim diz er, pa ra des afogar a. p r aça. e u nir fileiras. D á umas
voltas, m a rra ou co rre, conforme os In rin tos, ou não marra n em corre, e daí a
nada, reg ressa ao touril.
A nlarmónica tem de tocar de vez em quando. senão o povo indigna-se e
berra:
- «Música 1... Música 1... Haja música 1... Não é só ganhar o dinhei ro 1... »
Ao primeiro chavelh udo s ucede-se cer re, de boa pinta e m el h o r se n tido, e
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ATRA v t s D OS C AM PO S
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A T R A v t s D O S CAMPO S
• * *
Abstraind o as se l va gerias do s p eg a s em ani m a is d es embolad os, d e avanta-
jada corpulência, a s t o urnd as de n t ro das p ov oaçõe s, em praça s de im pro viso,
<I) H u l. - u d. h'cxu :llu \ to •.,.... e .pddii.. elll. VI1. BoilD. 8arh.tu.• , SUI.f. E v.lili... AU1:Illl.ar. cooforundo.
1011 .... lOunel.. do .1110 • u u do. ...
h ) NOlllro' I. DlP O', o. bo i. d.. u cort.b... ld. b. ... u . , ..1-= 1 pn , • • afe lt.do. colll. ; u d iod ru d. fit.. I! IU'lelo ul..
(.oilu), .. . lut•• p.u o• •,.rr.dou. . . tl n um com o pdmlo d .. ' f Cio . ~ "' O Dl " conliJ:P.h.ro mot el.. d. pu t. , o qOl! ...
fad. COIP.tlu .. o . cto d. ..h • f U , calDO la u Mh o l .uoton d. pt, ••
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AT RA V !'. S D O S C AMPOS
- t81! -
ATR AVt. S DOS CAMPOS
* * *
Jogos Perderam o cunho más culo e re creativo qu e os caracterizava nou tros
tempos. Há trinta a n os , se tanto, os homens di straiam-se nas horas de
ó cio a jogar à malha e à barra, a sa l ta r em a g ra n d es distâncias e alturas, a
levantarem pesos enormes, a pulsa re m uns com o u t r os, medindo as sue s forças
musculares. e. enfim, em vários exe rcícios semelhantes, que s e podiam c1assi6.car
de j ogos atlét icos.
Na freguesia dos Prazeres, do vizi nho concel ho de M o n f orte, efectu ava-se
e efectua-se uma pequena romaria na segunda-feira de Pascoela. onde outrora
os popula res da s circunvizi nhanças passavam a ta r d e nesses exercícios, div er-
tindo-se a si e aos curiosos. Quem p ulasse e jogasse à barra n os P razeres, co m
fe rro de a rad o ou coisa m a is t a lu da, era sujei to ex perime ntado, que não temia
d efrontar-s e com outros pimpões d e fa ma. T a m bém - cumpre acresce ntar-
rar o era o an o q u e l á n ã o havia bcrd oede rij a, entre os ca m p eõ es d e força e
li geir ez a .
N a actuali da de, ta nto no concelho de E lva s como nos limítrofes. já se não
pula n em se joga à ba rra. C omo eram ent reten imentos salutares, pusera m -se d e
pat te , prefe rind o-se-Ihe 8 cha pa (2) e o ch ínqu ílh o, em que os patos são depena -
dos sem dó nem consciência d os espertalhões q ue os ex plo r am. O mesmo aco n -
tece co m os jogos d e ca r ta s e cartões m uito em voga, tendo estes a ag ravante d e
decorre re m sob a atmosfera insalubre da taberna, onde muitos homens do ca m po
consomem os dias e noites dos domin gos, perde ndo o salário da sema n a o u a
soldada d o m ês, nos jogos da ron da , ped ida, trinta e um, m on te. e t c. I sto n ã o
It} E. ai."..... localid.du• • n ri 6.. 1. d••Dtr .... d. hu. d.l... , ... I..,ar à po u . d. l.rel. o. a o laurior do u mplo
lo....do·. o (.udro 1>.0"0 d.....Ioe do tI . o. o.. d .. do pboco.
s 1 1 ~ .... rc •• o " ", o o ' n u ir" oa ' u II Ir O' ... Ibo, ee.. do .. . ", • • u .. l r • • a CJlOIU .... •.. PU_ti o prio r • •
40 •••11.1 Dudd... N.u. Ohllllo CUO• • l u u 11.10 II f•• no .ftO ' lIIedlato• • por luo dlt· .. 4d' • h. lIdeiu fico..
• rn.ad • • AalInud. lnd.&..ld I • • u i b.... r d... ou). 4u • • 40 ..1 ,.rr .
(2) Jo.o. d. n ee o. d.. cJ. coh ••• 4ae •• a1ir ' 0 o cblo•••ab.ll do-u ou pu d . lldD· coll fo .
• f. c• d. "'OId. 40. fica "o h .d. $I" cim • . Cu .. ou ""U ' , co mo •• db , calio••• nb.nd o t i crvu, Oa .. c " 'lIodo
o 4'" ., coa ... acion• • o.. o q... U I! • • " ' 0.
185 -
ATRAvtS DO S CAMPO S
f a lan do nos menos nocivos e m a is corr í q ue iro e, como a bisca lambida à s p a rti-
d a s, q ue só custam a s co rresp on d en t es cor ridas d e ca fé rel es e o utras murraças..
q ue in g er em o s jo gadores e os mirones .
Em co n cl u são. O ví cio pelos jogos d e a z a r , que antes era q u ase d es conhecido
entre g a n h õ es e trabalh ad ores d o cam p o, vai g ene r a liza ndo - se e m edra n d o
co n s ide rã ve lm en te, p r od u zin d o. é cl aro. os se us fun estos resulta d o s. C omo se r ia
pref erív el q u e os esq uece ss em d e tod o. ressurgin d o os d a m al ha e de barra 1. ..
... . . ... . ... . .. . ... . . . .... . .... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . .. . . . . . . . . . . . . .
As mulheres joga m jog os d e prenda s a os s erões e nos ve latódos d o s a n ji-
nhos, b e m co mo o u tros d e r etoiça brincalho na, às h oras de desca nso nos t raba -
lh o s cam pest res . N ada m ai s e já n ã o sa be m po uco. para se d iv ert ire m e s e
l ograr em re ci pro cam en te.
R.estam os jogos in fanti s. a cen t uada m en t e popular es. co m qu e se deliciam
os ga ro tos. U sa m-s e mut rlss imo , variando de n o m es e d e g éne r o , de terra p ara
t erra e de épo ca p ara ép o ca . P ara o efe ito em qu estão, a pa rte do a no q u e
d ecorre d es d e o outono at é m ea d o s d a primav era, di vi d e- s e em vári a s te m llo ra ~
d a s, cada qua l d esti na da a u m jogo . em bo ra s e joguem out r o s por rod o o a no.
O s princi pai s são : o d o pião. bola ou boleia, bOAalhinh a, funda. saca-pel ouros,
cabra-cega. escon de- escon de. va rre-varre, v essourin b e, pata, r isquinhe, t ruqu e-
m anduq ue, salta- la -una, sa lta- la-m osca, d os m oir os. etc .
O s d os pião e o utro s, são bastante conhecidos ; portanto, d esn ecessário é
porm en ori zá-l os.
A risquin he e o truque-manduque, r epresentam-se por figuras geomét r ica s,
q ue s e ris cam no s olo, corta das por t r aço s que as divid em em divers os cam pos.
O s jogadores - d ois ou mais. e cada um por s ua vez, alternando - p erco rrem a
fi gura, «a p é coxin h o» . e m p u rra n d o com o pé uma pequena malh a o u m o ed a d e
vi ntém , qu e nun ca deve transpor d et er m i n a d os limites, n em es t acio na r nas
di vi s ó r ia s. O j og ad or perde, s e lhe falha o eq uilí b ri o e interro m pe a m a r cha at é
a o fim do percurso, ou s e o a n dam en t o da malha não satisfaz às r egras esta -
tui d a s. G a n h a . porém. se cumpre todos o s requisitos .
Quem ga n h a . escarrancha-s e às ce lsbrítes em cada um dos parceiros, q u e,
r especti va m en t e. e na d evi da altura , são ob r ig a d o s a servirem d e b estas, carre-
g a n do com o vencedor em ca rreir a ma ior o u me nor , pe lo tempo e di st ânci a que
se es tip u la .
S e. pelo co n tra r io, o jogador perdeu, i nvertem-se as posiçõe s, sendo ele que
lh e t o ca s er v ir de burro, ague ntando o pes o dos ou tros. a um por um . em corri-
d a s i~uais.
Á sa lt a- Js- u na e eeíte-le- m oscs , brincad eiras semelha ntes. um r a pa z p õ e- se
de ca b eça para baixo, dobrando a esp inha, qu ase em p o siçã o de q uad rúpede e
os com p a nheiros , d es vi a nd o-se-l h e a distân cia , correm de l á para ele. s a lta n -
d o-lh e por cima . S e saltam com a gili d a d e. bem es tá; se não sa ltam em t erm o s,
vão. por escala, s ubs titu ir o que estava de bruços, d ep ois d e paga re m a inépcia
com uma cava lhada a ca da figu rante, pela fo rm a usad a n a risquính e e n o tru-
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,
ATRAVr-S DOS CAMP O S
(1 ) A. caIu ~ .. O CIo. J' l in ......i o II• •" pUeu - ),01.0' co= o. eo.t.llo••ob,., O ch i o. ou 111""0' p.l.. co" ".
O. "';10. coan • • 01. "III' .oum.. ..u o..oIo'" .....= oI.uolo.... ' 0' o".ldo. 01. dtJ=•• po r pue. do . eOlllp."h.iro• . O. u ......
lilláo• .uau;: U.tll .lu uulad• • nd.. ,uceir o. ,dI. l ona. u flrldI. a' d..m elo 010. oano' io'o• .
- 187 -
AT RAv t S DOS C AMPOS
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ATRAVes DOS CAMPOS
pôrem lumin ária s à n oite na s jane las, e a í t o ca r em os almofa rizes, como teste -
munho de regozijo, a parec em de dia com bandeiras d e lu xo, a a lardearem
prazer e Ia r t cre . O s ho mens protestam, p a s s eando com o u t ra s d e sign ifi cação
contrária -as tais grot escas de fa rra p a ri a. esteirões e os sos, q u e simbolizam
a miséria .
Adu zind o carra d a s de a rgumentos em abono das s uas respecti vas i deias,
rapaze s e r a pa riga s, va le m -se da a pa rente rivalida de, pa ra , em chalaça, trocarem
dich otes e descompost u r as. A o m es m o tempo, diligenciam rouba r -se as bandei-
r a s, o que p roduz r et o iç a s, ba l búrdias e lu ta s de corpo a corpo, b em como
a ssaltos às janelas e va rand as, ordin àriamente infrut íferos. por serem pressen-
tidos e malogrados a t em p o.
O s que po rventura conseg uem tirar uma bandeira, celebram a p a r ti da
zo mbando dos espoliados, que ficam arreliadíssimos. As m ulheres, principal-
mente, não se co nformam com o furto, e, como possam, empreg am tod os o s
ardis p a ra tirarem a d es fo rra .
* * *
Na noi te de se r r ação d a ve l ha Nesta noite, (m eado da Quaresma), os r a pa-
zes estúrdias sa em à r ua para, em a le gre
reinacão, ser rare m a velha mais rabugenta da ald eia . C o m um co r t i ço e um a
s erra, vão ao local onde ela reside, e aí, em fr en t e d a por ta , procedem à
paródia.
U m que t enha piada , finge ser a s u p o s ta paciente, e, imitando-lhe a vo z,
so lta ais doloridos, enquanto que outro corre a serra sobre o cort iço , produ-
zindo o Som correspondente.
Á med ida que se avol uma o ruido d a serra çã o, a ima ginária ve lha r ep ete e
au m en ta o b erreiro, clamando qu e a vã o serra r e lhe acabam com a vida.
P or entre o s queixumes e pr ag as que g u incha, lembra- se d e fa z er o t es ta-
men to , e fá-lo em termos cómicos, rimando a s f r a s es e salpi cand o-a s de f ac écia s.
As t or tur a s que a amarguram não a inibem de discretia r jocosamente sob r e o
seu triste fim . e n o mesmo estilo disp or d os haveres. P ouco m ais o u men os
expres sa- s e assim :
- cÁ minh a comadre Maria, d eixo uma ti g el a vazí a. Ao s r . Pr ior a m inha
nele para um tambor. À Ana à Perdiz, a muquite d o meu nariz. Ào Seba stião
o m eu sebento casacão» . E.tc.
C om semelhantes chccar rfces, e o u t ra s alusiva s e os a le íj õe s físico s e a v elhos
peca dilho s da su a p essoa, consideràvelmente exagerados - a testadora co n tem-
pla t od a a vizinhança e os conterrâneo s em evidência. qu e t a m bé m ap anh am
rem oqu e na d es criçã o dos lega d os.
O rapa zi o, acode a ver e ouvir; a s vizinhas assomam à porta. e a brin ca-
deite com en ta-se. Em regra , desperta mais hilariedade do que reprova ção.
À cer t a a ltu r a , {raqueju o s ussu r r o da s erra s ob re o co rtiço ; a voz da
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ATRAv t s DO S C A M P OS
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AT R A V t S DOS CA M P O S
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A TRAvt S D OS CAMPO S
• • •
A vi age m O s r at in h os saem das terra s beirãs para a s ceifas al entejanas aí
pelos m eados de maio ou dep oi s, se v em tardia a matura ção das
searas. Acompanha - os o respe ctivo m a n ag eirc p rf ncipa ], se o m esmo não se
lhes antecipo u , para os esperar n o sítio a que se destinam, e entretant o rec o-
nhecer circunsta ncíadamente a influência ou fal ta d e b r aços, o a s pect o definitivo
das sea ras, o s â nimo s dos lavradores, as intenções e «f o rç a s» de outros m a n a-
teiros seus colegas, etc.
A viagem é f ei ta a p é, excepto os q ue jo r na de iam em burros. À o en t r a r em
n a s localidades qu e enco ntram n o t rajecto forma m colunas, e assim de muchila
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ATRAv t s DO S C AMPOS
* * *
Carácteres Na sua perman ên cia no A lent ejo. os ratinh os mostram-se agradá·
veis, cor te zes e humild es para t oda a ge nte da r egi ã o, e s ob r etu do
para os lavradores e qu em os r epr ese n t e. Mas à hum il dad e que se lhes t rad uz
nas palavras e gestos. a ssociam visível desconfiança, qu e se acen t ua pri n cipa l-
mente quando t ra tam d os seus inte r esses.
Parecem s im pló ri os mas não o são. A i ngen u i da d e boça l que a par entam, é
a máscara com que procuram ocultar a perspicá cia . P er spi cácia e m alícia bem
notória. embora a que'ire m disfanar com as doçuras d o p alavri ad o. N isto são
mais espertos qu e muitos criados alent ejan os.
Num ina bal á ve l propó sito d e sever a economia, p raticam a ctos d e extre ma
sovinice. Antes, nas taber nas, e ssccíeve m -se a os três e qua tro pa r a . em com u m,
beberem um q uartilho. H oj e, estão m enos forretas. No entanto, afir ma-se, que
um cig arro lh es dá fu ma das para dois ou três. Asserção exage rada, certa mente,
mas sintomát ica tamb ém. Quand o, no regr es so à B eira. vão embarca r às esta -
ções do ca minh o de ferro. acontece r ega tearem o p reço d a pa ss a gem: -
«O h senhor. fa ça isso m ais bara tin h o .. . » - dizem eles ao empr egado da bllhe -
te ira. d epois de l h e p erguntar em e ouv i re m o preço d o bilhete. E o empr egado,
impacientando-se. explica-lhes b r uscame n te a impossibilida de da redu ção.
Se pretendem s egu i r em gr u po. com o está sendo cor re nte. reclamam bilhete
de garupa. qu e lhes d espacham sem reparo. tão conhecida é a expressã o.
. ... . . . . . . .. .. .......... . . ..... . .. . . . .. . .. . . ..... . ..... .. . . . . . . . ... . . .... ....
Timbram em manifestar sentimentos religiosos muito mais e rreigados que
os dos trabalhadores alentejanos. Rezam com frequência e não faltam à missa
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ATRAVt.S D O S C AMPOS
nos dias de folg8. A o partirem das su as terras, cada qual promet e 40 r eis às
alm inb as (I ) s e re gr es sarem com sa n de .
Á ch egad a, cu m pr em a promessa, e ainda m a n d am celebra r massas em
acção de graças.
h ) P&!uU.m aJci:lo" 1(0. II , " COIl.UU l. cr o:tl1i:l. d.. du umioi:lo' d. Beln . rtpru.Il.I...do II '\'lm u do Po..rlll.t 6rlo.
(:a) Em Q ... i:lo. ' ClItlU.J. bit. , <filo' ulh. u cu"Ir. A p.ruDt';'lD dOi .11.U.hu o, " =o lto m.n o r qo. .. o.
lllu,uiul.o,.
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AT R A VES D O S C AMPOS
Ajustes S egu e-s e o sistema de empreita das q ue, ou se bas eia n o presumíve l
núm ero d e homens n ecessários pa ra o fim em v ista, ou pelos moias
de s emen t e q ue l ev ou a se a ra. C om a a da pta ção d a em p reita d a - a homens -
se , p or exem p lo, o la vrador co nt rata a ceifa p or vint e h o m ens, ao preço de
22 $ 000 r eis (média u s u a l), já sabe q ue vinte i n divíd uos h ) lh e ceifarão tudo,
nu m período mais ou m enos d emora do, pela quantia el e 440$000 reis e co mida .
Q uan d o o contra to se regu la po r m o i a s de semeadu ra, o l a v ra do r que aj usta
po r vi nte m o ia s, a 18$000 r eis cada moia de semente ( m éd ia ap roximad a),
i m por ta - lhe a ceifa em 360$000 reis e comida. N ã o se fixa o núme ro de reti-
nhos, mas s ubentende-se que, em co m eço, excederá q uanto possível ao de maios
ajust a dos, pa ra , no m eado d a época, ficar a par e depois se re d uzir tan t o q ua n t o
possa co m p ensa r a cama ra d a do r ef or ço q ue fornece u em princípio.
O a j u s te e a moia s. é qua se ex cl u sivo d as l a vouras em q ue p r epond eram as
cultur a s d o centeio, cevada e av eia - ee s seg un das». ( d N a s que predomi na m o
trigo, prevale ce a empreitad a - ca ho m en s» .
O uso a m oios, sa i m ais ca ro , Mas con vém, p el a n ature za das seg undas,
principalmente cen teio e a veia, q u e req u er em ceifa t em p orã, p a ra não desbagoa-
r em no s rastclb os, como a contece, se a f oi ce lhe chega t a r de. L ogo o la vrador
faz os seus cálculos e, po r conveniência própria, p roc ur a pagar em r elaçã o a
(1) 0 1'0 ln.dl.ldlJo' ...1:0 1:10111.. .. . . por qOI lU' ~.Hu coo tfuad.. por qo,Iq:Q If do. doi ••l'l. m... Ii'of& 'lima cOluld.-
:rhel Plf~ ... u • • m d. u pu u adoinc l Dtu .
(~) Por ocull0 d.. nU... II..• .. du omlDac po c , t' llllJ .. .. ..ar.. d. ce Dt elO, Clnd. , a.. la . t um lu mo da ou_lio.
C!:II' alo I I .mprd a DO un.ata do aao.
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AT R AvtS DOS CA MPO S
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ATRAVt.S DOS C AMP O S
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ATRAVeS D O S CA M P O S
que trato u, ne m que a el e lhe custe os olhos da cara. Qu e não custará , por que
sua gente é a escolha lá dos sítios. S ã o «fo ices» val entes, de levar t u do r eec,
da s de não h a ver pão que 85 su stenha, das que ategam fi rmes a té ao cabo, sem
acua rem u ma h o ra. Gente de pri meira. que nem ele a rranjava outra . p a r a
crédito e lama das suas barbas honra das .. .
O s factos subsequentes n em sem pre correspondem às anrmativas do h om em.
. . . . . . . . .. . . . . . . .. . . . . . .. . . . . . . . . . . . . ... . . . . .... . . . . ... . . . . . . . . .. .... . . . ... . .
Nos a nos de boas colheitas, em que escasseiam os braços, algumas camara -
das - a ü á s poucas - quebra m o aj uste, indo oferecer-se a outras c ca sa s.... que
p resu mem lhes proporciona rão m elho r es vantagens. Nesses mesmos anos. chega
a have r des avenças entre re tinhos e lavradores. tendo que intervir, co m o media-
a eiro, a autoridade ad ministrativa. t um recurso extremo e p ortanto, excepcional.
C o m os ajustes das pequenas ceifas não costuma haver demoras. O s q ue as
tom am e os que as oferecem. r eso lv em o negócio sem preâmbulos de i m p ortân-
cia. nem referênci as a preços. T à ci ta m en t e, conformam-se com os estipulados e
aceites n as lavouras maiores.
* * *
o pessoal da camarada reparte-se em t antos cortes quantas as sea ra s q ue
a j u s t a ra m . O mana geiro di stribui a fam íl ia a se u ca pricho. e cada co ntin ge nte
desses segu e logo para a ceifa q ue o chefe l h e d ist ribuiu. ca p itan eand o-o o
respectivo ca beceira (meaa geirc d o corte), também nom eado pelo o utro. de
acordo com o l a vra dor. O cabeceira. t o rn a-s e desde então, o imediato r epr es en-
ta nte do ma.n agej.ro geral, gov er nando os ra tinh os que lhe entregaram. No tra-
balho. toma l ugar n a ponta d ireita , e d aí enc a m in h a e comanda. O la d o esq u er d o
da po nta oposta. preenche-o ou t ro ceifeiro de confia nça , a' quem pertence s ecun-
dar os esforços e p lanos do d a dir eita, tornando-se seu substit uto e auxilia r .
G a n h a como qu alquer. àpa r te um olha mento d e cinco ou dez tostões. que o
la vr a d or lh e queira dar.
• • •
Alimentação C ostu m a ser à cus t a dos lavradores. r eg ulada por q uantidade s
certas (comedias), ou a «ra s t ol h o feito... isto é. por m eio de
comida semelhante à dos ganhões. «B oc a livre». a c en ch er a bar riga », comO
também se di z.
O primeiro sistema - o das com edori a s - vai esta ndo ba n i do. e a pen a s se
usava na s em p reitada s ca moias». A ca da moia ajunta do. co rr es pondiam os
marrocates de sete alqueires de farinha d e centeio, 5 arráteis de toucinho,
S qcertílhcs d e a zeite, z4 queijos. 1 badana e os leg u m es, az eitonas e vinagr e
que consumisse m. O s sobejos e f orr u q ue ven ciam p or co nto, p eso e medida.
levavam-nos consigo pa ra a Beira. o u, q uerendo. era m- lhes abonados em
dinheiro pelos lavradores, m ed ian t e preço conve ncionado.
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ATRAvt S D O S CA MP O S
Áparte O pão, de tudo f orra vam muit o. Das badanas, apena s co m iam duas:
u m a, p elo S . Joã o, outra, no dia de Corpo de D e u s. Com o a z ei te e t ou cinho,
tam bém era m parcimon iosos, po u pa n do quanto podiam . Um ja n t a r d e le gu mes
para vinte h om ens ch egava a ser adubado co m um quilo de toucinh o, ou um
de cili tro de a z eite J O queij o, fo rrav a m - no t odo. para m im osearem a s f a mí lias.
Para s uprirem semelhantes pri vaçõ es - ali ás vo luntárias - co m i a m grand e
quan tid a de d e legumes, muito pão e muit íssimas a z eit onas. N o co n s u m o do
pão, ala rg avam - se tant o, que excediam a q uan t idade q ue ganh a vam . M as, por
obediên cia aos usos, o la vr a d or não lhes de scontava o ex cess o. S e n ão conta s-
se m co m isso, eco no m izá - Lo- ia m tamb ém.
A co m ida a «ra s t olho feito» assemelha - se à d os ge nh ôes, durante o verão,
com a dif erença que, em regr a, a s o lh as n ã o consta m de ca r n e ensacada , nem
vari am de legumes. Predomina a olha de fa vas, altern ada com a de g rão d e bico.
O a l m oço, à s 7 h oras da manhã, r esume-se em sop as frias com cebolas e
az eite refogad o .
Ào meio d ia, co mem o jan t ar - olha a d u ba da co m to ucin ho ou aze ite, con-
f or me o dia d a semana. D e azeite, na s sex ta s e sábados ; d e toucinh o, no s
r es ta ntes dia s.
Á t a r de. meia h ora antes do sol p osto, meren dam o tradicional gaspacb o,
refei çã o fr ug a lfssi m a, ma s bastante apreciad a em todo o Alentejo e g ran de par te
da Espanha. O gaspacn o d os ratinhos disti n gue-se pela ex ce ss iva quantidade
d e vinagre com q ue o prep ar am . C omo os d ei xem, n ão h á vina gr e q u e os sacie .
Tanto a os a lm oços como aos jantares e às merendas. servem-se co n d utos
d e a z eitonas o u qu eijo.
Essas sã o a s práti ca s m ai s s eg u idas, po sto q u e tamb ém h aj a variantes.
Na s ceifas de ce rtas lav o u r a s. é cos tum e me lhorar em o jantar d os domingos e
dias d e fo lg a, ad icio n a ndo-l hes m orcel a ou carne d e b adana. E p ara a merend a
da s se xt a s e sábados, s ubstit ui- se o gas pacho p or sopas d e leite.
* * *
Auxiliares alentejanos E m to do s os cortes ou camaradas parci ais d e ratinhos,
fi gura u m gr up o de serviçai s a le n te janos, q u e se em-
prega exclusi va m ente na s lidas co mple m entare s e a uxilia res d a ceifa. ga n h a n do,
co me n do e tra balhando p or conta d o lav rad or. Tam bém co m em no ra stolh o,
à par t e dos ratinh os, co m ida igu al ou d iferente, p repa r ada e conduzida em sep a-
rado. Igualmente tra balham os mesmos dias e q uase as m esmas horas q ue os
ceifeiros, ven cen do, p or isso, soldada diversa da d os 8an hões, co m o re f eri n o
Pessoal de uma lavoura.
Compõem o grupo, d ois a quatro campcnros r o terdêo, ( 1 ) - homem ou
rapaz q ue, n uma besta , munida de ce n gu lb a s o u puxa ndo a carrinho de va rais,
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A TRAv t S DOS CAM PO S
• • •
Nas c ei fa s Ceifeir o s e en erlh e íra do res, co meçam a m ourejar a o r omper do d ia
ou a n tes. h avendo l uar. A quele s, a rrimam -se à labuta quase em
rou pa s m enores, sobre po n do um avental d e p el es q u e termina em safões . Os me-
no s destemidos, vestem calça s de sa r e g oçe, m uito rem enda da s. N a cabeça. um
ch a peuzinho safado. e a o p es coço lenço à li gei ra, como p r es er vat iva contra os
raios d o s ol. Para s e de fe nd erem dos gol pes da fo i ce. ad op tam ca n u dos de ca n a
aos d ed os i n d icado r, m éd io e a nela r d a mão es q ue r da . T am bém se acautelam do
roço das ge lvele s, en vo lve n do o bra ço esq u erdo em man ga de peles. a que ch a -
mam braçadeira. Lembra a m anga d e a lpace , q ue usam o s amanuens es.
. . . . . . . . . . . . . . ... . . ... . . ... . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . .. . .. . . . . . . . .
A ca m a r a da estende-se em linha e procede à ceifa. com a gen t e a d u lta.
O s r ap azeb fica m a trá s, entretidos na atada. Mu itos. são crianças, q u e mal
podem com os molhos q ue preparam. No en tanto. m ostra m- se dilí s.entes e l estes,
talvez por tem er em a censura e o castigo. Ou tros. ainda mais pequeninos
,tO ' "
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A TIL\ V t. S DOS CAMPO S
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AT RAv t s D OS CA MPO S
Nas suas divaga ções, é corrente os n ossos patrícios pergun tarem o se guinte
aos da B eira:
- «É verdade vo cês entregaram as suas mulher es aos a ba d es , q u an do vê m
para o Alentej o?»
Os ratinhos. que dema siado com p r een dem a conhecida chalaça, sar-
r iem m a liciosa m en te. Em reg ra, u m dos interrogados toma a palavra e
r espo nde :
- cÊ. verdade e mais que verdade. Eles são uns santinhos, e p or i sso, nós,
q u a n d o saimos da terra. entregamos -lhes a s mu lheres, para que as benza m e a s
livrem de em a us olhados» . . . »
- c E. é a p eso que os abades tomam conta delas - acrescenta out ro beirão
ladino. - Quando vamos de cá , l evam o-las à b alança . . . se pesam o m esm O o u
menos, bem correu o negócio . .. »
- «E se pesam mais?»-pergunta imediatamente um alentejano.
-«S e pesam mais-responde o r a tin h o - a ela s, partem-se-lhes os canas-
tros, e a eles, os senhores abades, dá-se-lhes uma coça, valente, até deitarem
p elo esp inhaço a gor d u r a dos lombos . . . »
E sta informação é acolhída com gargalh adas e comentári os adequados,
pou co respeitos os para os reverendíssimos a ba d es .
O s rapazinhos, conquanto não compreendam b em o m otivo das gal ho fa s,
v ã o n a corrente e riem como os homens. Questão de COD tá gio ...
Depois do jantar dorm em a sest a - repo uso de uma hora ou hora e meia,
q u e lhes parece um s egundo . . . Acordados pelo mana gefro, espergu.i çam-ae e
volta m a ceifa r . À es sa h ora, o traba lh o é cu etosfs sim o, mas d es emp enham-no
h erõicamen te. P or m ais q u e lh es d oa, esq uecem ao! sofrimentos e en t rega m - s e à
empreitad a, pa ra a vencerem com van tagem . A mira nos g a n h os, in cute-lhes o
a l en t o q u e lhes faltari a se m esse incentivo. M as o estímulo do din h eiro, avi gora-
-lhe a co ra gem.
Regueiras de s uor f étido en c.harca m-Ihes os cor pos a fogueados e s emi-nús,
d espertando-lhes sedes abra sad oras, q u e l hes es ca ld a m o sa ng u e e lhes queimam
a língua . É ver a ansiedade com que os pobres a ceitam a b arri ca de á gua ,
que lhes oferece o tardão. C om que a vid ez tom am a vasilha e a emborcam,
esva si endo- s às go lada s, passando-a de m ão em mã o, e t é a esgotarem 1. • .
A á gua é o s eu salvatério. A sofreguidão com que a ingerem, bem o
patenteia.
Mitigad a a sed e. eí-Ioa a manobrar de novo. pr oss egui n d o resolutos, co mo
os luta dores antigos nos campos das batalha s. P oucos os igualam ; nin g uém os
ex ced e. H o m en s de ferro, com tê mpera de aço não há s eara opu lenta qu e os
det enha. N a alu cin a çã o da refrega, quando as ideias se lhes concentram n o
t raba lho, só lhes o u ve o pass o n os bembor rsis e o eetaleiar d os caules da s es pi-
ga. de rrubada. p elo. polpes da. foice •. E q u e d estre za d e go lpe. !. . . A quü o é
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ATR A Ve S D O S CA MPO S
• • •
Qua s e ao pô r d o sol tem lu gar a merend a. V ã o gaspacha r, co mo diz a
gente d o campo. N esse ac to, re petem-s e as cavaqueire a e l êem -s e as ca rtas t ra-
zidas do correio. Q u e a lvoroço e cu r iosi dade a dessas ocasiões, em que r ecebem
n otí cias da pa rent ela 1. . . Às bo as n ova s, celebram-se com sorrisos ... as mâs,
an uveiam os se mbla n tes, m ar ejam os olhos .. .
. . . . . . . . . . . . . . ...... . . . . . . ..... . ...... . . . . . . . ... .. .. . . . . . . . . . .. . . ... . . . . . . ...
Concluída a merend a, os rap azes vão dar ág ua ao s b u rros - an i m al ejos d e
raças Inf eriores, que sô i mpa m d e faz to s duran t e as asseias. D ep ois de um
longo período de fomes e t rabal h os peno sfs si mos, suportados pacientemente
nos frios lameiros das ter ra s betrãs, os m odestos j ericos vêm ao e lent ejo goza r
dois meses de vida folgada, come n do à fr an ca n os abundantes ra st ol h os das
searas, ali, ao alcance dos do nos.
E ao passo que estes, o s ratinh os, rrebe lhem como uns neg ros, a quel es, os
burros, encarando-os fil os õficamen te, z u rra m e esco u ceia m à gra nde, q ue m sabe
se por troça aos seus legítimos senhor es. É. possível que a s asin inas cr iat uras se
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ATRAvtS DOS CAMPOS
riam. lá para consigo da vida trabalhosa dos donos, que ao tempo contras ta
com a deles, toda de Iol guedos e abastança. ( 1)
- 206 -
ATRAvt S DOS CAMPO S
santo. mandará o s r. labrador es colh ê-l a das m aiore s e das mais gor d a s qu e
houver no rebanh o. Faça-n os is s o. e ve rá como a rapa ziada n ca contente ... lt
O lavrador d efere esta s egu n d a p r et en çâ o, recome ndando mais cautela na
ceifa e menos ban deira s ( 1) n o resto lho.
Para corresponder 8 0 ar raz ado do amo, o m ana geiro i ulga -s e no dever de
dirigir n ov a ex ortação à camarada, o qu e faz, mais pala armar a o efe ito, do que
pata se r aten di do .
E ntreta n to, o sol começa a es conder-s e acolá, para as banda s do poente,
dond e ch egam ligeiras virações que, co mo o oásis no de s erto. r efrigera m SU A ve -
men te aqueles corpos i ns olados.
Ao sopro das brisas, a seara marulha em on dul a çõ es, e os ceifeiros, ben e-
ficia d os por aragens tão amenas, celeb ra m o confor to entoand o t r o vas beirã s. ..
Que bem lhes sabe, a quel e deli cioso e {resqufssimo vento travessia, tal ao p ôr do
sol das tardes de verã o, em pl en a campina alentejana J. ..
...... . . . . .. . .. . . . . . .. . .. . ....... . .. . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . .. . ... . . . . . . . . . ....
É. n oite cerrada qua n do os ratinh os larga m as foi ces p ara ire m d escansar.
É a desapega, co mo ele. deaigae m a so lte do trab alho.
À o larga re m a foice, rezam a s oraçõ es da tarde (um P a dre N o sso e u m a
A vé M ar ia ), e em contín uo este nde m a copa n o rastolho, preparan do, por es te
me io , as camas em qu e tencio n am do r mir. A lguns m et em alhos n os bolsos, pa ra
q ue o cheiro os preserve d os insectos.
D orm em n o r a stolho, n a hipótese d e o tempo ir quente e se co, como é p ró -
prio da estação cal m os a . Ás vez es, porém, não acontece a ss im : t rovoadas m ed o-
nhas, a companhada s de ch u vas torrencia i s, rug em ameaçadoras, pressagia n do
d esa stres iminentes, qu e apavoram o pessoal.
N esse s m omentos críticos, os humildes ceifeiros fo gem a es cap e para o
monte mais próximo, se porventura têm a sorte de estarem p erto de um m onte
ou m esmo de uma ch o ça . Não se lhes p ro porcio n a n do esse precioso refú gi o,
envolvem-se nas mantas, e de sta maneira, transid os de susto, p r ocu ram livrar-se
das chuva s, a r rim a n do -se aos penedos e às árvores - abri gos insuficien te s,
de on de s em pr e saem m ais ou menos molhados.
E. nes sas h oras tremendas, em que fu zil a o relâmp a go e ribomba o tro vão,
el es procuram amparo na misericórdia divina, qu e imploram com f ervor, já
cantand o o Bendito e louvado, j á re zan do a Ma Anílica e o utr as orações.
V olvida a bone n ça, a cora gem anima d e novo aq uela p obre g en te, que -
diga-se de passagem - sofre meno s com a s fadigas d a ceifa, do q u e com as
inclemências da estação. Estas sim, que os morti.6.cam a valer: ontem, era o
cal or asfixiante dum s ol tr opical; h oje, os aguaceiros violentíssimos de uma tro-
voada de respeito. E na m adrugada de a m an hã, ao darem princípio ao seu
(1) Cha mam"1 h,uld,.. h ..pi , .. q UI " capIm ao , olpI da ' olca I q\la . POlrIIDtO. fica m I",pulou. lO <: on l d o nll ol bo .
(2) No Allalljo. t L am..· ,. In u ..lo lO ...to do ponul I aorou". <:011I.0 ae dul' DI. POli' '''' 0. o do DUCIOU . I pdO.
o d o 1111. O tn.e..lo, pr.doml. .. a .. 1Ifd.. dI ..tio.
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ATRAvtS DOS CAMPOS
* * *
A fin al. concluíram -se as ceifas - as eesêíes, como vulgarme nte se diz.
O s mauag eiros dos diferentes cortes . recebera m dos lavradores as importâncias
das empreitadas respectivas, na presença do manag eiro chefe da cam ar a da.
U m e outros ig ua lmente embolsam as costumadas gorgetas que, em regra.
r e pu ta m exígua recompe nsa aos seus importantes serviços. Isto é o q u e eles
dizem. em frases lamuriantes e senti mentais. Os amos pensam exactamente o
contrá rio: - persuadem -se que for a m d ema si a d o ge nerosos, po r en te n d erem
que podia m t er sido mais b em servidos.
D e resto, todos se conformam, e melhor ainda os gratificados, se o lavrador
lhes adoça a boca com u m prese ntíto de qu eijos, o u com a ve nda barata de um
bur ra nco reles.
. .. . . . . . . . . . ... . .. . . . . . . ... . . .. . . ....... . . . . . . .. . . . .. . . . . .... . . . .... . . . . . ....
N o dia aprasado pelo manageiro em chefe, a ca m ar ada re une -se de novo
nas cercanias d a povoação mais a gei to e é aí q ue s e fa z em as co ntas gera is
Eis o processo:
Estende-se uma manto no chão, e, imediatament e, os mana ge'ir os dos co rtes
vão aí depondo as q uant ias gan h a s pelas suas respecti vas m altas, reunindo
assim a soma vencida por t odo o pessoal.
Seg uidamente, os interessados que sabem escrever, co nsriru em- se em
comissão 6scal para verificar a importância amo ntoada, e rever a exactidão das
operações aritméticas que hajam de fazer-se, por efeito de rateios e desco ntos
- operações incumb idas a um r a pa z, fo rte em núme ros, mas que se n ã o aceita m
como boas e certas. sem primeiro se rem conferi das pelos o utros da comissão.
Estes mesmo, s6 se convencem d a exactidão dos seus algarismos, submetendo-os
à prova dos n o v e m eia d ú z ia de vezes, sem nunca lhes sair errada . E. ain da
a ssim , p a ra que n ã o fiq uem somb ras de dúvida. os m a is d es co n fi ados e i ncréd u-
lo s. propõem a prova real, como de ma.io r co nfi a nça e menos falíve l. Mas, em
re gra, esse a l vi tre não é aceite. S eg u n do o parecer d a m ai oria, a prova dos n ove
não fa l h a . g raças a o «b o m sentido » dos que a e nze mina m, e às «co ntas de
cabeça », simultâ neament e fei t a s pelos me lhores ca lculistas, e q ue joga m certo
co m as dos n úmeros à p ena.
Com semelhante s mínu d ên cia s e ca u telas, a i m portâ ncia t o tal reunida em
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A TRA Vt.S DO S CA MPOS
m ontão, é re par tida em tantas par cel a s q ua ntos os i n d ivid uos da camarada.
D epois, procede-se à j oeiraçã o, qu e consiste e m tirar d e cada montículo, desti-
nados a cada rapaz. a m etad e. dois t er ços, três quartos ou m a is, da import ância
do quinhão. S e além d os r apa z es, h á homens de notór ia inferiorida d e como
t rabalh adores, os quinhõ es destes tam bém são dizi m ados.
Com es tas d ed u çõ es. fo r m a~ s e um a verba especial, p ara s e repar tir em
separado e co m isualdade. por t odos os adultos q u e «sa íra m por inteiro».
Os joeiramentos fazem-se, ou d evem fa zer-s e. se gundo a inaptidão d os ioei-
redes, de poi s de ouvid os os p ais o u o utros parentes que os tutel am .
A s contendas azed as acompa nham, em cer tos casos, as classificações sobre
o mérito dos a dcl escentes, pois a o passo que os se us superiores os equiparam
a os homens bons. os m a ne g ei rcs e os que não têm cachopos n a camarada , são
de parecer inteiramento d i ver s o : em sua opinião, os rap azi nhos ficam bem pagos
com a q uinta parte d o q ue toca a cada homem. E p ara alguns, qualq uer
ninh aria de m eia m oeda ou menos 1. . •
E m tão desencontradas apreciaçõ es, o exa gero d e tod os é evidente, embora
nas dos primeiros haja mais razão do q ue n as dos últimos.
A nn a l. depois de r episados pel a cen té si m a ve z os argumentos capciosos de
a m bas a s narres, a cont en da re sol ve-se, ficando ve ncido o que p ugn a pe l o
joeirado que nestas, questiúnculas é o m ais fra co, e que po rtanto ter á de se agu en-
ta r com a imposição dos fort es. E,,' assi m em todas as coisas. O direito da fcrea,
preva lece sob r e a f or ça do direito.
. .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . ... .
O s ra tin hos que por doença ou o utra ca usa justificada pe r deram dia s,
m eios dia s ou que ríeis, é-lhes descontado esse tempo, das verb as q u e lhess coube-
ra m em rateio.
E das de d u ções realizadas po r esse motivo reune-se uma n ova soma, qu e é
re parti da com igualdade p or todos os ceifei r os a d ultos, incluindo os p ró p r ios
qu e sofreram o desconto .
P a ra evitar la ps os e dúvidas, as perdas r eferida s fo ram o po r tu n a m en t e
a not a da s pelo mena ge iro do cor te num caderno especial, qu e a pa re ce n o ac t o
da s contas com a d esigna çã o pitor esca de r ol dss p er d izes .
R esol vi da s as ioeireções e d escon t os de dias perdidos, cada ratinho to ma
posse do dividendo que l h e co mpete, pa gan do imediatamente os doze vintens a o
menageir o principal. S e a o mesmo d evem a lgum biquin h o, igualmente lh o
satisfazem então, ou seja por vontade própria, ou por a d vertê n cia do credor.
que. como esceeamenradc em ce lo tes, é avesso a moratórias.
Ao term inarem a s contas, celeb r a -se o fausto acont ecimento com liba ções
de uma pinga ra zo á vel, previamente comprada na taberna r ecom en d a da pelo
mena geiro. N ão t a r da mui t o qu e se conheçam os efeitos d o vinho. M eia hora
d ep ois, tudo aquilo a n da numa alegria doida , m a nif estada por mil m a neiras,
qual delas mais sintom ática: canta m, gritam, tocam, baila m, chora ra, etc.
Uma s.lgaaarra enorme, que ens u r dece q uem a ou ve . E t u do i sso é l ógico.
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AT R A V t S DO S C AM P O S
F ORç o so é conf es sá -lo. Na a lfaiad a agr ícol a do Alto Alen t ejo, sobre-
tud o nos ca mpos de pequeno t ra n t eio, p ersistem todo s os inst ru mentos
da lavo u ra a n t iga, q ue se con s erva m e u sam por efeito d e t radições
arreigadas, u ns, pelas condições ge ológicas de algumas zonas, outros,
e muitos por circunstâncias de ordem e conó m i ca, ne m se m pre ju stifica das, mas
fàcilmente co mp r ee nsíveis.
C om o q uer que seja. e não disc utindo os prós e con tra s de sem elhante
a pego, é indubitável. q ue, sem se b anirem em absoluto os velhos instrumentos
agrá rios, u m a ev ol u ção l enta, mas criteriosa, vai introduzindo e generalizan do
muitas alfa ias modernas, das melhores qu e a s indústrias mecânicas fornecem à
a gricultura .
O fe rro Ie nceoladc do a rado r oma no, que lavra o so lo, na ocasião d a s
'S emen teir as, a lt erna com as relhas das ch arruas que preparam o alqueive; o
ronceiro O gem ebu n do carro ma nchego, de origem r em otíssí m a, arrasta n do-se
pelas estradas ao impulso de pachorrentos bois, desvia-se da sua d ir ect r iz para
dar passagem à potente e resfolegante viadora a vapor; os toscos arn ei r os de
pele de porco, com que os nossos a vós [oeiravam os cer ea is, cederam o l ug a r a
ótimos crivos de metal ; os car ros de muares, mais completos e m el h or aca bados
que os de há trinta anos, sustentando bojudas e gig antesca s r edes de palha a
gran el, cruzam-se com outros, com o triplo d o mesmo género, em fardos. que a
prensa mecânica comprimiu em alguns segundos, poupando espaço e tem po; a
gadanha simples. braçal. começa a ser batida p ela gadanb.eíxa puxada por q u a-
drúpedes; as ceifeiras tentam suplantar e avantajar-se às foices manuais, e
embora o não consigam por enquanto, é possível que n um fu turo quiçá breve,
novos eperfeícoe mentos lhes conquistem o t ri unfo ; o arcaico e ferru gento cal-
de iro, preso a corda de [ unça, para a tiragem da ág ua n os poços, vai sendo
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A T R A V t. 5 0:0 5 C A MP O 5
* *
Aguilhadas V a ra s de castan h o com qu e s e g uiam as j u nta s de bo is, ten do na
J ponta um pequen i no agu il hão, com que s e estimulam os a n im ais,
e"n.o ca bo um a pá d e fe rro- a arrilhada. - para lim par O a rad o das r a íze s e da
ter r a q ue se l he a cu mulam entre a s aiveCBS e o mexilh o.
A s aguilha das ven d em-se aos feix es de 205 va ras n a s es tâncias de P ortalegr.e
e nas f eir as do outono.
Alcofas Emprega m-se de todo s os tama nhos pa r a div er sos fins, e mõr m en te
para n ela s s e d ar a r ação d e palha e farinha aos bois nas la v-ouras de
singelo, à h ora da m er enda, a o m ei o di a. C ompram- se nas fe iras, fa ze n d o parte
dos utens ílios de palma, q ue se conh ecem pel a desig n ação com u m d e Algarve,
em v irtude da sua proced ência al garvi a. Nas fe ir as, quem precisa comprar
al cofas, golpelhas, es t eieõ es , etc ... díz: - cVou comprar s]gsTve». E depois
comenta: - «O s]gsrve est ã por te.l ou tal preço ... », etc .
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A T R A v t: 5 D O5 C AMP O 5
Alviâo Ferramenta de ferro e cabo de pau, com que se a rran ca a cepa do ma to.
Is ) O• • p.lro," • Og Uo., d. con........ d. couro Cn>, undo a o ••do bo..lll o. CO III O h, od, u , t ind eir,/lI, ete. , d o ' lCI.eI.do,
( 2) O u .do prilll1ti ..o u, WD. . . . . .r. ee .... o.m ..... ciao a o n U'm o. Sc " ' . o • • a ciao d. ,.11.., o cebo d. Il'a. :repu....-
te... o t • • 'o.
Q..-do o iao. ... do.01l o c...al o • o boi • • dop toa 1 ,.11.. a.. ce bo oa rcl>ir. pu . 4u, u.. ' o mal. "di o diri. I- I•
• o tlliaoo • for( . doa .a1mal. pu. i.u o..üa.ato , " ' 4oJ••• M .. b tm., qaaaAo. t ........ d.. m.dm d. p..dz., .. com.-
( o• • l u " O M d. ferro, • tuh"" o do I do r .pnlti(ooo e1a.ol .
T .6610 8 n" , O 110"0 .ort . ... b . o~ at u co.t...u , "'.o r. . . rruir ~" a Ol. , • o uuu d c10Ulot. a utu u,
Cal , . .d oao reprodaaIr. coattltut.. um . i. te u ....1. co1tc (lo d. Nou.~ A. rfcol.. ",u. o u, A:nt6aJo Pú paLli u a. ao ;o . a . 1
O E:l .u.. • "ro"tllo i . !..,oli(io À&r(col. do coo eeu.o d. E I ultahro d. lS9t.
(I) O........10•• j'Ullt o t ol 116 m'llito . ....' d o••l.III. t mpu". t m aI " i r'" i . an do. Com ; a....to. 116 1..... t.IIl
IlIa......uho• • 0• •"u .obtu . A ..&iori. lt.lllL4m I com mo u ...
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ATRAvtS DO S CAMPOS
m eiee par t e, a que g eral mente també m se chama arado, (1 ) embora o não se ja no
rigoroso se ntido da palavra . A garg anta e a ponta, liga das pelo processo a cim a
dito. compõem a segunda pa rte, qu e tem o Dome de timão ou t emão. C om o já
di sse, o rsbeneio e o de nte emp alm am -se com dois taTugos e a correspondente
viela. Adiante d o em palm e, próxim o do couce ou r ec tân gulo qu e lh e dá a confi-
guração, o d en te apresenta uma pequ en a co nca vida de , que receb e a espigs d a
garga nta, tendo posterio rm ent e mais doi s orifícios em direcção oposta: o pri-
meiro, perp endicular, por onde Se introduz o sustentáculo do timão - uma barra
d e ferro chamada teirá, alçada a meio metro ; o seg u ndo, transversal. em que se
aloia O mexil1Jo- espécie de ganch o de fe rro que. por sua vez, ampara as aive-
cas, pregadas em baixo. p róximos do lerro de lavrar.
O ierro, de feitio lanceolado, encaixa no dente à fo rça de pancadas sobre o
bico e nos poleAares ou azelh as com que emoldura ao arado.
O rebeneio tem em cima. na parte inferior, a cavidade d en o m in a d a mão-
zeira, para O gan hã o se a p oia r quando lavra.
Já d isse que o timão constitui a s eg unda parte essencial do arado completo,
compondo -se, r epi t o, da AarBanta e da ponta. A BarBanta, de configuração
a rqueada, com uma a b ertu r a perpendicular no dorso para en ca i x e e eci eí tecãc
da teirá, recebe na ex t r e mi da d e dianteira a ponta ou peça 6.n a l. Esta, sobre-
posta à BarBanta, co m o a cabo de di zer , limi ta-se a um pau direito, com qu a tro
buracos no extremo, p a ra , em qu a l qu er deles, entrar a chavel ha que p re n d e o
arado a o tamoeiro e à ce nge ,
O t imão, enteicha (enga ta ) n as r esta n t es pe ça s, enca ixando a espiBa na
concavidade do ara do, ju n to a o couce, ao m esm o tempo qu e a teiró se lhe intru-
duz pel a fenda qu e o a tra v es sa. A q ual teir á é apertada depois com um a cunha
de chanfr o, voltada pare a esquerda, qu e se chama pescás. E sta cunha de sl oca-se
fàcilm ente, el evando-se ou b aixando - se conforme s e quer temperar o arade,
para fi ca r aberto o u serrado. O acto de montar o arado chama- se en t eich ar, be m
como s e denomina enteichadura o seu compl et o co n j u nto. d esde qu e o a compa-
nhem os pertences i n d ispen sáveis, a aAuilhads, can Aa, apeiro, brochas e
corneires.
O arado chama-se can eleiro, q u a n d o o rsben eio fica rel ativame nt e alto e o
dente com p ouca i nclina ção. Apresentando a spe ct o cont rár io, de n omin a - s e
escauçedo,
O tim ão é abafadiço. se te m pouco desenvolvim ento a s u a cur vatura, consi-
d erando-se arcado na hip ótes e inversa.
( I) o tumo de - na do _ d i a da . i'aiJiuc l o .-el,u. a pli ca -.. 1amh ' al ao cODjan t o do ,," .n. j o e de ate• • l'lDm U l'l·
ti do m. l. I'utdto. eOlllo d.ao mia. cl o d. 6.lli . a .I... .I pec... u l.rld.... Ânlm . por oca.llo .lu COrle. a o. ".,0'. • ao pre-
Pil'O .I.. . . d.ir.. - o. p.daco. d. I.alt. co m c". t i f am o. d.o t • • pa u .Dui d ... d.. r .... tI.pu .. Ih .. eh ...... Ir.tio, •
co.o hl• .. coatidaam ,eulmt.l:l l"
N. apltelaclo da h. po u l ad . da . . . Juoeu. 00 cUteemi a.d.. ..I.. aõ... f &e((" el'l'. oUu.--.. : _ . 01"""'. 01'l alUlo
d. lt a t&alo' lr.ti N ..• • - . 0 • • t. l o. d. S icra no a.d 1&1 pUl• •• .• - . H oj. a o. al'.Jo, • • a -.. n u 00 'C• •:I. c..o.. . .
D. ol'ld. II coacIui ((oe o tetlD O e. ((a ulio "mL' . t . ",pl'",a pu. d..i, . u ... j oa l" e homo. (('" n ahalham •• I. ..oo,a.
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A T RAv t S D O S C A M POS
Asadas P a n ela s m uíto grand es, de lata, de ferro ou de cobre, que de t odos estes
m a t eri a is a s há em a ba s ta n ça nas lavouras g ra n d es e pequenas. As me-
lho res e mais caras - as de cobre - além d e servirem para o preparo e co n du çã o
de comida, co nstituem t ambém objecto de ornamentação das cozinha s e cases d e
entra da dos montes, o que já n ot ei n ou tr o l u ga r. En q u ant o q u e as de u so ordi-
nário se masca rram e es fr egam todos os d ias, as de reserva ostentam-se r esp la n-
decen tes nas p r a teleira s e guir l8. nd8.s, m ist urada s com o restante cobre e a rame.
N os começos do verão os ca ldetr eí.eos aparecem nos mont es para estanharem
o i n t er io r das a sad a s que precisam d esse p rep aro, e para venderem outras novas,
o que por vez es co nseg uem, g ra ças à predilecção da lavrado ra por semelhante s
utensílios. A s a sadas d e lat a a p lica m- se principalm en t e p a r a aqu ecer á g u a e
coag u lar o leite.
- 215-
A T R A v t S DOS CAMPOS
Ba lde Forq uilha g ra n d e, d e m ade ira , co m que se baldeia a palha das eiras
para as almenare s e ca rros a rm ados com redes.
Banca Mesa co mprid a e est re ita , onde com e a gan h a ria . - Barreleira par a o
fab r ico do q ue ijo .
Barricas Da s pequenas, d e capacidade para qui nze a vi nte lit r os, usam-se
como va silha s de água par a os ~anhõesl no cam po. D a s gre.ndes, d e
d uz entos litros ou m ais. vê-se um a. pe lo m enos, n o pá tio de ca da mon te, colo..
cad a em carro a p r o pr ia d o, o nd e s e transporta a água para o ga st o di á ri o.
Barris V a silh am e de lata para a zei te, que modernamen te se têm introduzid o
em s u b st ituiçã o d os od re s. - P equ ena s vasilhas d e barro para águ a.
Belga V. Jangada.
Bocins Argolas de ferro no i n ter io r das m ass as dos carros, em volta dos b ura-
c ós por onde se alojam a s pontas do eixo .
Boquilhas A cessór io d e f erro, sob r eposto nas massas das roda s par a a s r es-
gu a r d ar, b em como as p ontas do eix o e o u t r os pertences.
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ARTE POPULAR ALENTEJANA
J. O Pendão de le~teiro: :I. Corma ; 3 - Colh er: 4 - Botio: 5 - P ri.io 'Para fuer meia ao o mbr o : 6 - Aniteiro.
i - C.nudo$ da ceifa ; 8 . G'. I'.to; 9 - F.ca du matanças; 70 - Cha...õu ; 11 - Po/" .rinho com medida parti
• pó/vora ; 13 - C OPO tie chilre
xr nxvzs D O S CAMPOS
Bor landões A r gol ões colocados nos eixos dos carro, e n tre os lim ões e a s
massas.
Burro s Tripe ças rús tica s d e azi nha e sobro, q ue os ga n hõ es preparam pata
seus a ssen t o s.
Cac h eira C a ja do. de vo lt a m uito pron u nciada, com a. cor resp ondente cach aporra.
Cancelas D e feitio portátil, co m pos t a s com pegôes de azinha e varas terís ias (l>,
destina m -se à co n stru çã o d os a priscos d a s ovelhas e dos ba r dos de
todos os Ie nígero s.
C ada cancela r egula por 3 l1l.,7,fiX1 1ll ,OO, co n sta n do de dois pegfies liga dos por
quatro vare jas e d uas tra v essa s em dia go n a l. Um b ard o d e sofrível capacidade
ca rece de 24 cancel a s. As d os redis de ovel has r ecém-p a rida s n o out o no e
inver no, cost umam ser tecid as com giesta, para melhor abriga rem o ga do.
C a ngas A dop t am - s e d oi s tipos: um, exclus ivo p ara bestas e cavalgadu ras;
o u t ro, para bovinos. A carrg a d e m u a res, d e m a deir a d e a zi n h a, com-
p õe - se de t rês peças, q ue f o rmam t rês cu rva t u ras, das q uais se cham a m sua d ou -
( t) Ch lftalll.-u lu lt l., ao. p. u. d. c"I&Q bo urnd o. d. l ho a ba ixo, Ilm d" .. n ul.., )lua .. ')lUnrtftl 1'0 t a bdco
d. caQulu.
- 217
ATRA v t S DOS CAMP O S
Ca nga l has Engrad amento de m adeira e correntes de f erro, p ara nas bes ta s
com albarda se tran sportar em cântaro s, pequ enas b arricas ou
a sa d a s . Usam-se principalmente na co n d ução de águ a , l ei te e co mida , em vasi-
l has que se ad aptem a o engradad o.
CARROS
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ATRAV t. S DO S CAMPOS
(II Ad !l' JloaCOI ..ao'. 01 . lxol do . c..rrOI d i "ulrIl . fl m lo dol d.....d..ir.. d. ....inha . l ohro...ol qul lro ou ir. iJto ,
M.. de h' U .OI JlIU . cl. "Li-Ie introd ulado o I bum .. di chtO' do fur o, JlO,to qu .. cm mult.. I,," our.. aiad.. lub.ill l o
UIO ..a d , o.
(I) O. i tlllU:OI Clll lu...... lU d . m .. adre . I XCIJl10 01 (( tII .. tro d•• l"' lumid..d.. q tll • • 'm , . re 1. lio di f.uo ...nu" ch ..dol
..o te ad .. l• • Im ltutldOI a .. t .. llu",
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alt.. d i clll6' au fio plr ld ..I ,
- 219 -
ATRAv t S DO S CAMPO S
Carreta C arro de for mas menos a p u radas que o precede nte. com as r odas de
d ez a doz e r ai os ca da u m a, for ma ndo o diâmet ro de 1 m.30. O leito
mede 1 m. 88 X 1 m ,8, exclui n d o os p ro l ongamentos da perítica e d o rabícbo.
Guarn ecem-n o seis a oito f uei r os t oscos, de cada l a do, muito comp ridos para
as carradas altas e curtos para as b ai xas. E., em qu alquer d os casos. desprovid os
d e t endais. A peritice r eg ula por u n s 2 fl"50. a lé m da teleire, prolongamento
indispensáv el p a r a um a junta d e b oi s. N o restante. a carreta a ss emelha-se ao
carro comum. p ode n do ser puxada indistintamente por bestas ou b ovinos, se
bem qu e se presta mais para b ois. Em regra, só se emprega nos acarretas das
searas. nos d os f en o s e n os da s lenha s.
Carro Manchego E' o mais antigo de todo s os veí culos usad os na lavoura.
D e construçã o p esa dí ssim a e bastante sólida, suporta cargas
imensas. resistindo e aguentando-se nos solavancos dos caminhos escabrosos.
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A T R A V J!. S DOS C AMPOS
tao vulgares n os n ossos campos, e isto devido à estr utu ra an tiqua d a do seu
roda do. E n qu a n t o que nos ou t r os v eículos, a s ro das gira m sob re o e IXO . no
velho carr o manch ete sucede exacta me nte o cont rário : - o eixo é que gira
sob re dois vãos especiais, pendentes dos lim ões, cada q ual formado p or d u a s
p eças de madeira - a 88u/ha e o r eco cão - e é dess e g ir o q ue resulta o m o vi-
m en to das r oda s e po rtanto o do ca rro. ( 1) M o vim en t o custoso e d em orado. qu e
produz um a chiadeira doI en t e e ag uda , quando caminha va garos o. verga n do ao
peso d o ca r regtrio. A r ot ação do eix o r ece ndo n a clxumeceire produz esses gem id os
sin g u l a r es -a can tareJa ca racterís t ica e in con fun d ível. qu e s e o u ve d e m uito l o nge,
sobretudo à n oite e de madrugada. em so n s p enetrantes, d e s ugestiva m elancolia.
O l eit o do carro manchego d e l "",80X 1 rD ,18 é ig u al mente to sc o, te n d o a vara
o u perit ica 2 11I,50, con ta do s, é claro, d esde a teleire, a té à pon ta . À s espigas que
prendem a o eixo em vez de sere m d e f erro, co m o os mata-bois d os o utros ca r ros,
re su m em - se n umas peças d e pau, a q ue já aludi - a a8ulhIJ e o reco cã o - peças
q ue passando perpendicular m ente a tra v és d os lim ões e da ch umsceire, p rolon-
g a m -se e r ecurvam para baixo, de mod o a deixa rem , entre a m b a s, vão su 6ci en te
para o giro do eix o, co m o já di sse. O s Icei ros, p rí vedcs d e te ndais são com-
p rid o s ou curtos, conform e a n a tureza das ca r ra das.
O car r o em q ues tã o, além d a s parti cularida de s sin g u lares que fi cam refe ri-
da s. d est a ca-se t amh ém pela consti tu ição d as s uas dua s rodas, basta nte diferen-
t es d a s dos outros carros. N a s d os m an ch egos nã o h á m assas, n em raios, n em
pine s, ma s sõmente cãibas e miulos. E os aros de f erro, em vez de In te iriços, d e
uma só bar ra , co n sta m d e dive rsa s lban t ras p resadas à s caibas, co m p r egos de
g rande s dimen sões .
C a d a r oda, de 1 11I ,12 de di âm etr o, compõe-se de duas cgib es , q ue lhe fo rm am
a circunfer ência, e do miulo ou prancha q u e se lhe a travessa a o cen tro , e que
no m ei o. num buraco q u e dra n gula r, r ecebe e a ta r r a ch a a ponta do eixo.
E m res um o, o mesmo carro, n ã o obstante o s eu f eitio pesado, há -de a in da
persis tir por muitos anos, posto q ue j á n ã o ten h a o u so que t ev e o u trora .
S e m e mbs t go , n o a tras o e d esleixo de viação ( 2) que infelizm en te se observa
por essas h erdades fora, conv ém u sá-l o em determinad as circunstâ ncias, n a s
zonas d e maus caminhos.
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ATRAv t S D OS C A M P OS
o
(tl mh.J.lhlo .I.. ohr .. pdhlJcu l.cllll ol1 h' lUlO• • u Inu doru do dh lrilo d. Po r hJdu dll u u ltu rd4 l1ia...' r!_
c oi... u mo ceHdr. . . d. hIlIL. dor ", p.la fona •• con éli,lI.. ClII. ..dJ.ou u fu lu l, qll. ado Iraur d.. d.bo IL. dor...
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ATRAV!. S D OS CAMPO S
ta ) A. pa n U. .. Clu. u .halh . m .0 ch lll'l'llo. do p an u .. efcl lo e.. . . la...d.. com ..I. tuo&. &. P% U IO" D tn o. mumo.
dUlu.m.,. .. 'v1.. a .. &. .. c.abruua.. ou c&.6cud ... co m l n a j.. . bodõe. a. tuido • • m cor c.nlIU'ÚQ o uU" UlIlIt O
..I..... q ue eacobre m a m. lor pU II d. cabaça d o. '1I Imail.
"1'
( 2) A cOllfcc clio do . chllltl õ.. co.tum a e:uc" lad. por u rpilll abo. de urn&. or d ill l.rio l. ou por c"rio.o• • fam .do&.•
• rt.lto.o, com "ueJ. pua pllO /orle ... S. o cano ' ar mad o .. pre parado 100 moa I' , .. fiU... moe u do !a YCado r .upcdlltc.,dem
., a obn e co.dju..a m o ar ri" ••
(a) Fr.... plc u"n pOICl O' ' 1 . tnd us • • u.fll d a d. m oi ... to m• ., do-.. por ..moi .. de uillh o _ o. lim a". • o .Ixo etu•
• .m h l. ei le'llD. u"lu~I ... Ião a m n ,ra d. uf" id. m . d.ln.
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ATRAvtS D OS CA M P O S
em ass en tos, decerto não vai melhor. Sofre igualmente as sacudidas dos topes e
estonteantes cabeçadas. No melhor dos casos irá sempre fazendo mesuras, ao
impulso dos solavancos.
Quando o chunião começouaap a recer DO Alentejo, somente o usavam 05
lavradores de fortuna . D epois generalizou-se imenso até 1878 ou 1879, época em
que principiou a decair. Na actualidade mais se lhe acentua a decadência, posto
que Das feiras e romarias a ind a apareçam m uitos carros de semelhante tipo,
mas decerto em menor nú mero do que se via há vinte anos.
Pela redução progressiva q u e se lhes nota , tudo leva a crer que está pró-
ximo o se u fim . O s carros de molas denomi nad os cher-ê -be ncs, se ndo. corno
são, m uito mais cómodos que os churr í ões, emp u rra m estes pa r a f ora da estra-
das moder n as, a niq uilando-os em absoluto, ou red uzindo-os a um a circula çã o
humilha nte. que não irá além dos caminhos escabrosos, abertos ao acaso.
* * *
Coadores Panos de estopa, por onde se coa o leite quando chega do bardo e
se vasa dos cântaros para as asadas. - P ed a ço de casteleta ou de
burel, para coar a solução do cardo macerado que se mistura no leite, anm de o
coag ular.
Cobra Corda de cabelo, provida de colares do mesmo género, com que são
encobradas as éguas para , nas eiras, debulharem os cereais reunidos
em calcadouros.
Carn eira s Correias tiradas de couro cru, com que se prendem os bois à ca ng e,
Cou ros O s das reses bovinas que morrem , reservam-se para se retalharem em
correame destinado a ape iragem das m uares e dos bois. S e a existên-
cia é superior ao gastos do consumo, os couros de sobejo vendem-se 80S peleiros
amb ula n tes, que os p rocu ram de vez em quando.
S e u m la vrad or ca rece de couros para s peirs8ens, em virt ud e d e lhe não
m orrer ga do, demora qu a n to po d e a compra desse a rtigo. Uma s up er sti çã o vul-
gar diz-lhe que em com pr a n d o cour os, te rá morrinha nas r eses.
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ATRAvtS D OS C AMPOS
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ATRAV:tS DOS CAMPOS
ob ras públicas. sr. F r ederic o A r ouca, o S I . R am iro, num disc urso qu e pron un-
cio u no banquete dado em honra daqu el e estadista, lem br o u , entre o u tros alvi-
tres de protecção aos lavradores. a conveniência do Estado lhes alugar máq uina s
agríco las. de que eles se p udessem ut ili zar com pro vei to, sem grande sa cri fício
pe cuniário.
Como representante do governo, promete u o sr. Àrouca dispensar essa
con cessã o, que já de há muito existia na sua mente, a par de out ras
medidas que tencionava pôr em prática para atenuar a crise agr ícola que naque le
tempo flagelava o país e especialmente o Alenteio.
Com efeito, ao aproximarem-se as colheitas chegaram as prometidas máqui -
nas. N 8 estação de Santa Eulália desemba rcaram uma locomóvel e u m a de bu-
lhadora .Clayton» e uma ceifeira eOsbcrn ee . Na de P or tal egr e ou na do C rat o.
:6cou uma compressora .
A debulhadora serviu por bastante tempo nas eiras dos SISo Francisco da
Silva Lobão Rasquilha e J os é Joaqu im da Silva. O primeiro aplicou-a à debu-
lha d o centeio na herdade de A lmeida. freguesia de Santa E ulália. e à do trigo
na do Revelhos, concelho de A rronches, e Reguengo , freguesia de Barbacena.
O segundo emprego u -a em centeio, n a herdade do B a l clio do C o n d e. junto a
Santa Eulália, e também em trigo na eira d a s Longas, freguesia da Ventosa.
Nesse primeiro ano o a l ugu er da c C layton» fo i de 10 o o sobre o ve lcr dos
cereais debulhados, e mais os seg uintes o n us p a ra o l a v r a do r :
Prévia reparação dos ca minhos p or onde o uvessem de transitar as máqui -
nas, s ua con d u çã o para o local d a ei r a ; re conduçã o p a re. o depósito ou p onto
q ue particularmente se convenciona sse, e finalmente, f or ne cimen t o d e água e
combustível, bem co mo vasilhas pa ra águ a .
Todas as d es p esa s feitas com o pessoal em prega do n a d ebulha fi ca vam a
cargo exclusivo do governo, sem a menor re m u ne r ação p o r pa.rte do agricul to r .
R eco n h eceu-s e a carestia de se melhante aluguer. a inda onerado po r co n di-
ções gravosas, e por i sso. e em res ultado de propostas a p resenta da s às estações
competentes pelos agricultores srs. L obã o Rasquilha e M igu el de S á N ogu eira.
determinou -se superiormente q ue os d ez por cento fossem r edu zi do s a sete pa ra
o trigo. seis p a r a o cen teio e ce va da. e cinco p a ra a a v eia . s ubsisti nd o n es t es
novos co ntratos todas as dema is condições at rás d escrita s.
Este red ução foi re cebido com u n ânim e a pla u so e log o s e lhe r e con h eceu a u ti-
lidade. O número de propostas para a s debulhas d as colheitas de 1893 passo u a ser
mui t o superior às dos anos anterio res em q ue se pagava a p rimitiva p er cen t e gem -
Mas. ou porque a qua nttdade d os cer eais a d ebulhar foss e gr ande, o u por-
q ue as máq uinas gastavam muitos dias n o t ra nsporte d e un s pa ra o u t ro s sítios,
é eer tc que a d eb ulha d or a n ã o pôde satisfazer em t em p o oportu no a to das as
propostas apresentadas e aceites. E co m o a época das co lhei tas ia decorrida. sem
que a s m á quina s saissem das eir as em que t rabalhava m n os co n celhos do Crato
e P ortal egre. os proponentes de El vas e os de Arro nches. d esistiram. das suas
proposta s, à excepção d os SIS. Lob ão Ros quilha e Jos é da Silva, esperaram.
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A TRA v tS DOS C A M P O S
mas que só foram servidos quase no fim do verão, demora que muito os contra-
r iou, como é fácil de presumir.
D e resto, a debulhadora do go ver n o ainda depois debulhou parte da sea r a
do D r. Gorião, na V árzea Redonda. concelho do Alandroal, distrito d e E vcra.
Contudo era m anif esta a insuficiência de uma ú n i ca d ebulhadora na sexta
região agron ómica (distrito d e P ortalegr e). r egião e eeé s exte n sa , on de h á zonas
cerealíferas de import ância sup erior.
Impunha-se por conseg u in te a ne cessida de de os poder es p úbli cos adq uiri-
tem outra má quina análoga , esta belece n do -se dois d ep ósit os oficiais. um 8 0
norte e outro a o sul d o distrito . O f un cionamen to de u ma só de bulhado ra t or-
nava-se desvantajos a pa r a os a gricultor es e p a ra O pró p r io E st a do . A s máquinas
quase que ga stavam tanto tem po em caminhada s com o nas de b ulh a s pr õ pei a -
mente ditas.
O inconveniente era poi s manifesto e u r gi a re mediá -lo. M a s como a so l u-
ção demorasse, r es ol vera m ir solicitá-la verba lmen te os srs. August o d e A ndrad e,
grande propriet ário do concel ho de E l va s e L ob ã o R a squilh a, la vra d or no
mesmo, os quais se apresentar am d e l a cto e pa r a esse fim ao sr . Elvino de Brito,
que logo prome teu satisfazer- lh es o em pen ho, com a máxi ma boa vo ntade.
E.fectivamente, p ouco t em po depois, a Direcção Gera l de A gri cultura,
remetia para Elva s u m a segunda d eb ulha do r a ...·C lay ton xo, afi m d e ainda servir
nas colheitas de 1894.
Mas n ão foi isso p ossível, porque qu ando a nov a m áquina chegou, j á as
debulhes haviam a caba do . Em t od o o caso, as pro vidências para os anos futuros
pareciam asseguradas. E es ta vam com certeza. Nesse entretanto, o u passa d os
meses, foi definitivam ent e r esolvida a instalação de dois d epósi to s d e m áqu inas
agríco las no distrito de Portalegre, providências que s e t omaram logo . m ontan-
do-se um depó sito ao n ot t e do distri to. com sed e no m onte d a Cru ci eira, concelho
do Crato e outro, zona do sul, na aldeia d e Santa Eulália, con cel h o d e Elvas.
Entre os a gentes do gove r n o e os senhorios d os prédios que se ad apt aram a
depósitos, a cordou-se nê o pagar ao E stado renda alg u m a, m as em compensação
terem a preferênci a os d onos do s armazéns no al ug u er e u so das m âquinss.
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A T RA v t S D O S C AMPOS
( t ) A d.J:I1;.Ilr.adora .RaIlOtl. alc atl u a o prlm. lro prlm lo tiO COtlCU rlO d. m'qalftu, qUI ee realizou uca aUDl tftfl ftl
eld.da d. t.ou. Mio timo. lIu tealio dI luu r.c1 am • • ca .. eOIl.trutora d• • u 110m•• m.. u:rl. IDjUld~1 ocuh., o na
triaftfo aI CIIII1&1 do Al afttf jo.
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ATRAvt s DO S CAMPO S
* * *
Dente Parte do arado onde s e introd uz o feuo que lavra a terra.
h ) o ,ui. etg, nu , dbu , gbt. d. bQtb.dgtU, t.1 como o " Q tu.dlm.at o d, d.balb. cu dH.u c tu e nn l. , p.uotl
40' OCOP'lII . ere., lie. tUlnt do PUt o ulI! lulo qg . tl'.tt d .. eotL.hu,
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ATRAV e S DOS CAMP OS
Esta ca s Varas de a zinho com Io rca, q u e amparam as can celas dos bardos. -
Paus curtos e g rossos. qu e s e cravam no selo, junto aos manAedourais l
Es teios Paus compridos com esgal has. que se aplicam nas construções do s
b ardo. d e cabras, malhadas, choça s, etc.
Este iras F azem-s e de bun.ho, colhido de verão nas ribeiras. Serv em para a s
camas do s cr ia dos «d e portas adentro». e para co loca r sobre os ce rrcs,
quando transp ortam sacos co m cereai s. N os montes costuma haver prov is ão de
esteiras. feitas por q ualquer en eendídc, n as ocasiõ es d e pouco s afazeres, ou às
horas vagas, por amor à arte ou mediante gorgere.
Ferrados R ecep tá cul os de barro tosco o u de lata, com duas asas e a compe-
tente bica, p ara onde se ordenham as cabras e as ovelhas. Os des-
t inados às ovelhas, são mais pequenos. Nu m bardo de ca b ra s e num a p risco de
ovelhas. empregam-se t rês ferrado s pelo menos, que aí pe rm a necem em toda a
época : dois ou m ais, pa ra os orde nhas, e u m, o pio r, para os cães do reban ho
comerem as perrum s s, de m is tu r a com águ a e leite.
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ATRAV r. S DO S C A M P OS
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ATRAvts DOS CAMP OS
pel a s po ntas, para adq uiri rem a volta e queda. apropriada. D epois são aperfei-
çoa do s pelo ca rpinteiro.
•
Fo r qu il ha s Empregam-se d e madeira, e são providas de quatro a oito dentes
de za mb u je iro. S er vem principalmente nos trabalhos das eiras,
para o que se preparam e consertam n a s v és p era s das coLheitas.
P a r a as r em oçõ es d e estru mes e palhíçcs, adop tam-se forquilhas de ferro,
de diferentes m od el o s e procedên cias.
Grade Em agric ul tura. dá-se este n o m e ao inst r ume nto q ue desto rroa a terra
dos a lqueives, puxado a uma j unta ou parelha, dirigida pelo corres-
po nde nte g uia.
No co ncel ho d e Elvas ainda persiste a grade a ntiga, de madeira t o sca, com
lâmina s de fe rro. vu lga rm ente con hecidas por facas o u d en tes. C o n sta de dois
r oj ões d e e.ainho, re curva dos, com dent adura e duas tra vessas, tendo ta mb ém
duas argolas co m d est ino a prenderem a s arras tas d e enga t e.
E ste instrumento rudimen t ar e bara tíssi mo, dá bons result a dos, sob retu do
na s terra s d el ga d a s, d e f á cil desag regemen to. N es ta s terras, ch ega m a em pre-
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ATRA v t s DO S CAMPO S
Gral Vaso d e mad eira aberto em len ho ma cisso, r efo rça d o ext er i or m en t e com
cinta s de ferro, onde se m eceram os p im en tões par a t empero da carne de
porco a ens a ca r. e be m a ssim o cardo para a coag ulação do leite co m qu e s e
fab rica o q ueijo.
Jangada Ara d o com varais para uma b esta. Ordinàriame n te se rve só para
embelgsr, isto é, para abrir regos d e pequeníssimo s ulco, com que se
re talha em belgas a te rra qu e se vai s emear e lavra r de seme n t eir a . A s belgas
destinam-se a nort ear o s emeado r n a di stribuiçã o d a s emen te.
(1) A aud. que . irul .. boje .. 11.. li" I.n..d... . .. que o. rooulI.. eh. m.....lll. eUIU d' Atal. ' • d. qUI! f.l. o u.t au ·
lhl. Plllllo ( XV I I I, SO), i , ..,uo.do R.YD ler. C. ue.l e.o. , .I. lun Dei o ' .ulu • • _ N o t.. J. . d eol u do Ir. A . P in., puhlie.-
i .. no lora . l O E ln n•• .
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ATRAvt S D OS C A M PO S
Mangas Cho calhos de eno r m es dimensõ es. q u e n o inverno se põem nos bois e
vacas. embora já se u s assem muito m ai s, sobre tudo DOS b o is.
N a s va ca s ainda persis t e o cost u me n a época p r ó p ri a , m as so me nte para as
vadias e gul osas. u s eira s em se esca pa re m d a vacada para in vadirem «folhaslt
ou p astag ens g uarda da s.
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ATRAVes DO S CAMPOS
Mexilho Gancho com duas hastes, que se introduz no arado para amparar as
«orelhas» das aÍvecas.
Pipa Barrica gr an d e que se usa em ca no, para abasteci mento de água nos
m ontes.
Quartão M edida anti ga, de ba rro: correspondente à quarta parte do alm ude.
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ATRAvtS DOS C AMPOS
Ra s til ho Espécie de grade dentada , para com uma parelha se rastilhar e sulcar
de lev e as t erra s se meadas. m u ito abatidas po r chu vas copiosas,
seguidas de calores inte nsos.
R edes U sa m-se dois t ipos de redes : 8S ch amadas de alErme. com que se pre-
param de pronto redis ligeiros para gado lanígero, e as outras maiores,
de iunça ou de linho, pa r a a co nd ução de palha a granel, em canos. Esta,
merecem particular menção, pela quantidade de pa lha que compor tam e pelo
fantástico efeito que produzem qua n do n o s ca r ros se erguem a lterosa s e reple -
tas, movidas por boas parelhas.
Compõem, como disse noutro lugar, ca r radas g iga n tes cas, ter mina ndo para
a fre nte e r etag ua r d a em bolsas colossais. de m alhas t ensas, a tocare m no chão .
P a r a b em da p ar elh a, o peso da ca rra da não está em r el a ção com o volum e.
Sem custo gran de . os ani mais puxam aq ue la monstruosidad e, q ue avança impê -
v ida m ente. p ejand o e suja ndo os cami nhos. No verã o, as est radas e r uas a pr e-
s enta m va stos vestígio s de sses acarre tas n ecessários, mas i ncómodos para os
t r a ns eu ntes e m orador es d os sítios po r onde passam. N os dias de vento o m al
ag rava -se. Ao sop ro d a ve n ta n ia e dos mo vi m en tos d o veí culo. a p a lh a menos
comprimida escapa-se da r ed e, e depois de remo in ha r p elo esp aço em to rvelinhos
caprichosos, i n tr od u z-se e ca i por tod a a parte, co m o hóspede im p ortu n o e seu-
cerimonioso. Fruto do tempo, que os hábitos t oler a m.
Rodo Ferr o recurva do , em be bido em varera o, para espalhar o b ras ido do fo rno
de coze r de pão. U t ensílio de madeira com que n a s eiras se arrojam e
j untam os cerea is desempalh assd os, arr edios d os ce Ice d curos.
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ATRA v t s DOS CA M P O S
Serras Das manuais, de carpintaria, cos tuma haver alg um a s, de diferen tes
tamanhos, para serra r eiveces e outras coisa s. D os mecâ nica s a va p o r,
já funcionam duas no concelho de Elva s.
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ATRAvtS DOS CAMPOS
Tac hos Artigo de que é costume haver a bu n d ante e variada p rovisão, d esde os
de cobre e arame, de dive rsas dimensões, q ue pela maior parte só
s ervem para ornato das p rateleiras e guirlandas, até aos de la ta e de ferro,
em prega do s nos serviços da cozinha, a massaria e queijeira.
Tal eiras As travessas dia n t ei r a e t raseira do leito de um car ro, ambas so bre-
postas no respectivo tabuado.
Temão ou timão (1) A parte do arado com plet o, constituída pela garganta e ponta.
Tripeças A ssentos rústi cos com tr ês pés, muito usado n os m ont es.
Vasculhas V as sou ras g r a n d es, de gie sta e o u t ros arbustos, para varrer os bar-
dos das cabras, as eiras, a s cava la r -iças e os terreiros do s montes.
Preparam -nos os cria do s «d e p orta s a de n tIO», nas h oras d e poucos afazeres, ou
com pr a m-52 aos m altes es, quando apar ecem a ofe re cê -l os.
(1) Vllt'U.tft1t . di~ - It tlm i o.
b) St do W I!.Id .. . o... . u pic h dt rr lMo q llt tmp rt' • • .I.. d• • , o r. o. ltllak ttlpclo. 'Pau balU' o cu ..1. t qlla
h'lIlId o dllu P lt ll. . d. Slbll•• ua cOllhtcldo taUt u htbuu. no ItmpO dt I..,u. ud a . Ido ...di.au,att u ••do por
habo com pont u dt til"",. POIII.. h oJa . u h. tl luld .. por IIml.. .. dt m atai . 'unldo u lf8nda na faca i,,'u lor t . obu o. tizo• •
qllt .Ira l .tdid. " lIt a """ul.na .Taa,"a .
( Rtb t to da 511... Met/16r Iu .06rt a pOllu/."o e a . ,ricu /, uu <lt P olt.. ,d- N ot.. ai rle ol .. d o .r. A . PI. ... I.....t...
h. &!lO• • lIO i ornal O E/_eut.)
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AT RA v t s DOS CA M P O S
Via do r a s
C aminh eira s a va po r. p rí n cipalme nte de stinadas a r eb o carem '18 8 00S,
debulhad oras e o ut ros má qui nas g ra n d es, q ue t enha m de se r em over
e transportar p el os caminhos ordinári os.
Foi o sr. Alfred o À nd rad e. g ran de e ilustradíssimo proprietário d o con-
celho de Elvas. quem. n o ano de 1901 ou 1902, i n tr o d u z i u a primeira viado re
n esta r egiã o. Adqui riu -a para a ut ilizar n a s u a la vo ur a d e F onte Al va , {r eg ue-
S1 8 d e S ant a E ul á li a, o n de efectivam ente es tá funcionando .
APRESTOS DE CAVALGADURAS
Pela cone xã o que t êm com 8S alfai a s a grí cola s, cu m p re m en ci on á-l os no
m esmo capítulo. em b or a à pa r te e por o u t ro m étodo, i sto é, aba n d on and o a
ordem alfabéti ca s eg ui d a até aqui. P o r t a n t o, a catal o g a çã o d os a r reios e atav ios
d a s bestas e cavalgad uras fig u rará em pa rá grafos, co r r es pon dentes à classe e
emprego dos s olí pede s q ue usam esses preparo s. E 'i s a mençã o d o s principais:
Para muares e m serv iço d e carro e a rado Cabr estos co m aírgo l a s de cor"
r eias e du a s a rgola s n o s lados
d a foci nheira, pa ra intro dução e sego ran ça das sen ilh a s e aranha s, lig adas às
a r r ea t a s . D a s sf rgo la s pendem es qu i las ou chocalh ínhos, se estã o em u so n o
sítio es ses ad ornos buliços os. ( t)
C om louça ou «à calada », ad o p tam-se cab restos de três tip os, p elo menos.
P ri m eir o: en cerneiredos, em atan ad o e panos de Liga (algodão, lin h o, e tc.), co m
entre o l hos do mesmo preparo. enteix ugedos, (2 ) t ud o com g uarnições e e po n-
to a dos de esta mb re e pa no de cores viva s, umas em relev o, outras em abertos
Segundo : encsrneiredos, em lin h o, à li geira, tamb ém com entre olho s en t eix u-
gad os. T er ceiro: s omente de ca b ed a l, d e talhe s emelhantes 80S outro s.
O s ca b r es to s, mu nidos das corresp ondent es ser ri l h a s e e r r eata s de li nho e
co r re n te s d e arame, compõem os p er tences indi spensáveis para a simpl es con-
du çã o d e uma p arelha . D ep oi s, pa ra o t raba lho d a parelha em carro e a r a d o,
edicioue m-s e- Ihe os burnis, mantas, canga, tapetes o u t apiços e berr ig ueir ss.
O s burnis, co ns t a m de d ois chu maça s ~ ra n d es, d e palha d e ce nte io, r evesti-
dos de co u r o azei ta do e de carneiras . A v olta qu e t om am, d á -lh es a config u r a-
ção elítica . S ervem, colo cando - se so b re o cach a ço d o s anim ai s, u m em ca de, afim
(I) o 0 d. 114.. 11.. 0\1 ch ou lb.l...bo. 0 0. ub uuo. 01. . . muuu. ...io ~ _. u l ..... m perm an .nu. Mumo BO' .Itlo.
o..de o co.lt e . ,1' arul,ado••eo.. t eee b.nir -.. t. ...porlrl.m. n u dlU'."' u o .erio. fi Qu alldo o. 01.0 " 0 ' d,. b..1,. lllio d.
loto ellln.;ado. por mor l. d. PUUl U mu lto pr6JlUuo.
Em .I'amal ao bui toir ai . .q u ll cboeillo., po r tuito. d. pend or. do. d o. bu rtlil. GuI.o. oa o Qoar
4" " •• i a d. III",,, d..t. ' i Dn o . pnunum um pu ao. c.rreiro., 40. o. compra m . coo . n ta m ol. .... ca,ta . 'Jlact . mQ1 U como
Eu . m o. .....d. iro• •
(2) Cabelo. d. u lJlo,o, compl:ldo., '1lJ", . e• ..,do • ~brl"a bulo .lu .J<u.m.idad.. do • • nlrl alba• • fociAb..in , l U.
- 240 -
A RTE P OPULAR A LENTE JANA
1 - A/, ibelr.; ~ - Meuu feitas la mio. J - Lu.vlt l eit. à mio J 4 ~ AJlorgt: n-melldo. de pe le; 5 - Ma nAA com
medronhos. para a cei/a; 6 - Lenco de ch ita , pITa os om bro s ; 7 - M angui tos para os trabalhos : d.a monda .
e ceifa, te alellamu ; 8 -Bolsa 6ordlJdlJ .8 mis.slluj lt pant o Te16, io
AT R A Vt.S D OS C A M P OS
* * *
C omo foi ob ser va d o na página 217, em nota cor r es pon den te ao parág rafo
churrião, os ca bres tos da s muares qu e puxam carros de cómodo pessoal. deno-
minam-se csbrestada s ou csbeçedas. T êm formas aná logas às do primeiro d os
m odelos r eferidos, mas de maior a pa ra to e cu sto . condizendo com o garridismo
dos tap etes e berrigueires que os a companham. e qu e em tudo eê c su perio re s
aos de u so ordin á rio.
C om r evestimentos de l ã, uma s e d e se da, ou tras - a s cebrestod es realça m
p elo s r el evos e fr anjados de rutil antes cor es, aplica ções d e t eix ugo, cuida dosa-
mente tratadas, borlôes, pene eh.os, vidrilhos, etc. A ca beça dos a n i ma is qua se
que n ã o se vê. oculta pelos franjad os. N o pesco ço, destamca m-s e espave ntosas
co leiras d e guises , no mesmo gos to. Guiseira s e cabrestadas faze m u m efeitar rã o,
q ue parece ser com p ree n d i do pelas própria s muares. E l a s pelo m eno s assim o
dem onstram, sa cu din d o O cachaço a mi ud o, como que m anifestando prazer com
o tinir d os aljorges. ( I)
( 1) r.." 110'" di I lj or, u f 1ll...lI o corrl ot. 1\0 umpo. pu , d u i'ou 01 ,,,, 40' ,und•••
(si o Ilbudl o d. coldru COlll m..nu lor ol. d• • ( n nl c , •. .. 1 ulodo 1m dll"' O, .. d m COOlO o p.ltoral. À u i. c' ll ..
•"buh "ir t ",do l..o.
- 241 -
AT RAv t S DO S C AMPOS
Nas burras dos ganadeiros Cabres to de couro, com fiv elas de me ta l a marelo
e ornatos di versos, p en de n tes do. t estei ra o u
lig ado s da t es t ei r a à f o cinheira j h ) arreata de correia s im ples ou t ecida: a lbarda
e pel es d e cão, i n t eíriças, po r cima, com silha de correi a e arg ola n as pontas,
ata n d o em n ó co rred io. Na traseira. atafais de couro, com Evele s gr a n de s,
am arelas. Em aparelhos de asininos não se vêem melhores n em mai s bem
cuidados, es p ecia lm en t e os das burras dos maiorais dos p orcos. As destes e as
de outros gunad airos, é fr equente trazerem coleira ao pescoço, com um a p equena
esq u ilo. o u chocalhinho .
o
(1) o.
cahun o c o, tu ~ .. Uf co.. fecclon..do pe lo pr 6pr io , a. ad.iro, .... !l0U.1 ...... ,. om.10. d.. hlll1U. , (I'" t..nl O
01 uncl ub..m ... arll.~ b t .... h ' oal, Ihaltam-u .. corul .. pe.. d. n tn . na fona .. d. '''''o ta- m" c. . . ..Indl. .. I.plinç~ .. d.
cote.i... "Ia d l..,oa . I, fua U . d.. IUle ir .. 1 focl n b.eiu. c","l ndo... e fOfllll ndo Clpelho I ou trO'. eoa etl.lIl d. cnlunte
( ~ ei .. lu..) d e ",u .. l 00 de d. a tu d. poreo, d o el'no .. Imio. de 11m" uuele em ~. I ..I, t.lc.
- 242 -
ATRAvtS D O S CAMPOS
* * *
Os arreios e mais pe rtences e qui referidos. como apre stos das celvage duras
e bestas, moldam-se um pouco n os seus congéneres da Estremadura espanhola
e Andaluzia. Questão de semel ha nça vaga e nada mais, porque o fabrico desses
utensílios é genuinamente nacional. caracteris ticamente alentejano. Todos eles
ou quase todos. são prod uto dos ccrreeirce e albarde iro! de Evore, Estremoz,
Elvas, P o rta l egr e, etc., etc. O s correeiros e albardeiros expõem à venda os
respectivos artefatos nas lojas d as s uas oficinas, mas pouco vendem aí.
Vendem e muito. nas feiras de V ila Vi ço sa, Fronteira. Sousel, Borba, e o utras,
onde a rm am grandes e vistosas barracas, d e um va st o so rtimento. Nestas fe iras
poucos lavradores e homens do campo d eixam d e adquirir arreios e preparos
para os se us gados. M uitos fazem até provisão de reserva , para o gasto de
seis m es es a u m a no. Ou tro s, adoptam o sistema de contra ta r em a lba rde iros e
cor reeiroa pa ra irem servi-los 80S montes , me diante salário.
•
VIII
II) 50b... o .lar' . llu olO .I.. cult\l.tU cnu lHo u . iI o cr a . ... er.... o Ir. " o.ulmo d. Andrad., n. "i,b. t.5 do &Ia
o ot.hllf u llllo 11..... 0 POHu,d Eum 6l11 ico ,
. O. d llll· " doe f.c t ol ."oo.ndoll q la DO d.c'o lo b odo .. d eu . 0 . m. nho .I.. urn l n uJ...1 d • ••",.oh'im ..alo. II'lld o
. 1.10 OUU U lllld. . ... "uflcl . c ul ti. , .. 1 • n dullld. coau q1;1l . a l. III Call' . . ... "or l.la cult• • A. " co"'.. la oUr . ct... qu. u nl u m
d. III1"ml..o•• nu coDd a do. I i. co o.finD.d•• IHIlo Cl a . moi. dh",ulII.nr.. I. 11'10 100Iea n do ...ui,au. Do . dl colo. , • <to.
° d. "'.cihli. .14_.
lOeadoo .,r ond u
oU.triro•• oad. .. _.1
,1'. Ao, o u o J oli Canh• • II Ddo mW uro .I.. ob r .. p ú bllc.., r ..o..It...... . dJfU'D ~.I."
o rd .o.. fo r...... com . ~ .d •• • C:1I.co. tu. l'l . pn ..lad. do AI . at. jo , oad. po r c4lC1llo. . .tlllor .. . . coou~
.aJo. nO/o d. tm .. lacolt... . pu." . ...u pn U III" . " ud.. "id.o. S0010 o. p rom m o. d • ••DII'. o q... U P!'UIlllU _ . 0.0••
...puUcl. n ld..d o. d. Joo • no lII.iI h.cl u .
Vi·... ""aDiO. pal .. aot .. tu a ac ri l1 u . q u. 1\.O ol tllOo d ec i aJ o. .. 11ft. . b.coh.. elo AI.au j o li cu ..... u elodd..
• $(1 °/0 • • 0 p.n. qo ••Dt.r IOnJI.D u ca lcu l... • •••uh lr"lII • J 7 0 /0. M .. 1110. , c1uo, r.r....·•••
l oel• • pn..lDc.l• .
N o dlllrlto d. Poru.le'r•• _pt.rllcl. do. ch • •• doe luu nOI Io.cull ol . ...... I..lm.Dt. inful or. so% • 1.1... lI' . 1'
lo. O ocrl-lnalaJo.' Dto d. ir•• culti.., •• I. lia ' últlmO I du IlI OI . t. mh' m •• II OI • • m m. lol'" c1ulo d o qu• • d. 7° 10 ui.
cu.bdl .0 , .nl d. toda • Plo..hlcl a .
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A T RA v t S D OS C AMPOS
parar-se a o d o das te rras q ue aín da on tem esta v a m bravia s. N ã o pode equ ipa-
rar-se pela simples r azã o de qu e 8S herdades elvens es, lim pa s de matag ais desd e
tempos r em o to s, s ã o po r i sso me smo a p li ca d a s a s earas d esde então. não
havendo, portant o, margem pa ra expan sões, como a s qu e s e efectu a m nas zonas
que es ta va m o culta s. T odavia a impossibilidade d e conqut ste r t erra s pare al ar-
g ar a s s ementeira s, rem edeia-se, 8 t é certo ponto. com a melhoria de processo s
cu lt u r a i s e co m a a l te r ação dos a folhamento s. que antes eram quinquenai s ou
q u a dr ien a is, ao pass o q ue h oje são trieoais, a lg uns i bi enais, muit os, e q u e dele-
na is poucos. Àcresce a círcunstânda q u e toda s ess a s folh as. no a no em que se
alqueivem, r ec eb em estr u mes e adu bos que e at i ãem ente não r ecebiam ou r ece-
biam m enos, e a ssim. e p or esse b en efí ci o, são em pa rte s em ea d as d ois anos
consecu tiv os. eb ragen do campo s co ns ide r áve is , out r o r a r edu zid íssím o s - cam-
pos qu e englo bam du a s e mais t orn a s, e q u e na seg u nda seme ntei ra - ch a m a da
de r a s tolhice ou de relvas - avo lum am b a stante a á r ea d a sea ra.
P or outr as p alavra s : a cu l t u ra ce rea lífe ra n o concel ho de E l vas aumen ta, é
certo, mas aum en t a cer cean do as past agens d o s i nver n adou ros e coutada s. (I)
Alargam-s e a s sea ra s, ma s d iminu em- s e os p ous io s. o q ue o b ri ga a r edu zir a
criação do gado v á cuum, limit ando tamb ém o r egim e m an adi o das b oia das.
Não dig o q u e isto s eja u m mal , qu e n ão é, d ecerto, m a s é um facto n otáv el q u e
m erece eonsíanar-se.
Nas h erd ades de sbravadas nos últim os t empos , o caso m u d a d e figur a .
Aí, as terra s que n outros t em p os só serviam pa r a mí ser os r o ed ouro s d o s ga d o s,
a g ora. depoi s d e limpas, s e n e m todas, ou p ouca s m esmo, se prestam para d emo-
rad o e proveitos o sustento d e bo vino s, dão pelo m enos a lg u ma er va. q ue to dos
os rebanho s apro veitam com vantagem .
• • •
Para bem d o país, a av ali a r p el o desenvolvimen to q ue se es tá operando
na lavoura d o Alentej o, é d e presumir que num fu t u ro pró xim o, a mesma
l avoura produza trig o bas tan t e pa r a o consum o da Da ção. (2) A ce rteza de preço s
convidati v os, q u e a ta b ela o6cia l g a ra n te a o la vrador, ('§) o a p r oveita me n to
lt) Por In'fr".dor""o, , UlIUld.-u ai p...h ,n' d. poulfo • • u.r.hd.. drad • • brllali n lem bro ou oUlubro. pu . d. OU IU-
bro 'Dl df.n l' II IU'U'Dl '0 , . do ..' eo.u m • e....lu . A. bol.d.. eO. lo.....m ellru r pr im el.ro ;I' U tlraum • Dor , IIl0 i. p .ra
' PrO..d tUIlIll o- m. lho ru pUlO•• ou o. m. l••pUf tOH'.
Por eoal.du. no e..o 'Dl qa u llo. eOIl. ldu am -u • • nn.. d. u.tolhlee. 'o.rd.d•• l •• '10 " ee...... 'Dl ••t.mbro 0 0.
oatah ro , p.r. n lu••ram .0. re b. nbo. d • ••do ,,'roum , e...lar • UPr1no. q o...do tI ..lum boa P. It'. ' Dl, d. flTu. iro ou
m arco . 111. dl_l• •
(2) Tod• • "e .. t ll qa . &fOm p. .. l.. de pe r lo o pro"r... o e ' ••p...do d. cultura cu n 1fln ...o AI .M.jo. u I' co"'..... dd • •
d. qa ', • eo.. tlllun-. . ..dm, de.. u ·o 'Dl po aeo , O par . pr od a z b ' fri, O p. ra O n o co....a IllO. R .eeno. ",lo l.h.... . Q a.m do -
.. Id.r. Iii. AI n .... hu.. rafi ..lI.. do n , A UII I... o de A.dr.d • • lll.l lr ll1 •• p" I.. . as do Por,,,,.1 &0..6,.. /eo,
. Co m I I pr o••d.. . pddõu d. re.t1ilo Ir .M I....... , d. aala PUI. d. E. lre....d un , pu• • produ cio d. cer .. ls•• em
da ... pr od llcl ... 011.1. I I IUT. ' f.cu l1.. f ol.d•• • b.bo .lu .ltl1udu ÜDp rod .. tb.. do ut.o. l.sI...... .. lo I . por cerr o. u.....
ulop l. d. , co.oal b t. u p. rar u ra . o.mllll0 d. pro d.. clo ...d o••I• • qo.l...I'lI.tI p.to meao, .0 ao..o deGcif d. cne.l• .•
(a) O. pnu. co .....ld. d ..o. qUi • t .I., I. 06 d.1 ,.n al' .0 lurado r , d cro- ••• • m , r...de parti , ), podnoafllh... .
COU I...I. la ler fub cl . d. R eal A lloel' cio C . a tnl d. A;ri cv.ltou P orlu IIl"'PUI prOll.t . e fUClII..he l n . dtfll ' do.
I. ' tllmo. Illun.... d. Inou. a . cl oa.I. Foi . 1. qa • • m 1888 1..... 100. O brado d u .... atl prolut o co a lu O . b'lulo a o (lO'
.atl o .0Eri• • .,rlcultu ra P'lri ••• utnbo ehar "O"U'''' I'. pel . concon' a el• • fTo.. to•• d o. u lio. uln .....ho•• Foi. R ..I
- '246 -
ATR Avt S DOS CAMPOS
* * *
A seara de cada lavoura , de um a o u mais herdades, semeia-se na folha ou
íolb es, preparadas de alqueive. no s f erxegt a is dos montes ( d e nas terras de re s -
tolhice, q ue, por terem sido estr umadas n o an o anterior, ou que pela sua nota -
ria fertilidade, se iulg am aptas p ar a seg unda seara. Estas terras de rastolhice,
een cc r porade s» às de alqueive, p a r a efeito d e nova sementeira, são queimad as
em agosto, precedendo a desmoita dos r ebent os de piorno, se os há . A queima do
rastolho fertili za o solo l.l e fadlita a lavoura. Cada folha. ta nto pode r eceber
um a única espécie de semen te como d u a s o u três. D ep en d e isso da natur ez a do
terreno, da força das circunstâncias, o u d o critério do lavrador.
C om o já foi dito. as sea r as de trig o predominam por toda a r eg iã o, se
exceptua rmos a zon a g raní tica d e Santa E ulália, em qu e se avantajam e s do
A..oal..,Io. qo ••u. .. u lelllpo . .. ~a.lI uo • • eoll..,OCOO O. 1Il'llIof 'nl. coqu..o••,lIcol.. d. 183& • d. 1389. qo. 6 u ulll ru·
, " r, 1r e In ' al ar • a,rico!t.. u poUo l!o.... Foi t' IlI "~ m 1I0r lold .ti ... doe ..o. prlllC ip ..l. d lrl" ll. t.. 'l'" .. {.. od oo o ....do lO
lonr.al a;rlcola - A t"OCIJ - "'III call1ptio dcood .do. qoc , . Ih u da m" u a batdhou .m pfol d.. fC ln ., lndlu~"u d. l u oo n
lIulon.l. co jo. IlIl cf " ' " u t• ••m uodo e'llulnh.d o' pelo. Olllllllloll ll tU 1lI0a,.lro. . ..... obl lt a. do. pel os ,o. .. o ..nl" .
f oi "1Il' , o ur. u nt • •• 111 40 a . fi.Il&.i uloll foa . ...dade •• Jo. tI, • • O. fr o tos II se U lio ..end o • neol h'lldo. COIll Indl.·
cOlh. 1 ...n u ..... pu. o pro,n u o • rf q" u. d. o.ci o.
C.. llIpn po b . oio "q ... u l' a l!f.dd i o " n con hecl lllell lo lIO' t od os os lUT ad or.. due m A R u i A u oel.çio C llu r . 1 d.
A,rleoh o n Po ..tojo. ... e n i o m. a o. ' 0' cu.lh elro. q... . t ~1lI u llfr u n l.do. De . ncn • •t U j ' e1,a... do..mltm o . ono II.mo.
como o dr. Culo. Pi.o.to Coal ho. VI,co lld. de COfOche. D. 10. i d. S .ld • .o.h•• Corul e d. Fl c. lho. LlOnudo Torre•• uc.
Nut. 11"'0. co.... . ndo . . .eOll loe . ;dcol... . i o bulfalll.lu a c. Lld.. UI " nfuillch.• • cooeio:l. ncllu. qll a Illo
•• curalll .llII.holll' o o.,i d. da. III" qo . U.dUJUIIll om pnilo da jwtl c• .
h)o. ta ont...oa. CO"'O U ou dizer nu UClH ..... u d. a n l .. dallllot o.
• 1:1) .\ teori • • • 11" ..l hlu lm•• d. 'l o • • 'lo. lm. d.. f ..to lhJeu (onIU"" o 1010. ~ .uile 1I0r t odoe oe I.n.dor u . 11)"
po.te 1m IIr"lu alm UllIlln d' ..... oh.do ..tlef.t6rio. A ela... do . rU folh oe .::o", pl5. o",. c......d. ti o tillOI. lI" l .. llI.i.
d.. .,.. 1, i .nuud. pilo• ..cnIOll . 'IU" q... o ....do • IlIluon a . tur • . P or lu o h .l lIO ' 1lI pulh. la.,.,u .. r u tolb lcu um
u qod. ...
O. q 1111 pudu",. '.0 d. PU I CU Cl:1II • lU" li.::. llI.b ba••fiel ad. com o. dudto. do. ,,"olho'. 'l O' o . ..do lh e
.111 0" • • 0.01 d o q" . Gcerl. cOIll o. el'::.U'" f..lduo. de folio' 1I . ....' . lto•.
O u . Aflt 61l.!0 Plru. o•• '0101 No t .. • ".Ieo lu. o" ..n . q.. . o co.t"'llI' d .. qUc/"'l d.. 110 A I.o teio .cb.-u . a ru o.
! oll. h . o 11111 IIfOU ...0. ofl'lm IIfllllltl... . !. . cr U U Il. Ie ' a Dia GlU t. ..1i' J . ElcAthe ll. ch.ado Lua Ju , E'f' pro, rulO d.
ladd.u rl.. pn toul r .., lo. f.lla lll...t • • • 0Ln ••l!.l colt.... d os Fo lI. h I ced • • no. ...tu d• • , allleM . Ir ... Ufll'lc aa:l • qodlll"'"
II 1Il" lIu' • depol. IlIlt to falll .. cfluIU com o u{ruml. q... tl lll em a boa d' a cl.'.
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ATRAvt s DOS CAM PO S
centeio. Ãparte esta excepção. a cultura do t r igo prepond era n a m aioria das
herdades, s obret udo n a s t erra cam pas. delgadas e n os berros,
Em escala imedia tament e i n fe rio r, te m os a da cev ada e 1080 depois a do
cent ei o. À a veia fica e m último l ugar, tanto pel a t erra que a produ z como p ela
q u a n tidad e que se semeia. Para ela des tinam-se as terra s piores de alqu ei ve. o u
8S de ra st olhice, j á depauperad a s por r ecen t es produçõe s d o outras sement es. ft J
R.estam~n o s 05 legumes : fa vas. g rão de bico. chích a ros e fe ijão fr ade. cul-
turas re lativa me nt e i nsig nific a n te s co mpa ra das co m a s d os cerea is. Em regra. os
leg umes são produzidos n a s t erras d e a lq u eive, a pre t ex to d e se b eneficiarem
essas m esmas te rras pe re, a s se me nteir as ce r ea líferas do o uto n o seguinte. ( 2)
R eprese n t am po r a ss i m diz er um a cu ltur a secu ndá r ia . s ubsidiári a d a dos cereai s.
E st a si m . que a ting e a ltíssi ma i m po r tân cia. D e t rigos. ce nteio. ce vada e a veia .
colhem -se anualm ente. cen tenas e mil h ar es de m oi a s. q ue pela m a i or par t e vã o
a b as t ece r os g ra n des cen t ro s consumidores.
Desde o verã o até pelo i n ve r n o f ora, as es taçõ es f erroviárias de Elvas e
Santa Eulália estão abarrot adas de tri go e o u t ro s gé ne ros. que todos os dia s
saem em d ezenas de vag on s p ar a L isboa. Port o, Coimbra, et c. Porçõe s enormes
q ue n a sua q u ase tota lidade provê m das lavouras exten si va s q u e se explo r a m
n as herdade s circun vizinh a s. C onsequentemente. 05 múlt ipl os ser viços q ue
de m and am as s earas. oc upam to do o ano num erosas pa r el h a s d e m uares e de
junt a s de bois. assim com o o pessoal refe r ido n um do s anterio res capítulos .
O que são to das essas fainas r ura is, q ue em pregam t anta s p essoas e ga dos. va i
ver-se em seguida .
LAVOURAS
Animais e instrum entos qu e se empregam As lav our a s executa m -se co m
cha rr ua lig ei ra. de aiveca m óvel
o u com o ar a do romano. C om charru a n o s «fe rros» do a lqueive. ('I) S o mente
h l COIIIO •• TI ••h nn'III." • • ~ u ltu r.. Tul..... do ai " p ' ~ lu d. ..me" lu. t u.o . .. t1qoJul lllo, (ul u T..n t • • , ... ,io
d'lII o.. ltnd.. ci... d fic..... t. p.IOI .p6.. oal ol.
h) O l.n. do'l' ..b. d. h ' . 'lho p.l.. 1l ~6.. d . 'Qul...d ., 'lu• • c.. !tau do.
.. tl nu pu: • • produ ~ o d. cu ....lI
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(3) A cÀanu• • lIIpU' . · .. q a da.l n . . .. u "O pdmd.ro .f.,.'I'o , O" I• ...,.d. d• • lqud... Cb.m._u .Iqllei•• • 0 CO" -
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- 248 -
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ATRAvtS DO S CAMPO S
- 24!) -
AT RA V ! S DOS CAMPO S
(I ) À. j .u u u do .buio. bodro• ••ot • . d.lfu u • •• • " or n re'" u Ihorn p.udud••• E ... • u .l. u mh ...
te dletl .... u.... por tr . ...re ullllilõ.. .... bo.. . u-rdu e <:0..... 11'. . l u ... 1'0 '" nb.d.. d. bo i " d. .. t.. d•• po.. I...
(2) E. capt o pu. o hõn . "./r.i. o• • d. 1'I"l'tll' p.na I• • q 11 tI ... b.... O d lu h o. d. 1I1'0l1r.U j".. t.. pu • .;•
.... . • o)...... t. d.p olo ,h ul'ollurem 0' loO'C ",o• • • 1'0"' 0 I'o... " {i o d o 1' 0 \lU' 0' .obrec. r.........
P or .ptl'l'i.o,. d..l.lO....• •• o. .... bõ.. qa. u .... "ou p.bo. d.. Ja .. e.. do . b o • do. bo.ho• • 1. .. 10 d llb l
"do. do "'0"" ".n o, ar.du. como" tard.... . 011• • dOi . n do. "U. O ",o.. 1• . Jt p io d.. . p.l.c/. o oU • {lOcu bld• •
d.lu... l...do••• t>bõ... \lo d......". n1> am todo. o. d i tr o co d. IIcol blr• • l u nc '0"'0 • • o.. t u . .... . 1&,,=.. 1I0.. 1I• • 11
"01' 11..1• • doil j . t>b1J; I'.d. dJa . ..... dlrd to d olb. '" fuM u. -rlf ol . ndo · 1. " . 101 lu' " ' ' <;to. o. bO.... A·
o cu" •• • IllU' ou A' " ',"0/• . f . tI tohl_ o .11l'!lI ' • O 111.11 oldo. S .... Inoun u. b. lh•• fil ho ou filho. do IU'Tldor.
<:01110 LDII. .....tlt . ... . ..o l,.rlo.lmo .. . IlI:o pond. d. . ....... Id UIU I.mb' m tlm ."./re/ro. com u. o• • Ulcar,o. ...do' o.
10 . do .h..-o • • 0' do. boltlro ••
- 250 -
=
ATRAVt.S DOS C AMPOS
* • *
Horas d e «a g a r r a» (Dias amenos e d ias de chuva) - Desde que s e começa o
alqu eiv e em dezemb ro ou janeiro. «a g a rra - s e» e principia-se
a lavrar ao nascer do solou antes um pouco. D o princípio de março em diante
en rega -se com o so l n a sci d o, e tanto mai s alto quanto ma io res vão sendo os
dias.
Pela s em en t ei r a outonal, como O gado possa e o tempo convide, começa-s e 80
r a i ar da aurora, o u , pelo meno s, a o acle re r do d ia. Se. porém, a s ementeira está
de resto , se «vai de cabeça abaixo», como se co st u m a di zer, a garra-se cedo. mas
não se começa 1080. À gan haria entretém -se a fumar u ma cigarrad a, a guard ando
d ia claro pu ra ir lav rar.
N a h ipótese co ntrá r ia, isto é, quando o serviço es t á atra sado e a época vai
decorrida. o ebegêc a g ar r a e começa muito cedo. sobretudo havendo luar e bom
tempo. Ordioã riaec ente, a fa mília conforma-se com a e.nricipacâo, atent as a s
ca usas que a motivam. P or acaso, algum q ue chia não é p o r ma l; é por fa lar,
para dizer anedotas. Se falam, dirigem-se ao abeã âo nos seguintes termos ou
outros parecidos :
- «O lh e que a clarid ade é da lua . . . I n d a a m anh em não ro mpe . .. » - -
diz um .
-« N em daqui a u m a hora»-obse rva o utro. E vários acrescentam :
- «N ada, o mel ho r é u ma pessoa «agarrar» à meia noite I . .. »
- cT á visto... Á meia noi te é que d eve s er . para a assorda esmoer
bem .. . »
R em o q u es facetas, à boa pa z, com uma p ontinha d e ironia. de que o abegão
se Ú e os próprios q ue os proferem .
M a s se a g a n haria anda escabreada e a forçam a «pega r » de noite, mal
p ri n cip ia m a l a v ra r desa tam aos gritos. simulando o reg 'ougo das r ap osa s.
P ret end em significar, que se as rap osas r egougam é por que a noite subsiste.
O abegão fi nge n ã o ouvir. m a s toma a gritaria co mo u m a t a qu e ie r es p eit oso,
de q ue se vingará oportunamente. E m lhe calhando, pagam-lhas pela certa.
pon d o ao fr esco os bad ios que lhe não têm suprema .. . q ue lhe não guard am
decoro . . .
N a s madrugadas escu ras. por ef eito d e nublados e falta de l uar, a aproxi -
mação d o crepús culo m a t inal n ã o se lob riga, é claro e, nestas circu nstância s, O
abegão aga rra e co meça o t rab alh o. dizendo:
- «Ho je algué m fica enganado . .. N ós.. ou O amo .. .»
A i s to r es pondem-lhe os gan hões :
- «Os enga nados, sem os n ós .. . voceme cê vai pelo seguro . . . »
Querem dizer q ue Da i ncerteza das hor a s, o ebegão nã o se des cuid a e p r .irr-
- 251 -
ATRAV r. S D O S CAM PO S
cipie mai s cedo do q u e prin cip ie rfa es tan d o a atmo sfera limpa d e nuvens - ceu
es,asesd o, com o se diz em l ingu a g em r úst ica. (I}
O chefe da lavo u ra ou ve as observa ções do pessoal e n ã o r espon de. Em lhe
p ar ecen d o, acen d e o ctgar r o, p ega n a agu ilha d a , s egura o raba n ej o, endireit a
a j u nta e gr ita:
- «Vá fo ra I . .. »
E o s ge nh ôes ve ndo -o e ou vi n do -o, re solvem-se a i mi tá-lo . seguindo-lhe os
movimen tos, d e m elhor o u pi or vontade.
D esta maneira, à h ora co nven cio n a d a . com r igor osa o u elás tica po n t u ali-
d ade. a lavoura principia sem p reo cu paçõ es pelo as pec t o d o dia. O d ia. está
sabido, tanto pode apres entar- s e de uma am en idade d elicio sa como b r usco ou
tempes tuos o. Em que chova m esmo, en rege - se como se n ã o cho v esse. cE I- r ei
n ão m anda chover , . . manda caminhar .. . » Portanto ca min h a - se , q ue pOI baga-
t elas nã o se d etém a fai na . O mais que o pe ssoal faz é defen d er -se d a m olha-
d ela, en ro u p and o-se o m elhor que p ode. Cada qu al v este o pelica , o t a pa- cu , os
saf õ es, a jaq u eta e o ca pote a guedet r o, env erga n do tud o i sso, p ara a ssim ense:
marrados, s u po r tare m e defen derem- se d o temp oral.
D e m a n hã. o u p elo d ia adi an te, a chuva só interrompe a lavoura q u a n do ca i
a cân taros, a lagan do o so l o, in ~nd ando os r eg os. Ent ã o, sim . O eb egão reconhe-
cen d o a ímp ossibilidade d e co ntin ua r , d á o sin a l d e pa r age m , ( 2) o s s ubor d i nados
imi t a m-n o, e, a segu ir , t odos a band onam o pos to , d eixand o as junta s a garradas
a os a rados. B o ís e m u a res, q ue d a m -se ca b is ba ix os e impass íve is, s upo r ta ndo se m
u m queix u me as bát egas de á gua q ue lh es esco rrem s o b r e o p elo . N ã o tug em nem
m ugem , mas n o se u o l ha r de inequív oca melanc olia, l êem-se expressões d e m á-
g ua pelo t om lutos o do m ei o que os cer ca ... E a ch u v a fu sti ga- os impi ed osamente,
ao p asso q ue os ho me n s fogem a es cape para os abrig os d as p edra s e das árvo res ,
onde se ass olapam e a ge ite m at é passa r a to r menta ... M al escempe, ebegão,
ganhões e ca rreir a s, voltam a a g arrar-se ao ta nso, l;s) e a la b u ta p rosseg ue como
a ntes da ch uvada , a não ser q ue a terra atasq ue e n ã o ag u ente. Atascando, é fo rçoso
deit ar fo ra - leva n ta r para o utra f olb a ou tor n a. m en os fab rica da, o u mai s en cha-
t íe, q u e perm ita l avrar-s e em t erm os. Não a h a vendo em tais co n dições, so l-
ta-se e in terrom p e- se a fa in a p or alg un s dias, pala a t erra orear, de m o do que
enxu gue em co ndições de se lh e m eterem d e n ovo os a r a dos . T em d e s e i r com
o tempo. E m al va i ao la vrad or q ue a rrostar com os en t r a ve s d o tempo.
h ) E.IU o:o ",. t' rlo. ",hu UoU "IU' d. ho ..... eu m l qo ll.l", .h.d a h Á P01;O CO. a.. o. . .. II h oj.. jÁ . i o ..u lul..o. ou
tal.. u .. limo a .....c o uç . ... p. lo =ottt' o d. a tIl.lod. du h6.. JÁ D'UI" ul6. lo di .1tl!M.lra . . . hu ... h qu .... t..
.... d. m. O ... 16.10 la dluçQ" q UI d.11 t o..am, im p.dltll q UI O . bl.io . Pfonll. O. . . ub l.do. pua 1&.. tirar . 1'1lD'
mla \1lo. d. d..c o.
(2 ) P ....."do . ... co.tando a " ull&..d••0 nb. ... jo com a po" l. l"cU".d. pua d llla.
~~) Ao arado 00 ao trabalho.
-- 252 -
AT R AvtS D O S CAMPOS
- ·253 -
ATRA v t S DOS C A M P OS
(1) N .. h 'rov."a eh POIIC OI arl dol. I ttlll pIra cOolll lD O d. t Ulhl ri. I coa d\Ulidl l i COIt... 1= hani u. pf lo ' I a hi o.
4aa por II Cal. llro . da • • uaddro do d i• • E.m 'cl'ld o pr n llo. o t anhio m. tc I j u..." PI" d uu:"o d. Inrad• • ptra - I af •
lu• • ••• afi= d. I.. . 10"'U ou ' 0 poco lD.l. pr ó xim o. No rc trc uo colou I hanl u pr Ó,. bzl. d. pIIC01• • • oh• • 1• .,11'.
A . lnout ll ...Ion • •n tt.l'm aau . dei ro plU1ll an cn tl (..lho ou " pu ) , q". !.r'DI PO'" I ta ll' cm Llll a =v. ...i d. d. nDt,IL..
eo= harric.. ou cl.nlll'OI. N .. ....., .., ... o aalad.lr o OCIIP.- II f m te n1(01 CODUO ' d. pOllel moat' . como corlar 10b.. ,
.D,.,dio. tuldu d. ffn .mtDtu. eee,
- 254 -
ATRAvt S DO S CAMPO S
* * *
A solta E ' in ve.r iêvelm ente, ao 501 posto, seja e m que ép o ca for, tanto p elo
si s t em a de revez o como pel o d e síngelo . E no acto de soltar, o ebeaâo
tira o chap eu e diz : - «L o u v a d o seja N o sso Senhor J esus C ri sto J•• • Antiga-
mente dizia -s e que os b ois deviam ver o p ôr do sol j á fora d a ca n ge ,
* * *
Alq ue ives. Lavrada s d e a Iqu eive e lavra d a s d e seme n tei ra Em ger e.l, a
fo lha ou fo-
lhas de pousio que se pretendem ag ricultar para s em en tei r a de cereais, s ão
lavradas a charrua ou arado, com a necessária e possível antecedência, tantas
vezes quantas o costume preceitua, a terra precisa e a semente exige. C a d a
lavrada ou «ferro», tem nome próprio, s egundo a ordem cr o n oló g ica e propósito
que a motiva.
D ã o-s e e íe rros» de alq ueive e «f err os» de s em en t ei r a . O s de alque iv e, repr e-
sentam a cu l tur a preparatória, e tanto podem s er dois como três, ou um apenas,
- 255 -
ATRAVES DOS CAMPOS
(ti N. u $llo " .kol. d. <tu e 1. 1. nu . b.., o u. mo r. ' • • Iam duu .I ' njfiu ~õ u. P.IQulu , pu. dul, au .. t ......
({Vo a .. ",.. li m. m d• • " Io lilln• • fim d la Tuum a ..m.... m .m " 'uld• . S e' lul d., o p.lmúro .!tno. do . lq rld .e. IIj••1II
qu. u rra e i ,lo. , fo• . Nua•• u . mpre, _ t OlDO .10611.111I0 d e pudo. ou U T" em po,"lo.
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...,o
..e
~"
A TRAvtS DOS CAMPOS
- 257 -
ATRAvt S D O S CAMPO S
• • •
Armação das tornas D iz-se «a rmar» ou «aga r r a r» a terra, d os primeiros
r egos q ue se abr em num a torn a. D e co me ço, «a r m a-se»
co m po ucos a rados e, se n do p reciso, «e n di re i ta-se» a a rmação, cortando os ca n -
t os e a s cu rvas qu e fa zem estorvo a o prosseg uiment o re gular da l av oura. Depois
o gover n o vai g u ia n do a lavoura, p ara da r ingress o à s junt a s d a s u a piscola e
ai n da p ara cortar terra à s outras piscolas.
D esta man eira a lavoura cresce, «e n ch e» e avança, segu n d o a dir ecçã o qu e
lhe i mpri m e o abegão. Em regra, a vança n a p onta gu iada o u d ia n teira, e mo r r e
ou re cua na outra ap osta-na po n t a mor ta. M as em cer t as o casiões vã o g u ia -
da s as dua s p on tas e então, a lavrada cres ce em a m bas.
• • •
Pisco las D enominam-se píscolas, os turnos de juntas ou d e parelha s em qu e
se dividem, o conjunto d e a r a d os que l a vr a m n u m a determinada
folha ou torna.
A s lavoura s peq ue n as costumam «deitar u ma piscola de 6 a 10 arad os de
bois e outra de dua s a três p arelhas d e muares, o m áx imo.
Nas lavouras gran des fig u r a m dua s a tr ês piscoles d e bois, de 8 a 10 juntas
ca da, e bem assim a das muares, com tod as a s pa r el has disponíveis, como não
excedam a 8 ou 10 . Indo além dest a quantidade, chegam a com por dua s piscola s.
A o r d em da s juntas e das parelhas na com p o si çã o das píscoles, ob ed ece a
prax e esraeu íde s e aca t adas.
C ada p íscole, for mada em col u n a , tem à fr ente a j un t a do governo r es-
pecti vo, e n a re ceaguarde a do imediato subalterno, o u a de qu em o represente.
O s d ois fica m n os extremos: o primeiro, na ponta dianteira o u guiad a ; o
segu n do, n a d a tra seira ou morta. E en tr e os a ra d os ex tremos das du as pontas,
manuse a dos p el os dirigen t es, en6. le ir am. os do s diri gidos - os d os ga n hõ es ra sos
- t end o lugares cert os ou n ão, confo r m e o uso l ocal, q u e n es te a ssu nte diverge
de zona para z on a. A s sim di sp os tos, são tantos os a rad os quant os os re gos qu e
se abrem no dec u rso d e ca da volta.
Quando as junt a s de boi s formam. d u as ou três píscoles, va i lavrando
na avança da a d o comando excl u sivo do abegão, para es t e d irigir daí toda a
f aina e. sim u ltânea m en te . ir co rta n do a s p egas necess ária a o andam ento das
- 258 -
r
ATRAvt S DOS C A M POS
• • •
De ág u a s for a e de águas tom ad a s A lavo ura do arado antigo ,6ca d e e âg uas
fora» ou de «águas to madas», s egu n do a
di recção que toma em re lação à eceida» do t err eno. D e «águas fo ra», q ue r dize r
regos 8 favor d a corr en te para que as águas das chuvas escoem à vontad e para
os regatos e va les p róx imos. D e «ág uas tomadas » si gnifi ca lavoura ao inverso
da outra, que susten ha o u dem or e a s águas.
Em cer tos sí tios, para evitar diferen t es arm a çõ es, lavra m-se de «águas
tomadas », terren os haixos q ue r ecla m am lavou ra de «águ a s fora s». M as n es te
caso re m edeia-s e O inconveniente por meio d e margen s - r egos fundos e largos.
abertos em se n tid o op ost o à la vrad a d a t orna.
• • •
Lavoura miu da, larga e enfiada A m'iude, consis t e em d eixar a terra com os
r egos bas tante unido s e de pequen o cu me.
t a melhor lavoura, sobre tudo n o primeiro «fer r o» do a lqu ei ve . U s ada n o da
sementeira, carece de margens ( 1) ab ertas na s covas ou baix ios pouco ou nada
escoante s.
A lav oura larga ou aberta - r egos d e gu mes es paços os e distan ciados -
use- se d e preferência n o at alho e na revolta. Lá diz o ditado: Atalho, em que
seja com um ram alho . . . Revolta. at é com uma erreigote . . . h ) À lavou ra larga
e profu n da n o atalho, tem a van ta g em de pô r a te rra em m elhores condições d e
ser calada com os raios d o sol, n o verão, qu e muito e m uito a bene6ciam.
Nas sem en te iras de terrenos are nosos, já p repa ra dos com um bom alqueive
também se ad opta a la voura ab erta . Adia nta o se r viço e n ã o prejud ica, a ntes
con vém, excepto n a s encosta s í ngremes, com te rrenos de fác il d ese grega mento.
P or lavou ra enfiada, cl assifica- s e a d e transiçã o ou m eio te r mo entre as
d uas já aludidas, ou se ja a que n ã o fica mui to fec hada, n em muito a berta.
De qualq ue r mo do, e em todas a s épo ca s, os regos de vem fica r f undos, s e a
camada arável o pe rmite. M a s nas terras d e pouco chão , com m en os de cinco
259 -
ATRAvt S DO S CAMPO S
cen tí me t ros de espess ura , n ã o s e p ode ob t er essa vanta g em. Àí, as l a vrada s tê m
de ser s u perficial íss imas, de f u nd u ra i nferio r à q u e s e pode obter co m O velho
arado r om a no, único q ue 8S pode lavr ar. Sem em bar go. chega m a p r od u z ír
r egul arm ente D O a nos d e bo a s co l h ei ta s.
• • •
Preceitos diverso s Às j untas d evem ca m inh a r p erto umas das o utras, em
co l u na ce rrad a, pa r a na piscola n ã o ha v er i n terv a los espa -
çosos, o que parece ma l e atrasa o d espach o. S empre q u e o ebe g êc n o ta essa irre-
g u larid ade, cen sura-a grita n do : - «O h I ra p a z es : chegue m-se un s para os out ro s.
I sto para s erem ju ntas , deve m i r j u ntas ... »
Mas nas terra s de p enedios vastos, nunca as píscoles a n dam completas,
nem 8 S j unta s u nida s. Os ped r egul h os e a r r if es que a s em bara ça m e pejam ,
obriga a o des vio e di s p ers ã o . C a d a u m f u ra p or o n de po d e, com t ant o q ue
revolva t erra.
. ..... .... ...... . ................. .... . .. . .... ..................... ... .... ..
S ej a como for, d es d e q u e na la v o ura figur em muitos c r e dos. h á. q u ase se m -
pre juntas p aradas, fo r a d a s p íscoles, po r mai s q ue se a r relie o ebe àã o e p ri n ci-
palment e o lavrador. Mas t em d e se r assim p or ca usa d os reparos n a s entei-
chaduras e p a ra s a tisf ação de n ecessidades urgentes p or par t e d o pessoal.
Ànti gam ente, n as lav oura s d e me n os d e d ez a r a dos, en qu anto um ganhão bota va
fora co m a junta para s e agach ar , n ã o s aia o u t ro po r a ná logo motivo. O que
tal pretendesse ti nha de esperar p elo r egress o do compan heiro . .. Hoje n ã o se
olha p a r a s emelhante s nin h aria s. P ersiste, po rém , o co st u m e d e n ing ué m sair
para be ber o u f u m a r. Q ue m apeteça á gua o u pretenda faze r o cigarro, t em de
a guardar pelas a g uad as. S ó pode d eix ar o arad o, s e por acaso lhe aparece um
ch egadiço. que o q ueira s ubsti t u ir. E às v ezes apa recem: ge nte que procura tra-
balho, co nvalesce ntes em passeio, o u t ran s eunt es q u e saem d o ca m inho para
con v ers ar em co m o s parceiros da ga n h a r ia. A d v en tí cio s de ocasião, que n ã o
de sdenham d a r m eia d úzia d e re g os com O arado do a migo pred tleto. Cheg a a
s er d a co rtesi a u ma a juda ainha de se mel hante n atureza. O ajudado 'reco m -
pens a- a , puxando d a petaca e faze ndo um cigarro para o amigo e outro para si.
Ciga rros s r a udos , sem vislumbres de sovinice. que os d ois a cendem e chupam
como g u losei m a d elici os a . E. d e t och a acesa , a mbos caminham a trás da j u nta,
em ca vaq ueira í ntime, regal ad o. com baforadas de fu m o q u e a tira m ao ven to . . .
..... . ................. . ........ . ........... . .......... . . . ..... . ... . . . ......
N a la vo ur a co m o u r ad o antigo o ganhã o ca m i n ha e ~uia d e den t ro d a
terra re cém-la v ra d a. seguran do o ee ban ejo com a mão que lh e fica de fora e a
a guilhad a co m a o ut ra . Na d e cha r r ueca s eg u e-se sistema o posto: o homem
a garra e g o verna a re b íce, caminhando da parte d e fora .
- 260 -
ATRAvtS DOS CAMPOS
- 26 1 -
A TRA vtS DOS C AMPOS
E n éeera-s e a toda a h or a que seja preciso, ainda que se suspe nda a lavo ure
por insta ntes. M a s co mo n ão haja urgência maior, aproveitam-se as pa rage ns
d a s a g uadas~ o u as d a m eren da, senão a solta à norte, o u a a garra de manhã.
N a ocasião cporrun a, o ~ov erno diz em voz a lta: - «Vá de enfe rrar .. . »
E todos d a gan h enia, obedece ndo, tra tam d e s ubstituir o fe r ro gas to da sua
en t ei ch e dura por o utr o ama n h a d o. A seg wir, tran s po rta m os i nca pazes para um
(1) A,uu. como (h ll mUl t . .. p.rub•• Umh..... 111 m up no .implld..lmo 1100 bh o do ferro . Aman ho, fru dQ ~ o , mpalm,
de l;Im t U (O da (u ro. o u "'bO'. ~u blti l uJ nd o · llu a P.tll dOlulou d. por ou tra 1100... . b.tlda a ul d..da 1100 rU I.lIofa. R, mont fl•
•fp !fi e. ( Ob . U t O u tUeal. m.lor Que lIo.nhum.
- 262 -
ATRAvt S DOS C A MP O S
(1) A I ftl'U llllfIt. . .1lCOftU . - " I1UIII 01.010 li d o • • POUCOI p."OI. 0 11 01 1 o .blti o . 1 coloco" Ou IIIl ftdo u co lou.r.
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estra da. E vai-lhe dizendo q ue p rocu r e outra vida . C om a q u ela «não faz filho -
ses», à m íngua de sentid o, o u à fa lta d e opinião ...
C om O auxílio da enxó, do escc p ro, da verr u m a e do martelo, o abeg êo
efectua o conserto, substituindo a peça o u peças inutilizadas por outras novas
ou reparadas. Imed iatamente m ira e r em ira a enre ich a d ur a , engata , faz expe-
riências lavrando u m pouco, e efi na l, certificado de q ue t udo 6.cou bem, recolhe
as feuamentas n a a lcofa e encam in ha a j unta para a eboce> da torna, onde a
deixa proota a enccrpo re r-se na piscol a. Em contínuo va i ocupar O se u pos to
na lavou ra para q ue o ge n h âo siga a la vra r com o a r a do q u e lhe conse rtou.
Antes de se separarem, ebegão e gsn hão com entam o a ma n ho e as co nd ições
da madeira empregada. O ca rpi nteiro t ambé m é objec to d e referê ncias. boas ou
más, segundo o co nceito q ue lh es m erece. E.m r eg r a. apo dam-no de trapalhão o u
empreiteiro.
. ... . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . ..... . . . . . . . ... .
As peças e acessórios de madeira que compõem os arados e charruas,
ga s ta m - s e e par tem-se com o uso e O embate de co ntingê ncias mais ou menos
inevitáveis. C a u sas f req uentes. a esca brosidade dos te rrenos. os descuidos do
pessoal , e. por vezes, a i mpa ci ên ci a do gado, q ua ndo n a primavera es tá go rdo e
a mosca o apoq ue nta.
O arado (dente). a lém de se quebrar por gasto, desde nta-se e parte-se com
os impulsos que sofre. sob ret udo q uando o fe rro anda largo na pa rte traseira
dos polegares.
O timão, ou. melhor exp licando, a garga n ta , q u ebr a-se nos topes das moitas
e das pedras, quase sempre pelo bu r a co d a e t e ir ô», se o tope fo r direit o. S en d o
de to rcilh.ão, o pau estala e fragme nta -se n a l iga çã o com a pont a, quando não
sucede partir-se a própria ponta também . j un t o da vi ela que ampara e em palma
com a garganta.
A ponta quebra -se pela causa já a ludida, ou em resultado de um d os bois
lh e cair em cima, empurrado pelo compa nheir o, ao passarem por u m estreito
acanhado e di6.cultoso.
Quanto ao rebenefo, é o que está menos sujeito a azares. sendo também o
que menos se gasta. Só se parte ao impulso de pancada fo rte ou tope brusco, se
a mãozeira se escapa ao sanhão. o u se este é forçado a abandoná-la na passa -
gem por algum en ta lã o d e d.ifícil a ces so.
Restam as sívecss, que se detioram e in ut ilizam em q uantidade muito
maior que tudo mais. D a q u i que dali, o abegêo é cha mado a pôr e iveces,
no que se não repara muito por serem apêndices de p o u co valor. que se gastam
e partem com facilidade .
... . . . . .. . ..... . . . . . . . . . ... . . . . . . ...... . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . .. . . . . . . . . . ..
A cautela ou negligência do pessoal i n flu i bastante na conservação e d ura-
ção d a m ad ei ra. e s pecialm en t e dos arados e d os timões. Por isso algu ns
l avrador es u sam paga r mais 10 reis p o r dia a cada homem que não faça l en ha
da s ua respectiva enteíchad uea . E.stimu lam-no ass im a maiores cuidados, e
ATRA vtS D O S CA MPOS
obtém- nos em parte, com as eq u iva lentes van ta gen s, mas nã o t a ntas como rea l -
mente se podia conseg uir. H á ga n hões q ue em não l h es a gra da n d o o arado o u
o timão. pa rtem -no de propósito, com .fingido descuido. no primeiro ensejo que
se lhes depare. Mais : nos di as em que se pautem m uitos a r a dos.. mofam do
caso, e sorr identes dizem u n s para os outros : - .Grande esnoce fizemos boie i. . .
Baia um a eSSSTna Ch.8 / •. . Te mem, se não fosse o gasto, sobravam os car-
pinteiros . .. »
.... ........... ..... ....... .. .... .. ............................... ... ..... ..
E ' uma despesa impor tante esta da madeira cons umida na lavoura. E nas
terras de a reia, sobe co n si der ê vel me nt e, po r limarem como n enh u m a s, a p esar
de se lhes aplicarem a rados, timões e aivecas dos mais grossos que se alcançam.
Nos terrenos de moitais de ptorno e de ca r rasco, também se q ueb ra made ira
em percentagem g ra n d e, máxime se O ra i za m e é basto e pouco vi sível. como
quando as moitas estão cortadas de Iresco, que não mostram rebentões. Aí, co mo
falte a ce u re la , o a r a d o prende de vez em quando nas raizes q ue encontra , sendo
facílimo partir-se com a força que o gado faz para O libe rtar. O ge.nh ão cum-
pridcr, evita o embaraço, levantando o a r a d o ligeir a m ente ao passar pe la m oita,
mas de modo que o rego não fiq ue interrompido. O preg u içoso, em vez d e
alivia r no momento preciso, inclina O cebaceio pa ra o lado de menor resistên ci a,
de maneira que o ferro e o den te resvalem , saindo incólumes. E': artimanh a
có moda, posto que inaceitável. Com a inclinação da e nteíehadure, interrompe-se
o rego e faz -se camalbão, coisa fe ia e imprópria. Mas quer se leva n t e o u incline
o arado, este nem sempre se move a tempo de evitar que se pren da e parta, ou
qu e pelo menos fique preso, es ta ce ndo a junta . E também se observa o contrá -
rio: não para r a j unta e a cepa estoirar e ar rance r-se , prosseguindo a l a vour a
sem prejuizo, graças ao potente esforço dos animais e à resistência da entei-
taichadeíra.
O estoiro e arranque da cepa por semelhante fo rmo, considera-se um feito
notório, que o ganb.âo celebra jubiloso, exclamando : - ((Eh bois va le n tes I. .. 111
N "a h ipótese de o arado prender sem quebrar madeira nem levan ta r r aiaes,
o ganhão, acudindo a tempo, socega a jun ta e ameiga-a assim: - «Oh I aí . ..
oh 1. . . Atrás boi. .. atrás.. . » - E bate-lhe as palmas, atirando-lhe para a fr ente
com uma pedrita o u torrão. Se estas artima nhas falham , intervém o ganhão da
junta imediata q ue, voltando -se, acena 80 S bois desobedientes, obrigando -os a
recuar. Em os bois recuando, o arado solta-se com pequeno esforço. M as se por
excepção, persiste encravado, com o ferro espetado até a os polegares - o ganhão
respectivo pede o auxí lio dos camaradas, q ue em tal a l tura acodem, mas chas-
queando-o pelo i ns ucesso . O ins ucesso e a troça põem- no corrido. porque a
interve nção dos companheiros constitui vexame e iné pcia . previs ta e punida
com a perda da boia (I ) o be nefício da gan har ia, na pri me ira ceia de carne.
(1) A lJ:aal cUII.o fiu lujc ilo n, C1l1 q,unto tnta di .oltu o an do, d.lxa uir a 1'lIllhlda ou I a ba nd o n a , . m ..n dI
I ...."1"01111" lO pllto. d. , o",to PUlO I" ." p' "'I tun , como' dI II'n 1l1. Q "'I umllh.ntu c u tl.o' - di •••.. CID abono d.
u ldad. _ 4.11 11. Il."'Dca do a plicad o• • E m . er al Eal.-.. nll". PU"1IIO di tt'o çU" O. d.1I IlqIlI 1l.1U .
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AT RAvts DOS C AMPOS
(l) A arrlUud4
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xr s xvzs D OS CA MPO S
A LAVOURA NO OUTONO
N ã o há época de maior int en si dade de la voura do q ue a desses lindos d ias
do ou t o n o, q u e decorrem desde o S. Miguel at é p rin cí pios de d ez em bro. É a época
das seme nte iras dos cere a is e, simult ân ea m en t e, das la vr ad as defini tivas qu e as
a n t ecede m . É enfim, o p rep a'ro da s se a r as n os al queiv es e queima dos d a s h erda-
de s e fe r reg ia is. Gran d e Hd a, n ã o h á dú vida . Lid a a fa nosa que e m pr eg a todo o
gentio d e jei to e t od o o ga do q ue sirva . Q u em t em f or ças n a cha velha a provei-
ta- as a vale r , p ondo em t iro o m á xi m o n úm ero de a ra dos. M as nã o basta ser
m uita a uciierie, P ara o trab alho lu zir, cerceia m -se a s h ora s d e d escan so, r edu -
z em -se a s folgas (I ) e aviva -se o pa s so do ga do. Tudo se co n j uga p a ra se fa bri-
car em a s te rras a tempo, ao im pulso d e esforços t en acíssimos q ue tomam a
atençã o de toda a gente int eressada, d esde o la vra dor de grava ta a té 80 ch a r epe
de aa ragoça, de sd e o e begã o de « mãos g ran des» até a o ga n hão «de man ta às
costa s» . S ó se cu ida de lavrar, de l avrar muito e semear muito. A seara é tudo.
P or el a deixa - se t udo.
N este propósi to o lavrador alh eia-se dos o u t ros r amos da sua p rofissão ,
pa ra a te n de r p rin cip a lmen t e a o and am ento das piscoles. C om o possa , n ã o l arg a
os arados, a o bser var- lhe o despach o, a v ê-los «d es p ej a r » t erra e e nterra r
sem ente - a een ch er era» ca n t os e torna s, prosse guind o impávidos para um dia
acabarem. Quando ch egará ess e d ia? - interroga p a r a con sigo o lavrador.
E como n ão saiba responder d e Improvis o, faz cálc u lo s, estabelece confrontos e
tira conclusões. C onclusõe s vári as, q ue p or fa l ív eis e opos t a s que sejam, n ão O
desviam d o fi m almejado - conclui r as la vradas e as seme n teir a s a te m p o ével
e n ão «à noite», por assim dizer, já quand o a s ch uva s do Natal lh e t êm alagado
os terre nos. A ideia de a cabar cedo. se m faltar à t erra com os s er viços que l h.e
sã o dados, domina-lhe o cérebro. E. emp en ha -se n este des idera tum co m sing ulax
afinco. Se o consegue, im pa de satisfação. C o m o sej a va id oso, cr esce- lhe o rego-
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ATRAvtS DOS C AMPOS
patenteia n ítido e r eal. com o um formi gueir o tenás e 'in ce nsé vel. nin guém O
presence ie de perto ou afastad o. que o nã o ob se r ve atent ament e. É um quadr o
d e gra nd e r ele vo, qu e nunca s e ol ha co m 'indiferença. Á lu z d o sol outonal e
em p lanuras d esembaraçad as, ag're da v er o d es6lar d a s j u n t a s a pass o ce rtei ro,
de cabeço. ergui da, a puxarem o e re d o e a vo lta re m ter-ra , s e m p r e o b ed i en t es
aos ga nh ôes q ue os g ove r nam e gwia m.
* * *
Fantasiemos que n os t r a ns porta m os 8 um m ont e. se d e de l av oura, aí 8 0
r om p er da manhã de um belo dia de outubro, pr e ci samente à ho r a d a ga n h ar ia
sair do monte, d epois do alm oço, em atitude d e ca m 'in har para o s arad os .
Supunhamo s q ue chegamos lá e que, a s eg u ir, aco m p a n h a m os o pess o al e as
pare lhas na s ua marcha p ara a lavoura e aí p erman ecemos d epois em obs er v a -
ção durante o dia . Imaginem os isso e vejamos o qu e s e passa.
Ganharia e s eus dirigente s estão almo çad os com a t r a d icional açorda. antes
ao amanhecer. (s )
L ogo que s a em d o almoço, um ga nhão qu a lq uer toca o bú zio n o terreiro do
mont e. fazend o eco a r s ons e gu díss ímos e intensos. s i n a l de pr eparativo de
marcha, p ró p r i o da época e d a h ora. (2 ) E,. o segundo s in a l, que o p rim ei r o
reboou for te e ch e io. qu ando os g a n hões se ergueram das tarimbas para irem
almoçar. Antes e depois do almoço o búzio da g a n h a ri a vibra s onor o e retum-
bante por diferentes vezes , correspondendo a outros qu e se o u v e m da s herd ades
p róx im as. E,' um despertar à vida. queb rando o silêncio da m anhã, a i nda
envol ta em t r evas.
entrement es, as p arelhas s aem e e ngata m . e o s home ns procu ra m muni r-se
da co pa e d o s a pe iro s. (a i Un s mi nutos m ai s. entr ecor tados por dito s e pa r o las
com a cigar r a da da praxe, e tudo s e v ê em a cçã o de sai r . D á o e x emp l o, o a b e-
gão e o m e'ior al da s m ula s, pondo - s e em mo rcha para o lo cal do t r a b alho .
S e a lavoura fica per to. t odos caminham a p é; s e, p el o contrá rio. cl.íst a u m
pouco, segue m n os ca rros. A pé o u d e carro - a p é qu a s e se mpr e - a m alt a
ca minh a sem preo cup aç õ es v isíveis, ant es salien tand o- s e pe la lo q u a cid ad e fa ceta
com que abordam vário s assunto s, à me dida qu e vai cami n h and o. A princípio
os idosos t omam a vanguarda e vão nanando a s suas p ro eze.s d e ca lg um dia ».
que é como quem di z - as s uas façanh a s d a mo ci dade - al gu m a s fan tasistas.
muito exa geradas. Eis uma a mostra :
- ..I sso é que era m tempos I ... Havi am h omen s e faziam-se acçõe sl . ..
A mocidade de a gora sa be lá o que é trabalhar I ... Un s fandan g os. .. não pres -
tam para n ada e gan h a m d oi s d obro s d o qu e a ge n t e ganha va q u a n do e ra como
(I) Sobr.. o al moco" ponae n.oru ~on.l .. t1TOI. "di '" o . n l, o - A II", ...., . c'o - ... p" h.. ln.
o
(2) t040. dOi búriol d. mldno• • d •• • 0 101 1I01to olt., . .. IU • d.poít d. u la . , o.. c olt um. el a .. .. a la lIrl.. -
1I,.lmou... I. frl'aul. d. S. 1:".1611• ••rr ed ou .. M.. o..• ai' •
lI ~II " IIO '''1II110 d. . .lIl.... uíra. "" PU" d.. di. de SaMo• .
(a) A cOP" ~o",I. de jaq au • • et.1I0U . ,,' iiu. 1I.Ueo • h p.-~ .. . o • • lIe16o. UllU .... t . lIl o ~ orru ... . ~ O ... q u.. puad.m
•• j ll a . . . 10 n.do.
26!l
ATRAv t S D O S CAMP O S
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ATRAV e s DO S C A MP OS
(II A,einr .1"",i6u. p"r ",a U rl" a • u ",...l bo. o a pch o. ai com ein . . .. br ocbn. 1. 10 ". Iodo o coun a>. com <:lu,
o. boi• •• pre u ' a> j. i l. a> .. u"' • .
A ...I. lcb . lI, do. bol . ir o• • •,.ind. p.lo ... " hl 0 4'" Ibu nn. d. ap.inbo.
<,) Em d"u.lJ>.d•• ~o"'... . p. b io dOi boi. 1 UII.. . . ob .d.c. .. PfaX' d. cad. boi ..!t cnou d. 10" 11' 'a> u d. di ••
pu. 010 u ... ' fr .lTo.- p.u. II b .bho • .• a> • IlTnr do I. do dlnlto • do u<:l"udo. A nlm o q". hoJ ' foca 1 dln lu. l mallb.i
pu.. p.u • 'l4and• • o d ,,,..d. pu• • direit• . Como IlIdlucl0 oh. d. ud. urd • • • C.II". fica . oco.t ad••0
tI . .o. cOm" ' 0111" do. n lho. 'O'oltad ... pu. o I.do opo.to ao qoa bcou lu d•••uulor. O lado ladlndo pa i.. po"'t..
.lo. clUl..alboa " O <tu. ptlm.lro II , r ..acb. cOm o boi conuPoDd.al• .
(J) COID'C" II cllulId. qUi 110 b ot .. d. com.(u. S.a do udo. alo 'lIu", . . u , ulda .. . ,.rn . mu , ....do limpo.
r..lutul1o. pu , l' 1I o nuco.
(4 ) A 1111 IlIp,ilo u i.-u o cOl:lllud o do ptrlin fo - Ho rn de . , . rr . _ li. p" lo. 2$t.
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~
ii
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.
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h l SObf' •• "" lu d.. lIIulbu u ' 0' 1.0111' '''. Id. · .. o . tti*o - MuI/ate, - n . p'tin. 93. O. hOla. D' .6 di o t.. ;., u
lIIoJben. 4\O'Ddo ...d. 1II .. Infu. NOOlf O: ' Cl ud . qllCf "fri~O' 'io ID. illll..l,,'• •
h l Pau o. boi. dIlCI.D. ualll.
{,l F."'" d. 1110 COIII . obcjo. d. u. 1. OP d. lII. rl ad • • COlDO ., ulli o. loucill bo. Ilc.
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Ab egão e g anh ê es, m al O re vez o se espalha por e n ice as »iscol es, como
que a entregar-s e à cange e ao trabal ho, p aram e so lta m os animais que t r a-
zem, passando a a ga rrar os recém-cheg ado s.
Os a lmo cr eves tamb ém s oltam a s par elhas, n ão para re ve zar em, m a s p ara
irem m erendar. S ó o m ai oral dos bois se co n s er va n a esp ecta tiva, de cacheiro
às cos ta s. de p é, atrá s d o gad o, ob ser va n d o- o cu ida d oso, p a ra q ue nã o f u j a à
prisão. Nesta a tit u d e g esticula . i mpe rri g a -se e d á i ndica ções s ob re os b ois e
n ovil h os q ue s e hã o-d e p r en d er .
- . O h I mano Z é I então q ual a garro h oj e? . . l'1 - p er g u n t a - lh e um g n.n hão
d esastrado, qu e bota a baixo os bois que lhe con fia m .
- «Hoje responde o boie i ro - já que d este ca bo do Foloza e d o Pintas -
-e-
silgo, entrego - te o Traidor, que não seus p 'rl1'i assim. Se o botares a terra,
como ós outros, prégunts v i d a n ova .. . Noss'emo, p a ga-me para olhar pelo seu
rem édio ... » E, v olta-se pa ra d iferentes q ue ag u a r d a vam instruções e di z-lhes:
c- e'I'o, Camoezas, aga r r as o Maranha que, que é jeito so p ara o novilho ...
E tu. Assorda, deixe s hoje o Vinagre, que anda estio, e b ota a fa te ix a ó Capi-
t ão, que está de boa vida há uma semana . . . »
O s da lavoura aceitam as indicações do boieiro, e este, prossegu indo, ex cl ama
sentencioso:
-«I oda estão quatro novilhos para amansar. Vamos lá ver a que m
tocam .. . » E chega -se ao ab eg â o, ou o ebeg ão a ele. co n fer en cia n d o ambos,
baixinho, sobre o assunto a nunci ado . Pronto s e entendem o s doi s. e, a seguir.
ou n esse entretanto. oferecem-se ganh ões para a mansar o s bichos. Se n ão h á
ofereci mentos voluntários, o bo ieiro a lvit ra. até o encargo s er a ce ite p o r tantos
.ganhões q u antos os precisos para as amansiss . . .
D istribuido s os novilhos, O maioral fa z-lhes a apolo gia no s seguintes
t ermos:
- cD Torradinha, com que fice o Mu eeela, há-de satr letra asse ada.
"E,' *ra nde e tem m uita pe le . . . Aquele amarelo. carapito, que vai pr'ó C ant iste.
é le ve como u m pássaro anda sempre encabritado.. . N ão tem muit o co rpo ,
m as rij o co m o canel a s O barriga na, borqui lho, que escolheu o Filhoz es, é
(I ) T co"... pU. o euo o , 1.t. rIlO. d. 1'1'Quc. d. ee.. n o . .. i o o d• • 10 , . 10. pOCQ'u. o 0.0 do rlTUO i .... oel.lm.M•
•10.t_ioo. Do U .1....10. Q'1t. t bim .. ut.l .dopu...do moho. 'OCOMn o l"fO• • uGel f" rdnlacl .. a o uti ' o - N..
• "rAi...,,' .rlo .I/.- a. 11....1 2$ 1 • ll OO UO COm • • plt•• f. - Sio,cI" .. . nu". _ n' ' !In 249.
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rei da baralha .. . Vem da r aça do Poeta, aquele boi maior da junta do abegão...
S e sair bom, h ei-d e ajuntá -lo co m o meu... Verão vocês a ju nta faia q ue d eles
se faz . .. Olha lá, oh Cupido. t u que o aga rras, p õe- lh e Brilhante, para calhar
com Diamante. nome do m eu . . . (I ) E a gora, r a p a z es, ten ham sent ido e astúcia
com todos. . . h a j a cuidado, se q ue rem sair-se bem da acção... B onda q ue D O ano
pass a do 6cassem dois ren didos. . . M a L empregados I . . . S em pre f utu r ei q ue
encascassem . . . mas q ual his tó r ia I . . . »
O S exortado s r esp ond em:
- «Isto é uma sorte . . . O s n ovil h o s são co mo as be la n cias: só se l h es
co n hece o vido nho, d ep oi s de se e bei eem.e
Cer t o ganhão b rioso, que estava de parte, di rige-se ao bo ieiro, obser -
vando-lhe:
- «O r a. m an o Z é, se vccemecê q uisesse, aj untava o m eu n o vilho, co m o d o
Guelas. .. E m parceiram bem dão um a junta real. . . ver á . . . »
- «Não m etem mal. n ã o P ois ajunt a- os. •. To m a tacto co m eles. .. »
Ainda o m ai oral não t i nha co n cl u íd o, já o u t ro ga n hão l he fa l a va a ssim :
- «Se m e deixasse m, ta m ém eu I e ai a uma ajuntada : o m eu com o do
MaD te'iga s I .•• »
- «Nada, nada . . . deixe mo - nos d e mais a ju n ta da s . . . » E a m eia voz,
m on olega em tom de ce ns ura :
- «Não têm astú cia pa ra u m e já quere m dois.. . Nunca v ê em lobos peque-
nos. .. Baía u n s impostores 1. . . »
O pret en d en t e embucha e n ã o insiste, r enunci and o a educador de juntas.
.. . . . . .. . . .. . . . . .. . . . . . . . . . .. . . . . . . . .. . . . ... . . . . . . . . . . . . .. . .. . . . . . .. .
Demora a agarra dos bois e dos novilhos, porque a dos ú Ltimos de m anda
trabalho e arteirices, que s ó s urtem efeito à custa de manha e de paciência.
M a s co m geito e pa ch orra tud o se consegue, embora haja trambu l hões e corre-
ria s, inte rcaladas per incidentes e peripécias q ue não vêm para o caso, po r
t er em ca bida n outro lu gar. ( 2 1
Às juntas, uma vez a garradas, co n se r va m - se de pé, ag uard ando submissas,
pelo l a b ut a r da tarde, qu e pouco demora rá . S ó revelam indisciplina as dos
n o vil h os da amansia, não qu ebrados de fo rces , nem domados pelo ensino.
N ovos e indóceis, refiLam e barafustam contra a prisão, posto que não
consigam libertar- se , o q ue os exaspera, explodindo-lhes a rai va em pulos de
co rça c berros espumantes . Pulam, berram e correm, arrastando a en tei ch a d u ra
( 1) o" olllro cãama U lI ao 110.lIb o qllc tr. . d• • m . IU/.. .. (o porqu u ja propri edad e d.le. mU por pu ta.. cer " j ll.. t..
1:0m qu. Ian• • O . ' I a b õn t a lll" ' lll dlum . - .0..... "u boi •• • ... ,,,10. j ll.. t • • II me.. (1 0.,1100. etc•• t. \110 'tu 1.
b) No u pl lll.l0 - G.Jo, - • II. par te l".,pdl."I•• 0 , .do . 'n .......
- 216 -
ATRAv t S DOS C AMPOS
t d S obu • •ar . .. a. o... ,.f.l ~io do nu lo di., nj. m- u o. po r••n or .. lJUu to . D O upho.lo _ A U••"'er io - n u
" " llIu llJ • 11. e t Ullbi m o p.r' ,nfo - N., rnneoJu . 0 mdo dl o - II. P'ai"o ::52.
Q awo .. lu o u u fond oll.UIl pr6dlllo d... oldeiu. .. mu llaar .. do . (,[ a e 10fTom . 11"111 Ir .0' a n do•• d e n ua. a
pOllol. ... caL_ca. com o ollao . ofim d. J. n t u . m co m o. m ul do•• lillao•• O . laomell' co••m ...Im • l U.. eOlt., III" uelblm
do .b_Aio 01 murocuu a o (,[u. llo etUI lla.. "UUDU . Eola cOltum. i;.. . lmellu u o bun o IlO' do min,ol (,[ne fOI I." ra.
r. ...110 .. 1Il...1b.an. nio II prenda m com dlot illeiu. Vlo ollda o. mu ido. a u eI. m ati • 10ll,lIuda d II etoil 6 mu rot.
V.l •••.. .. ,,"*1.... 135 a 1116 - Co" um... ,lu C.... p ón io' - u li,o - VIJe dOa> b tlc••
- 21'1
AT RAvt S D O S C A M P OS
- 278
ATR AVt.S DOS CA M P O S
meir a da tarde e a terce ira do d ia. D ecorre como a prim eira d a man hã.
demorando vinte a vin t e e ci nco m inu t os.
Durante a para g em, os n o vilho s m os tram-s e fatig a dos, a arfare m com
violência, es cor ren d o-lh es o suor sob r e a p ela g em espessa e fu lfa. N os fracos, o
cansaço é enorme e angustioso. Dá p ena vê -los a escencere r em a boc a . de líng ua
fora , espuma ntes. Alguns d eitam- se re n d idos e ex t enue doa. Outr os, r ecebe m
carícias dos h o m ens que os am a nsam , ca r íci a s n em sem pre aceites, ante s r epeli-
das com assopras e marradas. q ue suscitam r isotas. U m a pândega.
279
ATRAv t s D O S C AMP OS
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•
ATRAvtS DOS CAMPOS
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AT RAv t s DOS CA M P O S
h ) 01 Cll"ulro l do r mcm n a CI...luiça d .. mu i.. pln tntl um .. p anl h ... Ani ta d ll rl colhar lm d . fin lth llllllltc, . 10
aTiu·.. di nç llu pln o , • .10, ' " d a o m . io ra l n Clh u o rdlln l do amo, co mo U II fuld a .. o mo .. t e. VcJaZlll -" .fa , ol l - C.....
lar"., - • • .,6, 111. 11 - A _iJ. 00. montc' - n a p" ln . t9 - M' io"l J ..... ,,1•• e u rr ei , o, - nu 1'"I"u 1" • 71.
(,) A u d nh . cllll.. ..d. d o ah e'io, , u ,c1o ll... dutl • do l a ti . V. j a· u a I'" la. 20 .
(:5) AI urr u pr 6.,r1.. p Ua Ido• • cDrch aro l . n . ,na d.. mai oria .lo. CU OI, dm ..p.a .. . l,um.. mail.. d i plo, .. o 00
ca n plltalrOI . S lo Ut.. mottt l qOI 'enl me ntl li um por car l." 1m ohedl'ael. I uma anli' l cofl u md n. S e,un d o • f-n dl,l o,
o. P"'I II chlc haro. u ml. do. eZlll fun du moita da d o pio rno . me l. m co... m alo f fI.cllid I.dI.. prod .. a1a do pouco. mil. to Olll"
. upenti çi o infund ad a, quI. 01 f. ctol e • u peri . .. ei . du ment. m .
282
ATRA YE.S DOS CAMPOS
- 283 -
ATRAvtS DOS CAMPOS
• • •
E mb or a se desmoite desde o :6m da sementeira o utonal até «cabo de maio».
é sabido que o período intenso da desmoí ta, decorre na época do ve rão. e,
sobretudo, depois de se recolherem as palhas, avançando pelo «5 . Miguel. fo r a .
Em regra faz -se a desmoita com a ganharia. Mas se o se rviço é m uito e o
tempo aperta, mete-se pessoal estranho, ajustando-se por empreitadas «a
homens». Quer dizer, se a limpesa de uma folha for avaliad a em 100 di as d e
trabalho a um homem, contrata-se a empreirede por 100 homens, o u sejam
100 jornais, à razão de 120 a 160 reis cada j ó.r na] e as competentes comedorias.
O trabalho da desmoit e é dos mais violentos do campo, principal m ente
nos dias grandes, calmos os, em que o trabalhador maneja o enxadão, escorr en do
em suor, acurvado e cob er to de poeira, desde manhã ced o até pela noite fo r a,
descansando apenas à sesta e às h or a s de comida. N ão obstante, paga-se poe
salário baixo -120 a 160 r ei s e comida , é claro. N ã o há dinheiro mais bem
ga nho .
- 284 -
A TRA v t S D O S C AMPOS
•
desmoitas de rastolbices e pousios para q uei m a dos, co m destino a searas d e relvas
- cà fs eu ' - o mato cor tado, n ã o s e ju-n ta, a ntes se espal ha , d e mistura com o
rastolho e pa sto, para m elh or se car e a rder . N esta hipótese, os ter re n os g u e r-
dam-se do ga do, pa ra q ue o pa sto fa cilite a quei ma.
E strumes e a d ubos
Entre os preparos cu ltura is, nen h u m se panten t eie mais va n t aj cso e e:6. caz
do que o da estrum açã o e adu ba çã o d a s ter ra s . À s u a utilid ade r e vela-s e a
cada pa sso ; é t ã o conhec íde, q u e n ão carece d e d emo ns trações.
Há mei o sé cu lo, est r u m a va- se um terço d os terr en os qu e s e est r u m a m na
actualidade, donde se infere qu e tamb ém n este pon t o a agri cultura t em adian-
tado e progredido.
Nos tempos a n tigos e n as p o pu lações ca m pó n ias, era corrente di z er-se que
os estumes escaldavam a s terras, e Aafa va m de er va a s seara s. Fosse por i sso ou
por desleixo, a s estrumeiras a cu mula vam -se e estr aga va m-se n os a rr a bald es
dos povoados, e até em al g u n s m on tes , d u r ant e anos, como coisa i nú til o u de
insignificante valo r. Nas povoa çõ es ning uém vendia es tercos, à falt a d e com-
pradores. E. qu em tinha on de os a p li ca r, descuida va disso o u apli cava -os sem
critério nem ccnfianca, a pa r t e exce pções h onr os a s.
Precon cei t o se mel hante ha via ta mbém a respeito d os estrumes d e ovel has
no pino d o verão. Embora os a ntigos l h es r econhecess em a s ua ben éfica e6.cáci a
nas outra s es tações do a n o. n ega vam- lha re do n dame n te n o pe ríodo estiva L
De ju lo.., a fi ns d e a gost o, ent ran do p or sete mbro. o ga do Ia nfg er o nun ca
reccl bra aos ba rdos , d ormind o à solta o n de calhava n a s vo ltas, ma lbarata n do
ester cos e urinas.
A gora já se pr atica d e mo do dive r s o. Os reba nhos Ie na r es, n o est io, reco-
lh em a os bardos na s po ucas h o ra s que repou sam de n oite. Claro est á que a
pr odução de estr u me n est a s h o ra s. é po uco t a m bém . Mas po r peq ue na q ue seja,
repetind o- se em 70 a 80 dias s eguidos, repr es ent a uma qu a n ti da d e co nsiderável,
que se n ão d eve desprezar. E, já não se despreza , p a ra h on ra e proveito do
lavrador.
N a s aldeia s, d espe r t o u igualme nte o inte r ess e e ze lo pelo aproveita me n to
Cd MI" dI II 4Il l l111 U I .IIl .. nuolLl cu . IU1U .IIl _II 01 11'IU.IIlOI confinlal " com pU ll tc n. cm p ulao . c blm 1..lm
"' , h dn Ilrf oUI 1:dII",UI no IInlno I 4'l1 c!m lro OUII aULD l lr . , .uu/ulI> ·'c II p n U i f.n l I o ...... ond o.
- 285-
AT RA v tS D O S C AM POS
• •
O s es t rume s p ro vê m das montureiras fe it a s co m d ejectos d es perdíci os e
d et r itos d e tocla a ordem , e d os exc re me ntos e urinas dos r ebanh os em bard os,
ap r iscos, ro dadas e m s.lhadios.
- 286 -
A T R A vtS D O S CAM P O S
d tof.. 'pou do rio b li qu..m ..d Opl .. o .ll l".m.. d. mudu u b n dOI d ... OYl l b ... d. do i. tm do ll d i... o , .. do pu ·
. ......, .... tio ' OIlCU .. or o ee eeeee , o, II ICU O, Y.I.lIl m t llO' ' . POrt ....IO. n,ul'-U 11l,,,lif lclltl .. UtTv.m.d .. d .. um ...6 .. oh. ·
(sI O ,.do J....~.,o, ... pd m ., I do bndo d.p ol. d.. fiOU b or .. da m ...Iü. do .6 por ur comida UIl .bu.. di .
dI. 110 UIll PO. o(V.I. dqorn u O . . w lu prin dpallllrlll,. p.. ra lIio CO"lU . . I n u u mrdr cid.. P • .!. ", .ul. ou on.lh..d .
t CU"(' " r..l 'to.... plJlcl.Il'a clo do. I. .. ta...o. , d. "'.lIbi •• " 4 0.,1(0 hli ' n da ou ", ud• . pudbp l5. ai , . . . . .. do.uça
da '''fI",lIA•.
_ J
'18-
ATRAv t S DO S C A MP OS
S8S,even t uais e i m periosas, que s u rge m fre quentemente, entra vando p ropósitos,
gore cdc previsõ es. E.m prime iro lugar h á que ate nd er 80 pass adio dos animais.
S endo medíocre ou defi cien te, 05 es tr u m es escasseia m e a t er ra fi ca m a l estru -
ma da , tendo q ue se redu zir a s ca nc ela s, o u r eta r da r - l hes a mudança , passa n do a
ser de dois em d ois d i a s. em lugar d e to d os os di a s, ou u ma so mente, se o
costum e da ép o ca f or de dua s vezes por d ia . C om pa ss a d i o abundante d á - s e o
in ver s o : o u o s bardos se a la rg a m . e di cic nand o-s e-Ihes ca ncelas, o u mudam- se
com m e.is fr eq uênci a. O tem po t amb ém influi para o ca s o. S e va i am eno o u
quent e, d eix a-s e o r edil espa çoso, p ara os animais fica re m à la rg a e à fres ca.
S e, p elo co n t rár io , o frio aperta e o t em poral fu stiga, e ncu r ta - se o cercado,
tirando-lhe cancelas. A frialdade e a chuva , impele os a n i m a is a co n ch ega r em -
- se, de forma qu e, se o re cinto fo r a m plo, fica em parte de vo lu to e p or estr u m a r,
co nseq ue.n tem en te .
C o m o os bardos, e para a n á logo aproveitamento d e es trumes, os epriscos
o nde s e ordenham os slev ões, a ssentam-se sobre os terrenos a lavrar, s e isso se
co ac'ilte com a situação da s pastag ens que a s ovelhas correm . N ão s e conci-
liando, ficam onde calha m elho r à s voltas do gado. O s a pri sc os a pena s se
m udam du as e três vezes por s emana, a ten d en d o a o p o u co t e m po q ue as ove-
lha s p erm anecem nel es. E ' portan to p ouca a terra q u e estrum a m. Mas era , sem
dúv ida, menos aqui hó 30 anos, qu ando 09 a p 'ris cos nã o s e m udavam, o u muda -
vam p ouco . p ermanecendo n o m esmo sítio em t cde, a época do o r de n ho.
...... . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...... . . . .. . . . .. . . . . . . . .. . . .
Tendo em conta os d etalhes co ns ig n a d os, e con sider and o qu e t odo o lav ra-
dor de importância dispõe, pelo m enos, de um rebanho l anar, h avendo muitos
com dois, t rê s e quatro, r eu nindo 1 .000 a 2.000 ovelha s, f à cilm ente s e concebe a
alta importância dos estru m es o vin os e a quantidade de t erra q u e f ertüizam
anualmente. Não obstan t e, t oda essa t erra abrange aí um terço d a fol ha ou
folhas em preparo.
Os estercos dos outros ga dos, b en eficiam quando muit o u ma qu art a ou
quint a p arte d os d ois t erços qu e as o v elhas n ão estr u m a m . Tor n a-s e pois i nt ui-
tivo q u e a m ai or por çã o d e alqu eive não s e beneficia, o u be nefi ci a -se com a d u -
bos qu.imicos, cu jo cu st o n em sempre é co m pen sado . Enfim, estr um ~ ... m a i s
barata e r emu n eradora que a da s o v elh a s e carneiros, n ão a h á. po r ce rto.
É d e uma econom ia e vant a gem q ue se impõe aos o l hos d os men os en te ndi dos.
Basta fri sar q u e não o ca siona despesas d e tr an s porte n em de espalhação.
Os próprios a nima i s q ue produz em os estr um es, s ã o eles precisamen te q ue os
vã o d epo r na t erra a qu e se destina m , e n a proporção que se pretende . É certo
qu e o ga do em ba rdado sofr e um t a nto n o en cerro, com o rigor das es tações,
sobretudo d e inverno. Mas ess e dano, re prese n t a p ouco o u nad a . cc m pe r e riv a -
mente com os lucros que o lavra d or au fere na m elho r ia da seara . A se a r a
estrumada por ovelhas, p rodu z o trip lo do q u e produ ziri a sem estrumaçã o ou
a dub o. Mais : o solo estruma do fi ca apto para seg u nd a s eara bc e , prod uzindo,
de futu ro, melhor es e mais abund ant es paatag ens. Quanto valem, p ortanto, em
- 288 -
ATRAvt s D O S C A M POS
r eis, os est rum es dos la n íger os, po r cab eça e a n o ? - p ergu ntará nat ura lmen te o
leitor cur ioso. Resposta : o valor real, indisc u tível, é difícil sabê-lo com acerto .
O q ue se lhe atribui varia d e região para re gião. Ao passo que em algum as
zon as r epu tam os das ovelhas a 400 reis, os dos carneiras 8 500 e os dos bor re-
gos a 200 reis por ca be ça e anuidade, mais vintém menos vintém. n ou tra s
cotam-se po r preços maiores ou m enores. confo rme o apreço que se l h es lig a e
a precisão q u e há .
Os cri ado r es de ga do ovino q ue co m pr a m pasta gen s nos olivais e esplan a -
da s de Elvas. p ara aí pastarem os seus rebanhos, cos tu m a m vender-lhes os
est ercos a os donos do s o liveis a 120 e 140 reis por no ite e gr upo de 100 cabeças
adu ltas. Tratando-s e de borregos, o preço baixa po r vi a de re gra, mas pouco.
• • •
A terra estuca da pelas ca bras limita-se ao r e ci n t o do bardo e red ondezas
- a s camas e m a lhadi os - n u m raio d e se a 60 metros. E,' u m a área pequena,
pelo m otivo de q ue o bardo per ma ne ce n um dado sí tio, desde que pri ncipia a
servir no outono até ma r ço, pelo menos, se rvindo sômente nas h oras dos orde-
nha s e da a.6. lhação. E m a lg u m as herd ad es, lo go que en tra a p rimavera, s u b s-
titui- se o bardo pe rmanente das cabr as, po r o utro ligeiro em lu ga r próximo,
que se muda todas as seman as o u d e lS em 15 d ias. D es ta m aneira, est r u m a - s e
ma is t er r a co m visível vantagem.
Das limp esas d os bardos e dos chiqueiros dos chtbcs, obtêm -se algun s
estr u m es que se amontoam nas proxi midades para se transportarem e aplicarem
oportuna m en te.
• • •
D os porcos t a m bém se ap roveitam os estrumes q u e produzem nas malha-
da s e r odadas em q ue dormem e param. Cada herdade s usceptív el de sustentar
suínos, dis põe g er a l m en t e de du a s a três m a lh ad a s, cada q ual em folha diversa,
afim de o gado ocupar a q ue fica no terreno d o alqu eive, ou a alque ivar em breve
tempo. À comida dos bâcoros na m a lhada. a s u a saída e entrada diária , d u r a n t e
meses, e o estacionamento, por horas, de manhã e à noite, na rodada em volt a ,
prod u z uma boa es tr umada q ue se utiliza na seara em p r ep a r o, sem p r e qu e é
possível. E quando s e não pode utüizar imediatamente, po r a malh ad a fic a r fora
do a lqueive, aproveita-se no ano seguinte ou no o utr o subsequen te. D a s limpe-
se s dos poci lg ões, pocilgas, cunaIada s, rebolins e ccmedoc ro s. que co m p õem 8S
malhadas dos p orcos, form am -se estr u m ei ra s que a seu temp o se t ra nspor t am
para a t er r a . Nã o é coisa de grande 'import ân cie, mas nem por isso se abandona.
• • •
Da s boiadas e vac:adas po ucos es tr um es s e r eunem, devido ao regim e m e na-
dia em que vi vem , pri ncipa lmente as vacas, que passam o ano à solta e a prado.
- 2B9 -
ATRAv tS D O S C A M POS
Dos bois, aproveitam-se os es tercos que deixam nos me ngedour a'is onde com em,
por horas, em todos os dias de parte do outono e do inverno. Mas perd em -s e os
do restante temp o d essa é poca , quando os bois comem no invernadouro, e os
que p ro d uzem d e primavera e verã o, a pastarem pelas coutadas e rastolhices.
Quem percorre os pousio s e os rastolhos, lá encontra a cada passo as bo stas
das res es vá cuas, para ali abandonadas a esmo, em maior ou menor decompo-
siçã o. a t é à s secas e mirradas, aptas para com bustível. Já n ão sucede assim às
qu e fi cam nas «ch ega das» à palha de centeio, comida das próprias alme neres,
em certas horas do dia e d a n oi te, n os m eses de novembro a fe vereiro. (t)
Os deject os das reses, m i s turados com os desperdíci os d a s p alha s, rem ove m-se
para fo r a das a lmene r a s, co m pon d o es t r u me ir as g r a n des, de va lor apre ci á vel.
E stas estrum eira s e a s o u t r a s similares, que s e r eunem n os m a nge dou r e is, em
que os b ois co m em, presos, r epr es enta m os ú n icos es t r u mes d e b ovino s qu e se
apro veitam.
, -- 290 -
AT RA V E S DOS C AM POS
S em en t ei r as outon ai s
analil e de Santa Marta. Nenhum se s em eia tanto como o de Coruche, por ser
o que melhor está pro vando, em condições de r esistê ncia e produção. O No é, o
de R ieti e o locen se, for am introduzido s h á poucos anos. como v ariedades
prolíficas d e primeira ordem, mas o resulrad o, p osto con fir m e esta fam a. demons-
tra igualm en te que ess es t rigos têm O peco d e d esbagoarem à ceifa, muito m ais
que outro qualquer. O p recoce. é de introdução re centísaima, e como t a l a i nda
se não pode apreciar devid am ente.
Os trigos moles da região elvense, são do s mais apreciados n os mercados do
p aís, sobr etu do os d a s z onas servidas pela est a çã o do caminho de ferro de Santa
E ulália. Já se têm despachado trigo. de outra. esta ções adiante, para recuarem
a Santa Ecl âlía, e da qui s erem reexp edidos a Lisboa e Porto, como oriundos e
-procedentes das aludidas e afamadas zo nas. Uma esperteza .. .
291
ATRAvtS DOS CAMPOS
Cevada Re cla m a te rra boa, bastante est ru mada. Sem estr u m es produz mal,
n ão compensando. S em eia-se quase exclusivam en te n a s vá rzeas e ma-
l h a di os dos alqueives e nos {ereagtais que constituem 09 bafos dos montes.
D iz- se que a s ua cultura não escalda a terra. antes a deixa em ótimas condições
para a segunda seara, de semente diversa, é cla ro , sea r a que pode ser tão b oa
ou melhor q ue a p rimeira .
Aveia C omo vale p o u co, fica nas terras piores do alqueive e nas r a sto lh í ces de
so lo ordinário ou m uito depa uperado. Estas circunstância e o po uco
esmero com q ue se cu lti va, concor rem p ara q ue a s u a produção seja fra ca ,
g eral me nte. S emeia m-se Brandes aveia is, mas não se colhe n a p ropo rção q ue
se semei a . N o con cel h o de E l va s, en ten da -s e. N os v iz i nh os. de B orb a e d e Vila
Vi çosa, é im portant e a cu ltura e p ro dução de st e cerea l. D a a v ei a d iz-se que
até abr il es tá a d orm ir,
favas C ulti vam-s e n09 ferragiais d os mo n tes e do s arr ed ores das povoações.
de s de o princípio de o ut ubro até princípio d e novembro, o mais tardar,
e se m p re em terra com estrume, a p r et ex t o d e 6car u m bom alqueive para
cereais, se não pega r de favas, co mo, co m f undados r ecei o s. se admite. O d ita d o
an tigo, de que pelos Eavais vereis o mais. não t e m fo ros de Evangelho neste
ca n t o do A l ent ejo.
Os subú rbios de E lvas são os sítios do con celho onde a cultura d a s fav as
vinga melhor e onde te m u m a certa i mportância, inferio r . no enta n t o, à cultu ra
dos cereais. N a s herdades, os favais nem s equer prod uze m o suficiente
para o consumo das lov ou r as respectivas, tã o pequen os costumam ser e tão
pouco dão. Sejam como for, semeiam-se «à casa» e a o rego, o u a granel, a lanço,
à semelhança do que se pratica com os cereais. Eete último sistema é inovação
r ecente no sítio. O outro. antigo. «à casa» e ao rego, ainda é preferido pela
m a ioda dos la vr a d or es . Um arado vai abrindo o rego; atrás segue o semeador
res pectivo, de cesto à ilharga ou saco ao ombro, donde tira, por cada vez, 4 a
6 favas q ue deita juntas, no fundo do l'ego para nascerem «à casa», ou «à
moita» , de ixando de moita a moita o espaço que julga su6.ciente. Àtrás deste
s emeador vem segundo arado, cobrindo a semente e. l ogo depois, u m terceiro,
sulcando novo rego de encosto, imediatamente semeado por s egundo semeador,
que semeia e caminha como o primeiro. Segue-se o utro arado, o q uarto, a tap a r
a semente. pela fo rm a do segundo. E, assim sucessivamente, d e modo que os
a rados constam de d ois para cada semeador.
.. • •
Selecção das s e m e nte s Os la vradores metic ulosos só lan çam à t erra se mentes
fi n as e ap uradas, li vres de ter ru gem, que, de entre as
de sua colh eita ou p or compra, escolhem e joeiram po r meio de cri vos e arn eír os ...
292
ATRAvtS DO S CAMPO S
- 293 -
ATRAvtS DOS CAMPOS
E " poré m sabido, que para se semear ta rde. em atoleiros, sob o influxo de uma
temp eratura frigidíssí ma. m a is vale adiantar em o utubro, quer seja semeando em
pó, quer em lamas de chuva das passageiras, que enx uguem de pronto . As tais
lamas quentes. que a ninguém assustam, que aream depr essa, mercê de ameni-
dade da temperatura e da relativa g randeza dos dias. C h o ver ou não chover.
eis a grande inc6gnita . Se o futuro se adivinhasse?1 Se de antemão se soubesse
qual a melhor maré de s ementeiras? I M as n ã o s e sabe. ninguém desvenda esse
raisr êeio . Ainda há bandarras la b r egos que a r r o ta m profecias tolas, fund a-
me n t a das no aspecto d a lua e várias baboseiras, de crédito aqui há cem anos.
Ma s hoje, en t r e cam pó nios mes mo, os bo rdas d água e saragoçe nos est ã o
m uito desaeredímdos. P o r conseg ui nte. na incertez a d o que há-de v ir, O la vr a -
do r amolda-se às circu nstâncias. Norteia -se pela experiência - a mestra d a
vida. de q ue o bom agricultor não prescinde. n em deve prescindir .
(tJ Co"'o pl'tulto d. I conOIllI. nua!, • po nr o ....o.u Cla• • In.o.u•• d• •ndo., de 1l-1li .hio pu. oano dl.r'nll.
4a &..o.to. IIlUlO' melho r.
( 21 Ch..",.",- .. bel.... .. f.I ... d. t U l'tllO, d. 6 • 7 ",.no. d. lar' o.n •• '" 40••• npu-u: • ror D' . 5 10 Illdi. p•....,,"'. ,.
1" 1'1 . "'!tar '0. "1'10' 00. l . con.. d. TVItO. o Clal .p..ar d. t o.do II' ''' um pu u con..'o. • • t rn Clo lllt. licut'" " P'COI por
.."'.ar. ( 01ll0 l onu qa 'nc! . d. duco.ido. 00. pu.... . A lIlU'u cl o d.. bc1, .. • up c...nt.d.:po r ralo ' I o.pcrli d .U.ri mo., .bnto.
11.1. }'t1,.d. 00. araeUo.Lo d. om .. bu t a ,o.I.d . pel o .mL.t;. dor. loU'. u.c • .. bel, .. n. dlucclo d . d. l l u oun. qa. 'U1a
.u" . n ttn . u o • u ", . n f••
O. DOIl."1Il•• dOUI . d. Dnco. co.,. .lc.llo u , pt. r..... bc1,u I. u .., Cla. IL.. cOIlo,lllo u ", m'llejar .. ",onud • •
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A T R A vtS DOS CAM POS
cain do a sem ente n a t er-ra como se foss e chu va de gr a n i zo. ( I) E assim vai
anda ndo e se mean do, pelas belgas f ora, «ca rregan d o» ou «l eva n tan do» a m ão,
seg undo o caso e a s circunstâ nci a s. ( t )
O sementeiro d espej a - se ; o semeador i n t errom p e a tarefa. p õe O cha p eu n o
chão para sinal, e a segu ir sai d a belga, a en che r n o v a ta le iga da ali p r ó xim o,
a um d os sacos. V olta depressa, d e sementeiro cheio às costas, e imediata m ent e,
reata 8 fai n a, co m ou sem chap eu, para que os ara d os lhe n ã o cheg u em 8 0S cal-
ca n har es, a a dver ti-lo de q ue lhes es tão em cima. co m a seme nte ap u ra da , e que
mais precisam n a terra . p ara da re m saida à la voura . M an o b ra , p ois, com per-
sis tência, p elo s egur o, a sa l vo de a pe r tões que o entalem. P r ef er e d escançar
men os, f ugindo a «fumadas» e cavaqueires ociosas, d o que and ar de lufa-lufa ,
a tress ue r, e ainda por cima escarnead o pelos da ganharia. (a) S em emb ar go,
durante o u t ubro e parte de novembro, quando os dias vão ca l mos, o semeador
precisa inte rromp er a lida p a ra s e não adi an ta r em ex cess o. T em de sem ear às
peq ue nas p orções, q u ase «à boca dos a rados», de m a n eir a que a semente se
enterre logo, ant es q ue os pássaros a dizimem e a formiga a leve. A formiga,
so b retudo, é o pe sa de lo do se m ea do r. Nos dia s serenos ela sai dos for m ig u ei r os
e, e m l egiõ es de milhares, trata de acarretar e juntar os grãos que encontra pe la
te rra . Tal actividade d es en vol v e qu e, s e os arados tardarem em r evo lv er a ter-ra,
a sementeira foi-se em g ra nde parte, e a que vi nga sai às m a lhas, defeituosíssima.
Nuns s í ti os, exibir-se-há em m ontões d e cra veiros ; noutros, p é a qu i, pé acolá,
po r ent re clar eiras d es er tas, sem um bago sequer. À fo rmiga abalou com el es,
aca rreta ndo se mp r e, tenaz mente, dando r a zã o à fábu la qu e lhe grans eou cele-
bridade .
No s di as ventosos. ta m bém a se m enteira t em d e ser feita com ta ct o , de
m an eira q ue o grão fiq ue bem di vi di d o. À for miga, os pássaros e o vento. são
i n im igos d e t emer, com que h á a co ntar, de que o semeador se precata, coma
p er ceb a do ofício e não lhe e m pa tem as v asa s . O sem ea d or, por experiente q u e
se julgue, n unca p ode ga r a n tir q ue a se a ra virá a f uro em co n diçõ es d e lhe
bo ta r f am a. O mais p intado b o rra-se às vezes, q ua n do menos o i magina . . •
(1 1 N o. di .. di un tl oti, ." o II mu do!' cualw p.nlc1•• UIl II coa • 1't' O d. Qad. o ,calo copn, du,lIllo ,..11. doI.
''''01 do nJo op ono, S. o ...... 10 b.tI d i uru o", d. co"", Ullj. r ij o o", buado, aud•• p.lo UDtrO d. b.16" "muDdo
eom f,oddadl p ara a dl rdt. I pua a u l;[lIl rd a,
(2) D.lta"do m.l. o'" mlIlO. . .mlM I, "."'Ddo a II n a . pld...
t ,riae"io a u h . 1;[<11 a tina, u i' co mo for, lUlU d. "'11'.110 ' nouall 110 lom lCO do Oo t OIlO. do q",. a o Gm , utbD
II" ..
cooo.o prtclu 10.... tt·d.ptr u da prim....n d o 40' dlPQII , do mudo d. muco l to dfl.ll.tI.
,1I'
( 3) O. , , "hllu moll j.m do " mu d or 401 II dllxa af c... pilo. a n do •• Tro(lm-aO fmplldoumlatt.
- 295-
A TR Avt S DO S C A M P OS
296
ATRAvt S DOS C A M P OS
A s er ôdia s6 prova bem nos a nos temperados, que s e não assinalam por secas
prolonga das o u {nveeede.s r igor-oalsaimas.
........ ... .. ... .. ... .... .. ... ... .. .. .. .......... ...... . .. .. . . . .... ... .... ...
Nas semen t ei ra s o u t o n a is, tem de se ter em vista q ue, à medida que o tempo
avança, aumentam 8 8 probabilidades d e chuvas excessivas e fr ios intensos,
tan to p iores para as searas q ua n to mais adiantada for a épo ca . D á-se O inverso
do que se ob serva com a s s em en t eira s de primavera, qu e, com o nasçam bem,
dep ois n ã o h á ch uva s qu e as prejudiquem. É q ue na p r imavera v ai-se para o
bom tem po e dias g ra n d es. a o passo que no o u tono, m ar cha-s e para a q ua d r a
inver nose, de dias cu rtíssi mos, com tem peratu r a ba i xa . P ortanto a primeira
me tad e d o o uto no, em que d ecor ra excepci onalmente chuvosa e fria , ~rande t em
de ser a ano r m a li d a d e, para causa r es rra gos sensí veis e Ir eem ediêveis. E sse
perigo é m uito m ais de tem er depois d e 15 d e n o vembro em d ia n te, quando o
i nve r no s e a pr oxima e que Deus sab e o q ue d ará de si. Se o inver no se d em ora
em vi r, be m está . M as s e ele se antecipa, ca r ra n cu do e tenebros o, transtornando
a lavo u ra em plena laboração, ai da sea r a e d o la vra dor 1. ..
Resum in d o : s em enteir a serôdia só se faz à m íngua de forças. ou por que o
tempo n ã o a bo n ou em começo. e Q u em tem fo rça na chevalha e não se descuida
para ta r de.
. . . ....... . . ........ .... ... ... ..... .... .. .. . ..... .. .... .... ..... ..... .... ...
C onsi d eram-s e sementeiras muito temp orãs as qu e se re alizam até 20 de
outubro. D e 20 d e outu br o a 30 de n ovembro são m edianamente temporãs e
prom etedoras como nenhumas, por ca l ha re m na em elh o r m ar é», s e o tempo
nã o fa lta r . As subsequentes, de 20 a 30 d e dezembro, já podem pe ca r por se rô-
dias, e mais tardias se reputam a s q ue se r ealiz am depo is, a té e à S enhora da
C onceiçã o e, N es ta altura, as sementeiras estão a cabada s. ou v ão «de cabeça
ebe'ixoe, a matarem-se de vez por 1 2 ou 15 d e d ez em bro. Que nos barros po u -
ca s se arrebentam antes do Datal. Há mesm o la v r a do r es nesta zon a que pros-
s egue m semean do d ep oi s do N e.ta], se a te u a d á. E sses n ã o s e cingem a épo cas
ttxa s, n em circun scr evem os limites das fol ha s. O te m po é q u e os deit a fora'
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ATRA V É S DOS C A MP OS
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A T RA v t s D O S C A M POS
Trigo ribeiro S emeia-se desde fev ereiro a t é fim de a bril e pr in cípio d e m aio,
segundo o estado do t empo, a qu alidad e das terr a s e a força do
lavrador (1) Quando vai de chuva. suspende-se a sementeira, que só se reata em
seg u r a n d o o tempo - que o sol brilhe no espaço, sem intermit ência s, pondo a
terra enxuta, de modo a lavrar-se «às escancaras» para ficar «co m o um cinzeiro».
N os campos de Elvas e arredores, a cultura extensiva do t rig o ribeiro data
de 1870 a 1873. generalizando-se depois e progressivamente, até há coisa d e 10
ou 1 2 anos, em q u e estacionou, senã o decaiu. Desde que os a d u bos qu ímicos s e
vulgarizaram, demonstra-se que a sua aplicação é proveitosíssima nos trigos
outonais. e de escasso ou nenhum resultad o DO trigo ribeiro de primavera.
Por isso. a predilecção que porventura h ouvesse para este, passou à qu el es.
Sem embargo, ainda se semeia muito trigo ribeiro, maiores porções nos anos e
em que as chuvas obstam à conclusão das s em en tei ra s do outono. Nesses an os
angustiosos. apela-se em última instância para o trigo ribeiro, recurso 6na1 d e
(t) Com.o prunutl ..o ~ oIl.u" .. /urv,.m • • u Uo r lhtlro ..mudo 1.1,1 mudo. de marco i pr~ ...J .m 'lI. t••uJid.Jo p.l.
lo rm. 40 ' •• pude:. COlll. o. oouo, U" J• • P , . 1IIu te lr. do tr l.o dh.lco . &rUio••l.c uat d. do. SQ. d. marco
• • d l.BIc. pr ucJ.Il.d.... d. ' 01l.t".III , Etll.nd.·.. 4 ca a i1un l' 11.10 con . o p.ri,o d. (I.Il.I.nv ju .
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ATRAv t S D OS C AM P OS
que se tira ou não partido. segundo a primavera decorre. Calhando com boa
m a r é de sementeira e chovendo em abril. maio e junho não se lhe perde o fe itio.
À s terras ap r op ri a das dão colheitas de ar romba. Mas s e a primavera «dá à
cont ra », que n ão chove ou chuvisce, apen a s, h á sea rinha que n em sequer nasce.
Foi o qu e acontece u em 18% e em 1907.
feijão frade F azem-s e pequena s sem en tei r as de sequeir o n a s várz eas de t erra s
f resca s, contíguas aos melanciais e m eloais. A o mes m o te m po
que se aman h a a terra para a melancia e melão, prepara-se a do feijoal, que é
semead o depois, a í pe lo S an t o A n t óni o.
S e m e ad as r ec em -n a sc i das
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ATR Avts DOS CAMP O S
1fngua d e pa lmo, cõr a ãdí a, ris onha, a a t es ta r uma pu jança de r e si st ênci a que
enche de gozo o l a vra d or. Vista 8 0 pôr do s ol, d uplica de encanto.
A sea r a serôdia de dezembro e as tempo rãs de primavera, de fevereiro e
março, d emoram a n ascer, e mais, se as u midades esca sseiam e as g eadas aper-
tam. Nestas con d ições, chegam a dem orar 20 dias e a s de dezembro ZS ou 30.
·......... ....... .............. ....... .. .. . ........., .................. .. ....
V enh a com o vier e seja de que temp o fo r , a s ea ra recêm -nascida denun cia
1080 se 6co u va sta ou r ala. be m o u mal repartida . Ligeiros senões, desculpam -se
se m relutância. Aquilo não va i a compasso, n em o o l ho d o homem é mira
infalív el. Mas se os defeitos de s em en t ei r a se de stacam e av olumam, averi-
guam-se-Ihe a s causas. ajuízam-se, e, por fim, a culpa va i a q u em a tem, se o
crítico sabe iulgar.
·.... . . ...... . ...... . .. .... ....... . ...... . . ............. ... . .. . . ... .... ... . .
Toda a seara que nasce encsrreteireds, mostrando-se às faix a s ou ce rretei-
ras, umas com muita semente, outras com p ouca ou nenhuma, desa grada
imenso. quando se observa de caras para o sol. que o defeito se patent eia com
rigorosa nitidez.
Igua l ou pior aspecto a cusam as que se a ssi n a la m por malhas d e nascença
vasta, aos montões, intercaladas por flancos com poucos ou n en hun s p és. D es ta s
s earas diz -se que ficaram abandoadas.
N a s t rigueir as em nascença . também os pássaros causam estragos grandes,
d e péssimo efeito. C oto vi a s, t rigueirões e calhandras - calhandras p ri ncipal-
mente - desgre lam e arra n cam milhares de pés de tri go, deixa ndo a terra
esburacada, a paten te ar a des truíçêc. h )
Enfim, s emeadas recém-nascidas com O peco d e encerreteíredes, abandoadas
ou comidas dos p ássaros, principiam com azar, O qu e já n ão é d e bom e.ugúrio.
E m en da m com o te mpo, a sseveram os sabichõ es, a qu em o prece lço nã o afe cta .
H istória s, replicam os i nter essados, convictos do contrário. E. estes é que ajuí-
z am bem. O s males em q uestão, embora s e atenuem de futuro, à sombra d o
d es en vol v im en to que a s ea r a tom a, nunca s e rem edeiam em absoluto. Sabe-se
que o «p ã o», à medida que afilha e cresce, vai tapando a terra e, assim, oculta
as maselas de s em en t eira e os estragos de nas cença. Mas qu em atravessa uma
folh a em sem elh a ntes condições, e a passeia, reparando, re conhece a cada passo
esses ach a qu es de origem, que de longe se nã o vêem.
R as t l l h agen s
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AT RA v t S DOS C A MP OS
D r en ag en s - V al as - S anj as e sa n g rade l r as
Val as Antes ou dep ois da sem en te i ra , pro cura-se escoar os t errenos baixios,
por meio d e valas, de diversas dim ensões, a que o vulgo cham a sa nje s
ou san Arsdeiras. Nem sem p r e se conse gue d esaguar suficientemente a seara
co m este preparo, mas nunca deixa de lhe s er p roveitoso e, por vez es, s a t isfa z em
absol uto. A qu estão é a s sa.njas serem em número e em con di çõ es correspon-
dentes à extensão da terra e ao curso e voLume d as á guas .
Desde que t enh am os indispensáveis requisitos, as valas são o s a lv a té ri o de
muitas s earas, que, por certo, morreriam afogadas de inverno, sem esse deriva-
tivo. O pior é qu e t êm de se ren ovar ou r eparar nos fu turos anos, maxime nos
t err en os aren osos, onde s e deterioram e inutilizam, como em nenh uns outros.
A í, uma enxurrada qualquer, en tu lha - as e arra za-as. o u p el o contrário,
escancara -as e afunda- as. tran sformando-as em abismo s. N ão s e dá i sso com
as drena gens, que escoam e esgot a m sem danos nem esto r vo s . ( 1)
o tempo
h ) À . . . .1.., nDj.. e " "'ultlelru , eO'hIlDlUll . u f. Ita. d• • mptd u.d., POt Lom' ll' do D outo. d.. B.lu A leI., COD.L..~
d do. P OT
Vd . · .. ... ptjial. &8.
.,.=
". l. de/rol . <:lu, d.. prop6.ho .0 AI'Dujo . E.lL uu!m· .. por d lIlI ' U tubalLo., du il. lI O'OllllbTO ai.
f..... u eIro .
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A T RAV t S DOS C AM POS
(t) No• • d" lo . nf.r."tn .. . , ri cultuu .IIClultnlll.-U lIo e~u d. ,..Ior Plr' . , .jolnulD CO III .pros.lmlelo do. (u to r..
IllI1&or01&, lco. qOI COllcorrlm p,u um ho m .ao c" ..ll f..o. C OIl.IAII. u l . qu l o. m ai . (rI,,"U" t...d lll lldo o. q... u fnl i ' ,
ao duouo d. n.u.ti.... l. f·lc. •
.(,vao a O'O .... pud.d.ir". p./o S. M i, 1 . , p" aui....
/<1". d • P orta , .I, lIu lldo 11' trb dd 0t lU 110 N .t.l.
-o
N .tal, "' rv.'l • Phco• ••• c Ill.f.lb ......ll.t. p. u o. I. .. ado rn. q u.. . " . P"" 'o u d. a 11I. .,n o ' p,l o Nu. I,
c:"ou. UIII d. II u t " UII . . .. ; pd . P'aco• • (.~ M I , ,pll' u frellGllIItar • ' 01'"
E. j. od ro . ..olle ' 0 o.. td•• • ,c ° .I. e. 1..,i•• pl .-" • rir: IfI • .,11. 1.., lIu"• • c&o.u.
A a6<l0. de I.a t i.o. a'o tIu o . .. 0 i .. td. o.
Ap. . . . /... dro 6o. " .,r/o. n.... 60111 1I.1I..i•••
1~tiro••/.100 00 tiNIrO.
°
' ,..rd ro " ..cat• • ' u , JI.llo nO "Ol'e".
°
S. ao _cI.lJ.Jcl. .. ch or• • , .11 ia•• • ao lo.,; .. rI.m, c..t. O ''''c.ao ,..tI .ir.
Mueo. "ar ~. , lo . J 1.• • di, Iloolto : li t.ni. , c..a.. J. cio.
R.ao, d .or ado. , o. 1II.I&O..J ol.
AIl.it. " a .. 11111. co.J.. por u ... ulldll.
"" d o pudo . ...a t.,o. lu O .00 /0 '1110'0.
A',... Ju uo.o.du, ..ri• ... .. i,•• r1h.h. d...
VIII' 6o. " ' '' ' " e.d. , ..,,, no co"c, J • ...... tr opo. d• •
A,,,.. no S. /01. , ti..... • i,, &o. u .it•• p'o.
)... 6hl•• parto d u ta .d 'do 1I0da ri. h. t u cn to . am la moo. Ido•• q " l lIdo n a i. un u • cultu ra d o. lTfmuu. Ho l.
d' a.. l al . o, como I' ob" " al lIootrO lu' " .
- 303 -
ATR Av t S DO S CAMPO S
por não ter o u tro rem édio. Por de sabafo faz lamúria, q ue a lás rim a é Ií vre e o
falar de safogo. O que seria dos chour inces, s e não lhe permitissem a lam úria .. .
Anos de estiagens e a n o s d e inver nia D iscr et eia - s e muito sobre quais são
- o s p ícres para a s searas. C o s t u mam
s er os de invernia, a firmam o piniõ es a u t orizad a s. Todavia, os anos que se assi-
nal am por estiag ens medo nhas, num período assás largo, que vá, por ex em plo.
de d ezembro a 6.os de maio, como já se t em vi sto, esses são tan to o u m ais
nocivos que os mveenosos. (s I Fora desta hipótese excepc'io n al ís ai m a , a s s ecas
cons íderam-se prefe ríve is às i nver nas. Sabe tod a a gente do campo, q u e decor-
rem an os que, aí e m m arço , se julg am 8 S sea ras quase p er di d a s por falta de
ág u a, e afina l, u m b el o dia - qua n do meno s se espera - vem a ch u va ap etecida
e tudo s e salva.
N ã o se ca lc u la o regozijo das popu la çõ es rurais ao verem enfim a s am bicio-
n adas chuvas, caindo a potes, a remediarem em absoluto uma seca gra n d e, que
8. t odos preocupava. Ricos e pobres. amos e criados. v elh os e DaVa S, tod os se
alvor atam de alegria e todo s se assomam à rua p ara ver chover for te e firme e
s e regalarem com o suss urre da águ a d os beirais, caindo a jorros so b re a s r- edres
das calçadas.
Lntão o s co mentários cruzam-se de boca em boca. esfuziando ra di a n t es p ela
beleza d o espectáculo:
- «O dia de h oje, não há dinh eiro que o pague .. . Isto é ou ro q ue es tá a
cair . . . Moias e moios que se estão a. fazer l . . . Venha á gua, que D eus dará
I
pão J. . . Olhem como ela cai J. . . Até faz fumo J. . • Já dizia m q u e nã o vin ha ...
A í a tem .. . e a abastecer . .. C h ega às raizes, n ã o há dúvida ... Ve m mes m o
entre março e abril . . . N o ss o S en h or . quan do dá, é sempre em fartur a . . . »
E n treta n to, os assis tentes m en os ent usiastas e m ais p erscrutadores, deixam
de f a lar pa ra sondarem os astros e o ve n t o, com receio de qu e a rega s eja p a ssa-
geir a, de i n su ficien t e d u ração. Saem pois fora, m olham-se por gost o, levan t am
a viseira, investigam do que vai lá p or cima , reparam se bate do travessia, do
pego o u do suão e, p or úl tim o, rec olhem às moradias, de juizo formado sob r e o
qu e está para vir. C omo bispass em sin a is de ág ua , apreg oa-nos co m j úb ilo,
convencidíssimos . Se n otaram o contrário. dizem-no tamb ém e em tom profét ico.
M a l lh es va i, po ré m s e fe r em a nota d o p essimismo. Os optimista s qu e os
ou ve m, sorriem e cb asq u ea m , du vidando. S e não s e i n d ig na m , a co imando as
a gouren t os de m a l a gradecid os , de aboinhas n egras, d esmancha prazer es, q ue
nunca es tão se u sf ei eos :
- «É por iss o que Deus castiga à s vezes» - acresc entam .
E assim se es t abelece larga contro vérsia, com referências vastas a fac tos
su cedidos e. a p a r , um tir oteio de palpites e presságios, que pare ce interminá vel.
.. ...... ... .... ... ... ..... ... .. .. .... ... .... ... .... ... .. .. ..... ... ... .......
(1) Sobu .. utl••• n. proton."d u . q u. utr. jam .:omlll ' U Ill, n u fi . lI ru. " ';.... a par 'tulo U ma u ta em Alorll . du
N otu " Imp ru, lJu la. ut.. mal• • dl. n t e,
- 304-
..
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..'"
....
e
Q.
A TRA v t S D OS C AMP O S
Prece s N ão vai lo ng e o tem po em que era cos t u m e celebra rem-se preces pú bli -
cas n a s igrejas, e procissões d e penitência pelas ruas, logo q ue um a
seca o u inv ernia s e to rnava ass ustado ra . P or estiagens, principalm ente.
A ind a em abril de 18%, os povos ate rrados com a h orror osa seca q ue vi nh a
decorre ndo d esd e o N a tal, ac udia m, p ress urosos e contritos, a esses acto s reli -
giosos, a nun ciad o s por dob res de sinos, e celebr a dos com fervor n as cidades,
vilas e aldeias. N a s preces, à bo q uinha da n oite, a s m ultidõ es enchiam os tem-
plos cantando la da i n h a s e benditos, e nas p ro cissões de p en itência , aos do min gos
de tard e, a conconência era também eno rmíssi ma , camin h an d o nu ma ordem de
ser iedad e e compunção s irrgu la r, nunca vista em procissões d e o u tr a orde m .
- «S en h or D eu s, misericó rdial. . .• - b ra d a va o cle ro , de vez em qu ando.
no decurso do t raj ecto . E. o po vo em m a ssa, se cu n da va. tccploraado o auxílio d a
Vi rgem , para que Deus lh e conced esse ág ua por mis ericórdia. Q u antos p ed iam
«miseri cór dia», de lá grim as n os ol h os, como se tivessem p r ati cado um crime
hediond o. a m o ê-los de re mo rsos.
I sto pa ssou-s e em 1896, r ep ito. D e então 'Para cá, no con cel h o d e E I\Tas e
limítrofes, nu n ca mais houve p reces pú b licas n em pr o cissões d e penitên cia,
apesar de t er h avid o invernos e estia gen s.
N os últi mo s 55 anos, as secas ca lamitosas de n efasta memória foram ape-
nas as de 1874, 187$, 1896 e 1907. C om o i n vernias memoráveis, p rej ud ícialts e í-
ma s, registam -se as d e 1&56, 1872, 1876, 1879, 1881, 188.5 ou 1886. 189.5 e 1904.
S obretud o as de 18.56, 1876 e 1881 q ue d eram b ra do e não esq u ecem .
.... . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . - -.' .
Gea das Consi der am -s e úteis para as seara s em d ezemb ro, ja ne iro e parte de
fever ei ro. época em que são in tensíssima s, a po n to de, em mui ta s noi-
tes, a águ a encarame lar e fica r ge la da de uns par a o ut ro s dias. a conten to d a
lt l O op&r <lo ,01. 'Q.cobe rl O'. por 'D.t "11.1.1'1 0. ' n.. .. . UUlt... Ii ' in. 1 d. c.bll. ' . Po o do -u limpo. o u por '"U'
O GU" undu. tu o. , an o tu , d ' ia d lc!o d. t eta po utl o.
- aos -
AT RA v t S DOS CAMPO S
ga.rotad a, que se div erte a par tir o ca r a me lo dos po ços e charco s. A s terra s
tam b ém ape rtam e endurecem p elo mesm o m otivo, dand o Iev ouea difícil. O a rado
entra-lhe a cu s t o e leva nta «t ijolos », q ue- só d enegam em o s o l aquecen d o .
Na s m anhãs de g eadas g r a n d es, a s se mea d a s e os pous ios ofere cem u m
qu adro ac rebilfss tmo, de alvura s evera. m a s g r andio sa e i n co nf u n dível. C am po s
vastos, t r a n s f o r m a d o s em l enço is e lv ís si mos, inco me ns u ráveis, com os «pães» e
ervas hir tas. regeladas pelo f r io da no ite. Tud o está branco. de orelha murc ha,
n um torpor hiber na l que met eria dó se fosse d ura do uro. Q ue não é. sabe-se.
O sol cr iador e ca rinh oso, incu mb e- s e d e d errete r os ge los, r estit u in do aos
campos 8 s ua feição verdejante e so rrid ente . . .
Em fi ns de f ev er eir o e por março fora, a ind a caem ge adas fo rtes, que muito
se rece ia m pelos p r ej u izo s q ue fazem DOS ce nteios e em cul turas d e o utra ordem.
M on d as (1)
cQue os lav ra dores e o••eare.Iro. ou os ea.e.i r os que .emeaslicm t ri So. cent eio e cevada. o. mo ndauem
n05 mue. de março. ab ril e maio. Il mpa ndo· ol de tod a a erva e mato, e que o mesmo pra d cau em com o.
milhol ao nd . a q ualidade da . terr ... o reque re..e. E . ta beleecl) qae, le o dono ou re ndeiro ti veste ta n tas tu,.,
.emead... que el e e soa famUia as não pudeu cm li mp ar , bu.une pcssoas de fora para o aiodare.m
..... . . .. . .
. . . . . . . . . . . . . .... .
. . . . . . . . . . . . . . . ..
(I ) DucuJI, c:h' III.",·lh.. , m Ctmpo M.Jol I ,n. do'' '' Crtl o que o tl f1IlO pu....... d..... qo,l. 1I0.... 1II0..dU'Ill·'1
n . rdo. 1m qU 'lOdd.d. mult o JlIp.riOI • d. OUln. pl , .. . tI .
- 306 -
ATRAvtS DOS CAMPOS
Se,ue.m-.e • • penas dOI ill.lraC'tore • • que Dio e u .ta braDd ... ubcl'ldo a mu lta de 4.000 reais, u.ás puad• •
lO qoe I.nlue um Illoio de .eau:.clon e a de 2 .000 t e e h ao 4u e la na.." m e DO • . O •• .e.relto. ii! c•• eiro.
cinJam . pagar .U! 1.000 rui. (30$ 000 re h d e hoje)... (Lei de u de fe.erei ro de 1564. Co/eerio de leis e,tra-
. ai . a t,"1 por Duarte N un es de Leio. p arte 4.-, tlt, J6. 0) . fi )
É pois a n ti ga a prá tica das monda s, n ão h á dúvid a. Mas também dev emos
crer que es te uso foss e b a st an t e r estrito outrora e se m o e p wr o que hoje s e lhe
dispensa. A próptia lei citada au toriza a pensa r m os assim.
Desd e q u e se legisl a par a to rn ar obrigatória q ualq u er medi da d e alca n ce e
se comina m p enas severas para os q ue a não cump rem , t emos de admitir qu e
tais medi das estão po uco em u so e tão po uco que, para se ge neralizarem , há q ue
recorrer aos meios coercivos. Que os nossos an t ep a ssa d os não morriam de amo-
res p elas mondas e q ue delas faziam conceitos falsos. demonstram-no à ex ube-
rância certa s m á x im a s de alforge a i n da hoje conhecidas. Exemplo: - Trigo
m ondado. é t rigo com prado. N eg rita, pão que ar rebita. Joio, faz m oia. etc.
O qu e explicado por miudos q ue r dizer: - «Não mondeis, que isso equivale a
com pra r d es a s ea r a . N ã o a limpeis do cisirão, d a n egTÍta e do joi o. que essas
semen tes faz em moia e melhoram o p ã o .. . lO' E aco nselhava m -se absurdos tais,
que só se explicam por igno r ância ou mesq u i nhez J. Qu em se a t r ev eria p re-
o '
- 307 -
ATRAV ,t S DO S C A M P OS
h) Ao e..QlnUlIl P' U u m. 'U II . . . b crudd .., .. ftIo nd.ddru .. uIII.I . ..... prh·l.. m.n 'o. 1I,.ndo .. . a l.. h p' m u ,
•• iOnD' do. u /rOo . I,.,. O . ulcon.tu lIl5ua.ou em r ond h õ u de 1I0 1lCO .. oJufau lII o . pl.o ' rOlll . . .al.., 11 q u. o unea conu-
,ltirl . 1II um eu . pr,ull çi o. Aulm IIlUIllO, qll . Ofo. I'ft de IrI,o II. oio tOIDD.ft1 • • old. m po r du clli do. fon!tb.h • pel.
"P" 'lIf' e pu j.n( . d•••,.I.(io
- 308
ATRAvtS DOS CAMP OS
309
ATRA v tS D OS CAMPO S
doidas. erva agulha, galarit os. diabelh s, azedas, set as, espa dan a, olho de mocho
e muitas mais de som en o s importância . D e entre as referidas, vale a pena co n -
sig n a r certas particularidades das que de preferência se mondam. Vejamos i sso:
O r t ig õ e s
Como a s malvas, d ão -se u n i camen te nas t erra s d e qu e s e d iz serem
u m ebo l c de esterco ». O s o rtig ê es co s t u m a m cr ia r -se n o s ee rn eir os»
muito vastos. Formam cardumes de pés m i u din hos, que picam CO InO ve spas em
s e lh es tocando. eTê m pico s..., 'não h á dú vida. As m ondadeiras que o digam.
Muitas d elas. pa ra os co lhere m , em b r u lh a m a s mãos em tr apos o u n o a v en ta l.
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ATR.A v t S DOS C A M P OS
Negrita Está DO caso do joio. Tem de se destruir pata evitar a semente, aind a
assi m, menos de te m er que a do j oi o . A negrita j c eíra-se com facili-
da de. po r ser miudinha e negra como g rã os de p ólvora grossa .
Saramagos Pela ép oca em que m ais n ascem. pe la «r oda» que tô mam e pela
quantidade em que a p ar ecem, têm cer ta a nalo gia co m as s oag ee,
posto sej a m menos danos os e m consequência de espigare m ced o e secarem logo.
Mas ant es d e espigarem, a lastr a m-se m u i to, o qu e imp õe a sua d estrui ção.
Mondam-se fà cil m en te, em ' v ir t u de d e v eg et a r em e cres cer em no ou tono e n o
invern o, q ua ndo as searas estão cu rtas.
Papoila E.rva d e p rim ave ra muito con hecida , q u e se cria em g r ande qu a nti-
dade Das te rra s efei tas.- to do s os an os . N estas. dá que faz er e nunca
se extingue de todo, p or ma is «catada.- que seja .
Lingua de vaca Nas folhas e na Ilor, pare ce-se com a s soages, embora al a str e
menos e demore bastante a desenvolver-se e a florir. Dá-se
nas terras cele âre es e na s várzeas de chão. espiga n do em abr il e maio. Corta-se
-- 311 -
ATRAvt S DO S C A M P OS
A labaças Dão-se n as terras «fria s». baixa s e «d e corpo• . Cortam -se a sacho.
superficialmente. por terem raizame va sto e profu ndo.
Espa rgos Pela su a enormíssima qu antidade, ser iam temíveis nas searas dos
barros, se os espergueiros os não dizimassem em pequenos, para os
irem ven d er a Elvas e Badajoz, o n d e realm ente os vendem por bom preço.
A ssim, quando ch ega a monda. na primavera, já muitíssimos estão colh idos;
errem-s e, porém, tantos, q ue ainda escapam bastantes à monda e aos esps r ..
aueiros.
N os camp os d o co ncelho d e Elvas criam- s e « esp o n tâ nea m en t e», e muito
dua s qualidad es d e es pa rgos. Assim. nos e rrifes e po:r en tre os montes de pene -
d os d os terreno s arenosos, d ã o-se os espargos «brancos », qu e mais propriamente
se d eviam cha ma r verd es. V êm cedo . l ogo em novembro o u a n t es, em seguida
à s «ág uas nova s». Mais tarde, nas terras fo r tes. na scem os outros. os epcetos»,
dando-se de preferência na s semeadas. Sã o estes os que inçam a s campinas dos
barro s e o s que abastecem os m ercados das po voações. «B r a n cos e p retos» apre-
ciam-se muito n o p r i ncípio da ép o ca . O s eb ran cose n ão se mondare, por veg e-
tarem no s e ertfes, onde n ã o faz em dano à se ara .
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ATRAv t S D O S CAMPO S
A pers p ec tiva da s se ar as
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A T RA v t S D OS C AMPO S
CIl H' do i. r u :uu o. p.n . . . .iI.r qUi • ' U fA 10 lllbc • • c..... 10' 0 DO ud o. elD nu do de ee.... Ul t.. d. ~ lIun.,..
r; P" 'O .=bo. taoh.elD o. 1111. perl.o. c io coo ...o ica tn , dio r ....h . do 6 tf mo••I' um ....., u . U m do. uc..n o. coa . l. t • ••
metu ' Ido II . " . 1'1 pu. lh.e cOlD U e lD o folhldo IlD u: cc" o • re c...r"", · ... . N ute prop,hlt o, o I• .".doc . ... ah"'. · •• • la u o.
d.. , lr·lh • •.,0 n b.abo d i , . d o lDludo (c . bu . o u bo rn, o, ) ou mI l. d úzl . d I r .... bo ..ID" m l ' u • . l. po r l ' d l l....ndn o•
• I'llml ll • r o, u . 1lO I q..l10, laq U. DtO Ih. pl nc. q u. a io nU."1II d. ..n • • . O outro ..".io i du polltu I .nn II. ' olu, .01'1. .. •
do·1h1 . 6 .. po at.. d o ,.fooloo. co.." o cu ldl d o pn d . o, o q UI • t01"D. dl.p udlo.o I d. mo n d o. M.. tal..r 1"0 u j. llre·
fnl...1 do q Ui m un t a i . fo lh ... . O ,.do u.."pu upulDh• • alo 1'0;. Ipca.. o . pi o_ 10rlC, m. l. n ri lc l do • tombar.
PIlo coa t .hlo. COmi oadl Ih . 'PU'CI• •Im po .. par o fraeo . D.m - c. lt l, . .. e e fo rl'. A d • • di r q UI o 'Ido • • •rr.·., d. pu·
fu l erl. II. pnu d i ...n mca o. d..,a..ol ..ld• •
Com o qun qo l u jl . por m.lo d . folu. 00 • d'Dta di t u .., pode co a u.ui.·., o qUi te p.ulad• • a io .. . bull ndo e
h"lndo • •o rll di d . o de poi• • • pll. o dUPODII . S. porim • .,u. fica. uc o .d. o.. n ... a. no d cm ui • • a io 110.. ch our I
tempo d i rnlo ..ar erdac.. em t.rtIlo•• o .uulrldo .atio i dUlluo,o, mult o pl ot do qUI .,rh •• Dl o ho u"' '''1 u i
Il mb ra a , •.
(I) A. lIu l'ld... ' nd.., . co lllplnh.d .. d. U OtO no tdU' I. au Dolt ll d. l....nir o. 11I"'0 ••brll cru U m cOm u I la f'lI·
.ill. d. o. uoteio. IIpl,.do. I ' m .cbor.. , q"l chl'. m • pu der . u . foU.... hUllt ll .
- 314 -
ATRAvts DOS CAMPOS
para dormir até abril. Mas a que está excepcionalmente boa, desperta também
e «n ã o se agacha» à cevada. .
Se neste período se acentua uma estiagem rigorosa, as favas sofrem mui-
tíssimo, os trigos ressentem-se, o centeio aguça e toma cor cinzenta, a cevada
seca-se-lhe a folha e a aveia põe-se roxa. Como. porém. lhes chova a tempo,
tudo se remedeia. Mas se lhes não chove de pronto, apanham peco considerá-
vel, sobretudo o centeio, a cevada e as favas . Os trigos ainda se aguentam por
uns dias mais sem prejuízo de maior.
- 31 5 -
ATRAvt S DO S C AMPOS
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ATRAVeS DOS CAMPOS
Uma seca e m a b r i l Quando o mês de abril se assinala por estiagem ri gor osa,
que se vem a6.rmando de sde fevereiro, essa estia gem
escangalha os trigos, cevadas e aveias. Não é um desastre brusco e irremediável.
Mas é um contratempo temível, de processo lento, que, protelando-se por sema-
nas. agrava a s it u a çã o dia a dia. até estragar «fol h a s» inteiras, antes viçosas e
Iind...
T r igos ou o que seja de cer ea is , a cusam falta de chuvas, tomando cor cin-
zenta, pela crescença do dia, a exibirem folha murcha, de «o r el h a ce íde e, mal
enca ra dos. «Põem-se patetas», e dá dó vê-los. Sem embargo, ainda esperam e
ainda se aguentam. Tan to, que de manhãzinha cedo, com as orvalhadas da
ms rezie, r ea dq u i r em o primitivo vigor e [escura, para o perderem de novo. à s
primei ras résteas de sol erguido e às rajadas e coute ntes do vento suão, que em
geral assopra, nesses períodos estiolantes e calamitosos.
A despeito de tais asares, s e a certa altura as chuvas vêm em abundân-
da. regando a fartar, os danos são fracos ou n u los. remediando-se em absoluto.
Mas se a estiagem pr-eaiste na sua marcha destruidora, as searas pioram às
braçadas e agonizam sedentas, morrendo às nódoas. Enquanto que nuns sítios
o prejuizo é total e irremediável, noutros manifesta-se menos, por serem terras
de resistência , que a inda conservam algum sangue.
..... .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . .. . . . .. . . . . . . . . . . . ... . .. . . . . . . . . . .. . ... . . . . . . ...
Ent retanto, os dias võo passando. O sol que ima, lembrando agosto, o vento
continua a s çouta r e a seca completa a sua obra ru inosa. tisnando searas boas e más,
sem distinção de vales n em outeiros. Apenas resistem as baixas de algum v er-
h J N •• dI....d••• Ill.' 1.0111. II' _ p u . p.r ' lIupc lio , "u'" """ ••lton po.. ~" . eo• • a o, . .. .. ",I.." r. ....' ....
nupÜ••• I. ''''1' ..
nh. uu.. 1.0&1. ola d..... , .... 6 ="'0 u dll.d d INi=o .
- 317 -
A TR A v t S D O S C AMPO S
(I) O u uu ..lbo Oll u uu.yeU.io do un uio, Um .. dimlnlõ" de um f. lj i o fr. d• • III rnlltldo de pel o. cluo.
A plun o;jli.... d o II ..pi", enU'lm em ," d, .
N.qu.II e em q li. po.... . eet-.. ao to do o .. 1m Pl rl e , •
- 318 -
ATRAvtS DOS C A MPOS
peque nin os se nões, q ue a nin guém as sus ta m. P elo co n t rário, a gradam ge ral-
mente, po r ser em prenúnci o d e colheitas fa r t a s. (1 ) Isto no centeio f orte e r ecos-
tado, n aqu ele que se classi fice um centeiâo brutal. de perspectiva soberba. - «Bo m
a va le r l . . . N ã o há m elhor . . . »- dizem os q ue o e .d m ieam. E acre s cen tam:-
cC omo está grado .. . a n ã o caber n os ca sulos 1. . . Mal em pregad o se apan h a r
r uim aceia ... Se l h e n ã o aco de m em saraço (ve rd u r engo) fica m etade na
te rra . .. » C om efeito. se fo r ceifado s eco e em dias de calor. d esbag oa r m uitís- â
o
(1\ u cundlo 'o f. " co r Ri/ hio .io pnft úndo . d e co ll.. il.. . bunda n lu . po rqu e U .DOI.m q ue ... .1 , . p n. u .....io j a . I. ·
mU I,. 111 0.1.. lUll (fu' LA melLorll UDthir... O uce r...c lhi o. pri n cip a lmen te . Por luo .. d ia: . Aa o dll u CU . ".. If"O .toOJ. p' "
(21 C.u..... lDai,,;.. ul u'ol 1:1.0' anador.. d o. 1U 0n lU c d.. PO'l'o . çõu , por . flu iulD .1 de p u ful a da , 1m u l u lt.do d ..
l:lldlfi u nlD 1101 t. Th. dol pr 6xhllo, .
319
ATRAv t S D OS CA MPOS
- 320 -
ATRA v t S DOS CA MPOS
Cada um a faz d uas .. . bem criadas e cheias . . . de bagos como pinhões . . . Sim
sen h or, f uma-lhe a ve nta . .. V er ã o à ceif a o que é botar molhos e r i lh eir os . . .
Rilheiros e carrada s ... D eve da r u m esbar rnnto 1. . . :10 E p or aqui fora, to da a
gente as a dmi ra , nu m a ca tadup a de elogios. r etum ba n t es e expressivos.
Os de co ndiçõ es opostas, ta m bém n ã o es ca pam a os comentários dos apre-
ciado re s. Trigos que em ve r des nu n ca presta ra m, a go ra , em maduros e secos.
pior efeito produzem . E a p e r d estes, amargurados e rel es, há porventura, outros,
as sá s desen vol vi dos. q ue já mostraram fantasia. m a s que 8 perderam de resto,
por l he eda r o tempo à contra». D i-lo bem alto a cor anormal que tom am.
Em vez de aloita re m, como os sãos e grados, branqueiam mais ou menos,
acu san do grada péssi ma . E. como bra nqueara m, hão-de por força fundir pouco.
P ou co, em gr ã o. E.m p alha. escapam.
COLHEITAS
- 321 --
ATRAvts DOS CAMPOS
- 322-
AT RAVl. S DOS CA MPO S
debulhas. Em começo, só se trata das ceifas. Po uco dep ois. entra-se com 08
aearreros e a s debulhas, prosseguindo t udo simultâneamente, mas cada s erviço
com p ess oal pr ôprfo e praxes diferentes. E, a par, durante o primeiro m ês da
época, cuida-se também da ga danha d os fenos, cem gente estranha aos ou tro s
serviços. Enfim, trabalhos múltiplos e variados. com Aentio de diferentes id a des
e procedências, a a nim a r em e p o voarem 0 5 campos, des de o luzir da manh ã até
alta s h ora s d a noi t e.
C e ifa s
A s ceifas exec utam-se, ge ral me n te. com a f oice braça l. mane jada p or h ome ns,
ra pazes e m ulh eres. e. po uc o ou n ada. por m eio d e ceifeiras mecânicas. ( t)
D e o rdi nári o. com eça-s e de 18 a 24 d e m a io e acaba -se de 10 8 18 de julho. o u
p ou co mais t arde. D ois meses, aproxi ma damente.
Primeiro, ceifa m - se as ce vad a s, os ce nteios e a s a v eia s, q ue, para o efei t o,
se eng lo ba m e conhecem pela d en ominaçã o genérica de segundas o u sementes
brancas. h} T o m b am- se em primeiro lugar porque s eca m m u i to a n te s d os trigos
e po rq ue «es per a m m en os», não s e a guentando de p é s em prej uízo s ensível.
O cen t eio e a aveia de s be go am em g r a n d e escala e a ceva da d escaheça a va ler.
Derribada s as seAundas, passa- se aos trigo s . Começa-se, e m r egra, p el os
mol es e conclui -se n os rijo s. A s p r axes a ssim o estatuem. Ma s, à s v ezes, oc o r -
r em circunstân ci a s impe riosas e ex cepcionais que obrigam a aband onar as
praxe s. P or exem p lo , adiar- se para o fim da faina restos de s earas ordinárias
d e cen tei o e ce va da , p ara se a cudir d e preferência a o u tra s 6timas de tri go,
dign as de a pro vei t am en t o opo rtuno .
- 323 -
A TRAv t s D O S CAMP O S
(1 ) Ol a de Corpo da D.u•• d. S . 10 ' 0. Q " I .. do o ar, d. C orpo d i O l ll' ui 1.. 1.. d. co meça re m u n U... fol. l .
Ibm n u no dll d. S. 101 0.
( I) Ino a DI ."oe bo 4UI • II.por.d. "Ild• . NO I :ru11l.6, d i pOUC OI • .f U I"UU , o mllll .'UO puoc.. p.... m o h o mUIOI
..o... o du p.c,,"o. A . ... puh.da I - Ih e m.i. df... li c n lOI =u I .. ([ua ll lo .1•• 01 co ...pallh.irOl . . .Illnl' • • nUu, ee ....m
I. CU tl. al hel., por cOnla d o I.nador. E 110. Ul OI n lamJtO'IlI • • ee ...ld a ...1. mui lO pau CI.. . ... a 1'110 pO'lu l 1m c...·
- 324-
A T RA V t. S DOS CA MPO S
ano, a contento dos ag riculto r es e d as ald eanas que a executam . Estas, sem
descurarem os a fa zere s d om ésti cos, de sti nam o meio dia da manhã p ara ganhar
com a foi ce o s eu sustento e o d os fi lhos.
A s m ulh er es ceifeiras de ou t r or a , p ost o ceifassem bem, pelo que se refere a
apuros e caut elas, eram poucas, ce ifa va m com morosidade e não apetecia
em pregá-I a s. Às d e h oje, con t am-se 80 S centos, ceifa m a preceito e despa cham
sofrivelme n te. D i z- s e que faz em m enos que os ho m e ns das Beiras . M a s essa
relativa i nferiorid a d e, compens am -na na p erfeiçã o do s er vi ço. O trabalho delas
é ma is escru pulo so e p erfeito que o deles, o q ue de sobej o se explica . Elas, tra-
bal ham a jor n a l. a s eu sal vo ; ele s. d e em p r ei ta da e ag uil hoa dos p elo m e nag eiro-
todo açodado em con clu ir. p ara r egre ssar à t exrínb e , co m as no tas n a algibeira e o.
que ijos n a sacol a . h l O co n t rá rio d as a ldean ae, que quanto mais se apuram.
mais salários vencem .
. ... .... . ... - .. - -- .
A hora da sAsrrs, para as mulheres, é a mesma dos eratos», ou s ej a ao
raiar da aurora. Soltam. p orém, à s onze do dia, tendo por única interrupção a
hora do alm oço. Almoço ligeiro, à custa delas, que se resume a pão. queijo,
azeitonas e frutas . P or acaso almoça carne de enchido, uma ou outra de algu -
mas posses. Quanto a serviço, apenas o da ceifa. A atad a dos molhos e a
endlheiração incum be a um ou dois homens agregados ao ranch o. ( d
325
ATRAvts DOS CÀ~I POS
* * *
A o nascer d o sol já a s do rancho têm ceifado o bastante para se lhes ava-
lia r o d esembara ço. A retaguarda do corte vê -se juncada de 8.veJas. a atesta-
rem q ue as foices a ge r rara m cedo, a n te s de os pássaros saudarem festivam ente
os prim eiros a rreb ois da man h ã .
De pois do so l ne scído, a azáfa ma pross egue com a ten acidade pri mi tiva.
N o va s e velhas, solteir as e casad as, na m edida da s suas {o r ça s, to das fazem o
qu e pode m , de mangas arrega ça d a s e saias em calçonates. N ã o tr a balham com
desembara ço a nál ogo a o d os ret inhos, mas mexem-se re soluta s, s enho r as d o
seu p a p eL .. E à porfia ava nça m , derruban d o «pão» e esten den d o p ave ia s.
Lá alivi am a m i údo, p ara di zerem coisas o u pe r a emb orcarem u ns 8010s de
água f r esca qu e a agu a d eira lhes ofer ece. fi ) m as pront o v oltam à Iíde , dando o
s eu a seu don o. C omo o lavrad o r apareça, d ã o-lhe as b oa s v in da s, ga b a m - lh e a
sea ra, enc a r ec em o trabalho, e, a prop ósito, como olb.amento, d e que s e julgam
mere cedora s, p edem - lhe um a l moço d e so pas de lei te . c em fa rt u r a». O l avrador
a n u i ou nã o, segu n do o feitio q u e tem e a s impressões q u e recebe. Se anui.
retum bam-lhe os elogios e a pan h a vivário . . .
· .
Aí p el a s dez h ora s, já as la b oriosa s ce ifadocas {re qu ej a m sensivelmente.
A viol ência do s er viço e o calor d o sol põe-na s tontas e pa tetas, a suarem em
- 326 -
ATRAVt.S DOS C AMPOS
bica , de rosto esbraseado. C on tu d o. agu e nta m -se até à s onze, hora a que lar..
ga tn o trabalho, por vencerem o meio dia. Dez minutos m ais e ei -Ias a caminho
de casa d escalças, de ch ape u na cabeça e foice ao ombro . pisando a areia das carre-
terras, quente como brasas d e lu m e. C a min ham em bando. algo atordoadas e a
passo ligeiro. Lá fala uma o u o u tra, mas o trajecto é triste e 8S fa las são poucas.
P ouca s e em voz d e d esânimo. abafadas pela ínferneira das cigarras, que a essa
h ora cantam furiosamen te, do cimo das moitas e arvoredos. t uma «canta rela e
azoinante e p ersistente, q ue pred isp õe à p r eg ui ça e 80 sono.
............ . .. . ........ . . . . . .. . . . . .. . . . . . . . ........ .... ... . ... . . . . . . .... .. ..
Afinal, ao cabo de pou co t em po, sob um sol de rachar, q u e lhes escalda o
sangue e as ala ga de suor, as caminhantes v êem-se próxima s da. povoação e dos
seu s branqueados casebres. Esta perspective sorri-lhe, encoraja -as e transfor-
ma -as por assim dizer. D e macambúzio.s e estafada s que pareciam, t ornam-se
viva zes e parladeiras. Com efeito, mal entram DO povoado, de satam a ca n t a r
alto, m uito alto e em co ro, ao som do pandeiro e das castanholas . D e ve z em
quando param par momentos, a cantarem e bailarem. E daí a nada, s eg u em p ela
r ua fora, a cantarem e a toca r, de s perta n d o a curiosidade. Entretanto, à s portas
e ja n el a s entreabertas do cas a rio rasteiro. assomam várias caras feminis, de
t rajos à Erescalbone, ávida s de verem e ouvir as po bres que vêm da ceifa-
Muitas são- lhe afectas e be m O m oatt e m, excla ma n do: - e Coitadinhas! esmee -
reneeedes de trabalhar e inda com ga na para se edever tírem I O que é a
m ocidad e ?l. • • D i virt a m- se, ra parigas 1. .. C an tar é do s anjos Quem canta
seus males espanta I. . . » O u tr a s não lhes rende m lo uvores. antes l h es chamam
nomes feios:
- eBai8 u mas essolut es t ... V alunt aícssl .. . A darem motim pelo meio das
rua s, sem á .tsu pr ems d e n ingu ém I. .. Be díss, a alvoroçarem quem está n a s ua
casa I. " E ain da a ge nte as vem a ver J. • . » Assi m se exp ress am as maldizentes,
com cheiro d e ajui zadas. S ã o em ge ra l ca r ca ssa s ra buientas e moças recolhidas e
dengo sas, com pretensõ es a graves. T odas el a s ret occe.rie cem vezes ma is que a s
al vej adas, s e se ap anh a ssem à solta e à lar g a, onde n ão d es sem nas v is tas I...
* * *
A atada O pr ep aro d os m olhos d e «pão» es t en dido sob o ras tolbo, ch a ma-se
ata d a. E ste serv iço s eg ue a trá s d o co rte e dele se incum be m o s r a p a-
zes da ca mar a da , q u a ndo a ceifa é fe i ta por ratinhos. Desempenhad a por
m ulher es, a atada per t ence a h omens ou r apazes, que as a co mpa n ham de
propósito.
Em qu al qu er dos casos, ca da a t ad o r reune e so b raça u m i ndeter minado
núm ero de p a vei as e com elas faz o m olho q ue aperta e a ta, d e joel ho em eerea.
em n ó simples. p o r meio de um n egalbo. p rêviame nte preparado . O negalh o
- 327 -
ATRAVe S DO S CAMPO S
Ril hei ros Na região elvense e lim ítrofes, o vocábulo rilheiro aplic a-se aos
montes de molhos que, após a ceifa, povoam os ra stolhos, e tam -
b ém às grandes medes que, depois, se levantam nas eiras, com o recolhimento e
acumulação desses mesmos molhos. No concelho de Àviz só se designam por
rilheiros aquele s q u e se erguem nos rastolhos. Os outros, o s das eiras, cha-
mam -lhes fraseais ou medas, como chamam moreias a os primeiros, em diversas
localidad es.
Finalmente, 05 Dom es de rilheiro o u irescel, nun ca d evem t om or - s e por s inó-
nímos de almenara . Em a gr icultura a l en t eja n a , o vo cábulo - almenara - apli -
ca-se exclusivamente a um gr a n d e m onte de palha ou de fen o, erguido e acon-
d i cionado a preceito.
Aca r r et os
- :330 -
A T RAV E S DO S CA MPOS
- :~ 3 1 -
AT RA v t S DOS CA M P O S
11) I:.t. (l1"1Il 0 d • .J:lUitde • • duheUfio d. "(Iui luo. .... ' u ..... • .. o .uqu. .. II ...... h o . 11'...., 6...10• • 11'0 ... 0 .1 . 6.1... 0 d.
h .!llIldo .o. U IUlClo1". • ....e.. ho.o. ete,
- 332 -
ATRAvt S DO S CAM P OS
/1) A,l jor, .. p.o.a .o.tn do. L"ro.l. d... ID lu rn , ",,,h o •• u . o 0.. f pou do• • , unto• .
- 333 -
ATRAv t S D OS CAMPO S
* *
fundas por carrada Para se n ortearem em cálculos e prevrsoes, u sam os
la vrad ores in fo rm ar -se do n ú m er o de car ra das de «pão»
em r a ma q u e lhes pr oduz em a s sea r as, e sobret u do aa xfo lh a s» e etorn as", mais
em evidência. Sabida a conta d a s ce r re des, e conhecidas as co n dições em q u e
as m esma s se erg ue ra m e «de ram», o l avrad or co n ject u ra l ogo do bom o u m au
êxito da colheita. En gan a - se a lg u m as vezes, m a s n em por i sso aband ona o
h ábit o de i nq uirir e d e ava li a r . E por q u e o h ábito es t á arreigado. po rme noei-
ear -Ihe-ei a s bases. Àssim , a f unda o u q u a ntida d e de g rão co n tido na pa lha de
uma ca r ra da , d ep ende d o volum e da mesm a , da n atureza d o cereal , do co m p ri-
m ento da palha e d a g rada das espigas, qu e ta nto p odem estar chei a s, como
f al has o u sacud idas. N o entant o, um a ca na da m ediana. em ca rr o d e muares,
cu jo «pão» esteja g ra do, sem muita p a lh a po r ai al ém .. a t ribu i- s e- Lhe. ger a lm en te,
o seg uin t e : em trigo, 25 d ecalitros ; cen t eio. 28 ; cevada. 40 ; av eia, 70. As q u e
f u ndem i st o. já dã o bem. Que po d em dar mais ou menos. compreende-se.
Os cá lcul os falh am com fr equ ência. p or melhor que se fundamente m .
- 334 -
A T RAv t s DOS C A M PO S
que realizou i m edia ta m e n te verrcs segur os, sendo o primeiro a 2.5 de junho
de 1883, da fo lha da herdade das Cal dÚras, do fa lecido lavrado r João Carlos
da C osta.
N ão obs tante a p ropaga nd a d o sr. Barros o, os seguros a grícolas efectuados
em 1883, fo r a m poucos e o mesmo a conte ceu no s d o is anos subsequentes. S ó aí
por 1890 e tanto s, s e g en era liza ra m e a creditaram. E/ q u e a s experiências es t a-
vam fe i t a s e as van ta g ens r ec onhecidas. F a ct ores desta nova e m elhor
ori enta ção, encontram o-los: primeiro. n a seriedad e absoluta da Confiança
Portuense, que t e m p ag o p ontualmente os sinist ros p or ela ga r a n ti dos ; segundo,
na pro paga n d a e concorrência de n o va s co m pa nhias (Internacional, Fomento
Agrícola e outra s) que es palharam e gec tes e circu lare s por t oda 8 parte ;
terceira, n a melhoria d e va ntagens para os seg ur a dos, cujas indemnizações,
de 7fJ o o que eram em p ri ncí pio , passaram a s er to ta is, sem aumento d e prémio.
A indemniz ação integral e a pro pagan da activíssima dos agentes, foi o qu e
mais i nil uiu para a g ene r a li zação d os se guros. Qu an to ao prémio estip ula do ,
foi e é de 800 r eis po r ca da 100$000 reis de va lo r segurado. P ar a a s searas
atravessadas po r vi a férrea ou debulh a d a s 8 vapor, acresce o adicional d e 200
rei s por cada l CO$OOO r eis, a p retexto de ser maior o perigo de incêndio.
E ir as
- 335 -
ATRAVr.S DOS CAMPOS
•
Feição das e i r as Na força das colheitas, quando os s erviços se multiplica m e
a voluma m. a eira torna-se o ponto conve rge n te d e to do O
mov im en to da lavoura . A gra n deza, disposiç ão e variedade do s ri lheÍYos e das
almenara s ; a azáfam a das d ebulhas po r es te ou p or a quel e processo, senão dois
s imultâ neamen te e em separa do; os montões d e cer eais lim pos e a medição dos
mesmos ; as pilhas d e sacos cheios. a g ua r dand o s aid a; o ba r u l ho e o m ovimento
dos car ro s, uns a des carregar em mol hos, ou t ros a ca r r egarem o grão para o
cel ei ro; o d es vio e a re m oção d a p al ha por vários sistem a s, d esde O d a baldeação
para as almenaras e redes com b al d es e panais. até ao en fa r da m en to n a com-
press ora m ecâ ni ca ; e o ut ras pequenas coisas que com pletam a quele m ovimento
ATRAvtS DOS C AMPOS
a fa noso, cel eb r a do e apreciado pelos que es t ã o e pelos que chegam, Ct l tudo isso
en 6m , reu nid o, compõe um cenário interessante, d os mais típicos e notórios da
lavoura alentejana.
A eira nas co lhei tas é sem dúvida a grande oficina rura l. de abençoada
lab ora ção. O la vr a dor assiste-lhe com assiduidade e carinho, coopera nos traba-
los de Iímpese, dá orde ns a todo o mome nto e do q ue vê e ajuíza , fixa imp res-
sões várias, algumas tão emociona ntes que jàmais olvida . Impressões l'is o ngei-
Ias e ô timaa nos anos abun da n t es ; tr istes e amargas nos de escassez manifesta.
É assim a vida do lavra dor e ele o sabe muito bem pelo que a experiência
lhe ensina.
D eb u lh as
Podem pri n ctpi e r entre maio e junho, quando porventura se precisa reco-
lher géneros pa ra rações de gado e fabr ico de m er rocet es. (s} Semelhante apertos,
obrigam a deb ulhas p r em a t u r a s, restr ingidas, em todo o caso, a pequenos calca-
douros de cev ad a e a qu aisq uer m achocas m de centeio. São colheitas antecipadas,
e como tais, por vezes, sofrem co nt ratem pos, de chuvas copiosos q ue prejudicam
e empatam o despacho ambicionado. Por isso só se fazem excepcionalmente,
por necessidade abso luta .
.. . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . .. . . . . - .
Como não s urja m o t iv o imperioso que apresse ou reta rde a fai na, as debu -
lhas começam a valer e sem interru pção de maior, na pri meira s em a n a d e j unho
tendo a primazia as favas e a seguir a cevada e o centeio. O t rigo ent r a e m cen a
no m ês de julho e a aveia reserva -se para o fim da época, já em agosto, no pro-
pósito de, ent retanto, comerem dela, nos r i lhei ros, as éguas da debulha, as
muar es dos aca rretas. a bes ta da ág ua e alguma rez fraca. Os t-ilh ei r os de ave ia,
assim dizima d os j unto da e ira, mi nguam a olhos vistos, mas o ~ado engorda a
va por, p or comer à f a r ta e à f ran ca . Esta fran queza não se com pa ra COm a
prodigalid a de e d esperdício de ou t ros tempos, mas aioda t raduz la rgueza exces-
si va, sob retudo nas lavo u ras grandes e antigas, em que se não faz caso de
miudesa s.
.. . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - . . . - . - . . . . . . . . . .
Sistemas de debulha U sa m - s e q ua tro: pr imeiro, a p a t a s de éguas man a d ia s
•
em cobra; seg u ndo, por m ei o de trilh os ; terc eiro. a
msngual, por m al ha bra ça l, com ho me ns vigorosos; q u a rto, à m âqo io e d ebul ha -
h J ~ .Ir.. c1uh= c.. rio.u d. dri.. proc.d."d... . u 1;I.. t • • d.. c n n C.!r....il' i...h... '.:II.d.iro. d. nh h.u ..
• 'ucUlI.....-... a= ..oln. e.. (Uon•• ee.. 'raL. ...,U..e... ,UlIa Lo ....ld .. po r 1.,..= .LaI.do dond. ul ...... ra, f ' lido.
" .lIdl,o•• al e
Todo, 411. ch.. ~ .1 0 co.ulda,..do. c:b.,aJlto, • todoa pard lL..I = .1:.. 'OP" d. 'llIharl• • 4luraDdo. E1'lI Irou . 1'lI1;Ift...
d. lu hocorpoum·,. a o tr . b.lh o , or . 1"'01 t em po. I b m de ai aa lul. rc lB. ou para f."uclII Ju••• dmlaf io la Diuo •• 'D"o -
,,!l.m. O"tro., ulh,h~ • f.n alllalli. d. ulll parall l. ou Iml,a ... m.nt.. da Ih. du.= .. u.DI • • jud...
(, I Piu de ""Ido.
'"' P. q'Ut.1I0. I..tra. d. u Du lo q'"t. ai m.lh..=« Ii mp«m t.:o;upcloll.1m.... I•••bm da .a larfllu a panlliuJ em It~uld.
- 337 -
ATRAv t S DOS C AMP OS
dora, movid a a vapo r. O primeiro sis t ema, aplica-se i n d isti ntame nte a t odos os
cereais e l egumes ; o seg un do, uso u - se muit o n o tri go, mas j á p asso u à história
pelo m enos n as ei ra s de gran de m ovim ento; o te rc eiro, excl u si vo para o centeio.
tamb ém vai es tando a b a ndonado, e finalmente. o quarto. o da d ebulha a vapor,
a p revalece r so b re os o ut r os. po rq ue sa tisfaz à maravilha para t odo o género de
cereurs.
..
Calcado uros D á-s e este n o m e às uni d ad es de cer eal em ra ma q ue se d epõem
no las tro d a ei ra pa ra i mediata d ebulha p or ég u a s ou a trilho.
N o acto de se este nde re m , aprese n ta m a co nfigu r açã o de m ont õ es v olumos os, Qu e
de pois baixa m e alargam. à mane i ra que a palha assenta co m a debulh a.
O s ce lca douros preparam -se a toda a h ora qu e seja preciso, mas es ten -
d em -se co m m ais frequ ência de m anhã cedo. E, o u se f a z em d e m olh os r ec ém-
- vind os d o ra et o l h c , n os sitios em qu e se tenciona d ebulh a r. ou se co mpõem
com O « pã o » q ue se re se rv a nos ril h eiros e q ue a braço se con du z o u a rre mes sa.
p ar a o lastro. De q ualque r m an eira, a q uil o q ue s e vai d ebul h ar é previam ente
des at a d o à fo ice para não embaraça r a deb u lha.
Quand o p or acaso se t rata de cen te io, os m olh os, em bora de sa ta do s, col o-
cam-s e, empina dos e unidos, CaDtornand o-se uns 8 0S o u tr os, em ve z de se
e st end erem a es mo e a ba ldão, co mo s e usa n o t rigo. na ceva d a, na a ve ia e n as
l egumes.
Com O centei o principia-s e p or se co locar um m olho direito n o centro do
lastro, e, em volta, vã o-se-lhe encostando outros, em posiçã o semelhante, até o
ca lca do u r o se arred ondar na circunferência que se q u er.
O calcadouro gran d e, de vinte a trinta carradas, convém s er debulhad o por
duas cobras de égu as, a trabalharem nele simultâneamente, mas em separado e
desencontrada s uma da o u tr a . Para os p equenos, de seis e vint e carradas, basta
apenas uma cobra, mai or o u menor, conforme a quantidade da palha.
- :J38 -
AT RAv t S DOS CA M P O S
eacobr e r. Á corda (cobr alb.a) prend em os colares. a tando-se cada um a o pes coço
de sua égua, de m odo a fica r em todas presas e encob r a d a s ; - presas em co n di -
ções de se poderem soltar fà cil men te. A seg u i r, sen ã o antes, é enca b res ta da a
égua de uma das extremidades - égua mansa, sabedora e esc olhida a preceito
para trabalhar à mão d o egua rí ço. Na extremidade oposta à «da m ã o», .figura a
..da po n t a», re crutada entre a s m elhores e mais ligeiras.
Dentro d o ca lcado u ro o u à be ira d ele, n os m omentos d e i n tervalo destinado s
às volta s d o ca lcado uro por meio de f orcados e forquilh as, as égua s m u da m - s e e
alternam-se n os lugar es q ue v in h a m o cu pa n do . Assim é n ecess á rio para hav er
equidade n a ex ecução d o t raba l ho. po is que a deb ul h a fa ti ga- a s mui to em d eter-
m inados luga r es e po uco ou nada n o ut ros. Ào passo q ue a égu a «da mão» m al
se mex e. por a n da r vaga ro samente n um giro r ed u zidissim o, a ede p onta» , esta-
fa -se n a m archa, po r co ntornar a galope a circunferência do calcado uro.
A s intermediárias, tr a bal h a m e fa ti gam-s e me nos q ue a cda p o nta» e tanto
menos qu anto mais se a cerc am da o utra, q ue fi ca à mão do eguexiço .
C onse quentement e, de v ez em q uando, m ud a m-se as dos lugares for ça dos e
viol en tos p a'ra os o u t ros m enos cus tosos e as d es te s p a ra aq ue les. I sto n a hi p ó-
tese d e to da s es tare m em iguais con dições de re si stência. ou a p r ox imadas, pelo
men os. Não es tando, B S possantes e t re n a d as oc u pa m alternadame nte a ponta,
o cen tro e imediações e a s fraca s e velhas s u bs tit uem-se n os l ug ares de m enos
custo - en a m ã o » e i m ediações. A s poldras primeiriçss o u d e amansia (d e d ois
e três anos d e idade), nunca trabalham cn a ponta », nem cna mão». Geralmente.
ncam numo lugar de exercício m oderado, onde se fatigu em p ou co.
.. .......... .. ...... .. .... .......... ..... ... ...... . .... ....... . .......... ....... .. ... .......
A debulha por égu as era a preferível antes de se v nlgerix axem as debulha-
doras a vapor. Só a não usavam os pequenos lavradores e os s eareiros que, nã o
possuindo ég ua s, nem as obtendo de empréstimo ou a luga das, debulhavam, à
falta de melhor, com umas bestitas quaisquer, s enão reeorr endo ao s trilhos,
como ainda hoje pratieam ah~uns. Afora estes, todos pr eferiam as égua s, por-
que elas são, com efeito, os a nimais de maior pr ésti m o para a debulha de
ceeee ís. Hoje mesmo, muitos lavradores eontinuam a utilizá-la s nesse trabalho,
que realmente despacham com ga r bo i n ex ced ível.
A auxiliar e completar a debulha, ou seja a cuidar dos ealcadouros, esten-
dendo-os, voltando-os e limpando- os, bem come a rem over e almen arar 8 palha.
fiiura nas eiras o pessoal preciso, sob a direeção do abegão ou de quem o repre-
sente. Este pessoal compreende h omens e rapazes d e diversas idades e aptidões (1)
incluindo velhos e rapazolas, quas e inadmissíveis nas debulhas a vapor e ina-
ceitáveis em absoluto nas malhas braçais. A d ebulha p or ég uas e trilhos, é d e
molde a empregar gente d e tod a a or d em , desde que seja dirigida por enca rre-
gado zel oso e sabedor.
. .... ... .. .... . . .... . ... .. ... . ...... ... ... .......... ................ . . . . ... ..
h) G' II.h!u . 11.11.1. , um ponilo, • • dlu, d. mlatuu com "P U " d. U mpoud••• JOIIl.'. v.j.·.. P."o. lJ.. 11 m_
~.oo '" II". oU • 64.
- 339-
A T RAv t S DOS CAMPO S
- 340 -
ATRAvt S DO S CAMPOS
Enquanto os homens dão volta à palh a. a cobra continua debul hando, mas
num campo restrito, que o pessoal faculta, se pode. Havendo impossibilidade de
ambos os serviços p ros seg uire m a pa r, as éguas suspendem e aproveita-se-lhes
8 paragem, mudando-as de lugares. Ou vão entretanto debulhar n outro calca-
douro di sponível. Depois tornam ao sítio que deixaram e à tarefa que inter-
romperam. E aí, de novo em cena, não esm orecem. Pelo contrário, continuam
a correr g a r bo s a s e áAeis, a ar regac e rem os braço s e a mostrar em as ferraduras
poídss, brilhando a o s ol como se fossem de prata. De lon ge em longe a veloci-
dade bota-as for a em desmandos de confusão, que remedeiam num instante, por
instinto próprio ou por que a isso os obdga o a çoite do eguariçc.
Nesses desmandos arrastam palhas e es pigas, que os homens recolhem à
proced ência para evitar desperdícios de efeito desagradável.
.......... . . . ......... . . . . .... . . . .. . ... ... . .. . . . . . ... . . . . . ........ . ...... ...
A debulha pros segue, entrecortada pelas voltas de qu e a palha ca r ece, até
ficar em condições de limpesa ao vento . Fica, a 6.nal, com a palha gro ssa ou
miuda, ao estil o da localidade o u ao capricho do lavrador. (1 ) À s ég ua s retiram
então p a r a outro calcadouro o u desencobrem de vez, s endo horas de solta .
Saem enfim da refrega e s a em ba stante enxovalhadas, de cabelo sujo e empas-
tado por m otivo d o pó e d o s u or . Ma s não revelam cansaço, t ão alegres se
mostram e tan to rincham para as crias. (,) Mais tarde, ou lo go a seg u i r, n o acto
de as desprenderem da cobra, vemo-Ias de n ovo radiantes e dnchonas, a darem
de mamar às crias e a af~arem-n as com ternura . De vez em qc andc esquecem
os poldritcs e tratam de si : - sacodem-se das moscas que as perseguem e d as
sujidades que as a feiam . À s mo sca s, o s uo r, o pó e as p rag anas incomodam-nas
bastante. POI isso, uma vez em liberdade, toda s alçam o rabo e todas se espojem
na terea . Daí a nada, éguas e cria s, tudo desata a correr e espin otear, em reto uçe
brava, a caminho d a água e do rf lhei ro, para refresco.rem o sangu e e r estaura-
r em as forças. (3 ) Trabalharam oito a dez hora s, com ligeiras interru pçõ es.
(iJ Co..fonlll i o 'Irul, ...1m dl mora • d.hlll ll• . O qu. fIl 1U I'", ....110. " .... d • •• " ' \ll r • u ...d• • O. rTi.OIm01,.
• • rt llul• • O. t rl'o. r ij o. op ô. ... n.Luflld. Il uln ••ob ,.tudo II loh. iro. i . ao l llO d po do. d\lrhlo• • f.t • • dI qll. (......
tIo &trlli . do .. COllltn. IlU IIpl,u • tIo &1 lltOl• • • p.U••. Pu *'11"
~ 01 lri lllo. o d.bolll.,.... cOII..... l ~ll t.JII ~ ll t • •
purh... de "'lli10 m.b 1.... '0 do qu. 'u. O. OO IJ'O' ruul •• Cllr' metu rarr'" ao. c.ludollrO'• • fi.. d. :.-od ue•
•dl.... t~ 01.. l,t . .. • lh . f.rilllau'" o ..,..1'0 .
h ) E,,,qu," to .. """ d.bun••• , " ui.. <fU' 11111 lI.rlnlum Ulio . a u n . d.. r ... q••1qu., rllu.1 011 rnCldo , ' 6.1<lmo.
C., fUlh• • o.hu. Nio h''''lIdo cerudo. '" ,oldrhOl Gn... em Ilhnd.d., 110' arredar.. d. cira • do Jilhdl'o d..... i • •• lId.
ro••• • No Iilh r lr o p.u... ,Clllro, d.poll d. . . (. r lu ..... Prtler..... 10....' ... lo 1." olun... •.. 'II U, . . 111111 . lato pn-
ItI,h. " ..., ..1111111""0 d. d.hulh•• pOT rOIl" 'Wllle o pu.o.l U P'"t1 ·0' • fI · lo ir do nlndoluo. M .. I~ im .... em ..olt. r •
...It •• du ,"" d. .. n n , . 11«0;:. ..10 .. 1110 ••f.d'lII d. r uotol• • ;" q.llo ' .f.d. _lllu m....i to p.n 1U1U n . rhorll.d d u 011 tUu
.lu .Iu . dePOi. e,.fil~ir... ~m II. rob r., f.ulOdo li'lOn. O CIO' , O 1... t1...10 d. 11.11.,10 1•• •
11' POl1 0 u i. dl((cll n1rular lo h 'UII ' for .... i •• i rlc. q" . 1 " par,io d. u n,,1 «\I' '1111 ' . .. . d.hul h . ~= ud. du. 1110
n d dU Pl o, 4,i to atrHlI.1r·n·lh. II ,,'oiatl I
Tri,o. moi.. 3 5. 40 d.ralitro.
Trláo, r ij o.. sJ . 20 •
C'" f.l o . • . 40 . 45
C d. . 4j • 10
A I. • • • 60" 70
la to do mero. dlrolo., .... qu ' lIi o pode h....., . h. 01Ilt. cOIl6 .a, •• Pu. II du p. r llo . 111 qllll tlo. CO IICOfll1ll 11111110'
fatto l u 1111' 011' 11111 de çoudl ,5u ..u lb.l• . Nll...n o. ' P1idilu • d"'lIIbn.,o do p,.,o.l. ui. ,lo do " ' nno .... d. bulll . , CO Ill
PO \lU 0\0.111.,,11. p. III• • d. ..pi.... h.m ou 111.1 " U d UI di .... ".õ.. do calcad ollro; lr mp. utll" do dI • ••t c.
- 341 -
ATRAvtS DOS CAMPOS
De len ços ao pescoço, a livrarem - s e da s pcagen as, homens e r apa z es. após
os preliminares de scritos" entram n o lastro" coloce m-s e em linha e dispõ em-se
a limpar. A limpar deveras, por meio de fo r q uil has e com a a cção d o vento,
factor i m pres ci ndí vel.
O abegão ocupa a ext r em a d e o n d e cor r e o vento; os ganhões b cam entre
ele e o pelheireiro - um ga n hão q ua lqu er, colocado na ou tr a extrema. de o nde
de svia a palha q u e o vent o arrasta. Desvia-a d e vez, a ficar fo ra.
Abegão e ga n hões, em posição d e atir a do res, en ch em as forquilhas, a tir em-
-na s a o ar e desped em-lhe o con teú do , s eguindo de norte a sul e vice-veree.
E o vento lá abala com a palha, a u a stand o-a pelos ares, em t orvelinhos capri-
chosos e poeirentos, no passo que o g rã o cai no solo, de mistura com os troços
de palha e o u tr a s impuridades. Por seu turno. o encarregado a ven t eja com
maior desembaraço e preceito. A sua forquilha, d e dentadur a mais cerrada que
a dos outros. enche-se no gr ão j á «a ven t ej a d olt pelos 8an hões. Faz as pelas, (I)
que assim se diz em frase ologi a de eiras.
(lJ V.I .(uc.udo o ,tio II..,. de p.lh • • "II .iad. m ui10 .ajo <toa tr OfO• • u<tho, dll upl'lI. boal<to. 01 .. I,a u . 10r_
r ,}". eee, t eafi lll. o 'ri o li 'l'.IlI.j.lio p.lo. , ••h,}u • Cila. d• • 0"0 1 .0 O aD.,lo quando o . nAU" . di_lh. . . .oll .
pred.. pu. u u a jt:i lo d. . . u feader p.la ei ra . 11I f.b ... pu.I.I Cilll p.l.,.
d. ao -.lll'. O. aacido, p• • t.l a.-a..
oI.pol ., utaado· ... 01.. Im paddad.. Cila. <toDtilll.. t t.l u& ue. o 1IIo th o 00 : '1ue lhe <th.llla. "du.
- 342-
ATUAvtS DOS C AMPOS
Mal h a s A malha é uma d ebulha b ra çal que s e a plica a o centeio. D esem pe-
nh am -na hom ens r obus t os e s abedo r es com O auxili o de msm gueis.
Est eve muito em vo ga noutros tempos. ainda ho je se v ê nas lavouras pequena s.
mas virá a aca bar depre ssa, t ão pouco s e vai usando. Àlém de raz oes eco n óm i-
cas, m ais ou men os d is cu tí veis , determina esse abandono, não 56 a r a pidez e
perfeição dos modernos sistemas de debulha, como a falta de braços e a expan-
são da cultura cerealífera. Às colheitas de h oje, p ela importância que têm atin-
gido, i mpõem O abandono d e processos morosos, qu e, a manterem-se, dariam
em r esul tado n ão se co n cl u ír em os serviços na quadra estival, ú ni ca apropriada.
O pe ríod o propício p ura as malha s, limita-se ao mês de julho e à primeira
qui nzena de agosto - a épo ca dos dia s quen tes, de orvalhadas li geiras. Dos mea-
dos de a gosto em diante. a s mareias (I ) costumam ser Brandes e isso não convém
pa l a o ser vi ço em questão . Poc co n seg u in te prefere-se d ebulhar o cen te i o à
máquina e até com ég ua s. Mas em primeiro lugar opta-se pela debulhadora,
q ue no centeio despacha mui tíssimo, con tra s ta n do a valer co m o ron ceirismo
dos mangua;$.
No entanto, a s malh as f o ra m tão usadas outrora e obedeciam a praxes
tão originais. que ser ia indesculpável o m i t i- la s. Eis, pois, esses p ormenores,
r eco l h i do s, é claro, na região elvense, ou para melhor na zona d e Santa Eulália,
onde a cultura d o centei o é de importân cia primacial•
. . . . .. . . . . .. . . . . . . .......... .. . .. . .... . .. . ... . . . . .. ... . . . . .. . .. . . . . .... .. . ..
D e o rd in á rio, o ser viço da malh a executa-s e num a eíra d e oca siã o, melhor
ou p ior preparada em qual qu er vale inculto. «bem lavado da rraveasie» .
O p essoal co m põe- s e de uma eca m a r ede» de: oito homen s e excepcionalmente
de 10 o u 1 2. O essencia l é co mp utare m númerO par. Se for ímpar, o que só
acontec e p o r C8 S 0 d e f orça mai or, os me lhadores tra balham irregularmente. de
m á von t a de - malham à cadela, f o ra das regra s que a ex pe ri ênci a ac o nsel h a .
Também es tá averigu ado que oito homens d es pac h a m relativamen te mais e
m elhor que 10 o u 1 2. Nas eira s d e searas muito g ra n des, cos tum a m fun cionar
du as o u rne i a eca m a ea d a s» de oito homens cada uma, trabal h ando em separado
ou m esm o j untos, se o to ta l d os h omens n ã o ex cede a 16. E t a n to podem per-
te n cer à ca t egoria d e «c riados a n u e ise, co m o à de g anhõ es assoldadas o u à de
jo r n a leiros a dia s. D e q u a lq ue r classe de q u e procedam, t odos tomam a classifi-
caçã o tran sitória d e m e l b e âores e t odos sa bem d o ofício, àparte os novatos-
a pre n dizes - um a d ois por «ca m a r a da» .
Cada g r u po o u ec e mar a da.. é dir igid o po r um mandant e - o abegão ou o
so ru, e, no impedimento d e ambos, por o ut ro criado anu al. de con fi a n ça e
desembaraço. Se, contra o costume, o p essoa l consta de jor n a l eír os a pen a s, o
q u e de ent r e el es «f az cabeça .., intitula-s e manageiro e ga n h a 40 rei s diários a
(l I Por m. re i,. 11..1' 0, "' -,,' .. ",mi:l.d.. d.. o...· .II••d nub l.do, qu • •" . n u ... fu qo. nf l "' l o tl ou ........blil d•
• ,o.!o. !.tI " ... ere'" . .. ucl = " .. 00 .. ubU q u. poe uu, °
co= p. nlt.. m. embora '011" ''''0'0 u olt.. depoI. diu ipã · I...
0;0100 . "" 'u. 1 .C'" . o lu d... 9 b.or... de ix ld ..d•• b.u... !u no cen lel o. !or..... do- .. i ... po.. ",.1 "".. lllã- Io .m 101""0' •
..... • p.. n&. e..r <UIl • .,,, efio , Frio lleou d d'"' • • d fr io "ullI..e ee e lIel. m 1.1 fo u . O. à , . o•• m OI'UllI • Ir..: h ..... . un i·
• • do , 11 "pl, u , • p.l b... pó.·.. cot ne"," . 'Iu. ,.orl"(r I'.... . S 6 POrt , O di m.lh. prou llo." em II ' 01 II ''Iu tee odo
" or .IÃ"...... bort' <
- 344 -
T ransportando palha enfardada - For m and o o fra scaI
ATRAvt S DO S CAM PO S
Enquanto que Das eiras de debulhas por égua s se moureja desde o alvorecer
até ao pôr do dia e mais tarde, nesta s exclusivas de malha. agarra-se de dia
claro. solta-se cedo. com sol às vezes, e nas h oras úteis dão-se intervalos de
descanso demorado, aliás indispensáveis à violên cia d o trabalho.
À malh a do centeio é p or assim diz er uma empreitada diária, de despacho
e rendimen t o sa b id o . Pronta a tarda da praxe, está o jornal gan h o. embora
so be je o dia. E sobeja quase s em pre. Esta circunstância apreciam-na tanto os
ser viçais, q u e pOI ela preferem a malha a o u t ra o cu pa çã o rural de muito men or
vi olência.
* * *
Vai de erguer, a o aclarar do dia . Quem quer, come a cunha ft) e q u em p ode.
fu ma um pouco. Os previdentes consertam os manAuais. cosem o s sa pa t os e
fazem vassouras. Ligeiros entretenimentos, de aprovei tar o tempo, até serem
hora s de trabalho.
À.s s eis da manhã principia-se. De o rdin á rio pri ncipi a - s e p or s e a im en a rar a
paiha malhada d e véspera e de véspera r emovida pa r a o sítio em q u e vai ficar.
C om fo rca do s e baldes, os malhad ores a volum am as a lme n a ra s em preparo.
ergu endo-as assim, d ia a dia, met õdicnm ente. D ep ois, à medida que as vão
el evando, pe nteia m - n a s co m os ancinhos g ra n d es e ba tem-na com as a Suilhadas.
Dão-l hes enfim a forma e solid ez necess ária para esc o a r em as ág u as das chuva s
e resistirem a os im pulsos dos vendavais. Também se usa não se almenarar.
Em ve z di sso, enfarda-se o u enfeixa-se. S e se enfarda, não são os malhadores
qu e enfardam. Mas s e s e enf eixa. a el es i nc u m b e esse encargo . a essa h ora
matinal. m ed ian t e g ra t ifica ção ou se m ela . D e qual quer maneira. a almenararem
ou enfeixa rem, d emo ra m pou co t empo. (2)
.. .... .. ....... ..... ......... .... ..... ..... .... .. ..... ... ........ ...... .... ..
A í à s 7 ho ras o u a ntes. confo rme ee ca r a d o d ia», o man dant e susp ende a
arruma çã o da pal ha e t r a t a d e estender a cama da, (J) - o ce nte io qu e se p ro põe
- 345 -
ATRAvtS DOS CAMPOS
malhar até à hora do meio dia. Nesse propósito começa por fazer a cubela -
um. cordão de palha deposto sobre o last ro d a eira, na extrema do nascente.
direcção de sul a norte, indicando a extensão a ocupar. D eli m i ta d a a cubela, o
abegâo manda vir molhos dos rilheiros que ladeiam a eira e os ganhões vão-lhos
trazendo. O e begâo e um auxilia'! desatam-nos, desdobram-nos e estendem-nos
Estendem-nos «às fiadas», com 8S espigas para o lado do nascente em condições
de se não emaranharem . POI último. o lastro enche-se e a camada vê-se esten-
dida a capricho, assemelhando -se a uma esteira descomunal. que ali s e desen-
rolasse. Então os malhadores miram -na e remiram-na, exagerando- lhe as
dimensões. Para t erem que falar, «bramam » que as fiadas são muitas e os
cav alos (v darão que fazer . - «Abóbora com esta assorda/ . .. Esta, desbanca à
de ontem . . . E às dos mais dias. . . Neste caminhar estrempolho-ee todo em
metade do tempo . . . Não bonda a jorna ser pouca, senão tirarem-nos a p eleI...»
O mandante não responde. A chiada dos ganhõea é da peça e da peça é ele
n a o responder ou responder com «anedotas», ao consoante das que ouviu.
S em fazer caso do que lhe dizem, ele e outros passam a travar a camada, nas
s uas quatro faces. Travam-na . encostando-lhe um cordão de molhos intactos,
ain d a por desata r. E' precaução da praxe, tendente a amparar a palha n a
ocasião de ser malhada . Feito isto, os malhadores retiram para o sombracho,
o nde os a g ua r d a o almoço. Entretanto, o centeio estendido vai aquecendo 80
sol, para me l ho r espirrar, q uando os marig u ais o z urzirem .
.. . .. . .. ..... . .. .. ... .. .. . ..... . .. ... "...
" . .
À lmoça m um as sopas ab u n d a n tes, tendo p or con d uto a zei ton a s ou q ueijo.
Àpós o almoço e a s f u m adas s ubseq u en tes, ca da home m pega no seu
rna'ngua] e to dos se dirigem pa r a O s ítio d a ca m a d a. E ntram ne la, t omam
pos ições Cd e com eçam. -a malhar o primeir o cavalo, na dire cçã o d e poente a
n a scente. C omeçam por uns prelúdios de ens aio, a experimentarem os «pa us» e
a mostrarem as "ap tidões. D a í a nada a s ex pe r iê ncias a cabam, o co m passo
acerta-se e a t ar eia d es envolve-s e, à voz e g esto d o m a n d a n te . E n qu anto os.
ma.n guais d os de uma d a s fre n tes s e erg u em e r evolteiam, os dos da out ra
frent e caem de chofr e na p al ha e n as es pig as, z u r zi n d o -as d ev eras, com a certo
e prontidão, A refrega é rija e as pa n ca d a s retumbam, num vai-vem caden cioso.
que f az saltar o gr ão e t r essudar os h omens. O sol afogueia-lhes a p el e e a1aga-
-lhes o cor p o, mas eles, p or enquanto, desd enham do calor e d o sol com o encas-
cados no «ofício» e avezados a ressolenes. Ora m alham a p é firme , enê rg ica-
CtJ Por ~"1l1o• • Iu"enle ndem-u .. peruIce em q'H! erbi tri da me n te Ie dh 'lde e um ed •• a6 m de te ir mlU...ndo por
p.rru . 101 p•• el .. e n i o de ub o a ra bo. um IMumltlnd u . P or t a nt o. ud a 11m uu lo . cOJlua d a 1'or,io d. p.II,. e di elPl,
, ... qu e fie. de pUllllio entre o. Il1llb.dor u I qUI d u .io m..ll'a Jldo (u n te . (u n te. p ela fo rm a qUI " .ed leiall tl.
À clmad.. para o ho h Ollllnl ~ O .tU III" - " ~ o mp or de du u ..lolI. talhad ol , "onfldll . a caprl eb o do cn~a n e'ad o .
(2) O CllpaJld o a n:rrl ma da uma d.. qn e be. aO lul . 01 lIIalb ..do r .. dl .tdl m_u em doil , ru pu .II t16mero l'", al, eoloeUI'
' u .m hln te u m do ecsee , a.mbo. 1m l iaba . I di permlio. a upari-Io• • be a o el n ul o que 'l'io m alb u. a CfU' .t. dll U II O.
u llla .I.. pu ecl .. o u U ..JOII e m li'" a fai n l III dj"ld •• N OIllI .I.. po nt.. di Cf oalquer du Ii nh u , 111111.. O ule n u,cdol
Dou tra • .lu opo. t .. '" do maa daa tl . m lnobram oa d a pka - o bomem ou b.om nu q"'l malb am de . 0.1.10 co"" for ça II jeho,
pl e. não a p.lb.a . 01... [nlre 01 .l u pOM .. I 01 d a pie.. trab albam 01 princl piant...
3M; -
ATRAvtS D O S CAMPOS
mente, ora a va n ça m a passo, da ndo exem plo os das pontas. (t} Ao cabo de alguns
m i n u tos chegam à extrema do nascente, abatem os m e nguais, tomam fôlego e
estacam, por segundos. São momentos de alívio, em que se enxugam de suor, a
respirarem ofegantes. E,' que esta primeira zurza de mangue l é das mais força-
das e custosas. E,' aquela que assenta n a palha a descoroa r - a ba tê -la em cheio
e com força. quando ela resiste muito, por estar unida e inteira.
D a descoroação passe-se a nova tareia, indo a efeito do nascente ao poente.
E a seguir, chegam-Lhe terceira, em rumo oposto ao da segunda. Três sovas
tezes no cavalo atingido, rematando a última por um estímulo do ebegão, que
brada alto : - . Farte I . . . cForte I.. repetem aos companheiros, obedecendo à voz
do chefe. E os mangue is de todos, vibram e revolteiam-se nos ares, descarre-
ãandc pancadas de arromba sobre o colmo do centeio.
Pronto um cavalo, tratam de outro e outro, até mais não haver. À malha
d o último traduz um arranco de energia forçada, que seria insustentável se a
refrega prosseguisse. De rosto rub ro, sangue a escaldar e suor a escouer-lhes pela
camisa à vela , os malhadores não dissimulam o extenuamento que 05 oprime.
M al acabam saem da camada , atiram ao largo com os me nguai s e caminham
a cambalear para o sombracho. No sombracho entram meios tontos e aí entra-
dos, ei-Ios a contas com a água do pote, bebendo-a sôfregos, parA refrescar
a va ler os pu lmões ressequi dos. C om que ansiedade eles emborcam o latão da
ág ua e o disputam de m ã o a m ã o n um a avidez glutona, de sede abrasadora!. ..
À água empanturra-os e o cansaço r end e-os. U ns a ss en t am- s e o nde podem,
a fumar devagarinho e de viseira car regada; o utros estatelam -se n o m eio d o
chão. sem f or ça s n em pacho rra. E à so m bra e à fresc a . a proveita m este p rimeiro
intervalo de des canso, indispensá v el e r ep a rad or. E ' a { er r e, co mo se diz lá nas
eiras. Vint e minutos d e corridos. a lerra termina e o l a bo r r ea t a- s e.
Saindo do s om br ecb o arra s t a dos pelo d ev er. os m a lh a dore s des trin ça m a
palha malhada e de sviam-na p ara fo re co m os fo rca dos e a ncin hos. D ep oi s
dividem-na e a m o ntoam - na em borregos, p ara a r em overem a b raços. D e ca da
borrego tomam co n ta doi s hom ens, q ue n a ba se l h es i n t rod uzem d ois me ngu a 'is,
de lado a l ado. a s ervirem de padiola . E com os me.ngu e is os l evan tam e rem o-
vem para o sítio da s a lm en a r a s. Os borregos representam m on t ões b ojudos, de
peso escasso. em relação ao volume. Por isso m es mo, tran spor tam-nos sem custo.
quase a correr, dando ensejo a episód ios engra ça dos, se en t re os da camarada
há tipos estúrdi a s, amadores de partida s. (d
11) o. 4u . Ili• • U U I pu', •• p ~.cI. d 1. l,ulII 111.' c"",p."",• • ' CII..m i :-p.. i~lIcl . ou clum.-
...1• • • 111 poda e e.. i... u 01 0 •• P .... cuod. cI. mal1t.nl .111. f.l.o. bol.cI. O" f.1'O d. u mp•• h.clla t • • lill" • m.h.. .. ..
. .110...... &'lIt.l..o. P.r I o••". pn ti com f.It •• M' .cr. .... 1I1I ee....o..odo. 1'.1•• com p' IlL.uo•.
(.l A. mal. f.. td.cI. , • "'oillll' 'lu.I u· IIl. JLAdor co rp.. I.lI lo. cI. co.I.. lo CO.. oo~o•• IIl"oclQl·"" 'Ocop. lU n .. u.
cI. _ '-rr.,•• d •• "uL• • oc .. lt• . " um . u . o d..f.clo.o. [1I "U• • tO. . . .0..lo l.do••• p". . . . . bl.. udm.....L.. P....
C_....eoRllO olol. llOonl••• In.....orl. " • • p.lh. 4 11• •o~.h" o l.t.,lo. O . IlIn.do. CO'• •• I' .. lo 111.0110 I.mp.bo• •
CUI'tJ'u. 10• • ".rulO .I..do. cojo pu U .... ... m lo••. M.. ",".ot... l.p'Ddo. "III. p.o rullu covo • • Por &. lu·
u- • fudo • O .lothl o d od .. ..·lb D. 1.111. 1'" ...1... COIII, o. f.DIO•••••or• • -lb.. do lo d. palh. . . . .I h.m.m
'KoMido •• 11' .. .t-I.. fil.· tb.. h pu pronuUlcl• • •r,h · lo•• t o. h' · lo•• !..otlo • nni.d. inomp. D""'O'" . . .
I""'' 'QJ • • 0. 1lO1•••••• d. ho. ou _, c. ndute. O. loi oo ..I. , un "''''111
por iuo •• 00••
- 3~7 -
ATRAvt S DOS CAMPOS
À ca r :ret a dos os borregos, reun e-se a palha que a inda resta malhar - po rção
d i minuta, que, por ter ficado debaixo da outra, não f oi batida s uficientemen te.
t por tan t o ba tida de novo e com fo rça, nu ma tare ia ret u m bante - a remelhe
- que se despacha depressa. À cto contín uo . salta f or a o col mo r emalhado e a
seguir estende-se uma nova camada, semelhante em tudo à q ue se acabou de
despa char. Esta de ago ra. destina-se à tarefa da tard e, fica n do em condições aí
80 meio-dia. No entanto. só se malha ao levantar da sesta. d as duas horas em
diante. Neste meio t empo. o sol aq ue ce-a d e firme, para dep ois se faz er m elhor
com o esvaids q ue se põ e.
........... ..
Ao meio - dia os homens jantam no sore br e ch o a clássica olha, com o u sem
badana. ( 1) E, no sombracho dormem a sesta - hora e meia ou du a s horas.
Nos sábados nu nca há sesta . T ant a pressa têm de a b al a r para a a ldeia , a
gozar a fo lg a domrnguei re, que a antecipam de véspe ra , adia ntando o traba l h o
e aprontando -o mu ito cedo .
.. .................. .. , , . , .
Erguem-se da sesta por entre b ocejos e suspiros. E lá vão a mal har, co m o
q u em vai pa r a a fo rca. (2) A ma lha d a tarde é idên tica em tud o à o utra da
m anhã, com 8 correspondente ferra ou intervalo de de scanso. D ep oi s da ler r«
e dos serviços subsequentes, já relatados. baleia-se a espigada (J) e a m oínb e q ue
.6cou sobre o gr â o . Essa m u rra ça toda, b ota-se fo ra imediatamente co m os
ancinh os e vasculhas, passando-se logo à última Hmpesa, a qual compreende
o produto da camada da manhã e o do da tarde. ou seja a funda total do dia.
a cen t eio malhad o e s uj íssim o, coalha o las tro por completo. mas as pás dos
malhadores. desenvolvendo uma poeirada medonha. vão-no atirando ao ar e
eoneentrando-o no solo. a ponto de em poucos min utos o juntarem no meio da
eira (4) par a o lim parem de sde l ogo ao so pr o do vento. Basta pa ra isso uma
ligeira vira çã o.
Com efe ito. neste pro pó sito d e limpesa ger a l, o abegão, ou alg uém por ele,
pa ssa à p á o centeio em m on t ã o. enquan te qu e pela frent e outros o baleia m e
\ 1) B.<I.n • • 10llll elnho eo.. I•••nnu Aol di ... . d. eUA.'. ao ";.11I IC......d.... ur(n, qll u ln • quinl.... L..t llmu TcIllP.-
..do. d. u .II", ..... IU l ... . "I..do• . V tj.·.. A IJIllf'nr. ç' o. pljh•• 111.
•:) Ao . r'u u d. 'UI' , o 1II.lh.dor llll. ~ liu - • dorllli r, "lo acudi ndo . eb.lII.d. do .1. " .11II, .nilu·.. . lOira .
pir ra ç. dllll t'Jlt err ~. E h o <;lll. i.uo f :
001. ou u h • • nb Õ.. Ul úr dl Ol• • rro r.m·u t'm fI.d r .., po ..do • c. m i.. de fon • • li A'ir d••0b u p.U.. . . cl" l••11II
p.' eo(o•• lII.n,iu d• •u ol • . E. ••utU. " t llll o• • p.d uu .. ,.put.m, ou tro p. III' CO••n orado .m ' . eri. tio , d.p ~ w-nto dllll
mOfl O • l .. dh tte...d .u l _ulde irI Dh . d. "o. bee , • • _ UIII bunnhio t u nd. , do. d. eom ld• • d ado d. ' ,u. , "Ad.lmu..... dllllu
L. lelo. d. p. l h • • "o. urura d. hl"opu. P "p•.ra d• • eo.... Iodo ••••cerula> do Jluodo.dclllnlo, 4 0•••Ih t lo • brillud.lr.,
cOAtlAO. "non.ndo. E. .Alio , o. pru "Adido. dlrl ' o,• • prori.... m· ..- Ib p.r. . ..-ee .m elat lo. com o. b..ltio. ullb. bldo,
n . "11., '0 mum llll Um.po 411;. Ih• u" n ... . 'rlo. n um.do. d.. r ..po n. o•• au "oll.,d. ufo.don. A dal lll' .eord••0 tf.1I0
d. bn lh . t d. m ol.b..d..1., u frt " 01 olbo•• U ' Ut · .. d. u m ..h o. e, .Jad••" t u dt .. " .oC!', I' ro" PT 'IIlUÇU UD_
tu O. qo. o rod .I...... Ch. ... . -Ih.. iod.I", " 11 ' . UIa> I.eb. (" U'OIlI..>. f.l.o. , Ue. O. Ie,..d ••do• • rl - llld . .... i•• , . .
.. ilD pO r lf ta m cOm luo. Por fim, t. m.bi ... ri o 4od xo ,o, pn• •d u. ' • • p. .. d. . . . . o d.ix.u....... p, ,,.
(1 ) F""lIltalU de upla.., eOm POlleO 00 Du,bn...., io.
(4J J an t• • ·no .m 11m "'ODtiO 40.ado o, 1Il11.b..dofU tio oltll ou duo S.Ado dou 00 d en u cl. f llll rtD.m. u doi. IIlIIIIDt ÕC"
- 31i8 -
ATRAvts DOS CAMPOS
(I) O ele•• I, COllum..... a lIO •• p.IO ... ILo, q..c u colou •• fr e"l' do Lo.c. d. p', '''' hu. do mo.. tio. qu ...do p.ia _
cipl. . I p...". lo .
b l An t.. d. nu dl çlo. o' mou...dorn .II....", .I ' 010.. O unulo e40 C tiu um. C I .faftd... 4'" dad o No u .. td o
do. ploo,lin . t o, ....r1ba • .10 i d.dh _ dulo c• .I.. 1$ .1 lr.. (q un t el ro) UXld .. . ud. 11I..11".101'. A prop6.ho
uJ:,. '401 orn. "J:, uN.çlo. A 11. ntl.. ç• .II uda l\o lllC oll u 1$ .1" e 111''' .II u .. eele po r .II., , u• • con" cDei o ,,!ti·
trül •• hut l"l' fa liu !. Oho Lom epl u l"' d.. cmb ,.d "od. m q"utllu • Ir .14m do q UI n ei" , .. m .dorco ' rand• •
f. II U' IrI U lIlO. Lom....... "Inlei" d. condleliu oiah.. , u.ba lhando o . ' d . o pod.m. , coM . ce · lh.. 6 .. aum ... 110
10;[0" do ut.tu ldo. ' lb' lIdo • • " mofo 10 00 m....... P .....m"u .. hip6t I.. Rol podn",uluIIU • q ... lidad. do
'n1l1lo S.ado rui. O" d. ..pl, u odld " onu lOoeI. {ondir "UD. .fIlando. ptlo "oMdrlo. , ...... por d""" ..r • .I,
foaolu d..."IJT1l.Q' o. 40' p• •• h • • f q I m•. 01 . 1.. ueo•• q ..... ,u. .. .. zIU• • o Uah.lh" o. fru col .. <imi-
4... dUieo!l ••·.o, cl..,...do a IfOpadi·Jo 8ut eh .. ..luGI.
tJ' M.u ad. d. ,u, ,,,"o 0 0 d.. " uat.. cadd d. a.. ile . "I .. ..u•. Nu " ,u" • "h.du co ..... .. pu d. Itlt• • '11:'
noS d..... ".dlo " h.II'U.
ATRAvt s DOS CAMPO S
Debulhas à mãquina. - Sua adopção. -Usam -se nas eiras de quem possui
mãquinas e nas de outros lavradores que as alugam. - Contratos de
alu guer. - Caminhadas de umas para outras eiras
N o capít ulo Alfaias A .grícolas. páginas 22.5 a 229 desta obra, p ormenorizei
a in troduçã o e vulgarização d as de bulhadoras na região elvense. Como lá digo,
a p ri m eir a de bulh a a va por efectua d a nos campos de Elvas e vizinhança s, f ez- se
n o ano de 1879, na herd a d e d a Gromic ha.. por iniciati va do lavrador Joaquim
Lúcio d o Couto . Mas isto fo i um ensaio passageiro. A s d ebulhadoras s6 fun..
cion a r am efi ca z m ente a í po r 1890, qu a n do o gover n o as adquiriu e as facultou
d e alu gu er ao s lav ra dores. fa cto que ta m bém registei por miudos n o já citado
ca pítulo . M esmo d ep ois d e 1890 a inovação d e d ebulh as à m á quina. em bo ra
a g rada ss e co mo nov id ade, circunscr eveu-se ap enas a algumas zo n as. S ó p egou
a valer d o a no de 1896 em dian t e. D esd e e ntão, em ca da n ova col heita, v êem-se
aum en tar os m a quinismos de deb u l ha. N o últim o verã o (1911) f u ncion a r a m na
:regiã o elvense vi nt e e ci nco d ebu lha do r a s, co n str u id a s nas ca sas C l a yt on, Rus-
t on, Marshall e G a rre tt, p redo m i na ndo as Ru stou de tip o mediano e a s Clay-
to n , gra nde s. 1 1) M uita s delas, tanto g ra ndes co m o p equ enas, debulham so m ent e
a s se a r a s do s resp ec ti vos d onos. Outra s, antes ou depois dos dono s a s utili-
za r em nas s u a s ei ras, vã o d eb u lhar f o ra, na s d o s lavradores dos arredores. q ue
n ão pod em o u nã o querem ter m á quinas. (:J Estes alugam-nas àq u el es , mediante
a p ercent agem d e 5 a 6 0 ' 0 s obre o rendim ento da debulha e co m a cl áu sula de,
o que a luga , fo r nec er co m bustível e á gua. Quanto a p essoal, o dono da m áquina
paga ao maquin ista, ao fo gu eira, aos d ois alim entadores e a oi to o u dez homens
auxiliares. P or sua v ez , O d ono da seara p aga a os restantes trabalhad ores pre-
ci sos e dá comida a todos, s em exceptuar o maquinista e o fa gueiro. W Também
lhe cumpre fa cuItar uma parelha d e muares ou junta de bois para «d a r saida»
à palha, W acarretar á gu a e combustível. O acarreto d os cereais em g rã o para o
celeiro corre igualmen t e p or con t a do lavrado r. (J)
(1 ' ll lti a u . IIlio dopu r-.. u b, C I.y loa p.q...a U . II'" • up... ilacl . d a.tr. ..u m 6rim...
(~J) Oh,u opl alõ u q at....... au di o I.n.d..r tlr dl ba l b.dou .• 1m . lu. '_I H ' IIUU" If r.j . I Ql d ..cu..u.-
t l ..d . d. po• • uIr a p.uu. o da d.hulb • • "' O o rru •. pufedado .lut'· lo todo. o. aIlO'. Outro., d... j .... pOIIllI · lo m..
alo pod por f. h . d. u phcJ. Po r iua rui a .1 .., '-10.
( J) O. to t.lld. d•• •• I.6.rio•• comld. OUlpado ao.... .ln d. d.h..lb. . . . .por. dlr•• ·b ' 1• • dl.a ll.
(..) P. ... dar •• ld pilh a a p.I1>. aio , I...edi.t. ..... u l al.rd.d. por ..o... pullor por. 5 . a do. a io L' ......o{lo
• 1I'0U.a10 ICollomic.- d..p .
(5 1 "!=-bo.... IIU. d.hol1>.d. a li...p. ,., , . ....u..Utl d••1.... p. u o ul.lro. ar oatl u t ....h......Ir a .... 00. .... I. por-
-cliu. dluu•..IluaU pu. o u mla1>o d. fano .
- 350 -
ATRAV-tS DOS CAMPOS
(I) T h u.i.u.da q,n aID a'otlo .I. 1911 o maio ral do mu i.. M allu tl 1oaq"lm C Ulac"'o. '1:Ilalld o flU" po.lci o a pa n-
a... ao ~aco q'oe n au'portu a a dlb1:l1ludo rl . rol I n l mu ..do .II II IICI po r 0.11I t o po q'ualq'uu . undo 10' 0 colhido pII.
111('I1... q.... o UIDIo'ou • m . tou Im.d l. toID'M O.
(11 Qu u,do .. dlbulhldoru II itlt rod "lhlm n O u, 'io .lfe lO lI. o. trahalho ru r uul. &n uID d U COfOcoadOI • dIlCOII-
lutllJhn l. Pcu llldlram- u q'UI II ""'quloll .I. d.hulh ....1111.111I urcn r- Ih.. . O lrab oU.o ' . CONlcqu. aumellt" m.la'uu-u.a
• ..ti do . Soud, u podm O IlInuo l O Itlb"ho IU"UaIO Q • o ••lb!o lub ru . O qu. i' Ih. laujo d. IUalUIr DO pod,..., o
- Dt•• /W.." . - o »,,11111 228 • :.251. r. »o,quo O ..Il ri o .'Oblo c O , ...1.011.0 OUllln' IOu. O m' "ollllde do . 'l.. h úII U mP 6111 0.
1I:• •• I_ou· " • • • lmpU!_ • .lldlrlcio. q UI I prou h l I luudoru • nhdo • •
-- 351 - •
ATRAvts DOS C A M P O S
bê-las. Pessoa que tr abalhe nas máq uinas em ocupação de destaque, ( I ) quando
fala no assunto, r eveste-se de uns ares de entendido que o guinda 8
sabichão .
.
. . ..... ... ..... . . . . ... .. . . . . .. ... .... .. .... ... . .. . . ...... .. ..... .. . .. . .. . .... . ... .. ......... ..
A jornada efectua-se e os máquinas entram enfim na eira, onde as arri-
mam aos rilheiros que têm de debulhar. ( 2 ) À s parelhas desengatam-se e sol-
tam-se. Soltam-se depressa, por entre os comentários do pessoal sobre os in ci-
dentes da viagem e o «poder» dos elíraeis. Gaba-se a força e a arne Is das mulas
de coragem e «derrotam-se» as «trapacei ras» e as te niones, que destoam
da pa rce irada. Fala -se de todas. mais ou menos, nos poucos minutos que
demora a solta do gado até ao seu a lojo e arraçoamento na quadra ou
no r í lh eiro. D epo is, os homens tratam de si também . indo comer a refeição
própria da hora e da ocasião. Homens e animais comem e descansam em
sossego, livres de uma jornada ronceiro, q ue estafa as parelhas e enqu'isile O
pessoal. P ar a evi tar estes inconve nientes se ria preferível que os motores das
máq uinas em questão, fossem viadoras potentes e não locomóveis simples.
À circunstância das caminheiras se transportarem por si mesmo, comhoiando
as debulhado ras e sirandões, é de gra ndíssima vantagem para o lavrador.
O lavrador efectua assim fàcilmente a mudança dos maquinismos, gasta ndo
m en os tempo do <toe gasta com a tracção animal, e sem o perigo de arromba r
as m ue res . Mas as viado ras custam um di nheirão, que as tor na inacessíveis
à m ai oria dos agricultores. Por isso, só fu ncio nam duas em todo o concelho
de E lvas.
- 352 -
ATRAvt s DOS C AMPOS
(1) ta .UIlIU to llcr. llII d. eOelvn d. d.lt....lb.doru. Ioda; ·.. O no.ueo a o e a ll O do .pu.lho. Noo uOI ...io.
1: 1 Sic • • b'olo t Am. a tl n'Cl ll h h • • qalll"o do t om o. M n eo a ,. i m bAIe&a tl • p oe luo .... ..- •• mg lt o.
(I) QOUIl .. lo qOIr 00 .. l o p odo O.., d aOI, ... m.dll.· .. (Oel QI, ..UQ O I t ooun ,...flhu : bu ril o ndOl. polUo e te .
1. 1 Anuto c n lll o~ 'o q ...... fl. l...... om o . oxU lo d. ama PArtIh. d. mau n .
- 353 -
ATRAvt S DO S CAMPOS
(I I !: m mui tu .Ir... uum-u ..ro. cm ...ea .I. nbo!• . O. U COl, .Loto,do' 1>. 1. !'ou 11 birll d. d .Lu1l•• don . 10'0
4u ' u cnrL.m, ...io 111'1.10 nlindo•• 11m 4U C ..., m edido o 11 11 cO.n l. odo. t ... . I• • Impl ,.. DU' m.au u ' ul ar. O nlxou. dil -
, ' IU• • • u,p.ndo d o. uro'. Á lIIa.adn <fUI II .... 1 ' D.rL.odo . .... f -le-U•• nfinl\~O li 'rão por 111.10 do denll uo..... .110.10•••
10'0 UM • rijo r JI.n drafTo do. IIC O' •• 111. la mo. d. II COD.lo. cu • fu ndo o und im.o to cx.rto d. d.bolh•.
(s) La.. ha d••obro. por durorth"lf. ai o co.... , .... O ..U ..... pnao I. um 1I.rl;0 d. {ndndlo. p,l... mult.. E.olh.. 411'
prod ll' .
(,) Diz·.. ll.u . o lojo do un io d. pc dn dt tulo r. I ' Ufa "," uilo 111'1.1 o = a u ri al d. loc om6",1 do Gllt li ou lto
d. 1. 1'11. • •
- 354 -
A TRAV E S DOS CAMP OS
Ct) QUl nd. po r Iruo u '1"ot.m .. r u d. 61.0., n Ua u , , .. ..,riu P"" miudu Po.n..úlu plrl rtp. n _
<lill l nl d..l h d . , ceuem .. pnd u o hli lll-nll "elI I. de pd. ti o do. 'l'idn ho. pro pri . t m o. de outr.. ...' q"l n ...
h J POQ~ O p.llo.l .m d,b ulh .. , ....po r u.d,,* q u umpre em '~oD o ...l. D' • • tI.....
- 355 -
ATRAVt.S DOS CAMPOS
- 356 -
ATRAvtS DOS CAMPOS
superior. Ainda é uso po uco visto, mas será por certo o mais corrente" num
futuro próximo.
Nos primeiros dois anos de debulhas a vapo r, os maquinistas e fogueiros
respectivos, eram, em geral, homens estranhos à região. vindos dos grandes cen-
tros, onde adquiriram habilitações nas escolas oficiais e nas casas fornecedoras
de máquinas agrícolas. Mas quase todos revelavam pouca prática e n en h u m a
vontade de se aperfeiçoarem. Vieram porém dois homens novos, de excepcionais
conhecimentos, de reconhecida competência e extraordinàriamente devotados à
difusão e ensino da mecânica agrícola . ( I) E, com tal empenho e proficiência se
dedicaram a esse ensino prático" entre os nature is da região, que o resultado
corres pond eu, indo além do que se esperava. Os naturais da região. ao cabo de
uns três anos de convívio e prática com tão bons mestres, já fazia concorrência
aos estranhos e pouco depois não só tomavam conta de todos os aparelhos de
debulha das redondezas, como ainda se incumbiam de outros a funcionarem em
eiras essés distantes por esse Alentejo fora. Vila Boim, Barbacena e Santa
Eulália, três povoações rurai, importantes do concelho de Elvas, dão um con-
tingente de pessoal de primeira ordem para tratar dos aparelhos de bebulha e
para trabalharem com eles.
h l t.tu b••••bilu .ro•• ~.adJu.. 'ou ... o, .... hor.. }.al6alo r.lI.. d. lu"u, cc.ault.. adwu.o rq,.. r. a"fnla.
".1' ..datallludor d..... d . . . .1. I.POI'lu.. lnou.. io ccoauU.o d. II .... • 5 ..... 11. Vltoriao !lu.... , • • • n !,u
laldlt••tful•• i. Potla]"" • •'d.. lcco d, c ro ••d....Ior......110 uILh.uii..... t..l•• AI ••I. j...
357 -
ATRAVt.S DOS CAMPOS
Alim entad o res Como tais se designam os homens que se ocupam exclusiva-
mente em a.limentar a debulhadora. São dois sempre, para se
r evezarem de vez em quando. Vestidos de blusa, com os braços defendidos por
b raçadeiras de COUTO e os olhos resguardados por óculos escuros de rede,
enquanto u m, lá em cima, de cócoras ou de joelhos, braceja constantemente à
boca da d ebulhadora, alimentando-a à fa rta com os molhos que os ga n h õ es lhe
chegam, (a) - O outro, sentado em baixo no chão, ao abrigo de qualquer sombra,
descansa e fuma tranquilamente, a refazer as perdas de energia que esgotou
pouco antes. Tem de ser assim, que a labuta de alimentar, órdua e extenuante,
é excessiva pala um Só homem por todo o dia. D oi s, alternando, custa-lhes a
dar conta, em condições de a debulhadora produzir em abastança e não esces-
semente, à mí ng ua de mantimento. Alimentar à míngua ou devagar, atrasa o
serviço, encarece-o e des ac redita o alimentador. Este, se quiser cumprir, tem de
m a n ob r a r com desembaraço, sem fraquejs r, Meio minuto que i nterrompa ou
a fr ou x e, logo a debulhadora o acusa no seu sussurro oco, de movimentos em
vasto. E,' pois u m trabalho focçado e fatigante, que só despacham a contento
ho m en s moços «de poder».
O s alimentadores apesar de só t ra b a lh a r em metade do tempo útil, visto que
se revez am um ao outro, ganham u m salá r io de mais 60 a 80 reis que os do s
ou tros sanhões. M erecem-n o bem.
Quan t o a comida , numas ei ra s la ncham em comu m com a ganharia; no u-
t ras, s epara m - nos dos gunhêes, para co merem com os das máquina s.
h) C Ol!lO U .untlld 110lÜI'0 la .hl'. o .b.,lo•• m .I'<lm.. 1' ''0''' '' , u<ll!l"I lal1~llu d. chefe d. 'talnd. com AI
d. m.qo"'I"I. H,uI C.. O, I . 1. qa . r.do mUld • • d. qll. llldo dA ee... r•• 0 I dol'.
(a ) Ch.;.m ~lhl o. =olho. 40 rilhdl'o• • 0 I.do n,uldo. 0<1 .1. .. nn.d.. qu. . . ducaru;am lU oc.,lio da d. bal1l.• .
A c!lI,ad.. do. molh a. , U cl1 I " rOIH. qO'llda .. . I.el<ll do, C"1'OI ou do .ho dD dllu irD. t demD"d•• Cal lDU. Cloaadl»
"e"" d. bu. dI» rU hriro.
- 358 -
ATRAv t s DOS CAMP OS
l a) Pnpuado. cora I•• ~o. ao pucOfO • o. ol a o. d. f••dld o. por .sc. 10' 1•••.10., d. u d• • a pr u ftT u da . pu da
• •ln. du pa lL d o p6. Alã..l. ' . d. oco;la~io mlll.o....j. lIa a un. 11.,.10., prucUul•• d. to i. pr.u.. , õ Outro• •
,01111I, alo .. .1,,\1 II pod. m dbp.nur . l'lio • • u . ru o o• • Ii ••• udor.. c o. 4 nola.. d a ..oboLac da polh• .
- :159 -
ATRA v t S D O S CAMPO S
realejo (1) não desafin a, po r qualquer asar ou descuido. A faina da s prim eiras
horas da manhã, com o pessoal refeito pelo d escanso ela n oite, dá em regIa um
rend imento pro por cíon al men t e maior a o das outras h oras do dia. como n ão h aja
o sen ão de a m anhã estar muito úmid a e o «pão» fazer-se mal. ( 2) Estando 8
manhã bo a, 8 9 m áquinas na a fina çã o e o pessoal cuidadoso, o aparelho fu n-
ci on a lindamen te, num a laboraçã o cer teira e m etódica, sem tre p idaçõ es nem
p reca lços.
N o alto da d ebulhadora, firme no se u pos to, o alimentad or de staca-se
im en so pelo dese mbaraço que r evela e pela Io i tez a q u e mostra. N er voso e de ci-
d ido, ali m en ta i ncessa n tem en t e e a preceito. desdobrand o os m olhos que lhe
vêm à m ão e at i rando-os às braçadas para os batedores em giro, que d esde logo
os apresam, eng olem e esfrangalham, n u m a v el ocidade ve r tigin os a. N ess e per-
s iste n te redop io, tod o o grão sa lta das espigas e s egue os s eu s trâmi te s de Iim-
pe sa . D os prim eiros crivo s va i aos alca truzes e dos alcatruzes corre aos a'rnei-
ros, indo d epois a um crivo r otativo, o nde se acaba de limpar e de onde sa i
lo go, a fl ui n d o às bicas da m áquina e d ela s cor r en do d e tt r m e p ara os sacos ou
ca ixo te. Por sua. vez a palha «fa z- se. também e lá vai saindo à s lufada s no
couce d a debulhadora. À palha conforme sai passa a o crivo do Eagulheiro, onde
o m esmo 8 s epara da m oinha e d e al guns r estos d e grão. O fa gul h eiro agita-a
de contínuo at é a de spejar no chão. sem bago s nem m oinha . Do chão a des -
viam logo dois homens. co m o t am bém é desvi a da a m oinha r espectiva. Ambas
as coísas não mais se juntam e antes se a fa st am po r m ei o de um r oj ão, que uma
parelha a r rasta. a uxil ia da por dois ga nhõ es.
Parelha e h om ens não cessa m de remover a p alha e a m oinha, a rrasta n-
do - as em «bo r reg os» volumosos q ue deixam a dist ância e em sepa ra do.. on de
n ã o faça m estorvo à d ebulha . rI) Assimj todos os q ue po voa m a eí ee m exem-se
e t rabalham n os seus respec tivos lu gares, d es de o g ru po d os ga n hões q ue d o
rilh eiro s ervem os molhos ao alime n ta do r, a té aos qu e ench em os sacos e os
ca r re ga m pa ra os carros.
...... , , .. , , . , , ,
( I) E~ 1i "'IU" ~ G'o r. d• • por .nu f.uI • • o. hOlllc", do c.mllO .Ã .m.~ u. lc;o • ' 001 • • • •pld. d. DI'o;lul"illIlo,
'Ill ... o.lm... 'o. E U ClIo 'Oll.m do tI.... o llU' .11'101. lia fo. , 1. o . I,..IIi•• do. Ch.III...... plic'-Io . 0 conflu llo d. q ",aI. _
qu.. colu ••ol u lllo'" que n umO" 'III, COIIIO utlllllllo. tr po.'.do. CIII ( 11:' 01, ' Ic.
(al !Ift 1. 1. ( o..dl,õ" d. muh.. "lIIfd.d•• ou c!lo.". U l'Il d. . . m1ruo.pCl" • debulh ... A. ='010111" p' U III • • , ...11.• •
ri. . .I lu b. lIu . 1Q0u.I.o ......Iço•.
(:5) T.nto • p.lh••01lDO • mol.. h. Ii• • m . 111 011.10. 01. . . UaI.aal d. mUlo' d. d. bulh.do•• , . "a ..d.ado oPOfluaid.a.
d. pU lll al.m Da d• ••omoa'(io • Illre... I, .....lm. n..... lno 1'1' 111.10.1. do . ' U OI. Oul.U ..un• • p.IÕ • • IDol.. L.• • io
pu,u .d. . . .llllu .u .d.. loão q'oe lU. do .perllho d. d.bu1h., h" l l\do p." 1"0 . l q",hu I.o, p. Óprio•• pII.o.1 c:u1o,j'O'O.
t o ....illl . ' " ' IlI. jO' o qUI " Il.lo 0.1' . u llo por falta d. IC. PO. 011 .OIft ., .... O... '" d. pU'OII. O {\1nclon. . . . lo I/IIIOitl.llIO
do .p.relho 01, d . bu lh. , do l1'Im d. prtll""=. di o .. ti.. 'llc,pdolll l IIlillll(io, . om I.Um d. UIII .p. onh 'III'Jl'o d.
1I.lh .. moito m. lo . do 40. pu,," ..do-.. ou .1. Ul u .ado · " uiu.lotDI... , •• 11.0 ln . al' 01 ir u .
( 4) V eJ . ~.. A llmclIt.( oJo, • pj , ln.. n7.
- 360
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ATRAvtS DOS CA MPOS
sar no sombracho. até às oito ou oito e meia. Neste meio t em po fala -se do muito
ou pouco que a máquina está a tirar e do bom ou m a u se r viço que el a faz : -
se parte ou não o t rig o; se sai sujo ou l'impo, etc. E a propósito h á co nfrontos
entre tais e tais debulhadoras e estes ou aqueles maq u inistas. Q uant o às debu -
lhadoras, uns são pelas claytas (Clayton), outros pelas Tussas (R usto n ) e alg uns
pelas marsas (Marshall), Dos maquinistas falam con for me a lab uta çã o e a queda
que têm pela criatura em fo co . Do Bragança qua se nunca se esq ue cem por se r
o m ai s antigo e o de maior fama .
...... "
- 361 -
A T R A V e S DO S CAMPOS
• • •
A d ebulha a vapor nas prim eira s h oras da ta r de , vai a efe ito co mo a das
ú l timas d a manhã, is to é, s ob a a cçã o s u focante d e um calo r int ens íssimo.
O calor fa cilita o preparo d a pal ha e a d ebulha d o g rão. M a s a ba te a ene rgia
d os h omens, qu e apesar d e g ra nde n ã o é d e tod o ins ensí. vel à asp ereza do clima
n es sas horas tó rr ida s d e te m pe r a t ur a afr ican a.
, . .. .. . . . . , , .
Ao mei o ela t arde dá-se a segunda cigarra.da, igualou se m elha n te à ou t ra
da manhã. A propósito de cigarradas, ca be aqui um pa rê n tesis. T ant o a da
manhã como a da tarde, só t em lugar n os dias em qu e n ão há enredos d e para-
gens forçadas por motivo d e avarias ou por mudança de máquinas de um
r.ilh ei eo para outro. Nos dias em que há enredos desses. as cigarrada s supri-
mem-se ambas ou uma pelo menos. Nem são precisas. S e se trata de avaria ,
desde que o aparelho suspende até que o reparo se efectua e as m á quin as vol-
tam a funcionar, o pessoal descansa, fuma à vontade e di z o que en ten d e. a
p ropósito ou despropósito do caso . (2 ) Com as mudanças de rilheiro para rilheiro
aco ntece quase o mesmo. Posto se faç am a braços, a p ouco e pouco, aos empur-
r õ es e fo rça de toda a g ente da eira, no final, essa g en t e disfruta a compensação
do seu t rabalho excepcional. Enquanto o maquinista nivela e afina o aparelho
n a sua nova instalação. os da g an h aria, pelo men os, fumam e folgam o seu
362 ~
ATRAvt S DOS C A M PO S
.0.
nh,Ido •• 6 ( ....10 d. pel ....lo ",p'co , g lid p,u n illu.I.,. d.halhadou • ,r I.bour 1II111t0 mai. umpo. um mad aDC', do
I.bo r• •olDdo . . .nlml • 11m .6 rllh..l ro · M.. flfo. , "lllt.jotO plU o dup,ch.o dI d.hulh,. t,m o ill(Ona l'D1 ' d•
...olllmu o rl. co d• •ud. du má l(o,i DU DO c..o d. iDdlldl o . lom. 0;( 0 ' .. p,u,", , .. UlIIl dot doia d lh..fro• • (0 1110 a io ..j ..
••••• d. d••r oo t o, co.aaJu••• 10 ' 0 .0 riU.,ilo 'roottirho• .1.1. ..",.10 o Ipaulho d. d.lullh.. uIlr. doia fo.o. IO d o u • • • • 11'
o uiaj.lrio por nllo. dll 'rionodo-o h ut••t. 00 tA"'tl lh<' lIdo. o , • •hlOlllto.
A de bo,lh,dor•• pelo meno....rri.n~.... arder t onl••at• • ( o. meoo, prob, hlUd.du de ...I...c I o do 0;( . . . . . udun.
u(ou.d.... um .6 ri lh., lro.
- 363-
ATRAvtS D OS C:\MPO S
fl) A nfe h i o d o 101 PUlO. U,OIO Ih. ch u :lI. = cei. COII>O m crrc n d •• t cOQfom. u ll•• .
- 364
ATRAvtS DOS CAHPOS
• * *
Há muitos modos de med ir. Quem sabe a valer , mede como quer e entende.
Quem não sabe ou sabe pou co, mede s em uniformidad e nem consciência, des-
cambando, g er a l m en t e, p ara medição av anta jada, prejudicial a. q u em v ende.
O s medidores de profiss ão, sabem ta n to «da art e» que tornam a medida es cassa
ou farta. s egundo as intenções com que medem. Aquilo neles é elástico feito na
per feição, com toda a li m p es a ap a rente-, E.' ques tão d e mais ou menos en drómi-
n as na m aneira de r asa rem com o pau e nas pancadas à medida, no acto de a
encherem e v o l tarem .
... . ... . . . . .. .. . .
Nas eiras, quando apenas se tr ata de g éneros a rem o ve r para o s cele ir o s da
casa , a med içã o respectiva faz - se s em preocupaçõ es de rig orosa legalidade.
C on f o r m e o propósito a q u e se vis o. assim vai. Mede -se por qualquer das
seguinfes fo rma s: medida «fr a n ca» , a nunca dar quebra, antes crescen ça r m edida
«de bigote», ( I) assás a v a n t a ja d o. para dar muita crescen ce : medida Brrapazada#
metendo p ouco , para faz er núm ero de me didas e avultar a «funda » do dia o u a
(I) Medida .d, 6" 01' ", ua.bl' 1m lacLar b. m .. med ida . u m o pa~ .. U'I'UU' dI todo. aDfU p.lo con.trbto. d. i:ua-
°
do·I L. Plo pod t. d. mCDt. \13 Pf <t acn.o co, .. lo DI"'" d .. u u .mld.du. Ena co' .. le, , cLamado biJOIC,
- 365 -
ATIl.AVeS DOS CAMPOS
(I) t o ca.o du IIldi{ a.. A•• m.lhu d. uA tdo, .m qu . o. lIl.lh.doru ptl lUl.dlla dCltl.o u tru 4110' _tlru..m tIlollo"
4110. Umpu. . . . . . ..,.cI...um ..o h ol al" uda. ou d.caUtto. d. Claulo.
(2) P or t.I1",• •• Iu.d.· •• o waid ••• de 30 ..I"ud r .. ou mtlo mofo. O aad,o .I" ud u do U nlI O d. Eh·... alada , til
'0'0' ... u .. dOI mu. p.que lOo. do 1' co nllpo lld• • l J .J9 . Um mol o equl .... l. a &03 litro•• MI.. pu. arudo Ddu aO.no •
po r Ilduo cO.. ... Dclo 'Atra a Iuou n • o comitelo• • • "a'ou'" "'II' o molo d. [ I.... u ja . qoJpar.do • ao d. ulltro•.
Por i.IJO qo.Uldo II mil. co m o d.ull no , COl:Ot.·.. wa. ,.11'1 d. 40 CItl. 40 d n.lJ uo• . Em I I.jIltll.. tini . M lIluod. t al...,
uuUld.... da "ID UOI com dutUo o . 01 u taitOI do I.uldor r u pf' d 'O'o . Dled._.11 .h.d. com o n U. o al4utln _ o tudldo" ..1
.11I8, ft i o. ,omo 11.. , L. m..m 01 ' . IDLi5,..
N ......dlci5.. po r .f. ho de ...."d. ou . m P. ' . IIU l:Ot o d. nod... fuo• • pea.a 6 •• lD.d. co'" o d.ulhro " o.d, . do.
M .. lno fu · .. por oludlla d . l 1.,.. Ud. d•. 0 1 .... did or.. .1.. oca.lio (..b"15I1. ou l:r ar. lc.l. d. I....ou n ). .. o. d.l:n ....
.....obur li. ' 0. ..o",.d., lDedlr i.... IImpu pelo .Iqu. lr • . D o de cali uo. Al o 'ou . m. AI . ,.m 4u. lD. dull. m. ll.o r . all il
<1.pr.... com o .1"".Ir. - 1II" ld. 1II.lo r • d..... l.I d"plcho. ,\p" o ' tudl Clo . /fu. h'·d. le d. up.n c."do .
<J l O .... co. do. I...,.dor.. co.tum.m ..r p .qu.oo. . ..tr. lto., d. c.p ..c1d..d. p..u 8 d. c..lluo' ou pou co illul • • O . do.
1I" Oel."u. a o. d••Iu'un, . io multo rlub 1""0', compOIlI.do dou d.c. li uo• .
- 366 -
ATRAVt.S DOS CAMP OS
II ) Tri,o ou U Dt.lo. Da cnad • • da .... 1. 1'1 10 ,. <lu cr .. 1.. ... h .nto. O q u. U~ a p a • debulh• • l Hmp .... b.m. o
apTouham d.po l. o. ; ado • • um puj,.Jzo pua o l a.., adoT.
A prop6d lo d. aproulum.nlo, ee .. dm n Olar <I a . .. d.ball..do r u 100... didllld.. por m . q:u h~lat .. b' b.b . c.UUIO'OI,
,ld x""1 u c. pu m.no. ui,o n. m olllh . do qua &.li ",Ih .. ou ma l 'oumed...
(II) No flnao d e C.mpo M ala .... cb.m , u n, ., 10 ' f re'çl.lll.101 d.. upl, .. conJu cld.. por u cAo, no collcclho d. l i.....
(3) E,fII,.J., nll .Ir.. d. ma lb .. ' T11 ce lllo. 'lIolul• • c.cA... " .. . Ir u do. ui,o• •
( ~ ) Po r borres ", d." oml .... m· .,' 01 moa.l i>u , ,,ndu d. p.lh. II'" . a Jçnum " II . ir .. par. II umou um 10110 • 10:1 ; 0
00 po r Illd o de ....ln"J•.
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ATRAvtS DOS CAMPOS
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ATRAV t. S DOS CAMPO S
me ícr rendimento - 3&J a SOO fardos diários, com o peso de 30 a 34 quilos cada
um . ( I) Qualquer qu e seja o sistema de prensagem, a palha ent-ra a granel para
a ca ixa da enfardadeira e em resultado da p r es são que s ofre, sai de lá mecâni-
camente em fardo s comprimidos. duros como pedras e amparados por três ara-
mes que os segurem de lado a lado em todo o comprimento. Na palha do centeio,
há quem empregue d ois Brames em vez de três. Mas isso é uma economia nega-
ti va qu e prejudic a a perfeição da enfardagem.
É sab ido que as pa l ha s t i nham noutros temp o, um valor diminuto, apesar
de s e col h er em m enos e bem menos do que se coLhem hoje. Como o seu con-
su mo s e restringia quase ex cl usi va m en t e às necessidades locais, os sobejos
eram em ger a l a vultad os, cr es cen do de ano para ano, sobretudo nas z on a s em
que pezdomina m bas ta nte as cul tura s cerealíferas. Tantas palhas s obej a vam
antigamente po r es sa s herdad es f or a , à fal ta de expor teção, que as de menos
valor ou m ais antig as er e vul gar zeduzirem.. se a estrumes.. depois de removidas
pa ra bai xios ú midos.. onde ia m curtindo.. a pouco e pouco. A algumas, como
as de cen teio.. dei tava-se-lhe fog o nas próprias almena ras ou eram prêviamente
espalhedae n os alque i ves e aí s e q u ei m a va m no nm do verão. E as de boa q ua -
lidad e q ue f azia pe na. tran sforma r em estr ume ou cin zas, comp u n ham avulta-
dissi mos d epósi tos, que p erm a neciam inta ctos a n os e anos.
Na actualidade e po r via de regra.. o valor das palhas é bastante superior
ao dos te mp os a ntigos, apes a r d e hoje em dia haver colh eita s em muito maior
quantida d e. O preço. poré m, varia imensíssimo de ano para ano, descendo b as-
tan te nas boa s colheitas e su bindo muito n os anos es ca ssos, de est iag en s gran..
d es, n o i nv erno e primavera. H oj e, como ontem.. a palha é um artigo qu e o
lavrador se mp re franqu eia com si ngular g en er osida d e. Cara ou b ara ta q ue esteja,
o lav rador de bo amen te a dá.. à s muit as pessoa s pobres qu e lha pedem pelo a n o
adi ante e sob ret u do na oc asião da colheita . Almocreves.. pe quenos carv oeiros..
ven d edo re s a m b ula ntes.. don os de estalagens. burriqueiros, ci ganos, gunade ír os,
toda o. g en t e pob r e, en Êm, que di sp õe d e umas b esti ta s q uaisquer. to d os
pedem e obtêm palha d os la vra d o res dos sítios.. com padre.. a migo o u padrinho.
E m ger al, a d ádiva va ria sàmente na q u an ti da d e. C om a palha sucede o q u e
Se passa com a chamiça n os em e tos ». Em a haven d o, é do estil o dar-s e aos
pob res que a p edem . S ã o us os velhos, quase pa triarcais, d os poucos que
ain da r es ta m.
* • *
A a lme na raçã o e a rrecad ação d as pal has, é.. r -e pi to, O derradeiro serviço das
colh eitas cerealífer a s. A i fica, pois, r efer id o nos seu s d etalhes d e vulto. como j á
11) 1110 a o ,uo di lo do o . " afll ho ter lu m dIrll: ldo I bml ,," Ido oor oluo.1 ..bed or . C o m , .ate rllad n c. 00 1'110-
rull . o dfl " ac ho l butallU m lllor .
O 'Pl flu l lIlduollI.d...1 • oma ell(ard . dl ira • " . 'Por COII.'la do u , ulll.u ;
Um I IlClnl,. do l ulll .Umelllado r a u i,ccir o. mlllu· • p. lha 11.1 ptUJU I um co nl -araml l doi . brc u dor u a lJ,ar o,
Itlmel a u m acu ru ldo r doa fud o• • TOlal, u i. hom l ll' ou d.1lcO pelo mlIl.OI.
- 369-
ATRAvt S DO S CA M PO S
antes deixei pormenorizado. to dos os outros que se dispen sam a o preparo , cul-
tura. e recolhimento das sea ras, principal r'iqu eae d o Alentejo. Grão e pa lha,
demandam serviços demorados, dispendiosos e constantes. Desde o prim ei ro
«ferro» do alqueive at é ao levante das eiras - um período de 18 mese s - quan-
tos cuidados, quantos en t ra ves, que ntoa desenganos I. .. E t ud o iss o o lavr a dor
suporta, sem desalento d e maior, posto s e queixe a toda 8 h ora dos contratem"
po s que sofre a cada passo. Mas queixa-se por se qu eix ar , po r de sabafo, por
ouvir dizer que a lágrima é livre. Habituado aos r ev ez es d a vida, o lavrad or
experimenta-os e aceite-os como ossos d o ofício - sofri m entos ing énitos d a s ua
rude profissão. cujos asares e b afei os ele bem s abe q ue r esultam principalmente
de causas superiores à vontade humana. S e num a n o a vesso e mau, colhe
pouco ou nada. outro lhe virá propício e abundante suprir as faltas daquele.
E com isso se conforma. Com efeito. a vi da do la vrador gasta - se num ci clo d e
esperanças Iíscngeiras, alimentadas pOI u m a fé arreigada que nun ca O abandona .
....... ....................... ...... .
Searas . a quarto> - Sea ra s de obrigação -Searas de favor O capit ulo
Sea ros ai nda
não está concluído. Falta de cer t o pouco p ar a a s ua co nclusão; m as esse po uc o
t em importância . E por que 8 tem, n ã o fic ará n o olvido. Àssim, após a referên -
cia e descrição das gr a n des s earas pertencen tes aos la vra dores, há q ue a l ud i r às
pequenas c pequeníssimas dos criados da la voura, dos seare ir os e ai nda por acaso
de uma ou outra cria tura estranha qu e a al cança por favor ou recomp ensa.
. . .. . . .. . .... .. . . .
. . . . .. . . . . ... . . ..... .
. . . . . . . . . . . . .. . ... .. . . . . .. . . .. . . . . . . .
NOTA DOS EDITORES
Tendo falecido em E lvas a 18 de maio de 1922 o saudoso
autor deste trabalho, o seu primeiro editor viu-se o bri -
gado a feo har o volume sem tão Interessa nte est udo estar
concluf do, porque a morte, que o roubou aos carinhos
da familla e dos amigos, privou-o de completa r a s ua
obra, tão prec ios a para o estudo da vida da la vou r a do Alt o
Al en t ej o. P as sados tan tos anos sob re a época em q u e ela
foi escrita, por certo q ue t a m bém a lguns dos se us info r -
mes careceriam de se r actualizados, aflm de corresp o nde-
rem a06 dias de ago ra . Ente n der a m , porem, os pr om oto-
r es des t a nova edição não toca rem no que o fa leci do Autor
deixo u esc rito, co nse rva ndo intacto o texto da pr im e ir a
edição, que ape nas se modlfl c ou qua nto à ortografla.
1 N D I c E
I
AS HE R DADES - O que sã o n 8 herdade. _ No m e. por qu e ee conhecem, etc. 1 a 2
II
OS M ONTES _ São ai ca i u d e re atdêncta n a. b er-dede e, e, co mu ta t tvnm ente,
sed e. d e la voura - Herdades eem monte e m ontei q ue n ã o ee a plica m a
ce nt ros d e lavoura - Monte. g ra n de. c m onte. p equenos . 11 R 12
S itu a ção e as pecto - A p a taagem - Almeuarae e medu - Hc apltaltdad c que
. e franqu ei a nOf! m ont e. - Coe etr uç õee. . 12 a 13
Acom odaç ões a g r ico la s e pecu árias - Celeiros - Q u eijeira - Forno - Ca83 d e
IA - Cav al ari ça. - Pal heir o - Cocheira - Atafone - Cas in ha dOI g a a h ôc a
- Casin ha d o a b egAo _ Caban a s - Ga li ohc Lro - CB8a d o. pintos _ C hi -
queiro . l ã a 21
Ar r e do r es _ Eira - P o ço s e chafarizes _ Malhadas d oi porcos - Bardo d a s
ca b r a s _ Quint a, h ort a ou qutncho ao . 21 a 21
A vid a no s m ontes - Como se pe eee o t emp o - De madrug a d a , à b ora do
almoço - A salda para o trab alho _ O lavrador e a lavradora - Avio. e
ou t ros afa zere. - Oa a 88ei08 d e porta. ad entro - 'I'ra n eeu n tce e vlaltantee
_ Ao . 01 p ost o e à n oltlnha _ A .onega . 21 a 2!l
III
OS M O NT AD O S - Arvoredo s de azinho e ao bro - Co n fuaâ o e n tre matos e
montado. - Azinhe iraa, s obreiros e c bupar -rce . 3 1 a 32
IV
PESSO AL DE UMA LAVOURA - Cr ia d o d e a no, de tempo rad a e a dt ae c-
Com tdae habítuata desde o S . Mllte uI a tê molo : almo ço: merenda; ce io.
_ O t rato n o verã o, d esde o 1.0 de junho at é 20 d e s etembro : a l moço: [an-
ta l' ; merenda ; ceia - Comldae m el h ora da s em dias d e «nomea d a»: pela,
m atan ça s do fum eiro ; durant e o Carnaval : no dia da eag a r r a ç ão»: p ela
Pâ ecoa ; em q uinta-feira de As cen çAo ; p el os Santos; p elo acaba me nto da
eemeutets-a : por bodas e betteedoa : [eju ue. U2 a 123
Dia s fer iad os _ Oe q ue se g ua r da m a ri g or - 08 q u e s e g u a r dam ou nã o, coa-
formc ae cír-cunetâncta a - Os que nunca s e g u a r da m . 123 a 124
(".....I •• n.
v
COSTUMES DOS CAMPÓNIOS - N a t u ra li d a d e e domIcilio - A ' excepção
dos er a t tu b c ee, e grande m aI o rI a doa servIçais na s cem e residem nas p o -
voaç õee do. a rredores . Diligência pa r a adquu-lrem, de propri edade, cnea
na a l deia t 2.) a 120
VI
OS RAT IN H O S - Deetg nam-se por raunnos os hcme na que em maio ea e m
dae Beiras para ceifarem aa eearae do Alen tej o - SUa divido e m cama -
r adas - O managcl ro -A. v iagem - Car ácreres Aju 8te8 - AlhnentaçAo -
c-
VII
ALFAIAS AGR íCOLAS Per-elat ên ct a d oe Iuat rumcntoe autlgoe de Javoura
c-
VIII
SEARAS _ O lugar que ocupam na agricul tura a Je ntejan a - O eeu de seuvol -
v lmento - Scrvtcoe cultu rais 2/.5 a 2'.8
La vo u r a s - Animais e i n s trumentoa qu e ee em pregam _ Singelos e revez ai
- D letrlb ulçAo d a s [u u t e e _ Ho ra. de «ago.rra», dia. amenoe e d ias de ch u-
v a s - N08 merendas d o m elo-dla- Ag u ad aa _ A solta - Alq u eive- Lavra -
d a s d e alqu eive e lavradas d e eementeíra - 'ror u ee, can tos, boq u Uh õea e
loba. - Armação da. to r na s _ Piscolas - De ág ua s fora e de àguas tom a -
dae _ Prcceí toa d lveraoe - mu d ança. d e fe r roe - mudança. de relha.-
Madeira par tida - GoJpes 0 0 8 bots - Geí rue • 1"8 ü 2t11
A lavoura no outon o - Su a Intenetdede - Pessoal que se empr ega - S eu luat-
m ento - amanho - Setârt oe, altos ou baixos - Prognôerícoe - borae de
agarra c s olto - Recordeç õee e coment ârt oe -As balas - Hora s da aguada
e de s canso - Revezo c s olta d os un ím a ta . 261 a 281
Serviços preliminares e complem entares da lavoura - Gradegens - Ltmpeea
das terra s : Deemotte e: quctmad e s - Estrumes e aduboa: ean-umctrae:
ee tc r cc a de gado manadlo : adubos quimlcoe - Sementeira ouroeate : o que
ee s e m eia ; trigos : centeio : cevada: aveia; favas - Selecção das aementea
_ Sulfategena Quando se semeia - Tempo seco e tempo Chuv080 - O
c-
•
E S TJ:: Iralj(J"'o i 1./11I dw l ,r i Nl r /r <4 do ..Iu/ar ,
'Juc com de tl',dOIl o ~e/l ttl/XJr 110 t'UIflJXI d'l/it-.;,io
l i ter tirifl . j " t'I "i ,ulo-" /led" edi,;••» de O . 1T R . I-
I -E 8 fifI ....· ( · , I.1/P O .....·, /II"efendclII (#' "III'
~/U,orU }JI'u r" r " e~ t(1 jei';lill (/" yrrlm/e rl,'ril'lr
n '''JIIln'''!Jt1ll 'I"e '"l' tI dCl"it/fl.
•
E R A. a i pelos íntrottoe do S . Mateus . A. c h u vas o u t o nai s ainda n ão tinham apareci do
e a eatlagem d o v er ão, q ue for a com prida e aspérrimo . a meaçava prolongar-se
indefinidam ente. p ara fl agelo d a. mulher es da a ld e ia, q u e ee via m em palpos de
aranha p ara ob ter e m âgu a suficiente às n e cess idad e s d o consum o.
Da quatro poços contig uos à p ov o a ção. de h ã muito que es tava m a b s olutam ente secos.
No fundo d e t odos, com o q ue a ates tar 88 dia bruras d o rapa zio, a m o n t o a v am-s e pedra . d e
d ife r en t e. t amanhos, m istura d as com váeloe f ragme n tos de o r Jge o e dt v cni8.lmaa. Mtt'. a
r espei t o de amostra. d e égua . q ue era o qu e n a t uralm ente nele. d evi a h a v er, n em seq u er
uma g o ta I
E n con tr -ava-se 111 m . mas em p equ en íeaímae q uantidades. nas fo ntee d eevfad a e m ei a
l égua e mais. o q ue de man dava um tra b a lhão insano para a quela gente in f eliz , que fo r ço-
ea men t e tinha d e vencer a p é e ss a s díat âu ct a a grandes e In c ôm od a e, m á x i m e q uando
pe r cor r idas trêe c qua t r o vezes p or dia e n o trc, co mo a contecia ordin à riamente.
Ma8 q ue r e m é d io . sen ão ab ra ça r a cr uz com h ero ica r-eatgna çâo l As pobres c r iatu ras
aee tm o compreend iam ta mbém, e p o rtanto r eet g uavem-ee com melhor ou p io r vo nta de.
C oe t u madaa d esd e a i nfân cia a u m a vida d e a trit08 c amarguras, arr'oatevam pacien te-
me nte CO Dl m a is ceee s a cr t ftcto, q u e de r esto era apenas u ma sombr-a de o u tros cem v e ze s
maiores , q u e ec lh e. d e p a r a v a m a ca da p a ss o, n a acuda d oloro s a da sua humild e ex íat ên-
da. Tod a v ia , l á d e l on g e em l on g e, o d eefalect m entc anuviava-lhes o ee ptrít c , e e n t ã o
mald izi a m o seu tri ste [aâà rto, iu v e ti v a nd o o . p rot egidos da fo rtu n a, que não sabiam o
.quc e ra sofrer 1. . .
Mas 088es d eeabafo e ola p aa ea v a m d e f r a q u eza s m om e u t ân ea e, qu e s e esv aiam como
fumo. P or q u e, a fi nal , as jornad as ao p o ço, a par de muitas canseiras c fad ig u e, concor-
ri am, Ig ualmen te, p a r a u n s certos a t ra c tiv o s que compe nsavam menos m al a q uel a s m ar;
cbaa violen ta s. Era m u m ens eje eept êudtdo pe rn as caminhant es u arrar em u m a s à s outra.
o qu e ocorria no p aróquia , desd e a coecovífh tce rastei ra e bana l , até à s im o r a Ud a d es de
s ens ação es cu t a d a . com av idez pclae gu loeas do eecâu d a.lo. E o e n s e jo a p eo vett a v a -se
se mpre, não ee p erd endo u m m inuto .
Ne s t a s ctrcuu s tâ n cta e, a p o pul a çã o fem inina and av a num v a i-vem co n eta n te a cam l-
nhc d a «Ceg o n ha» - uma n a s ce n t e bem r cl ee, ma. a m elh or das im edia çõ es, p r inci pal-
mente qu anto li qu alidade d a a gu a . que a aeever a v e m ser ôt tnta . Até se d izi a qu e o San tos,
m estre de Ietr ue, que vIera de Ca mpo Maior s o f r en d o atro z m ente da bexig a. d epois q u e
b ebera d a Cegonha, nunca m a ta Importunara o Dr. Ytcerto c o m a m ueead a gratuito da
In trod u ç ão da algália.
Com t ais p red icados. c eabt do o r igor d a estiagem, é fác il dc ava l ta r e apreço da
f am os a águo. ee p êc!e de man é divino. c ub içado com sofr eguidão p or um en x a me de cria -
'turne. Mas o depósito d e ep ej a r a -ee h a v ia u m pa r d e m eSCI, e p or con segu i n t e q u em
q utsee ee e n c her , ti n h a d e esperar que lh e coube aee a vez , por qu e aqu ilo la por eua ordem
e a lt ura. O pior poré m . ó q ue a n a s cent e conti nuava a a f oícua r a ol ho s vtatoe, e jã. quas e
qu e n ã o cor ria . As u míd a deztn haa q ue a i n d a l a cri m ej av a m a s fend as das r o c h a s. Ia m-s e
ac u m u la n do n o fund o d o poço e ai se c cnaer v a veur q uinze o u v i n te mtn utc e, o tempo
preciso p ara ee e ncher o cova cho. Depois ca ia lá o chocal ho e .. . pronto ... e f ica v a todo
esgotado.
Mas qu e o r ig i nali dade é e ae a d e s ervir o chocal h o para s e t irar a á g u a do po ço?
dtr ú provAvelmente o l eitor. Não s e a d m ire , excc lcntfeetmc senhor: s ã o cost u mes d os
povos. L â diz o ditado : cada terra com seu us o; cad a r oca com seu fU 8 0 . E o fu so, que n o
cas o pres ente e o chocalho. após a sua natural a p l ícaçâ o, isto é , d epoi s de s ervir p o r
muitos ano s para compoatura d as reses b ovinas, p aeaa p ela am p u t ação do ba da lo e. eaetm
de s p rov id o d o tosco a pên d ice, serv e d e b alde ou caldeiro. Q uem n ã o t em chocalho u âo
bebe - dizem por e p ig r a ma o s earranhoe à a ldeia . Mas s ó não bebe q ue m n ã o q u er
A p es a r da agua ser pouca e díepeudio aa, a té n a cas in ha do m ais p o b r e s e d a d a mel hor
v ontade a todos qu e a vão p edir. Assim se con f ir m a a boa e gen er-oet..ima hospitalid ade
alent ejana. que n êo encontra rival em tod a a terra portuguesa.
Reata n do porém a narração. fica evidenciado qu e o s itio da Cegonh a era naqu ela
é p oca calamitosa um constante acampamento do mulh erio indígen a , q ue a li se entretinh a
horas e horas com uma paciência extrecr-dinârf a. Verd ad e s ej a que elas procuravam
distrair-se po r mU maneira s, t odas t en den t es a esquecer a a r relia d a es p era e a a r idez d o
l o cal. De dia sentavam-se à acmbra d e um u vet u s ta c copa da a zinh eh·a , o n de co s t u ravam
ou fazlaw meia, quando n ão ee p entea v am uma s á s outrue, porque p ara tud o h avia oca-
81Ao. E a o mesmo t empo q ue m an ej avam a agu lha o u m o v ia m o p ente, t a garelav am com
fren esi so b r e c e a..untos Ioca íe, eepecla l mente ee se dis cu tiam os nam o r os d e p aren tes,
ou 88 qualtd adee d a s qu a tro eeuh o rue d a a l d c ta _ da. g raves, co m o lhe c ha m a va m p or
considera ção a lgo irânica 88 . ua s r úettcas com p a ro q u lanae, E ee por úl ti mo Morfeu a.
acometi a, ela e r endt am-ec-Ihe de b o a m ent e, por q ue en fi m , uma eeeraztnba na queles
altural é m esm o d e a pe tecer . E e n tão 0 8 rapartgue, q ue se pelam por uma ecue ca I Dava
gosto vê-Ias para ali eet e ud id ae ii. free ealhon a, s obre a e mu s g o l a s I agee d o g r a n ito, a p e-
Dai com uma ea íeztnha cu r ta s ob r -e a ca m isa, com 0 8 8ei 0 8 ii. v el a e 0 8 ca b elo s deeg'reuba -
doa, Dum aba n do no natural , v oluptuoso, excit ante I
Nes te com enoe, o r-egou g o agu do e p r olon g ado d e uma repoe a , eco ou l u gu bremente
por aquele eecempad o tora , f erind o o . tímpano. da pobre moça que n u n ca a goirava b em
do cantar da. repoeee.
A Vitó r ia, que lhe conhec ia o fr a co , exclamou jovial :
_ O l h a a g ran de zo r ra , como e Ja ca nta forte 1... E está p er tlcllJ n ho de nÓ8 . .. Soa d ali
logo ... Hav ia d e ela a s so m ar aqui , que eu g os t ava d e lhe v er o raba eoíha 1
- POi8 eu não I Ne m a q uer o v er , nem ou vir. Só eu l ei o que et n to n o en te r íor , quand o
o uço d e n oite aq uela s ladronas v elh a cas . Lembr em-m e 0 8 Iob te- b o m e ne .. .
E ce to u-ee r ep entinam ente. Reparara cm duas l u zlnh os qu e brilh avam s o b r-e o ver de
esc u ro do s 811v od 0 8. e q ue a fl nal n ã o p aeeu vem de d oi e Itudleeí m oe p íetlem poe. Mas el a,
q u e ao t em po e ô p ensav a em Io bta-homeue e Iauta emee, i m agin ou l og o bruxari a.
- Q ue s e r á aq u il o, Vitória ?
- Ora ' o que há-d e s er ton t a? Nem s equera vês q ue s ão doi. arem-cu s . T a mem t ens
m ed o d el ee ?
- Nilo . d oe arem-cu s a âo m e er-receto . ;Uoe afigurava-s e-me out ra coisa .. _ Se Isto
tudo é tão m ed onho 1
- E m edonho. é. Mas qu e lhe b a vem oe d e faze r . O mel hor e dee te r r'a rmoe pensa-
me ctoe trist e. I • . .
Co m esta s e o u tr a s p rà t tca e, e e du a e m o ç as l ev a vam d e venc ida o s olltàrlo cam inho
da a zi n haga, cu ja d es embo ca dura já avis t ava m per to, d escobr indo- s e en tão o o p u le nt o
c ba pa r r a l d o Bal d lo cio Co n de, que era como qu e o ve eti b u lo d o cetio la do v ergel onde
ficava o p oço d a Ceg on ha , p onto t ermtnue da eu a jornada.
Em cer ta aJtura e mbae s e r-ecolberem ao atl ên c íc , ae gulnd o s empre a p an o li g eiro,
próprio de gen te n ova , qu e n ã o cen ea fà cümente. Ma8 d e e úbtto, a Pl n g a l ha eetaco u , e
dine a ailrlo :
- Tato . . . t emos ob ra I. . .
Algo de extracrdtu âr-ío sucedia. Ela n ão proced ert a aeatm por futilidad e de pirilam-
p os, o u outras eemelbaatee. Havia n o vidade de r eep etto, com certeza. Em todo o cee o n ão
ee atrapalhou . O qu e fez foi tocar no br-a ço da Luíea e dtzer-Ibe b alxinho:
- NAo vê. um vulto, além ao fundo da caleja. meemo ao cant o. aeeím como coíea de
.de criatura que eet à aeeolapada ?
- Vejo sim - respo ndeu a co m pan hei ra , vis ivelmente aae uetnda. E o b servan do
melhor, acrescento u a t r emer : _ Ai nina qu e e u m homem 1. .. Al gum maroto ca p az d e
implicar com a gente I. . .
Efectiva m e n t e, junto ao muro d o l an ço d a S a fara, d es cobri a-se o cor po d e u m h om e m
a gachado. P erm anece u ae eí m coisa d e dois minutos. Depoi s ergueu -se com um v a r a-pa u
na m ã o, e em segu ida olhou l o g o p ara t odas a s dlrecç ôee, como a ce r et ft ca r -ee d e que
ningu ém m ai s o v er ia . Parece que r econheceu 1880 m esmo, porque Im ediatam ente d e u
alguns pa eaoa p ara o cen t ro da azin haga, o n d e parou. Ali aeeobt ou d e u m m odo e s p ecial ,
en ccetaad o- ee 80 pau, de r osto voltado p ara a. rapartgae , q ue fi xava com a t en ção.
As du a s sen ti ram u m cala fr io pelo cor po t od o . A Ratucb a t eve de a mpa rar o c ântaro com
a m ã o, par a nã o a tir-ar co m ele a te r r a: tremi a co mo var a s verde s . E b atend o cast a n holas
d iz p a r a a o utra :
_ Ai , Vitória, que t r abalh os t ão g r-an des l , . . E q ue t an g anho com q u e ele ae apezu-
nha, o a mal diçoado I
- F a la b aix o, m ul he r , q u e a embrectiaâa não p ára aq ui . Ve rá . tu q u e o m armanj o
não vem . a zinh o .. . Toma scn tido além p a r a a quina do Va le d e Andorinb a, que h ás- d e
b iapar a ca beça de outro m oinante q ue se asso ma e eacon de lo g o , co m o q uem ea t â co m
eecov íuba e . . . O lha, l ã aparece u ele a go ra t odo ... E qu e br êg etro q ue c o patife .. . A nda r
em fra l da de cam iaa I E ve m p ara c á •. . t r a z uma cois a na m ã o . . . III to e m ol hada do e d ote
p or fo rça I...
A Lu tea [ut ga-ee per d ida . Nem ao m eno s o u ve o s co men tâ rto e da Plogal ha . A chorar ..
r ecor re à p rotecção celest e:
- Va l.ha-noe a Se n hora d o R o sár io I
A Vitória t ambém não ee t â a foi ta . O uvindo a eúp lf ca da compan heira , a crescenta
comov ida :
- S lm , val ba- noe NOI sa S enh ora. E o Sen hor d a P iedade n o s acu da I . . .
En tretanto , o h o m em q u e viera d a esqu ina d o muro, d tr-ígfu. ae para o o u t ro d o pau,
qu e permanecia q uieto no m eio d a es trada. Chegou-se a ele , p ou s ou n o ' 010 o ob jecto q ue
eegu r ava , e, a cto contin uo, co meça ram a mbos a fa l (:lr b a ix o . Eviden tem e n te eram com pu -
nbetro e. E um c out ro fitavam com peraiet êucta e e du a e ra p a r tgaa, qu e p or aeu t urno
já ti n h am p arado t am b é m , à r -eepelt oea distância de uns 300 p aeeoe.
P anado um instante, 0 8 d ois d eevlaram-s e um pou co, e col oca r am-se d e modo a
es torvarem a m arch a Ús moças, ee p or acaso el as evan ça ee em .
A8 p o bres ficara m geladas. A P lngol h a , p orem, cha mou a 8i une r estos d e força
m oral d e q ue aind a d tepu u ba, e d taee r eeoluta m ente : - S e ja o q ue Deus quiser 1 Para
di ante é q u e é o cam in ho . . . t o ca a a ndar . . .
- Não, Vitória, não - obtemperou a Lutaa com v o z au m ida . _ E' melh or voltarmo s
para tra z e d ceatarm oe a fugir.
- Es pa r va r Pois não vês qu e e e f uglrmos, etee, q uerendo , p ítb a m -n o s l o g o I
A tã o s ensata obse rva ção, a Ra t ucha n ão a tlna com respoe ta d e jeit o. Por fi m
titubei a :
_ AI c omadre d a m inha a lma 1 Isto é O fim d a n o ss a. v ida 1 Aqu ele s m arlolõ es eâo
cap a zes de n o s m atar . P e lo me nos d ão- nos u m a unt u r a valent e, qu e no e d eixam a p ã o e
laranj a . E se fo r 8Ó i8 80 ? 1. .. UiT . . . que d or de b arrig a que eu t enhoI . . .
A Vitória está tã o ebeoeta , que nem d á p elas lame nta çõ es d a a m iga . Seu te-ee Ig ual -
mente perplexa, atónita , s em ee a t rev e r a ca m in har p ara diant e, confor me t in ha dito.
E' n es sa oca etâo qu e o s dote so ltam eatrep ttoea e g a rgal h a das. E se m m ai s a qu elas, o s
preeum ídoe mo fnantes adta n ta m -ee p ara a a r a p ariga s, z u r ra n d o e eep tn ot ea n d o como u na
doido•. O d a ca m isa d e fora g r ita de l argo:
-Arrenquenl dai, suas b adanaa m edroea e l, . . Qu e t al f oi o sf rote ? 1
E o d o pau obe erv a -Ibe em chacota :
- Deíxa-ae, parente t Det xa-ae l qu e eet ãc en t u p td e e I. . . To me m a r pa vonas T Tomem
ven t o, ee não q uerem m orrer de austoT A apostar que a Lutea bota cheiro I.. . '
E a Ptngalba e a Ratucha reconhecendo aa vozes d os d ois, exclamam admtradlestmae r
- O Ventoaas l. . . .
- O Car-ra p ícbana r••.
- Quem tal havia de dizer-I - conclui a primeira, deveras aaeombruda.
- E e verdade I - corrobora a segunda, elnda estupefacta.
Eram efe c ti v a m e n t e eles. Eram o Chico Ve ntosas e o Tomé Carrnpich ana, doi. r apa-
g õee alentados c eet úrdíoe : o prtmeíro, namoro encartado da Vit ória ; o s egundo, d eertço
fiel da L ulu .
Aquilo tudo fora pirraça l embr a d a por ambos , duas horas antes, q ua n do t e j untaram
na praça da aldeia para regr-eeearem a o trabalho . Ate eeee t empo hav iam p auad o a n oit e
de namoro com ela. m e. mo, que Ib ee d isseram e s tarem tratada s p aro entrem d e m adru-
gad a à tonte na m ente de s e demorar em p ouco c o m a e spe ra d e ve z. Ieto r e v olv eu-lhe s o
miolo. Vie ra m -lhes c ôcegae d e segunda entrevi sta, lá fora ao Iu ar-, no caminho d o p oço.
S ão as m elhores, dteaeram ele a p ara con sigo, evo ca n do cena s eemet b e u t e e, euced íd a e
fr equentement e.
P or co u s eg u tute, a o salrem da p ovo ação. acor daram lo g o no plano d a empr-esa.
iriam eep er á-Iae um b ocado mai l adi a nte, ai p ds bauda a das v i n has . Dep oía , qu ando a e
lobrig a s s em, m eter-lhes-i a m m edo por qu a l q u e r m aneira, que aa eeeuetaeae b aatant e . . .
- E ' um a p ança d a d e rir q ue u m home m apanh a ' co nclu Lra m eles m u lto [o vla íe, muito
eepirttuoeoe.
_ Es um velhaco r um m arot o ' . . . _ d ine a P lngalha para o IC U Chtco, moetrendo-ee
fur io. a . T e res a p ouca ve rgonha de n Os s a ir- ao caminho, como fazem os l adrõ es r•••
E ee e u m orres s e d e l u s t O?'
- E ntão agora pões-te ar teca ? .. . - cbeerva-Ibc ele. lA laia de galanteio.
- Tíe-t ô cão r qu e eu nã o sou besta. Começa com a la r vidadea c ver-ás quem esta ê
• • •
Chegaram ftn a l m e u te.
Sobre a facha de calçada Ir r egularíssima q ue circunda o poço famigerado, depuse-
ram 88 bilhas c o s chocalhos , depois de s ol t a r e m um su spiro p rofundo , que ta nto signifi-
cava s a ud a d es Hdíbtnoee a d a s p eripéci a s r -ecentes , como explodo de queima por não
a pen barem a vez , q ue e ra , pelo vis to, de m ulherio mníe a g uçoeo, co m o In d ica v a a p r e-
sença de alguns câ ntaros v a eloe, p a r a a U embo rcados a esmo, Deus sa b e deede quando.
-AI nina I quem ha vla d e adlvinha r ? I. .. Não bon âa esfal far-te a gente a pa880 de
cavalo, t ão lo nge, senão chegarmos c á e fazermOs cr uzes T• •• 'I'rê •• .• quatro . .. cinco .. .
seis . .. Ici. espera s! .. . A nda, comadre Pinga lba, aguenta IA esta mecha t. .. NAo abalemos
daqui. menos das oito h or a s !
- E é chuchar, co madre Luisa . . . Nem t udo são rosa .... S im . não sei se me entendes...
_ Quem eerão a. d a s esperas?- pergunta a Ratucha, não p rcetu ndo atenção Ú piada
da amiga.
A Pingnlha ree pcnde-Ibc :
- ES8u que for em devem estar eet b-a çadee , além debaixo do a zi n h ei ra . Vamos até
lã. O mais certo é termos de 88 arre medar.
-Se temos ! E u nem pOIiSO com 8 S pernas ! E o corpo .. _ e tudc l, ..
E a e duas di rIgiram-se para a arvore , onde encontraram efecrtvemeute as mu lh er es
o que se r e fer ia m .
- Salve Deus a vocemecêe, t c d a e f
- Deus as salve, rapariga. T
- Cara m b a, que 1180 é q u e é m ad ru g a r .
- Mal8 madr ugou vocemec ê, tia Leoc ádta - cc n t ea tou a Pingal h a .
- E nga nai-te f Uha: eu v im on te , Cheguei a q u i à meia p'r'as o nze. Mas vocês não
vie ram sós 1. .. Soa p'r·ai bul ha ... gente ... c ães .. _
- Viemos 8ôdnhaa• • 101 senhora . Ieee q u e ouve IAo caçadores. Desde l a de b aixo ,
q u e lh es ouvimo s ee fa las .
- Pois são caçadores, s ã o . Lã aparecem el es. Se me c ão engano, um é o pad re cap e-
lão . . . e o outro ... d ei x a v er ee o de s cu bro . . . oh! ... é o lenh ar Lou ren ço d o. Cor tiço s.
Conh eço-o p 'Ic modo d e andar . Parece que a nda p elado .. . Oh , que dois cadeletr-o s I . . . _
conc l u i m ord a zm ente a tal ti a Leo cã dl a . E como ela d e ss e o p onto , t o da s fiz eram coro,
cr uza n do-se os co me màrtoe p icares co . sob re o m oral dos r ecé m -vindos .
- Têm m anha co mo s et e r apo s a s.
- Velh acaria, é qu e ef ee t êm .
- O q ue querem é fa lar m al , Estão s empre com ptca rd ía T
- Pois p'ra mim v êm d e ca rrin h o - obse rva a Gada n ha, matrona p i mponaça com
ares de doutora. E continu a : - Se ele s b aterem a q u i, e co meçar e m co m l ara ch a s, h ã o-de
o u v t-Iae I E eu que m e r eg a lo toda p or d ar um a r recu ão t e s o u eet ce barrae coe arra bacelros l
- Pois b at em cê, mana in ês-nota a L u tea , d esg os t osa , dep oi s d e olhar para a eet r ada ,
E n 40 te e ng a n a v a. Os caç adores, qu e eram o s mesmos que o Leccá d te pre eum íre ,
8alram d a ve r ed a e cortaram em direcção Ús mulheres, ao p a88 0 que o s c âee l adra vam
fren éticos, p or pressen tirem aU p erto penou d es conhecidas.
- Joio T.. • G lbola T. . . PIno la T. . . - gritou alto o p adre Si mõ es. qu e n âo q u eria m al.
qutetar-se com as d o poço p or ca use d a c a nzoad a.
Mas 88 ced et a e Ignor a n d o 88 Inten çõ es d o a mo, explodi am d ezen as de be-b éue, cada
vez m aia em ca çad or ee, m al . e nca rniçados .
-A q u i, Plnola ! ... -ber rava furt oe o o ca p elã o , com voz d e g eneral e m chefe '
Mas. qu al P lno la! A8 p odenga e con ti nuavam a l adrar fue íoea e, sem se Importarem
c o m o d ono .
- Es tlt v o cê um bo m pato-mo l eque _ di z ao cap elão o b ojud o 81'. Lo u renço , n a sua
v ozi nha p au end a e íu eonee . Depot e, pa ra [u ettftc ar o apodo. a crescenta: - Quer ver como
ele s se calam ? . . Aqui , D i a m a n te! •.. Calud a j Ar . .. _ or de no u o eeubor- d 08 Cortiços.
In terrom pen do a8 palavra. com a demora pa ch orrenta d e um cont a gota . m e cânico .
E o Diam a nte cal ou.ae Im ed iatam en te. e v olt ou l og o a t r ás, arr a s ta n do ii. o bed iê ncia toda s
u P íno íae c G lbolo8. Foi triun fo p ara o 81'. Louren ço e u m d eeaetrc p ara o pad re Sl mõe •.
- O r a vê, eeu padr eca 1 Ve ja, o q ue e u m hom em entender d a poda . No latim me
gan ha vo cê, rua s a mandar cães c a fazer p o ntar ia s 1880 . . . bolho t . ..
O ca pelão encava co u co m a troça , a pon to de jog ar a aeg u l o te btsce :
- v ocê , "eu a ea íca-t óbarae, ê e s p er to, lã Iaeo 6. Ma 8 n ão lhe v aleu u (Inura quando
ma tou o c oel ho emp l olhado 1. .. E f err ou.Ibc um a ga rgal hada eat âulca , qu e d eixou apo-
pt êttco o zo r -ro do senhor Louren ço.
- Você men te I m en te como um judeu l .. . Ol he n ão seja mai s verdade ir v o cê ii mela
o olte ao . gam boz l no8. 00 p àtí c da J oana do LaranjaL ..
-c êl au l s enhor Louren ço, rn au l . . . [ ee o n ão e para o Ó• . . . Quem t em t elhados d e
v id ro n ão atira aos d o v tztnb o . (Adoc ic a n do 08 m ane lra5) E o a m igo , vamos , qu e 08 tem
feito b OD8. Que m e diz d a quel a es per-a às lebre s, acol á n 08 Lc bat o e ? Ah, seu maganAo t
De eea vez n Ao t ol v ocê o cm p l olado 1•..
- Ora. h â que temp o. que Iaeo p aeaou l , . .
- Q ue f08se h ã mult o t empo, o u h ã p ou co, n ão imp orta. A p artida d eu-se, c O amigo
não n ega, h elo ? I
- Homem, cale-se para a i, nAo ou çam a. d a foote . Ol h e qu e es t a m o s ao p é d elas . . .
Agora é que v a mos co n hecer a8 t r ês p erd tg ot ne que vinh am encaeaíadae . ..
- Bone d íae, minhas fl ores, cu m p rime n ta muito co rt ês o menboso do padre S ímõe e,
dtr-ígfnd o-ec às ca rupone ea e,
- Viv am lã , eeub cs-es m o ça. - eaud a r o ncctrame n t e o velho Leurenço.
- Bo n s di a. t enham v c cem ec êa tatuem - r espondem algum a •.
- Não se i com o ee a t reve m a estar aqui d e n otte .Ldl z o cap elão a p retexto d e p arol a .
- E s em co m pan tia d o h om ens- a crescenta o d0 8 Cor tiços com int en ção a vel haca d a.
- Nem prec íee m oe d eles . . . - a dver te a Gad a n h a , m ostrand o m au fo cinho.
- Lá 1880 p r ecisam _ couteeta-Ihe o padre . _ Se uã c p r ecteaeae m, v in ham s ó , e não
aco m pan b a dae.
- Poi s n ó. v tmoa sozi n h as - r e pli ca a Leoc ád la.
_ A 's veeee, m ana.
_ Se m p r e .
- Se m p re é modo d e dizer. Pelo m eD OS a lgu ma •.
-Como a ..im ?
_ Com o eu lhe dlgo, comadre.
_ E m ais e u - a crescen t a o s enhor Louren ço s orrindo a seu modo.
- Nã o entend o - cout eete a Leo c ádt e .
_ P ai. ã f 6cI1 de e n t e nd er
c; r ed argu o o capelão. E pro.segu e: -Quero eu dizer, qu e
en t r e v cce m e cê e h ã q u em venha de noite a o po ço, a co m p a n h ad a de homem ou hcmeae,
Ytram estes que a t erra hâ.d e com er.
- E eet ee - a d uz o Louren ço arr egal a n d o u m dos olhos com o ded o indicador.
Depor e ecreecenta : - E nã o era um a 8Ó... eram dua • . . . ou quatro, para m elhor. dual
f êmeas e do i8 machos . .. dois calais de perdtzea t. . .
A Ratucha e a P lngalha est remeceram d e 8U8tO.
- Ma . que a reae eneotradae 8Ao C88as ? - p erg unta a Lecc ád ía, um pouco int rIgada.
E a Gadanha acreecenta : '
- Vã , d igam q u em s ão, Nada de nabos em SSC0 8 t
- Sim , que n ão fa çam um a s o fe ito e outra, carregu em com a fama - comentam
várlae a u jeitas a teca dae d e puritan ismo.
O s en ho r dos Cortiços r eapoude :
Quem hão-d e eer ? São e8888 que nos tra zia m a dianteira. Vocês d irão quem eram . ..
_A Vlt 6rLal . . . a Luis a ... -cxclama ao m esmo tempo a maioria d o a u d itór io.
Espanto geral.
E ra para Isso. Depois d as duas terem afirmado qu e v i n ha m 8óa, e ago ra descobrir-se
o contrário, quem nã o h avia d e estran h ar? Pobres moçaal . . . S oi s d ig n a s de làstim a, n ão e ô
p ela falta que cometest es, maa também por verd es a vossa r-eputaçã o abocanhada por
dois Hnguaretroe vlperi nos que de t u d o fa zem troça.
Confundidas pelo choque, el as n em sab ia m o q ue a lega r, t ão atarantadee estavam.
Por ú ltimo a Plnga lha c obrou o ânimo e r espo nde se rena:
- P ois v ie mos n a cam pa n ha d e h omens , u âc h á d úvid a . Mas e ss es homens não n 0 8
fazem verg o nha: um er a o m eu Ir-m ão e o outro o irmão da Lutea . Se a inda agora dteee-
mOI que víohamos SÓ8. foi por e les n 0 8 deixarem l a l onge, o n d e aparta 8 ca rr e te lra de
Fo ntalva. Não é ver d a d e isto, senhor p ad re ca p e lão '?
- Que eles se a p a r t a r a m de vocem ecêa, ltn d tu b a s , é v erd ade e m aia que verdade.
Ag or a se ele. eram os ee ue tr-mêos , 1810 n ão sei, p orqu e o . não co u b ec í.
- Todos somos trm ãoe - gague ja em tom de ruo fa o s enhor Lo u r enço, q ue er a um
al ho p ar a Indirecta • .
In tervém então a G a d a n h a :
- Nã o lhe deit e p imenta, seu pardal pansudo t As raparigas vieram co m o s Irm ãos
de verdad e, co m aq ueles q ue são fil h o s das eu ae m ãee e do ••eue pate, entendeuJ Você
com o .6 pensa na p o u ca vergonha , cuida que 0 8 m ais eã c o m e. mo.
- Qu e t al esta a centopeia t - ex clama de cara à ba n da o senhor do s Cortiço•.
_ AlUe8 ce n t o p eia qu e cadela relaxada, o u v iu ?
- Nã o vale zangar, c o m a d r e - ob ser v a o aetucloec capel ão, d ettendo água na fervura.
- Eu nã o me zango. M. as n ão con s lnto que na minh a cara ee fa ça p ou co de quem é
po b re. Bem vê, q ue nem todo o mat o é our égãoa,
A Leo c ád ta que estava a em b ir rar com a queetâ o, e que procura en eej c para di zer
díchotee, ata lha o d espique fa lando ass im:
- Dei xem-se d e trap ucbae, que não é p ' ra tanto. Va m o s a ea bcr : p ara onde vão 0 8
men Inos ca ça ?
á
J
Principiam o s comentaria s:
_ Que bon ita valI
_ H u m I n em por leso . Leva o lbo s d e chorar.
- Poi s não havia de c horar? São coisas q ue cheg a m fundo . Eu qu e o diga 1
_ E que chore. Por liso n ão e m ai s fe ia. To ma ram m ult as . . .
_ E o vestido . .. ol he m q ue é d a moda.
_ Fo i fe ito à d a s Eu e éb ta s.
~ .\ 1, n Ina, a ca pela I ... Coisa asseada t ...
- Veio d a cidade. Do Manu el do Cavalo . Dez t ost õ es .. .
_ Coitadi n ha t Noaea Sen hora a a jude.
R o noival ol hem o n oi v o I O q ue vai d e s ério 1 Tem o l heira s r. ..
_ Ma s bem vest ido J•• •
- Bota fi na I
_ Co la r in ho d e lustre I
_ Bo t ões d e o uro . . . a la muree d e pra ta ... um di n h eir ã o I. . •
- M0 8 não l ev a abotoadu ra .. .
- Se jA s e n ã o u s a r... Ne m r e p aram que as calças e ão d e portin hola. Pois cu , fo i
p a r a o que olhe i l og o . . .
_ Um m oço bem estreado, sim sen hora . . . Aqu ilo deve ser ri jo e dur àeto. Ta tnê tn
a pan ha um peixel. ..
Neste m eio tem po o corte jo a travee eava as a la s da m u ltidão, p o r entre oa ol hos
perecrutadoree d08 basbaques , q ue n ão queriam desperdi çar o mais inftmo pormenor.
Segundo o u s o lo cal, o. n otvoe e o aco mpanhamento Iam g raves e cerimon iosos,
cumprime n tando para a direita e pa ra a esqu erda, ao m es uro t emp o que agradeciam 88
í'Ioree e os gr-ãos de trigo q ue l h es atiravam d as ja n ela s e da. portas. em obediênc ia às
coetumeí r-ae. No m eio da com itiva, d eeta cav a -ee, solene e mage ato eo, o velho p ároco d a
freguesta - o pad rlnho-p rior _octogenArlo de virtudes exemplarteetm aa, que b á meio
s écul o servia a paróq uia com eve ng éltca dedicação. O. 8in08 tangeram 08 re p íq uea d o
eerüo, e d esde logo as criança. q u e enxameavam o terreiro a08 sa lto. e cabrfolae, v ieram
u nir-se aos con vtdadoe, formando o couce do pr éertto, numa deeordeur e ind18clp llna
b ulheuta, própria do. poucos a nos.
Algun8 mais ladinos, t re smalhavam d a chu sma, e acercavam-se do venerando sacer-
dote, dizendo-lhe cm t o m h umilde :
- A eu a b ê nção, sen hor p a d r inho I
E o pa d r e Alb uquerque, leva n do a m ito ao ba rret e, d escobria a s ua formo sa cabeleira
branca e correspondia r is o n h o:
_ Deus vos abe nçoe, me us fil hos. _ E attr ave-Ibee com ea amêndo a. que lhe haviam
oferecido n a ig reja , expa udí n dc-ee nu m a a legria santa e si mples, e ó própria de q uem
I! bom.
Chegaram p or fim cala d o a u o ívoe. A' p orta da r u a agua rdu m -noe u m ba n do de
à
meças das m ai s H am aet ee da t erra qu e, [u bllo ee a e fo lga eãa , cepar gem sobre o séq u ito
pê talae de và r te a Hoeee. A viz inhança t r esbord a pele s pcr -tedoe d a s h a bita çõ es e a ru a
coal he-ee d e gen t e d e t od a a ca s ta que a code a v er a boda. Repetem -se, en fim , 88 cena s
do adro da Igrej a, co m t anta o u m ete cu r io s idade.
A noi va e a m adrinh a v o l t a m -se p ara o p o v o e faze m a meeu ra d o cost u me, para n ã o
fal t arem às pra x es . E e m s eg u id a , metem-se em casa, t endo en tào lug ar a cen a d o s para .
bé n e. Q ue ventu r a e q u e prazer pa ra a Vitó r ia e para o Ch ico J Realizaram fin alme n t e o.
eeu e s onho. dourad os I E n t re ta n to. o s p adrtub o » deeeu ve u cí t ham -se d a turba qu e e nche a
catita, e reg reeea m à rua, e m p u n h a nd o a bol sa d a s a mê u doa a, r ebu çad os e co nf eita s , qu e
atiram ã s m ãos cheias, sobre a onda d o p o v oleu.
- P'r'a qulT . . . P'r'aqull . .. _ bra d am d e tod os 0 8 l a d o s, em t ons va rte d teatm o s.
E 0 8 garot o s, caind o d e chofre s obre a s guloeeima a q ue Ibee esp al h a m, es m u r r a m -se e
espezinham - se r eci p roca men t e, r i ndo un a e chorando o ut ro s, t ud o num ber r ei ro a gudís-
s imo e de. com passad o, que se ou v e a m el o l egu n.
- P'r'aquí I. . . P 'r'oqut l -con ti n uam a gritar d e t oda s a s ban das. num ent u s la em o
freme n te, c aract er fer ícc . ..
j
Entretanto, algu ém aabo re la o ee pectà c u lo por uma form a b em dt v eraa. E~8e a lguém
é o capelão e o eeu Inaep er ável L oure n ço , a mbos a eetet tn do ao p a g ode d o ceaó r !o , d o
peItoril de um a janela.
O pr-ímetro, de g orro e cache-nez, n am orava d es caradamente a J oana d o Lar a njal.
l) s egundo, n Ao ve ndo o coirão d 08 eeua efectoe, ol h a v a luxurio so para 08 mulheres b o ut -
tee, e. com 1880 s e r esignava .
Mu, à c hegada d o pr ésttto, aco r dara m de pa amacetr-a qu e o s e rotlz ava e fica ra m
m ara vilhad os com a fo r mos u r-a d a n ctv e . E c o n t e m pla n do-a por Inetantee, vteram-Ihe
r ec ord a ç ões fec etae d as cenas o cor-rtdee h á meeea n a s proximidad es d a Cegon h a.
O p adre, rememorando 0 8 facto s, n ota :
- Ou h oj e, ou a m anhA c m qu e n ó. a btsp àmce d e s ope ira com ele T
- Ho je. goza ela ma íe I. . . _ r e p Uca o eeub or d 08 Ccr -tiçoe, com o s e u risinho b rej eir o.
- [880, q ue m s abe - objecta o ca pelão.
_ Não t e m qu e saber . Hoj e. é e m c h eio ! . .. Tomara v ocê est a r -l he n a p el e - di z o
Lo u renço com ares d e tro ça, ol h a n do d e esguel ha p ara o padre S tmôe s .
- Vade retro, s e u a t revido I O ra o abe ta râa , com que s e h avia d e ea ír-L . .
E os doi e, e ncar e u d c-ac com cini sm o. d esataram a rir d eebreg ad os, com o paeear õee
d e p ap o d e r ola que ae e n ten d em p erfeit amente. Bons ttpce t