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DR. MIGUEL A.

DE FREITAS JR
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS DA
EDUCAÇÃO FÍSICA

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLÓGICOS1

POR QUE ESTUDAR SOCIOLOGIA?


1) A Sociologia ira te possibilitar refletir sobre questões importantes
relacionadas a Sociedade, as quais repercutem na Educação e na
Pratica Pedagógica do Professor-treinador, uma vez que esta pratica
não acontece no vazio, estando diretamente relacionada com um
contexto histórico e cultural especifico. Por isso, é importante refletirmos
sobre a ordem econômica, política e social que exercem influência direta
sobre as nossas vidas.

2) Analisar a sociedade sobre o prisma dos diversos olhares que as


diferentes perspectivas, irá fornecer subsídios para que você
compreenda melhor a realidade social e educacional, na qual você está
inserido.

3) A formação de um bom profissional precisa estar alicerçada em


conhecimentos sólidos sobre a realidade social, para que ele consiga ter
maior clareza de propósitos e dar um direcionamento as suas ações. Os
conhecimentos oriundos da Sociologia fornecerão elementos (categorias
de análise) que irão auxiliar na reflexão, problematização e discussão da
realidade.

O QUE É A SOCIOLOGIA
Existem muitas definições para explicar o significado da Sociologia. No
sentido etimológico significa = estudo da sociedade
Vocábulo formado pela palavra de origem latina socius (sociedade) + a
palavra grega logia (estudo).

1
Este texto teve como material de apoio o livro produzido pela UEPG, para o módulo de Sociologia no
Curso de Pedagogia a Distância.

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Para Broom e Seznick (1979:2)


A Sociologia e uma das Ciëncias Sociais. Seu objetivo mais amplo e
descobrir a estrutura básica da sociedade humana, identificar as
principais forças que mantem os grupos unidos ou que os
enfraquecem e verificar que condições transformam a vida social.

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Quais as principais idéias presentes nesta definição?


A Sociologia é uma ciência, logo, envolve um conjunto de
conhecimentos sistemáticos, organizados sobre a sociedade. A ciência procura
descobrir os fatos tais como são; independente do seu valor emocional.
Baseia-se na observação e na pesquisa e não em sentimentos e crenças
subjetivas a respeito dos fenômenos.

O objeto de estudo da Sociologia é a sociedade humana


Sua estrutura básica, a coesão e a desintegração de grupos, bem como
a transformação social. Portanto, seu objeto de estudo não envolve as ações
individuais, mas as interações humanas, ou seja, o homem convivendo com os
seus semelhantes.

Existem diferentes maneiras de realizar o estudo da sociedade


Um deles enfatiza a adesão a ordem social existente, e o outro enfatiza
a dinamicidade do social e os fatores que podem contribuir para a sua
transformação. Charon (1999) afirma que compete a Sociologia responder três
perguntas básicas:

1) O QUE SOMOS?
Somos seres inacabados, adotamos regras, os princípios morais, os
valores da sociedade em que vivemos, construindo a nossa personalidade
em contato com nossos semelhantes. Autores como Chales Cooley e
George Mead2, destacam que a própria natureza humana e aprendida por
meio das interações sociais que desenvolvemos. Como essa interação
ocorre por toda a vida, estamos constantemente nos modificando e nos
socializando a medida que convivemos com outras pessoas e situações.

2
Charles Coley e, sobretudo, George Mead, são os principais expoentes da Escola de Chicago no estudo
da comunicação até aos anos trinta. Lançaram a proposta teórica designada por Interacionismo Simbólico,
expressão cunhada por Blumer, em 1937, para se referir ao estudo das significações elaboradas pelos
atores sociais no contexto das interações sociais

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2) O QUE MANTEM COESA A SOCIEDADE?


Ao mesmo tempo em que somos socializados, vamos interiorizando os
costumes, os valores, as normas e os padrões de comportamento da
sociedade. A ordem é mantida graças as instituições socializadoras, como:
a família, a escola, a religião, os meios de comunicação, etc. Entretanto, a
manutenção da ordem nem sempre visa o bem da coletividade, pois, em
muitos casos busca adequar as pessoas para aceitarem as regras que
convém aos grupos dominantes da sociedade.

3) POR QUE EXISTEM DESIGUALDADES ENTRE OS HOMENS?


Alguns pesquisadores acreditam que os homens são naturalmente
desiguais em talentos, habilidades, enfim, atribuem as diferenças sociais a
fatores de ordem individual. Os filósofos gregos, por exemplo, em sua
maioria, consideravam os homens como naturalmente desiguais e diziam
que a harmonia social seria obtida a medida que cada indivíduo
desempenhasse uma atividade conforme as suas aptidões. É nesse sentido
que Platão em sua obra “República” diz que a sociedade justa aceitaria a
divisão entre trabalhadores, guerreiros e filósofos, segundo as suas
aptidões. É importante destacar que naquele momento participavam da vida
política da polis grega (cidade-estado) os homens livres, sendo excluídos os
escravos, as mulheres e as crianças.
Outros estudiosos, no entanto, vêm demonstrar que as desigualdades
entre os homens não dependem apenas dos atributos individuais, mas são
socialmente produzidas. Autores como Thomas More3 (1478-1535) e

3
São Sir Thomas More, por vezes latinizado em Thomas Morus ou aportuguesado em Tomás Moro
(Londres, 7 de Fevereiro de 1478 — Londres, 6 de Julho de 1535) foi homem de estado, diplomata,
escritor, advogado e homem de leis, ocupou vários cargos públicos, e em especial, de 1529 a 1532, o
cargo de "Lord Chancellor" (Chanceler do Reino - o primeiro leigo em vários séculos) de Henrique VIII
da Inglaterra. É geralmente considerado como um dos grandes humanistas do Renascimento. Foi
canonizado como santo da Igreja Católica em 9 de Maio de 1935 e sua festa litúrgica se dá em 22 de
Junho.

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Tommaso Campanella4 (1568-1639) em suas obras imaginavam uma


sociedade onde as desigualdades sociais não se fizessem presentes.
Recentemente o pensamento socialista opondo-se ao ideário capitalista,
defende que as desigualdades entre os homens guardam relações com a
forma como se dão as interações entre os homens na sociedade dividida
em classes.

Texto 2 – O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA: antecedentes históricos


A Sociologia pode ser entendida como uma das manifestações do
pensamento moderno. Ela não é fruto das idéias de alguns pensadores,
mas, produto de uma nova forma de pensar a natureza e a sociedade. A
sua formação constitui um acontecimento complexo onde ocorreram
circunstâncias históricas, intelectuais e princípios ideológicos de
determinados grupos.

QUE CIRCUNSTÂNCIAS FORAM ESTAS?


O surgimento da sociologia guarda relações com as transformações
ocorridas na sociedade européia a partir do século XVII. A revolução
científica iniciada por Isaac Newton5, que formulou a Lei da Gravitação
Universal, abriu caminho para o estudo racional do universo e das leis que o
regem e trouxe a crença no cientificismo, opondo-se as explicações de
ordem religiosa e metafísica.

4
Giovanni Domenico Campanella (Stignano, 5 de Setembro de 1568 — Paris, 21 de Maio de 1639) foi
um filósofo renascentista italiano, poeta e teólogo dominicano.
5
Isaac Newton nasceu em 4 de janeiro de 1643 (ano da morte de Galileo Galilei) em Woolsthorpe,
Lincolnshire, Inglaterra. Foi criado por sua avó. Estudou no Trinity College, Cambridge, onde a
instrução era definida pela filosofia de Aristóteles e apenas no terceiro ano é que se tinha liberdade para
outros tipos de leitura. Newton estudou a filosofia de Descartes, Gassendie Boyle. Álgebra e geometria
analítica. Mas a mecânica descrita por Copérnico e Galileu atraíram Newton e o levaram a escrever um
tratado com novos conceitos em física e com aplicações em Astronomia. No ano de 1687, Newton
publicou o Philosophiae Naturalis Principia Mathematica (Princípios Matemáticos da Filosofia Natural)
reconhecido como um dos mais importantes livros científicos ja escritos. Nele, Newton apresenta as
famosas três leis do movimento e as utiliza para resolver todos os problemas importantes, na época, sobre
o movimento na Terra e nos céus.

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A nova forma de conhecer a natureza, na qual a observação e a


experimentação são elementos fundamentais, influenciou estudiosos de
outros campos, que passaram a acreditar que, se era possível estudar
cientificamente o universo, também seria possível estudar cientificamente a
sociedade, formulando leis explicativas para os fenômenos sociais.

O emprego sistemático da razão, do livre exame da realidade – traço


que caracterizava os pensadores do século XVII, os chamados
racionalistas – representou grande avanço para libertar o
conhecimento do controle teológico, e conseqüentemente para a
formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da
natureza e da cultura. (MARTINS, 1990:18)

OUTROS FATORES SOCIAIS


No final do século XVIII, a burguesia comercial, formada essencialmente
por comerciantes e banqueiros, sustentava ativo o comércio entre os países
europeus e estende o seu raio de atuação, comprando e vendendo
mercadorias a todos os pontos do mundo.
O capital mercantil gradativamente se estende também a produção
manufatureira (produção em serie, por meio de maquinas, de muitos artigos
iguais), levando ao desenvolvimento de um novo processo produtivo em
contraposição ao das corporações de oficio.
O desenvolvimento da manufatura fez com que houvesse um interesse
cada vez maior pelo aperfeiçoamento das técnicas de produção, tendo em
vista o aumento dos lucros. Surge então o processo denominado
maquinofatura, momento em que o trabalho anteriormente realizado pelas
mãos ou ferramentas, passa a ser desenvolvido por meio de máquinas, o
que eleva o volume de produção das mercadorias.

COMO SE DÁ A RELAÇÃO DE TRABALHO A PARTIR DA REVOLUÇÃO


INDUSTRIAL?
O trabalho assalariado tornou-se fundamental no sistema fabril,
ocorrendo a exploração da mão de obra feminina e infantil. O quase
desaparecimento dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos
independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho, tiveram um

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efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modificar


radicalmente suas formas tradicionais de vida. Para Martins (1990:11-12)
A Revolução Industrial significou algo mais que a introdução da
maquina a vapor e dos sucessivos aperfeiçoamentos dos métodos
produtivos.Ela representou o triunfo da industria capitalista,
capitaneada pelo empresário capitalista que foi pouco a pouco
concentrando as maquinas, as terras e as ferramentas sob seu
controle, convertendo grandes massas humanas em simples
trabalhadores despossuídos.

Ao mesmo tempo em que aumentou a produtividade com o


desenvolvimento da divisão do trabalho, a Revolução Industrial também
produziu miséria para milhares de trabalhadores desempregados, sendo que
as crianças, mulheres e homens eram obrigados a cumprir uma jornada de
trabalho de 12 horas diária, privados de seus direitos políticos e sociais.
As principais conseqüências desse processo foram: o aumento da
prostituição, dos suicídios, do alcoolismo, da criminalidade, da violência,
principalmente nos centros urbanos industrializados que passaram por um
vertiginoso crescimento demográfico, sem possuir, no entanto, uma estrutura
de moradia, serviços sanitários, atendimento a saúde, que fossem capazes de
acolher a população que se deslocava do campo.
Os efeitos catastróficos desta Revolução para a classe trabalhadora,
levando a formação dos primeiros sindicatos, a elaboração do pensamento
socialista e ao surgimento de inúmeros movimentos e revoltas de trabalhadores
que marcaram toda a vida européia no século XIX.

O ILUMINISMO
Foi um movimento cultural que se desenvolveu na Inglaterra, Holanda e
França, nos séculos XVII e XVIII. Nessa época, o desenvolvimento intelectual,
que vinha ocorrendo desde o Renascimento6, deu origem a idéias de liberdade
política e econômica defendida pela burguesia.

6
Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da
antigüidade clássica, que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista e
naturalista. O termo Renascimento é comumente aplicado à civilização européia que se desenvolveu entre
1300 e 1650. Trata-se de uma volta deliberada, que propunha a ressurreição consciente (o re-nascimento)
do passado, considerado agora como fonte de inspiração e modelo de civilização. Num sentido amplo,

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Os filósofos e economistas que difundiam essas idéias julgavam-se


propagadores da luz e do conhecimento, sendo por isso, chamados de
iluministas. O iluminismo trouxe consigo grandes avanços que juntamente com
a Revolução Industrial, abriram espaço para a profunda mudança política
determinada pela Revolução Francesa.
O precursor deste movimento foi René Descartes (1596-1650),
considerado o pai do racionalismo. E sua obra “Discurso do método”, ele
recomenda para se chegar a verdade, que se duvide de tudo, mesmo das
coisas aparentemente verdadeiras. A partir da dúvida racional pode-se
alcançar a compreensão do mundo e mesmo de Deus.

Os ideais iluministas

O apogeu deste movimento foi atingido no século XVIII, e, este, passou


a ser conhecido como o Século das Luzes. O Iluminismo foi mais intenso na
França, onde influenciou a Revolução Francesa através de seu lema:
Liberdade, igualdade e fraternidade.
Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém,
era corrompido pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam que
se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais, a
felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contra as
imposições de caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contrários ao
absolutismo do rei, além dos privilégios dados a nobreza e ao clero.

A INFLUÊNCIA DO ILUMINISMO NA CONSOLIDAÇÃO DA ORDEM SOCIAL


CAPITALISTA
O pensamento dos filósofos franceses iluministas do século XVIII se
opunha aos fundamentos da sociedade feudal, aos privilégios de sua classe
dominante e as restrições que esta classe impunha aos interesses políticos e
econômicos da burguesia. Eles propunham a valorização da razão, como o
principal instrumento para se alcançar qualquer tipo de conhecimento, a

esse ideal pode ser entendido como a valorização do homem (Humanismo) e da natureza, em oposição ao
divino e ao sobrenatural, conceitos que haviam impregnado a cultura da Idade Média.

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valorização do questionamento, da investigação e da experiência como forma


de conhecimento tanto da natureza quanto da sociedade.
Como ideólogos da burguesia, os iluministas consideravam as
instituições existentes injustas e irracionais, criticando a monarquia absolutista,
que assegurava privilégios a uma pequena camada da população constituída
por quinhentas pessoas, quando nesse momento a França possuía vinte e três
milhões de pessoas.
A sociedade francesa do século XVIII mantinha a divisão em três Ordens
ou Estamentos típica do Antigo Regime – Clero7 ou Primeiro Estado, Nobreza8
ou Segundo Estado, e Povo9 ou Terceiro Estado – cada qual regendo-se por
leis próprias (privilégios), com um Rei absoluto (ou seja, um Rei que detinha
um poder supremo independente) no topo da hierarquia dos Estados

REVOLUÇÃO FRANCESA
Ocorrida em 1789, a Revolução é considerada o marco de consolidação
da Sociedade Capitalista, dando início a Idade Contemporânea. A burguesia
ao tomar o poder insurgiu-se definitivamente contra os fundamentos da
sociedade feudal, construindo um Estado que assegurasse autonomia diante
da Igreja e que incentivasse e protegesse a empresa capitalista.
Através dela foi abolida a servidão, tendo por lema os princípios
universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté, Egalité,
Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau.

TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS A PARTIR DA REVOLUÇÃO FRANCESA


Em menos de um ano, a velha estrutura e o Estado monárquico estavam
liquidados, inclusive abolindo radicalmente a antiga forma de sociedade e suas
tradicionais instituições. Foram limitados os poderes patriarcais na família,
fragilizando os abusos da autoridade do pai e forçando-o a uma divisão

7
Formado por pessoas ligadas a Igreja Católica.
8
Formada pelas principais famílias do Reino, que detinham muita riqueza e terras. Normalmente
recebidos por serviços prestados a Coroa.
9
Formado basicamente por camponeses e comerciantes que eram as pessoas que mais trabalhavam e os
que pagavam impostos para o Rei.

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igualitária da propriedade. Confiscaram-se propriedades da igreja, suprimiram-


se os votos monásticos e a educação ficou sob responsabilidade do Estado.
Acabaram-se antigos privilégios de classe, surge o incentivo e o amparo ao
empresário.

TEXTO 03 – GRANDES PENSADORES DA SOCIOLOGIA

O POSITIVISMO DE AUGUSTO COMTE10


O surgimento da Sociologia tem como pano de fundo a existência de
uma burguesia11 que se distanciara de seu projeto de igualdade e fraternidade,
a qual crescentemente se comportava no plano político de forma menos liberal
e mais conservadora, utilizando intensamente os seus aparatos repressivos e
ideológicos para assegurar a sua dominação.
Na terceira década do século XIX acirram-se na sociedade francesa as
crises econômicas e a luta de classes. Esta crise gerou desorganização e levou
Augusto Comte a criar a Sociologia, visando entender a Sociedade para tentar
reorganizá-la.
Para ele, as idéias religiosas haviam perdido sua força, não sendo
capazes, portanto, de contribuir para a reorganização da sociedade. Ele partiu
de uma crítica cientifica a teologia e entre 1851 e 1854 publicou “ O sistema de
política positiva” ou “ Tratado de Sociologia” que institui a religião da
humanidade. Tendo se proclamado “Grande Sacerdote da Humanidade” em

10
Filosofo francês considerado o pai da Sociologia.
11
Burguesia é uma classe social que surgiu nos primeiros séculos da Idade Média na Europa (séculos XI
e XII) com o renascimento comercial e urbano. Dedicava-se ao comércio de mercadorias (roupas,
especiarias, joias) e prestação de serviços (atividades financeiras). Os burgueses eram os habitantes dos
burgos, que eram pequenas cidades protegidas por muros. Como eram pessoas ricas, que trabalhavam
com dinheiro, não eram bem vistas pelos integrantes do clero católico, que era quem, até essa altura era o
principal detentor da riqueza. Os mais pobres ficavam fora das muralhas e eram denominados de
"extraburgos". No entanto, os burgueses não sonhavam com enriquecer-se nem, muito menos, com tomar
o poder. Desprezados pelos nobres e pelos artesãos, estes burgueses eram herdeiros da classe medieval
dos vilões e, por falta de alternativas, dedicaram-se ao comércio, que, alguns séculos mais tarde, serviria
de base para o surgimento do capitalismo.

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1847, instituiu um calendário positivista, no qual os santos foram substituídos


pelos grandes pensadores da historia.
Segundo ele, para reorganizar a sociedade seria necessário estabelecer
a ordem, criando um conjunto de crenças comuns a todos os homens. Comte
sustentava ainda o estabelecimento de princípios norteadores do conhecimento
humano por meio de leis imutáveis, conforme as ciências físico-naturais. Desse
modo, a Sociologia foi inicialmente por ele denominada de “Física Social”,
devendo utilizar em suas investigações o mesmo método sistemático daquelas
ciências.

Um aspecto característico das idéias de Comte é a sua preocupação


com a complementariedade entre ordem em progresso para que pudesse
haver um equilíbrio na sociedade. Assim deveria ser criado um conjunto de
crenças comuns a todos os homens, visando reverter a situação de
desorganização social das sociedades européias e alcançar gradativamente o
progresso.
O lema da bandeira brasileira é de inspiração positivista: “Ordem e
Progresso”. A frase original formulada por Comte era: “O amor por princípio, a
ordem por base e o progresso por fim”. A adoção desse lema deve à influência
de Benjamim Constant12, que era adepto ao Positivismo.
Para Comte, o método científico era o único válido para se chegar ao
conhecimento. Reflexões ou juízos que não podem ser comprovados pelo
método científico, como os postulados da metafísica13, não levam ao
conhecimento e não tem valor.

12
Benjamin Constant Botelho de Magalhães (Niterói, 1836 — Rio de Janeiro, 1891) foi um militar,
professor e estadista brasileiro. Formado em engenharia pela Escola Militar, participou da Guerra do
Paraguai (1865 - 1870) como engenheiro civil e militar. Adepto do positivismo, em suas vertentes
filosófica e religiosa - cujas idéias difundiu entre a jovem oficialidade do Exército brasileiro -, foi um dos
principais articuladores do levante republicano de 1889, foi nomeado Ministro da Guerra e, depois,
Ministro da Instrução Pública no governo provisório.
13
Metafísica: Ciência que estuda tudo quanto se manifesta de maneira sobrenatural. É um ramo da
filosofia que trata da natureza da realidade última. Está dividida em: ontologia, que trata dos inúmeros
tipos fundamentais de entidades que compõem o universo, e a metafísica propriamente dita, que se
preocupa com a apreensão dos traços mais gerais da realidade.

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A LEI DOS TRÊS ESTADOS


Para Comte todas as sociedades passam por 3 estágios de desenvolvimento:

1) Estágio teológico: os fenômenos são apresentados como sendo


produzidos pela ação de seres sobrenaturais que interferem
arbitrariamente no mundo

2) Estágio metafísico: os fenômenos são produzidos por forças abstratas.

3) Estágio Positivo: os seres humanos desistem de procurar as causas


íntimas dos fenômenos e através da observação metodológica científica,
estabelecem as leis gerais que os regem. Neste momento alcança-se a
maturidade do espírito humano que não é mais enganado por
explicações vagas.

AS IDÉIAS CENTRAIS DO POSITIVISMO


- a sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis invariáveis, independente
da vontade humana (lei da gravidade, rotação do sol). Reina na sociedade uma
harmonia semelhante à natureza, uma espécie de harmonia natural, tendendo
sempre os fenômenos para o equilíbrio;

- a sociedade deve ser organizada respeitando-se suas leis naturais que levam
a constante evolução do espírito humano. Aos segmentos da sociedade, como
os do proletariado e da mulheres, caberia educar os seus espíritos no sentido
de que compreendessem que os fenômenos sociais são fruto de leis naturais e,
portanto, inevitáveis, cabendo, pois, uma atitude científica de sábia resignação.

BIOGRAFIA E TEORIA DE COMTE

A obra de Comte guarda estreitas relações com os acontecimentos de sua


vida. Dois encontros parecem ter influenciado diretamente a produção
acadêmica deste intelectual.

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1º) Em 1817, ele conhece H. de Saint-Simon: O Organizador do Sistema


Industrial, e concebe, a partir daí, a criação de uma ciência social e de uma
política científica. Já de posse, desde 1826, das grandes linhas de seu sistema,
Comte abre em sua casa, um Curso de filosofia positiva - rapidamente
interrompido devido uma depressão nervosa - (que lhe vale ser internado
durante algum tempo no serviço de Esquirol). Retoma o ensino em 1829. A
publicação do Curso inicia-se em 1830 e se distribui em 6 volumes até 1842.
Desde 1831 Comte abrirá, numa sala da prefeitura do 3° distrito, um curso
público e gratuito de astronomia elementar destinado aos "operários de Paris",
curso este que ele levaria avante por sete anos consecutivos. Em 1844 publica
o prefácio do curso sob o título: Discurso dobre o espírito positivo.

2º) Em outubro de 1844 ocorre o segundo encontro que vai marcar uma
reviravolta na filosofia de Augusto Comte. Trata-se da irmã de um de seus
alunos, Clotilde de Vaux, esposa abandonada de um cobrador de impostos
(que fugira para a Bélgica após algumas irregularidades financeiras). Na
primavera de 1845, nosso filósofo de 47 anos declara a esta mulher de 30 seu
amor fervoroso. "Eu a considero como minha única e verdadeira esposa não
apenas futura, mas atual e eterna". Clotilde oferece-lhe sua amizade. É o "ano
sem par" que termina com a morte de Clotilde a 6 de abril de 1846. Comte
sente então sua razão vacilar, mas entrega-se corajosamente ao trabalho.
Entre 1851 e 1854 aparecem os enormes volumes do Sistema de política
positiva ou Tratado de sociologia que institui a religião da humanidade. O
último volume sobre o Futuro humano prevê uma reformulação total da obra
sob o título de Síntese Subjetiva. Desde 1847 Comte proclamou-se grande
sacerdote da Religião da Humanidade. Institui o "Calendário positivista" (cujos
santos são os grandes pensadores da história), forja divisas "Ordem e
Progresso", "Viver para o próximo"; "O amor por princípio, a ordem por base, o
progresso por fim", funda numerosas igrejas positivistas (ainda existem
algumas como exemplo no Brasil). Ele morre em 1857 após ter anunciado que
"antes do ano de 1860" pregaria "o positivismo em Notre-Dame como a única
religião real e completas".

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EM SÍNTESE

Comte partiu de uma crítica científica da teologia para terminar como


profeta. Compreende-se que alguns tenham contestado a unidade de sua
doutrina, notadamente seu discípulo Littré, que em 1851 abandona a sociedade
positivista. Littré - autor do célebre Dicionário, divulgador do positivismo nos
artigos do Nacional - aceita o que ele chama a primeira filosofia de Augusto
Comte e vê na segunda uma espécie de delírio político-religioso, inspirado pelo
amor platônico do filósofo por Clotilde.

PARADIGMAS SOCIOLÓGICOS
Embora atrelada ao Positivismo de Comte, a Sociologia não segue
apenas uma abordagem para a explicação da realidade social. Conforme o
posicionamento dos teóricos, as relações sociais, as desigualdades e a
mudança podem ser explicadas de maneira distintas.
Basicamente o estudo da Sociedade pode ser realizado de duas
maneiras distintas, conforme a orientação teórico metodológica adota pelo
pesquisador. São eles:

1) Paradigma do Consenso
Estruturado a partir das idéias de Comte, enfatiza os aspectos
integrativos da sociedade e considera os indivíduos unidos por valores
comuns, o que gera um consenso espontâneo na sociedade. Cada uma
das partes (indivíduo, grupos, instituições) deve funcionar
adequadamente para não prejudicar o funcionamento e a harmonia do
organismo social como um todo.
A educação é vista como fator de integração à sociedade constituída,
sem que se questione sua estrutura e organização. A educação cumpre
um papel instrucional devendo adequar a força de trabalho às
necessidades do sistema capitalista. Por sua vez, as desigualdades
sociais são explicadas em termos de diferenças e méritos individuais.

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2) Paradigma do Conflito
Enfatiza os processos dissociativos da sociedade, acreditando que os
grupos sociais encontram-se em permanente conflito, denuncia as
relações de dominação entre os grupos e classes sociais. Para este
paradigma, o consenso existente na sociedade é imposto pelos grupos
que detém o poder.
Neste paradigma destaca-se o significado social e político dos
processos educacionais que se desenvolvem na escola, os mecanismos
utilizados pelo sistema capitalista para poder se perpetuar e a
possibilidade da educação poder contribuir para a transformação da
sociedade.

TEXTO 04 – GRANDES PENSADORES DA SOCIOLOGIA

A CONTRIBUIÇÃO DE DURKHEIM PARA O PARADIGMA DO CONSENSO

Augusto Comte é considerado o pai da Sociologia. Entretanto, foi Émile


Durkheim14 que sistematizou a nova ciência. Durkheim e seus colaboradores
emanciparam a Sociologia da Filosofia Social, colocando-a como disciplina
científica rigorosa, definindo o método e o objeto de estudo da Sociologia. Ele
sistematizou um conjunto de conceitos e técnicas de pesquisa que mesmo
sendo norteados por princípios das ciências naturais, guiavam o cientista para
o discernimento de um objeto de estudo próprio e dos meios adequados para
interpretá-lo.
Para este autor a crise econômica não era conseqüência somente dos
problemas financeiros, mas principalmente da fragilidade da moral vigente. Na
visão de Durkheim, a Sociologia tem por finalidade não só explicar a sociedade
como encontrar remédios para a vida social. A sociedade, como todo o

14
Émile Durkhein (1858-1917)- nasceu na França, filho de uma família religiosa, em que o pai era
rabino, ele não segue o mesmo caminho, por acreditar que o desenvolvimento do conhecimento não
estava na religião e sim na ciência.

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organismo, apresenta estados normais e patologias, isto é, saudáveis e


doentios.
Durkheim procurou mostrar que não podemos escapar de uma formação
voltada para o bem-estar da sociedade em que vivemos e que se nós nos
desviarmos deste caminho poderemos causar grande desconforto para as
crianças levando-os a marginalização e exclusão do meio social. Assim, a
educação deveria funcionar como um elemento adaptador e normalizador da
integração do indivíduo a sociedade. Compete a escola, por meio de suas
normas e conteúdos, inculcar nos indivíduos os valores que contribuam para a
harmonia da sociedade.
Durkheim mostrou que o sociólogo deveria se debruçar sobre o fato
social, que deveriam ser analisados como fenômenos exteriores, sendo
observados e comparados independente do que os indivíduos pensassem ou
declarassem a seu respeito.
São exemplos de fatos sociais – regras de convivência, regras jurídicas,
morais, religiosas, sistemas financeiros, costumes, tradições, etc. Devido ao
caráter impositivo desses fatos, os indivíduos são levados a se comportar de
acordo com as regras pré-estabelecidas pelas gerações anteriores. Caso isso
não ocorra o indivíduo pode ser sancionado com punições que vão desde o
riso, a zombaria, a exclusão do grupo, e até mesmo ser acionado
juridicamente.

Fatos sociais são maneiras de sentir, pensar e agir padronizadas e socialmente


sancionadas.

CARACTERÍSTICAS DOS FATOS SOCIAIS


Coercitiva – relacionada com a força dos padrões culturais dos grupos que os
indivíduos integram. Esses padrões culturais são de tal maneira fortes, que
obrigam os indivíduos a cumpri-los.

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EDUCAÇÃO FÍSICA

Exterioridade – está ligada ao fato de que os padrões da cultura são


exteriores aos indivíduos, ou seja, vem do exterior e são independentes das
suas consciências.

Generalidade – os fatos sociais existem não para um indivíduo específico, mas


para a coletividade. Podemos perceber a generalidade pela propagação das
tendências dos grupos pela sociedade, por exemplo.

Você já deve ter passado por certas convenções impostas pela sociedade,
mesmo sem concordar com elas foi obrigado a cumpri-las. Lembre algumas
dessas situações e comente com o colega.(exemplo: bolsa escola, imposto de
renda, pedágio, INSS...)

CONSCIÊNCIA COLETIVA
Para Durkheim os fatos sociais tem existência própria e independente daquilo
que pensa e faz cada indivíduo em particular. Embora todos possuam
consciências individuais, os modos de se comportar e de interpretar a vida, no
interior de qualquer grupo ou sociedade estão diretamente ligados a forma
padronizada da conduta e do pensamento do grupo.
A consciência coletiva não se baseia na consciência dos indivíduos singulares
ou grupos específicos, mostrando que a sociedade não é apenas produto das
consciências individuais, mas algo que se impõe aos indivíduos e perdura
durante várias gerações. É através da consciência coletiva que define-se o que
é moral ou imoral, adequado ou socialmente inadequado.

ATITUDES DOS SOCIOLÓGO PARA ESTUDAR O FATO SOCIAL


Para Durkheim, assim como para os positivistas, não haveria explicação
científica se o pesquisador não mantivesse certa distância e neutralidade em
relação aos fatos, resguardando a objetividade de sua análise. É preciso que o
sociólogo deixe de lado os seus valores e sentimentos pessoais em relação ao
acontecimento a ser estudado, pois eles nada tem de científico e podem
distorcer a realidade dos fatos.

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A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO


Durkheim afirmava que a divisão do trabalho, ao invés de gerar conflitos, trazia
maior solidariedade entre os homens. Ao especializar as tarefas os indivíduos
passavam a ser interdependentes, contribuindo para aumentar a produtividade.
Apresentando como resultado:
1) Aumento da força produtiva;
2) Aumento da habilidade do trabalho;
3) Integração e estruturação da sociedade mantendo a coesão social e
tornando seus membros interdependentes;
4) Equilíbrio, harmonia e ordem devido à necessidade de união pela
semelhança e pela diversidade.

SOLIDARIEDADE – LAÇOS DE UNIÃO DOS INDIVÍDUOS


Solidariedade mecânica: típica das sociedades simples, constituídas por um
sistema de segmentos homogêneos e semelhantes entre si. Os membros
destas sociedades estão unidos pela tradição e por laços de parentesco.

Solidariedade orgânica: resultante da divisão social do trabalho, é fruto das


diferenças profissionais. Essas diferenças unem os indivíduos pela
necessidade de trocas de serviços e pela sua interdependência.

EM SÍNTESE

No pensamento durkeiniano a sociedade prevalece sobre o indivíduo,


pois quando este nasce tem de se adaptar às normas já criadas, como leis,
costumes, línguas, etc. O indivíduo, por exemplo, obedece a uma série de leis
impostas pela sociedade e não tem o direito de modificá-las.

Para Durkein o objeto de estudo da Sociologia são os fatos sociais.


Esses fatos sociais são as regras impostas pela sociedade (as leis, costumes,
etc. que são passados de geração à geração).

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É a sociedade, como coletividade, que organiza, condiciona e controla


as ações individuais. O indivíduo aprende a seguir normas e regras que não
foram criadas por ele, essas regras limitam sua ação e prescrevem punições
para quem não obedecer aos limites sociais.

Durkein propôs um método para a Sociologia que consiste no conjunto


de regras que o pesquisador deve seguir para realizar, de maneira correta,
suas pesquisas. Este método enfatiza a posição de neutralidade e objetividade
que o pesquisador deve ter em relação à sociedade: ele deve descrever a
realidade social, sem deixar que suas idéias e opiniões interfiram na
observação dos fatos sociais.

De acordo com a teoria deste autor Em cada aluno há dois seres


inseparáveis, porém distintos. Um deles seria o que o sociólogo francês Émile
Durkheim chamou de individual. Tal porção do sujeito – o jovem bruto –,
segundo ele, é formada pelos estados mentais de cada pessoa. O
desenvolvimento dessa metade do homem foi a principal função da educação
até o século 19. Principalmente por meio da psicologia, entendida então como
a ciência do indivíduo, os professores tentavam construir nos estudantes os
valores e a moral. A caracterização do segundo ser foi o que deu projeção a
Durkheim. “Ele ampliou o foco conhecido até então, considerando e
estimulando também o que concebeu como o outro lado dos alunos, algo
formado por um sistema de idéias que exprimem, dentro das pessoas, a
sociedade de que fazem parte”,

Dessa forma, Durkheim acreditava que a sociedade seria mais


beneficiada pelo processo educativo. Para ele, “a educação é uma socialização
da jovem geração pela geração adulta”. E quanto mais eficiente for o processo,
melhor será o desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja
inserida.

Nessa concepção durkheimiana (também chamada de funcionalista), as


consciências individuais são formadas pela sociedade. Ela é oposta ao

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idealismo, de acordo com o qual a sociedade é moldada pelo “espírito” ou pela


consciência humana. “A construção do ser social, feita em boa parte pela
educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios
– sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que baliza a conduta
do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um
produto dela”.

Essa teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, a


relacionou pela primeira vez às normas sociais e à cultura local, diminuindo o
valor que as capacidades individuais têm na constituição de um
desenvolvimento coletivo. “Todo o passado da humanidade contribuiu para
fazer o conjunto de máximas que dirigem os diferentes modelos de educação,
cada uma com as características que lhe são próprias. As sociedades cristãs
da Idade Média, por exemplo, não teriam sobrevivido se tivessem dado ao
pensamento racional o lugar que lhe é dado atualmente”, exemplificou o
pensador.

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TEXTO 05 – GRANDES PENSADORES DA SOCIOLOGIA

KARL MARX15 E O PARADIGMA DO CONFLITO


Os positivistas tinham uma visão otimista em relação à sociedade
capitalista. Marx não compartilhava desses ideais, vendo a sociedade
capitalista a partir de uma ótica pessimista. Marx centrou a suas análises nos
processos de exploração e dominação da classe burguesa sobre a classe
proletária.
Para Marx e seu colaborador Friedrich Engels16, a Sociologia não
poderia se limitar apenas a solucionar os problemas sociais para reestabelecer
a ordem e o bom funcionamento da sociedade, como imaginavam os
positivistas, mas deveria contribuir para realizar mudanças radicais na
sociedade, unindo teoria e ação, ciência e os interesses da classe proletária.17
A teoria marxista era uma complexa operação intelectual que criticava
três das principais correntes do pensamento europeu do século passado – o
socialismo, a dialética e a economia política.
O marxismo interpreta a vida social conforme a dinâmica da luta de classes e
prevê a transformação das sociedades de acordo com as leis do
desenvolvimento histórico do seu processo produtivo.

15
Karl Heinrich Marx (1818-1883) – nasceu numa família judia de classe média no sul da Alemanha.
Formado em Direito, sofreu fortes influencias de Hegel, acabou perdendo o interesse na área jurídica e
dedicando-se a Filosofia.
16
Filósofo Alemão, amigo inseparável de Marx com o qual fundaram o Socialismo Científico ou
Marxismo. Foi co-autor do Manifesto Comunista e ajudou publicar os dois últimos volumes de ―O
Capital‖após a morte de Marx.
17
Proletariado (do latim proles, ―filho, descendência, progênie‖) é um conceito usado por anarquistas,
comunistas e marxistas para definir a classe antagônica à classe capitalista. O proletário consiste daquele
que não tem nada além da força de trabalho, vendendo-a para sobreviver. O proletário se diferencia do
simples trabalhador, pois este pode vender os produtos de seu trabalho (ou vender o seu próprio trabalho
enquanto serviço), enquanto o proletário só vende sua capacidade de trabalhar, e, com isso, os produtos
de seu trabalho e o seu próprio trabalho não lhe pertencem, mas àqueles que compram sua força de
trabalho e lhe pagam um salário. Ao vender sua força de trabalho, o proletário aliena-se de seus próprios
atos e submete-os à vontade do comprador, que o domina autoritariamente. O comprador (o capitalista)
comanda o trabalho do proletário e se apropria de seus produtos para vendê-los no mercado. A palavra
proletariado define o conjunto dos proletários considerados enquanto formando uma classe social

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FATORES PRINCIPAIS DO PENSAMENTO MARXISTA

1) FATORES ECONOMICOS: são fundamentais na estrutura de mudança.


A organização social envolve três aspectos: as forças materiais de
produção como base, ou seja, os métodos através dos quais o homem
assegura sua subsistência, relacionando-se com a natureza; as relações
de produção que envolvem relações de direito e de propriedade, bem
como as relações entre os homens; as superestruturas legais, políticas e
as idéias de consciência social.

2) A HISTÓRIA É A HISTÓRIA DA LUTA DE CLASSES: as classes


sociais são os grupos mais importantes da sociedade e se encontram
em oposição, com base em sua posição econômica e em fatores
divergentes.

3) A IDEOLOGIA É A CULTURA DA SOCIEDADE DE CLASSE: as idéias


estão intimamente condicionadas pelo meio de produção. A classe que
controla os meios de produção controla também os meios de difusão
intelectual, inclusive a educação.

O Pensamento de Marx é sua interpretação do homem e começa com a


necessidade de sobrevivência humana. A história se inicia com o próprio
homem que, na busca da satisfação das necessidades, trabalha sobre a
natureza. À medida que realiza este trabalho, o homem se descobre como ser
produtivo e passa a ter consciência de si e do mundo.
A teoria economista marxista procura explicar o modo como a produção
capitalista propicia a acumulação contínua de capital e sua resposta está na
confecção das mercadorias. Elas resultam na combinação de MEIOS DE
PRODUÇÃO (ferramentas, máquinas, matéria-prima) + TRABALHO HUMANO.
No marxismo a quantidade de trabalho socialmente necessária para
produzir uma mercadoria é o que determina o seu valor. A ampliação do capital
ocorre porque o trabalho produz valores superiores ao dos salários (que é a

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força do trabalho). Esse diferencial, que irá se tornar um conceito fundamental


da teoria de Marx é considerado a fonte dos lucros e da acumulação capitalista.
Segundo Marx, a infraestrutura, modo como denominava a base econômica
da sociedade, determina a superestrutura que é dividida em ideológica (idéias
políticas, religiosas, morais, filosóficas) e política (Estado, polícia, exército, leis,
tribunais). Portanto, a visão que temos do mundo são reflexo da base
econômica da sociedade. As idéias surgiram ao longo da história e se explicam
pelas sociedades nas quais seus mentores estavam inseridos. Elas são
oriundas das necessidades das classes sociais daquele tempo.

Para Marx cada capitalista divide o seu capital em duas partes:

Capital Constante: usado para adquirir insumos (máquinas, matérias-primas),


somente transfere o seu valor para o produto final

Capital Variável: usada para comprar a força de trabalho. Ao utilizar o trabalho


dos assalariados, adiciona um valor novo ao produto final. É este valor
adicionado que é maior que o capital variável, que é repartido entre o
capitalista e o trabalhador. O capitalista entrega ao trabalhador uma parte do
que ele produziu, sob a forma de salário, e se apropria do restante sob a forma
de mais-valia.

Para Marx o trabalhador produz mais do que foi calculado, ou seja, a


força do trabalho cria um valor superior ao estipulado inicialmente. Esse
trabalho excedente não é pago ao trabalhador e serve para aumentar cada vez
mais o capital do patrão. Aqui o autor insere o conceito de alienação, pois o
produtor não se reconhece no que produz; o produto surge como um poder
separado do produtor.
Supondo que um operário leve 2 horas para fabricar um par de sapatos.
Nesse período produz o suficiente para pagar o seu trabalho. Porém, ele
permanece mais tempo na fábrica, produzindo mais de um par de sapatos e
recebendo o equivalente à confecção de apenas um. Numa jornada de 8 horas,

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por exemplo, são produzidos quatro pares, mas o salário do proletário não é
alterado. Com isso, ele trabalha 6 horas de graça, reduzindo o custo e
aumentando o lucro do patrão.

PRINCIPAIS ELEMENTOS DO MARXISMO

MATERIALISMO HISTÓRICO
A história do homem é a história da luta de classes. Para Marx a
evolução histórica se dá pelo antagonismo irreconciliável entre as classes
sociais de cada sociedade (senhores x escravos; feudais X servos; burgueses
x proletários...). Esta luta constante entre as classes opostas tem eclodido em
guerras civis abertas e/ou veladas.

MATERIALISMO DIALÉTICO
Parte do pressuposto que o mundo não é uma realidade estática, mas
sim dinâmica. No contexto dialético o espírito não é conseqüência passiva da
ação da matéria, podendo reagir sobre aquilo que o determina. Isso significa
que a consciência, mesmo sendo determinada pela matéria e estando
historicamente situada, não é pura passividade; o conhecimento do
determinismo liberta o homem por meio da ação desse sobre o mundo,
possibilitando inclusive a ação revolucionária.

MARX E A EDUCAÇÃO
Marx acreditava que na sociedade capitalista a educação fazia parte da
superestrutura, sendo um instrumento de dominação e controle, usado pelas
classes dominantes.Por isso, as idéias passadas pela escola (classe dos
trabalhadores/proletária) criam uma falsa consciência que faz aceitar as idéias
dos grupos dominantes e as impede de perceber os interesses de sua classe.
Não pode haver educação livre ou universal enquanto existirem classes
sociais.
Numa de suas frases mais famosas, escrita em 1845, o pensador
alemão dizia que, até então, os filósofos haviam interpretado o mundo de

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várias maneiras. “Cabe agora transformá-lo”, concluía. Coerentemente com


essa idéia, durante sua vida combinou o estudo das ciências humanas com a
militância revolucionária, criando um dos sistemas de idéias mais influentes da
história. Direta ou indiretamente, a obra do filósofo alemão originou várias
vertentes pedagógicas comprometidas com a mudança da sociedade. “A
educação, para Marx, participa do processo de transformação das condições
sociais, mas, ao mesmo tempo, é condicionada pelo processo”,

Luta de classes

Na base do pensamento de Marx está a idéia de que tudo se encontra


em constante processo de mudança. O motor da mudança são os conflitos
resultantes das contradições de uma mesma realidade. Para Marx, o conflito
que explica a história é a luta de classes. Segundo o filósofo, as sociedades se
estruturam de modo a promover os interesses da classe economicamente
dominante. No capitalismo, a classe dominante é a burguesia; e aquela que
vende sua força de trabalho e recebe apenas parte do valor que produz é o
proletariado.
O marxismo prevê que o proletariado se libertará dos vínculos com as
forças opressoras e, assim, dará origem a uma nova sociedade. Segundo
Marx, o conflito de classes já havia sido responsável pelo surgimento do
capitalismo, cujas raízes estariam nas contradições internas do feudalismo
medieval. Em ambos os regimes (feudalismo e capitalismo), as forças
econômicas tiveram papel central. “O moinho de vento nos dá uma sociedade
com senhor feudal; o motor a vapor, uma sociedade com o capitalista
industrial”, escreveu Marx.
Combater a alienação e a desumanização era, para Marx, a função
social da educação. Para isso seria necessário aprender competências que são
indispensáveis para a compreensão do mundo físico e social. Marx via na
instrução das fábricas, criada pelo capitalismo, qualidades a ser aproveitadas
para um ensino transformador – principalmente o rigor com que encarava o
aprendizado para o trabalho. O mais importante, no entanto, seria ir contra a

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tendência “profissionalizante”, que levava as escolas industriais a ensinar


apenas o estritamente necessário para o exercício de determinada função.
Marx entendia que a educação deveria ser ao mesmo tempo intelectual, física
e técnica. Essa concepção, chamada de “onilateral” (múltipla), difere da visão
de educação “integral” porque esta tem uma conotação moral e afetiva que,
para Marx, não deveria ser trabalhada pela escola, mas por “outros adultos”

TEXTO 06 – GRANDES PENSADORES DA SOCIOLOGIA

MAX WEBER18
Embora tenha sido influenciado pelo pensamento marxista, Weber não
concorda que o princípio da economia domina todas as esferas da vida social.
Para ele é necessário realizar uma análise detalhada da realidade para definir
os fatores que geram a estratificação.
Para Max Weber o objetivo da Sociologia era fundamentalmente “a
captação da relação de sentido da ação humana”. Em outras palavras,
conhecer um fenômeno social seria extrair o seu conteúdo simbólico da ação
que o configura.

AÇÃO SOCIAL PARA WEBER


É aquela cujo sentido pensado pelo(s) sujeito(s) é referido ao
comportamento dos outros, orientando-se por ele o seu comportamento. Para
ele abordar o fato não deve ser visto necessariamente como um resultado de
causa e efeito (procedimento típico nas ciências naturais), mas compreendê-lo
como fato carregado de sentido, isto é, algo que aponta para outros fatos e
somente em função dos quais poderia ser conhecido em toda a sua amplitude.
O principal objetivo de Weber é compreender o sentido que cada pessoa
dá a sua conduta e perceber assim a sua estrutura inteligível e não a análise
das instituições sociais como dizia Durkheim.

18
Max Weber (1864-1920) – nasceu na Alemanha, filho de uma família de classe média alta, com o pai
advogado, encontrou em casa um ambiente intelectualmente estimulante. Desenvolveu estudos de direito,
filosofia, história e sociologia.

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Ele não negava a existência de fenômenos sociais, mas privilegiava a


necessidade de entender as intenções e motivações dos indivíduos que
vivenciam estas situações sociais. Para ele, o domínio dos fenômenos naturais
só possibilita aprender as regularidades observadas por meio de proposições
de forma e natureza matemática. É preciso explicar os fenômenos por meio de
proposições confirmadas pela experiência, para poder ter o sentimento e
compreende-las.

MÉTODO COMPREENSIVO
Consiste em entender o sentido que as ações de um indivíduo contém,
não somente no seu aspecto exterior. Por exemplo: se uma pessoa dá a outra
um pedaço de papel, esse fato em si mesmo é irrelevante para o cientista
social. Mas quando se sabe que a primeira deu o papel para a outra como
forma de saldar uma dívida (cheque) é que se está diante de um fato
propriamente humano (ação carregada de sentido).
O fato em questão não se esgota em si mesmo, ele aponta para todo um
complexo de significações sociais, na medida em que duas pessoas envolvidas
atribuem ao pedaço de papel a função de servir como meio de
troca/pagamento, atitude que é reconhecida por uma comunidade de pessoas.

Para Weber a sociedade só pode ser compreendida a partir do conjunto


das ações individuais, pois só existe ação social, quando o indivíduo tenta
estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações com os demais.

CATEGORIAS DE ANÁLISE DA SOCIEDADE

Weber estabeleceu quatro tipos de ação social. Estas são categorias


que ajudam a compreender a realidade social, mas não são a própria realidade
social. São elas:

1 – ação tradicional: aquela determinada por valores que foram


interiorizados pelo indivíduo. É ditada pelos hábitos, costumes, crenças

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transformadas numa segunda natureza, para agir conforme a tradição o


ator não precisa conceber um objeto, ou um valor nem ser impelido por
uma emoção, obedece a reflexos adquiridos pela prática, por exemplo,
fazer o sinal da cruz quando passa a frente de uma igreja.

2 – ação afetiva: aquela determinada por afetos ou estados


sentimentais. Ela é ditada pelo estado de consciência ou humor do
sujeito, sendo definida pela uma reação emocional do indivíduo em
determinadas circunstâncias e não em relação a um objetivo ou a um
sistema de valor, por exemplo, a mãe quando bate em seu filho por se
comportar mal.

3 – racional com relação a valores: determinada pela crença


consciente num valor considerado importante, independentemente do
êxito desse valor na realidade. É aquela definida pela crença consciente
no valor - interpretável como ético, estético, religioso ou qualquer outra
forma - absoluto de uma determinada conduta. O ator age racionalmente
aceitando todos os riscos, não para obter um resultado exterior, mas
para permanecer fiel a sua honra, qual seja, à sua crença consciente no
valor, por exemplo, um capitão que afunda com o seu navio.

4 – racional com relação a fins: determinada pelo cálculo racional que


coloca fins e organiza os meios necessários. É determinada por
expectativas no comportamento tanto de objetos do mundo exterior
como de outros homens e utiliza essas expectativas como condições ou
meios para alcance de fins próprios racionalmente avaliados e
perseguidos. É uma ação concreta que tem um fim especifico, por
exemplo: o engenheiro que constrói uma ponte.

Nos conceitos de ação social e definição de seus diferentes tipos, Weber


não analisa as regras e normas sociais como exteriores aos indivíduos. Para
ele as normas e regras sociais são o resultado do conjunto de ações

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individuais. Na sua concepção o método deve enfatizar o papel ativo do


pesquisador em face da sociedade.

PRODUÇÃO TEÓRICA DE WEBER

A obra de Weber, complexa e profunda, constitui um momento da


compreensão dos fenômenos históricos e sociais e, ao mesmo tempo, da
reflexão sobre o método das ciências histórico-sociais.

Historiador, sociólogo, economista e político. O pensamento deste


intelectual caracteriza-se pela crítica ao materialismo histórico, que dogmatiza
e petrifica as relações entre as formas de produção e de trabalho (a chamada
"estrutura") e as outras manifestações culturais da sociedade (a chamada
"superestrutura"), quando na verdade se trata de uma relação que, a cada vez,
deve ser esclarecida segundo a sua efetiva configuração. Para Weber, isso
significa que o cientista social deve estar pronto para o reconhecimento da
influência que as formas culturais, como a religião, por exemplo, podem ter
sobre a própria estrutura econômica.

De importância extrema, Max Weber escreveu a Ética protestante e o


espírito do Capitalismo (1904). Nesse trabalho ele tinha a intenção de examinar
as implicações das orientações religiosas na conduta econômica dos homens,
procurando avaliar a contribuição da ética protestante, em especial o
calvinismo, na promoção do moderno sistema econômico.

Weber concebia que o desenvolvimento do capitalismo devia-se em


grande parte à acumulação de capital a partir da Idade Média. Mas os pioneiros
desse capitalismo pertenciam a seitas puritanas e em função disso levavam a
vida pessoal e familiar com bastante rigidez. As convicções religiosas desses
puritanos os levavam a crer que o êxito econômico era como uma bênção de
Deus. Nesse sentido, acumular dinheiro deixou de ser visto como pecado, pois
era resultado da organização racional do trabalho e da produção, o destino do
homem já havia sido estabelecido por Deus.

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Weber também é conhecido pelo seu estudo da burocratização da


sociedade. A política obtém assim a sua base no conceito de poder e deverá
ser entendida como a produção do poder. O Estado tornou-se uma instituição
que possui o monopólio do uso legítimo da ação coercitiva (força policial) para
utilizar nas relações de poder.

Para este intelectual um político não deverá ser um homem da


"verdadeira ética católica" (entendida por Weber como a ética do Sermão da
Montanha - ou seja: oferece a outra face). Um defensor de tal ética deverá ser
entendido como um santo (na opinião de Weber esta visão só será
recompensadora para o santo e para mais ninguém). A esfera da política não é
um mundo para santos. O político deverá esposar a ética dos fins últimos e a
ética da responsabilidade, e deverá possuir a paixão pela sua actividade como
a capacidade de se distanciar dos sujeitos da sua governação (os governados).

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