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Jorge Pieiro
EDITORA MULTIFOCO
Simmer & Amorim Edição e Comunicação Ltda.
Av. Mem de Sá, 126, Lapa
Rio de Janeiro - RJ
CEP 20230-152
capa
Guilherme Peres
revisão
Beatriz Bajo
diagramação
Fernanda Hubacher
Umbigo de Ebderelis
Editora Multifoco
Rio de Janeiro, 2010
Obra publicada com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil - Fundação
Biblioteca Nacional - Coordenadoria Geral do Livro e da Leitura.
Aos poetas
Floriano Martins,
Pedro Henrique Saraiva Leão e
José Alcides Pinto (in memoriam).
sumário
palavra crua 11
capítulos da coisa incorpórea 13
fragmentos do assassino 23
serpente com fendas 49
nunquidão (amor te nego) 57
calada de Antônio 73
meu, uma balada 75
nunca, novamente 76
pedra da canção 77
exílios 78
pedra vida 93
borboleta 94
pálido 95
átrio 96
olhos 97
fúria cão 98
mergulho 100
101
dialógica
102
ainda tenho
105
esboço
106
ruína
11
palavra crua
A. de Ebderelis
13
Jorge Pieiro
princípio
Jorge Pieiro
primeira confirmação
Jorge Pieiro
segunda confirmação
Jorge Pieiro
terceira confirmação
Jorge Pieiro
quarta confirmação
Jorge Pieiro
última confirmação
Ou a morte.
22
Jorge Pieiro
epílogo
fragmentos do assassino
Jorge Pieiro
...1
Jorge Pieiro
...2
Jorge Pieiro
...3
o adereço da lástima
a implosão do sacrifício
e a dor:
Jorge Pieiro
...4
Jorge Pieiro
...5
Jorge Pieiro
...6
Jorge Pieiro
...7
Jorge Pieiro
...8
a blusa no armário
um rosto amarrotado
esta hora de epifania
descubram-se olhos por toda a parte
estou vestido para medo
quem deveria afugentou-se por entranhas de martírio
e longe veste-se de punhal antes das costas
e dentro o resguardo e a mágoa
33
Jorge Pieiro
...9
Jorge Pieiro
...10
Jorge Pieiro
...11
Jorge Pieiro
...12
Jorge Pieiro
...13
a legoria
e o homem desprega a lei do rosto
a face desfigurada, alma dela aflita por detrás
o copo de chá vazio sobre a escrivaninha evola
o silêncio e um incenso se esvai prestes ao pó
vê-se, ele, ao chão estendido e molusco
e a luz desalinha os cabelos dela maria
plena de seios, escurecendo
ela estende a mão a ninguém no avesso
sobressalto da vida interrompida:
que a rua devolva o céu da catástrofe!
por que não mais é pálido o olhar de mateus?
deus esconde-se antes de voltar
quem o reconhecerá?
mateus não mais responde.
é a lei
maria, arrependida, detém-se sobre o corpo
e cavalga-o sem ansiedade.
ali será para sempre
38
Jorge Pieiro
...14
b oustrophedon
e este é o boi que serpenteia arando a terra
o homem que por uma prenda a glória expele
que sabem desta vida tais seres de deus ditos por mal
e bem a espalhar por primeiro ao silêncio
o seu pânico? que sabem eles quando mugem
ao mundo o desespero co’a trêmula lida
enfraquecida? um boi volteia arando a terra sem fim
e descomeço ao homem
resta aniquilá-lo como sempre
reprimido quis-se
39
Jorge Pieiro
...15
Jorge Pieiro
...16
Jorge Pieiro
...17
m
espelho
ancha inválida
Jorge Pieiro
...18
i nteiro assassino
vejo em mim o corpo soterrado do milagre
desterro o pecado obra limite da absolvição
e sem meu deus resisto morrendo em mim
apascento o crime do mundo inteiro
assassino
em que corpo meu rosto detona a fantasia?
em que corpo estou usando a morte?
tomei nas mãos o seio efervescente
a glória de deus tomou-o de capricho sem sacrifício
em teimoso celeiro vivo morrendo
o coração na vagina, denso em brasa dos delitos.
pouco é o segredo, o que falta, o laço da alegoria
a mordaça e o gemido desabrochado nas entranhas
43
Jorge Pieiro
...19
Jorge Pieiro
...20
h á o grito:
garanto o sonho dentro de cada nó
há a morte:
deslustro a vida de quem a vive
há o desejo:
sucumbo com a morte da sorte.
há a última palavra:
desisto de existir sem silêncio
45
Jorge Pieiro
...21
Jorge Pieiro
...22
Jorge Pieiro
23...
n
osso fim
49
Jorge Pieiro
n ess-
a’lva a hora mito do meu tempo de serpente
canto
quero o manto, cobrir-te em mim essa fogueira
país das gralhas, onde ruído e o medonho
e o que exponho canto
quero abafar-te embora ao nervo exposto à dor
ninguém te é sombra maior que o medo
quero o rouxinol, a mancha de uma sonoridade viva
eterna e gázea, entre as mãos a fronte grávida
mas só por não podê-la
querer-te é assim, um canto de memória
presentemente eterno estás aqui
o corpo te participo (embora dele um jamais fui tido)
o teu seio a tua flor a tua anjura diabólica
pela corrida
pelos céus de um abril de mil águas na vida ensopada
e o rijo do cérebro confuso no alfinetar de teus mamilos
nas costas de adão dentro das curvas e perigos
de um rio que chora a ingratidão como o gozo
por último no fim da rua nunca mais
louvai pelo nosso pecado!
56
nunquidão
(amor te nego)
Jorge Pieiro
Jorge Pieiro
II
V ida em uma cor sem espectro. O amoroso tem a gula das águias.
Em tua pele a noite varre os espelhos do meu rosto sem cicatrizes risí-
veis. Sob as tuas penas o espanto de gauleses ante a terra fogo e luxuriosa
panaplo ancestral. Tenho esses relatos em voz de silêncio. Precipício de
nenhum lugar no quarto escuro de tua janela fecunda a cor no espírito
dos anjos. Agora que as roupas se desvanecem neste hálito de aço e mo-
rango o hábil dessa sorte entrecruza os solares dos meus desencantos...
62
Jorge Pieiro
III
Jorge Pieiro
IV
que
Jorge Pieiro
Jorge Pieiro
VI
Tumulto
Amor teço
66
Jorge Pieiro
VII
Jorge Pieiro
VIII
J á mirei
a ousadia de um salto A vertigem O vagalhão de nada Cachoeira
de vazios A vaca perplexa na silhueta do sol O cerebelo engravidado
pelo êxtase infame
Já mirei
Jorge Pieiro
IX
Jorge Pieiro
Jorge Pieiro
XI
Jorge Pieiro
XII
Jorge Pieiro
XIII
calada de Antônio
a minha liberdade
não me deixa ver o voo
em que me aprisiono
em fuga...
J. Landwirt
75
Jorge Pieiro
Jorge Pieiro
nunca, novamente
nada
77
Jorge Pieiro
pedra da canção
– sol
em mim, o pranto na palavra pedra para sempre alívio
nesta canção
78
Jorge Pieiro
exílios
Jorge Pieiro
Jorge Pieiro
Jorge Pieiro
fragma devida
Jorge Pieiro
de uns
a
inda – como quis – não beijei o corpo do fantasma
não recebi a benção do Tao
surgida à margem do silêncio
no ato enquanto plantava o deserto
Jorge Pieiro
1m
Escutai agora a canção dos besouros: zilidos siluosos, uns
truídos, as sussúrias. Entre, era uma delas a palavra fluida da
fêmea primeva. Os devaneios de um trem rachando
as paredes do mal construído.
Todos os flocos se larvaram de gosmas, um espetáculo
de reversas repugnâncias. Estava ali um de besouro,
gratulíssimo pela honra da criação. Deus, mais de um
em mim era eus.
2ois
Existi em um, primeiro. Quase descri que seria mil,
trezentos mil repetido. Desde o quanto é medo o que abisma
o simples do inorgânico sentimento! Tivera eu que cobrir de
máscaras o rosto bisonho. Pois só com um assim, rompi
aldravas e amei.
86
3rês
Tratei de fúrias. Me embalei e sangrei pela primeira vez
como uma virgem, outra maria. Terror de nunca mais. Seria
ela uma assassina da natureza com os seus machos, fim seria
esse o meu, apenas o objeto fértil para mil eus repetidos
e nada mais?
4uatro
Outras e tantoutras, que amar é mesmo que se almar,
nunca desisti. Morrer é um abismo para asas.
5inco
Dissestes que o silêncio era trágico, a honra a deserção
do labirinto, a glória o modelo. Mal previsto. Diante dela,
o amor se transtorna. Os passos dos homens são esteiras
fabris, os pássaros átomos livres das órbitas, os camaleões
o arco-íris ou o caos multifacetado. Me enganastes.
Mas não vos preocupeis. Os trezentos e mais que tantos mil
agora sendo não vos atormentarei.
87
6eis
Escutai... Ícones sonoros de uma antiga solidão, o que ouvis.
7ete
Derrotai vossas recusas mais íntimas! Arrebatai os laços
desses tremores de desejos! Revirai os escombros à cata
dos antepassados!
A hora da morte é que nos torna completos...
8ito
Anjos na planície dos sonhos. Amo meus tremores de fugas. Ainda
amarei um dilúvio sobre a pele da catástrofe.
9ove
Entre o bálsamo e a ferida, a dor. Vós sabeis. Escolhei o
mistério e a fresta e sereis o besouro mais puro das trevas!
(...)
Adorai agora o meu silêncio de
Deus...
88
Jorge Pieiro
Jorge Pieiro
nonononono
Jorge Pieiro
Jorge Pieiro
pedra vida
Jorge Pieiro
borboleta
Jorge Pieiro
pálido
tenta dilacerar
vagalhões moribundos
corpos trêmulos
escrúpulos
senóides
salmonelas
volumes
pústulas
delírios
este poeta
Jorge Pieiro
átrio
Jorge Pieiro
olhos
q uantas vezes
e ainda eras
quantas:
vi por dentro
a ilha
tu
98
Jorge Pieiro
fúria cão
desde então
conservo essa fúria de deus
entre meus sonhos
desde então
Jorge Pieiro
c ego
nesse tem-
pó de chorar
a dor
é ingratidão
e teu
castigo
100
Jorge Pieiro
mergulho
Jorge Pieiro
dialógica
por que se não fosse por ser jesus seria o mesmo crucificar-se
no medo de nada mais poder ser – nem poeta?
102
Jorge Pieiro
ainda tenho
ainda tenho
103
ainda tenho
ainda tenho
104
as mãos com essa arma que retribuirá o fel por nada mesmo
que essas cabeças insistam de avestruz esconder a febre o
olho o bafo das narinas a cicatriz o espelho e a alma a ruga o
sestro a dor a careta e o riso o privilégio do esgar a varíola a
pele ressequida a madeira da cara o óleo a penumbra a
sombra e a silhueta o cocar das alucinações ou o que se
perpetua na longevidade das tartarugas dos ratos de gaveta
dos axiomas falsos nas mentiras nas vestes seculares por fim
nas falsas visões e insensatez por mais que risível e veloz
costumo apontar com as minhas mãos que
ainda tenho
105
Jorge Pieiro
esboço
d esejo
esta parede blindada:
sem violência
teu corpo parede dobrada
silenciosa
o maior vazio escorrendo
filigranas
dentro ela
muro alto adiante em mim.
a mesma noite
o mesmo desejo
toda noite
106
Jorge Pieiro
ruína
à tarde:
ou vi frutas revelando a frescura de sabores
ou talvez o corte no lábio intumescido
o sal, quem sabe, do ocaso ardendo
sobre os açúcares da pele
nesse esboço de cachalote no corpo
do que era
(feminino)
108
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