Está en la página 1de 7
SOCIOLOGIA - PROBLEMAS B PRA'IICAS N°, 199], pp7i-177 Sobre a autonomia do método biografico Franco Ferrarotti** No inicio dos anos 50, tendo-me interessado pelas consequéncias humanas do desenvolvimento econdmico e da modernizagao tecnolégica, comecei a recolha sistematica de dados biograficos no Sul de Italia! Era minha intengdo, ou antes, minha esperanga, encontrar por meio deste tipo de pesquisa uma solugdo positiva para as inadequacées da investigagao sociolégica organizada em torno de questiondrios rigidamente estruturados. Tinha a idcia, desde ha algum tempo, que estes esforcos de pesquisa, ainda que estremamente rigorosos do ponto de vista da metodologia formal, nao haviam resolvido muitos problemas ¢ questdes que ainda permaneciam por explorar. O que mais meimpressionou, foi sobretudo o cardcter sintético da narrativa autobiografica. Mas estava ciente na altura do perigo literdrio inerente a este material; ou seja, o de interpretar uma biografia especifica como um destino absolute ¢ irredutivel e, por isso, procurava conectar biografias individuais com as caracteristicas globais de uma situagdo histérica precisa, datada e concreta. Neste contexto, as bingrafias individuais eram usadas para ilustrar a clivagem entre o mundo camponés ¢ a sociedade tecnolégica, Esta clivagem nao se tratava somente de um conceito geral. Estava personificada, por assim dizer, em fipos especilicos cujos detalhes cram fornecidos pelos materiais biogrili- cos”, Foi durante a pesquisa de terreno que me ocorreu a ideia da "sociologia, como participacdo”, gradualmente desenvolvida como abordagem metodol6- gica altcrnativa e meta-mecanicista®, Mas é s6 em Vile di Baraccati* que comecei a formular, uma critica a Oscar Lewis e que finalmente concebi 0 estudo da biografia dos grupos primérios "como a sintesc € a “contracdo aoristica” (“aoristic contraction") de uma dada situagao histérica. E, entao, certos principios te6ricos gerais tornaram-se-me Claros, particularmente os seguinte: “O observador esta radicalmente implicado na sua pesquisa, ou seja, no campo do objecto da sua investigagao. Este dltimo, longe de ser passivo, modifica continuamente © seu comportamento de avordo com o observador. Este processo circular de feed-back torna ridicula qualquer presungdo de conhecimento objectivo. O conhecimento no Onthe Autonomy of the Biographical Method: Dantiei Bertaux (ed. ). Biography and society = The Life History approach in the social sciences, Londres ¢ Beverely Hills, Sage. 1981. Traducdo de Idalina Conde com a permissao da editora, Universidade de Roma Franco Ferrarotti deve ter 0 "outro" por seu objecto; em vez disso, deveria ter por seu objecto a interaceaio inextricsivel ¢ absolutamente recfproca entre observador e observado, Daqui advém um conhecimento matuamente partilhado, enraizado na intersubjectividade da interaceaio, um conhecimento tanto mais profundo e objectivo quanto mais integral ¢ fatimamente subjectivo. O prego a pagar pelo observacor para obter um conheeimento minucioso, mais claramente um conhecimenta cientifico do seu objecto, sera o de reciprocamente ser conhecido por este ultimo. O conhecimento torna-se assim no que a metodologia sociolégica sempre desejou evitar: um risco. A especilicidade do método biografico implica ultrapassar 0 trabalho légico-formal co modelo mecanicista que caracteriza a epistemologia cientilica estabelecida. Se desejamos fazer uso sociolégico do potencial heuristico da biografia sem trair as suas caracteristicas essenciais (subjectividade, histor dade), devemos projectar-nos nés proprios para além do quadro da cpistemo- logia clssica. Devemos procurar os fundamentos epistemolégicos do método biografico noutro lugar, na razdo dialéctica capaz de compreender a praxis sintélica e recfproca que governa @ interacgao entre 6 individuo co sistema social. Devemos explorar estes fundamentos na construgéo de modelos heuris- ticos que nao sao nem mecanicistas, nem deterministas; modclos caracteriza- dos por um permanente “feed-back” entre todos os elementos; modelos “antropomorficos’> que nao podem scr conceptualizados pelu tipo de razio analftica ou formal. : A rarao dialética é pois uma razao historica; ou seja, estranha a todo o ocasionalismo, capaz de uma abordagem nao residual da especilicidade - "a logica specifica do objecto especilico" (Marx) - ¢ capar de contracgdo, redu- vindo o concreto a uma actualizagdo da construgao tebrica e de “descer do abstracto para o concreto" (Marx). A razao dialéctica nao pretende a hegemonia. Nadatema ver com Diamat ou com 0 Engels da Dialéctica da Natureza. Aqui atribui-se um papel axiomatico a légica formal ¢ aos modelos deterministicos das ciéncias da natureza. Reco- nhece-se a sua utilidade para as ciéncias do homem quando estas aspiram a scr neias do geral. Contudo, quando a questo ¢ evitar projectar a componente pessoal no reino do acaso ignorando-a e considerar a praxis humana, s6 a razio dialética permile a compreensdo de um acto na sua (olalidade, a reconstrugéo do processo que faz de um comportamento especilico, a sintese activa de um sistema social. $6 a razao dialéctica nos autoriza a interpretar a objcctividade de um fragmento da histéria social, na base da subjectividade presente de uma historia individual. $6 a razdo dialéctica nos da acesso ao universal ¢ ao geral 2 sociedade), comegando pela individualidade singular (am determinado homem). A especificidade das biografias conduz ao questionamento da assimilagao desejamos respeitar conteana de todas as ciéncias as ciéncias naturais. espistemoldgicamente a biografia, somos obrigados a admitir uma diviséo l6gica mais radical entre intencionalidade nomotélica c intencionalidade ideo- gralica; uma divisdo que iinplica 0 recurso a dois diferentes tipos de razio, A biografia repdc cm acgao o Methodenstreit. Representa assim uma oportuni- Sobre a autonomia do método biografico 173 ‘a, epistemo- sido para dade tinica para abrir um debate alargado sobre a natureza 16g logica e metodolégica dos fundamentos da sociologia; uma oc ronovar 0 pensamento sobre os fundamentos do social: Um homem € um individuo; o melhor termo seria o de um universal singular; tendo sido totalizado, e asim universalizado pela sua época, ele retotaliza-a, reproduzindo-se a simesmo como singularidace, Sendo, em principio, universal através da universalida- de singular da histéria humana, e singular pela singularidade universalizante dos seus projectos, este homem precisa ser estudacio com ambas as perspectivas em simultaneo. E isto exige um método apropriado”. ossivo-regressivo de Sartre para a ciéncia social da biografia sao bem conhecidas: uma leitura horizontal e vertical da biografia e do sistema social; um movimento heuristico de "ida e volta” da biografia para o sistema social, do sistema social para a biografia. A jungao deste duplo movimento significa a reconstrugio cxaustiva das totalizagdes reciprocas que exprimem as relagdes dialécticas e mediadas entre uma socie- dade ¢ um individuo especifico. O conhecimento integral de um torna-se assim © conhecimento integral do outro. O colectivo social ¢ o singular universal iluminam-se reciprocamente.O esforgo para interpretar a biografia em toda a sua unicidade, na base da VI Tese sobre Feuerbach, torna-se 0 esforgo para interpretar o sistema social, Tal como a dificil sintese entre as abordagens estrutural ¢ hist6rica, esta metodologia nao rejeita o contributo do conhecimento nomotético. Requere-o, mas s6 tendo em vista integré-lo num movimento beuristico e em modelos hermenéuticos nio linearcs, o que apela para a razao dialéctica ¢ nao para a razao formal, Nesta revisio do método biografico encontramos novamente as 1s metodologias da sociologia. Todavia, elas ndo servem de "back- ground’; so instrumentos indispenséveis mas, analfticos, permanecem margi nais relativamente & sintese central que procura restaurar para nés, a unidade sintética do sistema social com a implicagao reciproca e activa entre sociedade ¢ praxis individual no seu ponto embrionario. Esta metodologia ndo-analitica levanta-nos um conjunto de questées rele- vantes. Antcs de mais, como se processa este duplo movimento entre os pdlos individual ¢ colectivo de qualquer campo social estruturado? Quais sao as fases e 0s estadios que medeiam esses dois pélos, um face ao outro? Por meio de que mediagao um individuo especifico totaliza a sociedade € 0 sistema social se projecta cle proprio no individuo? Em segundo lugar, a perspectiva epist moldgica do método biografico, com as suas referéncias constantes & praxis individual, ndo implica uma concepgdo nominalista e atomistica do social, visto como séries de interacgdes nao relacionadas (0 "social" de Tarde, Simmel, Von Wiese, Moreno e mesmo Sartre)? Em terceiro lugar, a nossa abordagem do método biografico nao cancclara qualquer possibilidade de uso pratico? $ considerarmos L Idiot de la Famille com as suas pesadas 2500 paginas, como modelo do correcto uso sociolégico das biografias, nao corremos 0 risco de As linhas gerais do método progr classi 174 Franco Ferrarotti encontrar 0 siléncio entre os sociolégos, ou melhor, provocar-Ihes um retorno ansioso As metodologias classicas’? Sao logicamente problemas heterogéneos, mas todos eles derivam do que Sarte chamou 0 "problema das mediacoes’. Que Vaiéry ¢ um inteicctuat pequeno-burgués, estd fora de diivida. Mas todos os intelectuais pequeno-burgueses ndo so Valéry. A inacequagao heuristica do Marxis- mo - ¢, deixem-nos acrescentar, do método bidgrifico tradicional - esta contida nestas duas proposigées. Para compreender o proceso que produz a pessoa ¢ as suas produ- Oes, no interior de uma classe € sociedade, num determinado momento histérico, falta ao Marxismo - ¢ © mesmo a sociologia - uma hierarquia de mediac6es...(Temos) de encontrar as mediagoes que dio génese a um singular concreto, a uma vida, ¢ a reaf juta hist6rica, fora das contradigGes gerais das forcas produtivas ¢ das relagdes de produgao*. Cada individuo nao totaliza directamente a sociedade inteira, ele totaliza-a por meio do seu contexto social imediaio, os pequenos grupos de que faz parte; nestes grupos sao, por seu Lurno, agentes sociais activos que tolalizam o seu contexto, cic, De modo similar, a sociedade tolaliza cada individualidade especifica por meio das instituigées mediadoras que focalizam esta sociedade no individuo com crescente especificidade. A progressao simultanca ¢ heuris- tica da biografia para a sociedade e da sociedade para a biogralia implica, consequentemente, uma teoria ¢ uma tipologia das mediagdes sociais que constituem campos activos de totalizagdes reciprocas. Devemos estabelecer, como diz Sartre, a hierarquia dessas regides de mediacdo. Devemos detinir as suas fung6es e as respectivas modalidades de intervengao nos individuos que as edificam. Devemos também entendé-las a partir do seu “outro fim’; quer dizcr, comegar pela perspectiva dos individuos que, por sua vez, as sintetizam horizontalmente (o seu contexto social imediato, 0 contexto do seu contexto, etc.) € verticalmente (a sucessdo cronolégica do seu impacto nas diferentes regies de mediacao: a familia, o grupo de pares das criangas e companheiros de escola, etc.) Devemos sobretudo identificar as regides mais importantes, estas regides que servem como arliculagdes giralorias entre as estruturas ¢ os individuos, os campos sociais nos quais a praxis dos homens auto-objectivada c¢ o esforgo universalizante do sistema social se cncontram ¢ se confrontam de modo mais directo. Quais so estas regidcs? No nivel das relagdes de produgao € no nivel das estruturas sécio-politicas, as pessoas cncontrani-se condicionadas pelas suas relagdes humanas. Indubitavelmente, este con- dicionamento reflecte, no seu sentido primeiro e mais geral sentido, o “conilito das forgas produtivas com as relagdes de produgao". Mas nada disto ¢ vivido de forma ta simples... A pessoa conhece a suat condigSo, mais ou menos claramente, a partir da sua pertenga a varios grupos. A maior parte destes grupos sao locais. delimitados, dados nu sentido imedino® Pode-se optar por responder: sGo os pequenos grupos primarios fariilias, grupos de pares, colegas de emprego, vizinhos, parceiros de escola ou os 1acus amigos, ctc. Todos estes grupos participam ao mesmo tempo na dimensao psicolégica dos membros que os constiltuem, e na dimensao estrutural do sistema social. Destruindo ou recstruturando 0 contexto, a praxis do grupo Sobre a autonomia do método biografico 175 uedeia e retraduz activamente a totalidade social, nas suas microestuturas formais ¢ informais, nas suas linhas de forga e de comunicagao, nas suas normas. 2 sangGes, nas suas modalidade ¢ redes de interacgdes afectivas, etc. O grupo torna-se, por seu lado - ¢ simultaneamente -, 0 objecto da praxis sintética dos seus membros. Cada um deles "Ié” 0 grupo e dele faz uma interpretagao particular segundo a sua prépria perspectiva; cada um constréi um sentido de sina base da sua percepgao do grupo de que é membro. O grupo primario revela-se assim como a mediacao fundamental entre o social ¢ 0 individual. Define-se como o campo onde coexistem, indissoluvelmente, a totalizagao do seu contexto social ¢ a totalizacao que cada membro individual faz daquele. Aprescnta-se como uma zona suturada onde cxiste uma reciproca articulagéo ¢ mutua diluigdo do piiblico ¢ do privado, das estruturas sociais e do eu, do ‘ocial e do psicolégico, do universal ¢ do singular. E 0 dominio privilegiado daquele singular universal singular que encaramos como o protagonista do método biografico - tal como 0 entendemos aqui. Dentro do sistema de mediagdes que pontua a interconexao entre biografia e estrutura social, o grupo primdrio ocupa uma regio giratéria crucial. Mas se este € 0 seu papel, o sentido e a forga heuristicamente saliente do grupo primario, por que ndo tomé-lo como o directo ¢ principal protagonista do método biografico? Por que ndo substituir a biografia individual pela biografia do grupo primdrio, como unidade heuristica basica de um renovado método biografico? A ideia é menos estranha do que parece. Prevé, por exemplo, uma resposta para os dois problemas que apontémos préviamente. Qualquer teoria dos fundamentos do social ou qualquer método sociolégico que tenha por ponto de partida um dado 4tomo social (0 individuo, a interacgdo elementar) tem, por necessidade, de resvalar no nominalismo, numa logica atomistica ¢ na psicolo- gia social. Muitas teorias da acco social falharam precisamente neste ponto (veja-se, por exemplo, os interessantes escritos de Raymond Aron sobre o nominalismo dissimulado na teoria weberiana da acgao). Pelo contrario, sentimos gue uma abordagem que se coloca resolutamente do lado da razio dialéciica evita estes perigos, mesmo se sc bascia na praxis individual. O nominalismo sociol6gico torna-se inconcebivel quando 0 conceito ja nao possui a natureza abstracta tao tfpica da légica formal. Alias, como poderiam os modclos nao-lineares da interpretagdo social integrar a serialidade linear do atomismo sociolégico? O que permanece € 0 perigo real do reducionismo psicoldgico. Em qualquer caso, a decisio pelo grupo primério como unidade basica hcuristica, coloca-nos imediatarnente fora de qualquer possibilidade de nominalismo, atomismo ou psicolog:smo. Mais, se usarmos um modclo inter- pretativo correcto, nao se pode reduzir o grupo primario a rede das suas interacgées elementares, Ele reenvia permanentemente para o que as precede e afirma-se a si proprio como uma totalidade social definida nao pelo seu "sistema interno" (Homans, The Human Group), de relagées psicossociolégi- 176 Franco Ferrarotti cas, mas pelo sistema de estritas fungSes sociais com ancoragem no scu contex- to. No que diz respeito ao problema da operacionalidade da abordagem biografica tal como é proposta neste contexto, se abandonando o individuo pelo grupo nao se eliminam todas as dificuldades, estas sio consideravelmente reduzidas. Tomando por ponto de partida 0 movimento heuristico de “ida ¢ volta’, 0 grupo permite a eliminacdo da fase mais complexa do método biogré- fico: a compreensao da totalizacao infinitamente rica do seu contexto que o individuo efectuou e cfectua quando se exprime por meio das formas cripticas da nartativa biografica. 0 uso das biografias de grupos primarios nao necessita desta primeira fase. Coloca-nos imediatamente nao no nivel de um individuo numa dada situagdo - um nivel dominado pela dimensdo psicolégica - mas sobretudo no nivel imediatamente social, o do grupo, Reencontramos aqui o sentido do individuo de que Marx falava, "um conjunto de relagdes sociais". A inépeia da psicologia social ¢ a sua indilerenga lace ao social deixa-nos sem modelos relacionais ou intrapsiquicos do individuo social. Sabemos mais sobre grupos. Mas, certamente que a recusa de modelos deterministicos e a nogao de grupo como Lotalizagao activa do seu contexto, torna indtil e desconcertante grande partc do nosso conhecimento sobre o grupo. No entanto, temos também A nossa disposigdo modelos que podem ser repensagos, informagdo que pode ser reconstruida, hipéteses que podem ser reintegradas no quadro de uma légica e intencionalidade que s4o heuristicamente diferentes. Com os grupos, estamos basicamente no amago do social (um social que no excluio individual) ¢ nao trabalhamos no vacuo de um dominio que ainda deverd ser esclarecido (0 universal singular). Sabemos 0 que procuramos € como 0 fazer. O método biogriifico tem-se dirigido quase sempre para o individuo. A opgao tem a banalidade de um truismo, ainda que isso dissimule um grande equivoco. O individuo, ndo é, como se acreditou {requentemente, um dtomo social, a mais elementar das unidades sociolégicas heuristicas. immel cstava consciente disso, como revela o comego da sua Sociology”. Longe de ser 0 mais simples dos elementos sociais - 0 tomo irredutivel dos elementos sociais -, 0 individuo no é 0 fundador do social, mas antes um seu produto sofisticado. Paradoxalmente, a verdadeira unidade elementar do social €, na nossa opiniao, © grupo primdrio: um sistema aparentemente complexo que constitui, na reatidade, 0 objecto mais simples sob observagao sociotégica. Por comparagao com aquele Grundkérper relativamente estavel, medimos ¢ identificamos toda a dindmica e rica complexidade, Mutuando entre totalizagdes miiltiplas ¢ con- traditérias, que caracteriza as chamadas interacgdes “elementares” ¢ "sociali- dade" no scu estado nascente, Por comparagio com esse Grundkérper, relemos inlese vertiginosamente densa c complexa que constitui 0 individuo do ponto de vista da sociologia. Se aceitamos isto como protocolo basico do conhecimento sociolégico™’, ndo deveria 0 grupo primario ser também 0 protocolo do método biogrilico? Caso as nossas hipéteses de trabalho tenham algum valor, a renovacao do UL Sobre a autonomia do método biografico 177 método biogréfico necessitaré de uma nova teoria da acgao social. Esta teoria nao deve ser baseada na acgao de um ou mais agentes individuais, mas sobre- tudo na acco de uma totalidade social, 0 pequeno grupo, visto a luz dos modelos "antropomérficos" nao mecanicistas. A biografia do grupo primério levanta muitos novos problemas. Como se deve proceder para obter a biografia de um grupo? Trata-se de recolher ou justapdr as perspectivas individuais que os membros tém do grupo e da sua hist6ria? Estas seriam talvez mais efectivas se intcragindo com 0 grupo na sua totalidade? E iais:como se pode identificar a dialéctica da totalizagao que o grupo realiza no seu contexto, ¢ as totalizagdes que efectua cada membro do grupo, por seu lado, tendo em conta aquela totalizagao? Por meio de que processos de mediacao podemos habilitar-nos a integrar na nossa perspectiva sociolégica modelos e técnicas fundamentais de observagao desenvolvidas pela psicologia, psicandlise ¢ terapia familiar ¢ de grupo? Muito trabalho teérico esta por fazer, o qual, possivelmente, nos permitira um dia realizar a passagem do mais simples para 0 mais complexo, a passagem da biogralia do grupo para a biografia do individuo. Notas 1 Voja-se sobretudo La Piccola Cia, Milao, Comunita, 1959 (nova edigéo em Napoles, Liguori, 1975). Em 1949 realizei pesquisas também baseadas em biografias em Castellamontc, Pie- monte. Veja-se também F Ferrarotti, Lineameni di sociologia. Turin. Arethusa, 1955 (edigao revista de Liguori, Népoles. 1975) 2 Veja-se. por esemplo. o meu Tratiato di Sociologia, Turin, UTEY, 1969. p. 388-391 3 F. Ferrarotti, La sociologia como participazione, Turin, Taylor. 1969. JF. Ferrarout, Vite di Baraccati, Napoles. Liguori, 1976. SR. Harre and P.F. Secord, The explanation of Social behaviour, Oxtord. OUP. 1972 cap V 6 8 Jean-Paul Sartre, Questions de Méihode, Paris, Gallimard, 1960 Jean-Paul Sartre, L Idiot de la Famille, Patis, Gallimard, 1972 (estudo biogréfico de Flaubert) Jean-Paul Sartre, Critique de le Raison Dialectique, Questions de Méshode, Pacis, Gallimard. 1960. pp.td45 9 Jean-Paul Sartre, dem. ppA9 10 G. Simmel, Sociologic, Leipzig, Dunker and Humblot, 1908 11 Par “protocolo sociolégico” ndo nos referimos aqui aos mais efementares {actos sociais (assim retornarfamos ao centro da ldgica nominalista), mas. pelo contrério, & mais simples das categorias heuristicas de que a Sociologia dispde (0 que exctui todas as ideias preconcebidas sobre a éstrutura antolégica do social).

También podría gustarte