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Técnica legislativa como a arte de redigir leis Pinto Ferre Professor de Direito Constitucional e ex-Diretor da Faculdade de Direlto do Recife da Universidade Federal de Pernambuco. Diretor da Faculdade de Direito de Caruaru. Rx-Senador. Mem- bro da Academia Brasileira de Letras ‘Juridtcas SUMARIO 1 — Téenica tegisiativa, conceito e exame no direito comparado 2— A téenica legislation no Brasil 3 — A técnica legislative € 0 método jurtdico 4 — Do preambuto das leis 5 — Da enigrafe 6 — Rubrica ou emenia das leis 1 — Autoria e fundamento legat da eutoridage 8 — Justificagdo dos atos da ordem legislative 9 — Mandado de cumprimento ou ordem de execugdo 10 — 0 artigo: a subdivisdo ¢ 0 desdooramento ao artigo 11 — 0 artigo ¢ suas subdivisbes. O pardgrajo. Os itens ¢ as letras. A atinea € 0 inciso 12 — Regras principais sobre emprego dos artigos 18 — O8 artigos 6 seu agrupamento 14 — Parte Geral ¢ Parte Especial 15 — Disposigaes Preliminares 16 — Disposigdes Gerais IT — Disposigdes Transitorias 18 — Clusia de vigéncia das tets 19 — Cléusvla revocatéria das leis 20 — Fecho das leis 21 — Aasinatura e referenda nas leis 22 — RUI € a técnica legislative do Cédigo Civil 23 — Estética do areito, estilo Jorense e estilo do legistador R. Inf. fogisl. Brasilia @. 23 m, 89 jon./mer, 1986 169. 1. Técnica legislativa, conceito e exame no direito comparado A técnica legislativa é a arte de redigir leis. O direito anglo-america- uo a denomina de legislative drafting. As leis devem ter 0 seu estilo. O estilo das leis deve ser simples, como relembra Monresquisw, a expressio direta devendo ser preferida, pois nada é melhor do que apreender direta- mente o sentido das leis. E 0 mesmo Moxresguiru que acentua tal estilo logislativo, que deve ser simples ¢ queria conciso como o da Lei das 12 ‘Tabuas (Lex Duodecim Tabulurum) do direito romano, por cle considera- do como “um modelo de perfeigio”, Somente de alguns anos para cA desenvolveram-se os estudos siste- miticos sobre técnica legislativa, Guxy, no Livro do Centendrio do Cédigo Cio Francés fala sobre “A técnica legislativa na codificagdo civil moderna”, dizendo o seguinte: “A nogio de uma técnica logislativa © o problema que ela formula nao se parecem ter nitidamente revelado & consciéncia dos jurisconsultos, senio apés a elaboragao do Cédigo Civil alemio, concluido em 1896. Parece que durante muito tempo, ¢ até esses ultimos anos, todos se contentaram com uma técnica espontanea ¢ puramente instintiva, espécie de técnica inconscien- te, utilizada na constragio do Cédigo Napolednico, preparado desde muito tempo pelos costumes redigidos, pelo trabalho dos antigos autores, pelas ordenangas reais, e, mais diretamente, pelas leis revolucionarias.” ‘Ha mesmo uma inflagao legislativa, cxcesso de leis, que tem aconselha- do inclusive o uso da elbernética juridica. Trop des lois, é a queixa de um jurista francés, em estudo publicado na Reoue Politique et Parlementaire. Contudo Gmavp salientou muito bem que o mal de muito se reduziria se as Icis fossem bem redigidas, Desde longo tempo, entretanto, filésofos e pensadores tém-se reocupado com a feitura das leis, elaborando regras sobre tal matéria, Entre eles devem ser mencionados Bacon, Monresqurev, BENTUAM, mas somente 0 Cédigo Civil alemao (1896) despertou maior atengdo, com regras cientificas, Na Franca, dois estudos sio esclarecederes. E 0 trabalho de Fragois Geny, Le Code Civil, Liore du Centenaire (1904, t. I, p. 996), quando sintetizou: uma boa lei, como toda obra literéria, deve ter unidade, ordem, precisio ¢ clareza. Gronces Rirerr é outro pensador que lucidow os temas mais impor- tantes da “arte de legislar", em As Forgas Criativas do Direito (Les Forces Créatrices de Droit, 1985, p. 346), salientando que o mau emprego dos vocibulos, o desleixo, a confusao, a imprecise de frases, os excessos, Ww as lacunas, e outros erros de redagio das leis, criam embaragos, tropegos e dificuldades para a aplicagao das leis. E indispensivel a boa feitura ¢ redagéo dos textos legais. No Pais, ndo existe nenhuma eftedra especial nas Faculdades de Direito sobre técnica legislativa, nem mesmo capitulo sobre tio importante matéria nas eftedras de Direito Civil e de Introdugao & Cigncia do Direito. A técnica legislativa exige especialistas. Sruarr Mux sugeriu a cria- so de um conselho legislativo, composto de especialistas, 20 lado dos parlamentares para aperfeigoamento da arte da redagio das leis. Fazer leis, advertia o filésofo inglés, 6 obra que exige, mais do que qualquer outra, experiéncia e pritica, senio também longos e laboriosos estudos por espiritos adestrados. A idéia nuclear de Sruarr Mut. foi também aceita e preconizada por Fauve Grravp, na Franga, nos livros A Crise da Democracia e Keformas Necessérias do Poder Legislativo, Esta larga experiencia existia no dircito gree especialmente no direito romano, este um modelo de concisio e clareza. Atenas criou o seu conselho de iniciados em tal arte, Em Roma a arte de redacio das leis atingiu a sua perfei¢ao. LenmintEn acentua que 0s textos das leis romanas representam uma obra-prima do estilo juridico, especialmente relembran- do a perfeigio do estilo do direito redigido por Papowano, Rosset mostra como varios artigos do Cédigo Civil francés (1804) sio modelos de concisio, limpidez ¢ exatidao. SrenvHaL fazia a leitura do referido Cédigo Civil para aperfeigoar o seu estilo, No direito americano a obra sintética mais vigorosa sobre a matéria é a de Reep Dicxensox, A Arte de Redigir Leis (Legislative Drafting, Boston-Toronto, 1954), Perguntaram uma vez a Mmurron Braxtan considerado como o decano dos redatores de leis nos EUA, qual a razio pela qual ele nunca escreveu um livro sobre a técnica de redigir diplomas legais, porém ele ondeu modestamente que nio sabia 0 que colocar em tal livro, BEAMAN foi, durante muitos anos, conseJheiro legislative da Camara dos Representantes, Reep Dickensox afirma que “os grandes redatores de leis norte-americanos sempre relutaram em tornar publicos seus instrumentos de trabalho e os segredos do seu offcio” (op. cit., no preficio), Mas muitos de tais segredos podem ser descobertos na atuagdo de BEAMAN em uma comisséo parlamentar a respeito do assunto, que foi o Depoimento sobre oH. Con. Res. 18, Comissio de Organizagao do Congreso, 79* Reuniio, 1 Sessio, 413-430, 1945, bem como na American Association of Law Libraries (Bill Drafting, 7 Law Lib. J. 64, 1914). Ree Dickersow fez uma vigorosa tentativa de unificar a matéria em um manual elaborado como membro do Joint Army-Air Force Statutory R. Inf. legisl. Brasitia @. 23 n. jen./mar. 1986 in Revision Group (Publicagio da Fora Aérea, 110-1-1, 1951), que depois republicou no Federal Bar Journal (11 Fed, B,J, 238, 1951), manual depois fotado nas Faculdades de Direito de Columbia, Harvard, Minnesota, Stanford, George Washington, e unificada no seu livro Legislative Drafting, jA mencionado. Na Franga, o Consclho de Estado desempenha uma tarefa importante na redagio das leis, 14 existindo a Société d'Etudes Législatives, criada por SALERrES em 1904. Na Itélia hA um Departamento Legislativo instalado no Ministério da Justiga com o mesmo objetivo. Fuaro Vassaus, :professor da Universidade de Roma, em tese apre- sentada wum congresso de direito comparado, “sugeriu a criagio de comis- s6es especiais nos drgios do Poder Executive Legislative para a mais correta redagao das leis” (v, Revista Forense, Rio de Janciro, v. 148, p. 50). 2. A téonica legislative no Brasil Examinando os debates doutrindrios sobre téonica legislativa no Brasil, © primeiro estudo publicado foi o de Aureuixo Leat, em conferéncia proferida no Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, ¢ editado em 1914, com 90 paginas, com o titulo Técnica Constituctonal Brasileira (Tip. Jornal do Commercio, 1914). ‘Mais tarde Hesio FerwaNpes Prsuemo publicou a importante obra Técnica Legislatios e ax Constituicdes ¢ Leis Institucionale do Brasit (Livraria Jacinto, Editora A Norte, Rua Sio José, 59, Rio, 1945, a 1* edigao com 227 paginas de andlise e o restante de textos legislativos, ao todo 366 paginas), jé em 2* ediggo em 1962 A Revista Forense também trouxe uma contribuigdo valiosa publi- cando diversos trabalhos e estudos sobre a matéria, destacando-se entre outros os seguintes: Antio pe Morass, intitulado “A md redagio de nossas leis” (RE, 1947, v. 110, pp. 529-833), Cantos Muprunos Suva, com 0 titulo “Técnica Legislative’ (RF, 1956, v. 165, pp. 397-399), bem como “Seis meses de aplicagio do Ato Institucional” (RT, v. 238, p. oa78) € “O Ato Institucional e a elaboragao legislativa” (RT, v. 207, p. 510). Acneuixo Lear declara: “As leis formam uma ospécie de literatura de claboragio dificil.” No Brasil deve-se ‘relembrar a técnica tiva de Rux Bansosa na Constituigio de 1891 e no Cédigo de 1916, Rui Barbosa tinha um conhecimento assombroso da nossa Iingua, como o dono da 2 R. Inf. lagicl, Breaiie a. 23 n. 89 jon./mer. 1986 palavra, da cor e da miisica, em nosso verndculo, em linguagem plena le corregio, forga, riqueza, como a de Vsema e Casrino. No Cédigo Civil fugiu ao feio vicio de que falava Vieira: abarcar muito e apertar pouco, A experiéncia pritica de Rur BaRBosa proporeionou dois modelos imor- tais de redagio de leis, a Constituigdo de 1891 e 0 Cédigo Civil de 1916, ambos de grande beleza literdria artistica. Sobre este ultimo escreven-se com procedéncia: “Nosso Cédigo Civil nao é apenas espelho de formosa ¢ cris- talina linguagem, E, nesse particular, monumento imorredouro, Obra-prima das obras-primas, nele qualquer escritor pode ir beber inspiragées.” 3. A téonica legislativa ¢ 0 método juridico A técnica legislativa é “a aplicagio do método juridico 4 elaboragio da lei”, define Hesto Fernannes Prvnemo (op. cit, p. 14). B a arte ou © método de redagio das leis, Ferrara, no livro Interpretagiio ¢ Aplicagéo das Leis (trad. Sio Paulo, 1940, p. 82), esclarece que 0 método juridico visa “a simplificagio quantitativa © a simplificagio qualitativa do direito, que é apresentado numa sintese concentrada, ordenada e rigorosa, a qual torna possivel domi- nar intelectualmene todo o material positivo, Com isto o direito resulta mais facil de ser compreendido, mais accessivel, e aumenta-se a segu- ranga da sua realizagio, pois um direito exageradamente complicado é direito que fica sempre meio inobservado. A simplificagio quantitativa tende a contrair a massa dos materiais (lei de economia), classificando-os ¢ xeduzindo-os a categorias gerais, rea- grupando sob forma abstata as aplicades disperses © concretas, A sim. lifieagdo qualitativa, ao invés, tende a purificar a qualidade do material apresentando-o numa forma interiormente ordenada em que as partes sin- gulares se redimem harmonicamente numa sé unidade’. M. P. Fasnecurrtes, em A Légica Juridica e a Arte de Julgar (trad. Rio de Janeiro, 1914, p. 46) ensina: “Nesta matéria como em qualquer outra, nao basta ter a visio, mesmo justa, do fim. E preciso estar na posse dos meios e dos processos préprios de atingi-lo, E necessdrio conhecer © direito no seu conjunto, as leis que sobre o mesmo assunto existam, os trabalhos da doutrina e da jurisprudéncia. HA regras de método, de ordem, de estilo.” R WaF. legit, Brasilia @. 23 n. 89 jan./mor, 1986 W3 A legislacdo nacional tem-se descuidado da apresentagio formal material (redagao) das leis. A técnica legislativa abrange fases importantes, que se apresen- tam nao sé no tocante iva, claboragio, discussie, sangio, promul- gagio © publicagio das leis, como ainda nas operagées ou no proceso operacional em qualquer das ditas fases. No segundo momento inchii-se a chamada parte de apresentagdo ou de redacio, que Hésto Pixtieino assim resume (op. cit. p. 15): 4) apresentagio formal (redagao propriamente dita); 1b) apresentagao material (disposigio do assunto devidamente subdi- vidido ou agrupado). O método ¢ préprio da atividade intelectual ¢ cientifiea, Pat JANer, no scu Tratado Elementar de Filosofia (trad., Rio de Janciro, 1885, v., v. 1, 457) 0 comparou a “um instrumento (organon), 0 qual serve para 0 espirito como os utensilios para as mios”, Realiza-se assim uma construgdo jurdica, pois hi uma evidente ana- Togia entre a arte de redigir e a arquitetura. “A redagio de projetas de lei deve ter a precisin da enge- nharia; a minudéncia e a coeréneia da arquitetura, pois é 2 arqui- tetura da Jei” (v. Drreoces, A New Approach to Statutory Cons- truction, 29 Com. B. Rev., 838, 843, 1951). Fennana assim define a construgio juridica (op. cit, p. 83): “Entende-se por ronstrugdo juridica 0 procedimento pelo geal se procura colher as qualidades essenciais caracteristicas lum instituto, reconduzindo-as a conceitos mais amplos e conhe- cidos, on entio se apresenta a coneepgan geral dum institute, ro- sumindo sob uma ideia unitiria de caniter técnico o seu complexo ordenamento positive.” A construgao jurfdica deve satisfazer determinadas condigdes, quais sejam: 1) coincidir exata ¢ inteiramente com o direito positivo, pois que importa ao principio estar ligado & realidade juridica; 2) possuir unidade sistematica; 3) ter beleza artistica (v, Heames Lima, Introducao a Cién- cia do Direito, Sto Paulo, 1931, p. 119). ‘A técnica legisldtiva visa 2 obtengio de boas leis, O que se deve entender por boas leis? Gexy, no Livro do Centendrio do Cédigo Civil Francés, ensina: “A boa lei, 0 bom cédigo, devem, antes de tudo, conter as qnalidades exigidas de toda obra literdria, que se dirige & inte- 8 Re Inf, legisl. Bras 1. 23 m. 89 jon./mar, 1986 ligéncia e & yontade, antes que & imaginagiio e ao sentimento; unidade, erdem, precisio, clareza.” Afirma também Dickerson (op. cit, p. 37), analisando as relagses entre a forma e a substiincia das leis: “o importante na redagio da lei & dizer o que se quer com precisio, coesio, clareza e concisio. A substin- cia precede a forma, mas as duas vio juntas”, O redator de leis deve possuir os seus instrumentos de trabalho, além do cérebro capacitado, quais sejam, uma biblioteca bem escolhida, depen- dendo da especialidade do redator, um bom diciontrio de palavras e frases, um bom dicionfrio de tecnologia juridiea, uma boa gramitica, um dicio- nirio de sindnimos, um bom diciondrio, um diciondvio de estilo juridico. Na lingua portuguesa, relembrando os autores de bons diciondrios cabe mencionar, entre outros, Carpas AuLeTe, A. pe Morass Sitva, Verna Dosaxcurs. Para a lingua inglesa: Wenstar, Webster's Dictio- nary of the English Language (Londres, 1897) e 0 Dicionério de Blac! Black's Dictionary (St. Paul a Minn., 1938), além dos seguintes Jivro: SuTHeR.anp, Statutes and Statutory Construction (Harack, 1943, 3¢ edi- gio); Insert, The Mechanics of Law Making (1914); Coxcnx, Statute Making (1948); Loox, Legal Drafting (1951); Fowxen, A Dictionary of Modern English Usage (1937); Coweus, ABC of Plain Words (1951); Fuesn, The Art of Plain Talk (1946). A bibliografia nacional jé foi citada, 4. Do predmbulo das leis O predmbulo é a parte inicial da lei, que nio se inclui no seu texto, mas que serve para identifict-la na ordem legislativa, tanto no tempo como no espago. Na legislagio brasileira moderna, o preimbulo pode ser assim subdi- ido: vidi Epigrafe Titulo Preambulo Ementa ou rubrica Antoria ¢ fundamento da autoridade (formula da promulgagio) Clausulas justificativas do ato Consideranda Ordem de exeeugio A palavra predmbulo procede do latim, composto do prefixo pre (antes, sobre) e do verbo ambulare (andar, marchar, prosseguir, aqui vale como proposta inicial), R. nf. legisl, Brasilia o, 23 n, 89 jon./mar, 1996 175 O predmbulo ¢ 0 pértico das leis, No jus scripture romano, como ensina AMAzONAS o& FIGUEIREDO, no seu Tratado de Diraito Romano (Rio de Janeiro, 1930, p. 52), a lei com- preende ota duas, ora quatro partes: index, praescriptio, rogatio, sanctio. O index contém os nomes gentilicos dos magistrados que propunham a lei e a indicagdo do seu objeto, como por exemplo lex Furia testamentaria; era a simula do seu objeto, como Lex XX de Quaestoribus, A praescriptio contém o nome do rogotoris, de quem propts a tei, © nome da tribo ou da centuria que votou em primeiro lugar, o dia ¢ 0 jugar da yotagao, A rogatio designa ao mesmo tempo a proposta subme- tida ao povo e a lei pela povo votada, que costuma ser dividida em capitulos. A sanctio € a cléusula destinada a assegurar a execugio da lei, O predmbulo das Constituicdes e leis também vale como regra juridica, como pretendem autares eminentes como Bureau no Tratado de Ciénci Politica (Traité de Science Politique, Paris, 1950, v. III, p. 131), Larer- uukne no Manual de Direito Constitucional (Manuel de Droit Constitution. nel, Paris, 1947, p. 452) e Rocen Pinto no seu Direito Constituctonal (Droit Constitutionnel, Lille, 1948, p. 452), embora suas normas tenham principalmente carétar ideolégico, programitico, ou sejam por vezes a resumo do texto. 5. Da eplgrafe © termo epigrafe é de origem grega, epigmpheus, derivado de epi (sobre) e graphd (escrever), indicando a parte superior do preambulo, A Finalidade da epierate & a da qualificagio do ato na hierarquia ou escalonamente da or legislativa e sua localizagio no tempo, distin- guindo ainda o alcance do mésmo ¢ um do outro, pela prépria designagio: lei, lei complementar, decreto-lei, decreto, alvard, carta régia etc. A data em que os-atos so assinados deve ser mencionada logo depois da qualificagio © numeragdo do ato, A data figura no final e antes da assinatura. Durante certo tempo, no Pais, os atos legislativos nado eram numera- dos, entre 1808 e os meados de 1833, Apenas em 1833 um decreto do Governo Imperial, datado de 23 de junho de 1833, determinou que os atos do Legislativo e do Executivo fossem numerados “no meio da mar- gem superior da primeira pagina, e se escreva, por baixo do numero, o ano em que 40 promulgados; comecando-se cm cada ano uma nova enu- meragio, e devendo a progressio dos mimeros acompanhar a ordem das datas”. No ano de 1839 instituiu-sc o sistema de numerar os atos seguida- mente, mas sem renovagao anusl. Com a I Republica estabeleceu-se nova enumeragao, como também com a Junta Governativa de 1930, como ainda em 1934, também a partir de 1937, em cada fase nova da politica brasi- leira fazendo-se nova enumeragio, como regra. 176 R. Unf, legisl, Bresilia , 23 9, 89 jan./mor. 1986 6. Rubrica ou ementa das leis A palavra rubrica significa “terra vermelha” e procede do latim, como um adstringente vermelhejante, visto que, na referida cor foram eseritas posteriormente as letras iniciais dos livros impressos de direito civil e direito candnico. A principio o seu objetivo era apenas o de destacar 0 titulo do livro. Atualmente a finalidade da ementa ou da rubrica 6 a de fa- cilitar a busca do texto e da lei, sintetizando 0 seu contedido, porém em negro e com 0 tipo diferente de letra, com o grifo. Cantos Maximuttano escreve, no livro Hermenéutica e Aplicagaio do Direito (Rio de Janeiro, 1941, p. 8.191), que a rubrica ou ementa “ajuda a deduzir 05 motivos © 0 objeto da norma; presta, em alguns casos, rele- vantes servigos & exegese; auxilia muito a meméria; é facil de reter, € por ela se chega & lembranga das regras a que se refere; porém, oferece um critério inseguro; a rubrica é de ordem subsididria; vale menos do que os outros elementos de Hermenéutica, os quais se aplicam diretamente ao texto em sua integra”. A palavra ementa vem do latim, significando id¢ia, pensamento. & sumério ou resumo de uma lei, de um ordenamento juridico (ow sen- tenga ou acérdao), como a vontade concreta da lei, no qual sio focali- zados os seus aspectos principais. Escreve Pepxo Nuxes no Diciondrio de Tecnologia Juridica (Rio de Janeiro, 1979, 10° ed., v. 1°, p. 397): “Ementa — Sumula dum texto de lei ou de uma decisio judictiria que contém a conclusio do contetido.” 7. Autoria € fundamento legal da autoridade No direito romano ja se costumava inserir 6 nome do autor nos atos Iegislativos, Este uso deu snargem & féomolas de promulgagio, enimelan- do a autoria e o fundamento Tegal da autoridade, Pavio LaceRpa nos seus Principios de Direito Constitucional Brasi- leiro (Rio de Janeiro, s/d, n° 1°, p. 12) define a autoria como “um ele- mento composto de cldusulas indieativas das pessoas que atuam, da qua- Tidade em que se acham investidas e do modo de operar”. A autoria deve mencionar a indicagdo da pessoa que age, a qualidade de sua investidura e 0 dispositive legal em que se fundamenta. Podemos relembrar, entre outras, as seguintes férmulas, como, por exemplo: 1 — Para os decretos-leis: “O Presidente da Repiblica, usando da atribuigio que the confere 0 artigo ... da Constituigao, decreta.” R. Inf, legis], Bresilio @. 23 n. 89 jan./mer, 1986 7 TT — Para os decretos executives; “O Presidente da Republica, usando da atribuigéo que the confere o artigo .... letra ..., da Constituigio. .., deeseta.” Assim a palavra aconselhada é atribuigiio, conforme recomendagio da Circular 6/40, expedida pela Secretaria da Presidéncia da Republica (publicada no DO de 148-1940, p. 14,448 ¢ na Revista do Servigo Piibli- cv, de 1940). 8. Justificagde dos atos da ordem legislativa E necessdrio também que se faga a justificativa de determinados atos legislativos, como pritica seguida em muitas nagées. A legislagdo brasileira seguiu essa orientagio usando as seguintes expressbes: Considerando..., Tendo em vista..., Atendendo,., Como também outras expressdes equivalentes. J a chamada Exposipdo de Motivos ¢ cntendida como 0 documento pelo qual se expée ao Presidente da Republica uma matéria que depende de sna solagio, A Exposigéo de Motivos campreende seis partes: a) Cabe- galho; 1») Introdugio; ¢) Texto; ) Conclusdes; e) Fecho; f) Assinatura. 9. Mandado de cumprimento ow ordem de cxecugao ‘A ordem de exeougio ou mandado de cumprimento expressa 0 impe- rativo em que se contém a “autoria e fundamento da autoridade”. Geralmente se usam as séguintes {6rmulas; Hei por bem... Faco saber..., O Congresso Nacional decreta e etx promulgo a seguinte Tel...” afora outras formulas também utilizadas. 10. 0 artigo: a subdivisio ¢ o desdabramento do artigo O artigo é o elemento bésivo da lei, cabendo redigir os atos da ordem Iegislativa ndo sé com uma apresentacdo légica do material juridico a ser condensado e sistematizado, como também no seu bom ordenamento e justaposigio. O artigo constitui o ponto central ¢ a base da ordenagio Jegislativa. Os artigos se subdividem em pardgrafos, itens, letras, aléneas ou inci- sos, A maneira inversa; eles se agrupam da seguinte mancira: Secdo; Capi- tulo; Titulo; Licro; Parte, LL. O artigo e suas subdivisdes. O pardgrafo, Os itens ¢ as letras, A alinca € 0 ineiso © desdobramento de um artigo em nossa legislagao é feito segundo um aspecto triplice, com 0 uso de pardgrafos, itens e letras. 178 BR. Inf, logiat. a. 23 n, 89 jan/mer, 1906 © artigo 6 a unidade basica para a apresentagdo, divisio ou ae Ramento dos assuntos do texto legal. Ele tem o seu étimo latino arts Z liminutivo de artus, procedendo do grego arthros. Ele é a articulagdo dos assuntos de um ato de ordem legislativa, com uma apresentagdo mate- rial correta ¢ coerente, ¢ dai o seu relevante papel. O artigo 6 a unidade do texto de qualquer ato de ordem legislativa. Tanto nos artigos como nos parigrafos empregnse até o art. 9” a numeral ordinal e, depois, a cardinal. Na nossa legislagio atual, 0 parigrafo & exclusivamente reservado para constituir a imediata divisio do artigo. Isto néo ocorre em todas as legislagées, posto que na legislagio alema e dos paises que seguem suas linhas diretrizes, o pardgrafo (§) & usado em lugar do artigo (art.). Jé os norte-americanos utilizam, nas suas leis, a Secgao (Section) em lugar do artigo (art.) (ef. Diciondrio Jurédico de Black, Black's Law Dictionary, 1932). Na nossa legislagio a segio é a parte da lei em que se subdivide imediatamente os capitulos. Pusigrafo @ palavra que procede do Iatim paragraphus © pardera phous em grego, eomposta de para (ao lado) e graphein (escrever). © pardgrafo ¢ 0 sinal do escrito com wma forma caracteristica (§), pata dstinguir ae diferentes partes de um livzo, no seu significado etisno- égico latino. O pardgrafo, na legislagao nacional, usa-se exclusivamente para o des- dobramento imediato dos artigos. A sua representagio grdfica € um sinal ortogrfico caracteristico (4). A sua numetacio, como no artigo, é uma numeragao ordinal até o nono (9°), e cardinal dai por diante. A numera- Gio é feita ordinalmente em algarismos ardbicos até o pardgrafo 9° © parigrafo & intimamente relacionado com artigo, © seu assunto depende diretamente do assunto ventilado no artigo. © pardgrafo pode ser subdi A palavra item & uma palavra de origem indu, procede do brimane itham (sinscrito), dai a forma latina item, com o sentido de: do mesmo modo, assim, igualmente (Saraiva, Novo Diciondrio Latino-Portugués, Rio de Janeiro, Livraria Gamier, 9 ed., 1927, p. 640), ou ainda, também como, por conseguinte. ido em itens ou em letras. O item é um elemento precioso para a fragmentagio dos atos legis lativos. Na técnica legislativa nacional os itens sio empregados; 19 — para a divisio imediata do artigo; RK, Inf, legitl, Brositia @, 23m, 89 jan./mor, 1986 179 2° — como elemento discriminative do artigo, quando o assunto nele tratado no se presta a ser condensado, sintetizado ¢ regulado no proprio artigo, nem tampouco a ser formulado adequadamente ou a consti pardgrafo; 3° — como divisio do parigrafo. No 2° caso, como elemento discriminative do artigo, ¢ utilizado pelos legisladores para relacionar as atribuigées de um érgio ou determinadas competéncias funcionais, enunciadas tanto em lei, como em regulamen- tos e regimentos. Entéo se deve preferir 0 uso de itens, e nao Jetras, como salienta Hesto Fennanves Prvnemo (Técnica Legislativa, Rio de Janeiro, 1945). A Constituigao federal (art. 81) relaciona as atribuigdes de um érgio individual, qual seja, 0 Presidente da Repiiblica, mediante itens e no letras, A mesma CF" (art. 8°) discrimina as competéncias funcionais da Unisio mediante itens. O item pode ser desdobrado em letras. A razio & simples, pois a enumeracao dos itens mediante algarismos romanos (I, II, DIL, IV etc.), acompanhados de um traco (—) ou um pon- to (.), pode ser feita, constantemente, indefinidamente, mas a enumeragio mediante letras do alfabeto ¢ limitada. Tanto Rur Bansosa como os nossos mais eminentes legisladores ado- tam as letras para desdobramento de parfgrafos © de itens, e nio do artigo, dirctamente, Assim, nos textos legislativos on regimentais nfo devem ser empre- gados critérios incoerentes, que revelem uma disparidade do uso de paragrafos, itens, letras no mesmo texto. As palavras alinea e inciso sio utilizadas nas citagdes para a indi- cagio das modalidades das subdivisies do artigo, quais sejam os itens e ketras. Na tecnologia juridica, alinee ¢ inciso slo freqientemente utilizados como termos de subdivisio. E mais correto ¢ adequado assim fazer a citagdo: item ou letra do artigo (ou do pardgrafo) tal, e nao alinea ou inciso do artigo tal. Assim a alinea refere-se a item ou letra, do artigo ou do parigrafo, com mais propriedade, ¢ nio diretamente ao artigo. A alinea € a subdivisiio do artigo de lel, depois do item ou letra, aberta em nova linha e precedida de letra ou mimero. Neste caso, 0 texto que compoe a parte inicia] do artigo chama-se caput. A alinea niio deve ser confundida com os pardgrafos componentes do artigo. v0 R. inf, legitl. Brasilia 0. 23 n. 89 jan,/mar, 1986 © caput (cabeca, em latim) € 0 comego ou a primeira parte de um artigo, Por exemplo: art. 300, coput; no caput do art, 3°. O inciso € a parte incidente de uma subdivisio do artigo, designado Por numeracdo romana ou arébica: inciso HIT do § 4? do art, 70. © inciso é a subdivisio de um artigo de lei, que se presta para enumeragdo e é apresentado por algarismos romanos ou aribicos, poden- do, por sua yez, subdividir-se em alineas (verbete Inciso, na Enciclopé- dia Saraiva do Direito, Sao Paulo, 1977 em diante, v. 43, p. 267). Assim, geralmente a alinea é a subdivisio do inciso, £ mais correto designar-se 0 inciso por algarismos ¢ a alinea por letras. Vejamos alguns dicionaristas. Catpas Autere, no Diciondrio Contemporineo da Lingua Portuguesa (Lisboa, 1925): Alinea — "Cada uma das subdivisies de um artigo, designa- das por a), b), c) etc. F. lat, alinea, Inciso ~ Cada uma das partes de um membro do perfodo.” CAxpmo Ficuemepo no Novo Diciondrio da Lingua Portuguesa (Lis- boa, s/d): Alina — “Uma das subdivisées do artigo, designadas por a), b), ¢) etc, Fr. Alinea. Inciso — M, Frase que interrompe o sentido de outra.” (Lat. incisus). Axtenon Nascestes, no Diciondrio Etimolégico da Lingua Portu- guesa (Rio de Janeiro, 1932): Alinea — “Do Jatim a tinea, da linha, empregado quando se ditava para indicar que era preciso partir do comeco da linha seguinte. Inciso — Do latim incisus, cortado.” Jame pe Secumn, no Diciondrio Prdtico Iustrado (Porto, 1928): Alinea — “sf. (lato ad linea), Uma das subdivisies de artigo, designadas por @), b), ¢) etc. Inciso — adj. (Jat. incisus). Frase curta, formando sentido & parte, que interrompe outra mais importante.” Ro inf. legisl. Brasilio @. 23 m, 69 jan./mar, 1986 181 12. Regras principais sobre emprego dos artigos O artigo é a unidade basica uu a parte central, a unidade nuclear de apresentacio do texto da Jef, para a divisto ou agrupamento de assun- tos ou matéria regulada pela lei. Determinadas regras devem ser enunciadas para a apresentagao formal, material e técnica do assunto, quais sejam: I® segra — Cada artigo deve abranger um tnico assunto, Exemplo, no Cédigo Civil: “Art. 9? — A ei no distingue entre nacionais ¢ estrangei- 70s quanto A aquisicao € ao gozo de direitos.” 2 regra — O artigo deve refcrit-se exclusivamente & norma geral © ao principio. As excegdes ¢ as medidas complementares devem ser reservadas aS subdivisées, especialmente aos pardgrafos. Exemplo, no Cédigo Civil: “Art. 1.728 — Quando consistir em prédio divisivel o legado sujeita & redugdo, far-se-A esta, dividindo-o proporcionalmente. § 1° — Se niio for possivel a divisio, ¢ 0 excesso do iegado montar a mais de um quarto do valor ‘do prédio, o legatario deixard inteiro na heranza o imével legado, ficando com o ditei- to de pedir aos herdeiros 0 valor que couber na metade dispo- nivel. Se 0 excesso nio for de mais de um quarto, aos herdeiros tomé-lo-4 em dinheiro o legatario, que ficaré com 0 prédio. § 2° — Se o legatdrio for a0 mesmo tempo herdeiro neces- sirio, poder inteirar sua legitima no mesmo imével, de prefe- réncia aos outros, sempre que ela e a parte subsistente do lega- do the absorverem © valer.” 3? regra — Quando o assunto regulado no artigo exigir discrimina- gio, 0 enunciado comporé o artigo, ¢ os elementos que devem ser discri- ‘minados serio apresentados na forma de itens. Exemplo, no Cédigo Civil, art. 136: “Art, 138 ~ Os atos juridicos, a que nio se impbe forma especial, poderéo provar-se mediante: I — confisséo; I — atos processados em Juizo; Ml — documentos piblicos ou particulares; IV — testemunhas; V — presunedo; VI — exames ¢ vistorias; VII — arbitramento.” 4 regra — A precisio da linguagem, técnica ou vulgar, e a sua concisio, devem ser mantidas a fim de evitar diversas interpretagées. 5t regra — Deve-se evitar 0 emprego de expresses esclarecedoras, como por exemplo, v. g. ¢ outra, buscando-se a maior precisao possivel. 6 regra — Devem ser preferidas as palavras de sentido nacional, evitando-se as expressdes locais e regionais. 7 regra ~ As frases devem ser curtas ¢ reduzidas ao minimo possi- vel, sem perda da idéia bisica, 8? regra — Nas leis extensas os artigos devem ser utilizados para a definigio do objeto da lei ¢ a limitagio do seu dominio de aplicagao. 9 regra — Cada assunto ou matéria deve figurar em seu artigo, e cada artigo em seu lugar. 10® regra — As expresses devem ser usadas em seu significado vulgar, salvo quando se tratar de assunto téenico. 1? segra — As siglas ¢ abreviaturas devem ser preferencialmente abolidas do texto legislativo, ow quando usadas, deve ser feita a primeira referéneia por extenso, seguindo, entre parénteses, a sigla ou abreviatura. 12 regra — A uniformidade inicial dos verbos deve ser mantida na seqiiéneia de assuntos heterogéneos, A respeito comenta Histo Frrnanpes Prnutiro (op. cit., p. 55): “Assim, por exemplo, ao invés de usar: Art. 18 — Extinguem-se com a presente Lei. .. Art. 19 — Sio criados. Art. 20 — O MV.OLP. fica autorizado a... Art. 21 — Com esta Lei asseguram-se os direitos. ser preferivel a forma seguinte, menos rebuscada, é verdade, porém tecnicamente mais correta, pela indicagao imediata daqui- lo que o artigo contém: R. Inf, legis!. Brasilia , 23 n. 89 jan./mar. 1986 183 Art. 13 ~ Ficam extintos. .. Art. 19 — Ficam criados. . . Art, 20 — Fica autorizade o Ministério. .. Art. 21 — Ficam assegurados os direitos... 13" segra — As definiges sé devem ser empregadas quando absolu- ‘irias, devendo ser colvcadas onde for mais facil encon- s simples deve ser preferida. Assim, em ou “tem o dever de”, & melhor escrever: 15? regra — Quando se confere um ditelto, atribuigio ou poder, o termo a set utilizado & “pode”... Contudo, se o direito conferide é interpretado como uma faculdade, 0 termo a ser empregado é “tem o direito de...". Para’ a restrigio de um direito, priv termo adequado e conveniente “n J". Quando se impée uma obri- gagio de agir, usa-se "deve", “deverd", mas se a obrigasio ¢ de nio agir @ termo apropsfado ¢ “ndo pode” (Dickenson). 16? segra ~ Deve-se evitar o erro de usar um sujeito negativo com um “deverd positivo”; Assim nao se deve escrever: “ninguém deyera”, mas: “ninguém poderd”. Literalmente, ‘ninguém deverd” signifiea que ninguém é obrigado a agir desta mancira, nega a obrigacio, mas nado a permissio de agir. Por outro lado, “ninguém pode” nega também a permissao e ¢, portanto, tuna proibigdo mais completa (Dickenson, op. cit, p. 102). 17 regra — As letras maitisculas devem ser empregadas somente quando necessirias (por exemplo: Lei, Govemo, Estado). 189 regra — As cléusulas condicionais devem ser evitadas para intro duzir uma’ excegio ou: imitagio. # melhor dizer “exceto cue”, “entre- fanto”, ou construir nova oragio. Para os acréscimos, deve-se ‘comegar novo parégrafo, 19 regra — As ambigiiidades devem ser evitadas. Nao se deve dizer: “Entre as idades de 18 e 50", mas: “18 anos ou mais, e menos de 50”. 200 regra — Q periodo deve ser claramente especificado. Nao se deve dizer: “De 1 de julho de 1980” ou “Entre 1 de julho de 1950 e. ..”; Depois de 30 de junho de 1990” ou “Antes de 1 de julho de 1980”. R. Inf. Jegist, Brovillo «. 23 n. 89 fon./mar, 1986 Na claboragio de tais regras, entre outras existentes, ser ttil consul- tar as obras de Cantos MAXIMiLiano, Hésio FEnxANDEs P1NHEIO, REED D1ckensox, jé citados. 13, Os artigos ¢ sew agrupamento “O artigo é a unidade do texto de qualquer ato de ordem legislati- va", como sintetiza Hésio Fenxaxnrs Pinizmo. O legisiador e o redator de leis tém no artigo o elemento central tanto para a subdivisio do texto legislativo, como para ¢ seu agrupamento, a quantidade dos artigos exige 0 seu agrupamento de acordo com o assunto regulado, agrupando-se os artigos afins pelo seu relacionamento. Os cédigos coustituem exemplos de agrupamentos ordenados e sistematizados dos artigos do texto legis- lativo, © agmipamento dos artigos ferma uma Segdo, 0 conjunto de_segdes constitui um Capitulo, 0 conjunto de capitulos ¢ agrupado em Titulos, © a totalidade dos titwlos forma o Livro. Os livros sto reagrapados em Partes, uma Parte Geral ¢ wna Parte Especial, quando ha necessidade Ge novos reagrapamentos. Fo sistema adotado no nosso Cadigo C © que encontza 0 scu modelo no direito romano, pois os Cédigos romanos apresentam as seguintes divisies e subdivisdes: Parte, Livro, Titulos, Fragmento (abreviatura Frag.) on Lege e Pardgrajo. Na enumeragio de um ato de ordem legislativa, as segées silo mune- rades com algarismos romazins. que se seguem & palavra Seedo: Sega J, Segio Mate. O dircito angio-americano tem um conceito diferente de see, que éado por BLack, no seu Diciondrio de Dircitu (1932), nos seguintes termos: é “In text books, codes, statutes, and other juridical writings, the smallest distinct and numbered sub-divisions are commonly cailed “sections", sometimes “articles’, and occasionaly “para- graphs” JA © Capitulo se esereve também com a sua abreviatura Cap. Esta palasra procede do latim Capitulum, de caput (cabega). A regra para a enumeracao dos capitulos é a seguinte. com o emprego de duas formas: 1° Capitulo, Primeiro Capitulo, Capitulo 1°, ou Capitulo I, ou ainda, quando existe, o Capitulo Preliminar. O Capitulo é 0 agrupamento de Seg © Titulo 6 0 agrapamento dos Capitidos, A palavra procede do iatim fitulus, formado do radical grego tidr com 0 sufixo tulus; para outros estudiosos cla procede diretamente do grego, ccmposto do radical tit e 185 do sufixo Rylo. A sua abreviatura & Tit. A cnumeragéo é feita com alga. rismos romanos tal como as Segics e Capitulos, Determinados redatores de leis e legisladores preferem a designa- sao Titulo Preliminar em vez de Introdugao. © Livro é usado nas leis muito extensas, como nosso Cédigo Civil; € © conjunto de Titulos, agrupados pelos assuntos correlatos. Os Livros so emumerados com algarismos romanos. Q Livro sempre é discri nado com o seu contedido, que é escrito loga depois do livro, como est uo nosso Cédigo Civil, Parte Geral Parte Especial Livro I Livro T Das Pessoas Do Direito de Familia Livro IL Livro I Dos Bens Do Direito das Coisas » ete. » ete. 1k Parte Geral ¢ Parte Especial Determinados textos legislativos siv longos. especialmente os oédi- gos, tornando-se entdo precétia a simples divisio em livros, que sio agrupados cm Partes.: As Partes nio devem ser numeradas. E verdade que 0 nosso Cédigo Comercial enumera as Partes, nele se podendo ler: Parte Primeira, Parte Segunda etc., mas isto néo é comum, foge a regra geral da técnica legislativa, nio deve seguir-se tal precedente. A Parte niio deve, pois, ser enumerada, mas s6 classificada em geral ou especial. O seu emprego é pouco comum nas leis, x6 sendo utilizado nas leis muito extensas, como no Cédigo Civil brasileizo. Escreve a respeito CLovis Bevitaqua: “Destina-se a parte geral exposig@io dos principios que se aplicam ou se podem aplicar as diversas matérias do direito civil, e dos assuntes que se nao incluiriam naturalmente em nenhuma das segdes da parte especial.” A Comissio que: foi encarregada de rever o projeto Cuévis do Cédigo Civil assim opinou (apud A. Fanruma Corto, Cédigo Civil dos EE.UU do Brasil. Comparado, Comentado ¢ Analisado, 23v., Rio Ge Janeiro, 1920, v. HIT. p. 229): “b) uma Parte Geral, apta a conter os prineipios, as idéias, por assim dizer, abstratas ¢ gerais do direito civil, no que diz 23 n. 89 jon./mar. 1986 186 R. Inf, legisl. Brot respeito aos seus elementos capitais, subdividida, sob este crité- rio, em trés Livros, um sobre as Pessoas, outro relativo aos Bens, um terceiro referente aos Fatos Juridicos; c) uma Parte Especial composta de quatro Livros, abar- cando o direito civil, na quadrupla ramificagiio de suas aplica- cagées priticas: a Familia, as Coisas, as Obrigagdes, as Suces- sdes. 15. Disposigées Preliminares A lei eserita concretiza o direito, porém diversos assuntos regulados pelas teis, as vezes, necessitam explicitagées, esclarecimentos, que séo dados em Disposigdes Preliminares. As disposigSes preliminares colocam-se & parte do asticulado das leis, focalizando esclarecimentos prévios a lei adotada, tais como os seus obje- tivos, prinefpios juridicos, formas de hermenéutica ¢ de aplicagéo, que niio devem ser inseridos no texto da lei. Esta parte é denominada de Disposigées Preliminares, reccbendo tam- bém o nome de Introducdo, Lei de Introducao, Titulo Preliminar ou Lei Preliminar. A maioria dos tratadistas opina que o Titulo Preliminar ndo é parte integrante da lei, mas um corpo a parte, Sendo vejamos. Azeveno Mangues esclarece: “... ¢ como uma lei fore da corpo do Cédigo, para providenciar sobre as necessidades ocorrentes & sua publi- cagio”. Corio Ropricurs salienta: do Cédigo, é um titulo & parte”. © titulo preliminar néo faz parte Ciévis Bevizagua esclarece; “.., & por assim dizer, uma Iei anexa, uma lei que se publica juntamente com o Cédigo para preparar e faci- litar a sua execugio”. “Nao é uma parte integrante do Cédigo; é uma lei em separado, que vai acompanhar 0 Cédigo, para providenciar sobre as necessidades ocorrentes A sua publicagio”, CLovis BeviLagua, referindo-se 4 Lei de Introdugio ao Cédigo Civil, ainda acrescenta: “Contém nume- ragio distinta da do Cédigo, para indicar a diversidade da matéria, e acentuar que, se a ele esté ligado e se o domina, com ele nao forma um todo homogéneo, podendo ser modificado permanecendo fntegro 0 arti- culado do Cédigo, do mesmo modo que as alteragdes deste nfo se refletem sobre ela.” Realmente a Lei de Introdugdo do Cédigo Civil foi modificada, surgindo outro texto, com o Decreto-Lei n? 4.657, de 4-9-1942, O Titulo Preliminar tem numeragio prépria dos seus artigos e pode ser promulgado em separado, R, Inf. legisl, Brasilia a, 23 m. 89 jan./mar, 1986 187 16. Disposicées Gerais As Disposigées Gerais nio se confundem com as Disposigdes Preli- minares, nem tampouco com as Disposigdes Transitérias, Na verdade, Disposigies Preliminares, Disposigées Gerais, Disposigdes Transitérias ¢ Disposiges Finais séo quatro espécies do género das disposigées com- plemeniares ou suplementares. ‘HA, entretanto, muita confusio no uso de tais disposigdes, por parte de determinados redatores de Ieis c legisladores. ‘Hésio Feavanpes Prvweio reiembra ¢ esclarece o assunto. Em 19 Jugar, em diversos atos legislativos nacionais sio inseridas Introdugées, Disposic6es Preliminares ou Titulos Preliminares, designados pela nomenclatera de Disposicdes Gerais, como intréito, iniciando o texto legal, Em 2° lugar, também se costuma empregar 0 nome Disposigées Cérais, seguindo ou precedendo as diversas partes da lef, como v. Ee Capitulo, a Segdo, o Artigo etc. ¢ isto ocorre no proprio Cédigo Civil; caso em que as Disposigées Gerais, que deveriam figurar xo fine) do texto, ficam fracionadas em diversos trechos do texto; pardm, concemem exclu- sivamente aquela parte do ato legislative onde se encontram incluidas. Os dois casos supramencionados deram margem a que, como conse- qiiéncia de tal método, no final dos textos legislativos, sejam colocadas Disposigdcs Finais, em lugar de Disposigées Gerais, pela propria impos sibilidade de se cnumerarem Disposigdes Gerais referentes a todo o texto legal. Em tais casos procede a utilizagao da expressio Disposigécs Finais, que fica corretamente empregada. Hésio Fexwanves Prvsetno sugere como (eenicamente certo: “a) om principio, os arligos que contenham assuntos de ca- rater geral, diretamente dependentes ou intimamente relacionados: com 0 texto, devem ser englobados no final da lei sob o titulo de Disposigdes Gerais; b) em se tratando de lei extesss, cujos diversos grupos de assuntos justifiquem ou exjjam a existéncia de um apéndice, con- tendo medidas de cariter geral, essas medidas devem seguir ou preceder cada grupo, englobadas sob o titulo Disposigdes Gerais. Nestes casos, as medidas restantes, de cariter geral e refe- tentes a todo o texto da Fei (apreciada em seu conjunto), devem ser reunidas colocadas no final do ato da ordem legislativa e em continuagio ao sen articulade, separadas deste, entretanto, pelo rétulo: Disposigées Finais.” 17. Disposigées Transitérias As Disposigaes Trunsitérias, como « indica a expressio, slic normas que no possuem cariter permanente, mas chamam a atengao do legislador, 188) TRS Ink. legish, Brasilia @. 23 n. 9 jan./mar. 1986 merecendo ser disciplinadas. Possuem um cariter de transitoriedade e tendem a desaparecer pelo proprio decuzso do tempo, pelo seu fluir, on ainda pela consumagao do fato. As Disposigées Transitérias sio normas reguladoras de situagdes especiais e passageiras, sem cardter de perma- néncia, mas que devem ser disciplinadas pelo legislador, que delas nio deve descuidar-se. Regulam sitnagées juridicas especiais, exigindo imediatas normas reguladoras, mas sobre assuntos e matérias que tendem a desa- parecer com rapidez. As Disposiges Transitérias também sio mais raramente chamadas de Disposiges Provisérias. A boa técnica legislativa deve proceder colo- cando todo o articulado da_lei com numeragio prépria, seguindo-se a enumeracio dos artigos das Disposigdes Transitérias com numeragio pré- pria desde 0 1° artigo até o artigo final. Depois se seguem as cldusulas de vigencia e de revogagio, ao fim do texto legal. Determinadus legisladores usam incorreiunente as forinulas Disposi- goes Gerais e Transifdrias ou ainda Disposigdes Finais ¢ Transitérias, Tal procedimento nao parece correto do ponto de vista técenico da redagiio das leis, pois as Disposigdes Gerais contém regras regulando matérias de cariter permanente, que nio devem ficar relacionadas nem entrosadas com regras disciplinando situagées especiais ¢ provisdrias, Sobre 0 assunto, ver Hésto Feawanves Prsvemo, cit., pp. 81 s., Rucerr- 180, Instituigdes de Direito Civil (Madvi, trad. espanhola, 1929, v, I, p. 172). 18, Cldusula de vigéncia das leis Todo texto legislativo tem a sua cliusula de vigencia, Toda lei ¢ feita para viger, vigorar, estar em vigor ou execugio, a lei deve viger, esta constitui a sua vida, A vigéncia é 0 tempo durante o qual uma lei vigora. Viger é um verbo intransitive, do latim vigere (ser vigoroso), usado na terminologia do direito com o significado de vigorar, ter vigor, estar em vigor, estar em observancia (Lei de Introdugao ao Codigo’ Civil, arts, 1° a 6%), A vigéncia é a disponibilidade da norma juridica, é a sua dimensio no tempo, a sua dimensio temporal. Ea maneira pela qual sto fixadas as datas para a entrada em vigor das leis. A vigéncia de um direito, esclarece Srasoaer, 6 a possibilidade de sua atuagao. “A vigéncia & um conceito formal referente A cronologia temporal, A eficdcia, ao contrario, é material ¢ de cunho sociolégico”, esclarece Limonet Franca (verbete “Vigéncia”, na Enciclopédia Saraiva do Dircito, cit, v. 77, p. 273). A vigéncia é um pris em relagio 3 eficdcia, A eficdcia pressupde a vigencia. Quando hé eficdcia sem vigéncia, isto explica-se porque 2 norma nao é legal, mas apenas consuctudinaria, jurisprudencial ou doutrinéria, R. Inf, legisl. Brasilia o, 23 9. 89 jan./mar. 1966 139

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