Está en la página 1de 105
Grupos de Encontro Carl AR. Rogers Martins Fontes A pessoa em mudanga Os “grupos de encontra” constitvem talver o acontecimenta de mols rapide expansdo @ a mais poderose invancde social dos timos 100 anos. Pianairo da desenvolvimento des “grupos de encontre”, Carl Rogers traca a histéria da movimente, narranda em seguide a sual longa experiéncia de porticipagce nesses grupos; com numerasos exemplos que ojudam o lettor a compreender a fundamental importancia deste métode de peicoterapia coletive. 1 rico Aen thot horn fifo Phd ern GRUPOS DE ENCONTRO Titulo original; CARL ROGERS ON ENCOUNTER GROUPS. Copyright © by Carl Rogers, 1970 Copyright © 1978, Livvaria Martins Fontes Editora Lida., Sao Paulo, pare a presente edigao 8 edigio Jitnho de 2002 ‘Tradugao JOAQUIM L, PROENCA Revisio grafica Ligéa Sitea ligne Rodrigues de Abrew Producao grafica Geratdo Alves Paginacaio/Fotolitos Studio 3 Desenvolvimento Editorial Dados Internacionais de Catalogagio na Publicagio (CIP) a Brasiteira do Livro, SP, Brasil) Rogers, Carl R., 1902-1987, Grupos de encontro / Carl R, Rogers : tradugo Joaquim L Proengs. ~ 8 ed, ~ Sao Paulo : Martins Fontes, 2002, — (Psicologia ‘¢ pedagogia) ‘Titulo original: Carl Rogers on encounter grouns ISBN 85-336-1 588-4 1, Psicoterapia de grupo 2. Relagdes interpessaais 1. Titulo, TL Série 2.03 cop-188.2 Indices para catalogo sistema 1 Relugeainerpstous: Psicologia aplleada 1582 Todas os direitos desta edigio para o Brasil reservados a Livraria Martins Fontes Editora Ltda. Rua Consetheiro Ramatho, 3301340 01325-000 Sao Paulo SP Brasil Tel, (11) 32413677 Fax (11) 31056867 e-niail: info@martingfontes.com.br. luip:liwww.martinsfontes.com br Indice sfiwio IX 1, Origem e objetivos do movimento de grupos Origem 3 Modalidades e formas diferentes 5 Linhas comuns 7 O processo de grupo 10 Por que a rapida difusio? 17 Medo criado pelomovimento 13 Conclusdo 16 2. O processo do grupo de encontra 17 Fracassos, desvantagens, riscos 43 ] Conclusdo 49 3, Posso ser facilitador num grupo? 51 Contexto filos6fico e atitudes 52 Fungao da criagdo de ambiente 55 A aceitagado do grupo 57 Aceitagao do individuo 59 Compreensio empatica 60 Atuando segundo aquilo que sinto. 67 Conlrontagao e feedback 64 Expressdo dos meus préprios problemas 65 Evitar o planejamento e os “exercicios” 66 Evitar os comentarios interpretativos ou do processo 67 A potencialidade terapéutica do grupo 68 Movimento e contato fisico 69 Um ponto de vista de trés geragdes 69 Algumas falhas de que estou consciente 75 Um problema especial 76 Comportamento que creio nao facilitar o andamento deum grupo 77 Conclusdo 80 4. A mudanga depois dos grupos de encontro: nas pessoas, nas relagées, nas organizagoes 81 A mudanga individual 82 A mudanga na relagao 83 A mudanga na organizagao 84 Bases para estas conclusées empiricas 85 Um exemplo de mudanga individual 87 Exemplos de mudanga nas relagdes 92 Um exemplo de mudanga nas organizagdes 94 5. A pessoa em mudanga: como é expertenciado o processo 10T Ogrupo—e Ellen 107 As mudangas interiores 103 Amie bicho-papio 105 Ellen pensa na separagao 105 Coragem para falar—e escolher 107 Perturbagao 108 As profundidades 110 Declaracao de independéncia [12 O prego da independéncia 113 Medo da independéncia 115 Consegue afrontar o problema e sente-se grata 116 Outro golpe 118 Valera a pena o sofrimento do crescimento? 119 Alguns pensamentos como conclusio 1/9 Seis anos mais tarde 12] ConclusGo 124 6. A pessoa isolada e as suas experiéncias num grupo deencontro 125 A solidao interior 128 “O que eu realmente sou nao se pode amar” 131 Arriscando-se a ser 0 proprio eu interior 133 Conclusdo 136 N O que sabemos através da investigagdo 137 O processo do grupo de encontro 142 Resultados 146 Um estudo fenomenologico das conseqtiéncias 147 Comentarios 151 Consideragdes globais 151 O meu comentario 156 Conclusaio 157 8. Campos de aplicagao 159 Industria 159 Igrejas 162 Governo 162 Relagées raciais 163 Tens6es internacionais 164 Familias 165 O fosso entre geragdes 166 Instituigdes de educagdo 166 Projeto de transigao 170 9. Construindo capacidades facilitadoras 175 O programa de La Jolla 175 Filosofia e politica 176 Selegio 178 Preficio Elementos do programa 179 Relagées no regresso (Back-Home Relationships) 1 84 Conclusdo 184 10. Qual o futuro? 187 Algumas possibilidades 187 Implicagdes para o individuo 197 Significado para a nossa cultura 193 O desafio 4 ciéncia 195 Valores filosoficos 197 Conclusdo 198 Durante mais de trinta ¢ cinco anos, o aconselhamento individual e a psicoterapia foram o nucleo principal da minha vida profissional. Mas, desde ha aproximadamente trinta e cin- co anos, tenho experimentado, também, a forca das mudangas em atitudes e comportamentos que podem ser conseguidos num grupo. Desde entao, isto se constituiu um interesse para mim. Contudo, s6 nos ultimos sete ou oito anos se tornou num dos dois nucleos principais do meu trabalho — sendo 0 outro a necessidade crucial de maior liberdade nas nossas instituic¢des de educagao. Durante este ultimo periodo, escrevi artigos e fiz confe- rancias sobre as varias facetas do movimento crescente dos grupos de encontro. Fazem-me constantemente pergumtas So- bre o que acontece nos grupos, qual a minha maneira de traba- lhar, as implicagdes da totalidade do movimento. Assim, deci- di reunir para publicagao as conferéncias e artigos que fiz, juntamente com material novo escrito para este livro, na espe- ranga de que estimulem uma analise atenta e uma clarificagao das controvérsias relativas a esta inacreditavel corrente em expansao. Como todos os meus livros recentes, este ¢, claramente, um documento pessoal, Nao pretende ser uma analise didatica = Grupos de encontro do assunto, nem um profundo exame psicoldgico ou sociolé- gico dos grupos de encontro, Nao se entrega nem sequer a muita especulacdo sobre 0 futuro dos grupos de encontro, os quais, penso eu, sao uma for¢a suficientemente poderosa para dese- nharem as suas proprias ramificagdes futuras. Este livro foi escrito a partir da experiéncia viva pessoal, e aqueles cujas vidas se descrevem e cujas afirmagées se citam sao pessoas vi- vas e lutadoras. Espero que ele consiga transmitir a minha per- cepgao de uma das mais apaixonantes pesquisas do nosso tempo: a experiéncia intensiva de grupo. E espero que thes yenha a ajudar a familiarizar-se com o que é um grupo de encontro e o que ele pode significar. 1. Origem e objetivos do movimento de grupos O titulo pode parecer estranho. E evidente que houve e hayerd sempre grupos, enquanto o homem sobreviver neste planeta. Mas estou empregando a palavra num sentido particu- lar, o da experiéneia de grupo planejada e intensiva. E, em minha opinido, a invengao social do século que mais rapida- mente se difunde, e provavelmente a mais forte — uma inven- ) que tem varios nomes. Entre os mais freqiientes, -group (“grupo-T”), “grupo de encontro” e “treino de sensibilidade”', Por vezes tais grupos sao conhecidos como laboratérios de relagdes humanas, ou workshops de lideranga, educagdo ou aconselhamento”. Quando se trata de dependentes da droga, 0 grupo é freqiientemente designado por synanon, derivado da organizagao Synanon e dos métodos por ela utilizados. |. Conserva-se a expressio inglesa 7-group, usada correntemente em varias linguas, equivalente ao portugués grupo-T. Traduziu-se sensitivity trai- ning por treino de sensibilidade. (N. do T.) 2. Workshop & uma modalidade de grupo intensivo em que 0 objetivo ¢ geralmente expresso no titulo. Por exemplo: Body awareness and sense of being — weekend workshop. A tradugao literal de workshop seria oficina, mas as conotagdes dessa palavra nao parecem aconselha-lo, pelo que indiferente- mente mantemos a palavra inglesa ou a traduzimos genericamente por “grupo”. (N. do T.) ____ Grupos de encontro Um elemento que torna este fendmeno digno de estudo psicologico é o fato de ter crescido completamente 4 margem do establishment, do oficial. A maioria das universidades ain- da olha para ele com menosprezo. Até ha dois ou trés anos, as fundagdes e agéncias governamentais nao estavam dispostas a subsidiar programas de investigagao neste campo; as profis- sdes oficializadas de psicologia clinica e psiquiatria mantive- ram-se a parte, enquanto a facgao politica da direita esta con- vencida de que ele representa uma firme conspiragaéo comu- nista. Conhe¢o muito poucos movimentos que expressem tao claramente a necessidade e desejo das pessoas, mais do que os das instituigdes. Apesar das press6es contrarias, o movimento brotou e cresceu até infiltrar-se em todo 0 pais e em quase to- das as organizagdes modernas. Como é€ ébvio, ele tem implicagées sociais importantes. Uma parte do objetivo deste capitulo sera examinar algumas das razdes do seu crescimento surpreendentemente rapido e espontaneo, Estes grupos intensivos tém funcionado em intimeras situa- ges diversas. Tém sido realizados nas industrias, universida- des, instituicgées religiosas, nas agéncias governamentais, insti- tuigdes educacionais e penitencidrias. Uma espantosa quantida- de de individuos participou nesta experiéncia de grupo, Tém-se realizado grupos para presidentes de grandes corporagées ¢ grupos para jovens delingiientes e pré-delingiientes. Ha gru- pos compostos de estudantes e professores de universidades, de “conselheiros’’ e psicoterapeutas; de estudantes com dificul- dades escolares, casais, familias, incluindo pais e filhos; de dro- gados identificados, criminosos em cumprimento de penas; de enfermeiras, educadores, professores, diretores escolares, ge- rentes industriais, embaixadores do Departamento de Estado, e mesmo membros do servigo de impostos! A rea geografica atingida por este movimento em rapida expansado estende-se desde Bethel, Maine, até San Diego, na California, e desde Seattle até Palm Beach. Grupos intensivos Origem ¢ objetivos do movimento de grupos =: foram também conduzidos em outros paises, incluindo a In- glaterra, a Franga, a Holanda, a Australia e o Japao. Origem Anteriormente a 1947, Kurt Lewin, um famoso psicélogo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, trabalhando com a sua equipe e com estudantes, desenvolveu a idéia de que 0 treino das capacidades em relagdes humanas era um importante mas esque- cido tipo de educagao na sociedade moderna. O primeiro, entao chamado F-group (T significando training, treino) foi realizado em Bethel, Maine, em 1947, pouco depois da morte de Lewin. Aque- les que trabalharam com ele continuaram a desenvolver os trai- ning groups, Os grupos de treino, nao so enquanto estiveram no MIT*, mas também, mais tarde, na Universidade de Michigan. Os grupos de verao em Bethel tornaram-se famosos. Formou-se uma organizagao, os National Training Laboratories, com escri- torios em Washington, e que desde entao e durante mais de duas décadas se tem constantemente desenvolvido. A primeira ten- tativa dos grupos NTL foi no campo industrial, atingindo admi- nistradores e diretores. Esta orientag4o foi a primeira a desen- volver-se porque a industria podia suportar as despesas desta experiéncia de grupo para o seu pessoal dirigente. j Inicialmente, os grupos adotaram como nome a designa- cio de/Fgroup. Eram grupos de treino das capacidades das relagd¢s-humanas, nos quais se ensinayam os individuos a obser- var a natureza das suas interagdes reciprocas e do processo de grupo. A partir daqui, sentia-se, eles seriam mais capazes de compreender a sua propria maneira de funcionar num grupo e no trabalho, bem como o impacto que teriam sobre os outros, © tornar-se-iam mais competentes para lidar com situagdes interpessoais dificeis. * Massachusetts Institute of Technology. eG GDA Nos FEgroups organizados pelos NTL para a indistria, e gradualmente para muitos campos fora da industria, verificou- se que os individuos viviam freqiientemente experiéncias pes- soais muito profundas de mudanga através da relagao de con- fianga e de interesse que se desenvolvia entre os participantes. Outra fase do movimento da experiéncia intensiva de gru- po desenvolvia-se pela mesma altura na Universidade de Chi- cago. Em 1946 ¢ 1947, imediatamente apés a Segunda Guerra Mundial, eu e os meus colaboradores no Centro de Aconse- Ihamento da Universidade de Chicago estavamos empenhados no treino de conselheiros pessoais para a Administragao dos Ve- teranos. Pediram-nos para criar um curso de treino, curto po- rém intensivo, que prepararia esses homens — todos com o grau de professor, pelo menos — para serem conselheiros pessoais eficazes no tratamento de problemas dos GI regressados. A nossa equipe sentiu que nenhum treino intelectual poderia pre- pard-los, por isso tentamos uma experiéncia de grupo intensi- va na qual os participantes se reuniam durante varias horas por dia, a fim de se compreenderem melhor a si proprios, de se tornarem conscientes das atitudes que poderiam ser causas de fracasso na relagao de aconselhamento, e de se relacionarem uns com 0s outros por formas que pudessem vir a ser de ajuda e que se pudessem transpor para o trabalho de aconselhamen- to. Era uma tentativa para ligar a aprendizagem experiencial com a cognitiva, num processo que tinha valor terapéutico para os individuos. Forneceu muitas experiéncias profundas e signi- ficativas aos participantes, e foi tao bem sucedida na seqiiéncia de grupos de “conselheiros” pessoais que, desde entao, a nossa equipe diretiva continuou a usar 0 processo nos grupos de verao. O nosso grupo de Chicago nao fez nenhuma tentativa para desenvolver esta direcdo, e merece ser mencionado tio-s6 porque as formas, de certo modo diferentes, representadas na experién- cia de Chicago se integraram gradualmente em todo o movimen- to que implicava a experiéncia intensiva de grupo. Os grupos de Chicago orientaram-se, fundamentalmente, para o crescimento Origem e objetivos do movimento de grupos — pessoal) desenvolvimento e aperfeigoamento da comunicagao e relagdes interpessoais, em vez de serem estes os seus objeti- vos secundarios. Tinham também uma orientagao experiencial e terapéutica maior do que a dos grupos originados em Bethel. Através dos anos, esta orientacdo para o crescimento pessoal e ierapéutico fundiu-se com o processo do treino de capacidades em relagdes humanas e ambos em conjunto formam o nucleo do movimento que se espalha hoje rapidamente por todo 0 pais. Os alicerces conceptuais de todo este movimento foram inicialmente, por um lado, o pensamento lewiniano e a psicolo- gia gestaltista e, por outro, a terapia centrada no cliente. Recen- temente, muitas outras teorias e influéncias tém desempenha- do o seu papel. Modalidades e formas diferentes A medida que o interesse pela experiéncia intensiva de grupo e pela sua utilizagio cresceu, se disseminou e multipli- cou, desenvolveu-se uma vasta gama de modalidades. A lista que se segue, com as suas breves frases descritivas, simplifica certamente demasiado a situacdo, mas pode fornecer alguma idéia da grande diversidade de aspectos que envolve. E-groups (grupos-T) — Como acima indicamos, tendia origi- nalmente a acentuar as capacidades de relagdes humanas, porém tornou-se de perspectivas muito mais vastas. Grupo de encontro (ou grupo de encontro basico) — Este pre- tende acentuar o crescimento pessoal e o desenvolvimen- to e aperfeigoamento da comunicagao e relagdes interpes- soais, através de um processo experiencial. Sensitivity training group (grupo de treino de sensibilidade) — Pode assemelhar-se a qualquer dos que estado acima. Task oriented group (grupo centrado na tarefa) — Largamente aplicado na industria, Centra-se na tarefa de grupo e no seu contexto interpessoal. 6 Grupos de encontro Sensory awareness groups, body awareness groups, body .2* movement groups (grupos de percepgdo sensorial, grupos de percep¢ao corporal, grupos de movimento corporal)’ — Como 0s respectivos nomes indicam, estes tendem a acen- tuar a percepgao fisica ¢ a expresso, através do movimen- to, danga esponténea e outras formas semelhantes. Creativity workshops (grupos de criatividade) — Aqui 0 nicleo é freqiientemente constituido pela expressao criadora, atra- vés dos varios meios da arte, sendo o objetivo a esponta- neidade individual e a liberdade de expressao. Organizational development group (grupo de desenvolvimento da organizagdo) — O objetivo principal é desenvolver a ca- pacidade de lideranga. Team building group (grupo de formacao de equipe) — Usado na industria para desenvolver maiores lagos de uniao e equipes de trabalho eficazes. Gestalt group (grupo gestaltico) — Baseia-se numa perspectiva terapéutica gestaltista, em que um terapeuta experiente se centra num individuo de cada vez, porém sob um ponto de vista diagndstico e terapéutico’. Grupo synanon ou “game” — Desenvolvido pela organizagao Synanon para o tratamento de drogados. Tende a utilizar um ataque quase violento as defesas dos participantes. Como complemento desta lista parcial, poder-se-iam men- cionar algumas das diferentes formas que se podem encontrar. Existem “grupos de estranhos” (stranger groups), compostos por indiyiduos desconhecidos uns dos outros. Ha grupos de ipo de experiéncias de grupo tem sido principalmente ensaiado e difundido pele Eoalen Institutesde lg Sur, Culifseniadindoi) 4. O grupo gestiltico e a terapia gestaltica foram introduzidos por Frederick Perl, Em Gestalt Therapy now (org. por Joen Fagan e Irma L, Shepherd), Science and Behavior Books. inc., Palo Alto, California, 1970, pode encontrar-se uma 05, téenicas ¢ aplicagdes da terapia ges- apresentagao recente dos aspectos ted taltica. (N. do T.) Origem e abjetivos do movimento de grupos membros diretivos de uma organizagao, pessoas associadas na vida diaria na industria, na educagdo, ou em tudo o que possa ser o seu local de trabalho. Ha grandes workshops ou labs (la- boratérios) nos quais alguns pequenos grupos podem ser con- duzidos simultaneamente, cada qual mantendo a sua propria continuidade, enquanto, freqiientemente, todo 0 workshop se junta para alguma experiéncia comum, tal como uma conferén- cia ou outra sessao tedrica. Ha também grupos de casais, nos quais os casais se retinem com a esperanga de se ajudarem uns aos outros a melhorar as relagdes conjugais. Um progresso re- cente é 0 “grupo de familia” (family group) em que varias fa- milias se juntam num grupo, aprendendo os pais com os pro- prios filhos e com os filhos dos outros e vice-versa. Depois, ha diferencas no elemento tempo. A maior parte dos grupos encontra-se intensivamente durante um fim de se- mana, uma semana ou varias semanas, Em alguns casos, as ses- ses de grupo realizam-se uma ou duas vezes por semana. Ha também grupos “maratona”, que se reinem continuamente du- rante vinte e quatro horas ou mais*. Linhas comuns O fato de se descrever simplesmente a diversidade neste campo leyanta, e muito a proposito, a questio de saber por que razio devem ser estes varios processos considerados como per- tencentes a um todo, Existe alguma linha comum a todas estas atividades e aspectos amplamente divergentes? A mim parece- ine que esto realmente ligados e podem considerar-se todos como convergindo na experiéncia intensiva de grupo. Tendem 5. Menciona-se de passagem que as nude marathons (maratonas nuas), nas (uuis as pessoas podem despir-se, tem tido uma enorme publicidade, embora vonstituam certamente menos de um décimo de um por cento das experiéncias intensivas de grupo. Bo Grupos de enconiro todos a ter certas caracteristicas externas semelhantes. Em qua- se todos os casos, 0 grupo é pequeno (de oito a dezoito mem- bros), relativamente nao estr' do, escolhendo os préprios objetivos e diregdes pessoais. Ainda que nem sempre, a expe- riéncia inclui freqiientemente alguma informacdo tedorica — qual- quer assunto concreto que é apresentado ao grupo. Em quase to- dos os casos a responsabilidade do lider é, em primeiro lugar, " a facilitagio da expressao. dos sentimentos ¢ pensamentos por parte dos membros do grupo. Tanto no lider como nos mem- bros, existe uma concentrag&o no processo e na dinamica das interagdes pessoais imediatas. Sao estas, segundo creio, algumas das caracteristicas de identificagao mais facilmente reconheciveis. Ha também certas hipoteses praticas que tendem a ser co- muns a todos estes grupos, e que se podem formular de varias maneiras. Eis uma formulacao: Um facilitador* pode desenvolver, num grupo que se reine intensivamente, um clima psicologico de seguranga no qual a liberdade de expressio e a redugao de defesas progressiva- mente se verifiquem. Em tal clima psicolégico, muitas das reagdes imediatas de cada membro em relagao aos outros, e de cada membro em re- lagao a si proprio, tendem a expressar-se. Desenvolve-se, a partir desta liberdade mutua de expres- © sar os sentimentos reais, positivos e negativos, um clima de con- fianca mtitua. Cada membro caminha para uma maior aceitagdo do seu ser global — emotivo, intelectual e fisico — tal como ele é, incluindo as suas potencialidades. Com individuos menos inibidos por rigidez defensiva, a possibilidade de mudanga em atitudes e comportamentos pes- * Por vezes chamado lider, animador ou treinador (trainer), Rogers designa- o geralmente por facilitador. Por isso se manteve a tradugdo “facilitador”, pouco corrente na nossa lingua, mas que é para Rogers a pessoa que cria condigées para que s¢ desencadeiem ¢ se desenvolyam os processos de crescimento da pessoa, do grupo ou das organizagées. (N, do T.) Origem e objetivos do movimento de gnipos Bes soais, em métodos profissionais ou em processos e relagdes administrativos, torna-se menos ameagadora. Com a redugao da rigidez defensiva, os individuos podem ouvir-se uns aos outros e aprender uns dos outros, em maior escala. Ha um movimento de feedback* de uma pessoa para a outra, de tal modo que cada individuo aprende de que maneira € visto pelos outros e que efeito tem nas relagdes interpessoais. Coma maior liberdade e 0 aumento de comunicagao, emer- gem novas idéias, novos conceitos, novas diregdes. A inova- cao pode tornar-se desejavel, em vez de ser uma possibilidade ameagadora. Esta aprendizagem da experiéncia de grupo tende a trans- por-se, temporaria ou mais duradouramente, para as relagoes. com cOnjuges, criangas, estudantes, subordinados, colegas ¢ Embora esta descrigao dos aspectos basicos da experién- cia se adapte provavelmente 4 maioria dos grupos, aplica-se menos em situagdes como a terapia gestaltica, e noutros gru- pos em que o lider é mais ativo e mais manipulador. Deve notar-se que 0 estilo do lider e os seus proprios con- ceitos do processo de grupo tém grande importancia na condu- gao da experiéncia de grupo. Contudo, tem-se verificado que, hos grupos sem lider em que os individuos simplesmente se en- contram intensivamente, sem ninguém a quem se chame facili- tador ou lider, o processo que ocorre é semelhante 4 descricao dada. Por isso, deve dizer-se que as suas variagdes dependem, a maior parte das vezes, do estilo ou ponto de vista do facilita- dor ou lider. * A palavra feedback é geralmente utilizada neste sentido para significar lo que uma pessoa provoca nos outros, Fornecer feedback ¢ exprimir a outro a maneira como o estou percebendo e sendo afetado por ele. O termo é usado em cibernética e tem sido incorporado pelas ciéncias humanas ¢ biolé- jricas. (N. do T.) wo i aes Grupos de encontro O pracesso de grupo No capitulo seguinte tentarei dar uma imagem um tanto pormenorizada do processo de grupo, mas aqui sera mais apro- priada uma visao breve e geral. Devido a natureza nao estruturada do grupo, o maior pro- blema que se apresenta aos participantes € a maneira como vao passar o tempo juntos — quer sejam dezoito horas de um fim de semana, quer quarenta ou mais horas num grupo de uma semana. Freqiientemente existem, a principio, surpresa, ansie- dade e irritagao sobretudo devidas a falta de estrutura. Somente aos poucos se torna evidente que o objetivo principal de qua- se tode membro é encontrar caminhos para a relagao com os outros membros do grupo e consigo proprio. Depois, a medida que, gradualmente, por tentativas e timidamente, exploram os sentimentos e atitudes de uns para com os outros e para consi- go préprios, torna-se cada vez mais evidente que 0 que mostra- ram a principio eram fachadas, mascaras. Somente com muita cautela emergem sentimentos verdadeiros e verdadeiras pes- soas. O contraste entre a concha exterior e a pessoa interior tor- na-se cada vez mais claro 4 medida que as horas passam. Pou- co a pouco, constrdi-se uma sensagdo de comunicagio auténti- ca, e a pessoa que até entao esteve isolada dos outros mostra um pouco dos seus verdadeiros sentimentos reais. Habitual- mente, a sua atitude é a de que aquilo que verdadeiramente sen- te deve ser completamente inaceitavel pelos outros membros do grupo. Para seu espanto, descobre que é tanto mais aceita quanto mais verdadeira se torna. Freqiientemente, receiam-se os sentimentos negativos em especial, quando cada individuo jul- ga que a cOlera ou o citime nao podem, provavelmente, ser acei- tos pelo outro. Assim, uma das evolugdes mais freqiientes ¢ 0 sentimento de confianga, que comega lentamente a construir- se, € também um sentimento de calor humano e simpatia pelos outros membros do grupo. Diz por exemplo uma mulher no do- mingo a tarde: “Se alguém me dissesse, na sexta-feira 4 noite, Origem e objetivos do movimento de grupos — W que hoje eu gostaria de cada um dos membros deste grupo, ter- lhe-ia dito que nao devia estar bom da cabega.” Os participan- tes sentem uma aproximagao e intimidade que nunca sentiram, nem mesmo com os respectivos cénjuges ou membros da fami- lia, porque se revelaram aqui de um modo muito mais fundo e completo do que com as pessoas do seu circulo familiar. Assim, num grupo destes, o individuo acaba por se conhe- cer a si proprio e a cada um dos outros mais completamente do que o que lhe é possivel nas relagdes habituais ou de trabalho. Toma conhecimento profundo dos outros membros e do seu eu interior, o eu que, de outro modo, tende a esconder-se por detras da fachada. A partir daqui, relaciona-se melhor com outros, nao s6 no grupo mas também mais tarde, nas diferentes situagdes da vida de todos os dias. Por que a rapida difuséo? Atualmente, seria dificil encontrar um meio nas grandes cidades do nosso pais onde nao fosse possivel alguma forma de experiéncia intensiva de grupo. Tem sido inacreditavel a rapi- dez da difusao do interesse por ela. HA mais ou menos um ano, quando falei a um grande auditério numa cidade do oeste, per- guntei ao responsavel pela organizagao da sessdo qual a pro- porgao da assisténcia que poderia ter tido qualquer experiéncia num grupo de encontro ou coisa semelhante. Deu-me como resposta: “Menos do que um tergo.” Depois de fazer uma breve descrigao de um grupo e das suas varias designagdes, pedi para que aqueles que tivessem experimentado um grupo levantassem a mao. Aproximadamente trés quartos do auditério de mil e duzen- las pessoas levantaram a mao. Tenho a certeza de que, ha dez anos, dificilmente cinqiienta pessoas teriam respondido assim. Um fator que torna a rapidez da difusdo ainda mais notd- vel é a sua espontaneidade total e nao organizada. Contraria- mente as estridentes yozes das direitas (que iret mencionar mais 2 _ Grupos de encontro abaixo), isto nao foi uma “conspiragao”. Muito pelo contrario. Nenhum grupo ou organizagao promoveu 0 desenvolvimento dos grupos de encontro. Nao houve nenhum financiamento pa- ra esta expansao, quer de findagdes quer de governos. Muitos psi- célogos e psiquiatras ortodoxos desaprovaram este desenvol- vimento. Contudo, apesar disto, em igrejas, colégios, growth centers (centros de desenvolvimento) e na indistria, o ntimero de grupos floresceu. Foi um pedido espontaneo, de pessoas que estavam claramente a procura de qualquer coisa. Como exem- plo, alguns dos membros da diregao do nosso Center for Studies of the Person (Centro de Estudos da Pessoa) conduziram um programa de verao para treino de facilitadores de grupo ou li- deres. Numa parte do programa deram a oportunidade a pares de participantes de “co-liderarem” dois grupos em fins de se- mana sucessivos. Para conseguirem participantes para estes gru- pos enviaram anuncios pelo correio a uma pequena lista de pessoas, quase todas na area de San Diego. A este respeito nao houve nenhuma publicidade paga nem sequer noticias nos jor- nais. O unico incentivo nao usual era o fato de os participantes terem de pagar apenas a inscrigdo, a alimentagdo e 0 quarto. Nao havia o encargo de gorjeta, dado que se declarava aberta- mente que os animadores eram pessoas ainda em formagao. Inicialmente calculei que, com tao pouca publicidade, nao con- seguiriam inscrever um numero adequado de pessoas. Para meu espanto, inscreveram-se seiscentas pessoas para o primeiro fim de semana e oitocentas para o segundo, Isto indica uma necessi- dade espontanea enraizada, de forga e proporgdes inacreditaveis. O que explica a rapida difusdo dos grupos? A enorme ne- cessidade deles? Creio que o terreno de onde brota esta necessi- dade possui dois elementos: 0 primeiro é a crescente desumani- zacao da nossa cultura, onde a pessoa nado conta — apenas 0 seu holerite ou o numero do Seguro Social. O tom impessoal per- corre todas as instituigdes da nossa terra. O segundo elemento é que somos suficientemente ricos para dar atengao as nossas ne- cessidades psicoldgicas. Enquanto estou interessado na renda 13 Origem e objetivos do movimento de grupos do proximo més, nao tenho consciéncia aguda da minha soli- dao. Isto nasceu da minha experiéncia, devido ao fato de o inte- resse nos grupos de encontro e similares nao ser nem por som- bra tao intenso nas zonas de gueto como nos extratos da popu- lagdio menos preocupada com as necessidades materiais da vida. Mas qual a necessidade psicologica que atrai as pessoas para os grupos de encontro? Creio que seja uma fome de qual- quer coisa que a pessoa nao encontra no seu ambiente de tra- balho, na sua igreja, e com certeza também nao na sua escola ou universidade, nem mesmo, infelizmente, na moderna vida de familia. E uma fome de relagdes proximas e verdadeiras, em que sentimentos e emogées se possam manifestar esponta- neamente, sem primeiro serem cuidadosamente censurados ou dominados; em que experiéncias profundas — decepgoes e ale- grias — se possam mostrar; em que se arrisquem novas formas de comportamento e se levem até ao fim; em que, numa pala- vra, a pessoa atinja a situagao em que tudo é conhecido e aceito, sim se torne possivel uma maior evolugao. Parece ser esta a fome poderosa que se espera satisfazer através das experién- cias num grupo de encontro. e Medo criado pelo movimento Todos os tipos de experiéncia intensiva de grupo foram su- jeitos aos mais virulentos ataques das direitas e dos grupos rea- ciondrios. Para eles, é uma forma de “lavagem cerebral” e de “controle do pensamento”. Simultaneamente uma conspiragao comunista e uma manobra nazista. As declaragGes que se fize- ram sao totalmente absurdas e freqtientemente contraditérias. Deve dizer-se que 0 movimento é muitas vezes apontado como sendo um dos maiores perigos que ameagam 0 nosso pais. Como é€ normal nestes ataques, ha uma pequena parte de afirmagOes verdadeiras aliadas a conclusées assustadoras e com insinuagées. Assim, o Congressista Rarick leu, no Congressio- “4 Grips de enconiro nal Record, de 19 de janeiro de 1970, um ataque de Ed Dieck- mann, Jr,, intitulado, “Sensibilidade Internacional — uma Rede para o Controle Mundial”. Uma das partes mais moderadas, ilustrativa da técnica, é a seguinte: Em 23 de setembro de 1968, a entao presidente do NEA, Elizabeth D. Koontz (...) disse (...) “O NEA tem um programa multifacetado dirigido ja para 0 problema escolar urbano, abrangendo todas as fases, desde o programa Headstart até o treo de sensibilidade para adultos — professores e pais.” Ela revelou, assim, o verdadeiro objetivo: envolvimento de toda a comunidade num gigantesco laboratério de grupos, exata- mente como no Vietna do Norte, Russia e China Comunista. E esclarecedor saber que a mesma Elizabeth Koontz, a pri- meira presidenta negra do NEA, é um conhecido membro da administragaéo do SIECUS, o infame “Sex Information & Edu- cation Council of the U. S.”, nomeada pelo Presidente Nixon, no principio deste ano, Diretora da Divisio Feminina do Depar- tamento de Trabalho! Simultaneamente com o ataque daquilo que temos de consi- derar “persuasao coerciva ou lavagem cerebral”, foi anunciado em fevereiro ultimo, pela Universidade de Nova York, um diplo- ma de professor em treino de sensibilidade; seguida pela Uni- versidade de Redlands, na California, em maio, com a declaragao™ retumbante de que também comega um ST neste verfio — e que sera obrigatorio! Faz-se aqui uma citacao de boa fé - bastante significativa — para servir de base a afirmagGes absolutamente infundadas e a uma insinuagao vagamente arrepiante. Outro articulista das direitas, Alan Stang, em Review of the News de 9 de abril de 1969 (p. 16), pergunta aos seus leitores 0 seguinte: “Ao submeter os nossos professores ao “treino de sen- sibilidade’, nao estaremos preparando-os para o controle dita- torial que é a esséncia do nazismo e do socialismo?” Um outro artigo, de Gary Allen, em American Opinion, orgao oficial da IS. Origem e objetives do movimento de grupos Sociedade John Birch (janeiro, 1968, p. 73), contém a sua mensagem no titulo: “Terapia do Odio: Treino de Sensibilidade para a mudanga planejada”. Afirma que o treino de sensil dade esta “(...) agora sendo promovido em todo o pais pelas forgas habituais da conspiragao da esquerda”. Poderiamos continuar citando declaragSes muito mais extre- mistas, que surgem em profusao da extrema direita. E bem cla- ro que os grupos de sensibilidade, os grupos de encontro e qual- quer outra forma de experiéncia intensiva de grupo sao para cles o pesadelo da sociedade americana. Num estudo cuidadosamente documentado, James Harmon conclui que é claramente evidente que nas direitas ha uma gran- de proporgao de personalidades autoritarias*. Tendem a acreditar que o homem €, por natureza, essencialmente mau. Cercados, como todos nds estamos, pela grandeza das forgas impessoais que parecem fugir ao nosso controle, procuram o “inimigo”, podendo assim odia-lo, Em diversas é¢pocas da histéria, “ini- migo” foi a bruxa, o deménio, o comunista (lembram-se de Joe McCarthy?) e é agora a educacao sexual, treino de sensibilida- de, “humanismo nao-religioso” e outros deménios correntes. A minha explicagao esta mais na linha da segunda conclu- sio de Harmon. Expondo-a com palayras minhas, os grupos de encontro conduzem a uma maior independéncia pessoal, a me- ntimentos escondidos, maior interesse em inovar, maior oposicao a rigidez institucional. Por isso, se uma pessoa receia, sob qualquer forma, a mudanga, receia justamente os grupos de encontro. Eles produzem a mudanga construtiva, tal como sera evidente nos capitulos que se seguem. Por isso, todos os que se opéem 4 mudanga serao tenaz e até violentamente contrarios 4 experiéncia intensiva de grupo. nos 6, James E, Harmon, “Ideological Aspects of Right-Wing Critics of the Intensive Group Experience”. Artigo nao publicado, escrito para um seminirio, 16 Grp de encontr Conclusao Esforcei-me por colocar numa perspectiva histérica 0 agi- tado desenvolvimento ¢ uso da experiéncia intensiva de grupo, esbocando resumidamente algumas das formas e modalidades que correntemente se observam. Tentei indicar os elementos humanizantes que tendem a caracterizar os grupos, sugeri uma possivel explicagao para o rapido crescimento desta corrente ¢ por que é ela tao receada por aqueles que se opdem a mudanga. Estamos prontos para examinar agora, a uma distancia mais proxima, o que tende a acontecer num grupo destes. 2. O processo do grupo de encontro' O que se passa realmente num grupo de encontro? Eis uma pergunta freqtiente em pessoas que admitem a hipétese de par- ticipar de um ou que se sentem confusas com as afirmagées de quem jd passou por essa experiéncia. Também para mim tem Muito interesse a questao, ja que tenho tentado aperceber-me de (juais sao os elementos comuns na experiéncia de grupo. Conse- gui distinguir, obscuramente pelo menos, alguns dos modelos c fases que um grupo parece atravessar, e descrevé-los-ei 0 me- Ihor que puder. A minha formulagdo é simples e naturalista. Nao vou ten- lar construir uma teoria abstrata de alto nivel’, nem desenvol- 1, Muito do material deste capitulo foi publicado de forma abreviada num capitulo de Challenges of Humanistic Psychology, organizado por J. F. T. Bugental (Nova York: McGraw Hill Book Company, 1967), ¢ também em Pyvehology Today, vol. 3, n° 7 (dezembro, 1969). 2. Jack ¢ Lorraine Gibb trabalharam bastante tempo numa andlise de de- senvolvimento da confianga como a teoria essencial do proceso de grupo. Ou- {ros que contribuiram de modo significativo para a teoria do processo de grupo foram Chris Argyris, Kenneth Benne, Warren Bennis, Robert Blake, Dorwin Cartwright, Mathew Miles. Amostras do pensamento destes ¢ outros podem ehcontrar-se nos seguintes livro: coup Theory and Laboratory Method, edi- gio organizada por Bradford, Gibb ¢ Benne (Nova York: John Wiley and Sons, 1964); The Planning of Change, edigao organizada por Bennis, Benne and Chin 1 __ Grupos de encontro ver interpretagdes profundas sobre os motivos do inconsciente ou sobre a psicologia de um grupo em desenvolvimento, Nao me ouvirao falar de mitos de grupo, nem mesmo de dependén- cia e contradependéncia. Nao me sinto a vontade com tais in- feréncias, por corretas que possam ser. Neste nivel de conhe- cimento, quero apenas descreyer os fatos observaveis € 0 mo- do como, para mim, eles parecem agrupar-se. Fazendo-o, estou apoiando-me na minha experiéncia pessoal e na de outras pes- soas com quem trabalhei, em material escrito sobre este tema, nas reagoes escritas de individuos que participaram de tais gru- pos e, até certo ponto, em gravagdes de sessdes de grupo que s6 agora come¢am a ser interpretadas ¢ analisadas. Quando considero as interagdes extremamente complexas que surgem no decorrer de vinte, quarenta, sessenta ou mais horas de sessdes intens , creio descobrir certas linhas que se entrecruzam no conjunto. Algumas destas correntes ou tendén- cias costumam revelar-se cedo, outras mais tarde, nas sessoes de grupo, porém nao ha uma seqiiéncia perfeitamente defini- da, na qual termina uma e comeca outra. Imagina-se melhor a interacao, ereio, como uma rica & variada tapegaria, di ferindo de grupo para grupo. embora com certas espécies de tendén- cias evidentes na maior parte destes encontros intensivos e com certas estruturas que tendem a preceder outras. Eis algumas das formas do processo que vejo desenvolver-se, sumariamen- te descritas em palavras simples, ilustradas com gravagdes ¢ descrigdes pessoais, apresentadas numa ordem de seqiiéncia pouco elaborada: (Nova York: Holt, Rinehart and Winston, 1961); ¢ Interpersonal Dynamics, edi- cio organizada por Bennis, Schein, Berlew ¢ Steele (Homewood, III: The Dorsey Press, 1964). Assim, existem muitas correntes promissoras para @ construgo teo- rica que envolve um consideravel grau de abstracao, Este capitulo tem uma fina- lidade mais elementar: uma descrigio naturalista do process. O processe do grupo de encontro |. Fase de hesitagao, de andar a volta (milling around)* Quando o lider ou facilitador esclarece, logo de inicio, que se trata de um grupo com liberdade invulgar, e nao um daque- Jos em que ele tomara a responsabilidade de dirigir, ha tendéncia para seguir-se um periodo inicial de confusao, de siléncio em- baragoso, de comunicagao cerimoniosa e superficial, “conver- sa de sala”, frustrac’io e grande descontinuidade. Os individuos apercebem-se de que “nao ha aqui nenhuma estrutura, a nado er que organizarmos. Nao sabemos os objetivos, nem mes- mo nos conhecemos, ¢ teremos de permanecer juntos durante bastante tempo”. Nesta situagao, so naturais a confusio ea frus- trago. Para o observador, sao dbyios os hiatos nas expressOes jnuividuais, A apresentara uma proposta ou assunto, esperando obyiumente por uma resposta do grupo. B certamente permane- cou A espera da sua vez e langa-se num assunto completamen- le diferente, como se nunca tivesse ouvido A, Alguém faz uma supestio simples, por exemplo: “Penso que deviamos apresen- lwynos”, e isto pode originar horas de discussao muito compli- cada, em que as questdes subjacentes parecem ser: “Quem nos dir 0 que hayemos de fazer? Quem é responsavel por nds? Qual 0 objetivo deste grupo?” ). Resistencia a expressdo ou exploragao pessoais Durante o periodo de hesitagao, alguns individuos revela- ilo, provavelmente, atitudes bastante pessoais. Isto tende a pro- vocar uma reagio muito ambigua entre os outros membros do grupo. Mais tarde, um deles ira escrever a respeito da sua ex- periéncia: “Ha em mim um ‘eu’ que revelo ao mundo, e outro que conhego mais intimamente, Com outros, procuro most me competente, sabedor, descontraido, despreocupado. Para 4, Milling around & uma expressio muito utilizada nos grupos de encontro, na fase inicial, Traduziv-se indiferentemente por hesitar, andar 4 volta. (N. doT.) ee Grupos de encontro concretizar esta imagem, agirei de um modo que, mais tarde ou mais cedo, ira soar falso e artificial, ou ‘ao meu nao-verda- deiro eu’. Ou guardarei para mim pensamentos que, revelados, denunciariam um eu imperfeito. “OQ meu eu interior, contrastando com a imagem que apre- sento ao mundo, é muito inseguro. O valor que atribuo ao meu eu interior esta sujeito a muitas flutuagdes & depende muito do modo como os outros reagem 4 minha pessoa. Por vezes, este meu eu intimo sente-se inutil.” E 0 eu exterior que os membros tém tendéncia para mos- trar, e sO gradual, timida e ambiguamente vao revelando algo do eu intimo. Num workshop intensivo, pediu-se logo no inicio, aos mem- bros, que descrevessem, anonimamente, um sentimento ou sen- timentos que tivessem e nado estivessem dispostos a revelar ao grupo. Um dos homens escreveu: “Nao me abro facilmente com as pessoas. Tenho uma fa- chada quase impenetravel. Nada consegue ferir-me, mas nada sai, também. Reprimi tantas emogdes que estou a beira da este- rilidade emocional. Esta situagao nao me torna feliz, mas nao sei o que fazer.” Este individuo vive, nitidamente, numa cela isolada, mas, a nao ser desta forma disfargada, nem mesmo ousa procurar auxilio. Num grupo recente, quando um participante, um homem, comegou a expressar a preocupagao que sentia devido a uma dificil situag’o em que se encontrava com a mulher, logo outro © interrompeu, dizendo apenas: “Tem a certeza de que quer con- tinuar a contar isto, ou nao estara sendo levado pelo grupo a dizer mais do que pretende? Como sabe que o grupo merece confianca? Como se sentira quando chegar em casa € disser 4 sua mulher o que revelou, ou quando resolver ocultar-Iho? E que niio é seguro ir mais longe.” Era claro que, com este aviso, o segundo membro manifestava 0 seu proprio receio de se re- velar, e a sua falta de confianga no grupo. 21 O proceso do grupo de encontro 3. Descrigéo de sentimentos passados A despeito da ambivaléncia quanto a confianga no grupo e ao risco de se abrir, a expressaio de sentimentos comega efetiva- mente por abranger uma parte cada vez maior da discussao. O diretor conta como se sente frustrado com certas situa- cdes na sua industria; a dona de casa fala dos problemas que tem com os filhos. Um didlogo gravado com uma freira catéli- ca romana, no inicio de um grupo de fim de semana, quando a conversa se transformou numa discussao bastante intelectuali- zada sobre a célera: Bill: — Que acontece quando se enfurece, Irma, ou isso nunca acontece? Irma: — Sim... acontece. E, quando acontece, cu quase me transformo, bem, o tipo de pessoa que me irrita é aquela que parece ser insensivel &s pessoas — considero a nossa superiora desse tipo porque é uma mulher muito agressiva e tem as suas proprias idéias sobre o que deviam ser os regulamentos num colégio; e essa mulher pode por-me fora de mim; pode fazer-me perder a cabega. E exatamente isto. Mas entao acho, eu... Faeilitador*; — Mas 0 qué, 0 que vocé faz? Irma: — Acho que, em situagdes assim, reajo num tom cor- tante, ou me recuso a responder — “Pronto, ¢ esta a maneira de ser dela” — Penso que nunca fiquei furiosa. Joe: — Voce mete-se para dentro — nao adianta discutir. Facilitador: — Disse que fala num tom aspero. Com ela ou com outras pessoas com quem mantém contato? Irma: — Oh, nao! Com ela. Este é um exemplo tipico de uma descrigdo de sentimentos que, de certo modo, sao evidentemente freqtientes nela, mas que cla situa no passado ¢ descreve como exteriores ao grupo, no lempo e no espago. E um exemplo de sentimentos “entao e ali”. 4, Ver nota ap. 8 ts Grupos de encontro 4. Expressado de sentimentos negativos Curiosamente, a primeira expressio de sentimentos de ideiro significado “aqui e agora” tem tendéncia para surgir em atitudes negativas em relagao a outros membros do grupo ou ao lider. Num grupo em que, ao fim de algum tempo, os membros se apresentavam uns aos outros, uma mulher recu- sou-se a fazé-lo, alegando que preferia ser conhecida pelo que era no grupo, a sé-lo em termos da sua classificagao no exte- rior. Pouco depois, um homem do grupo atacou-a vigorosa e severamente por esta atitude, acusando-a de nao conseguir coo- perar, de se manter afastada, de ser irracional. Foi o primeiro sentimento pessoal atual que se manifestou nesse grupo. Freqiientemente, o lider é atacado por nao conseguir im- primir uma orientagao conveniente. Exemplo nitido disto se en- contra numa gravacdo de uma das primeiras sessdes com um grupo de delingiientes, em que um dos membros grita para o li- der: “Vocé vai ver-se aflito se nao nos dominar mesmo desde o principio. Deve manter a ordem aqui porque ¢ mais velho, E isso © que se espera de um professor. Se nao o fizer, criaremos pro- blemas e nao conseguira fazer nada (e, referindo-se a dois ra- pazes do grupo que discutiam violentamente, continuou): Po- nha-os na rua, expulse-os! Vocé tem mesmo que nos manter em ordem! Um adulto manifesta 0 seu desagrado por pessoas que fa- lam demais, mas dirige a sua irritagdo contra o lider. “Apenas nado consigo entender por que é que nao ha ninguém que os mande calar, Eu ja teria agarrado Gerald e 0 atirado pela janela. Sou um autoritario. Ja lhe teria dito que fala demais e que teria de abandonar a sala. Na minha opiniao, uma discussio de grupo deve ser orientada por uma pessoa que jamais admita que haja pessoas Como essas, que interrompam mais de oito vezes.”” ve 5, 1, Gordon, Group-Centered Leadership (Boston: Houghton Mifflin & o,, 1955), p. 214 6, Ibid, p. 210. O proceso da grupo de encontro 23 Por que serao as expressOes negativas os primeiros senti- mentos atuais a manifestar-se? Poder-se-iam dar algumas res: postas especulativas. E uma das melhores maneiras de avaliar a liberdade e a confianga do grupo. Sera o grupo realmente um lugar em que posso ser eu proprio e exprimir-me positiva ¢ nega- tivamente? Sera um lugar realmente seguro, ou me arrependerei? Outra razao, diferente, é que os sentimentos profundos positivos do muito mais dificeis e perigosos de exprimir do que os negati- vos. Se digo que te amo fico vulnerdvel ¢ exposto 4 mais terrivel rejeicio. Mas, se digo que te detesto, fico quando muito sujeito a um ataque de que posso defender-me. Sejam quais forem as razOes, estes sentimentos negativos tendem a ser o primeiro mate- rial “aqui e agora” a aparecer. dio e exploragéo de material com significado pessoal J. Expr Pode parecer estranho que, depois de tais experiéncias ne- gativas, como a confusdo inicial, a resisténcia 4 expressao pes- soal, a insisténcia em acontecimentos exteriores e a manifesta- ciio de sentimentos de critica ou irritagdo, muito provavelmente se siga a revelagao de um individuo ao grupo de modo signifi- cativo. A justificagao disto esta, sem dtiv ida, no fato de o indivi- duo ter chegado a conclusao de que se trata, de certo modo, do seu grupo. Ele pode ajudar a fazer dele o que deseja. Ja yeri- ficou que os sentimentos negativos foram expressos € aceitos ou assimilados sem resultados catastrdficos. Compreende que ha uma liberdade aqui, embora uma liberdade arriscada. Co- mega a desenvolver-se um clima de confianga. Assim, ele principia a arriscar e a apostar em deixar que o grupo conhega algumas das suas facetas mais intimas. Um conta a situagao dificil em que se encontra, sentindo que é impossivel qualquer comunicagio entre ele e a mulher. Um padre fala da zanga que reprimiu pelo tratamento injusto de um dos seus superiores, O que deveria ter feito? O que podera fazer agora’? Um cientista, diri- gente de um grande departamento de investigagao, encontra cora- 2. a: ee a Grupos de encontro gem para falar do seu doloroso isolamento, para contar ao grupo que nunca na vida teve um unico amigo. Ao terminar, deixa cair algumas lagrimas de autocompaixao que, estou certo, contive- ra por muitos anos. Um psiquiatra conta o sentimento de culpa que sente pelo suicidio de um dos seus doentes. Um homem de quarenta anos confessa-se completamente incapaz de se liber- tar da influéncia da mae, extremamente po iva, Comecou um processo a que um membro do workshop chamou “viagem ao centro do eu”, processo freqiientemente muito doloroso. Encontra-se um exemplo gravado de uma analise dessas numa declaracaéio de Sam, membro de um grupo de fim de se- mana. Alguém falara da sua forga. Sam: — Talvez eu nao me aperceba ou o sinta desse modo, como forga (pausa). Creio que, quando estava falando com vo- cé, Tom, julgo que no primeiro dia, manifestei entao a verda- deira surpresa que tivera da primeira vez que percebi que podia atemorizar alguém —na verdade, era uma descoberta que eu co- mo que tinha de encarar, sentir e aprender, vé bem, era de fato algo totalmente novo para mim. Estava tio habituado 4 sensa- cao de me sentir atemorizado pelos eurros, que jamais me pas- sara pela cabega que alguém pudesse — creio que munca me ocorreu —, que alguém pudesse sentir-se constrangido por mim. E suponho que isto talvez tenha que ver com 0 modo como me sinto a mim proprio, Uma analise deste tipo nem sempre ¢ um processo facil, nem 0 grupo é, na sua totalidade, receptivo a tais confidéncias. Num grupo de adolescentes de determinada instituigdo, em que todos tinham passado por alguma espécie de dificuldade, um rapaz revela um aspecto importante de si proprio e imedia- tamente encontra aceitagdo e rejeigdo severa por parte dos outros membros. 0 que se passa. Tenho problemas demais em sabem por que estou George: — E. casa... bem... creio que alguns de vocé: aqui, do que me acusam. i] a O processo do grupo de encontro_ Ma Eu nao Facilitador: — Quer contar-nos? George: — Bem... ch... ¢ embaragoso, Carol: — Anda 1a, nao deve ser assim tao mau. George: — Bem, eu violei minha irma. E 0 tnico problema que tenho em casa, e parece-me que 0 venci (siléncio prolongado). Freda: — Oh, que horror! Mar) Sabe que as pessoas tém problemas, Freda, quer . sabe. Freda: — Sim, sei, mas que HORROR!!! Facilitador: — (para Freda) Vocé conhece esses problemas eno entanto ainda lhe parecem anormais. George: — Véem 0 que eu queria dizer: é dificil falar nisto. Mary: — Sim, mas esta bem. George: — Doi falar nisso, mas sei que devo fazé-lo para nao ser perseguido por um complexo de culpa toda a minha vida. E evidente que Freda o esta repelindo psicologicamente, enquanto Mary, em particular, manifesta uma aceitagao pro- funda. George esta decididamente disposto a correr o risco. 6. Expressdo de sentimentos interpessoais imediatos no grupo Faz parte do processo, mais cedo ou mais tarde, a expressio clara de sentimentos experienciados no momento imediato por um membro em relagao a outro. Por vezes sdo positivos, outras negativos. Os exemplos seriam: “Sinto-me ameagado pelo seu siléncio.” “Vocé me faz lembrar minha mae, com quem passei maus bocados.” “Vocé me desagradou a primeira vista.” “Para mim vocé é como uma lufada de ar puro no grupo.” “Agradam- me seu entusiasmo e o seu sorriso.” “Quanto mais fala, menos gosto de vocé.” Cada uma destas atitudes pode ser, e geralmen- te o 6, analisada no crescente clima de confianga, 7. O desenvolvimento de uma capacidade terapéutica no grupo Um dos mais fascinantes aspectos de qualquer experién- cia intensiva de grupo € a observagao de como certos mem- 26 i Grupos de encontro bros mostram uma capacidade natural e espontanea para tratar, de um modo util, simples e terapéutico, a dor e o sofrimento dos outros. Como exemplo um tanto extremo, recordo-me de um homem encarregado da manutengao de uma grande insta- lagao, que era um dos subalternos de um grupo de chefes da industria, Como nos contou, nao “tinha sido contaminado pela educagao”. Inicialmente, o grupo tinha tendéncia para olha-lo com desprezo. A medida que os membros se examinavam mais profundamente e comecavam a manifestar de modo mais com- pleto as suas prdprias atitudes, esse homem revelou-se, sem du- vida alguma, 0 mais sensivel do grupo. Instintiyamente, sabia ser compreensivo e receptivo. Estava atento a coisas que ainda nao tinham sido expressa: avam subjacentes. En- quanto prestavamos atengao a um membro que falava, ele es tava, as mais das vezes, a observar outro individuo que sofria em siléncio e necessitava de ajuda. Tinha uma atitude profunda- mente receptiva e aberta. Esta espécie de faculdade manifesta- se tao freqiientemente em grupos, que me leva a considerar que a capacidade de tratamento ou terapéutica ¢ muito mais fre- qiiente do que supomos na vida humana. Muitas vezes, para se manifestar, apenas necessita da licenga concedida = ou da li- berdade tornada possivel — pelo clima de uma experiéncia de grupo em liberdade. Eis o caso caracteristico de um lider e varios membros de um grupo, tentando auxiliar Joe, que revelara a quase total au- séncia de comunicacgao com sua mulher. Justifica-se a apresen- tagdo de um longo extrato da sessio gravada, por mostrar os di- ferentes processos através dos quais os membros se esforgam por ajudar. John insiste em salientar os sentimentos que a mu- lher muito provavelmente experimenta. O facilitador continua a desafiar a sua fachada de precaucdo. Marie procura ajuda-lo a descobrir 0 que sente no momento. Fred aponta-lhe a escolha de comportamentos alternativos que ele pode assumir. Tudo isto feito num claro espirito de interesse, como se percebe me- thor pela gravaciio. Nao se fazem milagres, mas, para o fim, mas que e: O processo do grupo de encontra 27 Joe comega efetivamente a compreender que a tinica coisa que poderia ajudar seria expressar 4 mulher os seus verdadeiros sentimentos. Joe: — Sou forgado a ser extremamente cuidadoso quando vou a qualquer lado, se conhego muita gente, se fago coisas a fim de que minha mulher nao se sinta posta de lado; ¢, claro, cu... as coisas tem mudado tanto no ultimo ano que tenho esperanga, mas durante algum tempo ndo tive. Nao sei se conseguiremos vencer tudo isto ou nao (pausa). John: — Cada vez estou mais convencido de que ela quer dominar— domina-lo. Joe: —E verdade. John: — Nao quero dizer que seja de propésito, isto é.. Joe: — . (Pausa.) O problema é como fazé-lo. E, pala- vra, devo deix: mas, por Deus, devo ter tanto cuidado, e as oportunidades nao sao freqiientes. Facilitador: — Acha que consegue alguma coisa deste grupo, com todas essas suas precaugdes? (Pausa.) Joe: — Nao, pelo contrario. Quero dizer, par nao temos sido absolutamente nada cuidadoso: ce-me que aqui Facilitador: — Estou de acordo. Creio que se tem arriscado bastante. Joe: — Com ter cuidado quero dizer que devo medir bem 0 modo como falo para néo baralhar tudo. Facilitador: — Se... bem, tenho de ser mais brusco, Se 4 tomando precau- pensa que ela nao percebe quando vocé goes, é maluco. Joe: —Concordo. Facilitador: — Se alguém vem ter comigo... e eu pressinto que andam escrupulosamente ¢ com muitos cuidados, entéo pen- tao tentando levar-me. ja tentei fazer de outro modo.,, 0 pior é que... do muito brusco inicialmente. Foi entao que ussdes. so que Joe: — Bem. talyez eu tenha caimos nas di Facilitador: — Sim, mas parece = realmente, avalio 0 risco que corre, ou a prova de confianga que nos uma situagéo destas. No entanto, vocé fala de elementos exte- riores a yocé. 4 ao contar-nos ____ Grupos de encantro John: — Mantenho a pergunta: — vocé pode sentir os senti- mentos dela? Joe: — Bem — ah — ora —... sentimentos, sim, cheguei a um ponto em que sinto os sentimentos dela muito mais ¢ ~ ah... eu... ah... 0 que me preocupava era lembrar-me, era a sensagao de ela querer aproximar-se € nessa altura eu a repeli. Foi entéo que me senti afastado. E... mas consigo perceber logo quando ela esta transtornada e entao... bem, nao sei... vé bem, entio eu... Facilitador: — Qual é a sua reagao? Suponha que chega em casa e que ela esta calada porque vocé esteve fora e ela descon- fia do que se podera estar passando e esta bastante aborrecida. O que € que isso 0 faz sentir? Joe: — Hum... um impulso para me afastar. Marie: — O que é que sentiria —afastamento? Ou sentir-se- ia transtornado, ou talvez mesmo irritado? Joe: — Ja 0 senti — agora nao tanto — consigo dominar-me bastante bem, Tenho-o tentado com bastante cuidado. Marie: — Sim, mas nao foi isso o que perguntei, Joe Joe: — Esta bem. Marie: — Nao lhe pergunto se pode controlar-se ou passar por cima, O que é que sentiria nessa ocasiao? Joe: — Bem. Agora estou numa situagaéo em que estou mes- mo fechado em mim e a espera; e sei que, se conseguir me con- trolar esta noite, amanha sera diferente. Fred: — Acha que isso pode ser uma defesa, e manifesta-a afastando-se porque... Joe: — Bem, ela nao gosta disso. Fred: — Mas vocé gosta menos deste processo do que se enyolver numa questo ou discussao? Joe: — Sim... porque a tinica coisa que poderia dar resulta~ do seria... seria se eu exprimisse simplesmente o que sinto. E espero que seja diferente de stou ressentido pelo que acaba de dizer” ou qualquer coisa do tipo, porque, antes, ja lhe teria pondido, homem, acabou-se! /sso ndo resultava e ela diria sem- pre que eu é que comegava — mas, estando eu agora tao cons- ciente de quando ela esta mais transtornada — quer dizer —, per- cebo-o perfeitamente, mas ainda nao consegui saber como agir. 29 OQ processo do grupo de encontro 29 Cada um destes individuos esta, obviamente, tentando, a sua maneira, ajudar, tratar, constituir uma relagio de amizade Util para Joe, como que para habilita-lo a entrar em contato com a mulher de um modo mais construtivo, mais real. 8. Aceitagao do eu e comego da mudanga Muitas pessoas créem que a auto-aceitagao deve estar na origem da mudanga. Na verdade, nestas experiéncias de gru- po, tal como em psicoterapia, ela é 0 comego da mudanga. Alguns exemplos dos tipos de atitudes manifestadas uma pessoa dominadora que gosta de mandar nos outros. O que quero é moldar as pessoas na forma adequada.” “Na yer- dade, ha dentro de mim um rapazinho, ferido e oprimido, com muita pena de si préprio! Sow esse rapazinho, além de ser um diretor competente e responsavel.” Lembro-me de um dirigente do governo, um homem com grandes responsabilidades e excelente experiéncia técnica co- mo engenheiro. No primeiro encontro do grupo, impressionou- me, e creio que aos outros também, como uma pessoa fria, dis- tante, um pouco azeda, reservada, cinica. Quando falava do modo como dirigia o seu gabinete, parecia fazé-lo a risca, sem participar com o minimo de calor ou sentimentos humanos, Nu- ma das primeiras sessoes, quando falava da mulher, houve um membro que lhe perguntou: “Gosta da sua mulher?” Ele ficou calado durante muito tempo, e o que perguntava disse: “Esta bem, para resposta basta-me.” O dirigente disse: “Nao, um mi- nuto! Nao respondi porque duvido que alguma vez tenha ama- do alguém. Creio que nunca amei realmente ninguém.” Parecia- nos dramaticamente claro, dentro do grupo, que ele acabara por aceitar-se como uma pe soa sem amor. Alguns dias mais tarde, ele escutava atentamente um mem- bro do grupo que exprimia profundos sentimentos pessoais de isolamento, solidao, dor e até que ponto vivia por detras de uma ara, de uma fachada. Grupos de encontra a manha seguinte, o engenheiro disse: “A noite passa- da pensei e repensei naquilo que Bill nos contou. Cheguei mes- moa chorar um bocado, sozinho. Nao lembro ja ha quanto tempo nao chorava, e senti realmente qualquer coisa. Creio que talvez seja amor © que senti.” Nao é de admirar que, antes de terminar essa semana, ele tivesse refletido sobre novos métodos de orientar o filho adoles- cente, com o qual era rigorosamente exigente. Comecava tam- bém a apreciar, de fato, o amor da mulher, que achaya poder re- tribuir até certo ponto. Um outro extrato gravado, de um grupo de adolescentes, evidencia um misto de aceitagao e de analise do eu. Art tem es- tado falando da sua “concha” e comega agora a encarar 0 pro- blema da auto-aceitagao e da fachada que geralmente exibe. Art: — Quando essa concha se fecha, ah.. Lois: — Resiste! Art: — Sim, é dura. Susan: — Vocé ¢ sempre assim tao fechado quando esta na sua concha? Art: — Nao, estou tao estupidamente habituado a viver com a concha que ela ja nem me incomoda. Nem conhego o meu verdadeiro eu. Creio que, bem, aqui pus a concha mais de lado, Fora da minha concha — s6 aconteceu duas vezes — uma ha pre- cisamente alguns minutos — sou realmente cu, suponho. Como que puxo uma corda atras de mim, quando estou na concha, e isso é quase todo o tempo. E mantenho a fachada exteriormen- te, quando regresso 4 minha concha. Facilitador: — Nao leva ninguém com vocé? Art chorando: — Nao ha ninguém comigo, s6 eu. Meto tudo na coneha, embrulho-a e enfio-a no bolso. Agarro a concha e o meu verdadeiro eu e meto-os no bolso em seguranga. Creio que é assim mesmo que fago... meto-me na minha concha e desligo- me do mundo real. E aqui... 6 0 que quero fazer neste grupo, sabem — sair da concha e até joga-la fora. Lois: — Ja esta progredindo, Pelo menos consegue falar disso. Facilitador: — Bem, 0 mais dificil sera ficar fora da concha. Oiprocessordé grupo deanconita 31 Art: (chorando ainda): — Bem, sim, se posso falar disso, posso também sair e manter-me do lado de fora, mas sabem, te- de proteger-me. Dodi. Custa-me neste momento falar nisso. Vé-se aqui claramente a profunda aceitagio deste ser es- condido como sendo ele proprio. Mas é também evidente 0 co- mego de uma mudanga. Ainda outra personagem prestando declaragdes, pouco de- pois de uma experiéncia, diz: “Voltei do workshop com uma sen- sagao muito mais profunda de que esta certo eu ser eu proprio, com todas as minhas forcas e fraquezas. A minha mulher di: se-me que parego mais auténtico, mais real, mais verdadeiro. E muito freqiiente esta sensagdo de maior verdade e auten- ticidade. E como se o individuo aprendesse a aceitar-se € a ser ele préprio, langando assim as bases para uma mudanga. Esta mais perto dos seus proprios sentimentos que, por isso, ja nao so tao rigidamente organizados e estéo mais abertos 4 mudanga. Uma mulher escreve narrando como o pai morreu pouco depois do grupo de encontro, e da longa e dificil viagem que fez para se juntar 4 mae: —“‘.,, uma yiagem que parecia intermi- navel, com as suas confusas ligagdes, o meu desnorteamento e desgosto profundo, falta de sono e grande preocupacgdo com a pouca satide de minha mae no futuro. Tudo quanto sabi longo dos cinco dias que 1a passei era que queria ser exatamen- te o que sentia — que nao queria nenhum ‘anestésico’, nenhum anteparo convencional entre mim e os meus sentimentos, e que © unico meio de consegui-lo eta aceitar completamente a ex- periéncia, entregando-me ao choque e a dor. Esta sensagaio de aceitagdo e entrega permaneceu em mim, desde entao. Penso, francamente, que o trabalho de grupo teve muito a ver com a minha capacidade para aceitar esta experiéncia™. 9. O estalar das fachadas Com a continuagao das sess6es, costumam acontecer tan- tas coisas juntas que é dificil saber qual deserever primeiro, 2 $2 Grupos de encontra Deve, uma vez mais, acentuar-se que estas diversas seqiiénc e fases se entrelagam e sobrepGem. Uma das seqiiéncias é a im- paciéncia crescente para as defesas. Com o decurso do tempo, 0 grupo considera intoleravel que algum membro viva por detras de uma mascara ou fachada, Palavras polidas, compreensdo intelectual uns dos outros e das relacdes, 0 delicado intercambio de tato e encobrimento bastante satisfatérios nos contatos de fora — deixam agora de servir. A expressao pessoal de alguns membros do grupo tor- nou evidente que é possivel um encontro mais profundo e es- sencial, € 0 grupo parece procurar intuitiva e inconsciente- mente esse objetivo. Umas vezes com suavidade, outras quase brutalmente, 0 grupo exige que o individuo seja ele préprio, que nao esconda os seus sentimentos comuns, que retire a mas- cara do convivio social. Apareceu num grupo um homem mui- to inteligente e culto, que se mostrava bastante receptivo aos outros, mas que nao revelou absolutamente nada de si proprio. A atitude do grupo acabou por ser manifestada com severidade por um membro, ao dizer: “Saia da sua catedra, doutor. Pare com o discurso. Tire os 6culos escuros. Queremos conhecé-/o.” Em Synanon, no fascinante grupo que se empenhou com tanto éxito em tornar os dependentes da droga pessoas, é, mui- tas vezes, dramatico este derrubar de fachadas. Um extrato de um dos synanons, ou sessdes de grupo, demonstra-o: Joe (falando para Gina): — Pergunto a mim mesmo quando é que vai parar de procurar fazer boa figura nos synanons. Em todos os synanons em que estive com vocé, fazem-lhe uma per- gunta e vocé consegue fazer um belo livro. Tudo bem prepara- do sobre o que a afundou, e como se enganava, ¢ como desco- briu que estava errada, todo tipo de trapagas. Quando ¢ que vai deixar disso? Que pensa do Art? Gina: — Nao tenho nada contra o Art. Will; — Esta doida, Art nio tem uma ponta de senso Esteve berrande com vocé e com o Moe, e vocé agiientou tudo friamente. 33; O proceso do grupo de encontro Gina: — Nao, acho-o muito inseguro em variados aspectos, mas nao tenho nada a yer com isso... Joe: ~ Reage como se fosse tremendamente compreensiva. Gina: — Disseram-me para reagir como se compreendesse. Joe: — Sim, porém agora esta num syranen. Ninguém es- pera que proceda como se fosse extremamente saudavel. Ou sente-se muito bem assim? Gina; — Nao. : ~ Bem, entio por que diabo nao para de agir como se of Isto demonstra como 0 grupo é, por vezes, violento, ao rasgar uma fachada ou defesa. Por outro lado, pode também ser sensiyel e delicado, O homem que fora acusado de se manter na catedra ficou magoado com este ataque e, a hora do almo- ¢0, parecia perturbado, como se fosse desatar a chorar de um momento para 0 outro. Quando o grupo se reuniu de novo, os membros aperceberam-se disso e trataram-no delicadamente, encorajando-o a contar-nos a sua tragica historia pessoal, que explicou o seu isolamento e 0 seu modo intelectual e académi- co de encarar a vida 10. O individuo é objeto de reagdo (feedback) por parte dos outros No processo desta interagao de expressao livre, o indivi- duo adquire rapidamente uma série de dados sobre 0 modo co- mo é visto pelos outros. O companheiro exuberante descobre que Os outros nao apreciam as suas exageradas manifestagdes de amizade. O dirigente que mede as palavras com cuidado e fala com rigorosa precisdo percebe, pela primeira vez, que o consideram enfatuado. A mulher que manifesta um desejo de certo modo excessivo de ajudar os outros, dizem-lhe 4 mente que alguns membros do grupo nao a:querem para mae- 7. D. Castiel, So Fair a House (Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1963), p. 81. a4 2 Grupos de encontro zinha. Tudo isto pode ser muito desagradavel, mas, desde que estes pedagos de informagao sejam enquadrados no contexto do interesse que se desenvolve no grupo, isso parece altamen- te construtivo. Um exemplo de uma das espécies de reagdes destas ocor- reu num grupo em que se sugel que Os membros se descreves- sem mutuamente como objetos vivos ou inanimados. Isto pro- porcionou uma poderosa reagao. John (para Alma): — Ja que falamos de coisas, vamos tam- bém molesté-la um bocado. Vocé me lembra uma borboleta (risos). Alma: —Por qué? Quer dizer, como, por que uma borboleta? John: — Bem, para mim, uma borboleta ¢ uma coisa esqui- sita. E uma coisa de que yocé pode se aproximar bastante, por assim dizer como um amigo novo, mas justamente quando con- segue estar junto dela e fazer-lhe festas ou aproxima-la de vocé e olha-la, ela voa para longe. Alma; — (Ri nervosamente.) John: — Vé, foi-se, mas se nao a cansarmos, ndo é—oua molharmos até que ela esteja tao cansada que ja nao possa voar inarmos a confiar em nds — nao podemos mais — ou entao a ens aproximar-nos para toca-la ou descobrir qualquer coisa sobre ela, a nao ser a distancia. E nesse sentido que vocé me lembra uma borboleta. Algo que deveria ser belo visto de perto, mas de que nao nos podemos aproximar o necessario. Dizer a uma mulher que receia qualquer relagdo intima é¢ algo que, de fato, raramente aconteceria num contato social vulgar. Porém tais possibilidades estado freqiientemente ao alcance das pessoas num grupo de encontro, 0 feedback pode, por vezes, ser afetuoso e positivo, como demonstram os extratos das seguintes gravagoes: Leo (muito suave e delicadamente): — Desde que ela contou que acordava a noite, fiquei impressionado com a sua sensibi- 3S O processo do grupo de encontro lidade delicada (voltando-se para Mary ¢ falando-lhe quase senti —mesmo olhando para carinhosamente). E, seja como foi vocé ou nos seus olhos muito quase uma caricia, e com essa caricia pode dizer muitas coisas que sente — deste modo. Fred: — Leo, ao dizer isso, que ela tem essa espécie de sen- sibilidade delicada, senti, senti mesmo! Olha para os olhos dela. Leo; — Hum. Um exemplo muito mais extenso de feedback negativo e positivo, desencadeando uma significativa experiéncia nova de autocompreensao e encontro com o grupo, foi tirado do diario de um jovem que sentia que ninguém gostava dele. Estivera nar- rando ao grupo que nada sentia por eles, e que sentia que tam- bem eles nao sentiam nada por ele. ... Ent&o, uma jovem perdeu a paciéncia comigo, e disse que achava que nao podia dar mais. Que cu parecia um pogo sem fundo, e que perguntava a si mesma quantas vezes era pre- ciso dizer-me que gostavam de mim. Neste momento, senti-me em panico, e dizia a mim proprio: “Meu Deus, sera verdade que eu nao posso satisfazer- » modo, forgado a molestar as pessoas para que se preocupem comigo até afasta- las de mim?” Nesta altura, quando estava mesmo preocupado, uma frei- ra falou. Disse que eu nao a havia magoado com certas coisas desagradaveis que lhe dissera. Disse que gostava de mim e percebia como € que eu nao percebia isso. Que se sentia preocu- pada comigo e queria ajudar-me. Com isso, qualquer coisa co- megou realmente a nascer em mim, ¢ disse-o mais ou menos as- sim: “Quer dizer que ainda sente por mim o que eu digo que desejo que sinta, e que, dentro de mim, eu nao deixo tocar-me?” Senti-me bastante aliviado, e comecei realmente a pensar por que tinha afastado tanto 0 interesse deles. Nao consegui encon- trar resposta, e uma mulher disse: “Parece que continua a querer manter-se tao mergulhado nos seus sentimentos como esta tar- de. Parece-me que deveria voltar atras e assimi Talvez nao deva esforgar-se tanto, pode descansar um pouco e entio reto- mar 0s seus sentimentos mais natur me, ¢ que sou, de ¢ almente.” a6 ____Grupiss de encontro A sua Ultima sugestao apresentou resultados. Vi que tinha razao e, quase imediatamente, recostei-me descontraido, com uma sensagao de um dia claro e quente raiando dentro de mim. Além de tirar de cima de mim a opressao, sentia-me, pela pri- meira vez, reconfortado pelos sentimentos de amizade que per- cebia que tinham por mim. Nao sei dizer por que é que so ne: altura eu me sentia amado, mas, ao contrario das sess6es ante- riores, acreditei realmente que gostavam de mim. Nunca che- guei a perceber por que afastei por tanto tempo a afeigao deles, mas nesse momento, quase bruscamente, passei a acreditar que se interessavam realmente por mim. O que disse a seguir ilus bem a medida desta mudanga: — “Bem, dou-me por vencido. Estou pronto a euvir outra pessoa, agora.” E era verdade’. 11. Confrontagao Ha momentos em que o termo feedback, reagdo, ¢ exces- sivamente moderado para descrever as interagGes que se pro- cessam — momentos em que € mais correto dizer que um indi- viduo se confronta com outro, diretamente, em pé de igualda- de, Tais confrontagdes podem ser positivas, porém sio muitas vezes nitidamente negativ: plo seguinte. Numa das tltimas sessdes do grupo, Alice fizera algumas observagdes bastante grosseiras e contundentes a John, que se ia dedicar a um trabalho religioso. Na manha se- guinte, Norma, que tem sido uma pessoa muito silenciosa no grupo, passa a agao; como se torna evidente no exem- Norma (suspirando fundo); — Bem, eu nao tenho 0 minima respeito por vocé, Alice. Nenhum! (Pausa.) Atravessam-me 0 espirito centenas de coisas que queria dizer-lhe pero dizé-las todas! Diga, se queria que a respeitassemos, por que no respeitou os sentimentos de John a noite passada? Por , por Deus, es- 8. G. F. Hall, A Participant's Experience in a Basic Encounter Group. Manuscrito nao publicado, 1955, Policopiado, 37 O processo do grupo de encontro ms taped que ficou hoje em cima dele? Hem? A noite passada — vocé ndo podia — yocé ndo podia aceitar — que ele sentisse que nao valia Go podia aceitar isto, ou tinha de apro- tem? nada a servigo de Deus? fundar mais, hoje, para la encontrar mais qualquer coisa? Pessoalmente, nao me parece que John tenha nenhum problema que /he diga respeito!... Uma verdadeira mulher nao teria como vocé 0 fez esta semana, e particularmente nao falaria como yocé falou esta tarde. Foi de uma estupidez crassa!! Deu-me vontade de vomitar, ali mesmo! E — estou tremendo de raiva agido nao acredito que, nem uma tinica vez, vocé tenha sido sincera esta semana!.., Estou tao furiosa que me apetece mandd-la para o diabo! Apetece-me esbofeted-la com tanta forga é — oh, voce ¢ tdo, vocé é bastante mais velha do que eu —e eu respeito a idade e respeito as pessoas mais velhas, mas nao respeito voce, Alice. Absolutamenie nada! (Uma pausa pesada.) Pode aliviar o leitor saber que estas duas mulheres vieram a aceitar-se mutuamente, nao por completo, mas com bastante mais compreensao, antes do fim da sessao. Porém que isto foi uma confrontagao, foi! 12. Relagées de ajuda fora das sessdes de grupo Na minha opiniao, ficaria incompleta uma descrigdo do processo de grupo se nao mencionasse os varios modos por que os membros se entreajudam. Um dos aspectos entusias- mantes de qualquer experiéncia de grupo é 0 modo como, quando um individuo luta para se exprimir ou se debate com um problema pessoal ou sofre com uma nova descoberta que fez de si proprio, os outros membros 0 auxiliam. Pode aconte- cer isto dentro do grupo, como ja mencionamos, mas ocorre ainda com maior freqiiéncia em contatos fora do grupo. Quan- do vejo dois individuos passeando, ou conversando num re- canto sossegado, ou ougo que ficaram conversando até as trés da madrugada, creio ser possivel que, algum tempo depois, nos contem no grupo que um recebia ajuda e apoio do outro, que o segundo oferecia a sua compreensio, apoio, experiéncia, 38 Grupos de encontro atengao — tornando-se disponivel para o outro. Muitas pessoas possuem uma inacreditavel capacidade terapéutica, necessi tando apenas de se sentirem livres para da-la e a experiéncia num grupo de encontro parece tornar isto possivel. Permitam que lhes oferega um exemplo do efeito terapéu- tico de atitudes de membros do grupo, tanto dentro como fora das Ses de grupo. Este foi tirado de uma carta escrita por um membro do workshop ao grupo, um més depois. Fala das dificuldades e cireunstancias preocupantes com que defrontou durante esse més, e acrescenta: i- Cheguei 4 conclusado de que a minha experiéncia com vo- cés me afetou profundamente. Agradego-o sinceramente. E di- ferente da terapia individual, Nenhum de yocés precisava inte- ressar-se por mim. Nenhum de yocés precisava me analisar e fazer-me saber coisas que achavam que poderiam ajudar-me. Ninguém precisava me dizer que os ajudava. No entanto, fize- ram-no e, assim, isso tem muito mais significado do que qual- quer outra coisa que eu tenha experimentado. Quando me ape- tece reprimir-me e nao viver espontaneamente, por que for, lembro-me daquelas doze pessoas que, tal e qual as que estiio diante de mim agora, me disseram que deixasse correr e que fosse coerente, que fosse eu proprio, ¢ das coisas inacreditaveis pelas quais até gostavam mais de mim. Isto me deu coragem para sair de mim proprio muitas vezes desde entdo. Parece, freqiien- temente, que basta eu fazer isto para ajudar os outros a sentir uma liberdade semelhante. 13. O encontro basic Ao mesmo tempo que algumas tendéncias que descrevi, sobressai o fato de os individuos tomarem entre si um contato mais intimo e direto do que é freqtiente na vida corrente. Este ¢ um dos aspectos mais centrais, intensos e determinantes da mu- danga na experiéncia de grupo. Gostaria de lhes apresentar, co- mo ilustragao, um exemplo de um recente grupo de workshop. Um homem conta, chorando, a tragica perda do filho, uma dor 39 O processo do grupo de encontra que, pela primeira vez, experimenta completamente sem, por qualquer forma, reprimir os seus sentimentos. Um outro fala- lhe, também com l4grimas nos olhos: “Jamais havia sentido uma dor realmente fisica com 0 desgosto de outra pessoa. Estou com- pletamente com vocé.” Isto é um encontro basico. De outro grupo, uma mae de varios filhos, que se descre- ve como “uma pessoa turbulenta, excitada, hiperativa”, cujo ca- samento tem sido um di re e que acha que nao vale nem se- quer a pena viver, escrevi Ent a sob uma camada de cimento muitos sentimentos de que temia que as pessoas se rissem ou ridicularizassem e is- so, é inuitil dizé-lo, fazia da minha vida ¢ da minha familia um inferno. Ansiava pelo werkshop com as minhas poucas e¢ ulti- mas migalhas de esperanga. Era, de fato, uma agulha de fé num imenso palheiro de desespero. (Narra algumas das experiéncias com 0 grupo, e acrescenta)... para mim, a mudanga foi 0 seu gesto simples de me pér o brago nos ombros, numa tarde em que eu o havia acusado de nao fazer parte do grupo — de ninguém poder chorar no seu ombro. revera nas minhas notas da noite ante- rior: “Nao ha no mundo um homem que me ame!” Vocé parecia realmente tao interessado, nesse dia, que fui vencida... Recebi o entimentos de aceitagio — de seu gesto como um dos primeiros mim, da minha maneira de ser estupida, irritante e tudo — que jamais sentira. Tenho-me sentido necessaria, terna, competente, furiosa, agitada, tudo, menos simplesmente amada. Imagine a corrente de gratidéo, humildade e libertagdo que me inundou. ‘Agora senti-me amada.” Nao creio que Escrevi com alegi ia possa esquecer isto tio cedo. Tais relacdes Eu-Tu (para usar de novo a expressao de Buber) ocorrem com alguma freqiiéncia nestas sessdes de gru- po, € quase sempre umedecem os olhos dos participantes. Um membro, tentando exprimir as suas experiéncias, logo depois de um workshop, fala do “compromisso de relagdo” que freqtientemente se desenvolve em dois individuos — e nao aia 40 Grupos de encontro necessariamente entre individuos que simpatizassem um com 0 outro desde 0 inicio, Ele continua, dizendo: “... 0 fato inacre- ditavel experimentado mais de uma vez pelos membros do grupo foi que, quando um sentimento negatiyo era manifesta- do francamente, a relagdo desenvolvia-se e esse sentimento era substituido por uma compreensao profunda do outro... Deste modo, ocorria uma mudanga auténtica quando os sentimentos eram experienciados e expressos no contexto da relagao. ‘Nao suporto a maneira como vocé fala!” transformava-se numa verdadeira compreensao e afeigdo por vocé, pela manera co- mo fala”, Esta descrigdo parece captar alguns dos sentidos mais complexos do termo encontro bdsico. 14. Expressdo de sentimentos positivos e intimidade Como indicamos na Ultima segao, uma parte inevitdvel do processo de grupo parece ser a de que, se os sentimentos fo- rem expressos e puderem ser aceitos numa relagao, resultam em intimidade e sentimentos positivos. Assim, com a conti- nuagiio das sessdes, estabelece-se uma sensacao crescente de calor humano, espirito de grupo e confianga, a partir ndo sé de atitudes positivas, como também de uma verdade que inclui oO sentimento, tanto positivo como negativo. Houve um mem- bro que tentou exprimir isto, ao escrever pouco depois de um grupo de trabalho que, se tivesse de resumir, “... teria que ver com aquilo a que chamo confirmagado — uma espécie de con- firmagao de mim proprio, das qualidades tinicas e universais do homem, uma confirmagao de que, quando pudermos ser hu- manos juntos, algo de positive pode surgir”. Uma expresso particularmente tocante des atitudes positivas foi demonstrada no grupo em que Norma defrontou Alice com os seus sentimentos de amarga irritagao. Joan, a fa- cilitadora, ficou profundamente tocada e comecou a chorar. As atitudes positivas e terapéuticas do grupo para com o seu proprio /ider constituem um exemplo de intimidade e tom pes- soal das relagdes. 41 O processo do grupo de encontro Joan (chorando): — De 9 modo sinto que me ¢ imensa- mente facil — meter-me dentro de outra pessoa € creio sen por John e Alice e por vocé, Norma. Alice: — E é em vocé que isso doi. Joan (chorando): — Talvez sinta um pouco dessa dor. Creio lo que sim. Alice: —E um dom maravilhoso. Gostaria de té-lo. Joan: — Tem-no e muito. Peter: — De certo modo vocé suporta — creio que de modo especial por sera facilitadora, tem suportado uma pesada carga extra por todos nos... nds tateamos para tentar aceitarmo-nos tal como somos, ¢ — de maneiras diferentes para cada um de nds, creio que aleanc¢amos coisas e dizemos por favor, aceitem-me; quero dizer isto aqui mesmo, Norma; —E Peter: —E... descarregamos isto sobre vocé agora, talvez, e io o fazemos. para a sua sensibilidade pode ser uma carga excessiva — as pes- soas pedirem-lhe por favor que me aceite deste modo. Acha que sera assim? Joan (chorando ainda): — Bem, nao ponho a culpa nos outros; creio que é — é um problema mem, na verdade, bem véem, eu ter de carregar o fardo, ou seja 14 o que for. Quero dizer que o faria igualmente, mesmo que nao fosse facilitadora — nao me parece que seja do papel que desempenho. Peter: —Nio, no é 0 papel... Norma: — Claro que nao. George: — Acho que nao € pelo que as pessoas a fazem pensar, acho que ¢ a sensibilidade fantastica que tem — 0 que partilha aqui —e entao suporta o fardo — creio que agora vocé significa muito mais para mim do que antes. Houve tempo em rataria como pe ou como inha a impressao que pensei em yocé, se nos tes. Julgo ter dito esta semana que, no entanto, sdrio, vocé mostraria 0 que esta erra- de que, se acaso fosse nece do —se achasse que isso era preciso, Vocé ¢ tao honesta! E penso que isto mostra a sua maneira de ser — yocé provou-a; — aquela sua outra faceta que nao vimos ao longo da semana. Sinto-me mal por ser assim — um membro do grupo que nao a ajuda agora a sentir-se melhor. Grupos de encontro Podem alguns criticar um lider tao enyolvido e tao sensi- vel que chora com as tensdes do grupo que tornou suas. Para mim, é mais uma prova de que, quando as pessoas sao sinceras umas tém uma capacidade espantosa para re- confortar uma pessoa, com uma afeigéo verdadeira e compre- ensiva, quer essa pessoa seja “participante” ou “lider”. com as outr 15. Mudangas de comportamento no grupo Da observagao, parece concluir-se que se verificam, no proprio grupo, muitas alteragdes no comportamento, Mudam os gestos. Transforma-se o tom das vozes, as vezes para mais forte, outras para mais suave, normalmente mais espontaneo, menos artificial, com mais sentimento. Os individuos mostram uma espantosa capacidade de solicitude e ajuda uns para com Os outros. Estamos mais interessados, contudo, nas mudangas de com- portamento que ocorrem apés a experiéncia de grupo. E este o problema mais importante, que requer muito mais estudo e investigagdo. Uma pessoa dé-nos uma lista das mudangas que vé em si propria, que podera parecer boa demais mas que é confirmada por muitos outros depoimentos: “Estou mais aber- to, esponténeo. Exprimo-me com maior liberdade. Estou mais em consonancia, mais empatico e tolerante. Mais confiante. A minha maneira, estou mais religioso. As relagdes com a fami- lia, amigos e colegas de trabalho so mais honestas ¢ declaro mais abertamente o meu agrado e desagrado, os meus verda- deiros sentimentos. Admito com mais facilidade a ignorancia. Sou mais alegre. Quero ajudar mais os outros.” Diz outro: “... Depois da sessao de trabalho, descobri uma nova relagao com os meus pais. Tem sido penoso e dificil. No entanto, encontrei maior liberdade para falar com eles, espe- cialmente com 0 meu pai, Tenho conseguido aproximar-me da minha mae, mais do que nos ultimos cinco anos.” Um outro diz: “Ajudou a esclarecer~me as idéias acerca do trabalho, deu- 43 O processo do grupo de encontro me maior entusiasmo por ele, tornou-me mais honesto e alegre com os meus colegas e também mais franco quando discorda- va. Tornou mais francas e profundas as relagdes com a minha mulher, Sentimo-nos mais livres para falar de tudo, e confian- tes de que poderiamos vencer tudo aquilo de que falassemos.” Por vezes, sio muito sutis as transformacoes descrita principal alteragao é a descoberta positiva da minha capacida- de de ouvir e de sentir 0 ‘apelo mudo’ de alguém.” Correndo 0 risco de fazer parecer bons dema: dos, acrescentarei mais um depoimento escrito por uma mae, pouco depois de um grupo. Diz ela: “O impacto imediato nos meus filhos foi de interesse, simultaneamente por mim e pelo meu marido. Sinto que 0 ter sido de tal modo aceita por um gru- po de estranhos ajuda tanto que, quando voltei para casa, o meu amor pelas pessoas que me estio mais proximas foi muito mais espontaneo, Por outro lado, a pratica que adquiri de acei- tar e amar os outros, durante o grupo, evidenciava-se nas mi- 3 os resulta- nos.” nhas relagdes com os amigos ir Num capitulo posterior tentarei resumir as diferentes espécies de mudangas de comportamento que se dao, tanto positivas como negativas. Fracassos, desvantagens, riscos Até aqui podia-se pensar que todos os aspectos do processo de grupo sao positivos. Até onde nos levam os dados disponi- veis ele parece ser quase sempre um processo positivo para a maioria dos participantes. Ha, todavia, fracassos. Tentarei des- crever, resumidamente, alguns aspectos negativos do processo de grupo que por vezes ocorrem. A deficiéncia mais evidente da experiéncia intensiva de grupo € que, muitas vezes, as transformagdes no comporté mento, quando as ha, nao sio duradouras. Reconhecem-no fre- quientemente os participantes, Diz um: “Gostaria de ser capaz dd Grupos de encontro de guardar permanentemente a ‘abertura’ com que deixei o workshop.” Outro: “Senti muita aceitagdo, entusiasmo e cari- nho no grupo, E-me dificil compartilha-lo com pessoas fora do workshop. Acho mais facil retomar 0 meu antigo papel indife- rente, do que fazer o necessario para ter relagdes abertas.” As vezes, os membros do grupo encaram este fenémeno de ‘recaida’ com bastante filosofia. “A experiéncia de grupo nao é um modo de vida, mas um ponto de referéncia. As mi- nhas recordagées do nosso grupo, embora nao esteja seguro de algumas das suas implicagdes, déo-me uma perspectiva recon- fortante e util da rotina normal. Sao como uma montanha que escalei e desfrutei, e 4 qual espero voltar ocasionalmente.’” Co- mentarei mais adiante este “deslize’”’, no capitulo sobre as des- cobertas da investigagao. Um segundo riseo eventual numa experiéncia de grupo intensiva, freqiientemente citado em discussGes publicas, ¢ 0 de que o individuo pode ficar profundamente implicado na sua revelagao e yer-se a bragos com problemas para os quais nao se encontra preparado. Surgiram alguns depoimentos de pes- soas que, depois de uma experiéncia intensiva de grupo, senti- ram necessidade de consultar um terapeuta, para examinar as sensagdes que descobriram na experiéncia do workshop e que ficaram por resolver, E dbvio que, sem conhecer melhor cada situagao individual, é dificil dizer se isto é um resultado nega- tivo, se parcial ou mesmo inteiramente positivo. Ha também algumas informagées de individuos que sofrem de uma crise psicdtica no decurso, ou imediatamente a seguir a uma expe- riéncia intensiva de grupo. Na outra face da medalha esta o fa- to de haver individuos que sofreram também nitidas crises psi- céticas e que as ultrapas m construtivamente no contexto de um grupo de encontro basico, A minha tentativa pessoal de diagnéstico seria a de que, quanto mais positivo for o desenro- lar do processo de grupo, menos probabilidades havera de que qualquer individuo seja psicologicamente afetado pela sua in- sercao nele. De qualquer forma, é evidente que se trata de um problema sério, sobre o qual temos de saber muito mais. 45 O processo do grupo de encontra Parte da tensao verificada nos membros do workshop, co- mo resultado desta possibilidade de risco, é bem deserita por um participante, ao dizer; “Sinto que 0 workshop tinha mo- mentos que me eram preciosos, quando me sentia muito proxi- mo de certas pessoas. Tinha também momentos assustadores, quando era evidente a sua forga e eu via que determinada pes- soa podia ser profundamente ferida ou muito ajudada, sem conseguir prever qual das duas hipoteses se realizaria.” Ha um outro risco ou deficiéncia no grupo de encontro 20. Até ha bem poucos anos, era raro uma sessdo de grupo reunir marido e mulher. Isto pode constituir um problema sé- rio, se se verificou uma transformagao importante num dos cénjuges durante a experiéncia de grupo, ou como seu resulta- do. Um individuo sente com nitidez este perigo depois da ses- sdo de grupo. Diz: “Julgo haver grande perigo para um casa- mento quando s6 um dos cOnjuges participa de um grupo. E quase impossivel ao outro competir com o grupo, individual ou coletivamente.” Um dos efeitos posteriores freqtientes da experiéncia intensiva de grupo é trazer & superficie, para dis- cussdo, tensdes conjugais que estiveram abafadas. Outro risco que tem, por vezes, constituido preocupagao séria em workshops intensivos mistos é 0 fato de se poderem desenvolver, entre os membros, sentimentos francamente po- sitivos, de ternura ou amor (como é evidente em alguns di exemplos que se seguem e em capitulos posteriores). Inevite velmente, alguns destes sentimentos tém um componente se- xual, podendo isto ser causa de s¢rias preocupagdes dos parti- cipantes e uma profunda ameaga para os cénjuges, se nao fo- rem satisfatoriamente analisados no workshop. Os sentimentos intimos € amorosos que se desenvolvem podem também tor- nar-se fonte de ameagas e dificuldades conjugais quando a mulher, por exemplo, nao esteve presente, mas projeta os seus receios de perder o marido — bem fundados ou nao — na expe- riéncia do workshop. Um homem que estivera num grupo misto de dirigentes escreyeu-me um ano depois, e mencionava a tensdo no seu ca- 46 Grupos de encantro samento resultante da sua ligagéo com Marge, um membro do seu grupo de encontro basico. Houve um problema com Mar- ge. “Nascera uma forte inclinagao da minha parte por ela, uma grande compaixao por senti-la muito s6. Creio que a ternura era sinceramente reciproca. Seja como for, ela escreveu-me uma longa e afetuosa carta que deixei que minha mulher lesse. Sentia-me orgulhoso por Marge ter por mim tais sentimentos (porque outrora se sentira inutil). Porém minha mulher alar- mou-se, porque descobriu nas palavras um romance de amor — uma ameaga em potencial, pelo menos. Deixei de escrever a Marge porque, depois disso, me sentia numa posicdo falsa. Maii icipou também de um grupo de encontro e agora compreende. Recomecei a escrever a Mar- tarde, minha mulher par am. ge.” Como é dbvio, nem todos os episddios deste tipo teri um fim to harmonioso. Neste campo, ¢ interessante saber que tem havido uma ex- periéncia crescente, nos ultimos anos, de sessdes de grupo com casais ¢ de sessOes para dirigentes industriais com as mulheres. Talvez seja significativa uma outra experiéncia de “pai- xdo” no grupo, por ser narrado com tao completa franqueza por Ema, participante, divorciada e com filhos. ... Logo na primeira semana, reparei num homem do grupo que parecia confiante na sua masculinidade e, no entanto, era terno, perspicaz e simpatico. Atraiu-me esta combinagdo e per- bi que ele era o tipo de figura masculina que me da paz. Na semana, haviamos ja descoberto muita c quinta-feira da primeira coisa em comum e tinhamos passado algum tempo juntos no pinhal. Na quinta-feira, depois do grupo-T, ele disse-me: creio que deve ter assustado o seu marido, e acho que pode assus- tar os homens.” E, em resposta 4 minha interrogagao muda: — “Es- td tao terrivelmente convencida de que tem razao quando emite uma opinido!” Isto deitou abaixo o meu amor-proprio, quando na, regressamos a sesso geral e ele se sentou a meu lado. Cerca de cinco minutos mais tarde, voltou-se para mim com lagrimas nos olhos e disse: “Meu Deus, Ema, vi em vocé aquilo com que a 47 Q processo do grupo de encontro tropego todos os dias no meu trabalho pessoal nos laboraté- rios.” Quando disse isto, apaixonei-me por ele da ponta dos pés 4 raiz dos cabelos. Tornando o problema comum a homens ¢ mulheres, libertaya-me do rétulo: “Voeé é destrutiva para os homens.” Ao meio-dia de sabado, Allen regressou para casa e para a familia, e eu continuei na minha situagado de noivado, durante sdbado e domingo. No domingo a noite, quando voltou, senti-o inundar-me de amor com os olhos € o meu universo estava com- pleto. Na segunda-feira de manha, muito cedo, acordei solugan- do. Eu era uma menina pequena com o vestido amarrotado, Uma confusa figura masculina permanecia no lado da cena. Nas trés horas que se seguiram, senti o que é ser amada por um pai. curioso que, nas trés horas em que senti tal amer, nunca perdi a sensa¢do de ser uma mulher apaixonada por um homem. De certo modo, a forma de amor de Allen parecia consentir sagiio de amor paternal, na ocasidio prépria, como sublima do sentimento de uniao. Receio nao me fazer entender, mas é 0 a sen- 10 melhor que posso explicar-me.. Na sexta-féira de manha, no nosso tiltimo dia, Allen insis- tiu, depois do grupo-T, para que passdssemos alguns minutos juntos. Sentamo-nos ao sol, num pequeno muro de pedra. Pe- diu-me que falasse de nossas duas semanas. Respondi mais ou menos assim: “Encontramos 0 nosso caminho ao longo de um percurso cheio de obstaculos. A relagao tem sido delicada e fr: gil, Desde que confiei em voce nunca mais deixei de acreditar que vocé podia encontrar 0 caminho. Do futuro’? Nao vou ima- gina-lo como meu marido. Penso que haverei sempre de respei- ta-lo e am4-lo como o Allen, E que, com o seu amor, fez nascer em mim a capacidade de ser uma mulher que pode amar e ser amada. Creio que esta experiéncia, de algum modo, fez vocé to- mar mais consciéneia de sua capacidade de amar. Em que nos apoiaremos no futuro? Parece-me que nossa forga sera saber- mos que, a0 mantermos contato com as nossas préprias familias e colegas de profissdo, cada um de nds estara criando, 4 sua ma- filhos, neira. Tenho até a ilusao de que os meus t 10 reconhe cerem 0 meu novo ‘eu’, f ter um pai.” ro de certo modo sabendo © que é 48 _ Grupos de encantro Quando acabei, Allen, que tem muito mais perspicacia e fa- cilidade do que eu para exprimi-la, disse com lagrimas nos olhos: “Disse-o maravilhosamente! Vivemos uma vida inteira juntos.” Esta semana, em casa, os meus receios desapareceram uns. atras dos outros, 4 medida que o meu novo eu se expandia. Ao sentir 0 meu novo mundo, apodera-se de mim uma serenidade tio penetrante que parece ser sdlida e palpavel... Eis uma maneira cheia de maturidade de conduzir uma re- lacéo amorosa profunda e delicada. Nao posso duvidar de que proporcionou um maior crescimento e desenvolvimento em cada uma destas pessoas. Nestes ultimos anos descobriu-se mais um possivel resul- tado negativo dos grupos de encontro. Alguns individuos, ten- do ja participado de grupos de encontro anteriores, podem exercer uma influéncia perniciosa em novos grupos de que participem. Exibem por vezes aquilo que considero o fendme- no do “velho profissional”. Acham que aprenderam as “regras do jogo” e, sutil ou abertamente, tentam impé6-las aos recém- chegados. Assim, em vez de de promoverem a auténtica expres- so e espontaneidade, esforgam-se por substituir as regras ve- lhas por novas — por fazer com que os membros se sintam cul- pados se nado exprimirem sentimentos, se forem relutantes em manifestar censura ou hostilidade, se falarem de situagdes teriores 4 relagdo de grupo, ou se recearem revelar-se. Estes “velhos profissionais” parecem querer substituir por uma nova tirania nas relagdes interpessoais as velhas restrigoes conven- cionais. Na minha opiniao, isto é perverter todo o verdadeiro processo de grupo. Necessitamos de perguntar a nds proprios como surge esta mascara de espontaneidade. Pessoalmente, duvido da qualidade da facilitagao que tais pessoas tiveram nas suas experiéncias anteriores em grupos. O process do grupo de encontro - Si Conelusio Tentei dar uma idéia naturalista, baseada na obs alguns dos elementos comuns do processo que surgem no c de liberdade de um grupo de encontro, Salientei alguns dos ris cos e deficiéncias da experiéncia de grupo. Espero também ter deixado bem claro que se trata de um campo que requer muito estudo profundamente perceptivo e muita investigacdo. 3. Posso ser facilitador num grupo? Quando terminei 0 capitulo sobre o processo dos grupos de encontro, pensei que o passo seguinte seria logicamente es- crever sobre “A facilitagao dos grupos de encontro”. Simples- mente, ele nao tomava forma no meu espirito, e adiei-o duran- te mais de um ano. Continuei a pensar em todos os diferentes estilos de lideres que conheci e com quem tenho co-liderado grupos. Um capitulo desses, dada a sua brevidade, teria de ser tao condensado que nele cada verdade seria também, até certo ponto, uma mentira. Reduzi ent&éo 0 meu objetivo e pensei que iria escrever so- bre “A minha maneira de facilitar um grupo”, esperando esti- mular outros a fazerem o mesmo. Mas, numa discussio com diversos facilitadores, muitos deles membros da nossa equipe diretiva — discussao que enriqueceu toda esta apresentagao —, fui impelido também para este tema. Vejo que conservo ainda nele o sabor de especializagao que nao queria acentuar. Penso que o titulo presente traduz o meu verdadeiro propdsito. Quero escrever tao abertamente quanto me for possivel sobre os meus esforgos para ser facilitador num grupo, exprimir 0 que sei das minhas forcas, fraquezas e incertezas, e o modo como, efetiva- mente, tento empenhar-me na honesta arte das relagGes inter- pessoais. $2 : Grupos de encontro Contexto filoséfico e atitudes Nao se comega um grupo como uma tabula rasa. Por isso, gostaria de expor algumas das atitudes e convicgdes que trago comigo. Criado um clima de suficiente facilitagdo, confio no gru- po para desenvolver as suas proprias potencialidades e as dos seus membros. Para mim, esta capacidade do grupo ¢ uma coi- sa fantastica. Talvez como corolario disto, desenvolvi, gradu- almente, uma grande confianga no processo de grupo. E, na ver- dade, semelhante 4 confianga que consegui ter no processo de terapia no individuo, quando era facilitada em vez de ser diri- gida. Um grupo, para mim, ¢ semelhante a um organismo, pos- suindo o sentido da sua propria diregdo, ainda que nao po definir intelectualmente essa direcdo. Isto me recorda um fil- me médico que, ha tempos, me causou uma profunda impres- sido, Era um fotomicrofilme que mostrava os globulos brancos do sangue moyendo-se inteiramente ao acaso na corrente sangili- nea, até que apareceu uma bactéria patogénica. Entao, de uma maneira que s6 podia ser descrita como propositada, dirigiram- se para ela. Rodearam-na e, gradualmente, cercaram-na ¢ des- truiram-na, Depois yoltaram para 0 seu caminho, ao acaso. De igual modo, segundo me parece, o grupo reconhece no seu pro- cesso os elementos nao-saudaveis, centra-se neles, filtra-os ou elimina-os, e continua, tornando-se num grupo mais saudavel. E esta a minha maneira de dizer que vi “a sabedoria do organis- mo”, manifestada em todos os niveis, desde a célula ao grupo. Nao quero dizer que cada grupo seja “bem sucedido”', ou que 0 processo seja sempre idéntico. Um grupo pode comecar 1. Que quer dizer “bem sucedido”? Por agora, apego-me ao tipo de defini- ao mais simples. Se, um més apés 0 grupo terminado, os participantes sentirem que foi uma experiéncia sem significado, insatisfatéria ou dolorosa, de que ainda estdo se recompondo, entdo para eles isso no tera sido um grupo bem sucedido. Se, por outro lado, a maioria ou todos os membros sentem ainda que foi uma experiéncia que valeu a pena, que de certo modo os fez avangar no seu cresci mento, entio, para mim, merece a designagao de grupo bem su 53 sso ser facilitador num grupo? num nivel muito rapide e inexpressivo e dar apenas alguns pe- quenos passos para uma liberdade maior. Outro pode comegar num nivel muito espontaneo e sentimental e percorrer um longo caminho para desenvolver mais completamente as suas poten- cialidades. Ambos os movimentos me surgem como parte do processo de grupo, e confio igualmente em cada grupo, ainda que o meu prazer pessoal possa ser bastante diferente nos dois Outra atitude diz respeito aos objetivos. Nao tenho, habi- tualmente, nenhum objetivo especifico para um grupo e, sin- ceramente, © que quero é que ele desenvolva as suas préprias diregdes. Houve vezes em que, por causa de algum preconcei- to ou ansiedade, tive um objetivo especifico para um grupo. Quando isto aconteceu, ou o grupo anulou cuidadosamente esse fim, ou gastou bastante tempo comigo, de tal modo que lamen- tei sinceramente ter no espirito um objetivo especifico. Acentuo Os aspectos negativos dos objetivos especificos porque, ao mes- mo tempo que espero evita-los, espero também que haja uma espécie de movimento no processo de grupo, e penso até que posso predizer algumas das direcdes gerais provaveis, embora nao uma diregao especifica. Para mim isto constitui uma dife- renga importante. O grupo caminhara — confio nisso—, mas se- ria arrojado pensar que posso ou devo dirigir 0 movimento pa- ra um objetivo especifico. Tanto quanto me é possivel ver, esta perspectiva nao dife- re, no caminho filosofico basico, da que adotei durante anos em terapia individual. Contudo, num grupo, o meu comportamento é muitas ve- zes bastante diferente do que costumava ser numa relagao de um-a-um. Atribuo isto ao crescimento pessoal experien nos grupos. A questao de saber como o meu estilo de facilitagao é vis- to por outra pessoa nao é, geralmente, importante para mim. Habitualmente, sinto-me, quanto a isso, razoavelmente compe- tente e 4 vontade. Por outro lado, sei por experiéncia que pos- so, pelo menos temporariamente, ter citimes de um co-lider que parega mais facilitador do que eu, ado of _____ Gipos de encontro A minha esperanga ¢ tornar-me, gradualmente, tao partici- pante no grupo como facilitador. E dificil descrever isto sem suge- rir que desempenho, conscientemente, dois papéis diferentes. Se se observar um membro de um grupo, que est autenticamen- te sendo ele proprio, ver-se- que por vezes exprime sentimen- tos, atitudes e pensamentos dirigidos principalmente para a faci- litagao do crescimento de outro membro, Em outras vezes, com igual autenticidade, exprimira sentimentos ou preocupagoes que tém como objetivo evidente expor-se a SI proprio ao risco de um crescimento maior, Isto também se aplica a mim, exceto no fato de eu saber que gosto de ser o segundo tipo de pessoa, a que se arrisca mais nas fases finais do que no principio do grupo. Cada faceta é uma parte real de mim, nao um papel. Talvez seja aqui util outra pequena analogia. Se tento ex- plicar algum fendmeno cientifico a uma crianga de cinco anos, a minha terminologia, e até a minha atitude, sera muito dife- rente da que utilizo se explico a mesma coisa a uma pessoa in- teligente de dezesseis. Significara isto que desempenho dois papéis? Claro que nao. Significa, apenas, que utilizei duas fa- cetas ou expressdes do meu yerdadeiro eu, Do mesmo modo, em determinada altura desejo, na realidade, facilitar 0 caminho de uma pessoa, ¢ noutra, arrisco-me a expor algum novo as- pecto de mim prdprio. Creio que a maneira como sirvo de facilitador é importante na vida do grupo, mas 0 processo de grupo ¢ muito mais impor- tante do que as minhas afirmagGes ou o meu comportamento desenrolar-se-4 se nao o contrariar, Tenho a certeza de que me sinto responsavel para com os participantes, € nao por eles. Em certa medida, em qualquer grupo, mas especialmente no chamado curso académico que conduzo a maneira do grupo de encontro, desejo que a pessoa esteja fofalmente presente, nos aspectos afetivo e cognitivo. Nao tenho achado isto facil de con- seguir, ja que a maior parte de nés parece optar, a cada instante, por um aspecto ou pelo outro. Contudo, isso constitui ainda uma maneira de ser que tem muito valor para mim. Tentei realizar Posso ser facilitador num grupo? ____ progressos em mim e nos grupos que facilito, no sentido de per- mitir a pessoa total, tanto com as idéias como com os sentimen- tos — com sentimentos impregnados por idéias e idéias impreg- nadas por sentimentos —, estar plenamente presente. Num semi- nario recente, por razdes que nao compreendi completamente, isto foi conseguido por todos nés, em grau bastante satisfatério. Fungo da criagdo de ambiente Tenho tendéncia para comegar um grupo de uma maneira extremamente nao-estruturada, talvez apenas com um simples comentario: “Suponho que nos conheceremos uns aos outros muito melhor no fim destas sessdes de grupo do que agora”, ou “Aqui estamos. Podemos fazer desta experiéncia de grupo exa- tamente aquilo que desejarmos”, ou “Estou um pouco aflito, mas sinto-me um tanto reconfortado quando olho em volta para vocés e verifico que estamos todos no mesmo bareo. Por onde iremos comecar?” Numa discussao gravada, com um grupo de outros facilitadores, expus este ponto de vista como se segue: Em parte porque confio no grupo, sou eapaz, de um modo geral, de estar bastante 4 vontade e descontraido, mesmo desde o principio do grupo. Isto ¢ exagerar um pouco, pois sinto sempre uma certa ansiedade quando um grupo comega, mas, por muito que sinta, penso: “Nao fago a minima idéia do que vai acontecer, mas penso que 0 que acontecer estara certo”, e creio que tendo a comunica-lo, nao-pessoalmente: “Bem, nenhum de nds parece saber 0 que vai acontecer, mas nao parece ser de preocupar.” Acredito que a minha descontragao ¢ auséncia de qualquer desejo de dirigir possa ter uma influéncia libertadora nos outros Escuto cada individuo que fala de si tao cuidadosa, exata e sensivelmente quanto sou capaz. Quer a expre: ficial ou significativa, eu escuto. Para mim, o individuo que fa- la é importante, merece compreensao; conseqiientemente, ele SAO Seja super- 56 — _______ Grupos de enconiro é importante por ter exprimido qualquer coisa. Alguns colegas dizem que, deste modo, eu “valido” a pessoa’. Nao ha divida de que sou seletivo a escutar e, portanto, “diretivo”, se as pessoas me quiserem acusar disso. Centro-me no membro do grupo que esta falando, e estou, sem duvida, muito menos interessado nos pormenores das discus com a mulher, nas dificuldades no emprege ou no desacordo com 0 que se tinha acabado de dizer, do que no significado que essas experiéncias tém para ele neste momento, ¢ nos sen- timentos que lhe despertam. E a estes significados e sentimen- tos que tento responder. Desejo muito criar um clima psicologicamente seguro pa- rao individuo. Quero que sinta, desde 0 principio, que, se ele se arrisca a dizer qualquer coisa de muito pessoal, absurda, hostil ou cinica, havera pelo menos uma pessoa no circulo que o res- peita o bastante para ouvi-lo com clareza e escutar essa afir- macéo como uma expressao auténtica de si proprio. Ha um caminho ligeiramente diferente em que também quero criar um clima seguro para o membro do grupo. Estou inteiramente consciente de que nao se pode fazer essa expe- riéncia sem 0 sofrimento do crescimento ou da nova visdo, ou sem o sofrimento provocado pela reagao leal dos outros. Con- tudo, gostaria que o individuo sentisse que, o que quer que lhe acontega a ele ou nele, estarei muito com ele, psicologicamen- te, nos momentos de sofrimento ou alegria, ou na combinagao dos dois, que é um sinal freqiiente de crescimento. Habitual- mente, creio que sou capaz de sentir quando um participante esta assustado ou ferido, e € nesses momentos que lhe dou algum sinal, verbal ou nao-verbal, de que percebo isso, e sou uma companhia para ele enquanto vive nessa ferida ou medo. 2. Se eu dissesse, na primeira sesso: “Nés podemos fazer disto 0 que qui- © que teria sido preferivel e provavelmente mais honesto, sentir-me-ia ando.” Mas tinha a certeza de que, = “Vocés podem fazer disto 0 sermo: livre para dizer: “Nao gosto do que esta se na minha tentativa de tranqiiiliza que quiserem.” Pagamos sempre o$ nossos erros. Posso set facilitador num grupo? A aceitagdo do grupo Tenho grande paciéncia com o grupo e com o individuo que dele participa. Se ha coisa que tenha aprendido e reapren- dido nos anos recentes, é decisivamente recompensador acei- tar 0 grupo exatamente no ponto em que ele esta. Se um grupo deseja fazer jogo intelectual ou discutir problemas bastante su- perficiais, se esta emocionalmente muito fechado ou receoso de comunicagio pessoal, estas tendéncias raramente me “des- norteiam” tanto como a outros lideres. Tenho conseiéncia de que certos exercicios, certas tarefas organizadas pelo facilitador, podem forgar, praticamente, o grupo a uma maior comunica- cdo aqui-e-agora, ou a uma maior profundidade de sentimen- tos. Ha lideres que fazem estas coisas com muita habilidade e com bons resultados no momento. Contudo, sou suficiente- mente cientista e clinico para fazer muitos inquéritos ocasionais de seguimento ( follow-up) e sei que, freqiientemente, 0 resultado final desses procedimentos nao ¢ tao satisfatorio como o efeito imediato. Nos melhores casos pode leva formagao de disci- pulos (coisa de que nao gosto): “Que maravilhoso lider ele ¢, por me ter feito abrir, quando eu nao tinha nenhuma intengdo de fazé-lo!” Também pode levar a uma rejeigao de toda a ex- periéncia: “Por que fiz eu aquela série de coisas estipidas que ele me pediu?” Nos piores, pode fazer a pessoa sentir que o seu eu privado foi, de certo modo, violado, e tera o cuidado de nun- ca mais se expor a um grupo. Por experiéncia sei que, se tento empurrar 0 grupo para um nivel mais profundo, a longo prazo, ele nao ira trabalhar. Assim, para mim, descobri que é compensador viver com © grupo exatamente onde ele esta. Deste modo, trabalhei com um conjunto de cientistas altamente cotados — a maior parte em ciéncias fisicas —, muito inibidos, em que raramente os sen- timentos eram expressos abertamente e 0 encontro pessoal em nivel profundo pura e simplesmente nao se via. Contudo, o gru- po tornou-se muito mais livre, expressive e inovador, e manifes- tou muitos resultados positivos nos nossos encontros. Grupos de encontro Trabalhei com administradores de educagao superior — provavelmente 0 grupo mais rigido e bem defendido da nossa cultura — com resultados semelhantes. Nao quero dizer que is so seja sempre facil para mim. Num dado grupo de educado- s, houve muita discussdo superficial e intelectual mas, gra- dualmente, dirigiram-se para um nivel mais profundo, Uma vez, numa sesso a noite, a discussdo tornou-se cada vez mais banal. Uma pessoa perguntou: “Estamos fazendo aquilo que queremos?” E a resposta foi quase unanime: “Nao.” Mas dai a pouco a discusséo degenerou outra vez em conversa de sala, sobre assuntos em que nao estava interessado. Estava num di- lema. A fim de avaliar a grande ansiedade do principio do gru- po, tinha insistido, na primeira sesso, em que eles podiam fa- zer exatamente o que quisessem, e, aparentemente, pareciam estar dizendo muito alto: “Queremos gastar 0 tempo do fim de semana, dispendioso e ganho com dificuldade, falando de ba- nalidades.” Exprimir 0 modo como estava aborrecido e maga- do parecia contraditério com a liberdade que lhes tinha dado. Depois de lutar comigo mesmo, durante alguns momentos, de- cidi que tinham perfeitamente 0 direito de falarem de banalida- des, e que eu tinha perfeitamente © direito de nao suporta-lo. Por isso, sai silenciosamente da sala, e fui para a cama. Depois de eu sair, e na manha seguinte, eram tao variadas as reagdes quantos os participantes. Um se sentiu repreendido e punido, outro sentiu que eu Ihes aplicara um truque, um terceiro sentiu- se envergonhado pelo tempo perdido, outros se sentiram tao molestados como eu com as suas banalidades. Disse-lhes que, tanto quanto tinha consciéncia disso, estava simplesmente ten- tando fazer condizer o meu comportamento com os meus sen- timentos contraditérios, porém que eles tinham o direito de ter as suas proprias maneiras de ver. De certo modo, depois d os intercambios foram sem comparagao mais significativos. Posso ser fucilitador num grupo? Aceitagéo do individuo Deixo que o participante se comprometa ou nado com 0 grupo. Se uma pessoa deseja permanecer psicologicamente a margem, tem a minha permissao implicita para fazé-lo. O grupo em si pode ou nao permitir-lhe que continue nessa posi- ¢do, mas eu, pessoalmente, permito. Um administrador cético de uma universidade disse que a principal coisa que tinha apren- dido era que podia recusar-se a participagdo pessoal, sentir-se 4 vontade com isso e verificar que nao seria coagido. Para mim, isto me pareceu uma aprendizagem valiosa que lhe ira tornar muito mais possivel, atualmente, a participagao num grupo na proxima oportunidade. Informagées recentes sobre o seu com- portamento, apds um ano, sugerem que ele ganhou e mudou com a sua aparente nao-participagao. Para mim, o siléncio ou a mudez no individuo sao aceita- veis, desde que eu tenha a certeza absoluta de que isso nao é sofrimento inexpressivo ou resisténcia. Tenho tendéncia para aceitar a afirmagao pelo seu valor aparente. Como facilitador (tanto como na minha fungao de te- rapeuta), prefiro decididamente ser uma pessoa ingénua; acre- ditarei que a pessoa esta me contando o que realmente lhe acon- tece. Se assim nao é, esta completamente livre para corrigir a sua mensagem mais tarde, e ¢ provavel que o faga. Nao quero perder tempo desconfiando ou imaginando: “O que ele quer realmente dizer?” Reajo mais aos sentimentos presentes do que 4s afirma- cdes sobre experiéncias passadas, mas permito que ambas es- tejam presentes na comunicagao. Nao gosto da regra: “So fala~ remos do aqui e do agora.” Tento tornar claro que tudo o que acontecer acontecera por opgées do grupo, quer sejam claras e conscientes, hesitan- tes, incertas ou inconscientes. A medida que me torno, cada vez mais, um membro do grupo, transporto voluntariamente a mi- nha porcao de influéncia, porém nao controlo o que acontece. 60 ___ Grupos de encontra Habitualmente, sou capaz de me sentir bem com o fato de em oito horas podermos realizar o valor de oito horas, e em quarenta horas realizar o valor de quarenta horas — enquanto, numa sessdo de demonstragao de uma hora, podemos realizar o valor de uma hora. Compreensdo empiatica A tentativa para compreender o significado exato daquilo que a pessoa esta comunicando é o mais importante e o mais freqiiente dos meus comportamentos num grupo. Para mim, é uma parte desta compreensdo que tento desco- brir através das complicagées, fazendo voltar a comunicagao ao caminho do significado que ela tem para a pessoa. Por exemplo, depois de uma descrigao muito complicada e um pouco incoe- rente, feita por um marido, respondo: “E assim, pouco a pouco, acabou por calar coisas que anteriormente teria comunicado a sua mulher. E isso?” “p> Acredito que isto facilita, visto que clarifica a mensagem para quem fala e ajuda os membros do grupo a compreender e a nao perder tempo perguntando ou respondendo aos porme- nores complicados que ele apresentou, Quando a discussao degenera em generalidades ou se in- telectualiza, tenho tendéncia para selecionar as significagdes referentes 4 propria pessoa do meio da totalidade do contexto. Assim, posso dizer: “Ainda que vocé esteja falando de tudo isto em termos gerais, daquilo que toda a gente faz em certas situa- ges, suponho que ao dizer isso esta falando de si. Esta certo?” Ou: “Diz que todos nés fazemos e sentimos desta e daquela maneira. Quer dizer que vocé faz e sente assim?” No comego de um grupo, Al disse algumas coisas muito significativas. John, outro membro, comegou a fazer-lhe per- guntas e mais perguntas sobre o que ele dissera, e eu so ouvia Possa ser facilitador num grupo? 61 perguntas. Finalmente eu disse a John: “OK, continua tentando saber o que ele disse e 0 que ele queria dizer, mas penso que esta tentando dizer qualquer coisa a ele, e nado tenho certeza do que é.” John pensou durante um momento e em seguida come- gou a falar para s?, Até esse momento, aparentemente, estivera tentando que Al articulasse os seus sentimentos (os de John) em vez dele, e assim nao teria de expressa-los como vindos de si, Este parece ser um exemplo bastante freqiiente. Desejo muito que a minha compreensiao se alargue aos dois campos de uma divergéncia de opinides que se exprime. Assim, num grupo que discutia 0 casamento, duas pessoas defend pontos de vista muito diferentes. Eu respondi: “Ha uma diferen- gareal entre vocés dois, porque Jerry diz: “Gosto de suavidade numa relagdo. Gosto que ela seja delicada e tranqitila’, e Winnie diz: “Bolas para tudo isso! Gosto da comunicagao!” Isto ajuda a salientar e a clarificar 0 significado das diferengas.” Atuando segundo aquilo que sinto Aprendi a estar cada vez mais liberto, para usar os meus proprios sentimentos tal como existem no momento, quer em relagdo ao grupo na totalidade, quer a um individuo ou a mim mesmo, Sinto quase sempre um interesse presente e auténtico para cada membro e pelo grupo como um todo. E dificil en- contrar uma explicagao para isto. E simplesmente um fato. Dou valor a cada pessoa; mas esta valorizagao nao conduz a garantia de uma relagdo permanente. E um interesse e um sen- timento que existem agora. Penso que 0 sinto mais claramente porque nao digo que ele é ou sera permanente. Julgo que sou bastante sensivel nos momentos em que um individuo se sente pronto para falar, ou esta proximo do sofrimento, das lagrimas ou da cdlera. Assim pode dize “Demos uma oportunidade a Carlene”, ou entao: “Voce pare- ce estar realmente perturbado com alguma coisa, Quer dei- Xar-nos participar disso?” e Grupos de encontro E provavel que fira precisamente quando estou com com- preensio empatica. O desejo de compreender e de acompanhar psicologicamente a pessoa que sofre nasce em parte, provavel- mente, fora da minha experiéncia terapéutica. Em qualquer relagao importante ou continua, procuro ex- primir quaisquer sentimentos persistentes que experimento para com o individuo ou para com o grupo. Tais expressdes, evidentemente, nao aparecerao logo no principio, quando os sentimentos ainda nao sao persistentes. Posso, por exemplo, nao gostar do comportamento de alguém durante os primeiros dez minutos em que o grupo esta reunido, mas seria pouco provavel que o dissesse no momento, Contudo, se o sentimen- to persistir, expressd-lo-ei. Ao discutit este assunto, um facilitador di “Tenho ten- tado seguir um décimo primeiro mandamento. Exprimir sempre 0s sentimentos que se estéo experienciando!” Um outro inter- veniente retorna: “Sabe como eu reajo a isso? Sempre pode- mos fazer a opgao. Por vezes, decido exprimir os meus senti- mentos; outras vezes, decido nao fazé-lo.” Encontro-me muito mais de acordo com a segunda afir- magao. Se posso apenas ter consciéncia, num dado momento, de toda a complexidade dos meus sentimentos — se estou me escutando-me adequadamente — entéo € possivel opfar por exprimir atitudes fortes ¢ persistentes ou nao exprimi-las nessa altura, se Confio nos sentimentos, palavri em mim emergem. Deste modo estou usando mais do que o eu consciente, estou esbogando algumas das capacidades do meu organismo total. Por exemplo: “De stibito, imaginei que vocé era uma princesa e que gostaria que todos fossemos seus stidi- tos.” Ou: “Sinto que vocé é 0 juiz e o réu, e que, severamente, esta dizendo para si proprio ‘E culpado de tudo’: Ora, a intuigéo pode ser um pouco mais complexa. En- quanto um responsavel de negocios fala, posso, de repente, ima- lados dentro © parecer inapropriado. impulsos, fantasias que ginar o rapazinho que ele transporta para todos o 63 Posso ser facilitador num grupo? _ de si—o rapazinho que ele foi, timido, dependente, medroso a crianga que ele se esfor¢a por negar, de quem tem vergonha. E eu desejo que ele ame e cuide dessa crianga. Assim, posso ex- primir essa fantasia — nao como qualquer coisa real, mas como uma fantasia minha. Muitas vezes isto produz uma reagao sur- preendentemente funda e uma profunda compreensao. Desejo ser tio expressivo nos sentimentos positivos e de amor, como nos negativos, frustrados ou irritados. Nisto pode haver um certo risco. Em certa ocasiao, penso que prejudiquei 0 processo de grupo por ter sido, nas primeiras sessGes, dema- siado expressivo dos sentimentos calorosos para com alguns membros do grupo. Como eu era ainda olhado como o facili- tador, isto tornou mais dificil aos outros porem para for guns dos seus sentimentos negativos e de irritagdo, os quais nunca foram expressos até a Ultima sessao, levando 0 grupo para um fim decididamente infeliz Acho dificil ter facil ou rapidamente consciéneia dos sen- timentos de irritagao em mim. Lamento-o. Neste ponto, estou ‘a al- aprendendo lentamente. Seria bom exprimir sem demasiada conscién que se sente no momento. Houve um grupo de encontro que e foi gravado — um grupo em que houve muito movimento, Apenas dois anos mais tarde ouyi as gravagoes, e fiquei espantado com alguns sentimentos que expressara— em particular para com ou- tros. Se um membro do grupo me tivesse dito (dois anos de- pois): “Vocé disse-me isto assim e assim”, tenho a certeza de que o teria negado. Contudo, aqui esta a prova de que, sem pesar as conseqiiéncias possiveis de cada palavra ou pensamento, eu expressara inconscientemente, como pessoa do grupo, qualquer sensacdo que tivera no momento. Fiquei satisfeito com isto. Pareco funcionar melhor, num grupo, quando os meus “pro- prios” sentimentos — positivos ou negativos — entram em relagao imediata com os de um participante. Para mim, significa que estamos comunicando-nos num nivel profundo de significagao pessoal. E o que de mais proximo consigo numa relagao eu-tu 64 ____ Grupos de encontro Quando me fazem uma pergunta, procuro auscultar os meus proprios sentimentos. Se a sinto como verdadeira e sem conter outra mensagem além da pergunta, entao procurarei res- ponder-lhe o melhor possivel. Contudo, nao sinto nenhuma coa- cao social a responder-lhe s6 porque foi posta como uma per- gunta. Pode haver nela outras mensagens muito mais impor- tantes do que a pergunta em si. Um colega disse-me um dia que “des: pria cebola”, isto é, que exprimo constantemente niveis mais profundos de sentimento, 4 medida que tomo consciéncia de- les num grupo. S6 espero que isto seja verdade. asco a minha pré- Confrontagdo e feedback Tenho tendéncia para me confrontar com os individuos em pontos especificos do seu comportamento, “Nao gosto da manei- ra como esta sempre falando. Parece-me que diz aquilo que quer dizer trés ou quatro vezes. Gostaria que acabasse quando tivesse dito o que queria.” “Para mim, vocé é como uma espécie de mas- sa informe. Parecem toca-lo, amolga-lo, mas depois tudo volta ao seu lugar como se nao tivesse sido tocado.” E gosto de confrontar uma pessoa apenas com sentimentos que estou disposto a considerar como meus. Estes podem, por yezes, ser muito fortes. “Nunca na minha vida estive tao cha- teado num grupo como neste.” Ou, para um homem do grupo: “Acordei esta manh sentindo que ‘nao quero voltar a vé-lo’.” Atacar as defesas de uma pessoa parece-me condenavel. Se se diz: “Esta ocultando uma grande hostilidade” ou “Est sendo muito intelectual, provavelmente porque tem receio dos seus proprios sentimentos”, acho que tais afirmagées e diag- nésticos sao o contrario de qualquer ajuda. Contudo, se 0 que sinto como frieza da pessoa me frustra, se sua racionalizacao me irrita ou se a brutalidade para com outra pe: oa me encole- Posso ser facititador num grupo? riza, entéo gostaria de enfrenta-la com a frustragao, irritagdo ou célera que existem em mim. Para mim, isto é muito importante. Ao me confrontar com alguém, uso, freqiientemente, mate- rial bastante especifico, fornecido previamente pelo participante “Agora esta sendo aquilo a que, de outra yez, chamou © ‘pobre rapazinho do campo’. Agora, parece-me que esta, outra vez, a fa- zé-lo—a fazer a mesma coisa que descreveu —, a sera crianga que quer ser aprovada a todo o custo.” Se uma pessoa parece aflita por causa da minha confron- tagdo ou pela dos outros, fico disposto a ajuda-la a “desemba- e”, se assim o quiser. “Parece ter tido tudo o que queria. Gostaria que o deixassemos sozinho durante algum tempo?” Apenas se pode ser guiado pela resposta, aprendendo que, por vezes, ele quer que o feedback e a confrontacio continuem, mesmo que seja doloroso. yar- Expressdo dos meus préprios problemas Se estou entéo preocupado com alguma coisa na minha propria vida, estou pronto a exprimi-la no grupo, porém, na ver- dade, tenho uma espécie de escrupulo profissional a este respei- to porque, se sou pago para ser facilitador, sinto que devo resol- ver os meus problemas graves num grupo diretivo, ou com al- gum terapeuta, em vez de tirar tempo ao grupo. Provavelmente sou demasiado escrupuloso neste ponto. Uma ocasiaéo — num grupo de professores, que evoluia muito lentamente e se reunia uma vez por semana —, senti que os decepcionei. Em determina- da altura, estava extremamente preocupado com um problema pessoal, mas senti que isso nao interessava ao grupo e abstive- me de falar dele. Quando olho para tr cilitado o processo de grupo tanto como es: cao; creio que os teria ajudado a serem mais expressivos. Se nao me sinto livre para exprimir os meus problemas pessoais, isto tem, infelizmente, duas conseqiiéncias. Em pri- vejo que nada teria fa- minha preocupa- 66 Grupos de encontro meiro lugar, nao escuto tio bem. Em segundo, sei, por varias experiéncias, que o grupo é capaz de perceber que estou aflito € pensar que sao e/es, por qualquer razao desconhecida, que téma culpa, Evitar o planejamento e os “exercicios” Procuro evitar usar qualquer processo que seja planejado; tenho um verdadeiro horror ao artificialismo. Se se tentasse qualquer processo planejado, os membros do grupo deviam estar tao completamente dentro dele como o facilitador e de- viam ser eles proprios a decidir se queriam aplicar esse pro- cesso, Em raras ocasides, quando me senti frustrado ou quan- do um grupo parecia ter alcangado uma plataforma, tentei aquilo que considero estratégias, mas raramente deu resultado. Provavelmente é assim porque nao acredito que isso seja real- mente util. E possivel delinear um procedimento para os membros do grupo, mas 0 que acontece € com eles. Num grupo apatico, su- geri que tentassemos sair da nossa estagnagaéo fazendo como outros grupos tinham feito: formando um circulo interior e ou- tro exterior, com a pessoa no circulo exterior preparada para falar livremente sobre os verdadeiros sentimentos do indivi- duo frente a si. O grupo nao prestou absolutamente nenhuma atengdo A sugestao e continuou como se ela nunca tivesse sido feita. Mas, dai a uma hora, um dos membros apanhou o aspec- to central desta estratégia e usou-o, dizendo: “Quero falar por John e dizer o que penso que ele esta realmente sentindo.” Um ou dois dias depois, usaram esse processo pelo menos uma di- zia de yezes — mas 4 sua maneira espontanea, nado como uma mera ou rigida estratégia. Em minha opiniao, nada do que acontece com verdadeira espontaneidade pode ser considerado um “truque”. Por isso pode utilizar-se a representagao de papéis, o contato corporal, Posso ser faacilitador num grupo? 67 © psicodrama, os exercicios como o que descrevi e varios ou- tros processos quando parecem exprimir o que se esta real- mente sentindo na ocasiao. Leva-me isto a dizer que a espontaneidade é 0 elemento mais precioso e fugidio que conhego. Quando fago qualquer coisa espontaneamente, ela é altamente eficaz. Depois, no grupo seguinte, posso ser fortemente tentado a fazé-la outra vez —“espontaneamente”’ — e tenho certa dificuldade em com- preender por que falha. E ébvio que nao foi verdadeiramente espontaneo, Evitar os comentarios interpretativos ou do processo Raramente fago comentarios sobre o processo de grupo. Eles tém tendéncia para tornar o grupo demasiado consciente de si mesmo, atrasam-no, dando aos membros a sensagdo de estarem sendo observados. Estes comentarios implicam tam- bem que nio esteja olhando os membros do grupo como pes- soas, mas como uma espécie de massa ou aglutinado, e nao é deste modo que desejo estar com eles. Se tiver que haver co- mentarios sobre o processo de grupo, é melhor que procedam, naturalmente, de um membro. Sinto 0 mesmo quanto a comentarios sobre 0 processo no individuo. A experiéncia de sentit-se competitivo, por exem- plo, e experimentar esta sensagdo abertamente, ¢ para mim mais importante do que o fato de o facilitador pér um rotulo neste comportamento. Por alguma razio nao tenho nenhuma objegao quando um participante faz alguma coisa deste géne- ro. Por exemplo, um professor queixava-se dos alunos que que- riam sempre respostas 4s perguntas e que faziam pe continuamente. Ele sentia que eles tinham suficiente confian- ¢caem si mesmos. Continuou insistentemente a pe Intar-me, cada vez mais, o que fazer com tal comportamento, Um mem- bro do grupo acabou por dizer: “Parece que nos esta dando, runtas 8 : Grupos de encontro precisamente, um bom exemplo daquilo de que esta se quei- xando.” Isto parece que ajudou muito. Tenho tendéncia para nao sondar ou comentar o que pode estar por detras do comportamento de uma pessoa. Uma inter- pretagao, para mim, da causa do comportamento individual s6 pode ser altamente hipotética. A unica maneira pela qual isso po- de ter valor é quando uma autoridade invoca a sua experiéncia. Porém nao quero servir-me desse tipo de autoridade. “Penso que é por se sentir incapaz como homem que insiste nesse compor- tamento fanfarrao” nao é 0 tipo de comentario que eu alguma vez tenha feito. A potencialidade terapéutica do grupo Se, no grupo, surge uma situagao muito critica, quando um individuo parece ter um comportamento psicotico ou esta atuando de maneira estranha, aprendi a contar com os mem- bros do grupo para serem tanto ou mais terapeutas do que eu. Por vezes, como profissionais, agarramo-nos a rétulos e pen- samos, por exemplo: “Isto ¢ pura e simplesmente um compor- tamento parandico!” Como conseqiiéncia, ha a tendéncia para nos afastarmos um pouco € tratarmos a pessoa mais como um objeto, Contudo, 0 membro do grupo, mais ingénuo, continua a lidar com a pessoa perturbada como pessoa, e isto é, de acor- do com a minha experiéncia, muito mais terapéutico. Assim, nas situagGes em que um membro esta mostrando um compor- tamento nitidamente patologico, conto mais com a sabedoria do grupo do que comigo e fico, freqiientemente, profundamen- te espantado com as capacidades terapéuticas de seus mem- bros. Isto é simultaneamente humilhante e sugestivo. Leva-me a@ pensar no inacreditavel potencial de ajuda que reside, habi- tualmente, na pessoa nao treinada, desde que tenha a liberdade de aplica-lo. 69 Posso ser facilitador num grupo? Movimento e contato fisico Exprimo-me pelo movimento fisico tao espontaneamente quanto possivel. A minha formagao nao é das que me tornem especialmente liberto a este respeito. Porém se estou impacien- te levanto-me, distendo-me e ando a esmo. Se desejo trocar de lugar com outra pessoa, pergunto-lhe se esta interessada nisso As pessoas podem sentar-se ou deitar-se no chao, se isso vai ao encontro das necessidades fisicas. Nao me esforco, contudo, por promover especialmente o movimento fisico nos outros, embo- ra haja facilitadores que possam fazé-lo bem e eficazmente. Aprendi, pouco a pouco, a responder com 0 contato fisi- co, quando este parece verdadeiro, espontaéneo e apropriado. Quando uma jovem chorou porque sonhara que ninguém do grupo gostava dela, abracei-a, beijei-a e consolei-a. Quando uma pessoa sofre e sinto desejo de me aproximar e pér-lhe o meu brago 4 volta, fago isso mesmo. Mais uma vez no procu- ro, conscientemente, promover este tipo de comportamento. Admiro as pessoas mais que esto mais descontraidas e libertas a este respeito. Um ponto de vista de trés geragées Depois de escrever 0 que esta acima, tive oportunidade de discutir a comunicagao nao-verbal e o contato fisico com a mi- nha filha, Natalie R. Fuchs, e com uma das minhas netas, estu- dante de uma universidade, Anne B. Rogers. Natalie tem faci- litado grupos muitas vezes, e Anne acabaya de regressar de um grupo de encontro do qual participara e que acl 1 de grande utilidade. Ambas estavam desapontadas com a pouca importancia que eu dera a esses temas e ocorreu-me que uma tentativa para originar de novo as observagées de cada uma de- las daria a perspectiva de trés geragdes de uma familia sobre os problemas do contato fisico e outros meios de comunicagao 70 Gripes de encontro ndo-verbal. O que se segue nao é¢ literal, porém um relato bas- tante fiel de cada conversa, dado na primeira pessoa, para tor- nar claro que elas estado falando pessoalmente. Eis, primeira- mente, Natalie Fuchs. Como participante de grupos, ganhei imenso com vé experiéncias fisicas e nao-verbais. Conseqiientemente, senti-me mais livre para introduzi-las nos grupos que facilitei. Acho que os membros do grupo apreciam muito estas novas formas de comunicagdo e que elas fornecem muitos dados para reflexdo, Participo sempre de qualquer destas experiéncias que pro- ponho. Pessoalmente, acho dificil dizer soas 0 que hao de fazer, ou mesmo sugerit o que podiam fazer, mas torno esta ta- refa mais facil para mim dando a qualquer membro, em qual- quer altura, a oportunidade de nao participar destes exercicios. Se participo de um grupo, desejo ter a liberdade de escolher — arriscar-me por algum caminho, sugerido ou nao. Nao gosto de jas receber ordens, por isso nao as dou. Penso que a nossa cultura tem uma terrivel falha neste as- pecto do contato fisico. Ele apenas tem um significado sexual — quer seja heterossexual quer homossexual. Privamo-nos de muito calor humano e de apoio, interpretando dessa maneira o contato fisico. Contudo, o grupo fornece um ambiente protegi- do em que um individuo pode arriscar-se nestes novos cami- nhos e manifestar as suas opiniGes sobre o contato fisico. Uma mulher pode descobrir que deseja um abrago paternal de um ho- mem com metade da sua idade, ou que tem sentimentos homos- sexuais por outra mulher, ou que é atraida sexualmente por um Todos estes sentimentos sao accitaveis, homem em especial Em vez de recear as suas emogdes, podem fazer-se opgdes ra- cionais, baseadas nos sentimentos recentemente descobertos. Acho importante que os exercicios nao-verbais vio ao en- contro das necessidades atuais ou das disposigdes do grupo, ou de certos individuos no grupo, Se os membros estao na fase ini- cial, se comecam a conhecer-se e a confiar uns nos outros, sugi- jude os individuos a revelarem-se num ro qualquer coisa que nivel bastante profundo, Posso ser facilitador num grupo? mt As pessoas, por exemplo, comegam freqiientemente por se i apresentarem como num coquetel: “Sou mae de familia, sou sada, sou assistente social.” Se isto prevalecesse, podia su que cada pessoa desenhasse, com um pedago de giz, um auto-retrato ou auto-imagem. Os desenhos rede e dadas explicagdes. “Este é 0 meu lado de mau genio aqui esta mancha vermelha — esta tapado a maior parte do tem- po, mas, vejam, sai aqui e ali.” Os membros do grupo podem fazer perguntas sobre o de- senho, contudo evito as interpretagdes. O objetivo do exercicio é revelar-se a si mesmo. De vez em quando, aplico as seguintes instrugGes para aju- dar o grupo a relacionar-se rapidamente: “Parecemos estar en- contrando dificuldades em ultrapassar a maneira socialmente aceita de nos conhecermos uns aos outros. Para os que desejem tentar algo de novo, sugiro que andemos a esmo, apresentando- nos com um aperto de mao, usando os primeiros nomes e toman- isual. (Alguns minutos apés isto:) Agora, parem de ern pido 40 colocados na pa- do contato apertar as maos, e encontrem outra maneira de dizer ‘ola’ .” Em sessOes posteriores, se nao a0 ac cussao imediata continuada, as pessoas contam que obtém mui- sobre $1 € os outros. tas informagées tte’ Achei 0 blind walk — em que uma pessoa conduz outra, que tem os olhos vendados — uma maneira util de encarar a sua atitu- de relativamente 4 dependéncia. Ha muitos dos chamados exer- cicios de “confianga” que também tenho usado. O importante, para mim, é que nao sejam s6 jogos de salao, mas que se usem na altura devida ¢ que os sentimentos sejam aprofundado: Estive a co-liderar um grupo de percepgio sensorial para adolescentes perturbados. Empreguei muitos processos desen- volvidos em Esalen, Também sou um membro participante da equipe diretiva que trabalha com este mesmo grupo, semanais de terapia de grupo. As “horas terapéuti mais respeito a experiéncias passadas — relagdes na familia mal dados, atitudes para com a escola e a sociedade. A ex- es dizem pas- SO periéncia de consciéncia sensorial parece suplementar a terapia. Acentua as coisas positivas da vida —a alegria de cheirar, tocar, estar consciente, no aqui e agora, com outro ser humano. Isto St nn Grupos de encontro realga o que se deve cuidar nestes jovens. Um rapaz, um dia, parecia bastante isolado do grupo, muito sd. Perguntei se havia alguma coisa que pudéssemos fazer para trazé-lo mais proximo de nds. Ele respondeu; “Bem, esta semana foi excessivamente dura, em casa e em todo o lado, O que me apetecia mesmo era uma massagem.” Assim, deitou-se de brugos e os outros mem- bros juntaram-se a volta dele e massagearam-no profunda e ca- rinhosamente. Pareceu apreciar os cuidados manifestados. Freqiientemente acontece num grupo qualquer coisa es- pontanea nao-verbal se foi estabelecida, pelo lider, a norma de que essa agao sera permitida. Num grupo de adultos, um homem pedia feedback aos ou- tros. Davam-lhe suas impressdes, com honestidade, por pala- vras. Parecia-me que estava sé, ado e passivo, quer pela posi¢do, a um canto, quer pelo que nos dissera em sessdes ante- riores. Quando chegou a minha yez de lhe responder, pedi-lhe que saisse do canto e se sentasse 4 minha frente, onde eu lhe po- deria responder mais diretamente. Nao pude resistir a dar-lhe um pequeno empurrao. Caiu, empurrei-o de noyo, de leve, e ele caiu mais longe. Comecei a sentir-me irritada, e dei-Ihe um for- te empurrao, no ombro. Nao trocamos nenhuma palavra, porém estivemos olhando um para 0 outro, Por fim, yoltou-se para mim, lutamos e debatemo-nos, e verifiquei que ndo podia derruba-lo. Ganhou muito com a experiéncia, e eu também. Acredito que pelo menos temporariamente foi capaz de se sentir mais homem. Gastamos, quase sempre, algum tempo falando da com- preensao que obtemos com os nossos contatos nao-verbais e fi- sicos. Parece-me que ha varias espécies de aprendizagens que reaparecem. Uma das mais importantes, talvez, é que esses con- tatos se tornam “dessexualizados”, Nao ¢ que percam as suas conotagdes sexuais, mas estas torne sustador © contato adquire muitos significados novos. Leva os indivi- duos a fazerem, em nivel de experiéncia, a pergunta; “Desejo, na realidade, estar prdximo de outra pessoa?” Finalmente, como é muito mais facil “levar” os outros, e até nds préprios, com pala- . a8 experiéncias nao-verbais leyantam a questao; “Sou sin- cero? Quando falo ou converso, quero dizer o que digo, ou ape- nas sou verdadeiro nas minhas agGes?” Foram estes alguns dos m-se menos a valores que encontrei neste tipo de experiéncia de grupo. Posso ser facilitador num grupo? Bis a declaragao de Natalie, do ponto de vista do facilitador. Agora transcrevo o relato de Anne, a minha neta, sobre aspectos do movimento corporal num grupo de encontro de fim de semana, em que, pela primeira vez, ela sentiu suficien- te confianga num grupo para se exprimir livremente de manei- ra fisica. Este relato, como o primeiro, é uma reconstrugdo de partes da nossa conversa. John, um dos membros, tivera experiéncias de psicodrama e movimento corporal em grupos anteriores. Inicialmente, irri- tava-nos a todos, porque parecia pensar que era superior mas, seja como for, no fim da primeira sessdo noturna — talvez ele 0 provocasse — todos nos avangamos para o centro da sala, uma a de corpos, com os bragos em volta uns dos outros, fechados, balangavamos para tras e para diante, io extraordinaria e no dia seguinte todos nos sen- massa espe: e, com os olho Foi uma sensa tiamos mais li S para o contato fisico, quando 0 queriamos. Seria dificil dizer todas as maneiras como usamos os meios fisicos para exprimir sentimentos. As vezes, sentavamo-nos no chao, muito juntos, por vezes davamos as maos. Os membros tados com outros, empurravam-se que, por vezes, estavam ir reciprocamente —~ com forga. Houve uma vez uma Zanga que provocou briga, em que nos pusemos 4 volta para proteger, se sala. Mas também houve movi- necessario, os dois homens, ou mentos muito afetuosos — pessoas a apoiarem-se ¢ a abragarem- se umas ds outras. Fizemos também um “passeio da confianga (trust walk). Em dado momento, exprimimos os nossos senti- mentos para com a facilitadora, balangando-a, suavemente, para tras e para a frente. Uma noite, comegamos a sentirmo-nos ma lucos e também o exprimimos — dangando em volta, como ma cacos! Era divertido deixar as coisas sairem, tal como vinham: No nosso grupo, havia dois homens que tinham realmente . Um era um homem casado, que sen pavor dos contatos fisict tia que, de certo modo, nao estaria sendo fiel 4 mulher se tivesse contatos ou mostrasse sentimentos afetuosos para com as mu lheres do grupo. Pouco a pouco mudou a esse respeito, O outro era um jovem contraido, que jul ‘ava que se ndo controlasse os __ Grupos de encontro sentimentos com muita firmeza — especialmente os sentimentos de irritagao e os sexuais — ficaria completamente descontrolado. Com o segundo, enquanto ele falava, muito emocionado, de um problema na familia, um tanto parecido com um proble- ma da minha, comecei a chorar. S6 me apoiei nele e chorei no seu ombro. Posteriormente. pareceu-me que o ajudara a com- preender que o contato fisico com uma mulher nao significa se- Xo necessariamente. Mais tarde, fomos capazes de discutir al- gumas da Penso que algo do que tudo isto significou para mim esté contido em algumas notas que escrevi pouco depois do grupo. Sao muito gerais, mas pode empregd-las, se quiser. (Escolhi al- gumas das notas dela, uma vez que 0 espago nao permite citd- las todas.) Comunicagao verbal: muito necessaria; todavia as pala- vras também sao uma barreira; podem ser usadas especialmen- te para desviar o contato. E, se quero exprimir coisas de outra maneira, que posso fa: 50 aproximar-me, toca-lo? Com formas como a sua tensdo assustav Po: os olhos, pelo tato, com um sorriso. Andamos todos as tontas, tentando nao chocar as pessoas; tanta energia gasta em evita Mas nao ha nada tao maravilhoso e tao maravilhosamente humano como ser apoiado, envolvido, amado. Sentir o calor e a sinceridade de outra pessoa. Dar, por sua vez, conforto, for As palavras podem enganar, por vezes; mas um abrago — a v dade é transmitida por algo mais do que 0 som... Por que temos nds tanto medo do contato? Porque tocar-se significa — SEXO. Mas nao véem? Nao ha preto ou branco; mas um todo, continuo, entre ambos. Sim, o tocar, segurar, envolver, implica sexo, O aperto de mao mais distante, feito friamente, é sexual, mesmo na sua negagdo da emogao. A maneira de lidar com o contato fisico nao ¢ dessexualiza-lo, mas reconhecer a existén- cia da sensibilidade; aceita-la. Se puder aceitar a experiéncia do contato, ela deixara de me incomodar. Se aceitar as respostas que desperta em mim, provavelmente nao irei descobrir medo ou repulsa, mas sim o verdadeiro contetido da intimidade — amor, calor, ale; Posso ser facilitador mum grupo? Quando estou numa situagao em que nao sei se haverei de exprimir-me pelo movimento, num grupo ou mesmo com um individuo; quando quero aproximar-me de alguém e segurar a mao dele ou dela 86 para saberem que compreendo, porém te- nho dividas quanto ao acolhimento — entdo, sinto-me tensa ¢ atada, por dentro —, como se estivesse sentada em cima de um vulcdo, dominando uma erup¢ao. Que sensagao infeliz! O meu espirito controla, dizendo: “Nao seja tonta; por que aproximar-se se vai ser rejeitada? A outra pessoa sera desagradavel, far-lhe-d sentir-se embaragada; todos desejarao fazer consideracdes sobre suas inteng6es; nao atraia tanto a atengaio.” Assim, sento-me ali ¢ sinto-me tensa, ; € des E tao natural, tao bom, r livre. iosa e medro: indo poder s loroso e verdadeiro! Sentir a er vida espontaneamente, reconhecé-la e reparti-la. spero que tenha A Foi uma digressio um pouco longa, mas sido util, ao chamar a atengao, nao apenas para uma tendéne dos grupos de encontro, mas para uma tendéncia da nossa cul- tura. E muito nitido que Natalie, a minha filha, esta muito mais liberta do que eu, ao usar 0 movimento e o contato nos grupos que facilita. Também me € evidente que, quando era estudante, nao poderia ter tide os sentimentos ou escrito as notas produzidas por Anne, a minha neta. Assim, os grupos de encontro e os tempos estao se transformando. Agora que apresentei este ponto de vista em trés niveis so- bre 0 modo como os meios fisicos podem ser estimulados por um facilitador e experimentados por um participante, gostaria de voltar a certas quest6es relacionadas com a minha maneira de ser num grupo. Algumas falhas de que estou consciente Sinto-me muito melhor num grupo em que se exprimem sentimentos — qualquer espécie de sentimentos — do que num grupo indiferente. Nao sou especialmente capaz de criar uma 76 Grupos de encontro relagao, e tenho verdadeira admiracao por alguns facilitadores que conhego e que conseguem criar, rapidamente, uma rela auténtica e significativa, que continua a desenyolver-se depois. Escolho, freqiientemente, uma pessoa assim para co-facilitador. Como resumidamente disse mais acima, sou freqiientemen- te lento sentindo e exprimindo a minha propria célera. Conse- qlientemente, so tarde me torno consciente dela e a exprimo. Num grupo de encontro recente, estive. por varias vezes, muito irritado com dois individuos. Com um, s6 tomei consciéncia disso no meio da noite e tiye de esperar pela manha seguinte para expressa-lo. Com o outro, fui capaz de verifica-lo e expri- mir na sessao em que isso aconteceu. Em ambos os casos, con- duziu 4 comunicagao auténtica — a um reforcar da relagdo e, pouco a pouco, 4 sensagao de gostarmos verdadeiramente um do outro. Mas, neste campo, aprendo lentamente e, por isso, tenho verdadeiro aprego pelo que os outros fazem quando ten- tam afrouxar as préprias defesas, o suficiente para deixar os sentimentos imediatos, do momento, penetrar na consciéncia. Um problema especial Nos ultimos anos, tive que enfrentar o problema especial de quem quer que se tenha tornado muito conhecido, pelos seus escritos e pela inclusdo de teorias suas em programas de ensino. As pessoas vém comigo para um grupo com toda espé- cie de expectativas — desde uma auréola de santo a chifres de dem6nio. Procuro dissociar-me, tao rapidamente quanto possi- de vestir, nos ando o desejo de que me conhegam como uma vel, destas esperangas ou receios. Na maneit gestos € expre pessoa — e nao s6 como um nome, um livro ou uma teoria — tento fornar-me pessoa para os membros do grupo. E sempre consolador encontrar-me numa reuniao — por exemplo, num liceu feminino ou, por vezes, com homens de negécios — para quem nao sou um “nome” ¢ em que tenho de “o fazer” de novo, Posso ser facilitador num grupo? 7 simplesmente, como pessoa que sou. Apeteceu-me beijar a jo- vem que, no comeco de um grupo, disse, desafiando-me: “Pen- so que isto me parece uma coisa arriscada. Quais sAo as suas qualificagées para fazer isto?” Respondi que tivera alguma experiéncia trabalhando com grupos € que esperava que me achassem qualificado, mas podia, certamente, compreender a preocupagao dela, e que eles teriam de formar o seu proprio juizo a meu respeito. Comportamento que creio nao fa o andamento de um grupo’ Apesar de ter insistido no principio deste capitulo em que ha muitos estilos eficazes de trabalhar com um grupo, também ha certas pessoas que conduzem grupos e que nao aprovo, porque algumas das suas formas de o fazerem me parecem nao facili- tar o andamento deles e serem até prejudiciais para 0 grupo e ara OS seus membros. Nao posso concluir esta discussao de uma maneira honesta sem fazer uma lista de alguns destes com- t4 numa fase tao portamentos. A investigagdo neste campo infantil que nao se pode pretender que as opinides abaixo apon- tadas sejam baseadas nos fatos ou alicergadas por achados de investigacao. Sao simplesmente opiniGes que nasceram da minha experiéncia e como tal expressas. 1. Suspeito, decididamente, da pessoa que parece -estar explorando 0 atual interesse pelos grupos. Devido a este inte- resse muito crescente, certos profissionais parecem-me ter co- mo slogans: “Fagam publicidade rapidamente!”, ‘‘Fagam baru- lho!” Quando tais caracteristicas aparecem em individuos que trabalham com pessoas, fico profundamente indignado. 3. Ao escrever esta segdio aproveitei da diseusso que tive com varias pes- soas, em especial com Ann Dreyfuss e William R. Coulson 28 Grupos de encontro 2. Um facilitador é menos eficaz quando empurra um grupo, quando o manipula, quando lhe cria regras, quando ten- ta dirigi-lo para os seus fins pessoais nao confessados. Mesmo um leve toque deste tipo pode diminuir (ou destruir) a con- fianga que o grupo tem nele, ou — pior ainda — tornar os mem- bros seus discipulos cheios de veneragio. Se tem objetivos especificos, é melhor explicita-los. 3. Depois, ha o facilitador que avalia o éxito ou fracasso do grupo pelo dramatismo — que conta o numero de pessoas que choraram ou que foram “conyertidas”, Para mim, isto con- duz a uma avaliag4o extremamente falsa. 4. Nao aprovo um facilitador que acredita apenas num tnico tipo de técnica como elemento essencial no processo de grupo. Para um, “atacar defesas” é 0 sine gua non. Para outro, “extrair de cada pessoa 0 ddio basico” é a cangAo monocérdia. Tenho grande respeito por Synanon e pela eficdcia do seu tra- balho com drogados, todavia rejeito o seu dogma, precipitada- mente formado, de que o ataque duro, quer baseado em senti- mentos reais quer falsos, é © critério pelo qual um grupo é considerado bem ou mal sucedido. Desejo que se exprima hos- tilidade ou raiva quando ela esta presente, e desejo eu proprio exprimi-las quando existem verdadeiramente em mim; mas existem muitos outros sentimentos, com igual significado, na vida e no grupo. 5. Nao posso aprovar como facilitador uma pessoa cujos problemas pessoais sao tao grandes e urgentes que precisa de centrar 0 grupo nela, e nao esta disponivel nem profundamen- te consciente dos outros. Essa pessoa pode muito bem ser par- ticipante de um grupo, mas ¢ inadequada quando tem a cate- goria de “facilitadora”. 6. Nao aceito bem, como facilitador, uma pessoa que, com freqiiéncia, faz interpretagdes dos motivos ou causas do comportamento dos membros do grupo. Se sao inexatas, nao ajudam em nada; se séo profundamente exatas, podem desper- tar uma defesa extrema ou, pior ainda, despir a pessoa das suas 79 Posso ser facilitador num grupo? defesas, deixando-a vulneravel e, possivelmente, magoada co- mo pessoa, especialmente depois de as sessdes de grupo termi- narem. Afirmag6ées como: “Tem de fato uma grande hostilida- de latente’”’, ou: “Penso que esta se compensando da sua falta essencial de masculinidade” podem perturbar o individuo duran- te meses, causando-lhe grande falta de confianga na sua capa- cidade de se compreender a si proprio. 7. Nao me agrada quando um facilitador apresenta exerci- cios ou atividades por meio de declaracdes como esta: “Agora todos nds vamos —.” Isto ¢ simplesmente uma forma especial de manipulagao e € muito dificil ao individuo resistir-Ihe. Se sao introduzidos exercicios, penso que qualquer membro de- via ter a oportunidade, claramente afirmada pelo facilitador, de decidir nao entrar na atividade. 8. Nao gosto do facilitador que se recusa 4 participagéo emocional pessoal no grupo — mantendo-se distante como pe- tito, capaz de analisar 0 processo de grupo e as reacgdes dos membros através de um conhecimento superior. Vé-se muitas vezes isto nos individuos que passam a vida a dirigir grupos, porém parece-me ser neles sintoma de defesas e também uma profunda falta de respeito pelos participantes. Uma pessoa dessas nega os seus proprios sentimentos espontaneos e forne- ce um modelo ao grupo — 0 da pessoa extremamente fria e analitica, que nunca se compromete — que é a antitese comple- ta daquilo em que eu acredito. E isto o que cada participante, naturalmente, procurara aleangar: exatamente 0 oposto daqui- lo que eu poderia esperar. A auséncia de defesas e a esponta- neidade — nao a defesa da indiferenga — sao 0 que pessoalmen- te espero ver surgir num grupo. Que fique claro que eu ndo me oponho a nenhuma das qualidades que acima mencionei em nenhum participante de um grupo. O individuo que é manipulador ou hiperinterpreta- tivo, ameacador ou emocionalmente distante, sera devidamen- te manipulado pelos proprios membros do grupo, Eles nao per- mitirao de forma alguma que tais comportamentos continuem,

También podría gustarte