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Coordenagao Editorial Ima Jacinta Turolo Garcia Assessoria Administrativa Inna ‘Teresa Ana Sofiati Assessoria Comercial Inna Aurea de Almeida Nascimento Coordenacao da Coleco Signum Luiz Eugenio Véscio fi signum Denis Bertrand Caminhos da Semiotica literaria ‘Mariza Bianconcini ‘Teixeira Mendes Marisa Giannecchini de Souza COLABORADORES Lilian Reichert Coelho Marcos Lopes Maria Cecflia Martha Campos Maria Gélia de Moraes Leonel Maria do Carmo Almeida Corréa Maria Tereza de Franga Roland Neiva Ferreira Pinto Renata F, Marchezan Ude Baldan Vera Liicia Rodella Abriata EDUSC ne Uae treme ‘tee fe Varna do arte ama B55le Bertrand, Denis CCaminhos da semitica livexia / Denis Berroa, Baur, SP: EDUSC, 2003, Ht pci 2lem —(Golesio Sign) Inco biiograia ‘Tiago de: Précis de seitigue litesite, 2000 ISBN $5.7400.1594 1, Seonitica. 2. Linge. Lo. I. Série. epp 4a ISBN 2.09-190813-4 original) pstight © Batons NATHAN / HER, Pars, 2000 Copyright © (tadugao) EDUSC, 2008 ‘Trade welizada a pared edigdo de 2000. Diretosexesvos de publica em Higa poxtgues par 0 Brasil alqusidos pela Edtora da Universidade do Sagrado Coraea0 Raa nab Armin, 10650 ‘Gep 1701-160) - Baar «SP Fone (14) 35-7111 «Fay 235.7219 ‘email edseedase com br Sumario Nota preliminar dos tradutores Introdugao signee: Parte 1 Pereurso do método Capttuto | Nogdes bisicas da semistica .... Blementos de andlise Sintese e perspectivas ese Capitulo 2 A resist€ncia do texto Preliminares A dimensdo enunciativa: o sujeito pluralizado pereurso pragmatico do sujeito: fuga da pristo u 7 51 © percurso passional: fige de si mesmo O percurso analégico: a emergéncia de um outro sujeito Sinitese Parte 2 Discurso e enunciagao Capitulo 3 Aenunciagao na semistica........600...05 7 Elementos de histéria conceitual Prdxis enuneiativa. Operagées emmeiativas Enunciagao ¢ interagao Perspectivas atuiais Capitulo 4 Posigdes enunciativas ..........e000¢eee000e LIL A questio do ponto de vista Ponto de vista e percepgaio Sintese Parte 3 Figuratividade Capitulo ‘Acesso a figuratividade 5.2.0.0. 0.00000006.153 Apresentagio teérica Figuratividade, iconicidade e “impressio referencial” Sintese Capitulo 6 Figuratividade e tematizagao: 0 efeito de profundi- Elie aemmeriacieis ostel ue Siti +207 A graduulidade do figurativo Figuratividade, entre iconizagio ¢ tematizagio Sintese Capitulo 7 Viguratividade ¢ percepgdo............. ‘Acstesia Os desifios veridictérios da figuratividade Sintese Parte 4 Narratividade Capitulo 8 Da anilise da narrativa a narratividade ....... Restmo histérico A sintaxe narrativa: estudo de caso Sintese Capitulo 9 Elementos de narratividade ................. ‘O modelo actancial (O esquema narrativo Sintese Capitulo 10 Percursos actanciais ¢ sintaxe modal Da sintaxe actancial a sintaxe modal ‘A modalidade na semi O suijeito e 0 objeto O objeto ¢ 0 valor O Destinador ¢ 0 sujeito Sintese 1/233 265 287 = 305 Parte 5 Afetividade Capitulo 11 Semistica das paixdes 00... 2.0.0... .e e004 357 A localizagdo do espago passional Elementos de anilise das paixdes Un dispositivo passional Sintese Capitulo 12 A emunciagio passional 00.2.0... 60250022379 O simulaero As marcas do “vivenciar” Sintese Conelusio A semistica e a leitura .. .. re] Clossitio . veered Bibliografia - BS Nota preliminar dos tradutores A presente publicagio faz parte das atividades do Grupo CASA, sediado na UNESP de Araraquara, SP. Em, meados do ano 2000, o prof. Ignacio Assis Silva tomon a iniciativa de reunir pesquisadores de diferentes universida- des paulistas em tomo de um projeto de investigagio em semitica e poética. Tendo em vista a consolidagio e a re- rnovagio desse campo de estudos, 2 luz das mais recentes, propostas em circulagtio no Ambito internacional, 0 grupo ‘10 snrgir programou uma série de trabalios coletives, entre ‘05 quais a realizagio permanente de reunides de diseussio {e6rica, a alualizagio bibliografica com especial atengao 2 aquisicio de revistas esp ls, a tradugio de obras re- levantes part esse dominio clo conhecimento ¢ a elabora- {do de ensaios analiticos inecidindo sobre a poesia brasileira contempordnea, O andamento das pesquisas seria notieia- do num novo periédico, denominado CASA (Cademos de Semistiea Aplicada), a set langado em breve. Em jullio da- quele ano ocortiam as duas primeiras reunides do grupo, na UNESP de Araraquara. © bruseo falecimento do prof. Ignacio, nem bem findo o mesmo més, deixou-nos a todos a responsabilidade ¢ sobretudo o desejo comnm de levar adiante 0 sen projeto, 0 seu entusiasmo © os seus sanhes, que se confund n agora com os nossos. Sio Paulo, 27 de julho de 2002 9 sees A enunciacao na semiotica (Od maintenant? Quanel maintenant? ‘Qui maintenant? Sans me Te demander. Dies je. Sans le penser S. Beckett, LTnnammable (ineipit) Se considerarmnos, em tragos gerais, a histéria da lin- gilfstica na Franca, poderemos nos sentir tentados a classi- ficar suas trés grandes décadas por meio de trés palavras- chave: “estrutura” para os anos 1960-1970, “enunciagao” para 1970-1980, “interagao” para 1980-1990. Os lingtlistas do primeito periodo véem a linguagem pelas relagdes en- 1, Onde agora? Quando agora2iQuem agora? Sem ine indagarDigh eu Sem pensar (NIT) a tre as formas que a constituem, tanto na semintica como nna morfossintaxe, independente do sujeito da fala: eles des- tacam o sistema da lingua e desenvolvem os procedimen- tos estnuturais que permitem objetivicla e deserevé-li, se- gundo 0 modelo que garantira, a principio, 0 sucesso da fo- nologia. Os do segundo perfodo, fazendo em parte 0 con- trério do estruturalismo, destacain 0 exerefeio da fala, dan do prioridade ao sujeito falante e considerando que s6 se pode ver a linguagem pela atividace enunciativa, jd que é ela que determina, na verdade, o estatuto das formas Bilislicus. Benveniste escreve: “Muitas nogdes na linggiisti- 1 |..] aparecerdo sob uma luz diferente se as restabelecer- mos no quadro do discurso, que € a Tingua enquanto assut- ida pelo homem que fala, e sob a condigdo de intersubje- tividade, tinica que toma possivel a conunicagao lingtisti- ex." No decorrer desse periodo triunfa a pragmitica, co) vidando a olhar 0 sentido “em ago”, na esteira da frmosa obra de Austin, Quando dizer é fazer, que pos em evide a dimensio performativa da linguagem. Levando em conta essa nova focalizagio, os lingilistas do terceiro perfodo co- locam no centro de suas preocupagdes a dimensio inter tiva, dialégica e conversacional, e se opdem entio & ten- dencia “egologica” do periodo precedente, tomando ao pé da letra reflexaio de Benveniste e considerando que 96 se pode compreender o estudo da linguagen na dimensio ine tersubjetiva que Ihe é inerente, Nesse contexto, a posicio da semiética € paradoxal Greimas declarava em 1976 que, para ele, “a reflexdo sobre © estatuto da lingua esteve, desde 0 comego, indissoluvel- mente ligada a dimensdo discursiva de sua manifestagio 2. BENVENISTE. Problemas de ingtistica geal, p.293, 8 Aeciop me ota enquanto fala”? E, no entanto, a semistiea, como vimos, ‘esti claramente enraizada numa abordager estrutural. Ela faz abstragio do sujeito emiciador para desvendar a orga: nizacdo intemia dos dispositives significantes: estruturas cle- mentares tais como o quadrado semiético, estruturas narra- tivas centradas no actante, estruturas discursivas tecidas em. isotopias. F'ssa concepgao semictica deixa pouco espaco para a enunciaga0, ¢ ainda menos para a interagdo, Na ver- dade, cla privilegia claramente 0 uso, isto é, a dimensio so- cial da linguagem, que organiza ¢ deposita ia meméria co letiva 0 thesauunes estruturado cas formas significantes, Ela procura assim compreender acima de tudo as condigées da pattilha cultural do sentido, Antes de dar detalhes sobre ‘esse ponto ¢ sobre a concepeao de enunciagao aue dele de- corre, vamos retomar em suas grandes linha a histéria das, relagdes complexas que a semistica greimasiana manteve com a problentica enuneciativa Elementos de hist6ria conceitual Enquanlo a enunciagdo ia se mostrando cada vez mais, a0 longo dos anos 1970, como nogio dominante de toda a pesquisa lingiistica, seu estatuto na semitica per- manecia ambiguo: ela criava problema, Mesmo reconhe- cendo sua importincia eritica em relagio ao estruturalisimo fonnal, 0 semioticista percebia a enunciagdo e sua “situa do” como a entrada de direito do universo extraingiistico na imanéncia tio labotiosmente eonstruida do objeto! guagem, ele desconfiava de um sujeito da fala soberano, 3. Entretin avee A. J, Greimas su ls structures éléments de la sig- nication. In: NEF, F. (Ed), Structures élémentaires dela signification. Brunelas: Complexe PUF, 1976, 9 Diaconate ele temia, sob a invocagdo do ego ou acobertado pelo dia- logismo, 0 retomo a ontologia do sujeito, que caracterizava particularmente os estudos literirias. Essa questo do esta- tuto da enunciagio ¢ de seu sujeito constitu, pois, um dos pontos de discussio essenciais da semidtica com as outras disciplinas da linguagem e do sentido, Entre sua supressa0 metodol6gica inicial e sua reintegragao no corpo da teoria, sob a dupla forma do uso e da discursivizagio, podemos st- Dlinhar alguns momentos erueiais desse itinerdtio. Supressio Longe de ser ignorado, 0 problema se apresentow a Greimas desde meados da década de 1960, em Semdntica estrutural, onde ele foi resolvido categoricamnente: a deseri- Gio semintica do texto enunciado deve ser feita expulsan- do de seu campo de pe iva do sujeito falante. Tratavase de construir a objetivago do tex- to. Isso implica, escreve ele, “a eliminagio do parametro da subjetividae” © das prineipais ealcgorias que 0 manifes- tam: a pessoa, 0 tempo da emmeiagiio, os deiticos espaciais, 9s elementos fiticos. Essa eliminagiio, estritamente meto- dol6gica, na verdade d , como num negative foto- grifico, 0 espaco de uma anilise enunciativa da atividade do discurso, Antecipando a distingdo entre as operagbes de debreagem € de embreagem (cf. infra), o método semidti- co se propnnha entio circunserever a andlise somente ao dominio do discurso debreado, a fim de “garantir a homo- sgeneidade da propria descrigdo”.*A cnunciagio assim rejei- tada se vé entio reduzida a uma defini¢io preliminar atti inénicia a atividade enunei 4. GREIMAS, A. |. Semantica estrutural. Tradugio de Haquira Osakabe €leidoro Blikstein, Sio Paulo: Cults, 1976, p. 200-1 80 orm na seniicn culando 2 famosa dicotomia de Saussure, lingua/fala: 0 su jeito do discurso 6 apenas uma instincia virtual, “ama ins- tincia construfda [..}. para dar conta da transformagio da da linguagem ~ sistema ou lingua ~ itiea” — processo ou fala.” forma paradigmst em una forma sintagm Pressuposicao Esa exclusio radical, mas proviséria, pode ser posta ‘an questio quando veio & lua possbilidade de reintegrar a ica da entmciagdlo no interior do dispositivo global einidtica, desde seus postulalos até seus procedi- tmentos descritivos. Uma nova definigfo do estatuto da enum ciagdo se apresenta, entio, desenvolvida por Greimas por casio ce una teflexio sobre 0 disemtso pottico, em que o “parametro da subjetividade” pode ser consideralo, mais, gue nos outros, como um elemento essencial. Pesnitamo- nos uma longa citagao: “Deve-se procurar determinar 0 esta tuto eo modo de exist do sujeito da enunciagio. Aim possibilidade em que nos encontramos de falar, 1m semidt- a, em sujeito puro ¢ simples, sem o conceber necessaria- mente como parte da estmtura Wigico-gramatical da enun- iagao, da qual € actante-sujeito, revela ao mesmo tempo os, limites dentro dos quais encertamos deliberadamente nossa reflexio semiética € o quad teérico no interior do qual 0 set estatuto pode ser precisado, Ou a enunciagzo é um ato proxlutor ndo-lingtistico e, como lal, escapa a competencia da semiética, ou entio ela se acha presente, de uma manei- 1a ou de outra — como um pressuposto implicito no texto, 5. 1d, Semiotic e cigncias sociais. Traduglo de Alvaro Lorencini ¢ San ‘ra Nitsini. Sao Paulo: Cultriy, 1981. p. 4 81 porexemplo ~¢, nesse caso, a enunciaeo pode ser formula. da como tim ennciado de um tipo particular, isto é, como ‘um enunciado dito enmnciagao, por comportar outro en dado como seu actante-objeto, vendo-se portanto reintegra- dda na reflexiio semidtica que vai procurar definir o estatuto semantico e gramatical de seu sujeito."* Dessa maneira, 0 hie gr da enunciagio € reconhecido na medida, e somente na redicla em que cla esti logicamente pressuposta pela exis tencia do enunciado, J que assumimos o fato de que, etn toda relagdo predicativa, a presenga de um actante-objeto implica a de um actante-sjeito e vice-versa, basta conhecer ‘um dos actantes para poder deduzir a existéncia do outro: nese caso, conheceinds “o objeto-enumciado”, que € 0 tex- to, poclernos pois inferira partir dele a existéncia do actante- sujeito, A operagdo certamente & complexa, mas ihustra bem 4 exigeneia formal do métoelo. Ela permite localizar, stricto sensu o sujeito enunciador: antes de tudo sujeito l6gico, ele é una posigao puta e simples, Instincia te6rica de que nach, se sabe no inicio, esse suite constr6i potico a pouco, 20 Ton go do discurso, sua espessnra senntiea, Sua identidade re sulla do conjunto das informagdes e das determinagdes de toda ordem que Ihe dizem respeito no texto. E poissomente 4 partir do eonhecimento que temos do enunciado que ess instineia pode ser apreendida, segundo um caminho a mon tante, do fim para o comego, e no 0 inverso. As formas & {ruturais organizadoras do dlscurso-enunciado, em primeira lugar as estruturas actanciais, vo set entio mobilizadas € Iranspostas para descrever essa recorréncia da enuinciagie, que acompanha a totalidade do diseurso. 6. Para uma teorin do diseurso poetico. In: GREIMAS, A. J. (Ed) Be sai de semistica podtica. "Tradugao de Helaysa de Lima Dantas. S32 Panlo: Cullis, 1975. p. 26 82 rato na see Na pesspectiva da ansllse textual, a semistion se inte- ressa primeiramente pelas figuras da dase opericionalizadas no préprio interior do testo, aquelas, que dizem respeito ao que se chama enlio “enmciagzo enmuncinda”, Esta instala, de maneira simnlada, a presenga € a atividade dos sujeitos da fala, as do narrador” ¢ as das per- sonagens, no monélogo ou no dislogo por exemplo, que re- cebem a totalidade de sua definigio dos proprios enum dos, Quanto ao suijito da emmeiagio “real”, 0 da cena ine tersubjetiva da comunicagio, autor on locutor, ele & sempre incvitavelmente relegado a uma posigdo implicita: ele € vis to na cadeia recursiva do “eu digo que digo que digo, lc.", € pemumnece, em si mesmo, ineessivel. Ble 56 se manifes- {a pelos sinnalacros lingiisticas de emunciagdes emmciaclas precedentes (digo, penso, me parece, ete.) que dependersio dos critérios de ai que permitem apreendédas. Ora, para Greimas, “nfo se percebe ce que maneira, sem voltar ‘tcair na ontologia do sujeilo, de que a semitica literdria a to duras penas se liberton, seria possivel concebera defini- fio do sujeito da enunciagiio a ni ser através da totalidade estas determinagées textuais™” O sujeito do discurso é en- {90 coneebido como uma inskincia em construgae, sempre patcial, incompleta ¢ transformavel, que apreenddemas a partir dos fragmeentos do discurso realizado. Mediaga0 Mais um passo foi dado nessa direc, quando a lon- 2 pesuiasbre os cferetes eis da erg da sig icagdo foi estabilizada, pelo fim dos anos 1970, com 83 Diwan apresentagao da economia geral da teoria no percurso ge- rativo da significeagio. Lembremos (ef. cap. 1) que, indo das, estruturas mais profundas para as estruturas mais superfi- ais, 0s estratos da articulagao do sentido se convertem tm no outro, segundo um percurso de complexificagio de. enriquecimento progressivo. Nesse percurso, a cnunciagio aparece entio como a instaneia de mediagio e de conver sio emcial entre estruturas profimdas e estruturas superti- ciais, Por meio da operagio de “discursivizagio”, ela orga niza a passage das estruturas elementares € semionarrati-, vas virtuais, consideradas aquém da enunciagdo, coma um, estoque de formas dispontveis (tma gramitica), para as es- truturas discursivas (teméticas ¢ figurativas), que as atuali- zam e especificam, em cada ocorréncia, no interior do dis curso que se realiza, O sujeito enunciador é assim instala- do no ertizamento das restrigdes sinkixieas © semanticas ne Ihe determinam a competéncia com o espago de liber- dade relativa pressuposto pela efetuagio do discurso.. Podeinos discutir essa concepgio ¢ considerar, como foi proposto acima (cap. 1), que € o conjunto do percuso, que se apresenta como um modelo possivel da enmeiagze. Evidenciar mos assim sua dupla dimensio: a que faz pate te das codificagdes do uso, de um lado, e de outro, a que re- mete i efetuagiio sempre singular do discurso. A originali- dade da abordagem semiética nesse eampo é na verdade,, segundo nos parece, ressllar com nitidez.no interior da ati- vidade enuneiativa o que vem da prixis social ¢ cultural da Jingnagem para fortalecer o discurso em ato. Ea essa pri- xis que se prendem, por exemplo, as expectativas genéricas, ceuja previsibilidade guia tanto nossas atitudes de leitores, quando fazemos a leitura de um testo, como nosso com portamento de locutores, quando tomamos a palavra Prixis enunciativa O esforgo teérico ca semiética repousa em parte so- bre uma dupla erica, do “sujeito” e da “realidade”. Essa critica ndo filos6fica esti fundamentada, acima de tudo, no receio dle reencontrar tais nogées psicologizadas ou ontolo- gizadas no intetior da propria descrigao. A questo € man {erse o mais rigorosamente possivel na realidade do objeto textual a construir, a viniea a que se tem acesso, verdadeira- mente, no dmbito do projeto semidtico, O essencial € en- {0 localiza e desvendar aquilo que, condicionando os per- cursos ¢ as partillas do sentido, cominda o exereicio do, dliscurso, E af que encontramos a forca regente do uso. Histrutura, uso, histéria Quando percorremos a obra de Greimas, ficamos fmpressionados ao verificar como essa questio do uso a atravessa de ponta a ponta, desde Seméntica estrutural, em que cle nota que “O cariter idioletal dos textos individuais Ilo nos permite esquecer o aspecto eminentemente social cla comunicagao humana” (p. 125), até Semiética das pai- Ges, onde u experiéncia individual da paixto esti relacio- ada com as “taxionomias passionais” selecionadas pelas ceulturas (p. 79-80), depositadas no Iéxico da lingua, estr- hhuradas ¢ valorizachas pelos discursos, especialmente 0s lite- tirios. O uso tem, pois, um estatuto conceitual fortemente firmado na semidtica, mantendo vinculos com os conceitos Ae sistema e de histéria de um lado, € com 0 conceito de fala de outro. No quadro tedrico da semantica estrutural, Greimas estabelecia ckaramente a relagio entre a di bilidade do sistema (a infinidade das combinagdes possiveis, nite as unidades minimas de sentido) e o que se atualiza, 85 em uum ou outro estado da lingua (as signifieagdes efetiva- mente realizadas): “Nenhuma lingua esgota sua combina- toria tedrica, [..] ela deixa uma margem de liberdade mais que suficiente as manifestagdes ulteriores da histria,”™ f; preciso voltar a Helmsley para perceber o que esti em jogo nessa problenuitica, Foi ele, com efeito, que propos substituir 0 conceito saussuriano de fala pelo de uso, na e6- lebre dicotomia linguaffala (que ele rebatizou esque- ma/aso). A fala remete exclusivamente ao exercicio livre e individual da lingua, apresentado como promessa de tuna criatividade indefinida, enquanto 0 uso remete, ao contr’- rio, As priticas pouco a pouco sedimentadas pelos hibites das comnnidades lingiisticas e culturais a0 longo da hist6- ria, Essa niogdo permite assim dar conta do relativo cercea- mento da manifestagio “em relagio as possibilidudes ofere- las pela estrutura”, Essa estrutura semantica “permanece aberta, s6 recebendo fechamento pela historia”; a historia “fecha a porta a novas signifieagdes contidas como virtuali- dacles da estrutura da qual patticipa”.’ O discurso social é te- cido por configuragées ja prontas, blocos prémoldados ¢ prontos para serem atilizados, produtos do uso que se depo- sitam, na qualidade de primitivos, no sistema da lingua. portanto a utilizagio da estrutura de significagio que define 6 ws0. Quer esta definigdo seja vista positivamente ~ como © conjumto das escolhuas efetuadas — quer negativamente =a partir das coergdes ¢ inrcompatibilidades semanticas impos- {ay em qualquer dos casos 0 uso “designa a estrutura fecha- da pela historia’." f assim que seus produtos resultam da 5. GREIMAS. Semantiea estrutural, p. 146, 9, GREIMAS. Sobre o sentido: ensaios semisticos, p. 104, 10. Ibid, p. 195. 86 pris enimeciativa, Podemes, pos, dizer que “a cerceainen fo de nossa condligio de homo loquens” se fundamenta em duas ordens de restrigbes que determinam a realizagio do discurso, as imposigdes a priori das categorias morfossintaxi- ‘eas 05 limites, de ordem sociocultural, impostos pelo hibi- {o, pelas rtualizagies, pelos esquemas, pelos géneros, © até pela fraseologia, que moldam e modelam, sem que o saibsa- ‘nos, a previsibilidade e as expectativas de sentido. O resul- {ado € na aparéncia paradoxal: com efeito, concebia-se in- {uitivamente o sistema como um eonjimto fechado de re- gras ea fala como o exercicio soberano de uma liberdade {a liberdade de palavra’). A andlise inverte as propostas, dando destaque, contrariamente, ao jogo das restrigdes que se impoem a toda emmeiagio, para alémn do simples dispo- sitivo estabilizado das regularidades gramaticais. Assim, 1 vez de uma dicotomia, é uma “tricotomia” que pesnite dar conta dessa realidadle em que, entre a fala e o sistema, inse- remise os produtos do uso que o locntor atualiza e que eon dicionam uma comunicagio eficiente O impessoal da enunciagio Compreendese que a eminciagio individual nito pode ser vista como independente do imenso corpo das, enuneiagées coletivas que a precederam e que a tornam possivel. A sedimentagio das estrnturas significantes, resul- ante da hist6ria, determina todo ato de linguagem. Hi sen- lido *jd-dado”, depositado na meméria cultural, arquivado na Kingua e nas significagies lexicais,fixado nos esquemas dliscursives, contrelado pelus codifieagdes dos géneros das formas de expressio que 0 enunciador, no momento do ‘xcreicio individual da fala, convoca, alualiza, reitera, repe- te ou, a0 contrétio, revoga, recusa, renova e transforma. O 87 Dies eomicge impessoal da erumeiagdo rege a enunciagdo individual ¢ sta 3s vezes se insurge contra cle. A fala, “idealizada como livte, |] se fixa ese cristaliza no uso, dando origem, por re- dundincias ¢ amflgamas sucessivos, configuragdes discur sivas e esterestipos. lexicais que podem ser interpretados como tantas otras formas de ‘socializacio’ da linguagem’. A primazia da prixis enunciativa sobre o engajamento par- ticular na fala em ato € um primeiro dado: a enunciagdo, a set1 modo, convoca os prodltos do uso que ela atualiza no diserrso, Quando os revoga, ela pode transformé-los, dando Ingar u puiticas inovadoras, que criam relagBes seminticas Novas e significagdes inéditas. E, esses emmiados, por sua ver, se forem assumidos pela prisis coletiva, poderdo cair no us, nele se sedimentando ¢ assim se tornando convociveis, antes de se desgastarem e serem revogados. A escrita liter’ tia, tensionada entre conservagiio e revolugio das formas, associa estreitamente esses dois movimentos, A abordagem do componente passional ilustra particularmente o fendme- no: as lexicalizagdes passionais, depositadas na Iingua pela histéria € pelo uso, oferecem estruturas de acolhimento parr os estados de alma efetivos, conferindo-thes estatuto, sentido e valor. Esses estados de alma, e com eles as sujeitos passionais que os incorporam, tomam forma através do cri- vo léxico-cultural que a lingua Ihes propde. Essa dialética da prixis (sedimentagdofinovagio) questiona pois, priotitaria- mente, a espessura cultural do sentido. Nessa perspectiva, a rejeigda metodolégica da entn- ciagao era apenas proviséria, Por mais que 0 exercicio ind Vidal da fala seja determinado por seu uso social, ainda as 1. Hd, Semistica ¢ comunicagdes scciais, in:__. Semioticae ciéneias seciais, p, 4 58 Aenea sien sim é por ele que a linguagem se manifesta e que o sujeito fe consitui. Essa dimensio essencial foi, na verdude, reto- nadia pelos semioticistas, que se apoiaram na couhecida definigdo de Benveniste: “A emmeiagio é este colocar em, funcionamento a lingua por unt ato individual de util 0 ligase estreitamente a nogio de dis- eus0, que &, como j nicio deste capitulo, “a lin- ‘gua enquanto assnmida pelo homem que fala, e sob a cou- dicdo de intersubjetividade, vinica que tora possivel a co- municagio linguistica’.”” A entnciagao 6, assim, com- preendida como a mediago entre o sistema social dt Ii {gua e stia assungdo por uma pessoa individual na relacto com 0 outro. Ela den origem, na semistica, a ume anslise de seus mecanismos: as operagées enumiciativas. Operagées enunciativas, Assim, pouico a poutco reintegrada na economia geral da teoria, a enunciago pode entio ser modelizada, por ieio das duas operagées correlatas de debreagem” € et breagem’. Greimas emprestou de R. Jakobson 0 conceito de shifter (=embreante), que designa, para o lingiista russo, as unidades gramaticais cuja significado “nao pode ser de- finida fora de una referéncia 3 mensigem” € que s6 po- dem ser interpretadas em relagio com a prépria enunc 20. O embreante, desde a marca gramatical da primeira e 12, BENVENISTE. O aparetho formal da enunciagao.In:___, Proble mas de lingiistica geral, 1, cap. 5, p. 82. 13 1d, Da subjetcidade ma Tinguagem In Pinhlemas de ligt thea gera, cap. 21, p. 293. 14. JAKOBSON, R. Essais de linguistique général. Pais: Minuit, 1963, p.178, 99 Dicer oman da segunda pessoa até os sinais indiretos, como os grifos no texto por exemplo, inanifesta a presenga do sujeito da fa Debreagem A semidtica, a0 integrar este conceito, divide-o em dois termos complementares, a debreagem © a enibrea- gem, Podemos assim representar 0 feriomeno enunciativo considerando, de inicio, 0 espaco antepredicative onde 0 discurso se forma. O entmciador, no acontecimento de projeta fora de si categorias semnticas que vo nistalar 0 unniverso do sentido, Essa operagio consiste em uma separagiio, uma cisio, uma pequena “esquizia” ao mesino tempo criadora, por um lado, das represcntagies actancias, espaciais e temporais do entinciad e, por outro, do sujcito, do lugar e do tempo da enunciagdo. Tudo come- 6a, assim, com a eje¢do das categorias bisicas que servem de suporte para o emunciado: é 0 mecanismo da debreagem. Pela debreagem, o sujeito entnciante cria objetos de senti- do diferentes do que ele € fora da linguagem. Ele projeta no ennciado um nao-ew (debreagem actancial), un no- aqui (debreagem espacial) e um ndo-agora (debreagem temporal), separados do fewaqui-agoraf, que fundamentam suta ineréncia a si mesmo. A debreagem € a condigio pri- aeira para que se muanifeste o diseurso sensato © partilhse vel: cla permite estabelecer, ¢ assim objetivar, 0 universo do “ele” (para a pessoa), o universo do “Is” (para 0 espago) © 0 universo do “entio” (para 0 tempo). Embreagem Num segundo momento, a partir do horizonte da debreagem, 0 sujeito emmciador pode retornar i ennicia- 90 Aomori asec ¢ realizar a segunda opera, a embreagem, que inst Jn odiscurso em primeira pessoa, Ela consste ento, para o sujeito da fala, ean enunciar as categorias ditiea que o de- signars, eu", 0 “aqui” € 0 “agora”: sua fungao € manifes- {ar e recobrir 0 “lugar imagindrio da enunciagio"* por ‘neio dos simulacros de presenga, que sio eu, aqui e agora fissas categorias se definem por sua relagio € sua oposicao { calegorias debreadas. “Eu” s6 pode ser compreendido no hhorizonte do “ele”. A embreagem supie entio a debre “gem anterior a qual ela se acrescenta. ssa anterioridade da “debreagem ¢ ficil de compreender, Basta pensar na aquisi- “go da linguagem pela crianga, Bla comeca invariavelmen- te pelo miverso do “ele”, pois sens semelhiantes se dirigem ‘gclini terceira pesoa (ef. os enumnciados hipocorsticos do tipo “Bem, o Paulo esté contente”). As criangas, por meio los relatos ¢ das historias que Ihes contam, descobrem pri- ‘meio 0 mundo objetivado, separado de si mesmas, um fimido sem “eu’, E apenas num segundo tempo. que 0 ‘e” aparecerd ¢ serd dominado. Uma coneepeio da atividude de linguagem Detenhamo-nos um pouco mais nessa eoneepgiio da ‘emunciagao c em stias implicagdes. Mantendo-se nos prine’- ios de pertinéncia ca semiética, eka mostra wna tomada de esicio fundamental em relacio a propria atividade da lin- uagem, Podenios destacar ucla tréscaracteristicas exsenciais Antes de mais nada, o primado das operagdes sobre oe fermos. Niio se vé 0 sujeito como uma instincia-fonte, que teria nma existéncia propria anterior 3 debreagem. Consi- 15. GREIMAS; COURTES. Dicionditio de semistica, p. 147. a1 Seema mini Aer ma soe ceira caracterstica enfim, a impossibilidade de rbyeagem actancial integral. Uina embreagens total, Hreagem anterior logicamente pressuposta, litcil- derase, ao contri, que & esta eperagdo, em si mesma condiglo de possibilidade reciproca tanto do stjeito ennuneingio quanto do discurso-ennmciado, O fendmen, 6 ‘situ apreendido no meio de sua realizago, durante sey vpodert ser concebida. Ela seria equivalente A prépria proceso de efetuacio. , inn da atividade simboliea, permanecendo 0 sujito Eim segundo lugar se, como acabamos de vet, "ody adamente inerente a si mesmo, 1uima expressio autis- ebreagem pressupoe uina operagao de debreagen, qug tim “ei” encontrado no discurso pode, asim, ser Ihe € logicamente anterior’, e conserva dela alguina nine ado como 0 sujeito da enunciagdo propriamente diseursiva, a embreagem, discurso com “eu”, ndo amuly Hele € apenas umn sinlacro construido,sujeto de uma operacto anterior, nas prcisamente a tegra, Vins que ciugao antiga e citada e, como tal, observivel em soa la marca o retomo wo emunclador das formas jd debreades, Sg os ere cs calories que servem de suporte a stta manifestago, ¢ sem as quais atvidade de lingnagem nao € concebivel, Indo um poueo ieagbes para 1 andlise textual inais Tonge nesse sentido, reconhecemos entlo ndo $6 4 Preeminéneia da eject “fora de si mesmas” das categoria Fissa concepedo da enumciago, Tonge de ser somen- semrinticas sobre a operagio inversa de engujamento ein. peculativa, prope para a anise textual algunsde seus plicagéo do sujeto mas, mais profundamente, » condigdo mientos bisicos, As grandes categorias de géero se de presenga deste ultimo no discurso. Essa antecedéneia finguem, assim, conforme privilegiam, em seu modo de Togica do “ele” em relagao ao “eu” é essencial. A possible ry are 88 ce breagenn Oates 2 dade de usar el, entao e 1d, isto 6, de abandonara ner Bierce re tees pele site etubrenly at cia si mesmo e de representar sujet e coisas sem rele eomo 0 mondlogo lirico da poesia, enquanto o roman- «io com assituagto de fala, como numa project objetivane $e a maior parte dos géneros narratives (conto, relto, no- te, €a caracteristica primordial da lingnagem humana, Sob. ela, ete.) se classficam, na maioria das obras, como un esa luz, 05 enuinciados atribuidos diretamente a prépria Pessoa, aqueles que, como o grito, acompanhan 0 stg mento dos afetos e das emoges, pouco dliferem das lingute : gens animais. Uma tirada contundente, provocadora ¢ pro nas gor, definite) pele eligo: couneiatin finds de Gat optime eum phigea Hida ee gue ese “centro do discurso” estabelece com os enumcia- do ponto de vista da criatividade, é talvez, ao lado do aver narativos, ei substituigilo ao concello de autor, que lod dant ebceitan Gehonaett Provoes na confusto com a realidad extratextual. Assim, Mesmo nia autobiografia, discurso embreudo por excel a, 0 “eu” que se enunicia como ancoragem exclusiva do Aisearso nao consttui uma embreagem actancial integra ;plicam um jogo com o dispositivo das ence es possiveis da fala, E: isso que justifiea o emprego do 16. GREIMAS, A. JL énonciation: une posure épstmalogique. Si nificagao, Ribeitfo Preto, v. L, p. 19, 1974, me 2 e ahects. Com eto, 9 asociagio daa ee so copes pags lo as do eee Be em: quand ep re 39 retorna 2 terra, ¢ a alma se encontm em Ter teeta a ce de onde cla fo Raa ve se cola en sa piers. Aas, 6 temosq com ei et sae ogee dea st tiie tnal pate de nosso ser despsrece sob seus Bp ll ot comer ess i ene Be pedo o que 60 hom de aa pet egies di ec en Fravepess gue ° Uecsples sabre o clad de nos nature, Alesignando a pessoa efetiva: ele € sempre um sinuilgcro consiruilo do escrtor, que se define no interior do texlg por suas relagées com os outros atores af instalados (pely genealogia, por exemplo), assim como com as categorigs. espaciais (set lugar de nascimento) e temporais (sua épo. ca), que sio também debreadas liscurso, em sia realiz jo romanesca e ficticia, « também cotidiana e funcional, altema constantenente ay debreagens ¢ as embreagens, variando seus registos e sets mods dle sucesso: 6 enninciador instala, por exemplo, ann petsonagem, que cle coloca mum universo uo mesmo tem ‘po espacial, temporal e xetorial (debreagem), ele a far falar (embreagem interna), introdw em seu discurso outras per sonagens (debreagem de segundo grat), «ute por sta vez po dem tomar a palavra (embreagem de segundo grat), ete Pereebernos endo a arquitetura enunciativa do discurso cue | se poe em ago, Esti claro, por exemplo, que a atividade, amalitica de segmentagio de um texto, que 56 faz explicitar atatividade natural do leitor, apéia-se nessas operacdes que regem as mudaneas de isotopia. Quando comandam isoto- pias figurativas, elas permnitem dlstinguir as clissieas uid des do discurso;a “narragiio” se fundamenta em debreagens ‘ou embreagens actanciais, a “escrigio” em debreagens e> baciais ¢ temporais, o “mondloga” em uma embreagem ae ) antes de surgir uma embreagem pessoal que marea nical, 0 “didlogo” em win jogo alternado de embreagens anpenho do sujeito “eu”, que assume seu discurso: “eu debreagens pessoais, etc. Quando comandam isotapias © femo assegurat”. A eficcia persuasiva do discurso se abstrata, essas eperagdes instatram as operacdes cognitvas Ascia pois, sobretudo, como sugere este esbogo de nilise, ue seginentam, por exemplo, 0 desenvolvimento do per “estniturago das operagGes ennciativas que subiendem curso argumentativo, Eo que podemos constatar lendo este Pereursos argumentatives. canto trecho do “Sermo sobre a morte”, de Bosstct: Apassagem da analogia inicial para a discuss sobre rgio entre a alma € o corpo se efetua por una de- agem cognitiva: “Com efeito” , que introduz a iotopia discuitso explicativo. Uma stcessiio de operagdes légico- is, aticulando uma cadeia de eausas € conseqiien- as, que sio outras tantas minidebreagens cognitivas, mentos do diseurso: “quando” , “Assim”, “entio”, “de ira que”. O conjunto é enquadrado por uma série de sragdes que incidem, agora, sobre a categoria da pessoa: 4 tuma embreagem actancial parcial (0 coletivo A natureza de un compost ss define elaamente IP HOSSUET, J.B, Sennon sur la morte ates sermons, Pais: GP con a sepragdo de sus ares, Gm els se allea marion, 1996p. 132 Autuanente na mists, € preciso sep pam ben Diu eomanig Observagies do mesmo tipo poderiam ser estendidas as formas e aos génecros da escrita © peri cerhes algumas especificidades formas. Podemos pensur, por exemplo, na escrita dita “realista”. Um de seus tragoy consiste em mostrar, articular e hierarquizar a sucesso cay operagdes que, a0 mesmo tempo, isola e associann estrei tamente as unidades do diseurso, Assim, uma descriggo precederd uma narracdo, que precederi um diflogo, A re- lagio entre essas unidades niio é mera sucessio. De fato, 0 didlogo se apéia sobre uma dessas unidades, a arragio que, fomecendothe seus recursos semanticos, constitui sett referente interno. Esse dispositiva garante a coesio do conjunto ¢ engendra essa forma de credibilidade particular para o leitor que se chama “ilusio referencial”, A escrta do nouveau: roman, ein contrapartida, se caracteriza pelo des moronamento dessa arquitetnra enunciativa, Ela dard ao leitor, cuja competéncia é gniada pela poética realista da impressio de un universo embaralhado, jf em rae 0 do desaparecimento desses procedimentos de referen- cializagao interna, O contraste se baseia em parte na gestio das operagées enunciativas, Ennneiagdo ¢ interagio A narrativizagio da enunciagao Ja que a enunciagio é considerada como um ato en- {re outros, porque como todo ato é orientada, voltada para um objetivo e uma “visio de mundo”, ela pode ser cons derada como um enunciaido euja fungao é a “intencionali- dade”. Essa intencionalidade se deduz da realizagdo do ato de fala, assim: como a intencionalidade de uma persona- %6 rian teconhe. _provocon, Compreenclemos entio que a anise do su da narrativa se Ie, posterionnente, seguindo de tris na frente as transformagiies dos estados de coisas que ela Funeiador, apreendido como umn actante-sujito cujo ob- jeto €0 “emnciado-discurs0", pode ser submetida as mes- nas Tegras que fegem, 10 interior do entineindo, a realiza- G0 do prsprio diseurso, A eninciago poder entio ser in- texpretada em diferentes niveis, e principalmente no dus es- truturas narrativas e modais (cf. quarta parte), a partir dos tenunciados que sio o tinico meio de reconhecer os lngares indveise instiveis, exibidos ou ocultados, que os sujeitos da omnnicagao octupam no jogo de suas respectivas estraté- jas. Sua competéncia € definida por um equipamento mo- dal, € relagdo intersubjetiva pode ser assimilada is intera- ‘Ges de papéis actanciais. Destinador e destinatétio da co- intinicagao prestam-se, desse modo, a uma andlise em ter- ‘mos sernionarrativos, Pragntica e semistica Esta concepgio sublende a relacio entre a semisti- 4 € a pragmatica. [com efeito a entmeiagiio que permi- {e tragar uma linha divis6ria entre 0 que a semiética reje {a na pragmistica anglo-saxéniea (uma teoria da referén- ia) e 0 que The parece fazer parte de preocupagdes proxi mas das suas (a problemistica dos atos de linguagem). A rectisa de tina légica da referéncia 6 precisamente moti- vida pela necessidade de levar em conta o sujeito: “O ob- jeto primeiro da teoria semiética niio é a anslise da refe- réneia (...], mas a deterininagdio das condigaes de produ- € apreensiio do sentido, tanto é verdade que os ‘esta- dos de coisas’ jamais dario conta, sem a participagdo at 7 rears cen ve primordial do sujeito, da assungo pelo homem das signifieagoes do mundo." A proximidade entre a semiética e a pragmatica line giifstica, em compensagao, é justificada pela enunciacdo: “As aquisigdes tedricas de Austin foram ha muito tempo ine tegradas por Emile Benveniste, sob a forma de reflexdes so- bre a enunciagdo e a discursivizago, ao conjunto da hierar ‘ca sausstiiana.” Assim, a andlise das pressuposigdes © das “implicaturas” subjacentes aos atos de linguagem poderia conduzir claboragio de uma “tipologia das competénicias los sujeitos, falantes ou simplesmente agentes”. Besse pro- sgraina que serd esbogado com o estudo das estruturas ca mae agdo e da sangao, Elas mostram tipas de sujeito earac- tetizados por um estilo de comportamento linguageito: uso da linguagem que permite definir wn irdnico, um sedi tor ou um provocador insere-o na classe modal dos sujeitos manipuladores (do fzer erer ao fazer fazer); as elominantes discursivas que permitem identificar um peremptério, tum cinico out um espitito julgador inscreveriio essa classe de ste jeilos no universo ca sango (sua modalidde culminante € a.asstingao de um saber soberano); 0 veleidoso, por seu lado, fari parte de uma problemiitica da competéncia (ele afirma ter uma competéncia que jamais se coneretiza em perfor mance), etc. Isso quer dizer que semioticistas e pragmatici {as partillam uma mesma visio da Hinguagem quando reco- uhecem “o cariter indireto e ardiloso do diseurso”, visto de europeus que Creitnas costumaa opor, em tom de brines- deira, aquela da ontra margem do “mar de enganos”: a tradi I GREIMAS, A. J. Observations épistémologiques, Prgiatique et & tmiotique. In: Actes séiotiques. Documents, Besancon: INALF-CNRS, 1.50, p. 6, 1983. As citugses do parigrafo seguinte sto tol extralds, salvo mengao particular, desse mesina texto (p, 5-8) 98 Axa me enitie européia vé na linguagem “nfo a cobertura, vin poco cdlada pelos valores de verdade, da realidad chs coisas”, ;cepeto de americanos,” mas uo contriio “umn tecido de strumento de manipulagdo social", Esten- iva da Tinguagem ao conjunto ‘comunicagio, 0 verdudeiro desafio da pragmitica seria io eriar uma gramtica apta a descrever esse “jogo, mui- ccomplexo, de interagoes entre os papéis ¢tico-modais” de dar conta assim “das gesticlagdes¢ tribulugbes dos ho- Snens”. A partir disso, considerar a emmeiagdo como wna do regida por um contrato — 0 contrato enunciativo — leva a questionara natureza dos objetos de valor que este poe 1 jogo. So, obviamente, valores de verdade que cada tm jocuta impor ao outro. © problema nio é, pois, 0 “verdae iro” ei si mesmno, em sua hipotética realidad, mas o ba- Jango incerto entre o “fazer crer” de um lado e 0 “erer ver~ “dacleito” de outro, Aqui se situa z problemtica da veridic- do: “O discurso é esse espaco frigil em que se inserem e se Teema verdade e a falsidade, a mentira e 0 segredo; [J equi- ibrio mais estivel ou menos, proveniente de um acordo im- Plicito entre os dois actantes da estrutura da connmnicagto. E, ‘esse entendimento ticito que é clesignado pelo nome de con- tro de veridiegdo.”® Levando em conta que os instrumentos de sua anilise fazem parte da problematica dal, nés o examinaremos na quarta parte (" wrativa © mo iratividade”). 19.“Finquantonna Europa e mats particularmente na Fang linguagem € comment considerid conto uma tela menttosa destnada a eson: dertma reaidae etna verdade ue Ihe io subjacentes,[-.] os Ese dos Thidos ao conto, considera se que 0 diseurso cola cosas € a8 mie de manna inocente, em Le contat de véidiction. In; GREL- MAS, A.J, Du sens Il, Essaissémiotiques, Paris: Seuil, 1983. p. 108. 20. thi, p. 108, curse amigas Aenenagte masa Perspectivas atuais (© universo da significagio, assim relucionado a seu ato, ésustentado por un alicerce actancial. Os actan- As duas vias de acesso & enunciagdo desenvolvidas definidos por seu “modo de jumgo modal” (ou “pre- pela semidtica, a que se refere & convocagio dos prochitoy iva"), desiggiam essas faeelas de identidade implica- do uso ea que se refere a atividade do sujeito enunciante, Jem toda entmciaglo. S30 apreendidos de imediato na so estreitamente complementares uma 4 outra. Juntas, isto discursiva, transfrisica, da atividade significante. elas esclarecem a dupla dimensio atuante em toda pricy sn, por conseguinle, variar e evoluir no interior de wim de linguagem, ¢ principalmente em seu exereicio literiios 0 posicional” (Benveniste). F. como “eles nao com- a forca impessoal da coergao ¢ a afirmagdo singular do sae in todos e a todo instante uma morfologia estivel”,” 0 jeilo. Mas elas conduzem, sobretudo, por causa de sua com. io da anilise seri caracterizsvlos antes de epreender vergéncia, a encarar o discurso, daqui para a frente, em stig | ‘mosdulagdes dinamicas. Os actantes de J-C. Coquet propria efetuagdo ¢ no mais somente através da urticulae ‘em ntimero de tr, Posstiem tum nome de cédigo que, es organizadoras de un emmeiado ou de um texto reali mid sti natuseza puramente posicional, indica que zado, Com ancoragem na enunciagao, a andlise semistica sn passar de uma posicdo a outta: primeito-actante, se- do discuso € entio levada a por o sujito no centro de suas investigagées e a anallisar o discurso em ato. ido-actante ¢ terceiro-actante. O “primeiro-actante” se divide em duasinstincias, 0 yeito e 0 sujeito. O nio-sujeito é o actante puramen- inicional, cuja atividade é a predicagio sem assungio de alo, a predicugio irtefletida, O sujeito € 0 actante pes euja atividade € a assergio assumida, que implica o mento, Retomandlo a formula de Benveniste: “E ego am diz ego”, JC. Coquet acrescenta: “e quem se Presengu e variagdes do sujeito A obra de J.-C, Coquet,” inteiramente centrada nna questio do sujeito, representa o que poderiamos chamar de ‘uma semidtica enunciativa, Trata-se de aprender e desere- ver a atividade significante propriamente dita, inseparivel para indicar 0 ato de assungiio que earacteriza propria- da experigncia concreta da fala que nos prende a realidade: nie o sujeito, O “segundo actante”, em seguida, designa Nessa perspectiva, a teoria da significagdo concede a pri- ‘objeto implicaclo por todo ato de discurso. O “terceiro ac~ mazia ao discurso como alo fundador daguele que, a0 te”, enfim, comparivel ao Destinador da sintaxe narra- enunelé-lo, se enuncia e se afirma, Podemos defini-la como ia, designa a instincia de antoridade dotada de wm poder uma fenomenologia discursiva do sujeito, franscendente (“portanto irreversivel”®). O modelo, na stia f :: Bae a tte ds ser: e langage em question, p48, Bid, p. 26 24 id, p.216 Abid. p. 40, 21. COQUET. Le Discours et som sujet, tI, Essai de grammaine mod Je, UI, Prtigue de la yramimaire modales Id, La quvte de sens: ke lat ‘sage en question, E a esta sitima obra, sobre, que fizemos refer i aqui 100 lol Diane eeans depuragio formal, parece simples. Muito mais sutis sd0 os fendmenos que ele recobre e tudo 0 que estes pBem em jogo na teoria do discurso. Tratase de aproximnarse ao mii ximo das finas variagdes da realidade enmciativa, de recor tar, por meio da actancialidade, os contornos flutuantes da palavra em ato e de aprender, assim, os modos cle “presene precioso antidoto”.” As posigdes tedricas da semistica ‘emmeiativa sio asim cuidadosamente situadas va histori- cidacle das cigncias da lingnagem, através de suas filiagdes e bifurcagées epistemolégicas, Duas grandes linhas se defi- nem: de um lado a de Trubelzkoy, Brondal, Jukobson, Ben Veniste, no rastro da fenomenologia husserliana, a qual se igam as proposicées de JC. Goquet; de outro lado a de Saussure, Hjeliisley e Greimas, que seria de cardter forma- lista, logicista estruturalista, no estrito senso, A historia é aqui colocada a servigo do debate contraditério que pole- Iniza a existéncia de dois paradigmas: uma semistiea da realidade contra uma semiétiea da imanéneia, una semi6- tica da enunciagio contra uma semidtiea do enunciado, ‘uma abordagem subjetal contra uma abordagem objetal, uma apreensio do sentido como continuo contra uma apreensio descontimua, fundamentada nas oposigaes cate 27. Abi, p. 109. 103 Prewo versie goriais. Mas a histéria também se coloca, de resto, no inte- rior das proprias proposicdes teéricas. Aparece como um dos componentes constitutivos da identidade actancial do sujeito, tendo a perspectiva sintagmatica da aniilise 0 pro- Pésito de “acompanhar tao de perto quanto possivel, até a aboli¢ao do limite, a historia transformacional do actan. te”." O sujeito é a partir disso definido por dois eritérios:“o jizo]...] ea histéria (que molda o actante)" Prolongando a insergio histérica, as relagoes entre o tempo e 0 discurso, concernentes as questdes da presenica ¢ do devir, si exploradas e seus desafios evidenciados.” O ani {or opde enttio o tempo cronolégico, descontinuo, quantita- tivo, conjugivel ¢ aspectnalizavel, relacionado ao lerceito actante, 0 qual fz dele um instrumento de seu poder veri- dictério, ao tempo lingiistico, continuo, qualitativo, cettrae do ni presenga ¢ no devir, que se prende, por stia vez, 40 primeiro actante. A tese defendida por J-C. Coquet 6 que “o tempo cronolégico |...] est§ subordinado ao tempo line gilistico’."' A coeréncia e a homogeneidade do primeiro, uparentes ou reconstruichs pelo imagindrio. gramatical, achamse, na realidade, na dependéncia do tempo da pre- senga, que € préprio do segundo: fonte do tempo, “o presen- te € ‘essa presenga no mundo que somente o ato de emin- ciagao toma possivel”." Ora, o presente € literalmente mo- nopolizado pelo terceiro actante (social, ideol6gico, logics ta, gramatical..), que oculta assim o tempo sempre iminen- 28. Ibid, p. 60 29. Ibid, p. 152, 30. Prncipalmente em “Temps ou aspect? Le probleme du devevit (COQUET La quéte du ser le langage en question, p. 55-71) 31. tid, p. 65. 32, BENVENISTE, p. 61 246. 104 enum ma sein olitil¢ real da presenga. Este é problema do primeiro Tfetante, do qual 0 tereeiro actante € apenas uma project istérica e cultural. E:no interior do primeiro actante, esa serio no presente diz respeito mais preisamtente ao no- “gtjeito, instincia pré-assertiva, subtrafda 2 estrtura do ju “go, quem cabe experimentar o que o sujeito © 0 terceiro “jotante no consegitem, jamais: a dissohugao do fempo no ‘presente da presenica. [uma experiénein dessa natoreza {que o empreendimento de M, Proust restit : Compreende-se que essa apreensio fenomenolégica do tempo conduza J-C. Coguet a acabar com o tabu da " substincia e da realidade na teoria da significagao: é preci- so tornar 0 espaco discursivo, “im espago mais aco- Thedor para a substincia”. Isso leva a por ao famoso prin éncia o principio da realidade. Na verdade, aa da imanéncia (segundo a qual “a lingua um objeto abstrato onde s6 contam as relagées entre os {emnos” e para a qual os fendmenos “entram num sistema fechalo de relagoes") pemnite entreabrir a anilse do di curso € de seu stteito para 0 espago da presenea real e efe- tiva no mundo, rasgar a tela que barra o eaminho dessa in- sergio, implicada pela propria experiéneia da linguagem. 33. A experigncia pela qual “um ser [..] podia se encontnr no tnico tieio.em que podeia iver, goes a extendas clas, pores diet, fora do tempo” (PROUST, p. 70). F J-C. Coquet conelni,ctando ain da M. Proust: “Fao nlosujeito,a essa instincia pré-assertva, que eabe “ble, solar, imoilizar—na duragio de um instante ~o te [ie ser} Ines antes apreendera: wt pouco de fempo em estado puro” (em PROUST, Marcel, O tempo redescobert. In:__. Em busca do tempo perdido, “radueio de Liicia Miguel Pereira. Rio de Jancio: Glabo, 1988, p, 153), 34 Ibid, p75 35. Ibid. p. 2 235, 105 Dirac Neen nae Obviamente a realidade no é, nesse caso, o referente dos nto da semiose. A semidtica estrutural, por sua vez, Jingltistas, mas a inserg%0 corporal do ser de linguagem ng supavase em apreencler 0 processo semidtico em seu imindo, ancoragem que é feita de maneira solidsria pela Fpecto prouto e acabado, sob a forma do emmeiado reali- percepeiio sensivel e pelo acontecimento da fala, Oconee _ Bssa dupla abordagem no implica, no entanto, tn to central que exprime esta implantagio € o de instancia,, agonismo entre dois paradigms semisticos, como pode- “instincia enunciante” e nao mais sujeito da enunciagio, a wos facilmente demonstrar. fim de bem separar a anzlise enunciativa do objeto formal- Puro actante da predicagio, o ndo-sujeito forma, se- emunciado, de restituir a pluralidade das formaysujeito @ ado J-C. Coquet, 0 “embasamento permanente” do su- sobretudo de afirmar seu enraizamento no tempo € no es- icito, [4 somente a assungiio que pode transformélo e con- pago. Essa instincia, com efeito, é um centro de discursivi= sirlhe novo estatuto, Podemos entio considerar que 0 dade ao mesmo tempo real ¢ formal: real, ela € 0 que se co» Jigamento da ineréncia sensivel consiste em uma proje- Ioea camalmente no mundo, sendo portanto ligada a0 cor de si mesino para fora de si mesmo, pelo estabeleci po, “suporte material de toda signifieagao”,” formal, ela & into de uma distincia, ¢ que somente a realizado de um identificivel, ¢ fundadora de icentificagio, por meio clos, cognitivo de separacio toma posstvel a asseredo assum tragos modais que imprime no discurso ao se enuncian A lu: essas operagdes correspondem A debreagem. Se essa in- semiética enunciativa implica pois o duplo estatuto da ins: pretacao € aceitivel, entdo a relaciio entre as duas instan- tancia enuciante, fenomenolégiea e lingitstica 20 mesmo. jus do no-sujeito e do sujeito retomaria 0 primado do ele {empo, que se analisa no nivel mais abstrato dos actantes bre 6 eu, tal como o defende Greimas na formula ji cita- ifo-sujeito e sujeito, : “0 “ele” é, a0 lado do cavalo, wma das grandes conquis- do homem”. Na perspectiva greimasiana, a invengao do le assimilada a debreagem, que rompe a inerércia do su jeito consigo mesmo, tal como a exprimem a disposigiio ‘passional ea linguagem emocional, o gtito ¢ o estapor, par- O diseurso em ato luz trazida por J-C. Coquet, pondo em destaque o sujeito e as implicagdes da fala em ato, contribui substan ilhados pelos animais e pelos homens. O ego é, pela assun cialmente para mudar o ponto de vista da semidtica sobre ‘Fo que Ihe permite dominar a significagdo, um eu que, no, a enumciagio, Ela ume as condigdes perceptivas, sensiveis alo da asseredo, retoma-se, projeta-se, assirme-se ese faz ele. afetivas da significagia a suas condigdes linguageiris 1a Parece-nos portanto que, levando a discussio pare além dos Problemas da metalinguagem, a radicalidade polémica da posigdo de paradigmas pode ser atenuada Dito isso, veremos a partir do préximo capitulo, sobre a “posigoes enunciativas”, que a perspectiva do discurso em ‘to permite examinar, junto 3 atividade significante, as pro- Dbleméticas que a anzlise semidtica tem introduzido nos til- propria emergéncia do processo significant, no aconte 36. Ibid, p.8. 37.Noltaremes, na quinta parte, “Afetividade”, teria da patio desen= volvila porJ-C, Coguet a partir das istineias enumciates, ¢prine miele ao duplo estilo, problemico, do niestito (ef. abaixo) 106 lor ice enc timos vinte anos e, de certa maneira, reconfigurs-as: a fig ratividade do diseurso nfio pode ser vista somente ern ternios de “representagio” ¢ densidade sémica, estando claramen- te vinculada, dagui por diante, a pr6pria pereepgio. A nar. ratividade j4 nfo se reduz apenas as operagoes de transfor- ‘magilo dos enuneiados de agi, mas se desdobra em percur- 40s actanciais implieando a temporalidade e 0 devir; a di- ‘meusio afetiva e passional do discurso nil depende mais o- miente dos contetidos modais que definiem o estado do su- jeito, seus estados de alma, mas leva em conta as modula- ‘des do campo de presenca que esse sujeito “sente” & que 0 afetam, De modo geral, esses diferentes campos de anilise exploradas pela semiética niio tém mais como siniea refe- réncia os contetidos que os estruturam, mas estio relaciona- ia do discurso que permite sua atwalizagio.” Acemunciagdo na semidtica A lusts dhs relages que a semitica manteve cow a problemi (4 da ennnciagio ~ a fala em alo ~ é connplena e riea ent ensinaimen tos. partir de una rjeig inci, ea fot pouco a pouco reintegea doa emineiago em seu corp teérico hoje faz de elemento cen- ttl en soa analise da linguagem e do dseus. Ale da desconfianga em felagio 8 subjctividade psicolgia, a - 1 ieeo seliien cms sune ardor. A pritacira esl Ligue bk rsclodclegie | saltutural, que dé priordade 3 objetivagto dos constitutes das te- | igSesinternas no testo (prineipio da imanéneia). A enunciacao 36 pode entao ser definida, no quadro da construgio tebtica, como pres | suposigdo. A segunda razio es ligada a imporldneia do conceit de | 9, que sabmete toda ennciago individual ao conjnto dos habitos | Tinguisticos de una dada sociedad. © estilo dessa dimenst socio 38. Bsta problematics co dseuso em alo & comentada parlicularmente por FONTANILLE, J. Sémiotique et littérature: essais de méthode, Pats PUF, 1999, (Fores sémiotique) 108 Aeris na ibe ultra, € impesoal, da enumeinea6 € prititrio na medida em que Glesicinsscomuntaiane Sobre o pane de fu do uso, a erincing individual ésnalisada | por meio de das operagbes: a debreagem (que funda ciseus0 na | Reteita pessoa) e a embfeagem (que instauta o discurso ma. primeira | fi segunda pessoa). A semidtin considera que a operaglo de de- “ Tueagem € anterior determina a possibilidade da fala, Pressupondo, | jun debreagem prévia, a embreagenn posterior. Ess operagdes co- + dificam os grandes génetos do discursa € a estruturagio dos textos | Otsernla do ponte de vista da intergto ene ov sjllos lates, | enuinciaglo € eno modelizada pelos équemasnareativos As intera- _geveae ets qe g nara pe em cena podem strane this para 0 jogo de papeis,persasivos eintrpretativos, ans quais se | eam laure neloctores da fav. Asis eer [ elagoes de proximidad entre a semidtiea do discursoe a pragmstica | Tingistica, Os desenvolvimentos atvais da semiica se eoneentram, ia eafitde do discurso em ato, Reatvando sis Figagdes com Fe | omenologa, a semitia fala a um 86 tempo a emirciagio © & percepclo, que assegnram jantasa insergao do sujeto no mundo 109

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