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A familia como espetho ‘Malvina Muszkat* Sartl, Cynthia Andersen. A familia como espeiho. Campinas, Editora Autores Associados, 1998. A fama como espeiho, de Cynthia Santi, nos pe em contato com a forma de pensar contempordnea de um grupo de habitantes pobres da area urbana da zona oeste da cidade de So Paulo. A partir de entrovistas com homens © ‘mulhoros, Cynthia reconstrdi a dinémica mediante a qual eles estruturam sua identidade social e constroem os seus valores. ‘Ao tomar a familia como referéncla, autora ratifica a nogdo de que 6 no. esparo privado que devemos buscar as fontes de organizagao da cultura. & no Ambito da farnilia que se estrutura o mun- do simbélico dos individuos e que se es- tabolecem os padrées psicossociais de relacionamento, que se vo reproduzir na Sociedade. Para os pobres, entrotanto, a familia exerco ainda uma outra tungao: a de eixo de referéncia sobre 0 qual os seus membros se apciam @ constraem suas relagbes sociais. Nesso sentido, propria assimotria de papéls, tio erticada pela sociedade contempordnea, cumpre, este segmiento, uma funeao de comple” ‘mentagao: homens, mulhoros 0 criangas ‘58 organizam em torno da realizagao de Projetos comuns, Mesmo que a incorpo- ago da muther na forga'de trabalho pa- rega incongruente ao sistema, dado que representa “o conflito entre a atimagao a individuatidade @ 0 respeito as obriga- Picanalila, direlona de Pr Mune, Sto Pade es @ as responsabilidades préprias dos vinculos familiares”, a questo, segundo Cynthia, pouco se coloca, uma vez que “08 elos de obrigagées [.. devam preva- lecer sobre projetes individuals", manten- do-se 0 “padrao tradicional de autoridade e hierarquia’. ‘Apasar de nao deixar isso claro, © texto nos permite pensar que essas préti- ‘cas se mantém como forma de superar as diferengas entre ricos € pobres. O pro- conceito da diferenca so exprossaria na relativizagdo des privilégios dos ricos ¢ na ctiagdo de uma espécie de “ética do ‘oprimigo”,transformando a desvantagem fem valor. Em outras palavras, com a ma- hutengdo de uma ordem moral baseada nna Kégica das obrigacSes e lortemente recortada pela diferenciagae de género, ‘05 pobres lontariam restabolecar 0 seu oder © a sua dignidade. Mediante 0 br ‘ngmio famila-trabaiho, homens e mulhe- tes se afirmariam como cidadaos dignos @ produtivos, equiparando-se aos grupos. mais tavorecidos da sociedade. Enfim, autando-se nos valores positives de “la- milia honesta" e “tabalhador honrado’, 0 pobres alribuem um sentido as suas vidas numa sociedade adversa, em qui honradez, a honestidade, a forga tisica © @ responsabilidade permanecem como qualidades dos pobres, em oposicao acs Ticos, folgados, fracos, otarios. Relativi- zase a pobreza restabelecendo-se a igualdade no plano moral. ‘A *pormanéncia" dos valores “tradi- ionais” justica-se pelo papel estrutu- rante que estes desermpenham num gru- 180 sociat em que a caréncia de apoio por parte da esiera publica ¢ compensada por um padirao de relagoes personaliz as. Trata-so do um sistema t3o tenso, do panto de vista das incongruéncias in- ternas @ externas, que, uma ver rompido, poderia revelar um ressentimente t30 ‘grande a ponto de promover a total de- {oe as. Estos Poa. Caras 192186 sestruturagde de qualquer outro valor moral. ‘Trata-se, som duvida, do uma loiura ‘ica e instigante, aposar de as crieas da autora 20 sistema nao sorom muito claras. Ovo ressente-se também de uma methor avaliagdo das tenses que osislema care- {ga no Seu bojo, o que certamente contribu ‘ia para evitar quo um lotr desavisado en- cre 0 tema romanticamenta @ incomra na velha vis6o meniqueista de que ser ico & 20r moral @ de que 0 pobre é um exempta 69 moralidade. (Recebido para publicagao em setembro de 1996). 224

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