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DICIONARIO BREVE DE PEDAGOGIA 2° Edicdo (Revista e aumentada) Ramiro Marques Nota Biografica sobre o autor Ramiro Marques € licenciado em Historia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Mestre em Ciéncias da Educagio pela Boston University, Doutor em Ciéncias da Educagio, na especialidade de Desenvolvimento Curricular e Agregado em Educagio pela Universidade de Aveiro. Foi professor efectivo do ensino secundario durante doze anos e é professor do ensino superior politécnico desde 1985. Actualmente é professor-coordenador com agregagtio do quadro da Escola Superior de Educagiio do Instituto Politécnico de Santarém. E autor de 19 livros sobre educagiio e tem colaboragio dispersa em mais de um dezena de livros ¢ em varias revistas portuguesas, inglesas e americanas. Foi membro do Conselho Nacional da Educacio, Presidente da Comissio Instaladora da Escola Superior de Educacio de Santarém, Director da Escola Superior de Educagio de Santarém, membro da Comissio Instaladora do Instituto Politécnico de Santarém e Presidente do Conselho Cientifico da Escola Superior de Educag%o de Santarém. Foi membro fundador da Sociedade Portuguesa de Ciéncias da Educagio. E membro da direcgio da Associagio da Educagao Pluridimensional e da Escola Cultural. A Obra O Dicioni conceitos de Pedagogia a um ptiblico alargado, constituido nao s6 por professores e estudantes dos Cursos de Formagio de Professores, mas também por outras pessoas directa ou indirectamente interessadas na Educagio. Foi dado um destaque particular as teorias da aprendizagem, aos modelos de ensino, & historia da pedagogia e aos pedagogos que deram um maior contributo para o desenvolvimento de teorias sobre educa Os conceitos sobre planificagio, avaliagio, curriculo, métodos de ensino ¢ técnicas de ensino mereceram, também, uma atengio especial. io Critico de Pedagogia visa proporcionar informagao basica sobre termos € eensino, Abordagem sistémica - Metodologia que visa o estudo dos sistemas na sua complexidade organizada, tendo em conta a interdependéncia e interaccZo dos elementos que os constituem. A abordagem sistémica foi desenvolvida a partir dos estudos de L. von Bertalanffy, nomeadamente, a sua Teoria geral dos Sistemas ¢ na sequéncia da teoria da comunicagio desenvolvida por G. Bateson e P. Watzalawick. Todos os sistemas funcionam em obediéncia as seguintes caracteristicas: globalidade, ou seja, todos os elementos estio ligados entre si; retro-alimentagio, isto 6, os elementos afectam e sio afectados pelos outros; homeostasia, ou seja, todo o sistema tende a manter 0 seu equilibrio funcional e aumento de entropia, isto 6, o sistema tende para a desorganizaciio. Acomodacio - Expresso que significa adaptag3o e ajustamento. Jean Piaget desenvolveu 0 conceito de acomodagio, dando-lhe o significado de ajustamento do organismo as exigéncias do meio. O conceito de acomodaciio em Piaget surge associado a0 conceito de assimilagio. O sujeito procura conjugar-se com o ambiente tendo em vista 0 equilibrio das relagdes do individuo com o meio. Ver Desenvolvimento e Desenvolvimento Moral. Acto moral - Para que um acto seja moral devem estar reunidas as seguintes condig6es: que seja consciente, que seja voluntario e que seja livre. Deste modo, 0 homem passa a ser sujeito e artifice da sua propria conduta, que emana da sua decisio pessoal. O acto imoral ocorre quando a pessoa sacrifica uma valor superior a um valor inferior, elegendo este ttimo. Ver Kohlberg e Modelo da educagao do cardcter. Aculturagio - E 0 processo que abre progressivamente a crianga ao acesso & cultura, gragas is interacgGes que estabelece com o meio. Este proceso pode ser facilitado por meio de metodologias de ensino que respeitem o estidio de desenvolvimento da crianga € as suas necessidades e motivagies. Adaptacio - Termo que significa mudanga de comportamento que permite ao sujeito uma melhor integragi0 no meio. Jean Piaget definiu a adaptagdo como a propriedade que os organismos possuem para se ajustarem as condigdes do meio, estabelecendo com © meio um estado de equilibrio que resulta da acco conjunta da assimilagao e da acomodacio. Ver Teoria Cognitivo-desenvolvimentista da Aprendizagem Adler (Mortimer) - Fildsofo e pedagogo norte-americano, nascido em 1902, na cidade de Nova Iorque, que concebeu um modelo de ensino essencialista, a que apelidou de “Proposta Paideia”. As suas obras principais foram: How to Read a Book, The Paideia Proposal, Paideia Problems and Possibilities e Reformimg Education. Na “Proposta paideia”, Mortimer Adler defende o reforco do estudo dos autores clissicos no quadro de uma reforma curricular que centre a educagdo e a escola naquilo que constitui o legado civilizacional. Estudou na Universidade de Columbia, onde foi professor de Psicologia, de 1923 a 1929. Em 1930, muda-se para a Universidade de Chicago, onde permaneceré até 1952, a ensinar Filosofia do Direito e Filosofia da Educagio, Em 1953, aceita 0 lugar de Reitor do Institute for Philosophical Research, em S. Francisco. Alguns anos antes, em 1945, edita com Robert Hutchins os 54 volumes da colecgio Great Books of The Western World. Foi o Editor dos 20 volumes dos Annals of America e o Director da 15* edigio da Enciclopédia Britanica. Escreveu numerosas obras sobre Filosofia e Educagio: How to Read a Book; The Differences of Man and the Differences it Makes; Philosopher at Large: An Intelectual Autobiography; The Paideia Proposal; Paideia Problems and Possibilities e Reforming Education. A teoria pedagégica de Mortimer Adler baseia-se, essencialmente, em trés livros publicados na década de 80: The Paideia Proposal: An Educational Manifesto; Paideia Problemas and Poss ities: The Paideia Program. Mortimer Adler afirma-se profundamente influenciado pelo pensamento educacional de Horace Mann, John Dewey e Robert Hutchins e uma leitura cuidada dos seus livros leva-nos a considerar as propostas de Adler como uma verdadeira sintese e aplicagdo & realidade actual, por um lado, da utopia educativa de Platio e da maiéutica socratica e, por outro lado, das ideias pedagégicas de Horace Mann e John Dewey. Ver Modelo Paideia. Adolescéncia - E 0 periodo de desenvolvimento humano que marca a passagem da infincia para a idade adulta, A adolescéncia inicia-se com a puberdade e as transformagdes biolégicas que the andam associadas. O seu termo depende de circunstancias biolégicas, sociais e culturais. Nas sociedades ocidentais, 0 periodo da adolescéncia tem vindo a alargar-se, acompanhando o aumento da escolaridade. O adolescente ganha autonomia crescente e constréi uma identidade afectivo-sexual, marcada nao s6 pelas experiéncias e contactos estabelecidos, mas também pelas caracteristicas socioculturais da sua comunidade, Afectividade - Conjunto de factos que fazem parte da vida afectiva caracterizados pela sua associacio ao prazer, a dor, & alegria ou a perda. A afectividade desempenha um papel crucial na aprendizagem. E ela que desencadeia e orienta a actividade da crianga. Pode ser fonte de perturbagdes, mas também de satisfagdo. A afectividade fundamenta a confianga, a identificagdo e a imitagao. Benjamin Bloom compreendeu a importéncia do dominio afectivo na aprendizagem e dedicou-Ihe uma taxonomia a que chamou de Taxonomia dos Objectives Educacionais - Dominio Afectivo. Agostinho (Santo) - Aurelius Augustinus nasceu em 345 em Tagusto, hoje denominada Souk-Ahras, situada junto a fronteira da Tunisia, a cerca de 300 quilémetros do Mediterraneo. Tagusto era um municipio rural, romanizado ha trés séculos. O seu pai, de nome Patricius, era pagio e trabalhava para a administragio do municipio. A mie, de nome Monica, era uma cristd devota. Em casa do jovem Agostinho s6 se falava o latim, O pai de Agostinho morre quando ele chega a Cartago para dar continuidade aos seus estudos. Agostinho tinha um irmao, de nome Navigius, e uma irma, que vird mais tarde a dirigir um mosteiro para mulheres. Agostinho € romano por cultura e africano pela raga. Desde cedo que usa o latim nao s6 como lingua oral mas também como linguagem escrita. O pouco que conhece do grego, nao é suficiente para o usar no dia a dia. Aprendera algumas palavras de piinico, 0 suficiente para se fazer entender com os camponeses, no cumprimento dos seus deveres de bispo. Antes de ser nomeado bispo, Agostinho passa alguns anos em Cartago e em Roma, a estudar. Vive durante alguns anos em Cartago com uma mulher que Ihe dard o seu tinico filho, de nome Adeodato. Conservard essa mulher durante quinze anos. Por pressio da sua mie, que queria para ele um verdadeiro casamento cristio, Agostinho abandona a mie de Adeodato para casar com uma outra mulher. Esse acontecimento ser marcante na vida de Agostinho. Durante toda a sua vida, Agostinho no se conseguiré libertar de problemas de consciéncia por ter abandonado a mie do seu tinico filho. Vivera alguns anos na Itdlia, acompanhado de Monica, a sua mie e do seu filho, Adeodato, Com a morte de Ménica, Agostinho regressa definitivamente a Hipona, onde permaneceré como bispo até A sua morte. Em Hipona, Agostinho dedicar-se~d a escrita, aos deveres de bispo e ao combate as ideias de grupos cristo nio aceites por Roma, em particular os donatistas. Agostinho morre em 428, em Hipona, quando a cidade estava prestes a cair em poder dos vandalos. Santo Agostinho deixou-nos uma obra imensa. As quatro maiores obras sio As Confissdes, De Trinitate, De Doutrina Christiana e De Civitate Dei. Outras obras menos conhecidas: De Beata Vita, Siloléquios, Revisbes, Contra os Academicos e De Ordine. As suas obras mais conhecidas si0 As Confissdes e A Cidade de Deus. No livro As Confissdes, Santo Agostinho dé-nos testemunho das suas conversdes, as de indole cultural mas também as de indole religiosa. Em A Cidade de Deus, descreve a epopeia da cultura cristi e apresenta o estatuto filoséfico dest Agressividade - Termo que designa comportar-se com hostilidade, como resposta & frustragio. A agressividade pode ser dirigida contra si proprio ou contra o outro e pode ser aberta, dissimulada ou inibida. No primeiro caso, exerce-se através da ofensa explicita e directa, No segundo, de forma indirecta, por exemplo, através de piadas corrosivas. No terceiro, no se manifesta exteriormente, mas vai-se acumulando até que se transforma em agressividade explicita. Agrupamento de escolas — Designa uma unidade organizacional, dotada de drgios proprios de administragio e gestdo, constitufda pelo estabelecimento de educagio pré- escolar e escolas do ensino bisico ou secundério, a partir de um projecto pedagégico comum, sem perda da identidade propria de cada estabelecimento. Alain — De seu nome verdadeiro, Emile Chartier, nasceu, em Mortagne, Franga, em 1868. Foi aluno do colégio de Mortagne, dirigido por padres cat6licos, mas a influéncia religiosa nao durou muito tempo. Ainda adolescente, fez estudos no liceu Michelet, em Paris e, logo depois, os estudos superiores na Escola Normnal Superior de Paris, onde se licenciou em Filosofia, no ano de 1892. Foi professor de Filosofia em varios liceus € comesou a publicar muito cedo, em jomais e revistas, com o pseudénimo de Alain. Voluntério na Guerra de 14-18, Alain escreveu, pouco depois, Os Elementos de Filosofia, o Sistema das Belas Artes, as Conversacies e as Conversacdes Livres. A sua obra Conversagdes sobre a Educacio contitui, ainda hoje, um clissico incontornével, com enorme influéncia no pensamento educacional francés. O pensamento educacional de Alain constitui um hino aos classicos e as grandes obras. Defensor de uma escola centrada na defesa do cdnone cultural, exigente e rigorosa, Alain exerceu uma influéncia preponderante no sistema educativo francés durante toda a primeira metade do século XX. Morreu em 1951. Althusser (Louis) - Nasceu na Argélia, filho de pais franceses, em 1918 e faleceu, em Paris, em 1990, apés varios anos de internamento psiquidtrico, na sequéncia do assassinato da sua mulher, num momento de loucura que iria fazer com que os tribunais, franceses 0 considerassem inimputivel e o libertassem da cadeia, aps um amplo movimento em defesa de Althusser que reuniu os seus amigos e discipulos em toda a Europa. Louis Althusser era filho de um director bancério destacado na Argélia francesa. Apés fazer os seus estudos primérios, acompanha a familia de regresso ao sul de Franga, passando a viver, na adolescéncia, sucessivamente em Marselha e em Lyon, onde termina os estudos secundérios e faz os preparatérios para 0 acesso A Escola Normal Superior. Durante a segunda guerra mundial, adere & resisténcia francesa e torna-se membro do Partido Comunista Francés, juntamente com aquela que viria a ser a sua mulher, Helne Althusser. Apés terminar 0 doutoramento em Filosofia na Escola Normal Superior de paris, Louis Althusser torna-se professor de Filosofia nessa escola universitiria, acabando por exercer uma influéncia enorme nos meios comunistas e istas de esquerda europeus e da América Latina, durante os anos 60 70. O estudo da filosofia marxista constituiu o cere de toda a sua obra. Assumindo-se como um marxista nZo ortodoxo, Louis Althusser tentou uma renovagio e adaptagZo do marxismo aos novos tempos caracterizados pelo desenvolvimento do capitalismo tecnolégico e pela emergéncia das novas classes médias urbanas, embora nunca tenha deixado de pertencer ao Partido Comunista Francés. A sua influéncia nos meios educacionais e pedagégicos de esquerda foi enorme, durante a década de 70. A eritica que fez 4 escola burguesa, considerada por ele como um aparelho ideol6gico do estado, influenciou um grande mimero de educadores descontentes com o papel que a escola desempenha nos processos de selecgaio e de estratificagZo social. Principais obras: Pour Marx (série de artigos redigidos entre 1960 e 1965); Lire le Capital (obra colectiva publicada em 1965); Montesquieu, a Politica e a Hist6ria (1959); Posigdes (1976); Lenine e a losofia (1969); Elementos de Autocritica (1974). Pouco meses antes de morrer, escreve uma autobiografia que viria a ser publicada apés a sua morte com o titulo O Futuro é Muito Tempo (Edigdes Asa, 1992). Embora nunca tenha chegado a renunci ao marxismo, € possivel descortinar uma grande amargura e tristeza nas paginas da sua autobiografia, notando-se nelas um grande desencanto pelo que se passava nos paises socialistas, Altruismo — Diz-se que uma pessoa é altrufsta quando procura beneficiar os outros e se preocupa com o bem estar dos outros. Uma educagio para a justiga visa, em grande medida, o desenvolvimento de atitudes altrufs Ver Kohlberg. Alves dos Santos (Augusto Joaquim) - Doutorado pela Universidade de Coimbra, Alves dos Santos deixou-nos uma importante obra pedagégica, com destaque para: O Crescimento da Crianga Portuguesa, Subsidios para a Constituicio de uma Pedologia Nacional (1913); Psicologia e Pedologia, Uma Missio Cientifica no Estrangeiro (1913); Elementos de Filosofia Cientifica (1915); Um Plano de Reorganizacao do Ensino Publico (1921). Foi um dos divulgadores em Portugal do movimento da educagao nova. Nasceu em 1866 e faleceu em 1924. Ambiente de aprendizagem - Designa o clima, 0 contexto e a organizagio do processo de ensino aprendizagem que influenciam a forma como os alunos se envolvem na realizagio das tarefas de aprendizagem. Ver Modelo Directivo Amostra - Termo que designa um grupo de sujeitos junto dos quais se tenciona realizar a investigagio. Quando se selecciona uma amostra deve ter-se em conta 0 efectivo necessério e a sua representatividade. Ha varios tipos de amostras: a amostra aleat6ria permite que qualquer sujeito possua a mesma probabilidade de integrar a amostra porque todos os individuos que compdem a amostra foram escolhidos ao acaso; a amostra estratificada implica a criagdo de grupos homogéneos com respeito & caracterfstica que se estuda e, em conformidade, cada sujeito é tirado ao acaso dentro de cada estrato, Anélise da tarefa - Designa o processo de dividir tarefas complexas nas suas componentes mais simples. Também pode designar 0 processo de subdividir competéncias complexas em sub competéncias simples, para poderem ser executadas uma de cada vez. Ver Modelo Directivo. Andlise de contetido - Processo de recolha de dados que incide sobre mensagens oriundas de obras literdrias, documentos oficiais ou programas audiovisuais. Os métodos de andlise de contetido implicam a aplicago de processos técnicos complexos, como por exemplo, o cilculo das frequéncias relativas ou das co-ocorréncias dos termos utilizados, Anomia moral — Refere-se a uma situago marcada pela auséncia de normas morais como critério de acgdo moral. Diz-se que uma escola é anémica quando nao possui um cédigo de conduta e as relagdes interpessoais nao respeitam as norma Ver Durkheim Apoio pedagégico - Conceito que designa um conjunto de actividades de remediagio ou de enriquecimento tendo em vista ajudar o aluno a ultrapassar as dificuldades ou a melhorar, de alguma forma, os seus resultados escolares. Aprendizagem por descoberta - Diz-se que a aprendizagem é por descoberta quando o aluno descobre, com um certo grau de autonomia, os conhecimentos. O papel do professor é de guia e facilitador e nao de transmissor de conhecimentos. Considera-se que 0 aluno é um agente activo da construcdo do conhecimento e que, dessa forma, aprende a aprender. A aprendizagem por descoberta pode ser aut6noma ou orientada. No primeiro caso, € auténoma quando o aluno identifica um problema, formula hipoteses, recolhe informagdes e alinge os resultados sem a direc¢do do professor. No segundo caso, € orientada, quando o professor da uma certa ajuda, sempre que o aluno revela dificuldade em chegar as conclusdes sozinho. Ver Modelo Interactivo Aprendizagem por recepgdo - Diz-se que a aprendizagem é por recepgiio quando 0 0 aluno recebe os conhecimentos jé preparados para serem assimilados. O papel do professor é transmitir conhecimentos. O ensino esta centrado no professor que, através de uma planificacio rigorosa e um ensino dirigido, € capaz de fazer passar para ao aluno as parcelas do conhecimento que constituem o “corpus” do programa de ensino. Ver Modelo Directivo Aprendizagem social - Teoria que considera que a imitagio e a modelagem dos comportamentos exercem um papel central na aprendizagem. A. Bandura é um dos autores mais destacados desta corrente. Segundo A. Bandura, a aprendizagem processa- se por imitagio e pela modelagem, ou seja, através da observagio de um comportamento executado por outrem e reprodugiio desse comportamento, ao qual se segue um processo de identificag&o que corresponde A interiorizag&io da aprendizagem. Ha tés tipos de aprendizagem por modelos: a aprendizagem por observagio, por imitago e por identificagio. Um modelo é uma certa realidade que estimula a sua imitagdo. Como € evidente, tanto a observagio, como a imitagio e a identificagio exercem um papel muito importante nos processo de aprendizagem. Aptidio - A aptidio é uma propensio, geralmente de caricter genético, embora possa ser aperfeigoada e desenvolvida pela experiéncia, que permite ao sujeito a realizagio de tarefas com alguma complexidade e que exigem a existéncia de virios atributos cognitivos e psicomotores. Pode nascer-se com uma aptidao natural para a miisica, & semelhanga de Mozart, mas essa aptidio s6 se transformard em realidade, com o recurso A experiéncia e & aprendizagem. A aptiddo est relacionada com a teoria das mtiltiplas inteligéncias desenvolvida por Howard Gardner, a qual sugere a existéncia de uma inteligéncia cognitiva a par de uma inteligéncia emocional. As criangas possuem uma disposiga0 natural para o desenvolvimento de uma delas com maior profundidade, embora também possam possuir a disposig&o para o desenvolvimento em profundidade de ambas. Ha aptiddes de tipo motor, de tipo intelectual e de ordem estética. As primeiras exprimem-se pela natureza e a qualidade do movimento. As segundas revelam empreendimentos da inteligéncia pritica ou especulativa. As dltimas resultam da sensibilidade e da afectividade. Aquisicaio - Significa a capacidade para incorporar informagdes € organizar essas informagdes em conhecimentos a fim de poder dispor deles sempre que necessario. Ha aquisigdes que se fazem por processos de descoberta e aquisigdes que resultam de actividades de recepgio. As primeiras sio mais valorizadas pelos métodos de ensino construtivistas. As segunda so valorizadas pelos métodos expositivos. Area curricular transversal - Diz-se que uma Area é transversal quando os seus objectivos e contetidos contribuem para promover nos alunos competéncias, atitudes e valores integradores e que sio titeis ao aluno em todos os dominios do saber. Exemplos de reas curriculares transversais: a Formagio Pessoal e Social e a Lingua Portugues: Area-escola - Designa um espaco curricular nio disciplinar, de frequéncia obrigatéri nos ensinos basico e secundario que visa a prossecugio de projectos interdisciplinares e a educagio civica dos alunos. A concepgio dos propjectos da érea-escola € da responsabilidade do conselho pedagégico da escola, depois de ouvidos os conselhos de grupo. Aristételes - Nasceu em 484 a.C., em Estagiros, cidade da Calefdica, situada num territ6rio dependente do rei da Macedénia. Embora longe de Atenas, falava-se 0 grego na cidade natal do filésofo. O seu pai, de nome Nicémaco, foi uma médico célebre, que prestou servigo ao rei Amintas II, pai de Filipe da Maced6nia. A mie, de nome Faistias, era natural da Calcia, na Eubeia, onde Aristoteles viria a terminar os seus dias. O pai de Aristételes morreu quando este estava na puberdade e -a mie viria a falecer um pouco mais tarde. Orfao de pai e mie, antes de atingir a idade adulta, Aristoteles viria a ser educado por um tutor, Préxeno de Atameia, cujo filho Nicanor, viria a ser adoptado por Arist6teles. Arist6teles foi estudar para Atenas com a idade de 17 anos. Permaneceu na Academia de Platao até 4 morte deste, ou seja durante cerca de vinte anos. A Academia era, nessa altura, uma Universidade prestigiada, que recebia alunos de toda a Grécia da bacia oriental do mediterrineo, Os alunos estudavam na Academia em regime de internato ¢ tinham fécil acesso & Biblioteca, ao museu ¢ as salas de aula, Aristételes tera sido aluno de Plato, mas também privou com outros vultos da época: Eud6xio, Heraclides do Ponto e Xenécrates. teve, contudo, oportunidade de conhecer Séerates, pois a condenagio deste 4 morte ocorreu alguns anos antes da vinda de Aristételes para Atenas. Com a morte de Plato, em 347 e a passagem da direcgio da Academia para o sobrinho daquele, Espeusipo, Aristételes abandona a Academia, provavelmente decepcionado com a escolha. Decide, de seguida, abandonar Atenas para ensinar em Assos, onde encontra Hérmias, um antigo aluno da Academia de quem se tora amigo. Hérmias torna-se soberano de Assos e, apés a morte deste, Aristételes casa com Pitia, a sobrinha de Hérmias. Apés a morte de Pitia, casa com Herpflia, da qual teve um filho, Nicémaco, que morreu jovem e a quem o filésofo dedica a sua Etica a Nicémaco. Em 343, Aristételes € encarregado por Filipe da Macedénia da educagio do filho do rei, o futuro Alexandre 0 Grande. Coincidindo com a expedigio de Alexandre ao Oriente, Arist6teles decide regressar a Atenas fundar af um escola a que deu o nome de Liceu, onde ensina durante uma dtizia de anos. Apés a morte de Alexandre, em 323, Aristételes decide abandonar Atenas por sentir em perigo a sua seguranga, no seguimento da tomada do poder por forgas anti-macedénicas. Refugia-se na Eubeia, Cacia, cidade natal da sua mie e af morte, com 63 anos, em 322 a.C. Foram recuperados trés catilogos das suas obras. Um deles menciona 146 titulos € um outro 192 titulos. Estrabiio e Plutarco escreveram relatos sobre a maneira como os manuscritos de Aristételes teriam sido conservados. Parece evidente que apenas chegaram até nés uma pequena parte dos seus muitos manuscritos. Das chamadas obras, platnicas de Arist6teles, que teriam sido escritas durante o perfodo em que frequentou a Academia, nenhuma nos resta. As obras que chegaram até nés datam da época em que Arist6teles dirigiu o Liceu e reproduzem, quase pela certa, as aulas do filésofo. Provavelmente, algumas delas baseiam-se em notas tiradas pelos alunos. Eis algumas das obras de Aristételes mais significativas Sobre Légiea: As Categorias; Da InterpretagZo; As Analiti Refutagzio dos Sofismas. Sobre Conhecimento: A Metafisica: A Fisica; Do Céu; Da geragiio e da Corupgio; Da Alma; A Hist6ria dos Animais; As Partes dos Animais; A Geragio dos Animais; Sobre a Locomogio dos Animais. Sobre Moral e Politica: A Grande Moral; A Btica a Eudemo; A Btica a Nicémaco; A Politica. Sobre Criagio Artistica: A Ret6rica: A Poética. O leitor interessado em aprofundar a teoria moral de Aristételes no pode deixar de fazer leituras cuidadas da Btica a Nicémaco ¢ os livros I, Ile III da Politica. : Os Tépicos; A Assimilagiio - Operagiio pela qual a crianga interioriza de alguma forma 0 meio, a fim de moldar o ambiente as necessidades do seu organismo. A assimilago é na perspectiva de Jean Piaget, um processo complementar da acomodacio. A assimilagio prolonga as aquisigdes de conhecimentos. Atitude — E uma disposigio basica do individuo para agir num determinado sentido. E uma combinagio de conceitos, informagio e emogdes que dio lugar a uma predisposico para responder favoravelmente ou desfavoravelmente a pessoas, grupos, ideias ou objectos. Diz respeito a disposigao do individuo para agir num determinado sentido, As atitudes so determinantes nos comportamentos do individuo, A atitude & uma posigo que revela uma maneira de estar com os outros ¢ de se posicionar perante ‘as outras pessoas. As atitudes apropriadas da pessoa so as que fomentam a sua capacidade para interagir com o ambiente de uma forma saudivel. As altitudes imprdprias so as que diminuem a capacidade do individuo para se desenvolver de um modo construtivo. Ha atitudes positivas e atitudes negativas. As positivas sio que favorecem o relacionamento interpessoal ¢ a integrago do sujeito na sociedade. As atitudes negativas so as que prejudicam o relacionamento interpessoal e que dificultam a integragio do sujeito na sociedade. As atitudes positivas andam, regra geral, associadas ao respeito pelas relagdes de cortesia, Em sociedades fechadas, as atitude positivas estio muito dependentes do respeito pelos costumes considerados socialmente aceites, Diz-se que uma crianga tem uma boa atitude quando ela mostra possuir um conjunto de valores que respeitam a dignidade humana e favorecem a convivéncia social. Uma atitude orientada para a aprendizagem exige 0 gosto pelo trabalho bem feito, espirito empreendedor e persisténcia na tarefa. As atitudes proporcionam um quadro simples e prético para levar a cabo comportamentos apropriados. A atitude é 0 que uma pessoa est disposta a fazer e a agir de uma forma quase espontinea. Sao predisposigdes relativamente persistentes que uniformizam a conduta de uma pessoa. ‘Ao contririo das normas, que so objectivas, as atitudes so subjectivas. As atitudes podem adquirir-se, modificar-se e perder-se, por isso, a educagio pode ajudar a melhorar as atitudes da pessoa, As atitudes estio entre os valores ¢ a conduta, constituindo a mediago vivida dos primeiros face a segunda. Derivam dos primeiros e inspiram ¢ orientam a segunda, dando-lhe direcgao, sentido, tensio e forga. Atmosfera moral - Conceito que designa um meio onde as relagées interpessoais sio democraticas, respeitadoras da dignidade humana e dos direitos humanos. Um ambiente moral € aquele em que todos sio tratados como fins e nfio como meios. Num tal ambiente todos sentem consideragio e respeito pela sua pessoa e pela pessoa dos outros. Ver Modelo Comunidade Justa. Ausubel (David) - Psicdlogo e pedagogo norte-americano nascido em 1918. Influenciado pela teoria cognitivista de Jean Piaget, Ausubel orientou os seus estudos para o conhecimento da importancia da significagao na eficdcia da aprendizagem. A sua teoria da aprendizagem, conhecida pelo nome de aprendizagem significativa, tem vindo a ser aplicada, com sucesso, no ensino das ciéncias. David Ausubel introduziu o conceito de organizador prévio como aprendizagem anterior que enquadra, em termos de significado, as aprendizagens novas. Autoavaliagio das escolas - Esta expresso comecou a entrar no discurso sobre a reforma educativa na década de 90 e refere-se & possibilidade de serem os préprios professores a procederem & avaliagio do estabelecimento de ensino onde leccionam, através da aplicago de questionirios e andlise de documentos em fungio dos indicadores que os servigos do Ministério da Educago entendam ser relevantes para 0 efeito. Ha, contudo, varias abordagens a avaliagio das escolas. As perspectivas funcionalistas e tecno-burocratas acentuam indicadores relacionados com o desempenho dos alunos e outros indicadores relacionados com a eficdcia da organizagio, nomeadamente a assiduidade dos professores dos alunos, 0 nivel da formagio dos docentes ¢ a qualidade ¢ diversidade dos equipamentos. Estas perspectivas estio mais interessadas em avaliar os produtos do que os processos. Pelo contrario, as perspectivas neo-marxistas € criticas parecem mais interessadas na avaliagio dos processos, nomeadamente, as percepgdes, atitudes, expectativas, nivel de participagio na tomada 10 de decisdes, diferenciagao das metodologias ¢ priticas de discriminagao positiva em favor dos alunos oriundos das minorias. Ver Autonomia da Escola Autoconceito - Termo que designa a percepgio que 0 sujeito tem de si proprio. O autoconceito constitui uma peca importante na formagio da identidade pessoal e tem uma enorme influéncia na aprendizagem. O autoconceito constréi-se a partir da avaliagdo que o sujeito faz dos seus desempenhos ao longo do tempo e da comparagio com o desempenho dos seus pares. Autonomia da escola - Esta expresso comegou a entrar no discurso sobre a reforma da escola ptiblica nos anos 80. Na verdade, as escolas privadas sempre foram aut6nomas, porquanto se caracterizam por apresentarem um programa educativo de livre escolha dos alunos e das familias que optam por elas. O movimento de defesa da autonomia das escolas piblicas surge a par da defesa da descentralizagao, da desregulamentagio e da contratualizagio, a partir do momento em que o Estado comegou a duvidar da sua capacidade para gerir um sistema tio complexo e diversificado como € o sistema pliblico de educagio, Face ao peso organizacional e ao nivel conflitual do sistema pliblico de educagio, o Estado viu-se obrigado a partilhar o seu poder com os diferentes niveis de organizagio politica e administrativa e da sociedade civil e encontrar novas formas de impor a sua autoridade, criando exigéncias de transparéncia, mecanismos de controlo e sistemas de avaliagio, Na década de 80, esse movimento acentuou a desconcentragiio dos servigos do Ministério da Educagio, através da criagio das Direcgdes Regionais da Educagao e respectivos Centros de Area Educativa. No segunda metade da década de 90, esse movimento acentuou a transferéncia de competéncias educativas para as autarquias locais, ndo s6 no dominio dos transportes - que j4 acontecia antes - mas também no dominio das construgdes escolares, definigio da rede escolar, participagio nos érgios de direcgdo das escolas, ocupagao dos tempos livres ¢ financiamento de algumas actividades escolares. O novo quadro de autonomia, gestio administrago das escolas vem dar no s6 mais competéncias as autarquias, mas também potenciar 0 agrupamento de escolas ¢ uma maior participagio da comunidade na direcgio dos estabelecimentos de ensino. Autonomia moral - Conceito que designa a capacidade do sujeito emitir juizos morais e fazer escolhas morais de acordo com o imperativo categérico, 0 respeito pelos princfpios éticos e o cumprimento do dever. Kant foi o autor que maior contributo deu para a definigao deste conceito. Piaget e Kohlberg consideram-no central nas suas teorias do desenvolvimento moral. Tanto um como outro consideram que uma das principais finalidades da escola é a promogZo da autonomia moral dos alunos. A moral auténoma € de orientacio deontolégica e opde-se a moral heter6noma que é caracterizada por uma orientagao teleolégica. Na primeira, 0 sujeito toma decisdes com base na reflexo e na sua consciéncia. Na segunda, o sujeito toma decis6es com base no respeito pela autoridade. Uma lei moral é aut6noma quando tem em si mesma o seu fundamento e a razo propria da sua legalidade. Ver Modelo Comunidade Justa Autoridade - A autoridade nao € sindnimo de repressio. Todas as criangas precisam do contacto com a autoridade, no apenas para se identificarem com determinados modelos, valores e comportamentos, mas também para desenvolverem mecanismos e habitos de conduta. Nao hé educagio sem autoridade, uma vez que a educagio € nao s6 WW © proceso de desenvolvimento do potencial humano, mas também o processo de transmissio da heranca cultural as novas geragées. A educagio é sempre simultaneamente conservadora e inovadora. Quando visa a transmissio do legado cultural, a educagio procura conservar e proteger esse legado. Quando visa o desenvolvimento do potencial que existe em cada pessoa, a educagio abre caminho para a criago artistica, cientifica e tecnolégica, de forma a permitir 0 desenvolvimento de um saber novo. Embora a autoridade esteja mais presente na dimensio transmissora da educagio, ela também tem lugar na dimensio criadora, visto que nao € possfvel criar a partir do nada ou do vazio. A criag2o cultural e artistica necessita, também, do contacto com a autoridade, nomeadamente os grandes mestres que ajudaram a constituir os varios ramos do saber e da criago artistica. A autoridade é, também, uma exigéncia do processo de socializagdo da crianga. As primeiras autoridades so pai e a mie e € no quadro da familia que a socializagao priméria se verifica. Na escola, as autoridades sio os professores e os autores que tém espaco no curriculo escolar. O crescimento e a aprendizagem da crianga implicam relagdes continuadas com vérias autoridades. Toda a relago implica uma certa frustragZo, isto é a capacidade para conciliar os seus interesses imediatos com os interesses dos outros. Aristételes defendia a procura de um justo meio entre autoritarismo e licenga. Uma educagio autoritaria inibe a iniciativa da crianga, tomna-a demasiado dependente dos outros, reduz a sua auto-confianga e limita- Ihe a criatividade. Ver Modelo da educagao do cardcter e Obediéncia. Autoridade carismatica — Designa uma autoridade que radica na forga e no carisma de personalidades fora do comum. Os subordinados obedecem a autoridade dos Iideres carisméticos porque acreditam na sua forga e admiram a sua abnegacdo, devogio a arrebatamento pessoal. Autoridade racional — Designa um tipo de autoridade que tem origem na crenga da legitimidade das leis, das regras e dos regulamentos. Esta autoridade vai buscar a sua legitimidade ao cardcter prescritivo e normativo das leis. Tanto os superiores como os subordinados optam por cumprir as leis, as normas, as regras e os regulamentos, porque consideram que a sua existéncia est fundamentada na racionalidade. Autoridade tradicional — Designa um tipo de autoridade que procura a sua legitimidade na tradigio, no habito, no costume e no direito consuetudindrio. Os subirdinados aceitam como legitimas as ordens superiores que emanam dos costumes e das tradigGes. Auxiliar de acco educativa - Ao auxiliar de accfio educativa cabem funges nas areas de apoio & actividades pedagégica, de acgio social escolar e de apoio geral aos professores, conforme o disposto no Decreto-Lei n° 223/87 de 30 de Maio. O acesso a esta categoria profissional exige o 9° ano de escolaridade como habilitago minima. Avaliacio - Conceito que designa o processo de confronto entre as metas estabelecidas € os resultados obtidos. A avaliagio permite verificar 0 grau de consecugio dos objectivos, através da comparagio das metas com os resultados, ajuda a detectar as falhas e incorrecgdes no proceso de ensino e aprendizagem e facilita a distribuigao dos resultados escolares dos alunos de acordo com uma escala previamente definida, Ha varias modalidades de avaliagio: diagnéstica, formativa e sumativa. A primeira permite conhecer o dominio dos pré-requisitos necessdrios para a compreensao da nova unidade de ensino. A segunda permite detectar as dificuldades de aprendizagem e as deficiéncias 12 no processo de ensino. Com a terceira, é possivel verificar 0 grau de consecugao dos objectivos. Avaliacio aferida - Também chamada de avaliagio de monitorizagio, a avaliagio aferida € uma avaliagio externa que surge associada & promogio da qualidade do sistema educativo, porquanto pressupde a elaboragio de indicadores das aprendizagens dos alunos que permitam comparar resultados e verificar até que ponto € que o sistema est a dar reposta aos objectivos. A avaliagdo aferida nfo afecta a progressio dos alunos e nio se destina a recolher dados para atribuir uma classificag4o aos alunos. Avaliac&o auténtica - Expresstio que designa os procedimentos destinados a avaliar as competéncias dos alunos para a realizagio de tarefas em contextos de vida real. Avaliago criterial - & uma avaliagio aferida a critério, vulgarmente chamada de sumativa, tendo em conta determinar a capacidade do aluno para atingir o padrio de desempenho, tal como foi estabelecido previamente pelo professor. Avaliacdio de desempenho - Expresso que designa os procedimentos destinados a avaliar as capacidades dos alunos para desempenharem determinadas tarefas de aprendizagem. Avaliacéio de desempenho profissional - A avaliagio do desempenho profissional enquanto processo sistematico de apreciagao do trabalho desenvolvido pelos elementos de uma organizagio emergiu como uma importante componente da gestio dos recursos humanos no final do século XIX. Nos tltimos 20 anos, assistimos a uma evolugio considerdvel de estudos sobre a avaliagio do desempenho dos professores. Antes da década de 80, a avaliagdo do desempenho dos professores centrava-se na sala de aula e recortia sobretudo as técnicas de observacio das aulas a cargo de inspectores mandatados para o efeito. Com a expansio do sistema piblico e a diversificagio dos pliblicos escolares, os professores viram-se acometidos de novas tarefas, muitas delas tendo como palco nao a sala de aula, mas os gabinetes onde se realizam as reunides de trabalho e os espagos escolares nao directamente relacionados com a dimensio lectiva. A participagio nos Grgios de gestio pedagégica intermédia (conselhos de turma, conselhos de grupo e conselhos de directores de turma) e nos rgaos de gestio de topo (conselhos directivos e conselhos pedagégicos) vieram sobrecarregar os professores com fungdes de administragio e de gestio, tomando obsoletos os métodos tradicionais de avaliagio do desempenho centrados na sala de aula e na dimensio lectiva. O processo de avaliagio do desempenho passa a ser encarado como um complexo processo de desenvolvimento profissional, controlo burocritico, autonomia profissional ¢ participagao na consecugio dos objectivos organizacionais. Em vez da observagio das aulas, a avaliagZo passa a centrar-se na anilise dos relat6rios criticos e “dossiers” que retinem as planificagées, as actas, os testes e a pandplia de accdes de formagio, cursos pés-laborais, coléquios, seminérios e projectos de investigafo-acgdo. As trés finalidades da avaliagao dos professores sio a prestagio de contas, com vista a progressiio na carreira, 0 desenvolvimento profissional ¢ 0 desenvolvimento da organizagao. Contudo, em Portugal, a avaliagiio dos professores tem-se centrado apenas na primeira finalidade, ou seja, na prestagdo de contas para a progressio na carreira, através da apresentagio de um relat6rio critico que inclua a descrigio e andlise do trabalho desenvolvido durante um certo periodo de tempo, bem como as acgdes de formagio assistidas e 0s projectos desenvolvidos. A pritica de avaliagio dos 13 professores, desenvolvida em Portugal, na dltima década, tem sobrevalorizado a dimensio administrativo-burocritica da fungio docente, nomeadamente a participagao nos 6rgios de gestio pedagégica e administrativa e o envolvimento em projectos educativos ¢ tem desvalorizado a dimensio lectiva da fungdo docente. Ver Fungdes do Professor e Novas Fungdes do Professor Avaliagio diagnéstica - Realiza-se no inicio da nova sequéncia de ensino e visa verificar se os alunos estio na posse das aptiddes e conhecimentos necessérios a unidade que se vai iniciar, ou seja, se dominam os pré-requisitos necessérios, A avaliagaio diagnéstica pode fazer-se através de um teste escrito diagndstico ou através de tum simples conversa com os alunos, Avaliacao formativa - Realiza-se ao longo da realizagio da unidade de ensino e visa verificar se a aprendizagem esté a decorrer como previsto, nomeadamente no que respeita aos objectivos e contetidos essenciais. Com esta avaliago procura-se identificar as dificuldades de aprendizagem dos alunos, de forma a readaptar o ensino com a finalidade de ajudar os alunos a superarem as dificuldades. E uma avaliagio que incide sobre sequéncias curtas de ensino, mas que avalia em profundidade e em pormenor. Avaliacio sumativa - Ocorre apés a realizagiio de uma unidade de ensino, de forma a conseguir fazer um balango final daquilo que os alunos aprenderam. Incide sobre segmentos vastos de matéria, selecciona contetidos relevantes ¢ fornece uma visio de Conjunto sobre aquilo que os alunos aprenderam. A avaliago sumativa destina-se, também, a obter dados para classificar os alunos. Axiologia - Teoria dos valores e um dos ramos da filosofia que procede ao estudo dos valores. Quando aplicada & educagio, toma 0 nome de axiologia educacional, a qual constitui uma disciplina dos planos de estudos de muitos cursos de formagio de professores. Ver Modelo Comunidade Justa, Modelo da Educagdo de Cardcter ¢ Modelo da Clarificagao de Valores. Behaviorismo - Corrente da psicologia, também denominada de comportamentalismo, que considera que a psicologia s6 pode estudar os comportamentos directamente observaveis. Esta corrente foi criada a partir dos estudos de John Watson e Ivan Pavlov, no inicio do século XX. A teoria do reflexo condicionado, elaborada por Pavlov, que define 0 comportamento como o conjunto das reaccgées ou respostas exteriores & observaveis de um organismo a um estimulo, constitui um dos elementos principais do behaviorismo clissico. Ver Skinner. Bem - O bem é tudo aquilo que humaniza 0 homem, o tora mais livre, mais, rersponsiivel e mais conforme ao respeito pela Lei Moral. Bettelheim (Bruno) - Nasceu em Viena, em 1903 ¢ fixou-se nos Estados Unidos da América onde ensinou, deu conferéncias e publicou diversos livros sobre psicanilise e educagio. Foi o fundador da chamada Escola Ortogenética de Chicago. A sua teoria originou diversas criticas nos meios pedidtricos por causa das suas concepgdes estruturalmente psicogenéticas que alribufam 0 autismo a causa puramente psicol6gicas. As suas obras principais foram: Les Enfants du Réve (Paris, R. Laffont, 14 1971); Le Coeur Conscient (Paris, R. Laffont, 1972); La Forteresse Vi Gallimard, 1974), Un Lieu ou Renaitre (Paris, R. Laffond, 1975), ide (Paris, Binet (Alfred) - Nasceu em 1857 e morreu em 1911. E considerado o pai da psicologia experimental em Franca. O seu nome ficou ligado a escala métrica da inteligéncia, cujo primeiro esbogo desenvolveu, em 1905, com o seu colaborador Simon. O teste de Simon-Binet destinava-se a detectar as criangas que nao eram capazes de seguir uma escolaridade regular e que deviam ser encaminhadas para as escolas especiais. Bloom (Benjamin) - Psiclogo norte-americano, professor na Universidade de Chicago, que concebeu uma importante taxonomia dos objectivos educacionais, tendo exercido uma influéncia fundamental nos processos de planificagio ¢ avaliagio do ensino. A criagiio do modelo de ensino para a mestria foi outro dos seus importantes contributos para as Ciéncias da Educacio. As suas principais obras foram: Stability and Change in Human Characteristics, Human Characteristics and School Learning e Taxonomy of Educational Objecti Ver Modelo de Ensino para a Mestria, es. Bons costumes nas escolas - As relagdes entre os professores ¢ os alunos sofreram mudangas profundas nos tltimos vinte anos. Ha vinte anos, verificava-se uma situagio injusta , em que o professor tinha todos os direitos e o aluno s6 tinha deveres e podia ser submetido aos mais variados vexames. Presentemente, observamos outra situagio, igualmente injusta, em que o aluno pode permitir-se, com bastante impunidade, diversas agressdes verbais, fisicas e psicoldgicas aos professores ou aos colegas, sem que na pritica funcionem os mecanismos de arbitragem teoricamente existentes. E facil verificar a inexisténcia de cédigos de conduta nas escolas piiblicas. Como reacg’io salutar ao quadro normativo de tipo ditatorial, vigente em Portugal no perfodo de 1926 a 1974, nem © Ministério da Educago nem os professores tem levado a sério a necessidade de criag%io de cédigos de conduta na escola. Contudo, passados 21 anos apés a reintrodug’o do regime democritico em Portugal, um tal receio parece-nos completamente infundado. Portugal vive num regime de democracia madura e as situagées de indisciplina nas escolas tornaram-se de tal forma graves que colocam em risco a aprendizagem dos alunos. O Instituto de Inovagao Educacional publicou, no final de 1995, uma brochura, da autoria de Natércio Afonso, com o titulo "A Imagem Publica da Escola", na qual da conta de uma sondagem realizada em Portugal acerca de alguns problemas que afectam a escola actual. Com efeito, o problema mimero um, identificado pela sondagem, relaciona-se com a indisciplina e a auséncia de valores na escola. Este estudo confirma os resultados a que chegaram idénticas sondagens realizadas noutros paises da Europa e nos EUA. O estado e o sistema ptiblico de educag&o - pago através dos impostos de todos - n’io podem eximir-se a urgentfssima tarefa da educagio civica das novas geragdes. Evidentemente que a educacio civica € muito mais do que cédigos de conduta e de bons costumes. Passa também pelo conhecimento das instituigGes democriticas ¢ pela adopgio dos valores democraticos. Contudo, na auséncia de uma cultura de bons costumes, é completamente impossivel qualquer esforgo de educago civiea nas escolas, por mais disciplinas ou espagos interdisciplinares que sejam criados, pela simples razo de que o clima e a atmosfera da escola so essenciais na prossecugio dessa tarefa. As boas maneiras so um conjunto de praticas que funcionam como a moldura normativa para 0 c6digo de conduta da escola. Numa sociedade democritica como a nossa existe um consenso grande acerca do que sfio as boas maneiras. Todos nés - independentemente do grupo social ou étnico - 15 concordamos em que a vida em sociedade se torna mais facil quando as pessoas 1) esperam pela sua vez; 2) nao interrompem quem esta no uso da palavra; 3) evitam usar palavrdes em ptiblico; 4) dio os bons dias ou as boas tardes quando se cruzam com outras pessoas ou acabam de chegar a um determinado lugar; 4) dio o lugar as pessoas idosas, doentes ou deficientes; 5) resolvem os diferendos sem o uso de agressdes verbais ou fisicas; 6) nZo falam mal de pessoas ausentes; 7) no prometem aquilo que no so capazes de cumprir, etc. Um verdadeiro programa de educagio civica nas escolas nio pode prescindir de um cédigo de conduta que incorpore aquelas e outras boas maneiras. Ver Modelo de Educagao de Cardcter. Boudon (Raymond) - Socidlogo francés, nascido em Paris, em 1934. Professor na Sorbonne e na Universidade de Geneve, Boudon é membro do Institut de France, da American Academy of Arts and Sciences e da Academia de Ciéncias de S. Petersburg. Principais obras: LInégalité des Chances (Paris, Hachette, 1985), Effects Pervers et Ordre Social (Paris, PUF, 1989), La Logique du Social (Paris, Hachette, 1983), Dictionnaire Critique de la Sociologie (Paris, PUF, 1990), La Place du Désordre (Paris, PUF, 1990). Raymon Boudon é um dos expoentes da teoria sociolégica intitulada de individualismo sociolégico, Bourdieu (Pierre) - Socidlogo francés , nascido em 1930, professor na Escola de Altos Estudos de Paris, que desenvolveu, durante os anos 60 e 70, a teoria da reprodug’io social, mostrando a existéncia de uma relagao entre classe social e carreira escolar e acentuando o peso da heranga cultural nos processos de selecgio escolar. E autor de uma vasta obra, com destaque para Les Héritiers, les Etudiants et la Culture (em colaborag’o com J-C. Passeron), Ed. Minuit, 1964 e L*Amour de I’ Art, les Musées et leur Public (em colaboragio com A. Dardel e D. Schanpper), Ed. Minuit, 1966. A questio essencial na teoria da reprodugio social é a relago entre o sistema de ensino e © sistema social. Pierre Bourdieu considera que a origem social marca a carreira escolar ¢ a carreira profissional das pessoas. Contudo, para além da classe social ha que contar com a influéncia da heranga cultural, Com efeito, ha alunos que possuem um elevado “capital cultural”, os chamados “herdeiros”, que lhes traz enormes vantagens durante a sua carreira escolar. A escola tende a valorizar os alunos que dio mostras de possuir 0 “capital cultural” necessario para vencer. O ensino produz uma “linguagem escolar” que esti proxima do “capital cultural” dos “herdeiros” Assim sendo, para os alunos privados do “capital cultural”, a aprendizagem da cultura escolar € uma conquista dificil, enquanto que para os “herdeiros” € uma empresa mais fiicil, uma vez que proximidade entre o que aprendem em casa e aquilo que a escola valoriza. Bruner (Jerome) - Psicélogo norte-americano, nascido em 1915, que exerceu uma enorme influéncia no desenvolvimento dos modelos construtivistas e cognitivistas da aprendizagem. Os seus estudos, influenciados pela teoria cognitivista, trouxeram contributos importantes para o conhecimento dos processos de aprendizagem por descoberta e para a reforma curricular, realizada, nos anos 60, nos EUA. Principais, obras: Possible Minds, Possible Words: Acts of Meaning: Studies in Cognitive Growth; Beyond the Information Given. Ver Modelo Interactivo 16 Capacidade - Designa a utilizago de uma aptidio numa situagio conereta. Ea possibilidade de compreender ou de fazer alguma coisa. Por vezes, designa a competéncia escolar ou profissional. H4 capacidades intelectuais e motoras. A educagio visa o desenvolvimento das capacidades. Cardeter - Termo que se aplica quer & personalidade de um individuo quer ao temperamento. Diz-se que uma pessoa tem caricter quando procura e faz. o bem. Diz-se que uma pessoa tem bom temperamento quando revela moderagao, temperanga, serenidade e calma no relacionamento com os outros. A educagio visa o desenvolvimento do caricter. Embora cardcter de uma pessoa possa ser melhorado com a educagao, hi tragos biolégicos e hereditarios que moldam o caricter da pessoa. O temperamento é, em grande parte, produto da heranga genética mas a personalidade forma-se com a educagio e a experiéncia. Aristételes, na Etica a Nicémaco, da-nos a seguinte definigio de caracter: O carcter de uma pessoa € 0 conjunto dos estados que resultam a) da habituagio precoce para adquirir os desejos, sentimentos, prazeres € dores correctos; b) do uso correcto da deliberagio racional que uma pessoa inteligente faz habituada a tomar decisdes correctas. A formagio do caricter requer a educacZo das partes nao racionais da alma. Mas, uma vez que essas partes ndo racionais devem ser treinadas a agir de acordo com a recta razio, 0 treino no raciocinio e na deliberacio € também necessitio. Ver Modelo de Educagdo de Cardcter e Virtude Castigo - Significa pena infligida pela autoridade em face da violagio de uma norma, regra ou dever. Na escola tradicional, acentuava-se 0 dever de aprender. Quando os alunos violavam esse dever, surgia o castigo, Havia varios tipos de castigos: corporais, coercdo através da vigilincia apertada e privagdes. Aplicavam-se os castigos para redimir a falta e como forma de pressionar & obediéncia. Hoje em dia, os castigos corporais so considerados violagdes da dignidade humana e foram, por isso, banidos das escolas. Continua, contudo, a usar-se outro tipo de castigos, como as privagdes de um bem, as reprimendas e as reparagGes da falta. Ver Obediéncia. Centragiio - O conceito refere-se A incapacidade da pessoa colocar em simultineo varias perspectivas, pontos de vista ou dimensdes. De acordo com a teoria de Piaget, esta forma de raciocinar é tipica das criangas no estidio das operagdes concretas, as quais costumam atender a uma tinica dimensio ou ponto de vista, quando esto varias perspectivas em jogo. Centros de interesse - Conceito criado por Décroly que esta no centro do seu método e que procura organizar ensino em fungio dos verdadeiros ¢ profundos interesses da crianga, O centro de interesse nasce das necessidades da crianga e agrupa a volta das suas preocupagdes conjuntos de ligBes que abordam conteiidos de diversas disciplinas ou areas curriculares. O trabalho escolar consiste, antes de tudo, em conhecer as necessidades da crianga. Das necessidades das criangas parte-se para o estudo do meio. Os assuntos sto organizados A volta dos centros de interesse, tendo como base a observagaio do meio ambiente ¢ a manipulagio dos materiais recolhidos durante as visitas de estudo. Decroly censurava o cardcter disperso ¢ artificial dos programas de ensino tradicionais, os quais pouco significado tinham para as criangas. Com os centros de interesse, as aprendizagens passam a ter um significado profundo para a crianga e a sua motivagao para aprender cresce. 7 Ver Decroly Chazan (Barry) - Professor de Filosofia da Educagio na Hebrew University of Jerusalem, onde dirige 0 Melton Center for Jewish Education in the Diaspora, Barry Chazan € um autor prestigiado nas dreas da educagio moral e da educagio religiosa. Principais obras: Contemporary Approaches to Moral Education - Analyzing Alternative Theories (Teachers College Press, 1985); Moral Education (Teachers College Press, 1973); The Language of Jewish Education (Hartmore House, 1978). Chomsky (Noam) - Nascido em 1928, em Filadélfia, este professor de linguistica no Massachusetts Institute of Technology, € uma dos mais célebres linguistas contemporaneos. Por oposicio ao estruturalismo, Chomsky propde uma nova definigao da natureza formal da linguagem e da gramatica, sendo justamente considerado um dos autores que mais se destacou na defesa de uma explicagZo maturacionsita e inatista para os fen6menos da linguagem. Para além das suas obras sobre gramética e linguagem, que muito influenciaram as didécticas das Iinguas nos anos 60 e 70, Chomsky € particularmente conhecido pelo seu envolvimento nos movimentos esquerdistas dos anos 60 contra a guerra do Vietname e pela defesa dos direitos civicos das minorias. Mais recentemente, destacou-se na luta pela defesa do direito & independéncia de Timor Leste. Assumindo-se como um socialista de esquerda, Chomsky continua a ser um pensador original e muito influente no panorama académico norte-americano. Ficaram célebres as suas polémicas com Jean Piaget a propésito da relagdo entre pensamento e linguagem. Noam Chomsky é considerado um expoente da escola generativa, tendo-se destacado na critica ao empirismo e ao construtivismo piagetiano. Principais obras: A Linguagem e 0 Pensamento; A Linguistica Cartesiana; A América e os Novos Mandarins; Reflexdes sobre a Linguagem; Ensaios sobre a Forma e 0 Sentido. Civismo - Designa os processos que visam dar ao aluno 0 conhecimento dos deveres e direitos de cidadania. Compreende nio s6 0 conhecimento das instituigdes politicas do pafs, mas também 0 conhecimento das relagdes de cortesia e bons costumes. Pode ser entendido, também, como uma forma de proporcionar competéncias para 0 exercicio da cidadania, nomeadamente a participagio em processos deliberativos e acgdes conducentes transformag’o da comunidade. Em Portugal, a educagio cfvica era realizada nas escolas, antes de 1974, através de uma disciplina intitulada Organizagio Politica e Administrativa da Nagao. Depois de 1974, foi criado um espago curricular a que se deu 0 nome de Educagio Civica e Politécnica e uma disciplina intitulada Introdugio a Politica. Com o processo de normalizacio democratica concluido, estas disciplinas desapareceram dos curricula. Na década de 90, foi criada uma disciplina intitulada Desenvolvimento Pessoal e Social, em alternativa & disciplina de Religizo e Moral. Ver Modelo de Educagdo de Card er. Claparéde (Edouard) - Claparéde (1872-1940) foi o criador da pedagogia funcional. Nasceu em Genéve, no seio de uma familia oriunda de Franga. Completou os estudos de Medicina em 1897 € tornou-se professor de psicologia na Universidade de Genéve em 1904. Director do Laboratério de Psicologia da Universidade de Geneve, desde 1904, comegou cedo a interessar-se pelo estudo da adaptagao do organismo psicofisiolégico da crianga. Central na sua pedagogia funcional € a ideia de que toda a adaptagio se faz. por tentativas e ajustes sucessivos, sendo por isso que a sua pedagogia também ficou 18 conhecida por “pedagogia dos ensaios e dos erros”. Principais obras: A Associacio das Ideias (1903); Psicologia da Crianga e Pedagogia Experimental (1905); Um. Instituto das Ciéncias da Educacio (1912); Psicologia da Inteligéncia (1917); A Educagao Funcional (1931); Moral e Politica (1940), Classificagio referida a um critério - Conceito que designa uma forma de classificar em que o sucesso € definido a priori e em que todos os alunos t¢m oportunidade de ter qualquer nota possivel. Ver Modelo de Ensino para a Mestria. Classificagio referida a uma norma - Conceito que designa uma forma de classificar os alunos tendo em conta a comparagio das classificagdes entre os alunos de uma turma. Clientelas escolares - Termo que designa os grupos ou entidades sociais, com interesses especificos e diferentes niveis de influéncia sobre os que tomam as decisdes na escola. As clientelas so a origem dos inputs e fazem chegar aos decisores os seus interesses e anseios através de varias formas de pressio. Ver Participagdo dos pais. Clima da sala de aula - Atmosfera ou ethos da sala de aula que resulta de uma interacgo entre o curriculo explicito e o curriculo implicito. O clima da sala de aula uma variével importante no aproveitamento escolar dos alunos. Quando o clima é participativo, estimulante, ordeiro e responsdvel ha mais oportunidades para aprender Cédigo de conduta - Expressio que designa a existéncia de um regulamento, aprovado pela direccZo da escola e divulgado a todos os intervenientes no processo educativo, onde constam as regras de conduta, as normas de comportamento e os padrdes de conduta aceitaveis na comunidade escolar. Os modelos curriculares de educagao do caricter consideram o cédigo de conduta um instrumento essencial de promogio da educagiio moral na escola. Os modelos curriculares de orientagio cognitivista nao se opdem a existéncia de um cédigo de conduta desde que concebido e aprovado democraticamente. Consideram, no entanto, que o cédigo de conduta constitui um instrumento, entre outros, de promogao da educago moral Ver Modelo de Educacao de cardcter e Cédigo de Conduta nas Escolas. Cédigos de conduta nas escolas - Uma politica educativa preocupada com a qualidade da escola pressupde, também, 0 desenvolvimento de condiges que favoregam a melhoria do clima moral da escola e a criagdo de programas de educagio moral e efvica Ao longo deste texto, utiliza-se a expresso “educagio moral” e a expresso “educagio do caracter” como sinénimos. Num caso e noutro, procura-se acentuar uma educagio preocupada nio apenas com o desenvolvimento do raciocinio moral dos alunos (a cognigio moral), mas também com o desenvolvimento da imaginagio moral e a procura de condutas morais respeitadoras dos valores basicos e dos prinefpios éticos universais A procura da correspondéncia entre pensamento moral, imaginag3o moral e conduta moral parte do pressuposto de que os princfpios morais nao so meramente subjectivos e arbitrarios, nem sio apenas uma questio de preferéncia pessoal. Agir de acordo com principios morais envolve tratar os outros com seriedade, reconhecendo que nao temos © direito de os tratar como objectos ou de os usar em beneficio dos nossos fins ou 19 desejos. Como € que os alunos poderio aprender isto? Para os modelos informados pelos relativismo ético, nfo faz qualquer sentido ensinar condutas morais, visto que cada um possui os seus proprios “standards” morais e nenhum € melhor do que outro. Para os modelos desenvolvimentistas informados pela teoria de Kohlberg, uma educaco para a conduta moral incorre em intimeras faldcias e, em particular, na faldcia do moralismo, Para os modelos desenvolvimentistas de tipo kohlbergiano, uma educagio que procura ensinar o respeito por bons comportamentos ¢ pelos bons costumes € uma “educagao para a santidade” e incorre no pecado do doutrinamento. Os autores que defendem a énfase na conduta moral respondem a estas criticas, afirmando que uma educagio que leve os alunos a respeitarem os bons costumes, a procurarem uma vida virtuosa e a apreciarem a honestidade, a temperanga, a responsabilidade, a perseveranga, a justiga e a humildade s6 € doutrinante aos olhos dos que procuram evitar que a escola faga aquilo que sempre fez: educar o carécter das novas geragdes, colocando-as em contacto com exemplos de moralidade nas grandes narrativas literdrias ¢ filosoficas, criando oportunidades para debates sobre a honestidade, a temperanga, a coragem, a responsabilidade, a perseveranga, a justiga e a humildade, proporcionando ambientes escolares moralmente estimulantes, onde haja respeito mituo, amizade, humildade intelectual, rigor e integridade e criando situagdes que permitam experiéncias moralmente enriquecedoras. Um dos autores que mais tem escrito sobre educagao do cardcter é Kevin Ryan, um professor da Universidade de Boston que dirige desde 1989, o Center for the Advancement of Ethics and Character. Kevin Ryan insere- se numa tradigio Aristotélica e defende um conjunto de procedimentos para o ensino de uma conjunto de valores basicos, que sio comuns & matriz. civilizacional do Ocidente, pelos menos desde a Grécia Classica: honestidade, coragem, temperanga, humildade, integridade, justiga, compaixdo, responsabilidade, perseveranga e respeito pelos outros. Os procedimentos so: ensinar através do exemplo; ensinar através do envolvimento dos alunos em conversas € debates sobre os valores basicos; ensinar através do envolvimento dos alunos em actividades praticas que exijam a aplicagio dos valores basicos; ensinar através da fixago de padrdes e expectativas elevadas e; ensinar recorrendo ao clima moral da escola. A critica mais comum que se pode fazer a esta abordagem reside no facto de os sujeitos persistirem numa moralidade heterénoma e respeitarem as condutas pelo receio que a autoridade Ihes provoca. A abordagem educagio do cardcter tende, portanto, a formar cidadios conformistas, incapazes de reagirem as injustigas provocadas por uma ordem social que mantém os privilégios dos mais fortes. Ver Modelo de Educagao de Cardcter. Cédigo elaborado — Conceito desenvolvido por Basil Bernstein para caracterizar a linguagem usada pelos alunos oriundos da classe média ilustrada. O cédigo elaborado permite uma linguagem mais abstracta, 0 uso de formas verbais correctas, oragées subordinadas e riqueza conceptual. Os alunos que usam o cédigo elaborado encontram- se mais perto da cultura da escola e revelam mais facilidade no acesso & cultura erudita. Cédigo restrito — Conceito desenvolvido pelo sociélogo Basil Bernstein para caracterizar a linguagem usada pelos alunos oriundos da classe operiria. 0 cédigo restrito consiste no emprego de frases curtas, com um vocabulirio pobre, poucos adjectivos e utilizagdo repetitiva de conjungdes. Escasseiam as nogdes abstractas € as palavras usadas esto muito dependentes do contexto. As expressdes verbais sio pouco correctas e escasseiam as oragdes subordinadas. 20 Coeducagiio - Acgio educativa que se dirige a individuos dos dois sexos que a recebem em comum na mesma sala de aula, Coelho (Adolfo) - Nasceu em Coimbra em 1847 ¢ faleceu em 1919. Adolfo Coelho foi um importante filélogo e pedagogo. Principais obras: A Questo do Ensino (1872); A Reforma do Curso Superior de Letras (1880); O Trabalho Manual na Escola Primaria (1882); Os Elementos Tradicionais da Educacio (1883); Cultura € Analfabetismo (1916). Rogério Fernandes dedicou-Ihe um livro com o titulo As Ideias Pedagégicas de Adolfo Coelho (1973). Coelho (José Augusto) - Pedagogo portugués, nascido em Sendim, em 1861 ¢ falecido, no Porto, em 1927, deixou-nos uma obra importante com o titulo de Principios de Pedagogia (1892). Ficou conhecido como um divulgador dos métodos de ensino da leitura, nomeadamente 0 método de Castilho e 0 método Joo de Deus. Dedicou alguns estudos a reforma do ensino primério. Cognitive - Designa 0 processo relativo ao acto de conhecer, fazendo uso da razio. Benjamin Bloom desenvolveu, nos anos 50, uma taxonomia dos objectivos educacionais do dominio cognitivo. Essa taxonomia considera a existéncia de 6 tipos de operagées intelectuais: conhecimento, compreensio, aplicagio, anilise, sintese e avaliago. Jean Piaget desenvolveu, na primeira metade do século XX, uma teoria do desenvolvimento cognitive que considera a existéncia dos seguintes estadios: estadio sensério-motor, estédio pré-operatério, estidio das operagdes concretas e estddio das operagdes formais, Lawrence Kohlberg desenvolveu, nos anos 60, uma teoria do desenvolvimento moral com pressupostos psicolégicos filoséficos semelhantes & teoria de Jean Piaget. A teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg compreende trés niveis (nivel pré-convencional, nivel convencional ¢ nivel pés-convencional) ¢ seis estidios (estédio orientagao pela obediéncia e punigio, estédio da individualidade instrumental e orientagio egoista, estidio da orientago bom rapaz e linda menina, estidio da orientago para a manutengio da ordem e da autoridade, estédio da orientago contratual legalista e estadio da orientagiio pelos principios éticos. Ver Piaget e Teoria Cognitivo-desenvolvimentista da Aprendizagem. Coimbra (Leonardo) - Leonardo Coimbra foi fil6sofo, pedagogo e ministro da instrugao publica, Nasceu em 1883 ¢ faleceu em 1936. Depois de uma curta passagem pelo Ministério da Instrugio Piblica, Leonardo Coimbra pediu a demissio pelo facto de nao ter conseguido aprovar a autorizagio para o ensino religioso nos colégios particulares. Critico do jacobinismo, Leonardo Coimbra foi um pedagogo personalista, defensor de uma educagio respeitadora da individualidade da pessoa e aberta & tolerancia e A cultura. A sua obra pedagégica mais conhecida € O Problema da EducacHo Nacional, tese apresentada ao Congresso da Esquerda Democritica, em 1926. As Obras Completas de Leonardo Coimbra estio editadas, na Lello Editores. A ese de doutoramento de Manuel Ferreira Patricio, intitulada A Pedagogia de Leonardo Coimbra constitu o mais importante estudo sobre Leonardo Coimbra. Coménio (Juan Amos) - Juan Amés Coménio nasceu, em 1592, em Niewniz, na Moravia, de uma familia protestante pertencente a Unido dos Irmaos Mordvios, uma comunidade com rafzes na seita fundada por Juan Hus. Deve a sua educagao esmerada a influéncia dos Irmaos Moravios, cuja escola frequentou, desde crianga, Os Irmaos 2 Moravios ou Boémios eram uma congregagio de influéncia luterana, embora afastada das solugdes politicas dos luteranos, ja que aceitavam 0 predominio politico da catélica Casa de Austria. Aos dozes anos de idade, fica érfio de pai e mae. Gragas 4 sua enorme inteligéncia, entra no liceu de Prerov, com quinze anos de idade e aos dezanove é admitido na Academia de Herborn, em Nassau. Aos vinte anos, apresenta a tese de doutoramento. Em 1618, com 26 anos de idade, é nomeado pastor de Fulnek e toma-se reitor da escola da Unio dos Irmaos Moravios. Com a invasio da Moravia e da Boémia pelas tropas do Imperador Fernando e a destruigo da cidade de Fulnek, Coménio é proscrito, sendo obrigado a fugir para o estrangeiro para escapar 4 morte. Durante trinta anos, 0 periodo que ficou conhecido pela Guerra dos Trinta Anos, percorre a Europa Central e do Norte, viajando pela Poldnia, Inglaterra, Holanda, Suécia, Hungria e Alemanha. A formagio teoldgica e filoséfica de Coménio deve muito as principais figuras do luteranismo do século XVI: Juan Fisher e Juan Henrique Alsted, de quem foi aluno e Juan Valentin Andrea, de quem foi admirador e amigo. A influéncia do pensamento pedagégico do espanhol Juan Luis Vives e do pensamento filoséfico do inglés Francis Bacon é, também de destacar. Coménio terminara os seus dias em Amesterdao, onde encontra refiigio apés trés décadas de uma vida errante. Ao longo da vida aventurosa, ter-se-do perdido alguns importantes manuscritos, mas tera ensejo de publicar varias obras. O seu nome tornar-se-4 conhecido de todos com a obra Didietica Magna. Apesar da destruigio de alguns manuscritos, Coménio deixou uma obra imensa, constitufda por cerca de 200 textos. Por ocasido da sua morte, Leibniz, entio com 24 anos de idade, fez-lhe um elogio fiinebre que inclui os seguintes versos: “tempo vird em que aquele que quiser fazer parte dos bons, honrar-te~i, Coménio, as esperangas € os sonhos”. Entre as suas obras, & justo realgar as que escreveu sobre o ensino das Iinguas. A sua obra-prima, Didéctica Magna, encontra-se publicada em portugues, numa edigio da Fundagio Calouste Gulbenkian, com tradugao de Joaquim Ferreira Gomes. A sua segunda grande obra, A Pampaedeia, também esti publicada em portugués, em edi¢io da Universidade de Coimbra, numa excelente tradugio de Joaquim Ferreira Gomes, 0 investigador portugués mais conhecedor da obra de Coménio. Nos dois casos, sto de realgar as excelentes introdugdes € notas explicativas de Joaquim Ferreira Gomes. Embora tenha escrito varios optisculos sobre pedagogia, filosofia e teologia, Coménio entrou na galeria dos clissicos gragas & sua obra Didactica Magna, publicada pela primeira vez em 1657. Coménio apresenta-a como um “Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos”. Competéncia - Designa um conjunto de capacidades interdependentes relacionadas com um determinado dominio. Em pedagogia, a competéncia surge associada ao saber- fazer e constitui uma componente essencial do processo de aprender a aprender. Componente de apoio A familia - Os estabelecimentos de educagio pré-escolar oferecem, regra geral, uma componente de apoio & familia, constitufda pelos momentos que esto para além da componente educativa e que se destinam a servir as necessidades da familia. A componente educativa e a componente de apoio A familia devem ser pensadas de forma articulada, de modo que nio haja repeticbes e sobreposigies cansativas, 22 Comportamento - Termo que designa a resposta ou conjunto de respostas do sujeito a uma dada situago e a um conjunto de estimulos, Para a psicologia comportamentalista clissica, © comportamento é explicado pela relagao causal entre estimulo e resposta. Comportamentos cognitivos de entrada - Aptiddes pessoais que permitem a compreensio da matéria ou, dito de outra forma, pré-requisitos necessérios para realizar novas tarefas de aprendizagem. Comunicagio ideal — Conceito desenvolvido pelo filésofo alemio J. Habermas e que significa uma relagio comunicacional entre pessoas regulada dialogicamente, na qual todos tém direito a tomar a palavra, em pé de igualdade, e se procura o estabelecimento de consensos. Comunicagio nao verbal - Constitui um suporte da comunicagao oral, mas pode ser desenvolvida separadamente, através da comunicagio pelos gestos e pela mimica. A interpretagio destas formas de comunicaco produzidas pelas prdprias criangas constitui um importante meio de aprofundar a linguagem, Comunidade educativa - Expressio que designa o conjunto dos actores e intervenientes no processo educative escolar. Nesse sentido, inclui nio s6 os professores, alunos e funcionérios nio docentes, mas também os pais dos alunos e representantes de instituices da comunidade vocacionadas para trabalhar com a escola Ver Autonomia da Escola, Participacdo dos Pais e Tipologia de Joyce Epstein. Comunidade escolar - Expressio que designa 0 conjunto das clientelas directamente envolvidas no processo de ensino e aprendizagem: professores, técnicos de educagio, auxiliares de acco educativa e alunos. Comunidade justa - Conceito criado por Lawrence Kohlberg para designar uma colectividade democratica, onde todos participem na tomada de decisdes e os processos de deliberagao sejam informados pelos principios éticos e pela procura de justiga, isto é, do maior bem para 0 maior niimero, Kohlberg e colaboradores criaram, nos anos 70, um modelo curricular de educagio moral, a que chamaram de “comunidade justa”, o qual visa a promogo do desenvolvimento moral dos alunos através da discussio de dilemas morais reais e da participagao de todos na vida da comunidade. Ver Kohlberg. Conceito - Designa a representacio abstracta de um objecto ou de uma ideia. A compreensiio dos conceitos exige do aluno a capacidade para estabelecer relagdes entre fenémenos, ideias e situagdes. A conceptualizagio implica a capacidade de observar, comparar, distinguir e reflectir. A inteligéncia conceptual relaciona-se com a capacidade para inferir, relacionar e explicar conceitos. Condicionamento - Processo desenvolvido pelo professor para provocar no aluno uma determinada resposta, conduta ou atitude. A teoria do condicionamento operante foi desenvolvida por Skinner e constitui uma caracteristica essencial dos modelos de ensino programados e directivos. A aprendizagem ocorre segundo a seguinte sequéncia: estimulo - resposta - reforgo. Ver Pavlov e Skinner. 23 Conduta - Designa o comportamento tanto na sua dimensio exterior e observavel quanto nas suas dimens6es intemnas e puramente mentais, Conflito cognitive - Conceito que se refere a0 confronto de pontos de vista sobre uma questo moral. Kohlberg defendia que 0 conflito cognitivo era um poderoso instrumento de desenvolvimento do raciocinio moral. Ver Piaget e Kohlberg. Conficio - Pouco se sabe acerca de Confiicio (Kung-fu-tzu). Tera nascido em 551 a.C. e tera morrido em 479 a.C. Viveu, portanto, 72 anos. Sabe-se que era de origem nobre, ‘mas por circunstincias desconhecidas a sua familia era bastante humilde. Nasceu no estado de Lu, na moderna Xantum, na época em que o regime imperial entrava em decadéncia, sacudido por lutas senhoriais e corrupgio generalizada. A China Imperial passava com grandes e profundas mudangas, na economia e na sociedade. A criminalidade, a miséria e 0 fosso entre os muito ricos e os muito pobres cresciam. Na sua juventude, Confticio arranjara uma reputacio de amante do conhecimento e respeitador das tradigdes antigas. Era conhecido como um jovem educado, cortés e justo, Viajou muito e estudou durante varios anos na capital imperial de Zhou, onde teve oportunidade de conhecer Lao Zi, o fundador do Daoismo. Com o regresso a Lu, Confiicio tornou-se famoso como professor. Com a idade de 35 anos, viu a sua carreira de professor interrompida por uma prolongada e sangrenta guerra, conduzida pelo Duque Chao do estado de Lu. Tera sido durante esse periodo que Confticio foi chamado a exercer fungdes politicas, por um breve periodo, como conselheiro politico do Duque Chao. Cansado das intrigas da Corte, Confiicio troca a vida politica pelo ensino. Aos 50 anos de idade, volta a exercer fungées politicas, como Ministro da Justiga do estado de Lu e aos 56 anos aleanga o lugar de Primeiro Ministro. Por volta dos 60 anos de idade, Confiicio abandona definitivamente a vida politica e viaja durante anos pela China acompanhado dos seus discfpulos. Durante as suas viagens é preso e vé-se envolvido em lutas de senhores da guerra rivais. Aos 67 anos de idade regressa a Lu, passando o resto dos seus dias a ensinar e a escrever. Morreu com 72 anos. Confiicio considerava-se mais como um transmissor das crengas antigas do que como um criador de teorias. Em jovem, passou algum tempo como ministro do estado, mas a maior parte da sua vida foi passada a ensinar. Viajou mais de dez anos por virios estados da China Imperial, servindo como conselheiro politico. Desiludido com a corrupgfio reinante nas cortes dos senhores feudais, Confticio regressou a Lu onde passou o resto da sua vida rodeado de um conjunto de discfpulos devotados a quem Ihe chamavam o Mestre. Tero sido os seus discipulos que escreveram Os Analectos, a tinica obra que é considerada um registo fidedigno do pensamento de Confiicio. Escrito ha perto de 2500 anos, Os Analectos conheceram uma grande divulgacio na China e foram objecto de tradugdes nas principais linguas do Mundo. O objectivo de Confiicio foi apresentar uma versio pura das antigas doutrinas, passadas de geraciio em geragio na cultura Chou, de forma a dar corpo ao governo justo e benevolente. Confiicio acreditava que, algures no passado, teria havido uma idade mitica, na qual cada um conhecia o seu lugar e cumpria o seu dever. A finalidade de Confiicio era dar a conhecer os fundamentos éticos que permitissem um regresso a esse passado mitico, tio distante dos tempos conturbados que eram os seus. A expresso pritica desse desejo era a forte predisposigao de Confiicio para apoiar as instituigées que assegurassem a harmonia, a justica e a ordem: a familia, a hierarquia, os ancitios eo Estado justo. O respeito pelo dever, pela hierarquia e pelos rituais seria capaz de produzir homens respeitadores da 24 cultura tradicional, amantes do Bem e da Justica, cumpridores dos deveres e das obrigagGes e reverentes para com as autoridades legitimas e os mais velhos. Conficio é, ainda hoje, o mais influente fildsofo chinés. Os adeptos de Confticio esto espalhados por Taiwan, Japio, Singapura, Coreia do Sul, Malisia e Reptiblica Popular da China. Estima-se em mais de 400 milhdes 0 mimero dos seus seguidores. Mencius (390 a.C.-305 a.C.) alarga e sistematiza a filosofia de Confiicio, tornando-se 0 seu discfpulo mais destacado. Com a adopgio da doutrina de Confiicio como a filosofia oficial do Estado, durante a Dinastia de Han, a influéncia de Confticio, na China, tomou-se to grande que 0 seu nome tomou-se sinénimo de intelectual e erudito. Durante a Dinastia Han, a doutrina de Confiicio e o pensamento dos seus seguidores tornaram-se as obras de referéncia para a realizagZo dos exames piiblicos de acesso as magistraturas, ao funcionalismo piiblico e A burocracia governamental. A maior parte dos trabalhos atribufdos a Confiicio, e em particular Os Analectos, foram escritos pelos seus discipulos apés a sua morte. Hé imensas tradugdes de Os Analectos, mas poucas crediveis, porque é extremamente dificil o respeito pelo original, j4 que a lingua em que foram escritos sofreu muitas transformagdes. Para além de Os Analectos, sio atribuidos a Confiicio ou aos seus discipulos A Grande Aprendizagem e A Doutrina do Meio. Conselho de docentes — Estrutura de orientagao educativa responsavel pela articulagaio curricular na educagdo pré-escolar ¢ no 1° ciclo do ensino basico € que integra os educadores de infancia e os professores do 1° ciclo, Conselho de Turma - Designa o 6rgdo de gestdo pedagégica intermédia que agrupa todos os professores de uma turma. Diz-se que ha um conselho de turma quando todos os professores da turma se retinem para trocar informagées sobre os alunos, para avali os alunos ou para tratar de assuntos disciplinares. Em Portugal, 0 conselho de turma € dirigido pelo director de turma. O conselho de turma é um Grgio que se destina a promover a interdisciplinaridade, a orientagdo dos alunos e a avaliago dos alunos. Conselho local de educaco — Designa uma estrutura de participagio dos diversos agentes e parceiros de Ambito concelhio, com vista 2 articulagdo da politica educativa local com outras politicas sociais, em particular em matérias de apoios socioeducativos, transportes escolares, horirios escolares e actividades de complemento curricular. Conselho pedagégico — Orgio de coordenagio e orientagdo educativa da escola ou agrupamento de escolas, nos dominios pedagégico-didéctico, acompanhamento dos alunos e formagiio do pessoal docente e no docente. Construtivismo - Designa uma teoria desenvolvida por Jean Piaget que explica o desenvolvimento e a aprendizagem a partir da interaccZo entre o sujeito e o ambiente. Esta teoria considera que as fontes do conhecimento sio, simultaneamente, de origem interna e externa Contetido - Termo que se refere a0 conjunto das matérias ou tépicos constantes dos programas das disciplinas ou reas curriculares. A escola tradicional acentuava 0 rigoroso cumprimento dos programas, no respeito pela sequéncia dos contetidos apresentados. Actualmente, considera-se que os contetidos devem surgir a par das 25 competéncias e a sequéncia dos contetidos pode ser alterada em fungio das necessidades dos alunos e dos contextos locais. Contingéncias de reforco — Conceito desenvolvido pelo psicélogo norte-americano B. S. Skinner que designa as consequéncias que se seguem a emissio de determinada resposta por um organismo, e que influenciam a probabilidade de ocorréncia de respostas desse tipo. Ver Skinner; Teoria Comportamentalista; Modelo Directivo. Contrato de autonomia — Designa um acordo estabelecido entre o Ministério da Educagio e uma escola ou agrupamento de escolas, a Camara Municipal outros parceiros interessados, através do qual se definem os objectivos e se fixam as condigdes que viabilizam 0 desenvolvimento do projecto educativo da escola ou agrupamento de escolas. Convengées sociais — Normas que regulam 0 exercicio das relagées interpessoais e que visam 0 bem estar de todos e de cada um. O psicélogo norte-americano E. Turiel desenvolveu uma teoria das convengdes sociais como um dominio distinto das normas Cooperativa escolar - Designa uma comunidade escolar constituida por professores e alunos de uma escola e gerida democraticamente por 6rgaos eleitos. Este termo é muito usado pelo modelo da escola moderna e pelas pedagogias institucionais e tem sido associado A defesa da autogestio escolar. Para aquelas correntes pedagégicas, a cooperativa escolar constitui um importante instrumento de educago para a cidadania, levando os alunos a desenvolverem competéncias parlamentares ¢ capacidades de tomada de decisio. Ver Modelo da Escola Moderna. Coordenador de estabelecimento — Docente responsavel pela coordenagio da actividade educativa de uma escola integrada num agrupamento, sob a orientagao do respectivo director executivo ou comissio executiva. Ver Autonomia da escola Cultura colegial - Refere-se & cultura organizacional preponderante nas escolas piiblicas, marcada pela autogestio e pelo poder deliberativo entregue a drgios colegiais, constituidos por grupos de professores eleitos pelos professores, com 0 objective de defenderem os interesses dos seus constituintes. Os defensores da cultural colegial afirmam que ela reduz © isolamento dos professores, reforga a coordenagio ¢ a colaborago entre professores, fortalece o sentido da auto-eficdcia e as praticas de auto- avaliago e desenvolve a capacidade de reflexio sobre a acgio. Os criticos da cultural colegial afirmam que ela conduz a perda de tempo em interminaveis reunides de coordenagio, negociagio e partilha do poder entre os grupos, amplia a natureza dos conflitos na escola, leva a um grande dispéndio de energias dos professores em actividades que nio estio directamente relacionadas com as aprendizagens dos alunos, retiram tempo aos professores para a preparagdo das aulas, favorecem a dependéncia dos individuos aos grupos com poder na escola, aumentam as lutas politicas nas escolas e conduzem A submissao da pessoa aos grupos com mais poder na organizacao. Cultura organizacional - Termo que designa um padrio de pressupostos basicos 0 qual funcionou suficientemente bem para ser considerado valido, e consequentemente para 26 ser ensinado a novos membros, como a forma correcta de observar, pensar e sentir relativamente a esses problemas. A cultura organizacional das escolas publicas portugueses fortemente marcada pelo igualitarismo e colegialismo. O mérito e a distingao pela competéncia sio conceitos pouco aceites pela cultura organizacional das escolas publicas. A cultura organizacional igualitarista e colegialista € tipica das organizagGes monopolistas e estatizantes. As escolas piblicas portuguesas sio consideradas, por alguns autores, como o ultimo dos monopélios, ja que o Estado controla directamente a quase totalidades das escolas bisicas e secundarias do Pais, no deixando espago para a criagio de um mercado de educagiio, A auséncia de mercado livre e a consequente predominancia de um monopélio, constitui um enorme obstaculo & inovagiio, & modernizagio ¢ a qualidade. Cunha (Pedro D’Orey da) - Licenciado em Filosofia e em Teologia, com o grau de Mestre em Psicologia e o grau de Doutor em Ciéncias da Educagio, Pedro da Cunha viveu uma grande parte da sua vida nos EUA, onde exerceu o cargo de Psicélogo Conselheiro de Orientagio Escolar na Escola Secundaria de Cambridge (Massachussetts). Em Boston, foi responsivel pela organizagio de programas de educago intercultural, leccionou e proferiu conferéncias em varias Universidades da Grea de Boston e serviu de mediador cultural entre os portugueses residentes e as autoridades educativas norte-americanas. Em 1987, regressado a Portugal, foi Chefe de Gabinete do Ministro da Educagio, entre 1987 ¢ 1989 e foi Secretério de Estado da Reforma Educativa, entre 1989 e 1991. Os tiltimos anos da sua vida foram dedicados ao ensino, na Universidade Cat6lica, onde dirigiu 0 Departamento de Ciéncias Psicopedagégicas e foi responsdvel pelos mestrados em Educagio. Faleceu em 1995, tendo deixado uma importante obra sobre deontologia docente, educagio ética, educagio religiosa e relagdes escola-familia. Em 11 de Fevereiro de 1997, foi atribuido © nome de Pedro d°Orey da Cunha & Escola Preparat6ria da Damaia. Principais obras: Entre Dois Mundos (Ministério da educagio, 1997); Nossos Filhos, Nossos Cadilhos (Peregrinagao, 1986); Etica e Educacao (Universidade Catélica, 1995). Curriculo - Termo que pode ter varios significados. Pode ser considerado um plano de estudos de um Curso, Pode, também, designar um conjunto de programas de ensino. Contudo, mais recentemente, a nogio de curriculo passou a designar o conjunto das aprendizagens propostas e realizadas, tendo em vista alcangar as finalidades de um Curso ou de um plano de formagio. Ver Curriculo multicultural, Curriculo Inter-cultural, Curriculo Centrado nos Padroes Culturais, Curriculo Explicito e Curriculo Nacional. Curriculo centrado nos padrées culturais - A educagio formal nasce quando as sociedades comegam a sentir a necessidade de transmitir herangas culturais, precisando, para isso, de criar elites capazes de conservar 0 que de mais sublime as geragSes foram construindo. A no ser assim, no poderia haver progresso na Histéria e a vida dos homens e mulheres de cada geragio nao seria mais do que um eterno retorno, A criagio humana nasce do desejo de ir além do que os outros foram e € desafiada pela necessidade de ultrapassar os limites fixados por aqueles que nos precederam. Resulta dai a necessidade de a educagio escolar se centrar na transmissio do cinone. Todas as grandes civilizagdes tém o seu cAnone. O cnone ocidental foi criado gragas a mais de 5000 anos de grandes criagdes artisticas, filoséficas, cientificas, literdrias, técnicas e politicas. O cAnone ocidental tem conhecido varios epicentros. Primeiro a Grécia Antiga, a Asia Menor e a Bacia do Mediterraneo Oriental. Depois as cidades-estado da 27 Grécia Classica. De seguida, Roma e o seu Império estendem a civilizagio helénica e romana a toda a Europa, Africa do Norte e uma parte da Asia. Séculos depois, 0 epicentro muda para a Europa da Cristandade, com as primeiras Universidades. Com os Descobrimentos e 0 Renascimento, os epicentros passam para as cidades italianas, Paises Baixos, Inglaterra, Espanha e Portugal. Com o Iluminismo, a Alemanha, a Franga € a Inglaterra tornam-se os centros da civilizagao ocidental. A Revolugao Industrial e a Revolugiio Americana estendem os epicentros ao Novo Continente. Cada civilizagio possui a sua matriz cultural especifica. A nossa matriz é 0 cAnone da Cultura Ocidental, a qual deve a sua construgdo a mais de 5.000 anos de criagdes cientfficas, filoséficas, literdrias, espirituais, técnicas e artisticas que conheceram varios epicentros: a Grécia Classica com os mitos, as epopeias, a filosofia e as artes; a Civilizagio Romana com o Direito, a Filosofia e 0 Urbanismo; as Civilizagdes Cristis da Idade Média com a Religito, as Artes, Filosofia Escoldstica e as Universidades; as cidades-estado italianas do Renascimento, os Pafses-Baixos, Espanha e Portugal com os Descobrimentos, as Artes, as Ciéncias e as Técnicas; a Inglaterra, a Alemanha e a Franga com o Huminismo e as Revolugdes Oitocentistas, 0 nascimento de novos Estados, o liberalismo, a teoria do Estado liberal, 0 mercado livre, a divistio dos poderes e o nascimento das democracias; os Estados Unidos da América, a Inglaterra e a Alemanha com os progressos técnicos e cientificos do século XIX; os grandes blocos do século XX com a luta entre 0 eixo nazi-fascista e a alianga das democracias, tensto entre os totalitarismos e as democracias, as descolonizagdes, os avangos técnicos e cientificos e os novos caminhos das Artes, das Ciéncias e da Literatura. O Mundo esta atravessado por varias matrizes civilizacionais. E é essa pluralidade de matrizes que constitui a maior riqueza dos humanos. Embora essas matrizes possam e devam dialogar entre si, cada uma delas procura conservar a sua identidade. A escola e 0 curriculo expressam a matriz civilizacional a que pertencem. Ver Curriculo. Curriculo explicito - Conceito que designa o programa educativo formal, constituido pelas finalidades, objectivos, contetidos e sugestées metodolégicas, tal como vém expressas nos programas de ensino. Curriculo hegeménico - Expresso que designa um programa educativo que nio proporciona espaco para a expresso das culturas minoritirias. H4 autores que preferem a designacZo de curriculo mono cultural. Curriculo implicito - Conceito que designa 0 conjunto de ideias, valores e praticas no explicitas que dio forma ao programa educativo escolar. Alguns autores tém chamado a atengo para o papel desempenhado pelo curriculo implicito na inculcagio de valores. Ainda que os valores nao sejam explicitados no curriculo, a verdade é que eles nunca deixam de estar presentes através do curriculo implicito. Ha autores que preferem a designagao de curriculo oculto, Curriculo inter-cultural - Expresso que designa um programa educativo que dé espago e voz para a integragao no curriculo das culturas minoritérias. Curriculo multicultural - Expressio que designa um programa educativo centrado na defesa da diversidade cultural e que tem como finalidade 0 desenvolvimento de uma literacia multicultural 28 Curriculo nacional - Entende-se por curriculo nacional a existéncia de um plano de estudos e programas de ensino, concebidos ¢ definidos pelas autoridades educativas centrais e de cumprimento obrigatério em todo o sistema piblico de escolas. Entende-se por sistema piiblico, o conjunto das escolas na dependéncia directa da administragao piblica central e local. O plano de estudos e os programas de ensino podem incluir nao 86 as finalidades e os objectivos educacionais, mas também listas de contetidos e competéncias ¢ sugestdes metodolgicas. O grau de flexibilidade na gestio dos programas de ensino varia consoante o nivel de centralizagao do sistema. Quanto maior € a centralizagio do sistema menor costuma ser a flexibilidade na gesto dos programas. A flexibilidade na gestio dos programas vai da simples adaptagao dos programas aos contextos locais até a diferenciagio curricular, no sentido de dar respostas diversificadas as diferentes populagdes escolares, Quando estamos a falar de adaptagao curricular, queremos dizer que, embora a concepcio dos programas seja da responsabilidade das autoridades educativas centrais, € concedida alguma liberdade para que 0 estabelecimento de ensino possa alterar a ordem dos contetidos, atribuir diferentes grandezas de importancia e incluir algumas componentes locais, desde que se assegure 6 respeito pelos contetidos ¢ competéncias nucleares ou essenciais, Quando falamos de diferenciagio curricular, estamos a referit-nos i criagio de curriculos alternativos, concebidos ¢ geridos pelo estabelecimento de ensino, isoladamente ou em associagio com outras escolas. Entende-se por autonomia curricular limitada a possibilidade de os estabelecimentos de ensino, isoladamente ou em associagdo, adaptarem o curriculo nacional as necessidades ¢ interesses das populagdes a quem servem, desde que se assegure 0 respeito pelos contetidos e competéncias nucleares. A existéncia de um curriculo nacional e de autonomias curriculares limitadas, manifestas através da adaptagio do curriculo aos contextos locais, anda associada a mais igualdade de oportunidades educacionais. Ao invés, quando as autonomias curriculares no surgem acompanhadas de curriculos nacionais, ¢ nio se respeitam os contetidos e competéncias nucleares, assistimos a niveis maiores de diversidade curricular e ao aumento das desigualdades entre as escolas, A autonomia curricular pode incluir apenas a adaptagao do curriculo aos contextos locais ou pode estender-se a criagao, pelo estabelecimento de ensino, de curriculos alternativos. Em paises geogrifica e demograficamente de reduzida dimensio, como é 0 caso de Portugal, ainda por cima com uma populagio relativamente homogénea do ponto de vista linguistico, étnico e cultural, é de duvidosa eficdcia e pertinéncia a generalizagio da diferenciagao curricular a todo o sistema pliblico de educagdo, embora se justifique, em casos pontuais, 0 recurso 4 diferenciago curricular no sistema publico, quando esto em causa populagdes com necessidades educativas especiais, impossibilitadas de seguirem os planos de estudo e os programas de ensino nacionais. Se estiver assegurado 0 carcter excepcional, pode haver lugar para 6s curriculos alternativos no sistema piblico. Contudo, faz todo o sentido a criagdo de sistemas escolares alternativos, fora da dependéncia directa das autoridades educativas estatais, de forma a encontrar respostas diversificadas para as populagdes escolares a quem o curriculo nacional nao serve. Davies (Don) - Nascido em 1928, nos Estados Unidos da América, Don Davies foi professor na Boston University, durante varias décadas e fundou e dirigiu o Institute for Responsive Education, entre 1974 1995. Juntamente com Joyce Epstein, foi director do Center on Families, Communities, Schools and Children’s Learning, entre 1991 e 1995. Esteve ligado a intimeros projectos de investigacdo sobre a colaboracao escola- familia e tem-se dedicado ultimamente ao estudo das politicas educativas promotoras da colaboragao escola-familia. Dos intimeros projectos de investigagao que coordenou, ha 29 que fazer referéncia a0 Multi-National Project on Families and Schools Partnership, que contou com a participacdo de cinco escolas portuguesas e ao Projecto de Colaboragaio Escola e Familia, coordenado pelo Departamento de Avaliagio Planeamento e Prospectiva do Ministério da Educagao, que contou com a participagio de 25 escolas icas. Ligado a Portugal desde os anos 80, pelo facto de ter orientado cerca de uma dezena de teses de mestrado e varias teses de doutoramento de estudantes portugueses, Don Davies fez imimeras conferéncias no nosso Pais ¢ prestou acessoria cientifica a muitos projectos de investigagao-acgio. Desa colaboragao com investigadores portugueses resultou um conjunto de livros, de que destaco: Os Professores ¢ as Familias - Colaborac&o Possivel (Livros Horizonte, 1993); As Escolas e as Familias em Portugal: Realidade e Perspectivas (Livros Horizonte, 1988). Don Davies é autor de varias dezenas de artigos publicados em revistas norte-americanas © portuguesas, nomeadamente as International Journal of Educational Research, Equity and Choice, New Schools, New Communities, Revista ESES ¢ Inovagao. Dos varios livros que publicou nos Estados Unidos da América, destaque para: A Portray of School Reaching Out (Center on Families, Communities, Schools and Children’ Leaning, 1992). Decroly (Ovide) - Foi pedagogo, psicélogo e médico. Nasceu na Bélgica em 1871 morreu em 1932. Em 1901, fundou um instituto para criangas com problemas, no qual experimentou as suas teorias educativas. Em 1907, criou, em Bruxelas, a escola L'Ermitage, onde levou & pritica as técnicas Decroly. Tornou-se conhecido gragas a0 seu método de ensino da leitura e & organizagio do ensino em torno dos centros de interesse € dos jogos educativos. No ensino da leitura, Decroly preconiza um método global. Em vez de comegcar pelas letras, propde que se comece pelas frases com sentido para a crianga. A frase corresponde um desenho que da sentido a frase. De seguid: parte-se para a andlise das palavras. Pouco a pouco mostra-se a crianga que ha palavras comuns em frases diferentes. Dessa forma, a crianga acaba por aprender as sflabas ¢ as letras. Os centros de interesse so convergéncias multidisciplinares ligados & vida da crianga, nomeadamente os alimentos, a casa e os tempos livres. Democratizagao do ensino - Expresso que designa a universalizagio da frequéncia do ensino, através da generalizagio da oferta as necessidades de toda a populacio, independentemente das origens sociais e culturais e do estatuto econémico e profissional. A democratizagao do ensino ocorreu em Portugal algumas décadas depois do processo de democratizagio dos pafses da Europa Central e do Norte. A universalizagio da educagio bisica de 6 anos aconteceu apenas na década de 60. A democratizagao da frequéncia da escola basica de 9 anos ocorreu ja na década de 80. Na década de 90, assistiu-se 4 democratizagio do ensino secundario e do ensino superior. A democratizagao do ensino € um instrumento essencial da igualdade de oportunidades. As sociedades democriticas nio podem prescindir da universalizagio do ensino basico. Os Estados Unidos da América e 0 Japio, esto entre os pafses que levaram mais longe ‘a nog&io de democratizacio do ensino, atingindo taxas de frequéncia do ensino superior de cerca de 40% na faixa etdria dos 18 aos 24 anos. A democratizagao do ensino deve ser confundida com 0 monopélio da escola estatal. Ha paises em que o Estado detém 0 monopélio do ensino e, no entanto, revelam reduzidas taxas de frequéncia escolar. Ha outros, como os Estados Unidos da América ou a Espanha, com um sector escolar privado muito forte, que atingiram elevados niveis de frequéncia escolar. Ver Igualdade de Oportunidades Educacionais 30 Deontologia - Termo que designa uma teoria dos deveres morais. Quando aplicado ao exercicio de uma actividade profissional significa respeito pelos deveres, normas ¢ regras que orientam o exercicio da profissio, Nesse sentido, fala-se de uma deontologia médica ou da deontologia da fungao docente. Departamento curricular — Estrutura de orientacio educativa responsdvel pela articulago curricular nos 2° € 3° ciclos e no ensino secundério, no qual se encontram representados os agrupamentos de disciplinas e areas disciplinares. Desenvolvimento - Termo que designa o conjunto das transformagées por que passa 0 sujeito ao longo do seu ciclo de vida, tendo como etapas fundamentais a infancia, a adolescéncia e a vida adulta, Trata-se de um processo com miiltiplas dimensdes e que depende nao s6 de processos maturacionais biol6gicos, mas também de processos educacionais e ambientais. Para os autores comportamentalistas, 0 desenvolvimento é 0 produto de um proceso continuo de aquisigdes cumulativas. Para os autores construtivistas, 0 desenvolvimento é um processo descontinuo que conhece diversos estidios sequenciais ¢ invariantes que resultam de processos de interacgo entre 0 sujeito eo ambiente. Desenvolvimento da identidade - Podemos afirmar que o desenvolvimento da identidade passa pelo reconhecimento das caracteristicas individuais e pela compreensio das capacidades e limitagdes proprias de cada um, quaisquer que estas sejam. O respeito pela diferenga, que valoriza os contributos individuais para 0 enriquecimento do grupo e favorece a construgio da identidade. O professor é um elemento-chave no proceso de construcao da identidade do aluno, sobretudo do aluno adolescente. O despertar e o desenvolvimento das vocagdes constitui um dos principais elementos do desenvolvimento da identidade do aluno, Desenvolvimento moral - Orlando Lourengo dé-nos a seguinte defini¢Zo do conceito: ‘Ambito de estudo que se refere ao modo como as pessoas encaram as normas e princfpios que devem reger a conduta interpessoal (i.e., 0 pensamento moral) e ao modo como os cumprem e pdem em pratica (i.e. acgdo moral). Os estudos clissicos de Kohlberg foram sobretudo estudos sobre a ontogénese do raciocinio moral ou raciocinio para a justiga, tendo identificado seis estédios de raciocinio moral” (Orlando Lourengo,(1992), Psicologia do Desenvolvimento Moral: Teoria, Dados e Implicagées, Livraria Almedina, p. 211), Ver Piaget e Kohlberg. Desenvolvimento pessoal em Erikson — A semelhanga de Piaget, Erikson desenvolveu uma teoria dos estadios do desenvolvimento pessoal, tendo como conceito estruturante © principio epigenético, segundo 0 qual cada pessoa tem um potencial de crescimento relativamente estavel. Erikson considera que existem seis estadios de desenvolvimento pessoal: estadio 1, caracterizado pela tensio entre confianga e desconfianga: o estédio 2, caracterizado pela tensio autonomia versus vergonha; estidio 3, caracterizado pela tensio inciativa versus culpa; estadio 3, caracterizado pela tensio competéncia versus inferioridade; estadio 5, caracterizado pela tensio identidade versus confustio de papéis; estidio 6, caracterizado pela tensio intimidade versus isolamento, 31 Desenvolvimento religioso em Fowler — A semelhanga de Kohlberg para o desenvolvimento moral, Fowler concebeu uma teoria do desenvolvimento religioso que compreende seis estadios: estadio 1, dos 4 aos 8 anos de idade, chamado intuitive de projecciio, no qual a fé se desenvolve por imitagiio das pessoas que tém significado para a crianga; estédio 2, dos 8 aos 12 anos de idade, intitulado mitico-literal, no qual a crianga vai tomando conscigncia da sua pertenga a uma grupo particular com uma determinada fé e vivéncia religiosa; estédio 3, dos 12 aos 17 anos, intitulado sintético- convencional, no qual a f€ € vivida e interpretada segundo a opiniao dos outros e de acordo com o que é conveniente; estidio 4, a partir dos 18 anos de idade, intitulado 16 individual reflexiva, no qual a pessoa toma consciéneia de que no pode basear-se apenas na autoridade e nas convengées, mas nao & regionalizagio! no exercicio da racionalidade, da consciéncia e da autonomia; estédio 5, a partir dos 40 anos de idade, intitulado £6 de consolidagio, no qual a pessoal toma em conta outras perspectivas religiosas e reconhece que nio é detentor da verdade; estidio 6, a partir do 40 anos de dade, intitulado £ universalizante, no qual a pessoa tem a experiéncia da relagio constante com Deus e é capaz de um compromisso com Deus. Embora seja possivel associar os estédios a etapas etdrias, Fowler considera que nao existe correlagio entre uma coisa e outra Desvio padriio - Termo da estatistica que designa a medida de dispersio ou de variagio que permite ver como os valores da varivel se dispersam em torno dos valores centrais. Dewey (John) - John Dewey nasceu em 1859, em Burlington, no Estado de Vermont. Estudou nas Universidades de Vermont e The Johns Hopkins. Foi professor nas Universidades de Michigan, Minnesota, Chicago e Columbia, Criou a Laboratory School na Universidade de Chicago, onde experimentou as suas ideias pedagégicas. Politicamente, Dewey era um social democrata. Filosoficamente, abragou uma corrente a que se deu o nome de pragmatismo ou utilitarismo. Deixou-nos uma obra filoséfica e pedagégica abundante. Destaque para: Psychology (1887), School and Society (1889), Democracy and Education (1916), Reconstruction in Philosophy (1920), The Theory of Inquiry (1938) e Human Nature and Conduct (1922). Morreu em 1952. John Dewey foi um dos autores mais importantes do movimento norte-americano de educagio progressista. Acreditava no poder libertador da educacZo e considerava que um sistema ptiblico de qualidade era um poderoso instrumento de combate as desigualdades sociais. Dewey pugnava pela incorporagio do método cientifico da descoberta na sala de aula, Era uma fervoroso adepto da transformagio das escolas em pequenas organizagdes democriticas, onde professores e alunos se responsabilizavam pelo autogoverno das instituigdes. Adepto do trabalho de projecto e do trabalho de grupo, John Dewey acentuava o papel da escola na educacio dos alunos para o exercicio da cidadania. Ver Modelo interactivo. Didactica - Termo que designa o procedimento cujo objecto é instruir pelo ensino. E considerada uma disciplina que retine os instrumentos necessérios aos professor para estruturar e realizar © proceso de ensino. Ha uma didactica geral e didécticas especificas. As tltimas esto directamente relacionadas com as especificidades do ensino de determinadas disciplinas ou areas curriculares. Os métodos didacticos apelam mais & meméria, as exposigdes do professor ¢ ao verbalismo do que os métodos activos. 32 Diferenciagio pedagégica - O conhecimento da crianga e da sua evolugio constitu 0 fundamento da diferenciacZo pedagégica que parte do que se é capaz de fazer para alargar os interesses e as potencialidades da crianga. Para que o professor diversifique as suas metodologias, ele tem de proceder a uma observagdo continua e a uma avaliagio diagnéstica rigorosa. Diz-se que um professor faz uso da diferenciagao pedagégica quando prepara tarefas especificas para diferentes grupos de alunos, tendo em consideragio as suas necessidades de formagio e interesses proprios. Dilema moral - © conceito foi desenvolvido por Kohlberg para designar os conflitos cognitivos surgidos a partir de situagdes que originam pontos de vista e opgdes morais opostas. Kohlberg preconizava a utilizagio de dilemas morais hipotéticos como forma de indicago do estidio de desenvolvimento moral do individuo e como estratégia para a promogio do desenvolvimento do raciocinio moral, Com a criagio do programa “comunidade justa”, Kohlberg comecou a interessar-se pela utilizagio de dilemas morais reais, surgidos a partir de situagdes do quotidiano dos alunos. Ver Kohlberg e Modelo da Comunidade justa. Dinamica de grupo - Designa o estudo dos fenémenos sociais nos grupos e das leis que os regem. Kurt Lewin foi um dos psicdlogos pioneiros no estudo da dinamica de grupos, Segundo Lewin, a dinamica de grupos visa os seguintes objectivos: o estudo das relagSes que se estabelecem entre os grupos primarios e 0 seu meio envolvente; 0 estudo da influéncia exercida por um grupo sobre os seus membros; 0 estudo das relages afectivas dentro do grupo; o estudo dos factores de coesao e de divisio dentro do grupo; estudo da divisao de tarefas e de papéis dentro do grupo. Direccao executiva — Orgio de administraco e gestio da escola ou do agrupamento de escolas que pode assumir a figura do director executivo ou do conselho executive. Direitos do Homem - Expressio que designa os direitos que cabem ao Homem em virtude do seu ser proprio e portanto independentemente dos condicionalismos econémicos e sociais. Os Direitos do Homem tém a primazia face ao direito positivo e as leis dos pafses. De uma certa forma, devem inspirar o direito positivo. A ideia dos Direitos do Homem foi concebida, pela primeira vez, por Grécio, escritor e jurista holandés que viveu entre 1583 e 1645. Na sua obra Sobre o Direito da Guerra e da Paz, Grécio defende uma concepgio subjectiva do Direito, considerada propriedade ligada ao sujeito livre. Essa concepgio obriga A defesa de direitos naturais iguais para todos os homens. A defesa dos Direitos do Homem surge em todas as Constituigées elaboradas pelas 13 Col6nias da América do Norte e surge no preambulo da Declaragio da Independéncia dos Estados Unidos da América. Os revoluciondrios franceses fariio 0 mesmo, em 1789 e em 1793. Os direitos declarados pelos revoluciondrios franceses incluem a liberdade de pensamento, de expresso e de culto e as liberdades de comércio e de reuniao. Disciplina - A disciplina é um conceito polissémico. Pode designar um ramo do saber, por exemplo, a disciplina de Matematica e pode designar uma situagio de respeito pelas regras € pelas normas. Na escola tradicional, a disciplina era sinénimo de ouvir atentamente o professor em siléncio e cumprir as regras e as normas escolares impostas pelo professor. As pedagogias personalistas defendem uma nogio diferente de disciplina. O aluno deve respeitar as regras e as normas, mas estas esto sujeitas 33 discussdio e A negociag%o. A participagio na aprovagio das regras é entendida como uma das principais fontes da disciplina. A manutengio da disciplina constitui uma preocupagio de todas as épocas. Plato refere-se a ela na obra As Leis. Santo Agostinho dedica-lhe paginas nas Confissdes. A disciplina € um conceito de origem latina. Tem a mesma raiz que disefpulo. Ao longo dos tempos, a palavra disciplina tem tido significados diferentes. Na Idade Média surgia associada a castigo ou a direcgio moral. Com o Iuminismo, a disciplina surge associada a respeito e tolerancia. Seja como for, a disciplina anda sempre associada & ideia de harmonia e convivéncia, Uma pessoa disciplinada é uma pessoa que cumpre as regras e que obedece & autoridade legitima. Ver Disciplina Assertiva e Disciplina Indutiva. Disciplina assertiva - Refere-se a uma forma de gestiio da sala de aula que acentua a defesa pelo professor de comportamentos adequados, com o recurso atempado ao “feedback” face as infracgdes cometidas pelos alunos, Disciplina indutiva - Refere-se a uma forma de gestéo da sala de aula que acentua a discussao colectiva das consequéncias dos actos que evidenciam infracgdo as regras € normas. Procura-se levar 0 aluno que comete a infracgio a raciocinar sobre as intengdes © as consequéncias dos seus actos, de forma a evidenciar os maleficios que a infraccao pode trazer ao colectivo. Docimologia - Termo que designa o estudo dos exames. O desenvolvimento da docimologia, na primeira metade do século XX, veio mostrar a inconsisténcia das classificagdes dos examinadores. A docimologia ou ciéncia dos exames permite conhecer melhor os processos ¢ procedimentos de classificagio das provas. As criticas que tém vindo a ser feitas aos exames ¢ 0 relevo cada vez maior que se di aos processos de avaliagio continua tém colocado a docimologia numa posigio secundaria ao nivel das cigncias da educagao, Ver Avaliagao Dom - Designa uma aptidio natural e uma habilidade natural para realizar certas tarefas. Em pedagogia, a teoria dos dons esté muito associada aos modelos de ensino personalistas € maturacionistas, os quais do um relevo muito grande & hereditariedade € ao respeito pelas vocagdes ¢ interesses dos alunos. Em sociologia, a teoria dos dons costuma estar associada a defesa de uma escola que reproduz a estrutura de classes, ou seja, a uma escola que nao procura intencionalmente contrariar a influéncia do capital cultural e das herangas familiares no desempenho escolar. Dominio afectivo - Refere-se aos processos que, na tipologia de Bloom, se relacionam directamente com os sentimentos, as emogdes e os afectos € que podem expressar-se através dos niveis recepgio, resposta, valorizagio organizagio e caracterizacio por um sistema de valores. O nivel recepgio manifesta a preocupagio pela sensibilizagio do aluno para a existéncia de certos fendmenos ou estimulos, ou seja, que o aluno esteja disposto a recebé-los e a acolhé-los. O nivel resposta vai além do mero acolhimento dos fenémenos ¢ estimulos. O aluno esta suficientemente motivado para prestar activamente atengo. O nivel valorizago implica a percepgiio de que algo tem valor. Implica a capacidade para atribuir um valor e para assumir uma convicgio e uma atitude. O nivel organizagao implica a capacidade para internalizar valores e para organizar os valores 34 num sistema, O nivel caracterizagao por um sistema de valores implica a assungio de uma hierarquia de valores. Ver Bloom Dominio cognitive - Refere-se aos processos de pensamento e raciocinio que, na tipologia de Bloom, podem ser distribuidos pelos nfveis de conhecimento, compreensio, aplicagio, andlise, sintese e avaliago. O nivel conhecimento envolve a evocacio de dados especificos e ideias gerais. Para efeitos de avaliagdo, envolve a recordagio de factos e nogées. O nivel compreensio refere-se a um tipo de entendimento que permite ao aluno 0 conhecimento do que esté a ser comunicado, mas nio Ihe exige o relacionamento com outro material. A compreensio exige, regra geral, a capacidade para interpretar e extrapolar. O nivel aplicagZo implica a capacidade de utilizar abstracgdes em situagdes concretas e particulares. O nivel andlise implica a capacidade para desmontar uma comunicacao nos seus elementos ou partes constituintes, de modo que a hierarquia de ideias se toma clara. O nivel sintese implica a combinagio de elementos a partes de modo a formar um todo. Pressupde a capacidade para operar com fragmentos, partes e elementos, dispondo-os a combinando-os para que constituam uma estrutura. O nivel avaliagio pressupde a capacidade para apreciar o valor de um material. Obriga a formulaciio de juizos avaliativos. Ver Bloom e Modelo de Ensino para a Mestria. Doutrinamento - Termo que designa uma forma de ensinar valores que se baseia no principio da autoridade e que concede pouco espaco para a discussio e 0 debate das questdes éticas. Alguns modelos curriculares de educagio do cardcter tém sido acusados de usarem estratégias doutrinantes para ensinar valores, dado que impdem o respeito por um cédigo de conduta que nao foi objecto de discussdo com os alunos. ‘Ver Modelo da Educagéo do Caracter. Durkheim (Emile) - Emile Durkheim nasceu em Epinal, capital do Departamento de Vosgues, na Lorraine, em 15 de Abril de 1858. Oriundo de uma famflia de rabinos abastada, vé-se sem o pai ainda muito jovem, A mie, Mélanie, era filha de um rico comerciante. O pai, Moisés, era rabino de Epinal e rabino-chefe dos Vosgues. Desde crianga que Durkheim parecia destinado a ser rabino, tendo frequentado, durante algum tempo, uma escola judaica. Faz os estudos secundérios no colégio de Epinal. Vai para Paris, onde faz os preparatérios para entrar na Escola Normal Superior. Em Paris, afasta-se do judaismo. Ser companheiro de Jean Jaurés, na célebre escola da rua de Ulm. Durante o perfodo em que estuda na Escola Normal Superior, vive numa residencial para estudantes. Na Escola Normal Superior, trava amizade com intelectuais brilhantes, como o socialista Jean Jaurés e os filésofos Henri Bergson, Bustave Belot ¢ Edmond Goblot. Torna-se conhecido como partidario da causa republicana e adere a0 socialismo moderado. Em 1882 obtém a agrega¢iio em Filosofia e é nomeado professor de liceu em Sens ¢ em Saint-Quentin. Embora entusiasmado pela politica, Durkheim manteve-se sempre como um académico pouco interessado no exercicio de cargos politicos. No ano lectivo de 1985-86, estuda ciéncias sociais na Alemanha, onde é discfpulo de Wundt. Em 1987, publica trés artigos na Revue Philosophique: “Os Estudos Recentes de Ciéncia Social”, “Ciéncia Positiva da Moral na Alemanha” e “A Filosofia nas Universidades Alemis”. Em 1988, é nomeado professor de Pedagogia e de Ciéncia Social na Faculdade de Letras da Universidade de Bordéus. Em 1988, publica artigo “Suicidio e Natalidade”. Em 1993, defende a Tese de Doutoramento, intitulada “Da Divisio do Trabalho”. Nos anos seguintes, publica “As Regras do Método 35 Sociol6gico” e “O Suicidio”. Em 1898, funda os “Anais de Sociologia’, a primeira revista de ciéncias sociais de Franga. Nos tiltimos anos da vida, publica “As Formas Elementares da Vida religiosa”. Em 1915, durante a Primeira Guerra mundial, perde o seu tinico filho, André, nos campos de guerra da Bulgaria. A morte do filho trouxe-Ihe uma dor que o ird perseguir até & morte, dois anos depois. Um ano antes de morrer, publica dois livros sobre a guerra: “A Alemanha Acima de Tudo” e “A Mentalidade Alemi e a Guerra...” Durkheim morreu em Paris, no dia 15 de Novembro de 1917. Conheceu a fama e o reconhecimento, Pouco antes da sua morte ja era considerado “o pai da sociologia’ Durkheim publicou uma obra imensa e diversificada. Podemos agrupar os seus interesses em quatro temas: elaboragio de uma metodologia cientifica para a sociologia, a educaciio moral, o estudo comparativo das religides e a sociologia politica. Sobre o primeiro tema, podemos destacar as seguintes obras: Da Divisio Social do Trabalho (1893); As Regras do Método Sociolégico (1895); O Suicidio-Um Estudo Sociol6gico (1897); Sociologia e Ciéncias Sociais (1909); A Sociologia (1915). Sobre © segundo tema: A Educagio Moral (1923); A Evolucio Pedagégica em Franca (1950). Sobre o terceiro tema: As Formas Elementares da Vida Religiosa. Sobre o quarto tema: Sociologia e Filosofia (1925); © Socialismo (1928); Montesquieu € Rousseau, Precursores da Sociologia (1953). Educagio - Termo que designa 0 processo de desenvolvimento e realiza potencial intelectual, fisico, espiritual, estético ¢ afectivo existente em cada crianga. ‘Também designa o processo de transmissio da heranga cultural as novas geragées. Na lei de bases do sistema educativo portugués, estio previstos va de educagio: educagio pré-escolar (dos 3 aos 6 anos), educagio escolar (dos 6 até a0 final do ensino superior) e a educago extra-escolar (0 ensino realizado fora do contexto da educagio formal, como por exemplo a educagio de adultos) Na educagio escolar, esto previstos varios niveis: educagio basica (correspondente aos primeiros 9 anos de escolaridade), educagio secundaria (correspondente aos 10°, 11° e 12° anos de escolaridade) e ensino superior politécnico ou universitario, conducente aos graus de bacharel e licenciado, no primeiro caso, ¢ bacharel, licenciado, mestre e doutor, no segundo caso, Educacio axiolégica — E a interveng%o pedagégica que visa a interiorizagio progressiva dos valores, pelo educando. A educagdo axiolégica visa no s6 a tomada de consciéncia e a interiorizago dos valores morais, mas também de outros tipos de valores positives, como os valores estéticos, légicos, hedonisticos, vitais e instrumentais. Ver Virtude e Axiologia Educagio compensatéria — Muito popular nos anos 60 ¢ 70, defende a discriminagio positiva a favor dos alunos em desvantagem cultural e social, concedendo-thes mais tempo e mais recursos para aprender. O Relat6rio Plowden, publicado na Gra-Bretanha, em 1967, marcou uma etapa decisiva no conceito de educag%io compensatéria. O Programa Head-Start, nos EUA, criados na década de 70, visou preparar as criangas mais pobres para uma escolaridade mais conseguida. Os programas de educagio compensat6ria baseiam-se na ideia de que as criangas de meios populares revelam uma situagio deficitéria em termos linguisticos e culturais, sendo necessério que a escola 36 ajude os alunos a superarem essas lacunas, por intermédio de estratégias de remediagio e de enriquecimento. Embora muito criticada, nos anos 80, pela pedagogia critica e pelos pedagogos neo-marxistas, a educagio compensatéria revelou alguma eficdcia na luta pela igualdade de oportunidades. No fundo, os objectivos da educagio compensatéria so: definir e compreender os “handicaps” dos alunos; definir ¢ compreender as potencialidades dos alunos; determinar o tipo de apoios educativos que © aluno precisa; estabelecer programas educativos complementares de superagio dos “handicaps” e das dificuldades. Ver Bloom e Modelo de Ensino para a Mestria Educacio da vontade — Segundo Kant, a vontade é pensada como a faculdade de a pessoa se determinar a si propria e agir de acordo com a representagio da lei moral. Para os autores racionalistas, a vontade € a faculdade de agir perseguindo um fim consciente e reflexivo. A vontade nfo é 0 mesmo que a obstinacio, porque aquela persegue apenas fins racionais, enquanto esta se deixa dominar pela paixdo. A vontade inclui quatro modalidades: 0 esforgo fisico; a coragem e a audacia; a energia, a consténcia e a atengSo e, por fim, a perseveranga. Os momentos do acto voluntério incluem a concepgao do acto, a deliberagdo, a decisio e a execugio. Uma vontade bem cultivada ajuda a pessoa a resistir as pulsGes instintivas indesejaveis. A educagio da vontade consiste no processo de formagio da vontade, a qual depende 1) do exercicio, ou prética continuada capaz de incorporar a vontade num hibito, 2) dos motivos intelectuais ou boas razdes e 3) da afectividade e dos bons sentimentos. Os factores que podem inibir a vontade sio: 0 desinteresse pelas coisas e pelas pessoas, o habito de agir sem reflexiio e a falta de maturidade pessoal. Ver Kant Educagio de adultos — © desenvolvimento da ideia da educacio de adultos, como componente da educag%o permanente, foi uma iniciativa da UNESCO, ao longo de varias conferéncias internacionais: Helsingor, em 1949, Montreal, em 1960 e Tokio, em 1972. Em 1971, o Conselho da Europa, sob proposta de B. Schwartz, passa a considerar a educagiio permanente como um instrumento de desenvolvimento estratégico das sociedades. O aparecimento de Universidades para a Terceira Idade, um pouco por todos os paises, ajudou a desenvolver o conceito de educago de adultos. Em simultineo, apareceram metodologias de ensino apropriadas para o ptiblico com mais, idade, tais como, as metodologias de animagio sécio-cultural e as metodologias de desenvolvimento comunitirio. Educaciio do caracter - Costuma agrupar-se, neste conceito, um conjunto de modelos curriculares mais interessados na promogio da conduta moral do que do raciocinio moral. Os autores identificados com a educagio do cardcter inspiram-se na teoria da educagio moral de Arist6teles e centram a sua actuagio no desenvolvimento de uma moralidade convencional que seja respeitadora das regras de conduta, normas sociais e leis. Os modelos curriculares de educago do cardcter privilegiam a identificagio dos alunos com modelos moralmente adequados, proporcionam 0 contacto com figuras hist6ricas e exemplos morais, recorrem 8 literatura como forma de levar os alunos a apreciarem os valores basicos e propdem o envolvimento dos alunos em actividades de voluntariado social que os ajudem a incorporar nos seu habitos valores do tipo respeito, responsabilidade, honestidade, compaixio, altruismo e coragem. Os modelos curriculares de educagio do caricter privilegiam 0 desenvolvimento de habitos de conduta conformes aos principios éticos e aos valores basicos. 37 Ver Aristételes. Educagio estética - Expresstio que designa os processos educativos intencionalmente preocupados com o desenvolvimento do conhecimento e da sensibilidade artistica, através do contacto com diferentes meios de expressio artistica. O contacto com os diferentes meios de expresso artistica e a utilizagio de diferentes técnicas, permitem ao aluno desenvolver 0 apreco pela beleza em diferentes contextos e situagdes. Embora 0 curriculo do ensino basico e do ensino secundério disponha de areas curriculares especificas para a educagio artistica, como a Educagao Visual e a Educagio Musical, todas as disciplinas devem proporcionar momentos para o desenvolvimento da sensibilidade das criangas e dos jovens. Educagio itinerante - E uma modalidade considerada na Lei Quadro da Educagiio Pré- escolar que consiste na prestagio de servigos de educagio, mediante a deslocagio regular de um educador de infancia a zonas com um reduzido niimero de criangas. A educagio itinerante funciona em espagos comunitérios cedidos para o efeito e também pode funcionar em edificios escolares. Educagiio moral — E a ajuda prestada ao educando para que atinja a maturidade moral. De uma forma mais especifica, podemos dizer que a educagio moral é 0 processo de intervengio pedagégica destinado a permitir que 0 educando conhega os seus deveres morais, os cumpra livremente e queira ingressar na via do seu aperfeigoamento moral. Para os autores cognitivistas, a educagio moral é vista como a ajuda ao desenvolvimento humano, de forma a proporcionar aos individuos a experiéncia da tomada de decisdes que exija 0 raciocinio moral. Ver Kohlberg, Modelo daEeducacao Moral em Aristoteles e Modelo da Comunidade Justa. Educagio moral em Aristételes - Para Aristételes, 0 ensino da coragem, bem como de outras virtudes morais, exige a pritica continuada de actos de coragem, de tal forma que essa virtude seja incorporada nos nossos habitos. Tanto na Etica a Eudemo como na Etica a Nicémaco, Aristételes identifica a busca da felicidade como o fim tiltimo da vida. Ora como o fim de todos os nossos actos deve ser a procura do bem, a felicidade identifica-se com o proprio bem. A filosofia de Aristételes é, por isso, eudemonista. A propria sociedade civil tem como fim viver bem e todas as suas instituigées nio sio senio meios para isso e a propria Cidade é apenas uma comunidade de familias e de aldeias em que a vida encontra todos estes meios de perfeigao e de suficiéncia. E isto a que podemos chamar uma vida feliz. e honesta. A sociedade civil é, pois, menos uma sociedade de vida comum do que uma sociedade de honra e virtude. A felicidade surge, assim, como um dever e um direito ¢ o homem é feliz quando ele realiza _aquilo para 0 qual é feito e realizar aquilo para 0 qual ¢ feito € 0 dever do homem, pois é isso que a razio Ihe prescreve. A felicidade anda, em Aristételes, tal como em Plato, associada a0 Bem a a Virtude, & Alma portanto e nao a0 corpo ou aos bens exteriores, porque todos vemos que nao € pelos bens exteriores que se adquirem e conservam as virtudes, mas nao a regionalizagdo! que é pelos talentos e virtudes que se adquirem e conservam os bens exteriores e que, quer se faga consistir a felicidade no prazer ou na virtude, ou em ambos, os que tém inteligéncia e costumes excelentes a alcangam mais facilmente com uma fortuna mediocre do que os que tém mais do que o necessdrio e carecem dos outros bens. Os bens exteriores nio passam de instrumentos titeis que, em excesso, podem ser um estorvo ou, pelo menos, uma inutilidade a quem os usufrui. Ao invés, os bens da 38 Alma sao sempre titeis e quanto mais excessivos forem maior sera a sua utilidade. Nessa medida, a felicidade de cada um é proporcional a virtude e & prudéncia que tiver, e na medida em que age em conformidade com elas. Na Politica, Aristotles di-nos a seguinte definigao de vida feliz: consiste no livre exercicio da virtude, e a virtude na mediania; segue-se necessariamente dai que a melhor vida deve ser a vida média, encerrada nos limites de uma abastanga que todos possam conseguir. E este principio & valido tanto para as pessoas como para o Estado. Um Estado ¢ tanto mais feliz quanto mais justo, prudente e bom for. Dai que o melhor Governo seja aquele no qual cada um encontra a melhor maneira de ser feliz. Um governo justo € o que procura o justo meio ¢ © que chama a si as virtudes da moderagio e da prudéncia, evitando a desigualdade extrema e a desproporgio, que sfio causas da discérdia e da inveja entre os homens. Um governo justo é 0 que se esforga por respeitar o equilibrio entre as classes e © que procura © interesse comum. A realeza preocupada apenas consigo propria conduz & tirania, a aristocracia tende a corromper-se no governo dos ricos e a reptiblica quando nao incorpora a regra do justo meio tende a caminhar para a anarquia. Enfim, um governo justo € um governo equitativo para o qual é sempre desejavel a existéncia de uma classe média susceptivel de encarnar o ideal do justo meio, Educacio moral em Plato - A injusta morte de Sécrates foi um acontecimento determinante no percurso filoséfico de Plato. Daf para a frente, Platio quis construir uma teoria da ética e da politica que tornasse impossivel a reedico de epis6dios como a condenagio & morte do seu Mestre, condenagio que simbolizou tudo 0 que é mais contrario & virtude, ao bem e a sabedoria. A morte de Sécrates foi a vit6ria da mentira sobre a verdade, da injustica sobre a justica, das sensagdes sobre o inteligivel, do verosimil sobre o verdadeiro e da cobardia sobre a coragem. Sécrates tinha pouco mais, de 70 anos quando foi acusado por trés cidadios influentes de Atenas, Meletos, um poeta trigico, Licon, um orador e Anitos, um surrador, que the fizeram a seguinte acusagio piiblica: “Sécrates € culpado porque nao acredita nos deuses da cidade, porque quer introduzir divindades novas e porque corrompe a juventude. Castigo: a morte”. A acusagio nfo passou de uma vinganca pelo facto de Sécrates tecer duras criticas aos poetas, que no sabem o que dizem, aos oradores, que falam de coisas que nio conhecem e aos sofistas que vendem pelo melhor prego a arte de persuadir e de enganar. Séerates tinha dado intimeras provas de coragem e de respeito pelas leis, costumes & divindades da cidade. Era profundamente religioso e cumpridor das leis e por varias vezes se distinguira pela bravura em todas as batalhas em que havia entrado ao lado dos exércitos atenienses. Embora o seu discurso fosse reconhecidamente corrosivo soubesse utilizar a ironia como poucos para por a nua fragilidade do discurso sofista ou a corrupcio politica reinante nas Assembleias do Povo e nas restantes magistraturas de Atenas, Sécrates nunca revelou ambig6es politicas e jamais correu atrés de honrarias, ou de bens materiais. Em quase todas as obras de Plato, e em especial o Ménon, o Fédon, A Republica e As Leis, encontramos uma grande preocupagio pela determinagio e caracterizaciio da natureza do Bem, da Justiga e da Virtude. Para Plato, a virtude & sabedoria e, nessa medida, est longe de ser uma inclinago natural do individuo ou um habito adquirido por uma repeticio destitufda de inteligéncia ou de reflexio. Ao identificar a virtude com a sabedoria, Platéo mostra-nos que nfo hi varias mas apenas uma virtude, embora esta seja passivel de virias aplicagdes ou derivados. Plato reconhece quatro derivados da virtude: a justiga, a coragem, a temperanca e a piedade. A justiga era entendida no 6 como a conformidade das nossas acgdes com as leis, mas sobretudo como a capacidade de tomarmos decisdes no respeito pela razio e pelo 39 inteligivel. Ser justo implica sermos capazes de nos afastarmos das aparéncias, do verosimil, do sensfvel, dos instintos e das paixdes, porque a justiga é sabedoria e chega- se a esta através da reflexo. A coragem para os sofistas nao tinha qualquer relagdo com a ciéncia, o saber e a verdade. Era entendida mais como uma qualidade do corpo do que da alma, Para Plato, a coragem é um derivado da virtude e, se a virtude € sabedoria, entao a coragem é uma forma de reflexdo. Educacio para a cidadania - Expresso que designa os processos educativos preocupados com o desenvolvimento do espirito critico, aprego pelos valores democriticos e desenvolvimento de competéncias ¢ atitudes de participagio na comunidade. A Lei de Bases do Sistema Educativo recomenda uma educagio para a cidadania através da abordagem de temas transversais, tais como: educagio do consumidor, educagio para a prevengao de acidentes, educagio sexual, educagio para a satide e conhecimento das instituigdes politicas de Portugal e da Europa. Ver Virtude Educaciio permanente - Conceito que designa uma educagio ao longo da vida e que pode assumir duas vertentes: a primeira vertente corresponde a oferta de uma segunda oportunidade de escolarizagao para aqueles que a ela nio tiveram acesso na infiincia ou que, tendo frequentado a escola, a abandonaram muito cedo e uma segunda vertente que visa dar resposta as necessidades do mundo do trabalho, impostas pela competicZo, pelo desenvolvimento tecnolégico e pela globalizagio das economias. A problematica da educagio e da formago ao longo da vida entrou em forga no discurso educativo, na década de 90, a partir dos documentos aprovados pela UNESCO, pela OCDE e pela Comissio Europeia sobre 0 assunto. Esta preocupagiio foi evidente no facto de a Comunidade Europeia ter escolhido 0 ano de 1996 como o Ano Europeu da Educagio e da Formag%o ao Longo da Vida, tendo publicado, a esse propésito, 0 Livro Branco sobre a Educag&o e a Formagio. Nos tiltimos anos, as recomendagées da Comissio Europeia tém acentuado, ainda mais, a vertente da formagio ao longo da vida, com a publicaco de relatérios e documentos centrados nas politicas educativas a tomar em direcgo a uma sociedade cognitiva, assente no valor do conhecimento e da informagio. Portugal, apesar dos esforgos das tiltimas décadas, continua a ter uma taxa de analfabetismo elevada para os padrdes europeus e a percentagem de alunos que terminam o ensino secundario ainda é baixa em relagio 4 média europeia. Contudo, tem-se registado, desde meados da década de 80, um aumento significativo na percentagem de alunos que ingressam no ensino superior, tendo a taxa de frequéncia, na faixa etdria dos 18 aos 24 anos, triplicado, nos tiltimos 15 anos, gragas a um grande aumento da oferta de instituigdes de ensino superior, piiblicas e privadas. Por outro lado, tem-se registado, desde o final da década de 80, um aumento crescente do mimero de alunos em pés-graduagdes. Apesar de Portugal ainda no estar posicionado entre os primeiros da Unido Europeia, no que diz respeito a qualificagdo académica dos recursos humanos, 0 enorme esforgo de aumento da oferta educacional, registado na tltima década, ira dar os seus frutos num futuro breve. Educagio pluridimensional - Conceito desenvolvido pela Comissio de Reforma do Sistema Educative e amplamente explicitada na obra pedagégica de Manuel Ferreira Patricio que acentua o carfcter abrangente, integrado e personalista da educacio. A educagio assume-se na sua pluridimensionalidade quando assegura 0 equilibrio entre todos os dominios do desenvolvimento e da aprendizagem, isto é os dominios cognitivo, afectivo, emocional, fisico, espiritual e estético. Daqui decorre a necessidade 40 de organizar a escola numa perspectiva pluridimensional, onde haja espago para todas aquelas dimens6es e onde, para além do curriculo restrito, haja lugar para a dimensio do complemento curricular, ocupago dos tempos livres e dimensio de interacgio. Esta perspectiva de educagdo tem vindo a ser desenvolvida, em Portugal, pela Associagio da Educagio Pluridimensional e da Escola Cultural, através da realizagio de congressos, coléquios e seminarios. A educagio pluridimensional fundamenta o ideario pedagégico do modelo da escola cultural, fundado, nos anos 80, por Manuel Patricio. Ver Modelo da Escola Cultural. Efeito de Hawthorne — A experiéncia de Hawthorne realizou-se sob os auspicios da Western Electric Company, entre 1924 e 1927 e visou analisar o factor humano no desenvolvimento das organizagdes. Entre os efeitos da experiéncia, destaque-se: 1) a observacio do factor humano como factor de estimulagio, de participagio e de satisfagio do trabalho; 2) a interdependéncia dos subsistemas técnico e humano, como base de eficiéncia das organizagdes; 3) os grupos como factores de socializagio e de cooperagio humana essenciais nas organizagdes: 4) as organizagdes so fundamentalmente sistemas sociais. O facto de individuos que foram envolvidos em varias experiéncias saberem que iam ser alvo dessas experiéncias estimulou um conjunto de respostas que se traduziram na sua maior participagio e iniciativa no seio dos grupos e da organizagio. O efeito de Hawthorne diz-nos, portanto, que a participago dos sujeitos em processos de inovag’o, com o conhecimento destes, pode provocar, neles, respostas positivas. Os membros de uma organizagio sio mais eficientes e obtém maior satisfagio quando sentem, que se thes dé importincia e reconhecimento. Quando os membros de uma organizagio sabem que esto a participar num processo de inovagiio e de mudanga sentem uma vontade acrescida de contribuir para 0 sucesso das inovagdes. Egocentrismo - Termo que designa um conjunto de caracteristicas especificas do processo cognitivo da crianga no estédio pré-operatério e que evidenciam uma dificuldade de descentrago e de atendimento dos pontos de vista perspectivas das outras pessoas. A crianga tende a colocar-se no centro do mundo e a ter dificuldade em distinguir os seus interesses dos interesses dos outros. Podem designar- se por egocéntricas manifestagées relativas & maneira como a crianga percepciona o espago, com dificuldade em distinguir a esquerda da direita e & maneira como a crianga percepciona 0 tempo, com dificuldade em situar 0 antes e o depois. Jean Piaget foi um dos primeiros psicdlogos a estudar a natureza e a especificidade do egocentrismo infantil. Emergéncia da escrita - Expresso que designa o periodo em que a crianga comega a estabelecer os primeiros contactos com o mundo da escrita e da palavra, através do “ouvir hist6rias”, “manipular livros” e garatujar. Hoje em dia, quase todas as criangas entram para a escolar com alguma familiaridade com a escrita, pelo que se torna necessario que os professores fagam apelo aquilo que a crianga jé sabe, permitindo-Ihe contactar com as diferentes fungées do cédigo escrito. Emogio - Fenémeno relativo ao dominio afectivo e que evidencia manifestagio de uma perturbacio motivada por um estado de espirito. O aluno emotivo é o que reage com facilidade sem fazer uso da razo, libertando uma energia contida que dificulta o entendimento das coisas e causa instabilidade de comportamento. A emogio esté ligada 41 a afectividade. A educagao pode desenvolver a afectividade, incorporando as emogdes no processo de aprendizagem. Essa incorporagio é vital no ensino artistico. Empatia — Designa um estado afectivo que resulta da capacidade de reconhecer, compreender e aceitar os estados emocionais de outrem. Ver Rogers; Modelo Nao-Directivo Ensino - Processo pelo qual o professor transmite ao aluno o legado cultural em qualquer ramo do saber. © ensino anda associado a transmissio do saber jé constituido. As pedagogias construtivistas consideram que o acto de ensinar deve subordinar-se & aprendizagem e esta ao desenvolvimento, O professor passa a desempenhar novos papéis: facilitador da aprendizagem, dinamizador de situagdes problemiticas ¢ orientador de projectos. Ver Planificagdo e Curriculo. Ensino colectivo - Designa o ensino dirigido a toda a turma. Na escola tradicional, o professor ensina a todos ao mesmo tempo os mesmos assuntos da mesma forma. Este modo de ensinar pode ser titil na transmissdo de informagdes e conceitos bisicos. Apela a memorizacio e exige da parte do aluno uma grande capacidade de atengao. Nas aulas te6ricas do Ensino Superior continua a fazer-se muito uso do ensino colectivo. Apes de ser um modo de ensinar que nao desenvolve competéncias de aprendizagem, continua a ser muito til quando 0 professor pretende proporcionar informagio répida sobre um assunto. Ver Modelo Directivo e Modelo Expositivo. Ensino em grupo - Designa um ensino adaptado as necessidades e interesses dos grupos criados na turma para a realizagio de tarefas determinadas. E muito usado no modelo de ensino para a mestria e nos modelos construtivistas. O trabalho em grupo visa 0 desenvolvimento de atitudes de cooperagiio ¢ interajuda, mas também desenvolve nos alunos a capacidade para repartir tarefas, negociar e estabelecer consensos. Geralmente, cada grupo possui um porta-voz que apresenta as conclusdes & turma. Ensino individualizado - Trata-se de uma metodologia de ensino que se opée a nogio de ensino colectivo. Ao contririo deste, o ensino individualizado presta atengZo a cada crianga em fungdo das suas necessidades, ritmos e aptiddes. Ha numerosos métodos que recorrem ao ensino individualizado: dos ficheiros escolares de tipo Freinet as vulgares fichas formativas, hé um conjunto diversificado de materiais de aprendizagem de uso fécil_em contexto escolar. O ensino individualizado esti muito préximo das metodologias activas e da nogio de aprendizagem pela descoberta orientada, Procura-se desenvolver no aluno capacidades meta-cognitivas e competéncias de selecgio e andlise da informagio. O trabalho individualizado supe que cada aluno avance ao seu ritmo, mas néo passe a etapa seguinte sendio depois da verificaciio das aquisigées anteriores. ‘Ver Modelo de Ensino para a Mestria. Ensino tradicional - Expresso que designa um ensino centrado no professor e nos programas de ensino, pouco preocupado com as necessidades individuais da crianga e fazendo uso de ligdes expositivas e de uma avaliagio selectiva. O ensino tradicional surge associado a um professor que ensina de forma directiva e a alunos que ouvem 0 professor em siléncio, tiram apontamentos e esperam que o professor Ihes faga perguntas. O ensino tradicional privilegia a transmissio de conhecimentos e a 42 aprendizagem por recep¢io. A memorizagio, a repetigao e a realizaciio de exercicios no lugar so trés caracteristicas essenciais do ensino tradicional. Por vezes, 0 ensino tradicional surge associado a um ensino de mé qualidade. Essa associag3o nem sempre se pode fazer. Embora o ensino tradicional tenda a desvalorizar 0 desenvolvimento emocional da crianga e manifeste pouca preocupagao pelas competéncias de pesquisa e de resolugio de problemas, pode ser titil na transmissio de informagdes e de conhecimentos bisicos. Ver Modelo Expositivo. Ensino tutorial - Termo que designa um modo de ensinar face a face na base de uma relagio individualizada entre 0 professor ¢ um aluno ou um pequeno grupo de alunos. O ensino tutorial tem quase sempre uma finalidade remediativa, pois visa a superagdo das dificuldades de aprendizagem. O modelo de ensino par a mestria e © modelo Paideia de Mortimer Adler recomendam a utilizago do ensino tutorial nesses termos. Serve também para realizar tarefas de treino e pritica supervisionada. Ver Modelo Paideia. Envolvimento dos pais - Refere-se a todas as formas de relacionamento entre a escola € os pais que nio exigem a participagio na tomada de decisdes. De acordo com a tipologia de Joyce Epstein, 0 envolvimento dos pais inclui a troca de informagdes e o apoio dos pais & realizacio das actividades escolares. Ver Tipologia de Joyce Epstein e Don Davies. Envolvimento dos pais no jardim de infancia e no 1° ciclo - Os estudos efectuados em Portugal e nos Estados Unidos da América sobre 0 envolvimento dos pais nos jardins de infancia e nas escolas bisicas chegaram aos seguintes resultados: 1) ha ‘obstaculos & colaborag&o escola-familia que ultrapassam as fronteiras e que esto para além da geografia e das culturas; 2) a escassa preparaco dos professores para lidarem com projectos deste tipo é um padrio comum aos dois paises; 3) a auséncia de mecanismos escolares, de caricter informal, facilitadores da comunicagio continuada e a auséncia de estratégias escolares intencionalmente orientadas para o envolvimento das familias constitui outro trago comum; 4) a incapacidade dos professores para lidarem com as diferengas culturais, sociais e étnicas constitui outra semelhanga evidente; 5) 0 uso de formas de comunicagio negativas, que deitam as culpas aos pais pelo fracasso dos filhos constitui um outro padro comum. ‘A segunda surpresa foi a existéncia de diferengas marcantes entre o que se passa nos jardins de infancia e 0 que sucede nas escolas do ensino basico. Com efeito, a frequéncia e a diversidade das formas de colaboragio escola-pais, num e noutro nivel de ensino, mostraram constituir uma caracteristica comum aos trés paises, com destaque particular para Portugal. Nos jardins de infancia a colaboragdo entre as educadoras e os pais é mais frequente, assume caracteristicas mais positivas, mais informais e mais continuadas e percorre os seis tipos de colaboragao identificados na tipologia de Joyce Epstein. Nas escolas do ensino biisico, a colaboracao é menos frequente, menos variada e assume, demasiadas vezes, um cardcter negativo e culpabilizante do trabalho desenvolvido pelos pais, havendo uma tendéncia maior para desvalorizar as culturas familiares e, em particular, as culturas das minorias étnicas. Tendo em consideragio a tipologia de Joyce Epstein, as escolas do ensino basico limitam-se, regra geral, a0 desenvolvimento de praticas de tipo 2 (comunicagio escola-familia), sendo raras as praticas de tipo 3 (ajuda da familia & escola), de tipo 4 (envolvimento da familia no processo educativo em casa) e de tipo 5 (participagio da familia na tomada de 43 decisdes). Se isolarmos as priticas de tipo 2 (comunicagdo escola-familia) conseguimos detectar diferengas marcantes entre os jardins de infiincia e as escolas do ensino basico: a) nas primeiras, a comunicagio com as mies faz-se quase todos os dias e assume um caracter informal, atendendo a que € muito frequente a educadora conversar com 0 adulto que traz ou vem buscar a crianga ao estabelecimento educativo; b) as educadoras solicitam com muita frequéncia a participagio das familias em actividades de apoio ao programa educativo, nomeadamente na realizagdo de festas, comemoragées e visitas; c) as educadoras utilizam uma linguagem mais directa e menos técnica - e portanto mais facilmente compreensivel pelas familias de todos os grupos sociais - quando realizam reunides com os encarregados de educagio; d) o tema das reunides com os encarregados de educago centra-se, quase sempre, na concretizagio de projectos que visam melhorar © programa educativo e 0 bem estar das criangas; e) as educadoras esto. mais habituadas a integrar as culturas familiares ¢ comunitérias no programa educativo do jardim de infancia e suscitam, com frequéncia, a colaboragao das familias, com essa finalidade. Se isolarmos as caracteristicas notadas nas escolas do ensino basico, é possivel concluir 0 seguinte: 1) os professores do 1° ciclo sentem um pressiio maior em cumprirem os programas, sendo forgados a sobrevalorizarem a componente lectiva do curriculo, os contetidos e a area cognitiva, dispensando, por isso mesmo, a colaboragio das familias no proceso de construgo do curriculo; 2) 0 peso da avaliagio e da classificagio obriga os professores do 1° ciclo a desvalorizarem as actividades de complemento curricular e a ocupagao educativa dos tempos livres, os quais constituem as componentes do programa educativo escolar onde a participagaio das familias poderia ser mais ttil; 3) os professores do 1° ciclo fazem uso de uma linguagem mais técnica - de dificil entendimento para as familias desfavorecidas - quando realizam as reunides com os encarregados de educagio; 4) 0 tema mais frequente das reunides com os encarregados de educagio € a procura da melhoria da componente lectiva (isto é marcadamente conteudal e cognitiva!) ¢ no a participagio das familias na concretizago de projectos que enriquegam o curriculo em sentido amplo; 5) os professores do 1° ciclo caem mais facilmente na tentagGo de culpar a vitima, sempre que a crianga nao tem aproveitamento na escola; 6) a tentagao de culpar a vitima é evidente sobretudo quando a escola serve criangas oriundas de minorias étnicas ou pertencentes a familias culturalmente desfavorecidas; 7) alguns professores do 1° ciclo receiam que a participagdo das familias no processo de tomada de decisdes escolares constitua uma interferéncia abusiva de nao profissionais nos assuntos pedagégicos e técnicos, os quais no entender de muitos devem estar reservados aos profissionais. Ver Tipologia de Joyce Epstein e Don Davies. Escalas — Existem varios tipos de escalas, muito usadas no tratamento estatistico dos dados recolhidos durante uma investigagio. As escalas nominais sio meramente classificativas, permitindo descrever ou designar os sujeitos mas sem recurso & quantificagio. As escalas ordinais distribuem os sujeitos segundo uma certa ordem, que pode ser crescente ou decrescente e, nesse sentido, permitem fazer diferenciacées. Isto 6, a par da classificago dos sujeitos, podemos compard-los tomando a respectiva ordem, Nas escalas intervalares, a diferenciagao dos sujeitos ou das observagdes assume um valor quantitativo constante, ou reunindo o mesmo significado, ao longo de toda a escala. As caracteristicas das escalas nominais so a classificagdo e a contagem, as das escalas ordinais so os valores ordenados ¢ as diferengas tomando os pontos ¢ as das escalas intervalares so os intervalos iguais. Os procedimentos estatisticos utilizados com as escalas nominais sio as frequéncias, as percentagens acumuladas e 0 qui- 44 quadrado. Os procedimentos para as escalas ordinais sio 0 rho de Spearman, 0 t- Wilcoxon, etc. Os procedimentos para as escalas intervalares so a média, desvio- padrio, frequéncias, andlise de variancia e r de Pearson. Escalas de valores - Também chamadas tébuas de valores, constituem um referencial ordenado e hierdrquico do posicionamento dos valores. Plato foi um dos primeiros fildsofos a estabelecer uma escala de valores. Em primeiro lugar esta o Bem, de seguida a Beleza, depois a Verdade e a Sabedoria e, por tiltimo, os prazeres sensiveis. A escala estabelecida por Aristételes € ligeiramente diferente: primeiro o que € digno de felicidade, depois o que € admiravel, de seguida, o que € digno de amor, imediatamente a seguir, 0 que é digno de honra e, por tltimo, 0 que é belo e o que nao é mau. Para Locke, em primeiro lugar, vem a esperanga na vida eterna, depois, o fazer o bem, de seguida, o conhecimento, ainda depois, a reputacio e, por tiltimo, a satide. Max Scheller prope a seguinte escala: em primeiro, os valores espirituais, que compreendem os valores estéticos, morais, légicos e religiosos. Por tltimo, os valores sensiveis, que compreendem os valores vitais e os hedonisticos. O filésofo francés Lavelle propée a seguinte escala: em primeiro lugar, os valores para transcender 0 mundo, que sio os valores religiosos e os valores morais. De seguida, os valores para contemplar 0 mundo, que sdo os valores intelectuais e os estéticos. Por tiltimo, os valores que pertencem ao mundo, que sio os valores econémicos e os afectivos. O filésofo espanhol Mendez procede & seguinte hierarquia: em primeiro lugar os valores ascéticos, de seguida, os valores estéticos, depois, os valores éticos e, por tiltimo, os valores econémicos. Mendez considera que hé ts grandes valores éticos: 0 autodominio, a justiga e 0 respeito. © autodominio compreende a sobriedade e a temperanga. A justiga compreende a equidade e a soplidariedade. O respeito compreende a paz e 0 respeito & natureza e ao ambiente. Por tltimo, vejamos a hierarquia proposta pelo fildsofo e pedagogo espanhol Quintana Cabanas: primeiro, os valores espirituais, depois, os valores racionais, de seguida, os valores socio-culturais e, por tiltimo, os valores afectivo-psicolégicos e os valores vitais. Escola aberta - Constituiu um movimento pedagégico muito popular nos EUA, durante as décadas de 60 e 70 e que consistia na criagdo de edificios escolares sem barreiras arquitecténicas. Uma caracterfstica comum as escolas abertas era a auséncia de paredes a separar as salas de aula. Num espago amplo, havia lugar para que duas ou trés turmas trabalhassem em simultineo com a assisténcia de dois ou trés professores. A area aberta estava dotada de espagos polivalentes: ateliers, oficinas, bancadas, armédrios, mesas de trabalho e laboratérios. Os professores, em grupo de dois ou trés, asseguravam em conjunto o ensino de varias turmas, dividindo entre si as diferentes tarefas. Ver Modelo Libertario de Neill e Modelo Libertario Inspirado em Rousseau. Escola inclusiva - Conceito que designa um programa educativo escolar em que o planeamento € realizado tendo em consideragio © sucesso de todas as criangas, independentemente dos seus estilos cognitivos, dificuldades de aprendizagem, etnia ou classe social, Numa escola inclusiva, opta-se pela pedagogia diferenciada e pela discriminagio positiva em favor das criangas diferentes. As criangas diagnosticadas com necessidades educativas especiais so incluidas no grupo e beneficiam das oportunidades educativas que so proporcionadas a todos. A escola inclusiva faz. uso da metodologia cooperativa, aceita as diferencas e responde as necessidades individuais. A opsio pela escola inclusiva resulta da Declaragio de Salamanca, aprovada durante a Conferéncia Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, em 1994. 45 Escola paralela - Designa 0 conjunto dos meios de comunicagio e de transmissio do conhecimento que as novas tecnologias da comunicagio e da informagiio colocam ao dispor das pessoas. A escola paralela é simultaneamente uma escola de massas ¢ uma escola personalizada e recorre a uma diversidades de meios ¢ de linguagens. Com a generalizago da “Internet”, do correio electrnico e da “World Wide Web”, torna-se possivel adaptar © fluxo de informagio as necessidades de cada individuo e, simultaneamente, levar a informagio e 0 conhecimento a todos os lares com uma rapidez e uma economia impares. Escolas dificeis de aleancar - Expresso concebida por Don Davies, em 1988, apés um estudo realizado com escolas de Boston, Liverpool e Portugal sobre o envolvimento dos pais de baixos rendimentos. Dizer-se que os pais so dificeis de alcangar € culpar as vitimas. Em vez disso, Don Davies prope a expresso “escolas diffceis de alcangar”, visto que 0s obstéculos ao relacionamento escola/pais radicam na_estrutura, organizagio e sistema de funcionamento das escolas, que as tornam lugares de dificil acesso para muitas familias. Em Portugal, podemos afirmar que a expressio se aplica, com acuidade, & maioria das escolas piiblicas que encaram os pais com indiferenga, receio ou suspeicao. Ver Tipologia de Joyce Epstein, Don Davies e Envolvimento dos Pais. Escolas privadas — Conceito que designa o conjunto de estabelecimento de ensino que no so tutelados e dirigidos pelo Estado. As escolas privadas podem ser de natureza particular ou cooperativa. O que as caracteriza é 0 facto de terem um ou varios proprietérios, podendo, nuns casos, ter fins lucrativos e, noutros casos, nao. A existéncia de escolas privadas decorre do facto de a Constituigo defender o principio da liberdade de ensinar e de aprender, Com a crescente heterogeneidade cultural e social das sociedades contempordneas, justifica-se, cada vez mais, a existéncia de um forte sector privado na Educagio, uma vez que 0 facto de serem escolas de livre escolha as torna, por esse facto, mais respondentes as necessidades, aos valores e as culturas dos piiblicos que as procuram, Em todos os paises democraticos existe uma rede de escolas privadas, cuja extensio depende de varios factores: politica educacional do Estado, volume e qualidade das escolas estatais, interesse dos grupos confessionais e ideolégicos pela Educaciio e bem estar econémico das populacées. As escolas privadas foram sempre produto das respostas espontineas da sociedade civil para satisfazer as necessidades culturais e sociais das populagdes. Nesta perspectiva, seria preferivel chamar-lhes “escolas de inciativa social”, por oposigio as escolas pablicas, chamadas, por alguns autores, de escolas de inciativa estatal Ver Livre Escolha das Escolas Estadio moral - Conceito desenvolvido por Kohlberg para designar um certo tipo de raciocinio moral. Kohlberg defende a existéncia de seis estidios agrupados em tés niveis do desenvolvimento moral: 0 nivel pré-convencional, o nivel convencional e 0 nivel p6s-convencional. No nivel pré-convencional, estédio 1 caracteriza-se por uma orientagZo para 0 castigo e a obediéncia e o estidio 2 por uma orientago para a troca de interesses dos individuos. No nivel convencional, o estidio 3 é orientado para a aprovagio social e o estidio 4 para a manutengdo da lei e da ordem. No nivel pés- convencional, 0 estidio 5 é caracterizado_ por uma orientagio para o contrato social e para o maior bem para o maior ntimero e o estadio 6 por uma orientaco para a defesa dos princfpios éticos. 46 Ver Kohlberg. Estadios de desenvolvimento do professor - Teoria formulada pela psicdloga norte- americana Francis Fuller que explica como € que os professores evoluem na profissio. A teoria de Francis Fuller faz passar 0 professor pelos estidios da sobrevivéncia, mestria, desencanto e impacto. Estimulo - Termo que designa uma forma de energia emitida pelo meio que o organismo é capaz. de captar e a que responde. Qualquer acontecimento que age sobre 0 organismo pode provocar uma resposta. A aprendizagem pelo condicionamento distingue varios tipos de estimulos: estimulo condicionado, quando € capaz. de provocar uma resposta apés associago repetida com um estimulo incondicionado; estimulo incondicionado, quando o estimulo age sobre o organismo desencadeando uma resposta natural, que nao resulta da aprendizagem. Estratégias metacognitivas - Refere-se a estratégias que favorecem o reconhecimento pelo aluno dos seus préprios processos cognitivos ¢ formas de pensamento acerca da forma como a informagao € processada. Estudo de caso - Trata-se de uma tipologia de investigagao especialmente indicada para investigadores isolados, uma vez que proporciona uma oportunidade para estudar, de uma forma aprofundada, um determinado problema concreto que afecta uma organizagio. O investigador identifica um problema e de seguida procede & recolha de dados através de questionarios, entrevistas e registo de observagées. Por fim, identifica © modo como o problema afecta a organizagio e propde estratégias que possibilitam a superacio do problema. Ethos - Expresso que designa 0 clima da escola, Diz-se que uma escola tem um ethos democritico e participativo quando ha oportunidade para que todos os intervenientes no processo educativo possam participar na tomada de decisdes. Diz-se que uma escola tem um ethos autoritério quando os processos deliberativos estio concentrados numa pessoa Etica da justica - Conceito criado pelo psicélogo norte-americano Lawrence Kohlberg para designar uma orientagio moral caracterizada pela defesa do imperativo categorico € dos principios éticos universais. A ética da justiga surge associada a um modelo curricular de educagio moral que faz uso da discussiio de dilemas morais, da participagao do sujeito em comunidades justas e do debate de ideias ¢ de problemas com 0 recurso A maiéutica socritica. A ética da justiga esté mais preocupada com o desenvolvimento do raciocinio moral do que com a conduta e os comportamentos do sujeito. E, portanto, uma ética formalista e estruturalista que acentua o potencial educativo do conflito cognitive ¢ o poder da reflexio. Ver Kohlberg. Etica do cuidar dos outros - Conceito criado pela psicéloga norte-americana Carol Gilligan para designar uma orientago moral, mais presente nas mulheres do que nos homens, que se caracteriza pela manutengio das relagdes interpessoais com base no afecto, no carinho e pela superagdo dos conflitos. Esta orientagio moral realga o valor 47 da bondade, do carinho, da intimidade, da continuidade das relagGes interpessoais ¢ da benevoléncia Etnocentrismo - Atitude filos6fica e politica que consiste em colocar uma matriz cultural e um sistema de valores como centrais no proceso de explicagio dos problemas. Essa atitude condiciona e limita a capacidade do individuo para compreender e aceitar propostas culturais diferentes das suas. Exceléncia na educacio - Expressio que designa a procura de qualidade nas aprendizagens tendo em consideragao 0 alcance de metas ¢ objectivos de ensino de alta complexidade, em todos os dominios do conhecimento. A semelhanga do que acontece com outras areas de produgio da informago e do conhecimento, a escola comegou a ser pressionada para aumentar o nivel dos seus resultados, de forma a preparar cidadios e trabalhadores capazes de enfrentarem a economia global e o répido desenvolvimento tecnoldgico. Os autores marxistas criticam 0 movimento da exceléncia na educacio, com 0 pretexto de que esse movimento pde em causa a igualdade de oportunidades e aumenta o fosso entre os melhores alunos e os alunos mais fracos. Nao ha provas nem evidéncias de que a exceléncia ponha em causa a igualdade de oportunidades. A investigago educacional tem mostrado o contrario. Os alunos mais fracos tendem a melhorar as suas aprendizagens quando sio transferidos para escolas preocupadas com a exceléncia. Tudo leva a crer que 0 movimento pela exceléncia na educagio venha a conhecer um grande impulso na préxima década. Da qualidade da educagao depende 0 futuro das novas geragdes. A melhoria da qualidade das aprendizagens nao pode fazer- se em escolas mediocres. $6 escolas apostadas na qualidade total podem oferecer ambientes de aprendizagem propicios aos alunos mais fracos. Uma das estratégias mais importantes para fomentar a exceléncia na educagio e para pressionar as escolas mediocres a inovarem e a melhorarem os seus programas educativos € a criagio de programas de livre escolha das escolas, Nos paises onde os pais podem optar pela inscrigdo dos seus filhos em escolas privadas, tendo para o efeito os apoios financeiros, quer através da dedugao total das despesas com a educago em IRS, quer através do pagamento pelo Estado escola privada de uma propina idéntica ao custo médio anual do aluno numa escola publica, 0 aumento da qualidade das aprendizagens € uma realidade indesmentivel. Ver Qualidade na Educagao e Indicadores. Expresso dramatica - E um meio de descoberta de si e do outro, de afirmagio de si proprio na relago com os outros que corresponde a uma forma de se apropriar de situagdes e papéis sociais. Nas interacgGes sociais, a crianga faz uso do jogo simbélico, criando situagdes de comunicagio verbal e nao verbal que so indutoras da descentragao social e que promovem o desenvolvimento da linguagem. A expresso dramitica é cada vez mais usada no ensino das Linguas e no ensino da Hist6ria. A expressio e a comunicagio através do corpo pode comesar, desde logo, no jardim de infancia, através de jogos do “faz de conta”, permitindo a crianga a vivencia de experiéncias quotidianas e de situag6es imaginarias. Através do corpo e da voz, é possivel exprimir situagdes e estados de espirito que levam a crianga a controlar melhor as suas emogdes, A expressio dramitica é, assim, uma excelente forma de educagio estética. Expresso plastica - Através da expressio plastica, a crianga aprende a controlar a motricidade fina, recorrendo a materiais e instrumentos especificos e a cédigos proprios que sio mediadores dessa forma de expresso. As actividades de expressio plastica 48 destinam-se, também, a desenvolver na crianga 0 aprego pelo belo e a sensibilidade estética. No jardim de infaincia, a expressio plistica desenvolve-se através de actividades livres de desenho, pintura, rasgagem, recorte e colagem. A medida que a crianga avanga na escolaridade, essas actividades livres dio lugar a actividades estruturadas integradas em areas curriculares especificas, como a Educagio Visual, ¢ 0 aluno comega a conhecer, com mais rigor, as técnicas correspondentes. Faria de Vasconcelos (Anténio de Sena) - Nasceu em Castelo Branco em 1880 & faleceu em Lisboa em 1939. Introdutor em Portugal da psicologia cientifica aplicada & pedagogia e um grande divulgador das ideias pedagégicas de Clapartde. Entusiasta da escola nova, Faria de Vasconcelos criou 0 Instituto de Orientagao Profissional e deixou- nos varios livros e artigos reunidos nas Obras Completas, editadas pela Fundagio Calouste Gulbenkian. Fatalismo social - Expressio que designa as teorias da sociologia da educagiio que tendem a confirmar a impoténcia da escola face as desigualdades sociais. O estudo que maior projecgio teve, nos anos 60, sobre as relagdes entre a origem social dos alunos e 6s resultados escolares, foi 0 relat6rio elaborado por James Coleman, o qual chegou & conclusfio que as varidiveis externas a escola, nomeadamente a origem familiar, sio preponderantes na explicitago do sucesso escolar. Ver Bourdieu e Althusser. Feedback - Informagio dada pelo professor ao aluno sobre o seu desempenho. Quando a informagio se refere ao reconhecimento pelo professor de um desempenho correcto do aluno, costuma dar-se o nome de feedback positivo. Ferreira (Anténio Aurélio da Costa) - Nasceu em 1879. Médico e pedagogo, fundou 0 primeiro Instituto Médico-Pedagégico para o Ensino dos Anormais, em Lisboa, no ano de 1914 € 0 Instituto de Reeducagao de Mutilados de Guerra, para soldados portugueses regressados da Primeira Guerra Mundial. Morreu em 1922. Principais obras: A Educagao Moral e Religiosa nos Colégios dos Jesuitas (1910); Sobre a Psicologia Estética e a Pedagogia do Gesto (1916); Problemas de Reeducacio Profissional (1919); Antropologia Pedagégica (1921). Fiabilidade de um teste - Diz respeito & consisténcia com que avalia 0 que quer que 0 teste se destina a avaliar. A fiabilidade é o grau de concordancia entre resultados de um. mesmo teste, que seriam iguais se nao houvesse erro de medigiio. Ha varios erros de medigio. As trés grandes fontes de erro sdo: a selecgdo dos itens especificos para integrar no teste, a ocasitio em que o teste é aplicado € 0 examinador que atribui a classificagao. Ver Avaliagao. Freinet (Célestin) - Professor primédrio e pedagogo francés que dedicou grande parte da sua vida ao ensino de criangas de meios populares e 2 difusio do movimento pedagégico inspirado nas suas ideias e priticas. Nasceu em 1897 e viveu toda a sua vida em Franga. Freinet foi um marxista no ortodoxo, interessado na criagio de uma escola proletéria que fizesse da cultura popular um antidoto para o que considerava ser a alienagdo burguesa. Entre as técnicas pedagégicas que o tornaram conhecido em toda a 49 Europa figuram a correspondéncia escolar, a imprensa escolar ¢ o texto livre. As suas principais obras si: Educacio pelo Trabalho, Os Ditos de Mateus © A Escola Moderna Francesa. Morreu em 1966. Ver Modelo da Escola Moderna. Freud (Anna) - Filha mais nova de Sigmund Freud, dedicou toda a sua vida a psicandlise ¢ educagio. Nasceu em 1895 e deu os primeiros passos no estudo da psicandlise com o seu pais. Em 1922, torna-se membro da Sociedade Internacional de Psicandlise. Face 4 ameaga nazi, em 1938, fugiu com o pai para Londres. Escreveu numerosos trabalhos sobre a aplicagio directa da teoria psicanalitica a educagio da crianga. Obras principais: Le Moi et les Mécanismes de Défense (Paris, PUF, 1949); Le Traitement Psychanalytique des Enfants (Paris, PUF, 1951); Le Normal et le Pathologique Chez L*Enfant (Paris, Gallimard, 1968). Freud (Sigmund) - Nasceu em Friburg, na Mordvia, em 1856 e morreu em Londres, em 1939, pouco depois de fugir 4 ameaga nazi. Oriundo de uma familia judia, viveu a sua infincia em Viena. Estudou medicina e seguiu a carreira de médico, tendo-se doutorado em 1881, com uma especializagao em neurologia. Em 1985, segue para Paris, onde faz os seus estudos na companhia de Charcot. Comega a fazer estudos sobre a histeria e a hipnose. O livro A Interpretagao dos Sonhos sai 4 estampa, em 1889. 0 movimento psicanalitico comega a ganhar forma e Sigmund Freud rapidamente se torna © seu maior nome. Escreveu uma numerosa obra, com destaque para: La Science des Réves (Paris, PUF, 1899); Trois Essais sur la Théorie de la Sexualité (Paris, Gallimard, 1901); Psychopatologie de la Vie Quotidienne (Paris, Payot, 1905); Totem et Tabou (Paris, Payot, 1912); Introduction a la Psychanalyse (Paris, Payot, 1917). 0 pensamento de Freud exerceu uma enorma influéncia na educagio do século XX, sobretudo na forma como a componente afectiva do desenvolvimento da crianga e do adolescente comegou a ser encarada e valorizada. Fromm (Eric) - Erich Fromm nasceu em 1900 em Frankfurt am Main, na Alemanha. Estudou nas Universidades de Heidelberg e Munique e, ainda, no Instituto de Psicandlise de Berlim. A sua obra foi uma incessante procura de aplicagdo da teoria psicanalitica ao estudo dos problemas culturais e sociais. Com a subida ao poder dos nazis, em 1934, emigra para os EUA, onde se dedica ao ensino, ao exercicio da psicanilise € a escrita de numerosos livros que se tornaram importantes “best-sellers”, nos anos 60 e 70. De acordo com a teoria de Erich Fromm, cada tipo de personalidade estd relacionado com um padrao sécio-econémico especifico. Fromm foi um importante critico das teorias comportamentalistas e acusou a sociedade de consumo de alienar os cidadaos, desviando as suas energias para a satisfagio de necessidades artificiais, em prejuizo da procura de uma felicidade genuina e auténtica, baseada no prazer, no afecto € no tempo livre, Erich Fromm deixou uma obra importante, no dominio da psicanilise € da educacao. As suas obras, em particular The Fear of Freedom (1947), The Art of Loving (1956), The Sane Society (1955), Beyond the Chains of Illusion (1962) e The Heart of Man (1964), conheceram abundantes tradugdes ¢ foram lidas por sucessivas geracdes de jovens, nos anos 50, 60 e 70, que procuraram nelas a justificagao para a recusa da escola autoritéria e do poder repressivo da familia e dos tabus sexuais. Para além destas obras, Erich Fromm deixou-nos, ainda, Man for Himself (1947), Sigmund Freud's Mission (1956), The Forgotten Language (1951) The Anatomy of Human. Destructiveness (1973). Erich Fromm morreu em 1980. 50 Fungo reprodutora da escola - Conceito desenvolvido poelo sociélogo Pierre Bourdieu, cujos mecanismos fundamentais podem ser resumidos nestas palavras: para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos, & necessirio e suficiente que a escola ignore, no contetido do ensino transmitido, nos métodos nas técnicas de transmissio ¢ nos critérios de avaliagio, as desigualdades culturais entre as criangas das diferentes classes sociais. Por outras palavras, ao tratar todos os alunos, por muito desiguais que sejam de facto, como iguais em direitos deveres, o sistema escolar é levado a sancionar, de facto, as desigualdades iniciais face cultura. Ver Bourdieu. Funcées do professor - Podemos agrupar as fungées do professor em duas categorias: as fungées tradicionais e as novas fungées. As fungées tradicionais podem ser de trés tipos: distribuir informagées, transmitir conhecimentos e valores e classificar. Estas trés fungdes continuam a ser necessérias na escola actual, embora tenham perdido algum peso nos tltimos anos, com a crescente diversidade cultural e social dos ptiblicos escolares. As novas fungdes do professor podem resumir-se a quatro: avaliar, animar, investigar e moderar. O professor avalia para poder melhorar os seus processos de ensino e para adequar as estratégias as necessidades dos alunos. Contudo, a avaliagio, nesta nova perspectiva, nao se destina a seleccionar. O professor investiga para poder reflectir sobre as suas préticas pedagdgicas e para poder participar nos processos de decisio curricular. © professor anima a classe quando coordena as actividades diversas dos seus alunos. O professor modera quando coordena os seminérios de discusstio. As fungdes tradicionais do professor podem ser lidas & luz das novas técnicas pedagégicas, sofrendo, nesse caso, profundas alteragdes. O professor inovador continua a pas grande parte dos seus tempos lectivos a distribuir informagées. Contudo, € possivel indicar as seguintes diferencas em relagdo & versio tradicional desta fungo: 0 professor nao distribui apenas informagdes colectivas, mas também informagdes adaptadas a cada aluno; 0 docente é apenas uma das fontes de informagio, a par de outras, como a “internet”, os livros e a televisio; professor recorre nao sé a aprendizagem por recep¢io, mas também a aprendizagem por descoberta; 0 professor faz chegar aos alunos uma diversidade de recursos materiais que thes permitem ser eles prdprios a construirem os seus instrumentos de trabalho e a produzirem e seleccionarem a informagfio. Hoje em dia, fala-se menos em classificar do que em avaliar. A classificagio é apenas um dos aspectos que pode assumir a avaliacio. Ao nivel do ensino biisico, a classificagdo deixou de ser encarada como um processo de selecgio. A grande mudanga reside, fundamentalmente, no privilegiar dos aspectos pedagégicos da avaliaciio e na introdugao de novas técnicas de avaliagdo. No primeiro caso, poe-se em destaque a avaliago continua que incide também sobre os processos e no apenas sobre © prduto final e em todas as sequéncias da aprendizagem e no apenas em momentos pontuais. No segundo caso, procura-se que a avaliagio sirva para detectar erros e dificuldades de aprendizagem e para fornecer dados ao professor e aos alunos que permitam a introdugZo de estratégias correctivas e de apoio. Ver Avaliagdo do Desempenho. Gama (Sebastido da) - Foi um dos mais importantes poetas e pedagogos portugueses da primeira metade do século XX. Professor de Portugués na Escola Veiga Beirao, 0 seu idedrio pedagégico seria registado em livro, no celebrado Diario de Sebastifio da Gama. Adepto da educagio nova, Sebastiio da Gama foi um defensor do personalismo 51 na educagio, acentuando a importincia da nao directividade e da relagio afectiva no acto pedagégico. Sebastito da Gama nio subestimou 0 conhecimento e a compreensio dos conceitos, mas subordinou os contetidos de ensino ao processo investigativo, & pesquisa, e ao inquérito feito pelos alunos sobre variados temas de escolha livre. Gesell (Arnold) - Psicdlogo americano nascido, em 1880, no Wisconsin e falecido, em 1961, em New Haven. Obteve o doutoramento em 1906, depois de se formar em Psicologia. Mais tarde, completa curso de medicina e passa a ensinar Higiene da Crianga na Universidade de Yale. As suas numerosas obras influenciaram muito o desenvolvimento das teorias maturacionistas da aprendizagem. Os modelos de ensino personalistas devem muito aos trabalhos desenvolvidos por Gesell, sobretudo aos seus livros A Crianga dos 5 aos 10 Anos (Lisboa, Dom Quixote) e O Adolescente dos 10 aos 16 Anos (Lisboa, Dom Quixote). Gracio (Rui) - Foi um dos pedagogos e ensafstas portugueses mais influente da segunda metade do século XX. Professor do Liceu Charles Lepierre, de Lisboa, durante varias décadas e membro do quadro de investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciéncia, Rui Gracio deixou-nos uma numerosa e diversificada obra dispersa em imimeras revistas e livros. No final da década de 60, Rui Gricio desenvolveu uma intensa campanha oposicionista, tendo estado ligado a varios grupos de estudo sobre a reforma educativa. Apés 1974, Rui Gricio desempenharia 0 cargo de Secretirio de Estado da Orientagao Pedagégica, nos Il, Ill e IV Governos Provisérios, no perfodo de Julho de 1974 a Julho de 1975. Durante 0 periodo em que exerceu esse cargo, procurou desenvolver um conjunto de mudangas educativas de cardcter socialista, entre as quais a introdugio da area de Educagio Civica e Politécnica e a unificagZo ensino, desde o 1° ano de escolaridade até ao 9° ano. Foi responsivel pela coordenagio editorial da Colecsio Biblioteca do Educador Profissional e, nessa colecco, assinaria varios volumes. Da sua obra, destaque para: Educagio e Educadores (Livros Horizonte, 1968); Os Professores ¢ a Reforma do Ensino (Livros Horizonte, 1973); Educagio € Processo Democritico em Portugal (Livros Horizonte, 1981). Em colaboracio, publicou varias antologias de filosofia e de educacio. Entre elas, destaque para: Breve Antologia Filoséfica (1954); Filosofia (1966); Familia e Mundo Moderno (1967); Educacio Estética e Ensino Escolar (1967). Grupo — 0 termo grupo tem afinidades com uma grande diversidade de vocabulos: membro, massa, multidio, organismo e categoria social. O grupo é um conjunto de individuos ligados por uma situagio, caracteristica ou interesse comum, Quando se pretende conhecer a natureza de um grupo convem ter em conta varios critérios: nivel de organizagio, a fungao do grupo, o processo de interacg%o entre os membros do grupo € a vivencia do grupo. Podemos definir o grupo como uma colectividade identificavel e estruturada de pessoas que desenvolvem papéis reciprocos em conformidade com as normas, interesses ¢ valores e na prossecucio de fins comuns. O grupo é constituido por ‘Arias pessoas que interagem e que se percepcionam como grupo. Um grupo que aspira a continuidade deve partilhar objectivos claros, deve ter um caricter de permanéncia e deve existir interdependéncia ¢ colaboragio entre os membros. Estar num grupo exige atitudes de aberura, responsabilidade, lealdade e verdade. 52 Grupo controlo — Conjunto de sujeitos que no passam pela intervengo. O processo de constituigao do grupo controlo tem de assegurar algumas condigdes, para que se possa comparar esse grupo com 0 grupo experimental. Grupo experimental — Conjunto de sujeitos sobre os quais se faz sentir a intervengao. Na formagéo do grupo experimental é necessério acautelar alguns aspectos. Em. primeiro lugar, a forma como os sujeitos so seleccionados para a investigagio e como passam a integrar os grupos a constituir. A constituigao do grupo experimental nao deve colocar em causa a significdncia final dos resultados obtidos. A tinica maneira de assegurar esse aspecto € através de um método aleat6rio de amostragem. Habermas (Jurgen) - Nascido em 1929, em Dusseldorf, fez um doutoramento em Filosofia, com uma tese sobre Schelling ¢ tornou-se assistente de T. Adorno, entre 1956 © 1959. A sua associagao com T. Adomo justifica que se diga que Habermas pertence a segunda geragio da chamada Escola de Francoforte. A sua influéncia na educagio deve- se sobretudo a teoria do agir comunicacional, a qual considera que existe uma razio comunicacional que € garante do bom funcionamento da prética comunicativa. Principais obras: Raison et Légitimité (Payot, 1978); Problémes de Légitimation dans le Capitalisme Avancé (Payot, 1978). Hegel ¢ a educagio - Hegel nao dedicou qualquer obra & pedagogia e a educagio, embora numa carta ao seu amigo Niethammer, datada de 9/6/1821, tenha afirmado o seu interesse em escrever um livro sobre a Pedagogia Politica. Infelizmente, talvez por falta de tempo, nao chegou a escrever tal livro, Em contrapartida, deixou-nos uma monumental obra filosGfica, cujos maiores marcos foram, sem dtivida, A Fenomenologia do Espirito (1807), Ciéncia da Légica (1816), Principios da sofia do Direito (1832), Ligdes sobre a Historia da sofia (1836), Ligdes sobre a Estética (1837-42) e Ligdes sobre a Filosofia da Histéria (1837). Para uma vida relativamente curta, Hegel nasceu, em 1770, em Estugarda, e morreu, em 1831, ainda por cima uma vida mareada por alguma instabilidade profissional, seria dificil exigir mais. Embora George-Wilhelm Freidrich Hegel seja, & semelhanga de Kant, o exemplo do filésofo profissional, ja que dedicou toda a sua vida adulta a ensinar Filosofia, a verdade € que 0 seu caminho em direccio & cétedra universitéria no foi uma curta linha recta. Depois de alcangar o grau de mestre em Filosofia, em 1790, com apenas 20 anos, Hegel defende a sua dissertagao e renuncia & profisso de pastor, para a qual se havia preparado, durante a juventude. Em 1793, torna-se preceptor em Berna. Seria necessario esperar mais oito anos para alcangar 0 cargo de "privat dozent",” na Universidade de Iena, mas s6, em 1805, consegue a nomeagio para professor extraordindrio, na mesma Universidade. De 1808 a 1816, exerce 0 cargo de reitor do liceu de Nuremberga, apés 0 que atinge o topo da sua carreira académica, com a nomeagio para a citedra de filosofia da Universidade de Heidelberga e, dois anos depois, para a cétedra de filosofia da Universidade de Berlim, em substituigao de Fichte, entretanto falecido. Embora o estudo da pedagogia nao tenha sido um campo a que tivesse dedicado 6 seu talento intelectual, € possivel conhecer as suas ideias sobre a educacio, gragas aos discursos proferidos durante os oito anos em que foi reitor do Liceu de Nuremberga. Pouca gente conhece a faceta pedagdgica do grande fil6sofo alemio, apesar de o exercicio da docéncia ter sido uma componente forte da vida de Hegel. Em Dezembro de 1808, Hegel foi nomeado reitor do “gindsio” de Nuremberga, uma escola fundada 53 pelo humanista Melanchton, em 1526. Exerceu o cargo até 1816, ano em que conseguiu obter um cargo de professor na Universidade. Os seis discursos sobre educagio datam desse period. Sio seis discursos destinados a uma audiéncia composta pelos professores, autoridades educativas, alunos e pais, Ressalta desses discursos, um pensamento pedagégico seguro e s6lido, baseado no realismo, bom senso e profundo respeito pela cultura classica e humanista. Neles, € possivel antever 0 neohumanismo hegeliano ¢ a sua oposigio a algumas correntes utilitaristas da pedagogia humanista, em particular as ideias educacionais de Rousseau. Ao optimismo naturalista de Rousseau, Hegel opunha a superioridade da perspectiva antropolégica assente na raziio. Convém ter presente que, naquela época, existiam duas perspectivas com alguma influéneia nos meios pedagégicos: © neohumanismo e 0 filantropismo, O primeiro defendia um ensino geral, fortemente centrado na transmissio da heranga cultural classica. © segundo reduzia a educago & aquisigao de aptidées técnicas que conduzissem ao exercicio de uma profissio. Naquele tempo, como hoje, essas duas importantes perspectivas marcavam, decididamente, as politicas educativas. Hegel, como racionalista e idealista, fortemente defensor da tradi¢Zo cultural clissica e do humanismo grego e latino, estava com a primeira perspectiva. ‘Ao longo dos seus discursos, nota-se a defesa de uma escola cultural, com um curriculo pequeno mas profundo, onde 0 latim, © grego, o alemio, as matemiticas, a fisica, a geografia e a hist6ria tinham um papel preponderante. O liceu de Nuremberga, dirigido por Hegel, procurava transmitir &s novas geragdes um tradigo cultural s6lida, baseada em saberes constituidos e testados pelo crivo do tempo, embora sem descurar uma componente extra-curricular, igualmente forte, que dava o tom ao liceu e permitia a construgio de pontes com a comunidade envolvente. As comemoragées, as festas religiosas e as actividades culturais constitu‘am essa componente extra-curricular. Apesar dos seis discursos terem sido proferidos ao longo de oito anos, revelam as mesmas preocupacées pedagégicas e evidenciam a sua visio dialéctica. Em todos os discursos, Hegel insiste na seriedade do trabalho pedagégico, na responsabilidade individual, na exigéncia de aplicagao por parte dos alunos, no rigor intelectual, no respeito pelos professores e no uso da razao e da reflexao. Heteronomia moral - Conceito que designa uma moralidade dependente da autoridade, quer seja a autoridade fisica quer seja a autoridade divina. As pessoas que raciocinam a0 nivel dos estidios 1 ¢ 2 de Kohlberg costumam estar associadas a uma moralidade heterénoma porque dependente do receio dos castigos e condicionada pela obediéncia & autoridade. Piaget considerava que as pessoas com um desenvolvimento intelectual Lipico do estédio das operagdes concretas nao podiam ir além de uma moralidade heter6noma. Ver Kohlberg. Hierarquia de valores - Expresso que designa uma posicao que defende a existéncia de valores primeiros, isto é que tomam a primazia em caso de conflito com outros. O modelo curricular da clarificagio de valores niio aceita a existéncia de hierarquias morais. Para este modelo nio ha valores mais morais do que outros, tudo depende do ponto de vista do individuo, Para o modelo curricular comunidade justa, os valores primeiros sio os que pressupdem deliberagdes que fazem uma clara opgio pelo princfpio da justica. Ver Kohlberg. 54 Hipétese - Termo que designa uma proposigio testivel que pode vir a ser a solugdo do problema. A formulagio das hipéteses deve obedecer aos seguintes prinefpios: devem ser testiveis, serem justificaveis e serem relevantes para 0 problema em estudo. As hipoteses devem ser susceptiveis de quantificagZo e reunirem alguma generalidade explicativa. Ha hipdteses dedutivas e hipéteses indutivas. As primeiras decorrem de uma determinada teoria e procuram comprovar dedugGes implicitas das mesmas teorias. As indutivas surgem a partir da experiéncia e da observagio dos fenémenos. As hipéteses também podem ser divididas em conceptuais, operativas e estatisticas. As primeiras so as que estabelecem uma relacZo entre varidveis ou uma relagZo a uma ou mais teorias. As segundas indicam-nos as operagdes necessérias para a sua observagio. As tiltimas expressam a relagdo esperada em termos quantitativos. Para aprofundar este assunto sugiro aos leitores o livro de Leandro Almeida e Teresa Freire (1997), Metodologia da Investigacao em Psicologia e Educagio, APPORT. Hirsch (E. D.) - E.D. Hirsch é um professor universitério norte-americano que hé mais de trés décadas se dedica ao ensino da Lingua Inglesa e & investigagio sobre reforma curricular, Em reacgio aos movimentos multiculturalistas de cariz radical e as presses no sentido de conformar as escolas e 0 pensamento pedagégico ao “politicamente correcto”, E. D. Hirsch Jr. tem vindo a publicar virios livros onde faz a defesa de um curriculo centrista, baseado nas disciplinas académicas tradicionais e no qual 50% dos tempos lectivos sio preenchidos com 0 que chama de “core curriculum”, ou seja, os conhecimentos cientificos, tecnolégicos, artisticos e literdrios considerados consensuiais. Esse conjunto de conhecimentos agrupa aquilo que de melhor foi sendo culturalmente construido pelas geragdes que nos precederam em todos os dominios do saber. Por outras palavras, constitui cdnone ocidental, numa palavra, aquilo que une e cimenta a nossa matriz civilizacional comum, O curriculo escolar centrista é aquele que acentua a matriz civilizacional comum, considerando que cabe & escola conservar e transmitit aquilo que de melhor a nossa civilizagéo construiu. Nesse sentido, Hirsch manifesta-se como um destacado opositor aos movimentos e autores que procuram substituir os clissicos por autores contemporaneos de valia ainda discutivel ou por autores menores cujas obras representam interesses e pontos de vista marginais. O pensamento educacional de Hirsch insere-se no movimento de regresso aos classicos e de defesa dos canones da civilizago ocidental. Com os direitos de autor dos seus. livros, nomeadamente os “best-sellers” Cultural Literacy e The Schools We Deserve And Why We Don't Get Them, criou a Core Knowledge Foundation, uma organizagio de apoio a reforma curricular inspirada no pensamento de E. D. Hirsch, a partir da qual tem feito a coordenagio do trabalho pedagégico desenvolvido nas mais de 300 escolas que levam a pratica o modelo centrista. A Core Knowledge Foundation, um centro de investigagio ¢ difusio da reforma curricular proposta por E. D. Hirsch Jr., com sede em 2012-B Morton Drive, Charlottesville, Virginia, aconselha os professores interessados em levar a prética 0 modelo curricular centrista, a lerem e estudarem com atengio a Core Knoweledge Sequence, constitufda por listas de contetidos sobre as disciplinas basicas dos seis primeiros anos de escolaridade. O livro A School's Guide to Core Knoweledge: Ideas for Implementation constitui um bom guia para comegar a mudar 0 curriculo escolar. A Core Knowledge Foundation funciona como uma rede de comunicagdes entre os professores e as escolas, colocando ao dispor dos professores materiais curriculares e planificagdes de unidades didécticas. Ver Modelo Centrista e Curriculo Nacional 55 Ideologia escolar elitista - Segundo esta ideologia, 0 maximo que cada aluno deve receber da educagio depende da sua capacidade para contribuir para o desenvolvimento da economia. Factores como a inteligéncia e 0 grau de educabilidade so determinados pela hereditariedade. Admite-se a existéncia de diferengas cognitivas profundas e a necessidade de varias vias escolares, consoante a capacidade dos alunos. Para os alunos mais inteligentes, opta-se pela via mais nobre, centrada nas disciplinas académicas tradicionais. Para os outros, opta-se pela via técnica e profissional, capaz de preparar os alunos menos dotados intelectualmente para 0 exercicio de uma profissio intermédia, Ideologia escolar igualitdria - Esta ideologia defende que todos os alunos devem nio 86 ter acesso & educaco, mas também ao sucesso escolar. Nega a importincia dos factores como inteligéncia, esforgo e grau de educabilidade e considera que a escola tem de adaptar-se as diferencas cognitivas e culturais dos alunos, de forma a que todos possam atingir resultados escolares semelhantes, Igualdade de oportunidades educacionais - Termo que designa a adopgio de um conjunto de medidas de caricter pedagdgico e social cujo fim é oferecer a todas as criangas as mesmas condigdes de ensino e as mesmas possibilidades de sucesso. Nas liltimas décadas, tem havido um esforgo grande, em Portugal, para assegurar a igualdade de oportunidades: criagao e expansio da educagio pré-escolar, expansio da oferta de escolas bisicas, secundérias e superiores, investimentos acrescidos em equipamentos escolares, criago de um sistema de formagao continua de professores e apoios pedagégicos acrescidos. Illich (Ivan) - Nasceu em Viena, em 1926, e escreveu um conjunto de textos e de panfletos contra a sociedade moderna e a escola de massas, considerando uma e outra alienantes e desumanas. Considerava que a escola enquanto instituigi0 estava condenada a desaparecer. Preconizou a substituigao da escola por redes informais de aprendizagem, constituidos por centros de documentagio com 0 recurso a animadores educativos. De uma certa forma, a “Internet” ¢ a “world Wide Web” acabaram por preencher essa fungio. No entanto, ao contririo do que Illich profetizava a escola de massas nao s6 n&o desapareceu como tem vindo a conhecer uma enorme difusio em todo o Mundo. Imitacao - Termo que designa a reprodugdo de um comportamento e um processo de aprendizagem que se baseia na observagio e reprodugio de um modelo. Diz-se que estamos perante uma aprendizagem por imitago quando ha semelhanga entre 0 comportamento do modelo e o do sujeito. A imitagao ocupa um lugar importante na teoria da aprendizagem de A. Bandura Ver Aprendizagem Social. Inato - Expresso que etimologicamente significa aquilo que possuimos desde o nascimento, por oposigdo ao adquirido. Os filsofos que defendem o inatismo aceitam a existéncia de uma natureza humana. O inato pode servir para caracterizar um instinto ou capacidade que pertence & natureza humana. Para alguns autores os dons sio inatos, embora possam ser melhorados através da educagio.. Ver Teoria Maturacionista. 56 Indicadores da educaciio - A anilise e avaliago das organizagées escolares e das politicas educativas recorrem & informagio estatistica, tendo em consideragio um conjunto de caracteristicas consideradas significativas para medir 0 impacto da educagio. Ultimamente, tem-se procurado novas medidas do desempenho global nas suas diferentes dimensées, & agregagiio de dados e & construgio de um quadro conceptual que permita estabelecer relagdes e explicar certos comportamentos das organizagdes escolares. A selecgio de indicadores interacionais de educagio tem acentuado trés dimensdes: os contextos demogrifico, econémico e social dos sistemas educativos; as caracteristicas dos sistemas; os resultados do ensino. Por outro lado, ha indicadores referentes aos recursos humanos, aos meios materiais, ao desempenho dos alunos € a0 funcionamento da escola, Os estudos sobre a eficicia das escolas tm mostrado que existe um conjunto de factores do funcionamento das escolas que se associam & aprendizagem dos alunos. Por outro lado, estes factores apresentam-se como maledveis, ou seja, sio passiveis de melhoria. Os factores de eficdcia sio os seguintes: lideranga profissional da escola, consistente, com uma missio clara e orientada para objectivos precisos; visio e objectivos partilhados por todos os intervenientes no processo educative; um contexto de aprendizagem caracterizado pela disciplina, tranquilidade e seguranga; concentragio nas tarefas de ensino e aprendizagem, com optimizagio do tempo dedicado as aprendizagens, énfase no trabalho académico no sucesso escolar; ensino com objectives, com uma planificagio rigorosa e um ensino estruturado; expectativas elevadas; uso do reforgo positive, com feedback imediato e sistematico e regras claras para todos; monitorizagao do progresso, com avaliagdes frequentes dos alunos e da escola; deveres e responsabilidades dos alunos, com atribuigo de cargos e responsabilidades; relago escola-familia, com acompanhamento pelos pais das aprendizagens dos filhos. Estes indicadores de educagio andam associados ao aproveitamento escolar dos alunos e, como tal, nao podem deixar de ser equacionados nos processos de avaliagio das escolas. Ver Exceléncia na Educacao. Inquérito - Procedimento de recolha de dados que visa obter informagio que possa ser analisada de forma a estabelecer comparagdes. Nos inquéritos, devem fazer-se as mesmas perguntas aos individuos da amostra e, tanto quanto possivel, nas mesmas circunstincias. No inquérito, podemos englobar as seguintes formas de recolha de dados: a entrevista, 0 questionario e a sondagem de opinito. Inteligéncia emocional - Designa a capacidade para avaliar 0 significado emocional das situagdes e dos problemas. Este conceito foi desenvolvido pelo neurocientista luso- americano Anténio Damisio, a partir do seus estudos sobre a importancia das emogdes nas tomadas de decisio adaptativas. Interesse - Termo que designa a disposigdo ou tendéncia, surgida a partir de uma determinada vivencia, para orientar a actividade do individuo Interdisciplinaridade - Termo que designa a convergéncia de varios ramos do saber com o fim de proceder ao estudo de uma problema. A interdisciplinaridade € hoje uma caracteristica central na pesquisa cientifica. Com o desenvolvimento e expansio dos modelos de ensino construtivistas, a interdisciplinaridade passou a fazer parte do discurso pedagégico dos professores. Considera-se que a estruturagio do curriculo em disciplinas deve dar lugar a um curriculo centrado nos problemas e nos projectos. Ver Modelo Interactivo. 37 Investigaciio-accdo - Expressio que designa uma tipologia de investigagdo realizada in loco, com vista a conhecer um problema concreto localizado numa situago imediata. O so € controlado passo a passo, durante perfodos de tempo varidveis, através de proce: diversos instrumentos como questionarios, entrevistas e registo de observagdes. O objective € que os resultados do estudo possam ser traduzidos em modificagdes, ajustamentos e mudangas, de modo a melhorar a organizagao. Ver Estudo de Caso. Investigacio documental - Refere-se A recolha de informagées orais, escritas ou iconograficas, de forma a permitir a organizagio de sinteses sobre um determinado assunto. E um tipo de investigac’o muito usado na histéria e filosofia da educagio e na pedagogia comparada, Investigacio etnografica - Designa uma tipologia de investigagio que foi originalmente concebida pelos antropdlogos e que pretende estudar em profundidade uma determinado aspecto de uma sociedade ou comunidade. Esta tipologia é muito usada em estudos educacionais, nomeadamente, quando se pretende investigar as interacgdes num determinado grupo de estudantes. A recolha de dados faz-se sobretudo com 0 recurso & observagio participante, a qual leva os investigadores a partilhar as mesmas experiéncias dos individuos que constituem 0 objecto de estudo. Investigacao participativa — E um processo integrador que compreende trés componentes: a investigagio, a educagio e a acco, Esta modalidade de investigagio visa a produgio de conhecimentos e o desenvolvimento de acedes com utilidade directa para as pessoas que so objecto e sujeito da investigacao. O objectivo principal € tornar os grupos e as comunidades desfavorecidas mais conscientes da sua situagio de opressio e mais capazes de lutarem pela sua emancipagio. Em simultaneo, pretende desenvolver, nos sujeitos, capacidades de reflexio e de espirito critico. Nesta modalidade de investigago, nao hd uma separagio entre investigadores investigadores, uma vez que, uns e outros, colaboram na recolha de dados, na andlise dos dados e na elaboragio das conclusdes. As caracterfsticas principais da investigagio participativa siio: o investigador revela um elevado nivel de integragio com a comunidade que constitui o objecto do estudo; o trabalho de investigagzio desenvolve-se em tomo de um problema, cuja resolugio vai ajudar a comunidade; € um processo educativo, tanto para o investigador como para a comunidade; o investigador € cimplice dos anseios e das lutas dos grupos que constituem a comunidade. A investigaco participativa compreende as seguintes fases: identificagio de um problema; inventariago dos recursos e planeamento da acgdo; utilizagao dos resultados e concretizagao das acgGes previstas: reavaliagio e reflexdo. As principais influéncias te6ricas da investigagdo participativa so: o materialismo dialéctico e hist6rico; a teoria desenvolvida por Anténio Gramsci sobre o papel do intelectual organico no desenvolvimento das lutas dos grupos sem poder; a pedagogia critica e a teoria social critica de influéncia neo-marxista. ‘A. investigago participativa no obedece aos requisitos considerados necessérios & investigacao cientifica, nomeadamente a objectividade, a imparcialidade e © controlo rigoroso dos factores de validade interna e externa. Apesar de haver muitas, diividas sobre se a investigagio participativa pode aspirar ao estatuto de investigagao cientifica, ela pode ser um importante instrumento de desenvolvimento das comunidades desfavorecidas. 58 Joao Bosco — Pedagogo italiano, nascido em Becchi, em 16 de Agosto de 1815, oriundo de uma familia de camponeses humildes. Aos dois anos de idade ficou 6rfiio de pai, 0 que o obrigou a uma infancia e adolescéncia carregadas de dificuldades. Aos 26 anos de idade, foi ordenado padre, logo apés ter terminado os estudos eclesidsticos. Exerceu 0 sacerdécio em Turim, onde se dedicard & assisténcia e educagao dos rapazes pobres da cidade. Os primeiros centros criados por Joao Bosco foram os “oratérios festivos”, que funcionavam como locais de encontro para rapazes sem abrigo. A partir desses centros, Dom Bosco criou a “Obra dos Oratérios” que funcionava como internato para rapazes sem familia e onde thes eam ensinadas as primeiras letras e thes era proporcionada a aprendizagem de um oficio. Em 18 de Dezembro de 1859, Dom Bosco consegue ver reconhecida a “Congregacfio Salesiana” e, em 5 de Agosto de 1872, assiste & fundagio do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, especialmente dedicado & protecgio e educaco de raparigas carentes dos devidos apoios familiares. Em 1875, Dom Bosco obteve autorizacio para expandir a “Congregaco Salesiana” na América do Sul, dando- se inicio & difusiio mundial da sua obra pedagégica. Dom Bosco morreu em 1888, coma idade de 73 anos. ‘A pedagogia de Dom Bosco opunha o sistema preventivo ao sistema repressivo, tGo em voga na sua época, mostrando uma clara preferéncia pelo primeiro. Afecto, lideranga espiritual e comprometimento constituem o cerne da pedagogia de Joio Bosco. Face aos erros e A indisciplina dos alunos, Dom Bosco exigia dos professores bondade, persuasio e afecto. Razio, religiio e amabilidade constituem a trilogia que explica a permanéncia do legado do pedagogo cristio italiano. Humanismo cristio, personalismo e respeito pela individualidade da pessoa, apreco pelo trabalho e gosto pela comunhio dos valores cristdos tais so, ainda hoje, os principios orientadores dos colégios inspirados na pedagogia de Joio Bosco. Alegria, familiaridade e assisténcia formam, igualmente, outra trilogia presente nos meios educativos utilizados. Dom Bosco considerava que a educagdo era coisa do coragio e, por isso, a linguagem do coragdo devia ter preferéncia face a linguagem do intelecto. Juizo moral - Designa todas as formulagdes emitidas por um sujeito com caricter de obrigagio. O juizo moral costuma surgir associado as afirmagdes sobre questdes de natureza do dever ser. Kohlberg concebeu uma teoria dos estidios do desenvolvimento moral com base na complexidade e adequaco dos jufzos morais emitidos pelos sujeitos quando confrontados perante dilemas morais. Ver Kohlberg. Jung (Carl Gustav) - Nasceu em 1875, na Suiga e morreu em 1961. Fez 0 curso de medicina e pés-graduages em psiquiatria. Encontrou-se com Freud em 1906, mas desenvolveu uma concepgio diferente de psicandlise. Jung opunha-se & explicagio sexual das neuroses. Muito interessado pelo estudo das religides - Jung era filho de um pastor protestante - procurou conciliar a psicandlise com a mitologia, 0 cultismo e as filosofias orientais. Trabalhou em Zurique durante muitos anos, tendo af fundado um instituto psicanalitico com 0 seu nome. Principais obras: Problémes de lAme Moderne (Paris, Buchet-Chastel, 1961); Psychologie de Education (Paris, Buchet- Chastel, 1963); Types Psychologiques (Geneve, Librairie de L'Université, 1950); Psychologie de F Inconscient (Paris, Buchet-Chastel, 1963); Ma Vie (Paris, Gallimard, 1966). 59 Kant (Emmanuel) - Immanuel Kant nasceu em 1724, na cidade de Konisberg, onde estudou e foi professor, tendo af residido toda a sua vida. O seu pai era um modesto artesio correeiro. e a sua mie era uma pessoa muito influenciada pelo pietismo. De 1732 a 1740, frequentou o “Collegium Fredericianum”, onde obteve uma formagio clissica e pietista, reforgando af o pietismo que recebeu por parte da educagio materna De seguida, entra como aluno na Universidade de Konisberg, onde mais tarde se tornara professor. Durante os seus primeiros anos de Universidade, interessou-se, sobretudo, pelos estudo das Ciéncias da Natureza e pela mecinica newtoniana. Antes de obler 0 seu diploma universitério, em 1755, trabalhou alguns anos como preceptor. $6 em 1770, viria a obter o lugar de professor titular na Universidade onde foi aluno. Kant era justamente conhecido na cidade como uma pessoa de bem, que cultivava as virtudes da prudéncia, da moderagio, do rigor moral e do cumprimento do dever. A sua educago no “Collegium Fredericianum’ e a influéncia pietista por parte da mae foram grandemente responsaveis pelo rigorismo moral de Kant. A sua extensa e diversificada obra tem muito a ver com o seu caricter. Kant nunca chegou a casar e dedicou toda a sua vida ao ensino da Filosofia e & escrita da sua obra. A vida de Kant confunde-se com a sua obra, sendo possfvel dividir, um e outra, em trés perfodos: de 1724 a 1755, foi a época dos estudos e dos primeiros ensaios sobre Ciéneias da Natureza; de 1755 a 1770, corresponde & época dos ensaios antecriticos e a0 perfodo como professor nao titular; de 1770 a 1797, perfodo dos ensaios eriticos e da carreira como professor titular. O tiltimo perfodo foi o mais fecundo em termos filos6ficos. Datam desse perfodo as suas obras capitais: Critica da Razio Pura (1781); Estabelecimento da Metafisica dos Costumes (1785); Critica da Razio Pritica (1788); Critica da Faculdade de Julgar (1790); Da Paz Perpétua (1795). Kant conheceu, em vida, grande popularidade nos meios académicos, ndo sé na Alemanha, mas também, na Suiga, Paises Baixos, Gra-Bretanha e Franga. Da parte do Governo, obteve respeito e considerago. Apesar de Kant ser um admirador dos ideais, racionalistas e iluministas da RevolugZo Francesa, soube criticar os excessos revolucionatios. Por formagiio e por cardcter, Kant soube critica com prudéncia e moderagio as instituigdes politicas do seu tempo, nunca se deixando envolver em polémicas apaixonadas ou cruzadas politicas. $6 uma vez se sentiu pressionado na exposicZo das suas doutrinas. Foi apenas na ocasidio em que escreveu sobre religitio, numa série de quatro artigos publicados na Revista Mensal de Berlim, reunidos mais, tarde sob o titulo de A Religiio nos Limites da Mera Razio (1793). Quando se preparava para publicar um desses artigos, Kant recebeu uma carta do Governo prussiano a pedir-lhe explicagdes e a ordenar-lhe que evitasse, no futuro, escrever sobre religiio. Kant comprometeu-se, por escrito, a nunca mais escrever sobre religido, assumindo-se como stibdito fiel de Sua Majestade Real. Kant levou uma vida tranquila, inteiramente dedicada ao ensino e a escrita. Até ao fim, acreditou no poder da razio, no respeito das leis justas, na autonomia da escolha moral e no papel civilizacional da educagio. Kant deixou a Universidade, em 1797, devido a problemas de satide. Continuou a escrever até morrer, em 1804. Embora, o seu tiltimo ano de vida tenha sido mareado por uma decadéncia fisica muito grande, Kant encarou a doenga e a morte com tranquilidade e resignagio. As obras principais de Kant foram: Critica da Razio Pura (1781); Fundamentos da Metafisica dos Costumes (1785); Critica da Razio Pratica (1788); Critica da Faculdade de Julgar (1790); Prolegsnomos a Toda a Metafisica Futura que Podera Apresentar-se como Ciéncia (1783). 60 A obra Dissertagio sobre os Primeiros Principios do Conhecimento Metafisico foi escrita com a finalidade de poder exercer o lugar de professor livre da Universidade de Konisberg, onde ensinou Matemética, Fisica, Légica Moral e Filosofia. Com a apresentagdo da dissertagao A Forma e os Princfpios do Mundo Sensivel e do Mundo Inteligivel, Kant passa a professor titular da mesma Universidade, ensinando a partir daf apenas Logica e Metafisica. As publicacdes anteriores a 1770 abordam matérias que ultrapassam os limites da Filosofia, jé que Kant foi obrigado até essa data a leccionar uma enorme quantidade de disciplinas e assuntos. Nos tiltimos anos da sua vida, escreveu, ainda, A Re nos Limites da Simples Razio (1793), 0 Conflito das Faculdades (1798) ¢ os Primeiros Principios Metafisicos das Ciéncias da Natureza. Kant morre em 1804, sete anos depois de deixar o ensino, Kant nao escreveu apenas sobre Filosofia. Muitas obras escritas antes de Kant passar a professor titular de Filosofia (1770) tratam de questdes relacionadas com as Ciéncias da Natureza: A Terra Sofreu Algumas Modificagées no Seu Movimento de Rotagio desde a Origem (1754); A Terra Envelhece? Pesquisa Feita do Ponto de Vista Fisico (1754); Hist6ria Universal da Natureza € Teoria do Céu, onde se Trata do Sistema e da Origem Mecanica do Universo segundo os Principios de Newton (1755); Resumo das Meditacées sobre 0 Fogo (1755); Sobre os Terramotos de 1755 em Quito € Lisboa (1755); Monadologia Fisica (1756); Sobre a Teoria dos Ventos (1756); Do Fundamento da Diferenca das Regides no Espaco (1768). Ao longo da sua vida, escreveu esporadicamente sobre Religiao, Direito e Politica: O tnico Fundamento Possivel de uma Demonstracao da Existéncia de Deus (1763); Do Emprego dos Princ (1788); Da Paz Perpétua (1795); Prineipios Metafisicos da Teoria do Direito (1797). Kohlberg (Lawrence) - Lawrence Kohlberg doutorou-se em Psicologia na Universidade de Chicago, em 1958, com uma Tese de Doutoramento sobre o Raciocinio Moral em Rapazes Adolescentes. Antes de se doutorar, Kohlberg ofereceu-se como voluntério para integrar a tripulagio de um navio mercante norte-americano que conduziu ao novo Estado de Israel dezenas de judeus, recém-libertados dos campos de concentragio nazis. A experiéncia na construgio do novo Estado de Israel e 0 contacto com os campos de exterminio nazis seriam acontecimentos marcantes na sua vida. De origem judaica, Kohlberg aderiu, bastante cedo, a uma ética humanista, de influéncia kantiana. Na psicologia, a sua maior influéncia foi a obra de Piaget, em particular, o livro Le Jugement Morale Chez les Enfants, que leu enquanto estudante universitario. Professor de Psicologia do Desenvolvimento na Graduate School of Education da Harvard University, Kohlberg fundou e dirigiu, durante varios anos, 0 Center for Moral Education. Morreu em 1987. Lawrence Kohlberg dedicou toda a sua vida adulta ao estudo do desenvolvimento moral. Grande parte dos seus estudos foram publicados inicialmente em revistas cientificas e, mais tarde, foram reunidos em dois volumes, de cerca de 500 paginas cada, publicados, em 1981 ¢ 1983, na Harper and Row, com o titulo de Essays on Moral Development I ¢ Il- The Philosophy of Moral Development and The Psychology of Moral Development. Dos seus imimeros artigos publicados em revistas, 6 possfvel destacar os seguintes: “The Child as Moral Philosopher”, Psychology Today, Setembro de 1968, 25-30; “Moral Education and the New Social Studies”, Social Education, XXXVII, 5, 1973, 369-75: “Moral Education in the Schools: A Developmental View”, School Review, LXXIV, 1, 1996, 1-29. Muitos dos seus estudos foram publicados em obras colectivas, tais como: “The Moral Atmosphere of the 61

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