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1. O fim da histéria-meméria Aceleracdo da historia, Para além da metéfora, & preciso ter a nogdo do que a expressdo significa: uma oscilag4o cada vez mais répida de um passado definiti- yamente morto, a percepeo global de qualquer coisa como desaparecida - uma ruptura de equilibrio. O arrancar do que ainda sobrou de vivido no calor da tradi¢ao, no mutismo do costume, na repetigdo do ancestral, sob o impulso de um sentimento historico profundo. A ascenso 4 consciéncia de si mesmo sob o signo do terminado, © fim de alguma coisa desde sempre comegada, Fala-se tanto de meméria porque ela nao existe mais. A curiosidade pelos lugares onde a meméria se cristaliza e se refugia esté ligada a este momento particular da nossa histéria. Momento de articulagao onde a consciéncia da ruptura com o passado se confunde com o sentimento de uma meméria esfacelada, mas onde 0 esfacelamento desperta ainda meméria suficiente para que se possa colocar o problema de sua encarnacdo. O sentimento de con- tinuidade torna-se residual aos locais. Ha locais de meméria porque no hé mais meios de meméria, Aceleragio: 0 que 0 fendmeno acaba de nos revelar bruscamente, & toda a distincia entre a memeéria verdadeira, social, intocada, aquela cujas sociedades ditas primitivas, ou arcaicas, representaram 0 modelo ¢ guardaram consigo o segredo - ¢ a historia que é 0 que nossas sociedades condenadas a0 esquecimento fazem do passado, porque levadas pela mudanga, Entre uma meméria integrada, ditatorial ¢ inconsciente de si mesma, organizadora € toda-poderosa, espontaneamente atuali- zadora, uma meméria sem passado que reconduz.cternamente a heranga, conduzindo © antigamente dos ancestrais ao tempo indiferenciado dos herbis, das origens e do mito - ¢ a nossa, que s6 & histéria, vestigio ¢ trilha. Distincia que s6 se aprofundou 4 medida em que os homens foram reconhecendo como seu um poder e mesmo um dever de mudanga, sobretudo a partir dos tempos modemnos. Distancia que chega hoje num ponto convulsivo.

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