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Funcionalismo Alzira Verthein Tavares de Macedo* Resumo 0 artigo disserta diferentes enfoques do terme “funcionalismo”, apticado aos estudos linguisticos. ucdo Este artigo dirige-se especialmente a alunos de Letras ¢ Lingifstica, medida cm que faz um retrospecto dos diferentes enfoques do termo cionalismo” aplicado As dreas da linguagem. Como se sabe, linhas fun- ynalistas de estudos lingiifsticos foram retomadas com énfase nos tillimos anos, embora neles o termo ‘funcionalismo’ nem sempre aparega definido, cabendo, portanto, a presente retomada da questio. Algumas concepgées de funcionalismo na antropologia e na lin- ica so repassadas, com um breve resumo do trabalho de autores que jiderei como mais influentes no cendrio brasileiro, sem pretender, do, esgotar toda a lista de autores que cresce a cada dia nessa linha. O funcionalismo na antropologia Nio se pode falar de funcionalismo sem lembrar sua origem na logia, nos trabalhos de Malinowski (1922) e Radcliffe Brown (1952), por sua, vez, foram influenciados por Durkheim (1984). Tais autores jaram uma reag’io ao evolucionismo, a conhecida teoria que Darwin para a biologia ¢ que, na primeira década deste século, representava ligma predominante até mesmo para as ciéncias humanas € sociais. sssora da Faculdade de Educagho da UFJF - Doutora em Educagbo. Atzira Vertboin Tavares de Macedo Na antropologia, os evolucionistas admitiam que o homem primitiva aperfeigoa, biolégica e socialmente, até 0 estagio civilizado. Os traball de Malinowsky e Radcliffe Brown mudaram o paradigma evolucionista revolucionaram a rea. Quando passaram a estudar os fatos culturais é cada grupo em relagdo as proprias instituigdes desse grupo, na verdad eles se tornatam os precursores da chamada antropologia moderna Malinowski estudou os trobrianeses, no Pacifico Sul, e busco explicar cada fato cultural em fungdo de outras estruturas sociais mais abrangentes. Sua postura pode ser definida como “teleolégica” (termo chat no funcionalismo), pois adota uma abordagem que analisa e explica um coisa em fungdo de outra. Cada fato social foi explicado por Malinows por sua fungiio de satisfazer as necessidades humanas — 05 rituais religioso para satisfazer o desejo de transcendéncia, a familia para satisfazer necessidade de reprodugio, as instituigdes econdmicas para viabi trabalho coletivo, a troca da produgo, etc.. Os trobrieneses tinham o do Kula: viajavam para ilhas vizinhas numa regiao do Pacifico Sul, ond trocavam colares ¢ pequenas pegas. Acontece que estes colares circulavam pelas ilhas e voltavam &s mesmas maos de tempos em tempos. Esse cit foi descrito em fungao da possibilidade de outras trocas, sendo os colares pegas comparados as jGias da coroa britanica. Malinowski procurou mostrar como, em cada tipo de civilizagio cada costume, cada objeto material, cada idéia ¢ cren¢a preenche algum fungéo vital, tem alguma tarefa a desempenhar, representa uma parte indi pensdvel num todo funcional. Para compreender a cultura, ressaltou também a importincia d estudar se a lingua e sua estrutura, que espelharia categorias derivadas das atitudes praticas do homem em relagdo ao mundo, Nesse cendrio, a falaer vista como um modo de agao e nao a contraparte do pensamento. O sentido das palavras deveria ser extraido a partir de seus usos, sendo a fut fundamental da lingua, nao tanto a expresso do pensamento, mas sim sua fungio enquanto um meio de comunicagaio social Varias criticas foram feitas 4s abordagens funcionalistas dessa époct entre elas, & visio das culturas como organismos, 8 dificuldade em explics por que as mesmas necessidades nfo levam a solugGes semelhantes diversas culturas, 4 énfase no “equilibrio” ou estabilidade do todo, espago para os conflitos ¢ mudangas. Assim, por exemplo, Durkheim pi o que chamou de “dianomias" (os momentos de conflito), vistas como fases, porque, em suas andlises das sociedades, o importante cra mostrar adaptagao ao sistema, a volta ao equilfbrio e normalidade Tais criticas ndo obscurecem, entretanto, a enorme contribuiga desses estudos que, na verdade, criaram a antropologia social. Através trabalho de campo, isto é, dos estudos ‘in loco’, as tentativas de compreend as diferentes formas de pensar puderam pela primeira vez ser examinadas Veeedias:rovinia de Estudos Lingilsticos, Jute de Fora, vol. 1a" 2-p. Tha 88 Fancionalisme © alternativas validas, sem a postura etnocéntrica do pesquisador: O nem trobianés pode ser comparado em condigdes de igualdade com o Iropeu. Abriram-se as possibilidades de comparagao intra € interculturais. O funcionalismo na Lingiiistica As criticas que se fizeram ao funcionalismo na antropologia nfo se licam & lingiifstica, ja que os lingilistas sempre foram conscientes das srengas estruturais entre as linguas, nao tendo-se submetido & metdfora organismo biolégico. Desde os primeiros funcionalistas do Circulo ingitistico de Praga havia previsdo de mudangas. Além disso, os grupos ncionalistas mais recentes ja incorporaram em suas propostas o cabedal le conhecimentos adquiridos pela propria antropologia. Na direa da linguagem, 0 ponto central do enfoque funcionalista é 0 fato ‘ser a estrutura da gramética explicada como resultado de fungées de outras sferas, especialmente os niveis cognitivos.¢ comunicativos, © que se procura ostrar de que modo a estrutura gramatical espelha a situagdo comunicativa. A grande oposig&o epistemoldgica se coloca entre posigdes jonalistas e posigdes formalistas: De um lado, os funcionalistas pro- surando analisar a estrutura gramatical ¢ a situago comunicativa. De outro, formalistas, preocupando-se em descrever as caracteristicas estrutur natas (¢ por isso arbitrérias) da linguagem. Procura-se construir um modelo mal capaz de descrever os fendmenos gramaticais. Tal modelo acaba constituir 0 préprio objeto da descrigiio. Segundo os erfticos do forma- smo, tornando-se a linguagem mero material com o qual se argumenta em favor do modelo selecionado Entretanto, é preciso especificar com que conceito de fungao tra- tlham os lingiiistas funcionalistas, pois os termos “funcao” e “funcional” outilizados em acepgées diversas nas andlises lingiisticas e raramente m acompanhados de definigdes explicitas. Na segiio abaixo, destaco especialmente trés autores, Nichols (1984), Leech (1980) ¢ Dascal (1984), que propdem tipologias distintas para o ncionalismo. Em seguida, resumo brevemente os trabalhos de autores fancionalistas que, em minha opinidio, mais tém influenciado as pesquisas ingiiisticas no Brasil. Finalmente, apresento as diversas criticas que, por vez, tém sido feitas ao funcionalismo na lingifs 1. Tipos de funcionalismo segundo Nichols Num excelente resumo sobre esse assunto, Johanna Nichols (1984) dentifica cinco tipos de funcionalismo, dependendo do nivel proposto para Veredas: revista de Eaux Linglfstices, Juiz de Fora, vol pTlaan 74 Alvira Verthein Tavares de Macedo explicar o fato lingiifstico: |) fungao como interdependéncia, 2) fungao eo propésito, 3) fungéo no context, 4) fungo como relagio, e 5) fungia significado, Esses teriam um ponto em comum, que seria o estudo da lingu: em fungdo de outro dominio. Todas as estruturas lingiifsticas so investi a partir de sua inserg¢ao no 4mbito mais amplo da comunicagao. O primeiro tipo — fungdo como interdependéncia — inclui os t que estudam as interrelagGes ou covariacbes entre os fendmenos lingiif Assim, por exemplo, a atribuig&io de casos como o ergativo ou acusatil dependente da interagio entre fendmenos diversos tais como o contedd lexical, as relagdes de agente ¢ paciente, a ligagdo entre as cldusulas manutengao da referéncia. Vale lembrar que as varidveis interdependent sao hierarquizadas. Muitos estudos funcionalistas tratam da interpelag de fendmenos gramaticais. O trabalho sobre a concorddncia nominal, mostrar a interrelag&o entre a posigdo no sintagma e o grau de salil f6nica do item, estaria inserido neste tipo. O segundo tipo — fungdo/propésito — categorizaria as investigagt do uso lingiifstico com um propésito volitivo. Um exemplo desse tipo se 9s estudos dos atos de fala, tanto na perspectiva de Austin, quanto nad Searle, quando esses apresentam a lingua usada com a fungio de pedi admoestar, de ameagar, ou seja, visando a algum objetivo na comunicag As tipologias de fungdes da linguagem de Buhler ou de Jakobson tambén seriam enfoques da fungo enquanto propésito: fung&o informativa, fu fatica, fungao poética, etc. O terceiro tipo = fungdo/contexto — focaliza a relagAo da ling! com © contexto em sua acepeao de evento, ou cendrio extralingiifstico, @ ainda a relagao do uso da linguagem com o texto lingiifstico. Por exem as relagdes entre uso lingiifstico e “status” social dos participantes, 0 dos papéis na conversa, das categorias de polidez ¢ deferéncia set enfoques de fun¢do em relagao ao contexto enquanta evento. Pesquis sobre a organizagio da narrativa, sobre as marcas de coesdo ou sobre: continuidade do t6pico ilustrariam a segunda opsao, de texto enquan contexto. O quarto tipo — fungdo/relagdo — mostra a relagdo entre um di elemento € 0 sistema lingiifstico como um todo. As andlises que procul mostrar de que modo os sintagmas nominais codificam as fungées si de sujeito ou objeto, as propostas de como as formas podem codificar un determinada fungao tematica, ou de agente ou de paciente, ilustram ess quarta acepgio de funcionalismo, De modo geral, podemos dizer que estudo das fungées gramaticais tradicionais incluir-se-ia nessa acepga O quinto tipo — fungdo/significado — toma o termo “significada” sentido amplo. Estariam aqui classificados os estudos sobre pragmética comtexto, que agregam uma grande diversidade de categorias semantic Veredax- revista de Estados Lingisticos, Juixde Fora, vol. 10° 2-p. 71 a 88 Funcianatisms Vale lembrar que os estudos funcionalistas recorrem também a expli- s com base em fatores psicoldgicos e cognitivos, como facilidade de ssamento, armazenamento na memoria, etc., que sugerem um sexto de fungio - 0 funcional/psicoldgico. Além disso, ndo podemos esquecer que a fungdo pode ser consi- la em relacio ao falante (nesse caso fungao seria 0 uso volitivo ou ncional da linguagem para atingir um objetivo), ou em relacao ao ouvinte iamos entao, pela escolha de determinada forma, um efeito “nao volitivo” comunicagao), Fungao também é um termo que também pode referir-se ‘Categoria’ ou ‘estrutura da gramdtica’, no caso, ao “componente fun- al” da gramatica, em oposi¢ao ao componente fonoldgico, etc. Uma distingao importante nos estudos funcionais diz respeito a ionalidade da andlise. Em principio, pode-se partir do estudo da forma jara identificar a fungao ou do estudo da fungao para identificar a forma. Na pratica, no entanto, embora comumente defenda-se a tese de que a forma aestrutura seria decorrente da fungao, em geral, as pesquisas partem da ‘a para a identificagao de suas fungdes. . Tipos de funcion: jismo segundo Leech 1, Formalismo extremado: A linguagem é um sistema formal abstrato eas consideragdes funcionais so irrelevantes A sua investigacio. Nota: Evidentemente, essa seria a classificagdo dos trabalhos na linha gerativa IL Formalismo moderado: A linguagem é basicamente um sistema formal abstrato. As andlises funcionais devem buscar a relagao entre o sistema formal e 0 uso. IH. Funcionalismo formalista; A linguagem é constitufda de gramatica ¢ retérica. A gramiatica é definida como um sistema abstrato de regras para produzir e interpretar mensagens, en- quanto a retérica como um Conjunto de maximas que vio pro- piciar o sucesso na comunicagao. A gramatica pode-se adaptar as suas fungSes na medida em que ela possui propriedades que facilitam a operagio das méximas retéricas. (Nota: Nessa linha estariam os trabalhos de Tarallo, Kato et alii, 1992) IV, Funcionalismo moderado: A linguagem & basicamente um sistema de interagdo social; o seu estudo como sistema formal nao ¢ irrelevante, mas deve ser encarado em bases funcionais. (Nota: Trabalhos com essas caracteristicas seriam os Votre & Naro, 1989 e 0 de Halliday, 1977), por exemplo. V. Funcionalismo extremado: A linguagem é um sistema de interacao social; consideragdes formais so periféricas ou irrelevantes para Veredas: revista de Estudos LingGfsticws, lulz de Fora, vol. la" 2p. 71 a 88 7. J6 Alzira Verthein Tavares de Macedo a sua compreensio, (Nota: Aqui estariam os trabalhos de Givé do grupo de Santa Barbara em geral) 2.3 Tipos de funcionalismo segundo Dascal Dascal (1984) classifica o funcionalismo na lingiiistica com b cm dois nfveis: Se o que se deseja é explicar a comunicagao, terfamos funcionalismo social. Se 0 objetivo é explicar 0 uso da mente, teriamos funcionalismo mental. Nessa divisio, o trabalho de Malinowski, por exemplo, seria od um funcionalista social. J4 os trabalhos do Circulo de Praga estariam nut nivel intermediario entre o social e o mental (Mathesius, por exemplo, admite que, sintaticamente, como nem toda lingua apresenta a os sintagmas mesma ordem, Assim, se a ordem no se conforma aos principios prevista para o tema e 0 rema, a explicacdo deve ser buscada em termos de principio gramaticais ( Firbas 1974). Outros lingiiistas do Circulo de Praga preferet falarem “graus de dinamismo comunicativo” dos enunciados ¢ est: também enquadrados num tipo de funcionalismo entre o social e o ments Os funcionalistas do tipo mental estariam preocupados em descre* a fungao da linguagem na mente. Nesse enfoque, o sentido de uma expresso lingijistica seria derivado de sua fungdo no pensamento. Tal fungdo teria que ser determinada em relag&o a um esquema conceptual total. Assim, préria semAntica, enquanto uma teoria da fungdo cognitiva da linguagem, representaria uma tipo de estudo “funcionalista mental”. Note-se que a “fungao mental" proposta por Dascal representa mai uma possibilidade de se entender a nogiio de “funcao”. 3. Influéncias do Funcionalismo no Brasil Segue-se um resumo de algumas linhas funcionalistas que tém influenciado as descrigées do portugués no Brasil nas dltimas décadas: 3.1. O Funcionalismo de Praga Recordemos, inicialmente, em tragos gerais, o funcionalismo da Bs cola de Praga, criadora, na verdade, dessa linha na lingiiistica. Jéem 1928, lingiistas como Mathesius e Havenek viam a linguag no texto com pardmetros funcionais (fungao/propésito ¢ fungdo/contexto). O grupo de Praga também investigou a interdependéncia entre os elementos Veredas: revista de Estudos Linglisticos. Juis de Fora. vol. 1,9" 2 =p. 71 a 8 sistema e acabou por ser talvez até mais reconhecido por suas carac- isticas estruturalistas do que por sua contribuigéo funcionalista (Havr- nek, 1932). Os lingilistas de Praga consideraram as fungdes da linguagem — ssiva, conativa referencia, bem como elaboraram a nogao de fungao no itexto; As noges de tema e rema foram propostas nesses primeiros estudos, enfatizaram a necessidade de explicarem-se as formas no contexto. Na relagdo forma-fungiio, os lingilistas de Praga j4 mostravam, por plo, o plurifuncionalismo: pode haver uma relagao biunfvoca entre forma fungiio, (monofuncionalismo), pode haver a equivaléncia funcional — com ‘uma fungio sendo comunicada por vérios meios, ou o plurifuncionalismo, um meio ec varias fungdes. Essas possibilidades explicam os fendmenos sinonfma ¢ homonimia ou. polissemia, que acabam originando as mu- ‘dangas. Com os conceitos de fungao introduzidos pelos lingilistas de Pra- ga, foi possfvel dar conta, tanto do cardter dindmico da linguagem, quanto do seu cardter sistematico. Nota: No Brasil, os trabalhos de lari seguem a linka ddo funcio- nalismo de Praga (Hari, 1986) 3.2. O funcionalismo de Bolinger O trabalho de Dwight Bolinger (1968) deve ser lembrado por sua contribuigdo, no contexto da lingifstica americana, ao trabalho de funcionalistas atuais como Robin Lakoff, Gumperz, Chafe, Fillmore, autores " gue, mais diretamente, vém influenciando os pesquisadores brasileiros). Bolinger, 1968 salienta, por exemplo, como a entoagao ¢ a linguagem gestual esto envolvidas em niveis mais amplos da comunicagao, ressaltando as relagdes entre a entoagio de tépicos ¢ comentarios. O autor menciona os chamados “sinais de tréfego ou operadores” para certos itens discursivos & defende uma correspondéncia biunivoca entre forma e fungao, preocupa-se com as nuances sem{nticas no uso das formas em varios contextos: Mostra, por exemplo, que existem motivagées pragmaticas para a escolha de nomes versus pronome em varios contextos, num trabalho de vanguarda no cendrio da época.em seu pais. 3.3. O funcionalismo de Halliday Outro representante importante ¢ original da retomada do fun- cionalismo, desta feita na Inglaterra, é Halliday (1967; 1968). Halliday propde uma gramética voltada para a organizagio das mensagens em sua Veredax: revista de Estudos Limguiaticos, Jute de Fora, vol. 1, a*2=p. 7h a aR 7] [Altira Verthein Tavares de Macedo fun¢@o comunicativa, Influenciado pelo britanico Firth, cuja obra dat de 1934, jd apresentava nessa época a concepgao de que € o uso-da ling’ que Ihe confere o significado. Halliday defende que a estrutura da Ifngua deriva de sua fun chamando ateng&o para trés fungdes da linguagem: ideacional (expres das relacdes légicas), interpessoal (expressio de papéis, atitudes participagao na situagao de fala) e textual ou metafungao (organizagio discurso). Na classificagio de Nichols, seu enfoque seria o de fut propdsito. Um quadro ilustrativo abaixo, mostra como esse autor analisa, oragio, as insténcias de transitividade, predicagao, tema e informagao: a) No sistema de transitividade (componente referencial (1967): ideacional(1977)): Joao estava jogando a bola causador/ator processo afetado/objetivo b) No sistema de predicagdo (componente légico - 1967-68, ou ii cional (1977): Joiio estava jogando a bola sujeilo predicado c) No sistema tematico (componente discursivo -1967 ou tex! (1977): Joio estava jogando a bola tema rema d) No sistema informacional (componente discursivo ou textui Joao estava jogando a bola dado novo Além da gramatica funcional acima mencionada, Halliday, jum com Hasan (Halliday & Hasan, 1976) introduzem, num estudo sobre formas de coesdo no texto, a nogdo de “tessitura” do texto, num tipo abordagem que seria também de natureza funcionalista, do tipo fun texto, na classificagao de Nichols. 3.4, O funcionalismo de Givén Givon, em On Understanding Grammar, de 1979 apresenta manifesto contra o formalismo inatista chomskiano ¢ pode ser tomado ce representante de um funcionalismo mais extremado. Ali Giv6n rej Weredas: revista de Estudos Linglisticus, Juis de Fora, vol. 1, 0® 2p. 71 a 88 Funcionalismo totalmente que as estruturas lingiifsticas nos sejam dadas a priori e busca parametros explanat6rios de natureza cognitiva e comunicativa para explicar ‘as estruturas lingiifsticas (fung’o/psicoldégica, fungao/texto, fungao/propésito ¢fungao/evento). : Mais recentemente, esse autor se mostra menos radical, admitindo, pelo menos, a pré-existéncia dealguns elementos estruturais (Givén, 1991:2). Giv6n tem tentado criar um modelo funcionalista, atendo-se cada vez mais a um grupo fixe de fungdes: aquelas de ordem cognitiva, como a marcagao ¢ a iconicidade, de um lado, ¢ as de ordem comunicativa, como o ‘grau de transitividade, a relacdo figura-fundo (plano), 0 grau de topicidade (informatividade) e 0 contraste, de outro. Para fundamentar suas propostas, esse autor usa imimeros fenémenos ‘¢m linguas indigenas norte-americanas, linguas da Africa ¢ da Nova Guiné, que ilustram translinguisticamente as fungdes mencionadas, ‘A influéncia de Talmy Givén tem sido decisiva nos trabalhos fun- cionalistas no Brasil. 3.5. O funcionalismo de Chafe, Thompson, Lie Hopper Outra influéncia marcante nos trabalhos brasileiros é a do grupo de lingUistas da Universidade Santa Barbara: Wallace Chafe, Sandra Thompson, Charles Li, Paul Hopper entre outros, os quais podem ser vistos como discipulos de Givon, Esses pesquisadores também procuram mostrar que os fendmenos formais sao decorrentes de fatores do contexto. Chafe, jéem 1970, havia publicado seu livro de seméntica, o qual revela influéncia dos lingilistas de Praga, bem como de Bolinger, Nesse livro, propunha o enfoque da distribuigdo velho-novo no discurso, com atengao especial para a entoagio. Li & Thompson (1981) propdem a classificagao das linguas de sujeito- as que gramaticalizam a fungdo sintatica de sujeito, ¢ linguas de t6pico, as que tém a nogdo discursivo-pragmatica de tépico como proeminente. de Li e Thompson (1976) a primeira gramdatica funcionalista,ou seja, a primeira aplicacao em larga escala de uma descrigdo funcionalista que vai _ da estrutura para a fun¢ao. Hopper & Thompson (1980) defendem a hipétese da transitividade como um conceito de natureza escalar ¢ discursiva, frute da covariancia entre dez parimetros: os participantes, a agiio, o aspecto, pontualidade, volicionalidade, afirmagiio, o modo, a agentividade, o grau de afetamento do objeto e a individuagdo do objeto. (Nota: No Brasil, 0 trabalho de Eunice Pontes sobre o sujeito em portugués é baseado na proposta de Thompson). Veredas: revista de Estudos Linglisticos, Juiz de Fora, vol. 1.2 p. 71a 88. 7 80 Alzira Verthein Tavares de Macc 3.6. O funcionalismo da sociolingiiistica variacionista Os trabalhos realizados no ambito da variagdo lingtifstica com- partilham diversos aspectos funcionalistas. Em primeiro lugar, essa proposta nega a dicotomia entre competéncia ¢ desempenho, jé que o desempenho, embora varidvel, seria também sistematico e, portanto, explicavel, tanto em termos estruturais, quanto sociais. Além disso, nesses trabalhos, os fenémenos varidveis que tém sido estudados, sio sempre descritos em termos de outros niveis Labov (1966;1972), criador e maior representante da sociolingiiistica variacionista, 56 admite o estudo da linguagem a partir de dados reais, observados dentro do contexto social. Para explicar a homogencidade na heterogeneidade na lingua, desenvolveu uma metodologia quantitativa para medir a atuagdo de fatores sociais e lingiifsticos. A grande contribuigao deste enfoque € o seu poder de previsibilidade: através da andlise quantitativa, seria possivel fazer uma previsdo do que tenderia a acontecer, identificadas as variaveis. © tipo de funcionalismo laboviano poderia ser descrito na clas- sificagdo de Nichols como fungao/evento, fungao/texto, fungdo/propésito) e fungdo/significado. Seria um tipo de funcionalismo moderado, que parte da forma para descrever as fungoes. Em seus trabalhos iniciais, Labov formulava as regras varidveis adicionando-as ao aparato formal gerativista das regras de transformagao, (nesta fase seria talvez um funcionalista do tipo “moderado” segundo Leech, j4 que admitiria a estrutura lingiifstica como sendo preexistente ao seu comunicativo. Nos tiltimos 30 anos, no entanto, o trabalho de Labov tem sido revista ealterado. Seu enfoque permanece caracteristicamente na exigéncia de qi a lingua seja estudada no contexto social, com explicagdes oferecidas se gundo pardmetros que podem estar fora da estrutura lingii(stica. Nota-se , porém, que, ultimamente, Labo vem relativizando a for da contribuigao funcional (no sentido de explicar como quais os fate facilitam a comunicag&o) e reavaliando a forga da contribuig&o purament estrutural ou “mecfnica” para explicar de uma série de fenémenos. Sio objeto de critica as explicagdes funcionais vagas ou pouco fundament: que remetam simplesmente para as “intengGes do falante” sem comprov; independentes, ou que criem fungdes ad hoc para explicar os dados outro lado, apresenta resultados de estudos que confirmam a fora “estrutural” ou “formal”, isto é, usos que parecem condicionados por fat mecanicos, que nada teriam a ver com a “necessidade de facilitar comunicagao”, esta sim, uma explicagdo funcional (Weiner & Labov, 1983). A titulo de exemplo, citem-se as formas em estruturas paralelas que podem manter-se , mesmo em prejuizo da economia ou eficiéncia na comunicag Veendas: cevista de Estudos Lingusticas, Juix de Fora, wal. n° 2 =p. 71 a 88 Fancionalisn De qualquer modo, no entanto, mantém-se a proposta inicial de identificar, ou mesmo prever, o que probabilisticamente tende a acontecer em fendmenos varidveis, com base no contexto. Tao importante quanto 0 trabalho de Labo, ¢ certamente mais _explicito quanto as etapas propostas pelos funcionalistas para o surgimento da gramética a partir da pragmitica € 0 de Gillian Sankoff (1980). Foi dela 0 primeiro estudo a situar, em termos atualizados, a nogio de “grama- ticalizacgdo”, demonstrando as etapas da mudanga de uma forma discursiva em pronome relativo no Tok Pisin, lingua da Nova Guiné que surgiu como um “pidgin” ¢ evoluiu para uma lingua crioula. As linhas funcionalistas acima listadas sd0, em resumo, as que considero mais influentes nos trabalhos no Brasil. (Nota: Muitos autores funcionalistas importantes poderiam ainda ser citados, especialmente os participantes do chamado Circulo de Praga, por seu pioneirismo. Remeto o leitor ao trabalho de Dirven & Fried (1987) para referéncias bibliogrdficas mais completas sobre as varias linhas de funcionalismo em lingtitstica. Além desses, autores como Garcfa (1975), Hyman (1975), Foley & Van Valin (1984), Silva-Corvalén (1982; 1983), Kuno (1982), Dik (1989) tém influencia menos marcante sobre os linguistas brasilciros, mas devem, entretanto, ser citados como representantes do enfoque funcionalista. Mais recentemente, os autores a linha da gramaticalizagéo podem também ser inclufdos como funcionalistas. Para linhas mais recentes da gramaticalizacao, remeto o leitor para os trabalhos de Hopper & Traugott (1993), bem como os de Martelotta, Votre ¢ Cezario (1996). 4. Criticas ao Funcionalismo O funcionalismo, como qualquer modelo lingiifstico consistente, tem recebido erfticas dentro da propria lingiiistica. Passo a examinar as mais constantes: a) O funcionalisme nao constitui um modelo. Entre as raz6es dessa critica estaria a falta de um elenco de pari- metros fixos -um conjunto de fungées reconhecidas por todos a partir de argumentos fortes. Sem este conjuntos de fungdes bem fundamentedas, estuda-se cada fenémeno lingiifstico e, em seguida, procura-se uma razio especifica para a sua ocorrénci A resposta a esta critica seria o esforgo de Givén em firmar esse conjunto de fungoes. Vemdas: revita de Estudos Lingaisticos, duis de Fora, vol i.n"2

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