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. IS Vilem Flusser. 4 . Como explicar a arte. (Gabriel Borba, Galeria Paulo Figueiredo). ; (1) Explicar a produgio. (Pelestra de 28/10) © homem armazena informagoes sdquiridas, e procura transmit{-las e outros no / mens. Dois problemas diferentes esto involvidos nisto. 0 arrazenamento involve ui | reprocessamento das infornagses, Jé que estes deven ser adavtadas 2 estrutura do ar nazen ¢ as informagbes j6 arnazenadas. A transaissio involve a expresso da informe fio processada a partir do armazen, © sua impreasio codre un objeto que sirva de me~ dium rumo eo,outro. Tais dois problemas caracterizam toda produgao, e, com caracte-| risticos espec(ficos, também a produgSo chamada “arte”. 0 problema do processamento} (© qual resulta em informap%o nova, se tiver sucesso, ¢ conhecido sob o termo mistifi= cador de “criatividade’. £0 probleme da expressdo-impressao, (o qual resulta em "ob ra’), & conhecido sob o termo igualnente mistificador de "produtividade". tarefa da crftica desmistificar tal "aura" que encobre os problemas. ‘A complexidade do armazem para informasdes adquiridas, (@ menéria), faz com! que o processamento seja processo mal comprendido e dif{cilmente analizavel. 0 corpo inteiro funciona como armazem: a pele por exemplo armazena feridas adquiridas, sob a forma de cicatrizes. Sem divida cabe ao sistema nervoso, e sobretudo ao néo-cortez, fungio armozenadora preponderante. Nas grande parte das infornasées, a parte mais interessante, é adquirida sob forma codada. De maneira que a mendria deve decifra~ jas antes de poder armazend-las. N&o se conhece ainda bem 0 método pelo qual o cé- rebro executa tal deciframento, embora 0 nosso conhecimento esteja progredindo. = \pois prudente, no estagio atual do nosso conhecimento, de deixar o probkima do pro- cessamento, da "criatividade", em suspenso, mas de insistir, nao obstante, que foda atktude glorificadora da criatividade somente poder obstruir o caminho de compren- sao do problemas Mas uma coisa pode desde ja ser afirmada: 0 processamento nao € independente da expresso, a “criatividade nao € independente da “produtividade: Se @ verdade que, para imprimir informagao sobre objeto, devo tela processado, ndo € menos ver- | Gade que processo informagées em funsdo de determinado objeto a ser por mim informa~ do. Com efeito: o feed-back entre processamento e expressao corre em dois sentidose Adquiro as informagdes codadas em fungio de determinados objetos, (livros, quadros, paredes de edificios, vibracdes sonoras). = as adquiro em fungao de outros objetos a seren por mim informados, (fitas de filme, papel brenco, bléco de marmore, o ar que posso fazer vibrar falando). De modo que a consideragao do problema de expressao ode langar também alguma luz sobre o problema do processamento. EG, Y o encontrar-me no mundo, encontro-me cercado por objetes que me barram 0 ca~ minho. eu caninho ce dirige runo 2 minha morte. Os objetos tapam minha morte. He outros no mundo que estGo caminhando como eu. Reconhego-me neless Se pudesse cami- har junto con eles, poderianos, juntos, fazer face & morte. Depois da minha norte haveré sempre um outro que poderd armazenar na sua memoria minha passagem pelo mun- do. Serei imortel na menéria dos outros. aos outros. De maneira que preciso modificar os objetos para que deixen de seren 5 06 objetos barram meu caminho rumo parreiras, e passen a seren nedia de infornagtes entre mim ¢ os outros. Precise imprimir informagéo sobre os objetos, afim de torna-los transparentes para 0 outro. © notivo da expressio, da "produtividade", @ minha inortelizegso na menéria do outros a2e Os objetos que me cercam, e que devem ser transfornaios de barreiras em mediagoes, resistem ao meu esforgo. Sa0 inertes. inereia objetiva, a "perffe Gia da materia", & extremamente variada: cada tipo de objeto opve resisténcia es- pec{fica 20 meu esforgo informader, exige estratégia espectfics para ser venci- des A fite ffimiea rasgay 0 bloco de marmore rachay © algod%o cede, o ar ecda. cada tipo de objeto desaffa, a sua maneira, a minha inteng&o de transpassi-lo afin de slcangar, através ele, 0 outro. Tais desafkos provocam o meu interesse pelo ob- jeto. as provocasses dos objetos sao como que vézes que me chanam 2 dosinar 0 ob- jeto. B tais vézes encontram @co no meu especifico estar-no-mundo: hi pesSoas que responden & provocagio da fita f{imica, outras » do bldco de marnore, mais outras 3 da folha de papel branco. A "vocasko" de uns ¢ informar fites, de outros bidcos, de mais outros folhas. F tdo forte @ a vocwo, 0 co-vibrasio da existéncia humena con determinado tipo de resisténcia objetive, que a vida téda passa 2 se concentrar sobre ela. Tédas as minhas vivéncias, desejos, sonhos, pensamentos, sofrimentos ¢ atos passam a sar a fita, o bléco, a folha por centroe a medida em que tal luta minha contra a resisténcia de determinado tipo de objeto vai progredindo, vou esquecendo minhs intense original de transformar 0 ob- jeto en modiagao com © outro. 0 objeto passe a fascinar-me, Guero conhecé-lo sen- pre melhor, tanto gracas a minha prexis, como com a ajuda de teorias. “"Realizo- me" na luta com o objeto. De maneira que, subrept{ciamente, nao mais viso imorta~ lizar-me na memria do outro por intermédio do objeto, mas viso » imortalidade no préprio objeto informado, na obra. Engajo-me, nao mais no outro atravéz a fita, mas na proprie fita. Desta maneira gue 0 conjunto dos objetos informados, 0 con- junto da cultura, passa a constituir especie de memoria objetiva, armazenadora das infornagSes adquiridas pela humenidade no curso dos “itinos dex ai anos. Mas tal inversao do interesse existencial de inter-subjetivo em objetivo a0 estruture apenas a expressao da informarao, mas igualmente o seu processamento. Na nedice on que vivo en funylo do objeto, parte apreciavel das infornasSes saguini- des por mim proven do proprio objeto a ser inforaado. so informagces relativas nos ceracteristicos da fita {1mica, aos caracteristicos cristalinos do marnore, gos carecter{sticos da lingua que vou querer inscrever na folha. Hm outros ter- nos: a¥o informagdes que vou eprendendo © comprendendo na medidajue vou manipuc Jando 0 objeto. E tais informagdes sdo processadas para permitir estratégia sen- pre mais eficaz na lute contre o objeto. De maneira que, co longo do feed-back entre a minha intengao de infornar o objeto e a resistencia que o objeto ae opoe, you processando os dados adquiridos em fungao da expressao, ¢ vou exprimindo em fungdo da aquisisao de mais dedos, Este o significado de célebre afirmapdo que © tena de tédo poema € poona precedente, ¢ seu proposito & poema subsequente. © que acabo de esbopar & a historia da cultura enquanto produgéo de obras. Simpl fcitamente tamben a historia da agiisigao de informagdes pele humanidade, por certo: » histéria de cultura art{etica, a da produgo das obras de arte, © copftulo de tel histdria geral, © requer considerasao mais "especializada”. informago impresea sobre obras de arte é de tipo diferente da impressa sobre obree cientificas, (tratados, instrunentos), ou obras polfticas, (instituisces, tal eapecificidade da producko artistica nao deve leis, estados). No entanto ee : 3+ - + (1) todo objeto menipuledo pelo ho. ser exagerada. Por duas razdes complementare: mem passa s ser portador de informacoes epistemoldgicas, polfticas e ertfsticas, ja que estes trés tipos de informacdo se co-implicam. m sentido amplo, téda obra e ob- ra de arte, seje ela uma teoria cientifica, uma instituig&o polit: ce ou uM qurdro. (2) A disting&o entre ciéncia, polftica e arte refere-se apenas as obras ocidentais aodernas, ¢ & inoperativa, se aplicada As denais culturas. 3m tal sentido nio ha obras de arte fre do Ocidente moderne. De maneira que a explicapio sugerida da produgio humana em geral, 6 aplicavel, sem mais acréscimos, a produgso das obras de arte. E pode ser resumida da seguinte forma: ObrassS0 produzidas pela impressao de infornagdes adquiridas e processadag sobre objetos, com a intengSo original de guar darem tais informacées para outros, e com a intengho adicional de serviren de arma- zens de informagdes a proprio titulo. No entanto, tudo que acaba de ser dito deve ser repensado sob s luz da re- volugio dos meios de comunicagao atualmente em curso. Tal revolugao, (também co- nhecida sob a denominagao “segunda revolugao industrial), consiste, no fundo, no seguinte: Zat®o sendo elaborados métodos que permite imprimir as infornagses ad- quiridas sobre objetos tao efémeros que nao mais merecem o nome "objeto", (por ex- emplo fotografias, imagens televisionadss ou cartoes perfurados). E estado sendo e- laborades memorias artificiais aptas de armazenar as informagoes contidas em tais objetos efemeros com fidelidade e capacidade superior ‘as das memorias humanas, (vor exemplo computadores, videotécas ou microfilnes). Trata~se de revolusée de impacto Zo profundo que suas consequencias futuras ainda néo foram concientizadas. Na situagZo anterior & atual revolugdo os objetos fascinavam, absorviam o interesse, porque era preciso passar por eles,afin de alcangar o outro. tualmen- te 0 outro pode ser alcangado gragas a media quase nio-odjetivos, e os objetos po~ dem ser desprezados. Na situagso anterior a atual revolugao o objeto informado, a obra, se constituiu em meméria rigida, entreposta entre o expressor e o receptor da mensagem. Atualnente as menérias artificiais sao eldsticas e podem ser reprocessa- des tanto pelo emissor quanto velo receptor da mensagem. 5 tais memorias artifici- ais, de mais em mais miniaturizadas, eficientes e barates, poden ser instaladas en nquines que imprimen as informagtes guardéé nas menorias sobre objetos em series estronémicamente grandes, e que o fazem autonaticamente. De maneira que, atualmen- te, os informagdes adquiridas podem ser procescadas "imediatanente” en mendrias ar- tificias,e trancmitidas "quasi imediatamente" as mendrias dos outros; e a expressao de tais informagdes pode ser relegada as maquinas e aos aparelhos. A "criativida- de" esta se divorciando da "produtividade". Uma das consequencias disto 6 0 desprezo pela obra. A obra ¢ desprezivel, por ser desnecessaria para a transmissao da mensagem, e por ser produzfvel automa- ticamente. A obre se desvaloriza, passa a ser gadget, (caénta plastica, casa pre- fabricada, fotografia autom4tica, opiniao pol{tica pré-fabricada). "Cultura da mas- sa isto. 0 desprezo de obra implica desprezo da produgao e de propriedade de objetos. 0 “operdrio" ¢ 0 "proprietario dos meios de produsao" passam » ser formas de vida ultrapassadas. 4 obra vai sendo vivenciada como objeto a ser consunido ré- pidamente, até que se gaste a informagao nele contida, j4 que o “original” de tal informagao est& guardado alhures, (na memoria do aparelho). : a, - ¢ Gutra consequencia da stual revolugao e a concentragao do interesse sobre © processamento das informagoes, sobre a "criatividade". Libertado do necessidade de vencer a inércia do objeto a0 seu esforgo de expressar informagoes, 0 homem po- de concentrer-se sobre as estruturas da informagao, as regras que ordenam 0 arma~ zenanento des informagdes, ¢ estes passam a ser o seu “objetd: Libertado da neces sidgde de analisar e sintetisar objetos, o homem pode passer a analisar e sinteti- sar dados. Libertado da necessidade de marteler pedras, o homem pode passar a mo- delar sistenss. A sociedade posterior 2 revolugdo atual, a sociedade "pds-industri al", seré sociedade desinteressada em producdo e propriedade de objetos, e interes- sada na elaborapzo © no ammazenanento de informagies novas. 4 "moral de produgao e do armazenamento de bens" serd substituida por "morel comunicativa”s Mas seria prematuro querer deduzir que tal socie@ade future seré mois proxima da utopia que a nossa. que néla o interesse existencial se re-inverters, @ passore a ser inter-subjetivo. Podemos desde jé observar os primeiros sintomas da socieds- de futura: abandono da moral de produgéo e da propriedade, invasao da cena por ob Jetos sem valor ostereotipados, consumo febril de teis objetos, interesse voraz por informagdes trenonitidas por media efémeros, e instalagao de menérias artificiais a armazenaren as informagoes emitidas. Pois tais sintomas sugeren que a libertagio do homem da tarefa produtora, e a relegagdo de tal terefa sobre aparelhos automaticos, ngo resulta necessariamente em sociedade dedicada Ge criatividade. Que a superagao iado e da burguesia, nao resulta necessaria- do operario e proprietério, do proleta: mente em sociedade emancipada da divisao do trabalho, em sociedade mais "socialis- tal, Pelo contrario: os sintomas sugeren que a libertasao da tarefa produtora pode evar & vida progranada, © @ suverssio do proletariado © de vurguesia pode lever a sociedaie de funciondrios progranados. Ndo & inter-subjetividade, portanto, mas a transfornagzo do hones en objeto. enquanto jogo com informagoes wiquiridas, ao exteriorizer-sey ao passar-se em mené— ries artificiais, passa s adquirir carater mecanico e calculével. Se me emsncino da neceasidade de manipuler objetos, © passo » processar infornagces como un Jogo, nao estou, a rigor, "criando", mas "programandol E se nao mais processo as infor- aogdes om fungio de determinado objeto, fago-o ea funsGo de determinsdo progrena. De maneira que a superapso da produgao pode levar a transformapao da “criatividade” en programagao de menorias artificais, pare que estas progranen aparalehos a infor- maren objetos, inclusive os objetos "honen" ¢ "sociedade". de maneire que a situsp¥o atusl parece querer abrir duzs slternativas: a0 emancipar-nos da necessidade de produzirmos, pode libertar-nos para criatividade por Gra inimaginavel, como pode transformar-nos em robés programados, Isto por certo 6 desafio a ser ponderado tedricamente e a ser enfrentado pela praxis. Quer ue parecer que, até agora, pouces oe noctran § alturn do aesaffo, provdvelmente por- que as alternativas abertes sao ambas diffckis a serem inaginades. Mas ¢ precisa~ mente em tal contexto que devem ser vistas as atuais "produgdes artisticas", quer sejan experiencias para digerir a desvalorizagao da obra, quer sejem, pelo rio, tentativas para preserver a obra do desprezo que a ameagas Ss ‘ilem Flusser. 4 Como explicar a arte. (Gabriel Borba, Galeria Paulo Figuereido). icao. (Palestra de 30/10) antes de explicar cono sdo distribuides os mensagens art{sticas, ¢ preciso con- siderar porgué precisam ser distribuides. A necessidade ressentide pelo artista de fazer con que sua mensagem atinja um "piiblico", e a necessidade, (muito menor), res- sentida velo "pblico" de receber mensagens artisticas, ¢ problema muito curioso, ¢ sua considerago revelers aspecto caracterfstico da situasio presente. Com efeito: © problema nao existiu em épocas anteriores ao Renascimento, ¢ nao existe em cultu~ ras ndo ocidentais, pela simples razio que nao ha, em tais cultures, "arte" ser ou no ser distribuida. Wem hi "piiblico" que possa receber suas mensagens. Por certo: o homen ente que articula suas vivencias pare que sirvam de modelo a outros homens. Neste sentido wéo apenas hé “arte” em téda cultura, como nfo ha ho~ non que tio fage "arte". ting o tonew & ente que nso pode vivenciar sem conhecer valorar o vivenciado. Nao ha vivéncia “puramente estética", téda vivencia involve epistenologia © ética. Toda arte involve cigneia ¢ pol{tica, como téda polftica in- volve ciéncia e arte, e toda ciéncia involve politica e arte. a arte é um método de conhesiaento ¢ de sotiticasie do munios cone « cidncin un nftodo de aoassicer « vivgncia e 0 mundo, © cono a polftice ¢ um aétedo de modificagio da vivéneia e do conhecinentos Neate sontice tudo gu o honem fea, soja ectbtus, fess ov Teiy oer thoulagio de vivdneia, conhecimento ¢ valor, ¢ neda disto @ "obra de arte" no sen- tido ocidentel moderno do terme. is sociedades "ndo-nodernea! viven culturaiaente, iste : rio), @ 0 lugar da eleborscZo de i egdes a serem publicades. Ea prapa do mer- teis infornegdes a0 cado ¢ 0 lugar da troce dus inforaagSes publicadas, éo quel zides para casa, afim de serem processades e trsnsfornadas em informagSes novas. dustriel nao afetou tal estrutura fundemental, estabelecida no Primeira revolug3o in c-privado". neolitico, e que imprime sobre a vida a dindmica da dial! Vive-se no privado em fung30 do publice, e no 2 cons ciéncia infeliz hegeliana ¢ isto. trutura da cidade. Zsta abolindo a 2 0 piblico e 0 urivado. = isto esté acontecendo por dois metodos convers De um lado o esvage vublico vai sendo publicizado. 4 privati sendo privatisado, do outro lade o esvaco vrivade v: zapio do espago publico se vrocessa pela ocupacéo de todo esrago siiblico por aparel~ hos emissores de informecSes vrogramadas. Licizas#o dos espacos vrivados se processa pele invasio de todo especo privado pelas inforaastes destarte irradiadas. ), vai abolir a oscilasio en- A cidade pés-industrial, a cidade de fios, (wired cit, tre o espago publico e o privado. Vai instalar, no lugar do espago publico e dos espapos privados, rede comunicativa. 0 cidaddo vai passer a ser ponto indvel ne rede, sobre o qual vao incidir informagdes de tédo tipo, vindas de aparelnos in- stalados @ toda parte, es partir do qual vao irrediar informapoes afim de ali- mentar os aparelhos. Tsl cidade, na qual portas e janelas vao ser substituidas por fios, (poss{velmente de vidro), vai reformular a conciéncia humane. 4 conci do superada. @ncia infeliz hegeliana vai ter a ‘ois em tai contexto novo, que estd se delineando desde ja, (e nso apenss ra Geliforniss 2 relagio entre o ertista e 2 cidade deve ser renenseda "ab ovell. E deve ser repensads em termos novos, aos quais einda nao estamos acostumados. + saber em termos que procuram captar reelidade polf{tico-sociel vara a qual nfo pose suimos modelos. De maneire que todos os nossos modelos tradicionais, (os gregos, os cristaos, os marxistas, os ditos "existenciaid), devem ser abandonados, e deve ser feito o esforgo penoso de visaracs terra incognita sen disporaos nen de biaeo= le nem de mapa. Longe de tratar-se de repisar lugeres conuns, trata-se de abrir- mos veredas em mata a ser desbravada, © termo chave & 0 de "programa". . cidade pos: industrial sera sistema programado no seguinte sentido: Informagdes serao recolhides nos pontos de cruza- nento dos fios, pontos estes ocunades pelos cidadSes do future. Tate infornasee is ma sergo processades nos centros da programapSo, que serdo memries artifi: puladas por funcionarios especializados. Tais memdrias funcionarao em dois senti- dos. Num dos sentidos imprimirao es informasces processadas sobre objetos de con- sumo, que serao distribuides aos cidadGes por canais como remessas postais ou cor= rentes do tipo "chain séores". No outro sentido as memorias irradiarso as informa- 4 5 tos, sons, possfvelmente tic~ goes processades em forma de simbolos, (imagens, te: teis e olfSticos), por canais como a TV, cassetas ou discos. 1s informagdes dest- arte recghides serdo ror sua ve2 reorocessadas nos pontos de receppio, tais vontos de cruzamento de fios, e re-alimentadas rumo 2 rede. © programa sera pois sistema Fechado en feed-back, no qual as informasSes cizculario, sofrende permutarées com stantes. Na medida em que vai progredindo tal feed-back, (cuja repeticao do eter- namente o mesmo ser’ msscerada pelas permutacdes constantes), a intengao original dos programadores humanos do sistema, (seja ela a de vender produtos, seja de ma~ nipular a sociedade), vai retrocedendo da cena, e o vrocesso vai se automatizando @ autonomizando de toda future intengao humana. A vida vai se transformando em funcionsmento auton3tico em fungSo do prograna. Para captar o impacto de tal cenario terrificante, e preciso definir o termo "programa". 5 ele conjunto limitado, (embora possivelmente astronémicemen- te grande), de virtualidades que se realizam 20 acaso. Espécie de jogog de dados, no quel todes as combinastes pose{veis ce realizam necessérianente, na medida en que os dados sao jogados ao acasce 0 jogo do programa se inicfa por situagio de virtualidades irrealizades, e acaba em situasao de virtualidades realizadas. No al tudo & real mético tudo & possivel e nada é real, no f: infcio do jégo progr © tudo informepio, no final tudo & caos. e nada mais € possivel. Wo inf histéria ¢ a reslicagao de deterninado prograna. Permutepio de virtualidedes. A ria enquanto s5g0 cidade pés-industriel ¢ resultado da concientizaczo da histo programado, absurdo, 4 Segunda revolug3o industrial ¢ consequéncia da concien- tizago da estrutura da hist6ria, cono a Primeira ¢ consequencia da concientiza- pao ddestrutura a do mundo objetivo. © cenario acima esbopado da cidade futura comporte, no entanto, duas aberturas que permiten futurapo menos pessimista. Uma abertura ¢ a possibilida- de de fios transversais na rede, que liguem os pontos de cruzamento entre si, e FE nfo com os centres progressdores. 4 segunda aberturs € a experiéncie conerets ave obidadao continuaré tendo, apesar do sua insergso na rede. Grapas a primeire sber- tura poder haver dislogo de troca de informagces no progremadas que poderac esca- par ao processanento pelos centros. Cs sistemes a cabo em certes cidades anerica~ sey parecen querer augerir tal possibilidede. Grogss 4 segunda aberture informa pbes novas poden infiltrar-se na rede, enriguecer © programa ac ausentar a soma das yirtualidades a serem realizadas, e evitar que 0 jogo se esgote. © problema da relegao entre o artista e a cidede future tem a ver com esta segunda aberture. Por certo: 0 mundo codificado da cultura se substitui eo mundo da experi- ncia conereta, tapa tal mundo, e o faré ainda mais eficientemente, quando ¢ cul- tuza tiver sido cibernéticamente progrenada. No cbstante, jenais conseguirs’ ta gar 0 mundo da exgeridnes concreta totalnente, iGo 0 conseguize’ pela rasdo forael de sera experiéncia concreta jamais totalmente simbolizavel. © s{mbolo wade! a razao for o simbolo "amor" nio esgotam o significado da experiéncia concreta. Ta mal pode ser existencializada. 4 cultura jamais substi tuird o mundo dalexperien concreta, porque tode experiéncia conereta aponta 2 morte, e 2 morte néo & simbo- culturabilidade da exist@ncia huma- lizavel. E ela experiencia da solidio, da nao: nae Por tal abertura rumo 4 morte, por este seu concreto estar para-a-morte, a 2 que o homem existéncia escapard sempre 4 rede da cultura. Ze por tal abert pode trenscender sempre a cultura, para voltar para ela enriquecido de exverién- 1 abert! cia cohtreda. lien sequer a culture programads pode tapar pera 8 mors te, tal abertura religiosa no sentido estrite do terme. pola ¢ neste ponco de sberture que brota 2 arte, desde que o honen 6 ho~ nen, = brotaré tambon na cidade do futuro. © fezer artfstice senpre ten sido, © continuars sendo, un lamger-se osra £6ra da rede ds culture runo 3 sorte, ¢ un yoltar para a cultura carregade de exveriéncie concreta elaborada en modélo. & arte sempre tea sido, ¢ continuaré sendo, 0 Srgao velo quel o orgenismo da cul- cultura pas- tura sorve experigneia concreta. Mas Sbvianente, se o orgenisno & az atualnente, tal érgao sofrera, ele tambem, sez por mutagZo radical, cone 0 reformulapéo radical, a ponto de passar a ser irreconhecfvel. Ne yceusl revolupSe, » arte inprinia seus godeles de exgeri duets coserets sobre ob- jetoe, produsia obra. sia culture posterior & revolupho, na quel todos os aodelos cexzo impressos sutomaticamente sobre objetos vor eparelhos programados, tal fazer srfatice seria esforpo absurdo. Doravante » arte deverd iaprinir seus modelos cobre os progremas dos ayarelhos. A sua matéria orima nao mais ser 0 mundo ob jetivo, mas a cidade. Sera para = cidade, contra s cidade, @ sdbre a cidade que sta com a cidade serd mais o artista inprimiré seus mcdelos. « relapse do or prokiaa da sua relagdo anterior con 0 objeto que és sun relasio eaterior com = cidade. Néo relagdo mediate, mas relagao inediata. Se assumirmos por um instante tal visdo futurolégica da arte, verificaq ade” nao mais se apli- renos que as categorfas tradicionais ddrelasao "artistaq com, NZo mais tem sentido felar-se en "engajanento pol{tico e social", nen es Nohionapio eatética" do artiste. Mio & que arte © politicn oe confundam: 2 arte pestard a cubstituir-ce 3 pol{tica, a gual ago sais teré sentido en situasrcfes- vetizada. O artista seré o progranedor de cidade. Seré ele, ¢ nao 0 fildso- ets , Ad x, 2 fo, quem governardé a cidade, em oposigso ac que Platao profetisava. Porque sera © artista quem fornecerd as informagdes a seren processadas pelos centros progra- madores. Tais centros dependerso do artista, sob pena de cairem em entropis. De modo que @ cidade do futuro sera unica "obra de arte": os artistas estarao empe- nhados na produjio da cidade. Bn tese, todos os cidadSes serac artistas. A cida- de passare’ a ser a obra de arte dos seus cidad@es, e neste sentido criativo sera cera de consenso. Os centroa de progranagSo serdo s “razeo comun" ciberne te concebida. Néo Platao, mas Rousseau sera o padrinho de tal utopia. Se compararmos © cendrio terrificante da cidade futura de automago circu- Sr se compararnos pois o cenario do funcionamento com o cendrio do "1'imagination au pouvoir", poderenos melhor vislumbar a terra incdgnita dentro dq qual o problema jdade" deve ser pensado. Porque os dois cenérios que lhes da relagao "artista~ estou propbndo xio sac, na realidade, visdes do futuro. Sao os extremos do situ ago presente. Wa medida em que os artistas vio assumir, desde ja, a sua respon- sabilidade pela programaggo da cidade, serf 2 utopia que vai se realizando. = ne medida em que os artistas vao sendo transformades em funciondrios, ou vac versis- tindo na sus marginalizagao pela produpko de obras, seré o cendric territicente dade, a relaséo "artista-cidade" eo ponto nev- que vai se realizando. Wa atua, réigico da tendéncia rumo @ nova cidade. Numerosos artistas esto desde ja con- cientes disto, e hf homens polfticos pouco nuneresos, mais especialmente no novo regime francés, que estao despertando para isto. Os dois cenhrios devem pois ser vistos dialécticamente. Na medida em que os artistas vgo agindo sobre a cidade, esta vai Ines opondo resistencia inerte, ¢ na medida em que 2 cidade vai progranando modelos, os artistas vao sendo expulsos da cidade. Repito: tal dialéctica ndo mais pode ser captada pelas categories tra~ dicionais “engajamento-alienagao", mas peles categorias proprias da cidade de fies. nddo artista esté doravante engajado na cidade espontaneamente, pela sua proxisy que « cidade @ sus tihica materia pri- (e who por ideclogia volftice qualquer), p esté doravante empenhada na despolitizapso to~ ma. E t0da programapao funcion: talitéria, (qualquer que seja 2 sua ideclogia), porque estd’ expontdneaments en- penhada ne eliminagto de ruides. im situagSo na qual ngo mais hd espago publico para troca ae informaples, nex eszep0 srivade para a elaboreso de obras, = arte no novo significado do termo ¢ a nica polftice poss{vel, quer 0 sdmitam os honens poifticos ou néo, e quer ou nfo o adaitam os proprics artistas. Resunirei 0 que procirg transaitir-ihes nesta pelestra, ¢ nes precedentes, nos seguintes termos: Na situapso atual, aoa 2 Segunda revolugao industrial vai reformulando as nossas vidas, atarte se ve em encruzilhada. Ou continuard produ= zindo obres por aétodos artesameis e industriais, ambos tornados anacrénicos, ou seus modelos sobre os media cibernetizados. No primeiro caso ginalizeda, substituida pela pseudo-arte do Kitsch programado, passaré a excrimir sera sempre mais mar, ea cidade caira em entropia totalizante. No segundo caso posers vir a crier a pela cidade", a cidade na qual viver podera significer oper a criatividade huma- na 20 absurdo do mundo.0 futuro da cidade est na nao da arte.

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