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Capitulo 1 O Psicodiagnéstico Clinico na Atualidade O psicodiagnéstico esta recuperando-se de uma época de crise durante a qual poderiamos dizer que havia caido no descrédito da maioria dos profissionais da saiide mental. Considero imprescindivel revalorizar a etapa diagnéstica no trabalho clinico € sustento que um bom diagnéstico clinico esti na base da orientagao vocacional ¢ incomodado € devemos indagar a verdadeira causa disso. Fazer um diagnéstico psicolégico nao significa necessariamente 0 mesmo que fazer um psicodiagnéstico. Este termo implica automaticamente a administra- cao de testes e estes nem sempre sao necessarios ou convenientes. Mas um diagnéstico psicologico tao preciso quanto possivel é imprescindivel por diversas razies: 1. Para saber 0 que ocorre € suas causas, de forma a responder ao pedido com 0 qual foi iniciada a consulta. 2. Porque iniciar um tratamento sem o questionamento prévio do que real- mente ocorre representa um risco muito alto. Significa, para o paciente, a certeza de que poderemos “cura-lo” (usando termos classicos). E 0 que ocorre se logo aparecem patologias ou situacdes complicadas com as quais nao sabemos lidar, que vao além daquilo que podemos absorver, através de supervisdes ¢ andlises? Buscaremos a forma de interromper {consciente ou inconscientemente) 0 tratamento com a conseguinte hos- tilidade ou decepedo do paciente, 0 qual tera muitas diividas antes de tornar a solicitar ajuda. Para proteger o psiclogo, que ao iniciar um tratamento contrai auto- maticamente um compromisso em dois sentidos: clinico e ético. Do pon- to de vista clinico deve estar certo de poder ser idéneo perante 0 caso sem cair em posturas ingénuas nem onipotentes, Do ponto de vista éti- co, deve proteger-se de situagdes nas quais esta implicitamente com- prometendo-se a fazer algo que nao sabe exatamente 0 que é. No entanto, as conseqiiéncias do néo cumprimento de um contrato terapéutico so, em alguns paises, a cassacao da carteira profissional. - 6 Garcia Arzeno Por estas razées insisto na importdncia da etapa diagnéstica, sejam quais forem os instrumentos cientificos utilizados na mesma. Na obra “A iniciagao do tratamento" Freud fala da importancia desta etapa, 4 qual ele dedicava os primei- ros meses do tratamento. Coloca que ela é vantajosa tanto para o paciente quanto para o profissional, que avalia assim se podera ou ndo chegar a uma conclusdo positiva. Nao sou favoravel a idéia de dedicar tanto tempo ao diagnéstico, porque se estabelece assim uma relacdo transferencial muito dificil de dissolver se a decisao for a de nao continuar. Além do mais, dispomos na atualidade de todos os recursos descritos neste livro (e muitos outros) que permitem solucionar as davidas em um tempo menor. Vejamos agora com que finalidades pode ser utilizado o psicodiagnéstico. 1) Diagnéstico. Conforme 0 exposto acima é ébvio que a primeira e principal finalidade de um estudo psicodiagndstico ¢ a de estabelecer um diagnéstico. E cabe esclarecer que isto nao equivale a “colocar um rétulo”, mas a explicar 0 que ocorre além do que o paciente pode descrever conscientemente. Durante a primeira entrevista elaboramos certas hipoteses presuntivas. Mas a entrevista projetiva, mesmo sendo imprescindivel, nao é suficiente para um diag- néstico cientificamente fundamentado. Lembremos do que diz Karl Meninger, que foi diretor da Meninger Clinic (E.U.A) no preficio do livro de David Rapaport? Durante séculos o diagndstice psiquiatrico dependeu fundamentalmente da observa- ‘cdo clinica. Todas as grandes obras mestras da nosologia psiquiatrica (..) foram realizadas sem aajuda das técnicas de laboratério c de nenhum dos instrumentos de preciso que atualmente relacionamos com o desenvolvimento da ciéncia moderna. Tanto a psiquiatria do século XIX comoa da primeira parte do século XX, era uma psiquiatria de impre deimpres- sies colhidas gracas a uma situacao privilegiada: a do médico capacitado para submeter 0 paci ete exame, Mas esse exame & sua disposigao nao era de modo algum uniforme ou estavel: ¢ tampouco podria ter sido padronizado de forma que fosse possivel comparar os diferentes da- dos obtidos (..). Com oadvento dos modernos métodos de exami psicaldgico através de testes, a psiquiatria atingit a idade adulta dentro co mundo cientifico(...). Sem medo de exagerar pode-se afirmar que 6 0 campo da cigneia mental que tem tido 0 maior progresso relativo nos tiltimos anos, Meninger foi durante muitos anos chefe da Clinica que leva seu nome ¢ apoiou e animou a criacdo e 0 desenvolvimento dos testes tanto projetivos como objetivos. Cada paciente que ingressava na clinica era submetido a uma bateria completa de testes (T.A.T., Rorschach, Weschler e outros). Eu concordo ainda hoje com este modelo de trabalho, porque acredito que a entrevista clinica nao é uma ferramenta infalivel, a nao ser quando em maos de grandes mestres, ¢ dis vezes, nem mesmo nesses casos. =~ 0s testes tampouco 0 sao, Mas se utilizarmos ambos os instrumentos de forma complementar ha uma margem de seguranca maior para chegar a um diag- néstico correto, especialmente se incluirmos testes padronizados. Além do mais, a utilizacdo de diferentes instrumentos diagnésticos permite estudar 0 paciente através de todas as vias de comunicacao: pode falar livremente, dizer o que vé em uma lamina, desenhar, imaginar 0 que gostaria de ser, montar quebra-cabegas, copiar algo, etc. Se por algum motivo o dominio da linguagem ver- 1. Freud, Sigmund. La ini 1948, 2, Rapaport, David, Testes de diagndstico psicolégico. Buenos Aires: Paidos, 1959. cién del tratamiento, t. II, Obras Completas, Madrid: Biblioteca Nueva, Psicodiagnéstico Clinico- 7 bal nao foi alcangado (idade, doenga, casos de surdos-mudos, etc.) os testes graficos € lidicos facilitam a comunicacao. ‘A bateria de testes utilizada deve incluir instrumentos que permitam obter ao maximo a projegdo de si mesmo. Por isso, se pedimos ao paciente que desenhe uma figura humana, sabemos que haverd projecdo, mas muito mais se Ihe pedirmos que desenhe uma casa ou uma arvore, jé que cle ndo pode controlar totalmente o que projeta. Como disse antes, ¢ importante incluir testes padronizados porque nos dao uma margem de seguranga diagnéstica maior. Lembro 0 caso de uma jovem que foi consultar devido a fracasso escolar, impossibilidade de concentragao nos estudos ¢ dificuldades de compreensao. Con- siderava-se de baixo nivel intelectual. Apés ter solicitado a ela o Desenho Livre e 0 H.T.P., entreguei-lhe 0 pequeno caderno do Teste de Matrizes Progressivas de Raven. O mesmo da ao paciente trinta minutos para realiza-lo. Ela o fez em quinze. Eu observava as suas anotagdes e percebi seu excelente resultado. Por isso, quando a tarefa foi concluida, entreguei-he a grade de avaliacdo, para que ela mesma fizesse a correcao. Fizemos 0 calculo devido e buscamos a cifra na tabela mais apropriada 0 resultado final indicava um Q.1. superior 4 média. Ela ficou surpresa ¢ incrédula, mas os resultados eram irrefutaveis. Voltou 4 sua casa muito contente. Obviamen- te, essa nao era a solucao final do problema. Haviamos desarticulado um mecanis- mo através do qual ela brincava de “menina boba”. Agora era necessario estudar 0 porqué. Apareceu entdo (principalmente pela reiteracdo de respostas de ‘uma figura € a outra € 0 reflexo em um espelho”, no Rorschach) seu enorme narcisismo e seu grau de aspiragao de ser a niimero um em tudo. A ferida narcisistica por nao conse- gui-lo era tao terrivel que, inconscientemente, preferia ser “a burra” para nao se expor. Outro elemento importante que nos € dado pelo psicodiagnéstico refere-se 4 ao de transferéncia-contratransfere Ao longo de um processo que se extende entre trés e cinco entrevistas apro- ximadamente, e observando como 0 paciente se relaciona diante de cada proposta e 0 que nés sentimos em cada momento, podemos extrair conclusées de grande uti dade para prever como sera o vinculo terapéutico (se houver terapia futura), quais serao os momentos mais dificeis do tratamento, os riscos de desergao, ete. Porém, nem todos os psicdlogos, psicanalistas e psicdlogos clinicos concor- dam com este ponto de vista. Alguns reservam a utilizagao do psicodiagnéstico para casos nos quais surgem duvidas diagnésticas ou quando querem obter uma infor- macao mais precisa, diante, por exemplo, de uma suspeita de risco de suicidio, dependéncia de drogas, desestruturacdo psicética, etc. Em outras ocasides 0 soli tam porque tém davidas sobre o tratamento mais aconselhavel, se a psicanalise ou uma terapia individual ou vincular, Finalmente, existe outro grupo de profissionais que nao concordam em absoluto com este ponto de vista € prescindem totalmente do psicodiagnéstico. Ainda mais, oncedem valor cientifico algum aos testes projetivos. Alguns vao mais longe, dizendo que de forma alguma é importante fazer um diagnéstico inicial, que isso chega com o tempo, ao longo do tratamento. Ouvi isto de um palestrante estrangeiro durante um congresso internacional, ao que outro especialista replicou: “Entao 0 senhor comegaria com antibidticos e transfu- sdes de sangue, mesmo antes de saber qual 0 problema do paciente?” Acredito que todas as posigdes sao respeitaveis, porém devem ser funda- mentadas cientificamente ¢, até 0 momento, nao tenho encontrado ninguém que me demonstre, baseado na teoria da projecdo e da psicologia da personalidade, que os testes projetivos carecem de validade. relagé ci 8 Garcia Arzeno 2) Avaliagdo do tratamento, Outra forma de utilizar 0 psicodiagndstico ¢ como meio para avaliar 0 andamento do tratamento. E o que se denomina “re-testes” € consiste em aplicar novamente a mesma bateria de testes aplicados na primeira ocasiao. Havendo suspeita de que o paciente lembre perfeitamente o que fez na primeira vez e se deseje variar, pode-se criar uma bateria paralela selecionando testes equivalentes, como o teste “Z” de Zullliger no lugar do Rorschach. ‘Algumas vezes isto é feito para apreciar os avangos terapéuticos de forma mais objetiva e também para planejar uma alta. Em outras é para descobrir 0 moti- vo de um *impasse” no tratamento e para que tanto 0 paciente como o terapeuta possam falar sobre isso, estabelecendo, talvez, um novo contrato sobre bases atualizadas. Em outros casos ainda, ¢ porque existe disparidade de opinides entre eles, Um deles acredita que pode dar fim ao tratamento, enquanto que 0 outro se opoe. Estes casos representam um trabalho dificil para o psiedlogo, pois passa a ocupar 0 papel de um arbitro que dara a razdo a um dos dois. E entdo conveniente esclarecer ao paciente que o psicodiagnéstico nao sera realizado para demonstrar- The que estava enganado, mas, como um fotégrafo, ele registrar as situacdes para depois comenta-las. 0 mesmo esclarecimento deve ser dado ao terapeuta. Obvia- mente, é conveniente que a entrevista de devolucao seja feita por aquele que reali- zou o estudo, tendo um cuidado muito especial em mostrar uma atitude imparcial ¢ fundamentando as afirmacdes no material dado pelo paciente. Nos tratamentos particulars, o terapeuta é quem decide 0 momento ade- quado para um novo psicodiagnéstico (ou talvez para o primeiro). No entanto, nos tratamentos realizados em instituigdes publica ou privadas, sao elas que fixam os critérios que devem ser levados em consideracao. Algumas deixam isto a critério dos terapeutas. Outras decidem pauta-lo, considerando tanto a necessidade de avaliar a eficiéncia de seus profissionais quanto a de contar com um banco de dados uteis, por exemplo, para fins de pesquisa. Assim, é possivel que primeiro psicodiagnéstico seja indicado quando o paciente entra na instituicdo, e 0 outro de seis a oito meses aps, dependendo isto do periodo destinado a cada paciente. 3) Como meio de comunicacao. ntes_com dificuldades para con- versar espontaneamente sobre sua vida € seus problemas. Outros, como é 0 caso de criangas muito pequenas, nao podem fazé-lo, Outros emudecem e sé dao respostas laconicas e esporadicas. Com adolescentes e criancas podemos introduzir algumas modificagdes que muitas vezes despertarao seu entusiasmo. Assim que € sugerido, as criancas comecam a desenhar ou a modelar; o jogo do rabisco de Winnicott entu- siasma a todos, especialmente porque quebra a assimetria do vinculo. Favorecer a comunicacao é favorecer a tomada de insight, ou sefa, contribuir para que aquele que consulta adquira a consciéncia de sofrimento suficiente para aceitar cooperar na consulta. Também provoca a perda de certas inibigdes, possibi- litando assim um comportamento mais natural. Nao se trata de cair em atitudes condescendentes, mas de realizar a tarefa dentro de um clima ideal de comunicagao, na medida do possivel. Procura-se tam- bém respeitar 0 timing do paciente, ou seja, o seu tempo. Alguns estabelecem rapport imediatamente, enquanto que para outros isso pode exigir bastante tempo. Por isso seria grotesco ficar em siléncio por um longo periodo, apoiando-se no principio de que a entrevista é livre e € 0 consultante quem deve falar, como seria também grotesco interrompé-lo enquanto esta relatando algo importante para im- por-lhe a tarefa de desenhar. 0 psicodiagnéstico possui um fim em si mesmo, mas é também um meio para outro fim: conhecer esta pessoa que chega porque precisa de nés. A finalidade Psicodiagnéstico Clinico 9 é conhecé-la da forma mais profunda possivel. Para isso o bom rapport é imprescin- divel. 4) Na investigacdo. No que se refere a investigagao, devemos distinguir dois objetivos: um, é a criacao de novos instrumentos de exploracao da personalidade que podem ser incluidos na tarefa psicodiagnéstica. Outro, o de planejar a investi- gacao para o estudo de uma determinada patologia, algum problema trabalhista, educacional ou forense, etc. Neste caso, usa-se 0 psicodiagnéstico como uma das ferramentas wteis para chegar a conclusées confiaveis e, portanto, validas. Um exemplo do primeiro caso é 0 que fez o proprio Hermann Rorschach quando criou as manchas ¢ selecionou entre milhares aquelas que demonstravam ser mais estimulantes para os pacientes. Para dar validade a este teste mostrou as laminas a um grupo de pacientes selecionados aleatoriamente e, apés, a outro grupo ja diagnosticado com 0 método de entrevista clinica (esquizofrénicos, fObicos, ete.). Assim péde estabelecer as res- postas populares (prdprias da maioria estatistica selecionada aleatoriamente) ¢ diferentes “sindromes" ou perfil de respostas tipico de cada quadro patolégico’. Da mesma forma procedeu Murray, eriador do T.A.T. (Thematic Apperception Test). As respostas estatisticamente mais freqiientes foram denominadas “popula- res”, Os desvios dessas respostas populares eram considerados significativos tanto no aspecto enriquecedor e criativo como no sentido oposto, ou seja, no aspecto patol6gico, podendo proceder do mesmo modo que Rorschach. ‘A criacdo de um teste nao é uma tarefa facil. Nao podem ser colhidos alguns registros ¢ deles extraidas conclusdes com a pretensao de que sejam validas para todos. E necessério respeitar aquilo que a psicoestatistica indica como modelo de investigacdo para que as suas conclusdes sejam aceitaveis. Também é necessario um conhecimento abrangente e 0 trabalho em equipe para a correta interpretagao dos resultados. Assim, por exemplo, se se pretende criar um teste que avalie a inteligencia em criangas surdas-mudas, sera imprescindivel a presenga de um es- pecialista dessa area. Se a intencdo é criar um teste para pesquisar determinados conflitos emocionais em criangas pequenas, € indispensavel que alguém conheca perfeitamente como é 0 desenvolvimento normal da crianca a cada idade e da crian- ¢a do grupo étnico ao qual pertence o pesquisador, j4 que, nao sendo assim, se a pesquisa tratasse de estudar 0 mesmo aspecto, mas em criancas suecas ou japone- sas, sem a presenca de um antropélogo e um psicdlogo conhecedores da matéria, como integrantes da equipe pesquisadora, poderiam ser tiradas conclusdes incorre- tas. Em relacdo ao segundo objetivo, trata-se em primeiro lugar de definir clara- mente 0 que se deseja pesquisar. Suponhamos que a finalidade € descobrir se existe um perfil psicolégico tipico dos homossexuais, dependentes de drogas ou claustrofobicos. O primeiro passo deve ser selecionar adequadamente os instru- mentos a serem utilizados, a ordem que sera seguida, as ordens que serdo dadas, 0 material (tamanho do papel, namero do lapis, etc.) € os limites dentro dos quais podemos admitir variacdes individuais (por exemplo, podemos admitir que desenhe o Bender em mais de uma folha, que queira usar o verso, que acrescente detalhes as figuras, mas nao que use borracha, de forma que tudo fique registrado}. Isto € 0 que chamado de padronizar a forma de administracao do psicodiagnéstico. Se cada examinador trabalhasse 4 sua maneira, seria impossivel comparar os registros co- Ihidos e, portanto, nao poderiamos pretender tirar deles conclusdes cientificamente validas. 3. Rorschach, Hermann. Psicodiagnéstico. Buenos Aires: Paidés, 2.ed., 1955. 10 Garcia Arzeno Logo apés, administraremos este psicodiagnostico assim planejado: por um lado, a uma amostra de homossexuais, dependentes de drogas, etc., e, por outro lado, 0 mesmo psicodiagnéstico, 4 outra amostra chamada de controle, que nao registra a mesma patologia do grupo em estudo. Em uma terceira etapa, serao bus- cadas as recorréncias e convergéncias em ambos os grupos, para poder-se assim chegar a conclusées validas. Por exemplo, é significativo que os homossexuais dese- nhem primeiro a figura do sexo oposto, ja que na amostra de controle @ pessoa desenha primeiro a do seu proprio sexo, no Teste das Duas Pessoas. Estou usando um exemplo simples com a finalidade de transmitir claramente em que consiste essa tarela. A utilidade destas pesquisas varia muito. As mais interessantes sao aquelas que permitem identificar indicadores que servirdo para detectar precoce- mente problemas clinicos, trabalhistas, educacionais, etc., com a consegiiente eco- nomia de sofrimento, problemas e até complicagées institucionais. Método para que o Consultante Aceite Melhor as Recomendacées O psicodiagnéstico inclui, além das entrevistas iniciais, os testes, a hora de jogo com criangas, entrevistas familiares, vinculares, ete. As conclusées de todo 0 material obtido sao discutidas com o interessado, com seus pais, ou com a familia completa, conforme 0 caso € o sistema do profissional. Os testes realizados individualmente sao reservados, geralmente, para a entrevista individual com essa pessoa, para a entrega dos resultados. Porém o que tem sido feito e conversado entre todos pode ser mostrado ou assinalado para exem- plificar algum conflito que os consultantes minimizam ou negam. Por exemplo, um rapaz em torno dos 25 anos que consultou por se sentir amarrado demais a noiva e a mae, disse no Questionario Desiderativo que gostaria de ser 0 vento porque é livre ¢ também um cao porque é uma companhia fiel. Alem do restante do registro, estas duas catexias serviram para enfrenta-lo com sua pro- pria contradigao: querer ser livre como 0 vento ¢ a0 mesmo tempo precisar da com- panhia de alguém que Ihe desse afeto. Logo aceitou que isto criava uma situacao interna dificil e que nao podia pensar que o problema seria solucionado trocando de noiva ou distanciando-se de sua mae. Em outra ocasiao, com os pais de um menino de doze anos que se recusa- vam a aceitar a seriedade da doenga do mesmo, usei outro recurso. Mostrei-lhes a lamina IH do Rorschach dizendo que o teste nado estava sendo feito com eles, mas que a observassem silenciosamente por um instante e logo cada um dissesse 0 que havia visto. Ambos disseram algo semelhante A resposta popular: “Duas pessoas fazendo algo”. Entao disse-lhes que 0 menino havia respondido: “Dois esqueletos”. Ambos ficaram muito impressionados e comegaram a levar mais a sério minhas adverténcias. Poderia eu ter tido a surpresa de que eles também dessem respostas muito patolégicas. Nesse caso teria comentado de passagem o que o filho tinha visto e desviado a atengao para outro material. Quando as distorgdes sto compartilhadas por pais ¢ filhos, a conclusao inevitavel ¢ a de que uma terapia familiar € urgente. Outro caso é 0 de uma moca de uns 20 anos que chega a um Servico de Psicopatologia de um Hospital pedindo um estudo vocacional. Toda a sua conduta na sala de espera ¢ ao pedir a entrevista deixava clara uma grave patologia. A ansi- edade era enorme, apertava nervosamente as maos, sentava-se e levantava-se in- cessantemente, etc. Queria que fosse feito exclusivamente 0 “teste” vocacional. Com muita relutancia, aceitou responder 0 Desiderativo, Suas respostas foram: 1+, “Gos- taria de ser uma pomba, que é graciosa e alegre”, € no 1-, "Nao gostaria de ser uma Psicodiagnostico Clinico 11 hiena porque vive se alimentando de desperdicios"; 2- “Um gladiolo porque me lem- bra velorios”; 3- “Algo mineral, 0 carvdo. Nao me pergunte por qué”. Entre a aparéncia alegre e inocente da pomba, inevitavelmente associada a vida e paz, e a hiena que vive de cadaveres ha uma dissociacao abismal. As trés colocagées negativas estio relacionadas com a morte: o gladiolo com velorios, € 0 carvao é um vegetal sepultado sob a terra durante milénios. [sto facilitou o inicio da conversa com ela, sobre 0 quanto a preocupava a idéia da morte ¢ como isso a deixava ansiosa. Ela deixou de insistir com o teste vocacional e comegou a relatar fatos da sua vida, especialmente sobre a perda de varios seres queridos. Mesmo assim, recebeu algumas sugestées vocacionais, mas aceitou ir ao Servico uma vez por semana para continuar falando sobre essas coisas que tanto perturbavam o seu dia-a-dia. Escolha da Estratégia Terapéutica Mais Adequada Um psicodiagnéstico completo e corretamente administrado permite-nos es- timar 0 prognéstico do caso ¢ a estratégia mais adequada para ajudar o consultante: entrevistas de esclarecimento, de apoio, terapia breve, psicanilise, terapia de grupo, familiar ou vincular, sistémica ou estrutural; andlise transacional, gestaltica, etc. Assim, por exemplo, um paciente trabalhara muito bem na psicandlise se aceitar a sua responsabilidade no conflito, se mostrar colaboragao para fazer asso- ciagées, contar lembrancas, entrar em sua vida particular, em seu passado. Diante da tarefa do Desenho Livre, aceita com prazer e responde com um bom nivel de simbolizagao ¢ riqueza em suas associagées. As laminas menos estruturadas como as do Rorschach nao The causam impacto. A lamina em branco do Phillipson 0 estimula favoravelmente. A entrevista final torna-se agradavel devido 4 escassez de resistencia. O dialogo € fluido. Aparece a necessidade de se preocupar, chorar, ou ao menos ficar deprimido na medida certa para empreender a tarefa psicanalitica com uma boa motivagao. Muito diferente seria 0 caso de outra pessoa que nao tolera a entrevista aberta e prefere um inquérito pautado, que se bloqueia no Desenho Livre, no Rorschach ¢ na Kimina branca do Phillipson. Pergunta “O que faco, que desenho?” e sente alivio quando nés damos uma ordem mais precisa, por exemplo “Bem, dese nhe uma casa, uma drvore e uma pessoa”. A série A do Phillipson o deixa muito ansioso e gosta mais da B que é mais definida e menos difusa. Esta pessoa trabalha- ra melhor com uma terapia cara a cara, na qual se combinem interpretacées caute- losas com sugestées e alguns direcionamentos. A situacao de solidao e de regressao do diva seria para ele, por enquanto, insuportavel, e s6 poderia aceité-la apés uma primeira etapa com as caracteristicas descritas. As entrevistas diagnésticas vinculares e familiares sdo de grande utilidade para decidir entre a recomendagao de um tratamento individual, vincular ou fami- liar. Existem algumas técnicas projetivas idealizadas para serem aplicadas si- multancamente a um casal ou a um grupo (filial, familiar, de trabalho, etc.) Entre elas posso citar o Teste do Casal em Interacdo (TPI) do psicdlogo de Rosario, Luis Juri, o Teste Cinético da Familia de Renata Frank de Verthelyi (adap- tagao) em suas formas atual e prospectiva: também o teste de Rorschach com a técnica de consenso. Estes testes sio muito uteis para decidir a capacidade de agrupamento ou nao de um individuo, ou para fazer um diagnéstico sobre como ira funcionar um grupo em formacdo. Os terapeutas de grupo tém usado muito, para isto, o teste das 12. Garcia Arzeno bolitas do Dr. Usandivaras. Ester Romano apresentou seu MEP (Modelo Experimen- tal Perceptivo) 4 Associacao Argentina de Psicanalise, idealizado sobre a base de estimulos graficos ao estilo do Wartegg e nado estruturados ao estilo do Rorschach. No psicodiagnéstico individual, 0 motivo da consulta manifesto ¢ latente da- nos uma pauta para recomendar ou nao a terapia de grupo. Quando as dificuldades situam-se na relagao do individuo com os demais (pares, superiores ou subalternos) © mais indicado é recomendar a terapia grupal. Se, no entanto, 0 conflito esta mais centralizado no intrapsiquico, 0 mais adequado seria terapia individual. O teste de Phillipson (especialmente as laminas grupais AG, BG e CG) nos da uma informagao muito util a respeito, jé que, se nelas a producao for boa, compro- varia a nossa suspeita de que uma terapia em grupo seria adequada, enquanto que se nelas o paciente se desarticula, sofre impactos, as nega ou distorce a producao, haveria que pensar que, longe de ser uma ajuda, a terapia de grupo aumentaria a sua angustia. De forma que, independentemente do motivo da consulta, isto seria um elemento para contra-indica-la. Em sintese, tentei resumir as diferentes aplicagdes que pode ter o psicodiagnéstico, e certamente serao abertos outros novos caminhos ainda nao ex- plorados.

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