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‘CONEXIONES Val 2Nim.2,2010 2840 —ISSN: 16973720 Construindo a cidadania nas interrelacoes comunicagao, educagao e consumo Matia Aparecida Baccega Evol Sapro de Propgendae Marks. Ibacrgeepm br] Resumo: Fste texto parte do campo comunicagio élucacio, cua consstéacia térico-priica tem sido abonade por todos, e mostra necesidade de incorporar-The as reflexdes sobre consumo, indis- pensiveis para a formacio de um sujito capaz de particiar crticamente da sociedade, apto a cons- rrulr a nova varivel histérica que jf se desenha no horizonte. O cansiimo, ¢ nie o consumismo, € ttatado aqui como resultado de um conjunto de pritcassocais culruras fortemente relacionadas 4 dentidade do sujeico, come ditito do qual nfo pode ser excuido, Apresenta 9 consumidor como tum ator social, ngo simplesmente econbinico, Relaciona consumidore receptor, interdependentes, ‘emostrs que ambos emergem do mesma proceso: a imersio do sujeita nas sua relagSescacioseo rnbmicas, nas suns priticas cultures, em interagdo permancate com elas. Palavras-chave: comunicagio ¢ consumo, comunicacao ¢ educagio, recep. Abstract: This text starts from the communicaton/education field, whose consistency in theory and in practice has been excused by all, and it shows the need to incorporate it idess on consump on, essential for the formation ofa subject being able ca participate critically in society, ro build the new historical variable that i already on the horizon. Consumption, but not consumerism, is dealt here as a result ofa set of socal practices and cultural identity strongly relaed to che subject, a5 right which cannot be excluded. Ie presents the consumer ax socal actor, not simply ax an economic one I shows relationship between cansumer and receiver, beinginterdependent, and it shows that both emerge fiom the same process: the immersion of the subject in its socio-economic relations in chee culcutal practices in constant interaction with them, Keywords: Comunicacion and Consumption, Communication and Education, Reception. O objetive deste texto € mostrar a importincia das relacées comunicagio/edu- cagio e consumo, ou seja, incorporar as reflexes sobre consumo as conquistas te6rico-priticas do campo comunicacio/educacéo. Essas conquistas foram obtidas depois de largos anos! e servem de plataforma para 2 continuiidade do estudo néo s6 do préprio campo tal qual o reconhecemos, *Auow como professora de graduagio © pés-graduacio da Escola de Comunicacses & Arves da USP, onde coordenou a equipe fundadora do Curso Gestio da Comunicacio (pés-graduagio lio sensu), bem como fundadora e edivora da revista Comunicagito Educagao (chetp:!/wow.eca.usp-brlcomueduc/>), de 1993 a 2003. Autora de artigos © ‘apitulos de livos sobre estudos de recepeao, comunicacao e educacao, telenovela, anilise de discurso ¢ comunicagao e consumo. Cf, 30| Baonoga, MA. Contd @cdaaria nes heres comuncara,educaco e conse. mas também possibilitam seu alargamento, contribuindo para maior densidade nna formagio critica do sujeito. Jé.as relagdes com o consumo ainda sio negligenciadas ¢ 0 que se vé, espora- dicamente, sio normas para © conportamento do consumidar qute, se necessiias, ficam na superficie da questio. 1. Arquitetando as relagées comunicagio / educagdo e consumo ara se pensar a formacio do sujeito, capaz de participar criticamente da socie~ dade, de saber-se construtor da Histéria e nao apenas seu objeto, apto a construir uma nova varidvel histérica, enfim, ha que discutir sua formacio, reromando a discussio sobre o papel das varias agéncias na sua constituigio: as tradicio- rnais —sobretudo a escolar e a familiar, além da reigiosa— c uma outra agéncia, na contemporaneidade, se sobrepde &s demais ¢ envolve a todos: professores, alunos e pais, com grande repercussio na formagio dos sujeitos sociais, vex. que se incrusta nas demais agéncias, mediando 0 papel exercido por clas. Estamos falando da comunicagio tanto na sua manifestagao através do aparato midiatico: —a de maior penctragéo, 0 que leva & sua condigao de fio mais forte do tecido da culeura— quanto a que se dé nas manifestagées da cultura popular, aqui também atravessada pela midia. ‘A atividade das agéncias, as quais agem sobre a sociedade ¢ dela recebem influ @ncias, num proceso permanente de interaglo, ocorre numa realidade social atravessada pelo consumo, considerado a marca da sociedade contemporinea, pela sua condicdo de consticuidor de subjetividades, de identidades. Seu conhe- cimento ¢ indispensdvel para que 0 sujeito consiga pensar-se a si mesmo, consign ser cidadso capaz ¢ critico, Assim comegamos a justificar a preocupagio com ‘comunicagao/educacao € consumo. ‘Comunicagio ¢ consumo formam um todo indivisivel, interdependente. Estéo juntos na midia em geral efou na comunicagéo interpessoal; no discurso publici- trio, ttadicionalmente reconhecido como a ponte producao/consumo; no boca fa boca e nas festas culturais, comunicagso plena de credibilidade, muitas vezes esquecida pelos estudiosos,? além de outras e outras plataformas e situagées de comunicagio. Os bens a consumir, que constituem bases da construcao das iden- tidades do sujeito, tém sua divulgagio ai garantida, Esses bens, com suas duas faces insepariveis —material e simbélica— circulam, divulgam-se sempre num. processo de interagio com a sociedad, de respeito aos processos culeurais instala- dos, de maneira que possa ser inteligivel Como sabemos, essa inteligibilidade prende-se ao saber discursivo que est na base de todo dizer. Esse é 0 interdiscurso. Como diz Orlandi, «O interdiscurso disponibiliza dizeres que afetam @ modo como o sujeito significa em uma situa- co discursiva dada» (1993:31)... e completa: todo dizer, na realidade, se encontra Hove tempo —e nem faz vanto— que s6 cram consideradas pesquisis de comuni cago aquelas que trbalhassem com um dos meios tecnalégicos televisio, rio, internet ete sive da que con conexones 3) Vol 2 Nim. 2,2010— pp, 28-40 — ISSN: 167.3720 nna confluéncia dos dois eixos 0 da meméria (constitwigda) 0 da atualidade(formu- agio). Eé dese jogo que tinam seus sentides (1993:33) (grifo nosso) (Ou seja: para que entendamos tudo o que aparece no nosso horizonte & neces- saria a base do jd dito. E 0 que esté sendo dito volta, na constituigao dos sentidos, como outro jd dito que vai garantir a continuidade da comunicacio, a dindmica permanente que resulta sempre em novos diztveis, em novos ditos consumo relaciona-se fortemente com a educasio, formal ou no, processo social no qual se pode formar o cidadio critico. Para tal formagio, pata que 0 Sujelto consiga ser aruante na construgdo de nova realidade social, é imprescin- divel que cle tenha condicées de relacionar-se rcflexivamente com 0 consumo, Dizemos que ele esté na bojo do campo comunicagéo/educasio por ser esse 0 écus privilegiado da formacio dos sentidos sociais, palco da guetta permanente cntte 0 que existe e 0 que hii de vir, erririo da luca encre as agéncias, na disputa pela constituiséo dos significados sociais, do préprio consumo e dos valores que ‘ao se resignificando de acordo como espago e tempo da prixis. E ai que pade- mos ganhar muitas batalhas, num processo cumulativo para a mudanca, usendo # arma do conhecimento, Forma-sc, portanto, uma intrincada rede de intercambio de significados entre consumo © comunicagio, alicersando-se um ao outro. Os estudos dessas icla- 6es ainda sto incipientes, ainda que sejam fundamentais, pelo menos por dois motivos: a) a formagao do sujeito critico, como dito acima; b) a necessidade de conhecimento da sociedade da qual emergem os produtos culturais e para a qual se destinam esses produtos, ou seja, 0 conhecimento da rotalidade do processo comunicacional que nasce da sociedade e a ela retorna, tevela que, sem conhecer 2 sociedade do consumo fica dificil pesquisar e refltir sobre comunicacio. 2. Pensando consumo: identidades, direitos, cidadania © mesmo mal estar que vigiu durante largos anos (e ainda vige, muitas vezes) com relagio A midia —ela era a responsével por todos os males sociais — é quase © mesmo que se dé com a questo do consumo, tratado como o grande respon- savel pelas mazelas sociais. Assim como havia os que consideravam —-certamente por comodismo— que, acabando com a televisio, por ex. estarfamos no mundo da felicidade, assim ocorre hoje com 0 consumo: acabando com ele, triamos a sociedade da tranquilidade e da paz. Este €0 conceito de consumo, exemplo cabal de esterestipo, que circula. Cons- tuit-se uma identidade consumo/consumismo (0 que revela 0 reducionisma), que comprometeu seu estudo no campo da comunicasio, impedindo criticas consistentes e asestadas adequadamente. Como diz Garcia Canclini, ‘Uma zona propicia para comprovar que o senso comum néo coincide com 0 bom senso é 0 consumo, Na linguagem cortiqueira, consuimir costuma ser ascaciado gastos initeis © compulsdes irracionais. Esta desqualificagio moral e intelectual se apéia em outros lugares comuns sobre a onipoténcia dos meios de massa, que inci- tariam as massas a se lancarem irrefletidamente sobre os bens (1995:51). 32) Bacceva. MA, Becaain iadeia nas terelaies comune educa e consume, (© conceito de cidadania é a outra face do consumo. Consideramos que cidada- nia requer 0 conjunto de, pelo menos, tes aspectos: 1. O sujeito ter consciéncia de que € swicito de direiton, 4 Ter conbecimency de sus direitos, ou seja, serem dadas a ele condiges de ‘acesso a esse conhecimentot 3, Serem adjudicadas 20 sujito as garantias de que ele exerce ou exerceri seus direitos sempre que Ihe convi E. nfo apenas os direitos tradicionalmente reconhecidos pelo Estado, mas também seu diteito ao exercicio das epraticassociais e culturais que (lhe) dio Sentido de pertencimento» (Garcia Canclini, 1995:22) e permicem sua patti- Spasio em miltiplos trritérios, permitindo-the o desenho de suas miltiplas identidades. Conhecendo ¢ usando 0s cédigos de consumo de minha cultura, reproduzo ¢ Gamonstro minha parvicipagao numa decerminada ordem social, [.-] Minha iden- ‘Kinde enquanto tembro de uma culcra ¢ representada através da estrutura Ha uma relacdo efetiva entre o sujeito histérico, sua culeuta e 6 sujeito consumidor. Producao ¢ consumo convergem para o shopping center, o qual, segundo Alonso, condensa, [...] em um espago e um tempo reduridos, uma enorme quantidade de simbolos culcurais, muitas vees contraditéries entze si, mas que atraem as priticas dos con sumidores,criando o contexto de sua normalidade social. [..] Uma das causas de seu enorme éxito tem sido sua capacidade de adaptar-se —e, portanto, de criar € recriar— modos de vida nos quais sio levadas em consideracdo mudaneas sociais gue afetaram profundamente a expressio da identidade (2006:123). * O mendigo tenders & resignagao, envergonhado de sua prépria fome: os camponeses, materialmente isolados, também tenderio a resignaczo, porém sem sentimento de ver~ gona; jf aqueles que estéo unidos por vinculos materiis objetvos, como os operitis, reiinem condigses para protestr ativamente (Bakhtin, 1979:115-116), CCONEXIONES 35 Vol 2Nim, 2, 2010-— pp, 28-40 — ISSN 1697-9720 © auror lembra que até recentemente a cidade moderna era a cidade fordista, a cidade industrial. As pracas centralizavam os lugares de encontto, havia bancos ¢ bandas nos jardins. Hoje, os centros séo 0s intimeros espagos comerciais, unidos por grandes ave- nidas, feitas para circulacio de carzos ¢ nio de pessoas (Martin-Barbero, 1997) Eles sio 0 templo, sio a praca. (0 shopping 8 0 expago cotidiano-local que integra ¢ dé corpo a todas as cidades é-industrais possveis: a cidade global, «cidade virtual, a cidade informacional O global co local —o glocal—se fundem assim em um campo fleivel, que supera em muito as ideias de planificagio.[...] O grande centro comercial é portanto, ‘muito mais que um modo de compra que triunfou como resultado da publicidade ‘ou de alguma vancagem objetiva. E um modo de vida (gro do autor), ou ainda uuma forma de integracéo ¢ uma linguagem de camunicacio com o mundo social (Alonso, 2006:126). Nos templos de consumo podemos perceber claramente a complexidade das disting6es sociais ¢ dos gostos, tao bem trabalhados por Bourdieu (2007). Pode- ‘mos, ainda, observar identidades que se vio transformando, em tempo curto, em cada sujeito consumidor. Basta acompanhar o movimento das transformagoes das exposigées. A identidade passou a ser mével, estd sempre em movimento (Hall, 1999). Todos temos varias identidades e essa pluralidade se insinua em nés, sem pedit licenga. Ocorre que, entre todas as identidades possiveis em determinada fase, uma delas é a que prefetimos e queremos mostrar: por ex., que vejam em nés deter minado trago do que csté sendo considerado belo no corpo da mulher. Fazemos grandes esforgos para o reconhecimento piblico dessa identidade escolhida, E essa exposicio se garante, sobretudo, com as escolhas do que se consome. O consumo serve, portanto, como alavanca do desfile de identidades cambiaveis do sujeito. A identidade mio é mais permanente, dada pela familia, pelo tertitério. O sujeito a reconstroi permanentemente, sempre levando em consideragio 0 trago dcidentidade que ele poders vender mais caro, pois €0 que esti sendo valorizado aquele momento. Como diz Bauman, Lose] a0s consumidores Ihes move a necessidade de ‘converter-se eles mesmos em produtos’ Ree eee producos atrativos. (...] Hosea a encontrar um nicho ne mercado para os valores que possum ou esperam desen- Volver, deve segue com atngfo a oxic de olerae demand chao perder yé nas vendincias dos mercados, wma tarela nad inveavel e que em gers) &*esgora- dora’, dada a conhecida volatilidade desse mercado (Bauman, 2007b:151). Quando folheamos uma revista de decoragao, de moda masculina ou femninina, ou outras, [4 esto o modo como se deve decorar uma sala, ou como se deve vestit, 36 | Bacon, ALA Contd a ctadaria nas intreagescomunizaro,educgio @ nso, ou como 0 corpo deve ser. E elas fazem que pareca que tudo é muito ficil. Para mudan entrar na moda, 0 que é uma mancira de valorizar-se, basta ter acesco Aqueles equipamentos da academia, aquelas cirurgias, Aqueles vestidos exe. Tudo muito simples, ficil ¢ de éxito garantido. Aqui esté 0 consumidor convertida em produto, pois ele proprio necessita se reconsteuir a cada tempo, num permanente movimento que nao se conclu nunca. Pois, se a busca por uma identidade um pouco mais duradoura viesse a ter algum éxito, nfo haveria apelos tao fortes para que se consumissem os produtos que vdo sempre ¢ cada vez mais melhorar sua aparéncia, sua vida, construir sua felicidade (Freire, 2010). Essa permanente busca permite que os sujeitos apareniem menos diividas sobre suas identidades, Afinal, cles podem mudé-la sempre ea cada momento. A identidade duradoura teria outra otigem e exigiria outro comportamento. 5. Relacionando comunicagio e consumo: reflexes © consumo relaciona-se com o campo da comunicagio na configuragio que © tltimo assumit, como lugar da interacao entre os polos da emissio e da recepsio. (O estado do campo da comunicacio embasa-se no movimento, na dinamica exis- cente entre enunciador/enunciatétio, de um lado, ¢ enunciatério/enunciador, de ‘outto, na troca de lugares entre eles: 0 formulador da mensagem —enuinciador— é, antes de tudo, enunciatirio de todos os discursos sociais que Ihe permitem aquela formulacio. Logo, as duas caracteristicas ncle coexistem. Assim também com relagao ao receptor: enunciatério do discurso, a comunicagio s6 ocorrerd quando cle se tornar enunciador, ou seja, quando manifestar esse discurso na concretude do social. Tal qual a relac4o producio/consumo: 0 vestide s6 sera vestido quando alguém o usar. O encontro entre 0s sujeitos da comunicagio fundamenta a constituigio dos sentidos sociais compartilhadas com toda a Sociedade. A mensagem construida carrega os tracos semnticos do emissor e do receptor. Logo, nem 0 emissor nem 0 receptor sa0 autores eles préprios do processo comunicacional. Assim também a producio ¢ 0 consumo: a significagao do produto 86 ocorre no encontro entre 605 dois. O campo da comunicagao resulta dos virios discursos sociais, presentes tem ambos os polos, assim como o consumo: resulta das condigGes sociais ¢ cons- titui seus sentidos no tetritsrio que se forma encre essas duas faces. O estudo de ambos os campos, comunicagéo ¢ consumo, tem sido possi- vel a partir do conhecimento da dinimica da sociedade: nem tio somente «a reconsttucio ¢ exame das dimensdes estruturais/condicionantes das modalida- des de organizacio na sociedade» (Cohn, 1993:5), nem tampouco apenas a atengio para as dimensées simbélico-construtivas dessas formas de organiza- ‘ion (1993:5): para conhecer a sociedade # preciso que busquemos «a intima associagio do rigor analitico com a sensibilidade as nuances da vida social» (1993:5). ‘Ambos precisaram, para avancar no processo da compreensio de suas relagdes dde um salto em suas configuracées, que incluiu uma renovada articulagdo com as ciéncias humanas e sociais. ale tee sic sie ma qu sj tar suj ic ‘CONEXIONES| 37 Vol 2Nim 2, 2010 ~ pp, 29.40 — ISN: 1607-9700 6 Construindo a cidadania: campo comunicagéoleducagdo e consumo Escola e familia, radicionais agéncias de socializacao, vém se conftontando, nos Lltimos tempos, com a comunicagio, sobretudo a que nos chega pelos aparatos tecnolégicos, que se constituem, como dissemos, em outta agéncia de socializa- io. Hé entre clas um embate permanente na disputa pela hegemonia na forma- so dos valores dos sujeitos, buscando destacar-se na configuracéo dos sentidos sociais. ssa disputa constitui o objeto principal do campo comunicacéo/educa- 40, que propoe, justifica e procura pistas para o dislogo entre as agéncias, para tum intercimbio entre elas de modo 2 beneficiar a formagao dos sujeitos sociais mais critcos. E do actimulo de refexses sobre 0 campo comunicagiofeducagso que partimos pata incluir nele © consumo, como uma de suas vercentes. Ou seja, estamos tratando de comunicagzo/educacéo e consumo, dada a importincia desse tiltimo na configuragio da sociedade contemporinea, Consideramos que este € um locus a ser conhecido, privilegiadamente, por ser o espaso de constitui- ‘40 © mudanga dos sentidos sociais Na constimuigio da cidadania, compete ao campo comunicacio/educagiolcon- sumo 0 conhecimento do mundo editada no qual vivemos, © qual, devidamente conhccido, reconhecido c criticado, € a base da ressignificagao dos sentidos socias. E preciso entender que 0 aparato tecnolégico de que esse campo se utiliza estd em todas as escolas, qualquer que seja o nivel socioecondmico de sua clientela, A tecnologia deve ser entendida néo apenas como aparelhos 4 disposicao dos sujeitos, mas hi que ser pensada na sua abrangéncia. Ela esté em todos os sujeitos, alunos, pais, professores, vez que a trama cultural se impregna dela, O importante E que a discussio se dé sobre o diteito de todos as suas benesses, vez que o avango tecnoldgico € resultado do trabalho de todos os seres humanos; sobre o lugar que ela ocupa na formacio dos alunos, dos cidadios, da sociedade contemporinea nnos varios ambitos: da circulagao de informagées a mudanca dos conceitos de tempolespago 4 modificacio na produgao e sua influéncia sobre o consumo € sobre 0 mercado de trabalho & criagio de novas sensibilidades Outro aspecto da importncia da constieuicio desse campo advém, sobretudo, da condigdo de seus estudos levarem ao conhecimento da mediagio que cle exerce entre o (itor da tealidade © sua atuagio nela, entre os sujeicos receptores ¢ sua insergio no processo comunicacional, entze a produusio dos bens materiais ¢ sim- bélicos ¢ os sujeitos consumidores. Desse modo, obter-se-d uma leitura da socie- dade mais cientifica, mais critica e menos senso comum. Essa leitura suportada fo senso comum, que predomina, é uma leitura que nio necessita de compro- vases ¢ opera no sentido da tecepeio € consumo acriticos, mantendo, assim, 0 status que. Comunicagiofeducagio ¢ consume permitem que o sujeito traga & superfi- cie © que de mancira incipiente comeca a set esbocado na sociedade; permitem também verificar 0 modo que os acontecimentos atuam na cultura na qual 0 sujeito é formado e com a qual interage. Consideramos, por isso, que as reflexes sobre as relagdes comunicagiofeduca- ‘20 e consumo devem partir do conhecimento acumulado nos estudos do campo comunicagio/educagio, sobreido as que se referem & producio/distribuicao/ CONEXIONES | 39 Vel 2Nim.2, 2010 — pp, 23.40 — ISSN: 1607-372 séria que possibilite trazet aos sujeitos a condicao de cidadios criticos diante da dinimica da sociedade; cidados que consigam consumir ou néo a partir de sua prépria andlise, construindo novos modos de consumir. Por ex., a atividade de consumo, na tiltima crise mundial, em 2009, ajudou alguns paises, entre os quais © Brasil ea China, a sair mais rapidamente dela. © consumo néo deve ser visto como uma atividade simplesmente induzida ou provocada nos consumidores modernos pela industria publicititia ¢ pelos interes- ses comercias sobre uma audiéncia passiva. O consumo se converte no processo ativo que implica a construgéo simbélica de uma conscincia de identidade coleiva individual (ocock, 2003:101), Assim, a comunicagio com 0 mundo social, as informagées e a participagio nele, os caminhos ¢ 0 projetos de futuro que se desenham estio manifestados hoje também nos mecanismos do consumo. Motivos importantes para os estudos comunicagio/educasio/consumo como indispensdveis a cidadania. 8. Referéncias bibliogrdficas Alonso, L. (2006). H. La ena del consumo. Madrid: Siglo XI Baccega, M.A. (2007). «© campo da comunicacéos, in Barros Filho, C. ¢ Castro, G. (orgs.). Comunicagdo ¢ pniticas de consumo. Si0 Paulo: Saraiva. (org,) (2008). Comunicagéo e culturas do consumo. Sio Paulo: Atlas (2008). «A comunicagio e 0 consumo na trama da cultura», IX Congresso Lati- noamericano de Investigacién de la Comunicacién, Alaic, México (09 a 11 de outubro de 2008). 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Interessa-nos mostrat 0 campo comuni- Cacto/educagio como lugar prvilegiado na construcio dos sentidos socais, logo, na concepcao e pritica do consumo. ‘Alonso cita Rochefort, o qual [uc] dé como morta defintivamente a sociedade de consumo (global, alienance tuniformizadora, manipuladora) ¢ anuncia em definitive o estbelecimento da sci dade dos consumnidares onde, ja sem o tom apocalitico, as privias aquisitivas se nara- falizam c complesficam dentro das formas gerais de realizago da sociabilidade dos {grupos e das instituigées (Alonso, 2006:102) [grifo nosso}. Esta € uma das justificativas da construgio do campo comunicacio/educagio/ consumo. As sociedades nas quais vivemos sio multiculturais. Minorias étnicas, grupos de jovens ou tercera idade, grupos de poder aquistivo bastante diferen- ciado, etc. buscam ter voz ¢ serem ouvidos. O tecido urbano se transforma com essas presencas, as quais possum diversificados padroes de consumo que vio dos tradicionais (ainda se pode ver, nos sitios ag redor das grandes metrépoles, a ‘riagio e venda de pequenos animais, por ex.) aos mais contemporincos como a compra pela internet. Esta sociedade de consumidores é ainda incipiente. O novo consumidor esta cm gestagio, o que aumenta a responsabilidade do campo comunicagio/educa- Gdo/consumo, lugar onde se gesta este novo sujeito que queremos cidadio. O §famado modelo MC Donalds ainda domina: tem forte poder de persuasio, sobretudo entre jovens. Estamos propondo deixar de lado as afirmacées superficiais, simplificadoras do consumo e do consumidor. O consumidor nao é aquele que consome apenas porque a propaganda manda consumir. Ele nio é um sujeto alienado ¢ domi- hado, é necessario «integrar as decisoes que se descnvolvem em uma perspectiva tlobal,e analisar esta como a resultante de fatores psicol6gicos, das rlagdesincer- pessoais que estabelece do contexto social onde opera, e da cultura a que pertence» (Alonso, 2006:107). 7. Finalizando Consumo nao é apenas consumismo, mercadotizagio do proprio consumo. Ele ¢ indispensével 3 existéncia de qualquer sociedade. Educar os alunos como sujeitos ativos no processo de construcio e inovacio dessa sociedacle implica que 6 constimo seja amplamente conhecido, superando simplificagées: quer as que tratam 0 consumo apenas como o mal do consumismo, quer as que se rendem Impensadamente a seus efeitos, quer a5 que, de mancira quase ingénus, cans- formam seu estudo num manual de comportamentos do consumidor. Verificar as condigées da lata de alimentos (estufada ou nfo) ou seu prazo de validade > Imbos comportamentos indispensiveis— confundem-se com a reflexao neces- sda dina prop oBr Pp As rele + hoje indi 81 Alo: Bas for (20 mre Bak Aue Bat 2 Bow cit Fre

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