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GEORGE LAKOFF MARK JOHNSON radu GRUPO DE EsTupos Da INDETERMINAGAO E. DA METAFORA (GEIM) sob coordenagio de Mana Sophia Zanotto pela tradutora Vera Maluf METAFORAS DA VIDA COTIDIANA _APRESENTACAO A EDICAO BRASILEIRA Somente agora, vinte ¢ dois anos apés sua publicagio nos EUA, esta sendo pablicado em lingua portuguesa este livro de Lakoff e Johnson, considerado hoje uma obra pioneira, que ji se tomou clissica na vasta literara sohre a metifora. Embora Lakoff © seus associados tenham muitas obras posteriores, que jf se tornaram ‘una chissica lista de referén- cias” (Steen 1999), o Grupo de Estudos da Indeterminagio ¢ da Metifora (GEIM) optou por traduzir 0 Metaphors we five by, porque ele representou 0 ‘marco inicial de um programa inovador de pesquisa. Por ser uma obra datada de 1980, pensamos em elaborar uma apresentagio a edigio brasileira para situar 0 leitor em telagio ao contexto no qual a obra surgiu, ou seja, situar este livro em relagio & virada paradigmatica que se iniciou na década de 1970, Temos consciéncia, ‘entretanto, de que s6 é possivel aleangar esse objetivo de forma superficial, pois é impossivel dar conta da vasta literatura sobre a metifora ¢ das - — inximeras teorias que surgiram nos titimos trinta anos. Gibbs (1999, p. 29), or exemplo, nos da idéia da variedade de teorias que existem hoje sobre A metifora, afirmando que, s6 no campo da psicologia cognitiva, temos as seguintes teorias: teoria do desequlfrio de saliénci (Crtony 1979; Ortony eal 1985): teria da interno de dominios (Tourangeau e Sternberg 1981, 1982); teria do mapeamento de estutura (Gentner 1989; Genter e Clements 1988: teria da incluso de classe (Glucksherg © ‘Keysar 1990}; eteoria da mettora concep (Lakoff 1987; LakofT e Johnson 1980; Gis 1994) Fora do campo da psicologia, ele menciona as seguintes: teori dos ts de fala Searle 1979} ora da aaséacia de sentido (Davidson 1979} eo «dos campos semintios (Kitay 1987); tevin da eragto de similaridade (lndurkhaya 1992); ¢ worn da reevancia (Sperber e Wilson 1985, 1986), Sem diva, hi uma shundlineia de ids na tentativa de melhor expicar a metifora (pp. 29-30)! Pretendemos também falar das grandes mudangas que este livro provocou, sssim como dar uma dela de algumas obtas posteriores do grupo liderado por Lakoff e apontar alguns tépicos atuais de pesquisa no quadso te6rico da metafora conceptual Embora a teoria proposta neste livro seja apenas uma dentre as iniimeras teorias sobre metifora que surgitam desde a década de 1970, ela |. Nese texto Gis consider ters de Laka «Stina rom seo do doin da pista ‘ogitva, mas cla € comsidcrats usual comm sendo do dona ds ig ticacogiiva. Na rods 20 tivo organiza em paces em Sten, Metaphor in copie lings, tami dntado de 199, Gibbs e Sten consi a obs de LakolT como perenne a dominio da Linguistica Cognit, 10 tem um forte poder explicativo ¢, por isso, sua publicagio provocou um forte impacto desencadeando iniimeras pesquisas. Esta obra de Lakoff e Johnson representa uma consolidagio da ruptura paradigmatic que vinha ocorrendo desde a década de 1970, pondo em crise 0 enfoque objetvista da metifora (ver cap. 26) ¢ atribuindo a ela um sats epistemol6gico, Essa viruda paradigmética rompe com a tmadigio rewiriea iniciada com Atist6teles, no século TV a.C., contribuindo assim definitivamente pata mudar uma histéria de mais de dds milénios (Lakoff 1986). Na tradigio ret6rica, a metiforn era (e é ainda) considetada um fendmeno de linguagem apenas, ou seja, um ornamento lingtistico, sem nenhum valor cognitivo. Era considerada um desvio da linguagem usual ¢ préptia de linguagens especiais, camo a poética e apersuasiva. Além disso, © uso da metifora era indesejével no discurso ciemtfico, que deveria se utilizar da linguagem literal, considerada, enti, clara, precisa e determina da, Nessa visio, portanto, a ciéneia se fazia com anigao o itera, enquanto ‘a poesia se fazia com a imaginagio e a metifora Para Lakoff Johnson, 0 predominio dessa visio retérica da metifora ra cultura ocidental se justfica pelo que eles denominam “mito do objetivis mo”, “que dominou a cultura ocidental, e em particular a filosofia ocidental, dos pré-socriticos até os dias de hoje” (p. 195).Para eles, o objetivismo é um termo genético, que engloba o Racionalismo Cartesiano, 0 Empitismo, a Filosofia Kantiana, 0 Positivismo Légico etc. Em suma, ele abrange todas as, {vel o acesso a verdades ccorrentes da filosofia ocidental que assumem set pos absolutas e ncondicionais sobreo mundo objetivo e que entendemalinguagem ‘como mero espelho da realidade objetiva. Nesse contexto, a metifora e vutras espécies de linguagem figurada deveriam ser sempre evitadas quando se pretendesse falar objetivamente. No entanto, no século xx," primeiramente na filosofia, comega a se desenvolver uma mudanga radical desse quadro. O dogma da metifora como figura de ret6rica com todas as suas implicagdes (Ricoeur 1975) comega a ser questionado nas suas bases, primeiramente, por Richards (1936), depois por Bearsdley (1958) ¢ Black (1962). Ha influéncia também dos estudos de Ricoeur sobre a hermenéutica da metifora ¢ dos trabalhios de Heidegger e Derrida, que tratam a questio ontolégica ou metafisica telativa ao significado da metifora. Mas, é a partir da década de 1970, que se di de forma mais ampla e ‘marcante a mudanca paradigmética, que leva a uma reformulacio profunda ‘na mancira de concebera objetividade a compreensio, a verdade, o sentido ca metifora Essa muptura pe em cheque o pressuposto fundamental do objeti- vvismo segundo o qual n6s temos acesso a verdades absolutas ¢ incondicio- nals sobre o mundo. Em outras palavras, o objetivismo, nas suas diferentes verses, admitia ser possivel 0 acesso ao conhecimento verdadeito das coisas como elas realmente so, seja por meio da razio (na sua tradigio racionalista, com Aristételes, Descartes e Kant, por exemplo), seja por meio «da percepeio sensorial (na sua tradigio empiri Hobbes). porexempto, com Locke, 2 viata mefon comm figura de pensament,€ no apenas de ingugem, jf extava presente no Pesamento do so lino do séulo XIN Giambi Vio. Parle tno os nto usa ss Imetiforas representa tira dar forma experts, Tow igus deggie ‘quai meter se dstacria como a mais importa, fri parte a “sbedoia posi conceit introduzid por Vieo pra se eer a onto de operagbescogikivas ue levariarn const do real. Dessa forma, pode afar que Vieo desc fang copia da meter, end ido assim um pecuser do para cogntv da metfora (Haskell 1987), 2 ‘A mudanga paradigmatica rejeita esse pressuposto objetivista © suas implicagées, recusando a possibilidade de qualquer acesso verdadeiro a realidad do ponto de vista epistemolégico. Como desereve Ortony (1993, pp. 1-2), a idéia centeal do novo paradigma “é de que a cogni¢io € 0 resultado de uma construgio mental. © conhecimento da realidade, tenha sua otigem na percepeio, na linguagem ou na meméria, precisa ie além da informagio dada. Ele emerge da interagio dessa informacio com 0 con- texto no qual ela se apresenta ¢ com 0 conhecimento preexistente do sujcito conhecedor. A orientagio geral de que o mundo objetivo ni é diretamente acessivel, mas sim construido a partir de influéncias restrtivas do conheci- ‘mento humano e da linguagem, & o postulado essencial do enfogue relativista (E. Sapir 1921; Whorf 1956). Por essa tazio, Ortony denomina esse novo paradigma de “construtivista”, embora considere essa denomi- nagio longe do ideal. Varias assungdes tradicionais a respeito da metifora ¢ da linguagem figurada em geral passsam a ser objeto de uma revisio critica, Dentre as assungdes que, segundo Pollio, Smith ¢ Pollio (1990), sofrem uma revisio, esti a visto cartesiana segundo a qual a metéfora, assim como outras formas de linguagem figurada, “no é conceptualmente ttl: quando usada, isso acontece com o objetivo de enganar © pensamento racional ou de orna- mentar idéias prosaicas” (p. 142). No novo paradigma, ela passa a ter seu valor cognitive reconhecido, mudando do status de uma simples figura de ret6rica para 0 de uma operacio cognitiva fundamental ‘Assim, a partir de 1970, metifora se torna objeto de interesse centeal das cigncias humanas, mais especificamente, das eiéncias da linguagem da psicologia cognitiva. Esta iltima desenvolveu intimeras pesquisas em- piticas sobre o processo de compreensio da metifora, ocorrendo assim 0 13 all — (que Gibbs (1994) considerou um verdadeiro “ivan!” empirico na déeada de 1970. Eissas pesquisas se bascavam, segundo Honeck (1980), no fato de que a linguagem figurada constitufa um sério problema para as teorias de compreen- silo € 0 seu estudo poderialangar luzes sobre processo de compreensio em {eral Johnson (1980) também justficava a necessidade de investigagbes empi- Ficas sobre 0 processo de compreensio da metifora por serum caminho para desvendar seu status epistemol6gico.> As investigagdes empiticas dessa década ~ que se caracterizou por “uma explosio de interesse pela linguagem figurada” (Honeck 1980, p. 38) = se distribuem num amplo espectro de categorias, conforme observa Honeck, no seu texto Historical notes on figurative language, no qual ele tem como objetivo buscar as razes intelectuais da intensa pesquisa psicolingistica sobre linguagem figurada realizada a partir da década de 19/0, Foram realzadas pesquisas sobre questdes indiretamente ligadas @ linguagem figuradla, como: processos de meméria de adultos, questdes ligadas ao desenvolvimento, aplicagdes a educagio e 4 psicoterapia, andlises da metifora no quadro teérico da inteligéncia artificial, processamento de informagio baseado na analogia. Outras questbes relacionadas & linguagem figurada em si mesma também foram objeto de pesquisa, por exemplo, alguns pesquisadores queriam saber se a metifora entendida como a linguagem literal (por exemplo Ortony, Schaller, Reynolds e Antos 1978; Gibbs 1984, 1987). Outros queriam saber 0 que faz. uma boa metifora, como a metifora pode ser identificada, se as metiforas sio mais complexas que seus supostos correlatos lterais e qual a telagio entre as metiforas e os provérbios. 2. “Um tmtmenta rissa dete ebleme (ose sogntv de metifot reqer tanto um cto bo papel da mettors em vio campos eontves, como uma detalhadexplcago do proceso ogniiv de compreenso marc, Ena dim tet 0 problem owsio cea da mtora je poise um made decom nis oceania miler poe ohare estes relacionadas ao seu staar epistemolgico” Uohnson 1980, p57) “4 esse contexto de efervescéncia de estudos sobre metifora cogni- «fio, mas seguindo um eaminho diferente do percortido pelos psicdlogos cognitivistas, surge em 1980 0 Metaphors we lite by, de Lakoff e Johnson, provocando uma revolugio nas pesquisas sobre a metifora, Lakoff e Johnson partiram da analise de expresses lingtlisticas € inferitam um sistema conceptual metafSrico subjacente & linguagem, que inluencia nosso pensamento c nossa ago. Eles seguiram 0 caminho aberto por Reddy (1979), que investigou, numa anilise rigorosa de enunciadlos lingiisticos, como nés conceptualizamos metaforicamente 0 conceito de comunicagio, no seu ensaio “The conduit metaphor”, que temos traduzido como “metifora do canal."* Nesse trabalho de 1979, Reddy, partindo da idéia de que uma sociedade com melhores comunicadores poderia ter menos contflitos, procurou investigar como o problema da comunicagio se apresenta para 6s falantes de lingua inglesa. Para ating esse objetivo, ele se colocou dus, perguntas: “Que tipo de histérias as pessoas eontam sobre seus atos de comunicagio? Quando esses atos perdem o rumo, como é que as pessoas dlescrevem “o que esti errado e 0 que precisa de conserto?” (p. 285). Assim ele analisou enunciados que os falantes de lingua inglesa usam para falar da comunicagio, por exemplo, quando ela perde o rumo (You stil ‘haven't given me any idea of what you mean | Vo ainda nao me den nenbuma ida do gue voeé quer dizer); quando sto necessitias solugdes para os problemas de comunicagio (You have to put each concept into words very careilly | Voce deve solocar cada conceito em palavras com muito cuidado) etc. Ele estendeu essa anilise 1um grande niimero de enunciados que usamos para falar da comunicagio 4 Nostemos eaduido como metfoa do canal, mas Holsbach, Ganges, Migiavac © Garcez (2000, ‘1 ado do ago de Rely, aurea etn metfora do conto. 5 SS = © peteebeu que eles podem ser organizados em quatro categorias que Ponstituem © “arcabougo prin: ipal” da metifora do canal, pois esses emunciados evidenciam que: (1) linguagem funciona como um canal, tansferindo pensamentos corporeamente de ‘ua pessoa para outa; (2) ma fala ena eset, as pessoas inserem seus pensamentos © Ssentimentos nas palaras (8) a palavras realioam a trnseréncia ao conte pensamentos «© sentimentose conduzilos s outras pessoas; (4 a ouvir ler, as pessoas extrac das palavas 0 pensamentos eos sentmentos novamente, (Rely 1979, p. 290) (© que parece ser, a primeira vista, simplesmente uma forma concreta, f até engracada, de falar da comunicagio, revela-se, na argumentagio de Reddy, uma forma capeiosa e nociva de se pensar a comunicacio. Ou seja, a ‘metifora do canal revelaa crenga de que a comunicagio é umiite.d-éte ideal luma comunicacio com sucesso garantido, na qual o ouvinte (ou leitor) teria o simples trabalho de pegar o significado que esti nas palavras ¢ colocé-lo na sua cabeca, Em outras palavras, a metifora do canal é uma “forma congelada de pensar” (Mey 1994), automatizada, segundo a qual as pessoas pensam e intetagem, sem ter consciéncia dela, ou seja, ela constréi um quadro ilusério 4a comunicagio € és nos comunicamos regidos pela crenga de que 0 fazemos de forma univoca e transparente e nfo de que estamos construindo > sentido com base em nossas experiéncias e conhecimento de mundo. E Reddy conclui que esses enunciados do arcabougo da metiifora do sanal confirmam a tese de Weinseich de que “a linguagem é sua propria metalinguagem” € de que a metifora do canal é uma estrutura semantica ‘eal e poderosa na lingua inglesa, que pode influenciar os pensamentos e a ago dos falantes de lingua inglesa. 16 Seguindo a trlha aberta por Reddy, Lakoff e Johnson deram um ‘tratamento mais explicito & metifora do canal ao descobrirem as metaforas conceptuais subjacentes as expressdes lingiisticas metaféricas. Com isso cles demonstraram que 0 que antes era percebido como express6es lingiis- ticas individuais que refletiam metiforas mortas diferentes, era governado por generalizacdes: as metiforas conceptuais ou conceitos metaféricos (Lakoff 1993; Gibbs 1999). Assim Lakoff e Johnson mostram que os caunciados analisados por Reddy sio manifestagées lingiistcas de meti- foras conceptuais. Dessa forma, eles consideram a metéfora do canal como uma metifora complexa, constituida por uma rede de metiforas concep- tuais (kepresentadas por maitisculas), que se manifestam nos enunciados, como se pode ver a seguir: A. MENTE f UM RECIPIENTE Nao consigo sirar essa miisica da minha eabeca. Sua cabeca esti recheada de idéias interessantes. Seri que vou conseguir enfiaressas estatisticas na tua cabega? B._IDEIAS (OU SENTIDOS) SAO OBIETC Quem te dew essa idéia? Nilo consegui achar essa idéia em nenhum lugar do texto. Vocé enconirand idéias melhores que essa na biblioteca. 5. Lakoff ftnson (1980.1 pont ue: “Redly observa qu os igus sb a linguagem cx aroximadaments psa seine msifra comple: IDEIAS (OU SENTIDOS) SA OBIECTOS, EXPRESSOES LINGDISTICAS SAO RECIPIENTES, COMUNICAR f ENVIAR” Lakot (1985) aresens, camo prinevoconceito desu rede: MENTE E UM RECIPIENTE (J {DEAS para ear circuit da comniao, pode se acescentn: COMPREENDER EPEGAR, 7 = C. PALAVRAS OU EXPRESSOES LINGDISTICAS SAO RECIPIENTES, Nao consigo pir minbas idéias em palavras. O significado 6 0 que esté nas palauras, bem ai Quando voet tiver uma boa idéia, tente cfocé-la imediatamente en palavras. D. COMUNICAR :NVIAR OU TRANSFERIR A PO! Até que enfim vocé esti conseguindo pascarsuas idéias para mim, ‘Vou tentar passaro que tenho na cabeca. Eu lhe dei essa idéia, E. COMPREENDER Fi PEGAR (OU VER) Paqucio que vo’ quis dizer. Nio consegui pygaro sentido desse texto. Voce pode wridéias coerentes nesse trabalho? Lakoff (1993), reconhece a relevancia do trabalho de Reddy, por ter contribuido para star de uma vex por todas a visio tradicional da metifora como desvio da linguagem catidiana © como fenéimeno de linguagens especiais, como a poética e a persuasiva. Reddy conseguin demonstrar por meio de um caso significativo que a metéfora faz parte da linguagem cotidiana e que componente essencial do modo ordinatio de conceptualizar 0 mundo. E Lakoff conclui que “embora outros teéricos tenham observado algumas destas caracteristicas da metifora, Reddy foi 0 primeito a demonstri-las por meio de rigorosa anilise lingiistica, afir- mando generalizagdes sobre grande niimero de exemplos” (p. 204). 18 Enfatizamos a influéncia de Reddy, por ter sido a mais direta © imediata, fato reconhecido pelo proprio Lakoff em seus textos de 1986 € 1993, Mas é importante observar que Lakoff Johnson reconhecem sua divida intelectual a muitos outros pesquisadores nos agradecimentos, em- bora muitos deles niio tenham suas idias explicitamente discutidas no compo do taibalho. Lakoff ¢ Johason avancaram em relagio a Reddy, por terem feito uma ampla andlise de enunciados da linguagem cotidiana € terem desco- berto que a nossa linguagem revela um imenso sistema conceptual meta- forico, que rege também nosso pensamento ¢ nossa a¢io. Ou seja, assim como a metifora do canal nfo é simplesmente uma forma de falar sobre a comunieagio, mas uma forma de pensar ¢ de agit quando nos comuniea- mos, as outras metiforas da linguagem cotidiana também influenciam nossa vida: io metiforas que vienciamos cotidianantene Logo no primeiro capitulo deste livro, os autores nos fornecem um cexemplo de metifora que permeia alinguagem cotdiana e na qual nds vivemos imersos sem dela termos muita conseiéncia: DISCUSSAO E GUERRA. Lakoff € JJohason se apdiam nesse exemplo para nos dar 0 seu coneeito de metifors, «que consiste em “compreender e experienciar uma coisa em tetmos de outta” (. 48), ou seja, nds experienciamos a discussio como se fosse uma guetta Assim os enunciados abaixo no sio simples formas de dizer, mas formas de pensar e de agir: + Suas afirmagiies sio indefonstes: + Suas eriticas foram dito ao alo, + Eu nunca o rend numa discussio. ae eae — Esses enunciados revelam que nés concebemos a diseussiio como uma guerra, Se nés a concebemos assim, agiremos de forma coerente com essa concep¢io, ou seja, na discussio haveré uma disputa pelo poder € haveri vencedores e vencidos. Para nos conscientizarmos desse coneeito, Lakoff e Johnson propéem que imaginemos uma cultura na qual a diseus- silo seja vista como uma danga. Nessa visio (ou conecito), os participants sejam vistos como dangarnos em que objetivo sea realizar uma danga de modo equilradoe esteseamenteagradivel. Nessa cultura, as pessoas prceberiam as discusses de outra manera, experiencariamas discusses diferentemente,teriam desemn- ents diverose falariam deas de um moo diferent (. 47) Indimeros outros casos semelhantes a esse vm desafiar 0 pressupos- to tradicional de que a metifora é apenas uma questio de linguagem. Se ela fosse apenas um fendmeno de linguagem, diferentes expressdes lingisticas ‘metaféricas seriam metiforas diferentes. Assim, o enunciado “Nao consgo ganar dele numa discussao” seria uma metafora, o enunciado “Ek foi dete ao «ako” seria outra metifora, ¢ assim por diante. Mas para Lakoff e Johnson 16s temos af uma 36 metifora: DISCUSSNO I GUERRA, que se sealiza em diferentes expressies lingtis icas metaféricas, que no sio aleatérias, mas formam um sistema coetente, Enunciados como esses levaram os autores 4 postular que a metifora € primordialmente conceptual ¢ faz parte do sistema ordindio do pensamento ¢ da linguagem. fato de Lakoff e Johnson terem descoberto um imenso sistema conceptual metaférico subjacente a Tinguagem cotidiana fez com que uma série de dicotomias objetivistas caissem por terra, num efeito dominé, comegando pela revisio da distingio literal/ metaférico. Como eles demonstraram que grande parte dos enunciados da linguagem cotidiana so metaféricos,o literal ficou limitado Aqueles con- ceitos que nao sio compreendidos por meio da metifora conceptual. Exemplificando: uma frase como “o balio subiu” nfo € metaférica © tampouco “o gato esti sobre o tapete”, a velha e favorita frase dos filosofos, € metaforiea, Mas tio logo nos distanciemos da experiéncia concreta ¢ comecemos a falar de abstragdes € emogdes, a compreensio metafériea é a norma (Lakoff 1993, p. 205). A revisio da dicotomia literal metaférico leva a0 questionamento de outa dicotomia: a da linguagem cotidiana/linguagem literiria.Na tradigio retGriea « linguayem figuada € um desvio da linguagesr usual, &, eouse- glientemente, propria de linguagens especiais, como a poética e a persua- siva, © que acaba resultando na oposigio linguagem cotidiana/linguagem poética da linguagem cotidiana. Ora, nesta obra, os autores mostram que a lingua- dicotomia estavaassentada no conceito de figura como des gem cotidiana é densamente metaforica c apenas parcialmente literal. E, em obra posterior, de 1989, em parceria com Tumer, Lakoff mostra que 0 sistema metaférico convencional é a base da compreensio e produgio das metiforas do texto literirio, Com isso cai por terra a dicotomia linguagem literitia/linguagem cotidiana, assim como o conceito de figura que a fondamenta: a figura nao é mais considerada algo desviante, marginal ou periférico, mas sim um fendmeno central na linguagem no pensamento, sendo onipresente em todos os tipos de linguagem, na cotidiana e cientifiea inclusive. Se na tradigio anterior a ciéncia se fazia com 0 literal, ou seja, 56 podiamos compreender 0 mundo por meio da linguagem literal, Lakoff € a — —— = Johnson mostram que compreendemos 0 mundo por meio de metiforas, pois muitos conceitos bisicos, como tempo, quantidade, estado, agio etc, alm de conceitos emocionais, como amor € raiva, sio compreendidos metaforicamente. Isso vem mostrar o importante papel que a metifora tem na compreensio do mundo, da cultura e de nés mesmos. Desse modo, a tcoria de LakofF ¢ Johnson, a0 atsibuie 4 metifora um importante papel cognitivo, contribuiu decisivamente para consolidar idéias de autores como Hesse® e Kuba, que defendiam a idéia de que a metifora ¢ 0 raciocinio analégico desempenham um importante papel na atividade cientifica. Como conseqiiéncia, as idéias objetivistas de que a ciéncia se faz com a raz € 0 literal; poesia, com a imaginagio ea metifora perdeu a validade Allis, Lakoff e Johnson também argumentam que a metifora une razio € imaginagdo, isto €, € uma racionalidade imaginativa, essencial tanto para a ciéncia como para a literatura Em oposicio A teoria cartesian, corpo € mente niio sio mais vistos como separados, pois, segundo Lakoff ¢ Johnson, compreendemos 0 mundo por meio de metiforas construidas com base em nossa experiéneia conporal. Nossa conporeidade e nossa mente interagem para dar sentido 20 mundo. Esse aspecto fica evidente, por exemplo, nas metiforas orienta- cionais, como FELIZ & PARA CIMA € TRISTE B PARA BAIXO, que se manifesta em enunciados como: “‘esfou me sentindo para cima”, “el esti de alto astral”; ele cain em depressizo”, “lees para baixo hye”. Esse conceito 6. Hesse, com seus rabaos de 1966 € 177, fo uma pons ao propo uma econeptizaso do Indiana, Nee Dare U. Press 1965. he race oon inference Landes, MacMillan, 197). ‘As iia de Kuba, relaivas uma realrizago das nope de model ¢rcioinio snag, cotribtam pura uma rconsidrago do papel damier em todas 8 dienes da stividade len metafrico tem uma base fisic quando estamos tristes, ficamos com a ostuta caida, e quando estamos felizes com a postura creta, Assim o efeito dominé leva a cancelarmos outra dicotomia: a oposigio mente/corpo. Mas o efeito dominé no para por ai. O conceito da metafora como uum mecanismo fundamental de compreensio leva ao questionamento de outras assungdes objetivistas relativas ao sentido, compreensi, verdade caobjetividade (ver caps. 25 ¢26), culminando por questionar, num sentido mais amplo, a oposigio objetivismo /subjetivismo. Se o enfoque objetivista opetava com as dicotomias — razio € emogio, literal e metaférico etc. — Lakoff e Johnson propdem o enfoque experiencialista que constituiria uma sintese, pela qual a metifora, por exemplo, seria uma racionalidade imagi- nativa, unindo raziio e imaginagio. s sobre a Em suma este livro provocou uma revolugio nas pesq metifora, representando © langamento de um programa inovador de pesquisa, que foi desenvolvido por Lakoff e seu grupo em varias obras (ohnson 1987; Lakoff 1987; Turner 1987, Lakoff e Turner 1989 Lakoff 1993 etc). Fle deu um novo impulso as pesquisas sobre a metifora, sendo possivel dizer que podemos distinguir, a partir de 1970, dois grandes ‘momentos: 0 primeiro, na década de 1970, € 0 segundo na década de 1980 em diante. No primeito, as pesquisas foram, talvez, mais intensas na psicologia cognitiva € culminaram com outra obra marcante em 1979, a coletinea Metaphor and thongbt,’ organizada pot Ortony, na qual saiu o artigo

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