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A paz perpétua Immanuel Kant (1724-1804), um dos maiores filésofos da civlizacio ecidental, acreditava que 0 entendimento ‘entre os homens fevatia a uma pacificagio entre as nacées. A paz perpétua, que fol um enorme sucesso ‘entre a intelectualidade da época, & uma verdadelra surpresa para o leit atual devido a sua clareza e ao seu pragmatismo, Publicado inicialmente na Alemanha em 1795, € 0 resultado de toda uma vida de estudo e reflexdo critica sobre a humanidade. Para Kant, as premissas bisicas para se chegar a esse estigio de pacificagaa incluem um governo republicano, liberdade de pensamento para os cidadaos € respelto | autonomia das federacées. Neste ensaio, Kant ressalta no s6 como alcancar a paz perpétua, como também esboca 0 projeto de um érqdo Fesponsivel por promover a uniao entre as nacbes, 0 papel que hoje cabe 8 Organizacio das Nacbes Unidas (ONU), © que serd que se perdeu pelo caminho? ISBN o73.5.25417569 ‘TEXTO INTEGRAL www.lpm.com.br site que conta tudo Rc FUDGE Kant foi] a encarnagao da razao pura.” i 0.6. Fete) A a 4 A paz perpétua ‘SERIE L&PM POCKET PLUS. 24 horas na vida de wana mulher ~ Stefan Zseeig Alves & Cia. ~ Bsa de Queiroz A paz perpétua— Imamenuel Kant ‘As melhores historias de Sherlock Hebmes ~ Arthur Conan Doyle Bartleby, oescriturario— Herman Melville (Cartas a wma joven poeta~ Rainer Maria Rilke (Cartas portuguesas~ Mariana Alcoforado Cartas do Yage - Wiliam Burroughs Allen Ginsberg Contnhos galantes— Dalton Trevisan Dr, Negro ¢ outras histrias de terror Artur Conan Doyle Bsbogo para uma teria das emogoes~ Jean-Paul Sartre JTuvertude —Joseph Conrad Libelo contra a arte moderna ~ Salvador Dalt Liberdade,liberdade— Milléx Fernandes ¢ Flavio Rangel Mulher no esuro~ Dashiell Hammett No que acreito ~ Bertrand Russell Noites brancas-~ Fiédor Dostoiévskt O casamento do céu eda inferno William Blake coronel Chabert seguida de A mulher abandonada~ Balzac 0 diamante do tarnanho do Ritz—F. Scot Fitzgerald gato por dentre Wiliam S. Burroughs juize seu crrasco- Priedrich Darcenmatt teatro do bem e do mal Eduardo Galeano O tercero homern ~ Graham Greene Poems exolhidos~Ernily Dickinson Primeire amor-~ Ivan Turgueniev Sobre. brevidade da vida~Séneca Sobre a inspiagio poética & Sobre a mentira— Platzo Sonetos para amar @ amor~ Luis Van de Camoes Trabalhos de amor pedidos— Wiliam Shakespeare Tristessa~ Jack Kerouac Una temporada no inferno Arthur Rimbaud Vathek - Williars Beckford Immanuel Kant A paz perpétua ‘radugao €prefcio de Manco Zincano www.ipm.com.br PM POCKET PM Pocket, vol. 449 Colegio selive fo pabliadoantesionmente pela LADD Eaitres, em formato 1421, em 1989 Primciraedigio na Colegio LAPM Poche! fverivo de 2008 Esta rempreso: outubro de 2008, “Tao originals Zen eigen Faden Trad: Marco Zingeno Capa: Pojetogriic de Nektar Design Tustragdo da capa: © Rae des Archives Revi: Renato Detos, J Saldanhs, Bianca Paeqealini eis remonete (CIP-BrasiCatalogapio-on-Fonte Sindicato Nacional dos Etores de Livros, R) 25p Kant, Immanuel, 1724-1804 ‘Apa perpétu / Immansel Kant tradusio Maceo Zingano. Port Alegre, RS LPM, 2008. 5p. ~ (LPM Pocket Plus 449) “Tradugto de: Zum evigen radon ISBN 978-85.256-17988 2. Paz (ilosofi) 2, Uopig 3. Poof sles. 1 Ditto T.Série 06.0558, pp: 193 DUE) (© datradugdo, LRPM Baitores, 2008, ‘Todos os dritoe deta edigio reservados a LAPM Editors Roa Comendador Corn 314, loja 9 Foresta~90220-180 Porte Alegre~ RS~ Bras Fone: 51.3225.5777~ Fax 51.3221-5380 rows & Dero, Counc: vendassipm.com.be aur conosco info@pm.com be swonripmcombe Impreiso no Brasil Primaver de 2008 SUMARIO Immanuel Kant. Preficio wn Um projeto filas6fico.. Primeira segio, que contém 0s atigos preliminares pare a paz perpétua entre 0s Estados.. Segunda serio, que contém os artigos definitivos para a paz perpétua lente 08 Estad0 rnennsnnnnn sesnenses B Primeiro artigo definitiva para a paz perpétua PY Segundo artigo definitive para a pez perpétua . 31 ‘Terceiro artigo definitive para a po, perpeti. es Primeizo suplemento Da garantia da paz perpétua wre AD Segundo suplemento Artigo secreto para a paz perpétua see 5 Apendice . 2 T, Sobre o desacordo entre a moral a politica a propésito da paz perpétua .. U. Da harmonia da politica com a moral segundo 0 conceito transcendental do direito pablico. 6 IMMANUEL KANT (1724-1804) A filosofia de Immanuel Kant, considerado um dos pensadores mais influentes da Buropa moderna edosiltimo periodo do Tuminismo, situa a razio no centro do mundo, Ele nasceu em KOnigsberg, capital a Prissia Oriental (atual Kaliningrado, na Rissia). Sendo 0 quarto de nove filhos, passou grande parte da vida nas cercanias de sua cidade natal. Dos pais, Interanos recebeu uma educagio religiosa e severa, baseada em principios que pregavam uma vida simples, respeito e obediéncia a moral, Na escola da cidade aprendeu latim e linguas clissices. Aos dezes- seis anos ingressou na universidade de Konigsberg, na qual se aprofundou na filosofia de Gottfried Wi- Ihelm Leibniz e de Christian Wolff sob a orientagao de Martin Knutzen, um racionalista, que apresentou a Kant a nova fisica matemtica de Newton. Em 1746, apés a morte do pai, Kant foi obri- gado a interromper os estucos universitarios € comesou a dar aulas particulares para manter a familia, Mesto assim, nao se afastou dos estudos ¢ ‘em 1749 publicou sua primeira obra floséfica, Pen- samentos sobre o verdadeiro valor das forgas vivas. Em 1754 conseguiu retornar & universidade e concluir © doutorado, tornando-se professor universitério, 7 Lecionow légica, metafisica, flosofia moral, mate- mitica fisica e geografia. Na primeira parte de sua vida intelectual, Kant ublicou diversas obras nas éreas das ciéncias natu- raise da fisica, como a Hist6ria universal da natureza e teoria do céu (1755), na qual esbogow a hipotese da nebulosa, que afirmava que o Sistema Solar se for- mara a partir de uma grande nuvem de gés, dando novos rumos dastronomia. No inicio das anos 1760, Kant, influenciado pela filosofia de Hume, comeca a dar forma a tese central da sua filosofia, de que 0 conhecimento humano pressupde a participacéo ativa da mente humana, dando origem a livros que ‘sto os pilares de sua obra. Sao eles: Critica da razio. pura (1781), que criou as bases para a teoria do co- mhecimento como disciplina filoséfica e marcou 0 inicio da filosofia moderna, Fundamentagao da me- tafisca dos costumes (1785), Critica da raz pratica (1788) € Critica da faculdade do jutzo (1790). Em comum, todos eles defendem um profundo estudo do conhecimento humano, das formas e dos limites das faculdades cognitivas do homem, partindo do principio de que 0 conhecimento comega com a experiéncia, mas nao deriva dela. Em 1792, Kant publicou A religiao nos limites da simples razdo, livro que levou o rei Frederico Guilher- me IIa proibi-lo de ensinar ou escrever sobre temas religiosos. Trés anos depois publicou A paz perpétua, obra de sua maturidade, na qual discute as possi- 8 bilidades da paz e defende o regime republicano. Pacifista, apoiou a independéncia americana, Kant levou uma vida calma e regrada, nao se casou e nao teve filhos. Morreu em Kénigsberg, dois ‘meses antes de completar 80 anos. PREFACIO Marco Zingano* Ores tratado intitulado A paz perpérua ‘nasceu grande, Publicado pela primeira vez.em 1795, na Alemanha, olivro teve varias reedisées, ten- do logo sido traduzido parao frances. A razéo ésim- ples:a Europa vivia um momento de forte mudanca, ocasionado pela Revolugio Francesa, que, a partir de 1789, apresentava ao mundo uma perspectiva polt- tica inovadora ¢ altamente contagiante. O perfodo do Terror, de 1793 a 1794, anunciava, porém, que esta nova vida politica ndo viria sem seus proprios demndnios, de um horror até entao desconhecido. Eassim que, quando Kant publica, em seus anos de velhice, apés a longa maturacao de seu sistema critico e tendo também ja escrito sobre a historia de modo menos técnico, um ensaio sobre a paz em um diapasdo republicano e cosmopolita, 0 puiblico culto véaqui uma chance fmpar para pensar seu proprio tempo. Em primeiro plano estao, obviamente, as possibilidades da paz e a defesa do republicanismo. * Marco Zingano ¢ professor do Departamento de Bilosoa da Faculdade de Filosofia, Letras eCitncias Humanas da Universi- dade de Sao Paulo, com doutorado na éreade étce aristotéica, B autor de diversos livros na rea da flosoia, entre eles Bsrudos de rica antiga (Discurso, 2007) ul (© pequeno livro de Kant, contudo, vai mais longe, pois ‘nao s6 responde ao seu tempo, mas também formula questdes para o futuro, Entre elas, esta o problema de como organizar as nagdes em uma federacéo, sem ‘que percam sua identidade ou autonomia, mas em cujo seio suas divergéncias possam ser discutidas na forma daleia fim de evitar 0 pior fracasso da politica, a guerrae seu cortejo de males, Esta enfim esbocado o que resultard na Organizagao das Nasdes Unidas, um século e meio mais tarde, apés a experiéncia de ‘guerras ainda mais devastadoras ede um horror nun- ca cogitado, quase inimagindvel. O livro de Kant fala ‘assim ao seu tempo, mas também ands, indagando seriamente sobre o que queremos ser. Livro de fl6so f, livro de reflexao: sobretudo, cada linha acentua a relagéo necesséria entre éticae politica por intermédio do direito, agora tomado como direito internacional, Discretamente amparado em seu sistema critico, Kant nos lega um estudo contundente sobre nossas perspec- tivas politicas, Escrito em linguagem acesstvel, ele néo menos interrogador sobre nosso futuro, ‘UM PROJETO FILOSOFICO Des de lado se esta inscrigdo satirica na tabuleta de uma estalagem holandesa, em que estava pintado um cemitério, vale para os homens em geral, ou em particular para os chefes de Estado, que nunca estao fartos de guerra, ou quigé somente para os filésofos que sonham com este doce sonho. Isto, porém, 0 autor do presente ensaio reclama: que, jd que o politico pratico poe-se, com o tedri- co, a desdenhé-lo com grande presungio, como a ‘um académico que, com suas idéias ocas, nao traz perigo algum ao Estado, que tem de ser regido por principios da experiéncia, ea quem sempre se pode deixar jogar nas onze posicbes sem que o estadista experimentado tenha de se importar com isso, ele, «em caso de conflito com o te6rico, tem também de proceder de modo conseqitente e nao farejar perigo 20 Estado por tras de suas opinides publicamente expressas aventadas a esmo—mediante esta clausula salvatoria 0 autor deste ensaio pretende expressa- mente proteger-se, do methor modo, contra toda interpretagio malévola. 13 ‘PRIMEIRA SECAO, QUE CONTEM OS ARTIGOS PRELIMINARES PARA A PAZ PERPETUA ENTRE os Estapos 1. “Nenhum tratado de paz deve ser tomado como tal se tiver sido feito com reserva secreta de matéria para uma guerra futura.” Pois setia entéo um simples armisticio, sus- pensio das hostilidades, ndo paz, que significa o fim de todas as hostilidades, e atrelar-the o adjetivo de perpétua éjé um pleonasmo suspeito. As causas exis- tentes para a guerra futura, emboratalvez agora ainda ino sejam conhecidas aos préprios contratantes, s40 aniquiladas em seu todo pelo tratado de paz, sejam elas retiradas de documentos de arquivo pela mais arguta habilidade de especulacio. - A reserva (re- servatio mentals) de pretensdes antigas que podem ser reclamadas no futuro, das quais nenhuma parte faria mengao por ora, porque ambas esto demasiado extenuadas para continuar a guerra, pela perversa intencio de aproveitar a primeira oportunidade fa- vordvel para este fim, pertence a casuistica jesuitica eesté abaixo da dignidade dos regentes, assim como a deferéncia a semelhantes deduces esté abaixo da dignidade de um ministro, quando se julga a coisa como ela é em si mesma. Se, porém, a verdadeira honra do Estado esté, segundo con uM tado, no aumento constante do poder, seja por que meio for, entio certamente salta aos olhos que esse juizo 6 pedante e primario. 2. “Nenhum Estado independente (pequeno ou grande, isso tanto faz aqui) pode ser adquirido por um outro Estado por heranga, troca, compra ou doagao.” Um Estado nao é um patriménio (patrimo- nium) (como de certo modo o solo sobre 0 qual se encontra). Ele € uma sociedade de homens de que ninguém, a nao ser o proprio Estado, pode dispor € ordener. Anexé-lo, porém, como enxerto a um outro Estado, ele que tinha como tronco sua propria raiz, chama-se anuler sua existéncia como uma pes- soa moral e fazer da siltima uma coisa, e contradiz, portant, a idéia de contrato originério, sem 0 qual nao se compreende nenhum direito sobre um povo", £ de todos conhecido o perigo que trouxe a Europa, até nosso mais recente tempo, 0 pre- conceito desse modo de aquisicao, pois as outras partes do mundo nunca tomaram conhecimento de que também os Estados poderiam esposar uns 208 outros, em parte como um novo mado enge- Gin eine herediténo no é um Bxedo que poss ser herdado por um outro Estado, mas um Estado esjo dicito a governsr pode serherdado por uma pessoa isa. O Estado adquire entto "um regente, ndo este como tal isto é que possu fa um outro eino} 0 Bstado, 18 nhoso de fazer-se, sem dispéndio de forgas, todo- poderoso mediante aliancas familiares, em parte para alargar, desse modo a posse de terras. E de se computar também a contratacio de tropas de um Estado por um outro contra um inimigo que nao € comum, pois com isso usa-se e abusa-se dos stiditos como coisas manejiveis & vontade. 3. “Bxércitos permanentes (miles perperuus) devem desaparecer completamente com o tempo.” Pois eles constantemente ameagam outros Es- tados com guerra, mediante a prontidao para tanto ‘em que sempre parecem estar; emulam-nos a so- brepujar uns aos outros na quantidade de homens em armas, que ndo conhece limites, e como, pelos custos empregados nisto, a paz torna-se mais one- rosa do que uma guerra curta, sao assim eles pro- prios causa de guerras ofensivas para desfazerem-se desse peso; acrescente-se que ser mantido em soldo para matar ou ser morto parece consistir no uso de homens como simples méquinas e instrumentos na mao de um outro (0 Estado), uso que nao se pode se harmonizar com o direito de humanidade em nossa prdpria pessoa. Completamente diferente ocorre com 0 exercicio periédico voluntariamente proposto dos cidadios em armas para assegurar-se assim a sie a patria de agressOes externas. Com a acumulagao de um tesouro ocorreria justamente 16 que ele, considerado por outros Estados como ameaga de guerra, obrigaria a ataques preventivos (porque entre as trés poténcias, a das forgas ar- madas, a da alianga ea do dinheiro, a dltima bem poderia ser 0 instrumento de guerra mais seguro, se nao se Ihe opusesse a dificuldade de averiguar a grandeza desta poténcia). 4, “Nao deve ser feita nenhuma divida pablica em relagao a interesses externos do Estado.” Procurar recursos dentro ou fora do Estado no interesse da economia do pais (aprimoramento dos caminhos, novas colonizacdes, provimento dos armazéns para anos preocupantes de colheita insu- ficiente etc.) & este expediente, insuspeito. Porém, ‘um sistema de crédito, como maquina que opée as poténcias umas contra as outras, de custos crescentes , contudo, sempre pronto para exigénci taneas (pois eas nao ocorrem com todos os credores de uma s6 vez) ~a engenhosa invengao de um povo mercantil neste século ~ € uma perigosa poténcia de dinheiro, ou seja, um tesouro paraa beligerdncia que sobrepuja os tesouros de todos os outros Estados tomados conjuntamente e que somente pode ser extenuado pela queda iminente dos impostos (que, contudo, pode ser longamente protelada gragasaes- timulagio do comércio por meio do efeito retroativo na induistria e na renda). Essa facilidade para fazer a smomen- 7 guerra, unida a inclinagdo para tanto dos detentores do poder, que parece ser inerente a natureza humana, 6 portanto, um grande obstéculo a paz perpétuas para impedi-lo, tanto mais teria de ser um artigo preli- minar, porque a bancarrota do Estado, ao fim, mas inevitivel, vai entedar nos prejnizos muitos outros Estados sem culpa, o que seria uma lesao publica dos Altimos. Por conseguinte, os outros Estados estéo pelo ‘menos autorizados a aliar-se contra um semelhante Estado e sua arrogincia. 5. “Nenbum Estado deve imiscuir-se com emprego de forca na constituigdo e no governo de um outro Estad Pois 0 que pode autorizé-lo a isso? Talver. 0 cescandalo que ele fornece aos stiditos de um outro Estado? Ele pode antes servir de adverténcia pelo exemplo dos grandes males que um povo atraiu para si por nao possuir les; e, em geral, 0 mau exemplo que uma pessoa livre dé a outra (como scandalum acceptum) néo Ihe € nenbuma lesio. Isso nao se poderia concluir se um Estado se desmembrasse em duas partes por desuniao interna, em que cada uma representasse para si um Estado peculiar que reivindicasse o todo, onde prestar assisténcia a um deles por um Estado externo nao poderia ser consi- derado uma intromissio na constituigio do outro Estado (pois ha entéo anarquia). Enquanto, porém, 18 este conflito interno ainda nao estiver decidido, esta intromissdo de poténcias externas seria uma violagio dos direitos de um povo dependente de nenhum ‘outro ¢ que sé luta contra seus préprios maless seria ‘mesmo, portanto, um escindalo declarado e tornaria insegura a autonomia de todos os Estados. 6, “Nenhum Estado em guerra com outro deve permitir hostilidades tais que tornem impossivel a confianga reciproca na paz futura; deste tipo sao: emprego de assassinos (percussores), envenenadores (verefici), quebra da capitulagao e instigacao a traisio (perduellio) no Estado com que se guerreia etc.” Sao estratagemas desonrosos. Pois tem de subsistir alguma confianga no modo de pensar do inimigo durante a guerra, porque sendo também no poderia ser conclufda nenhuma paz e a hos- tilidade acabaria em uma guerra de exterminio (Gellum internecinur). J& que a guerra 6, contudo, somente 0 triste meio necessério para afirmar seu direito pela forga no estado de natureza (onde néo hé tribunais que julguem com base no direito), em que nenhuma das duas partes pode ser declarada como inimigo injusto (porque isto j& pressupse um veredicto judiciério), mas o desfecho da guerra (como em um assim chamado jufzo divino) decide de que lado o direito est4; entre Estados nao se pode, porém, pensar em uma guerra punitiva (bellum pu- nitivum) (porque entre eles nao ocorre relacdo de 19 um superior a um subordinado). De onde se segue, pois: que uma guerra de exterminio, em que pode ‘ocorrer simulteneamente o exterminio de ambas as partes e com ele também de todo o direito, encon- traria a paz perpétua somente no grande cemitério do género humano. Portanto, uma tal guerra, por conseguinte também 0 uso dos meios que levam a ela tem de ser absolutamente nfo: permitida,~ Que ‘0s meios mencionados levam aisso inevitavelmente, esclarece-se por isto: que aquelas artes infernais, que {iso em si mesmas igndbeis, quando postas em uso nao se mantém por muito tempo dentro dos limites dda guerra, mas passam também para o estado de paz, ‘como, por exemplo, 0 uso de espises (uti explorato- ribus), em que somente a desonestidade dos outros €utilizada (que entto ndo pode ser exterminada), 0 que aniquilaria por inteiro o propésito de paz, eee Embora as leis recém-indicadas sejam objetiva- mente, isto é, na intengdo dos detentores do poder, Puras leis proibitivas (leges prohibitivae),algumas de- las s40, porém, do tipo estrito, que vale sem conside- ago pela circunstancias (leges strictae), que urgem uma supressao imediata (como n. 1, 5, 6); outras, porém (como n. 2, 3, 4), certo no como excesses A regra do diteito, mas em considerasio a aplicagio delas, autorizam uma latitude subjetiva em fungao 20 Fe das circunstancias (Jeges laiae), ¢ contém permissoes para adiar a execucao, sem contudo perder de vista o fim, o qual permite este adiamento, por exemplo, na restituigdo, segundo o n. 2, da liberdade retirada acertos Estados, nao para o dia de Sao Nunca (como Augusto costumava prometer: ad calendas graecas), por conseguinte a nao-restituic4o, mas somente permite o retardamento para que ela ndo se preci- pite e, desse modo, ocorra contrariamente propria intengdo. Poisa proibigao concerne aqui somente ao modo de aquisicéo, que nao deve valer para futuro, ‘mas ndo ao estado de posse, que, embora nao tenha ottitulo de direito requerido, contudo em seu tempo (da aquisicgo putativa), segundo a opinio publica daquela época, foi considerado por todos os Estados como legitimo*. *'Sea raxBo pura pode fornecer, além de mandamento (lees racceprivae) proibigio (leges prohibitivae), também leis permissivas (ges permssvae), fo} posto em divida nao sem. fandamento até 0 momento, Pos leis em gerel contém um fandamento de necessdade objetiva pric a permissi0, porém, contém um fundamento de contingéncia priticade certasag0es, por conseguints, um lei permissive conteria uma obrigacio Para ume ago & qual ninguém pode ser obrigado, 0 que seria tuma contradigio seo objeto dai tivesse o mesmo significado ‘em ambas as relages, Ora, aqui, porér, na lei permissiva, a roibiglo pressupostasereportasomente ao modo de aquisigto futuro de um dreto (por exemplo, por heranga). A iberaio, ontudo, dessa proibicto, isto 6 a permissi, reporta-se 20 estado de posse tual; este titimo pode ainda peemanecer na passagem do estado de natureza para civil, segundo uma Ici permissiva do direito natural, como uma posse, embore degitima, contudo honesta (possssio putatva), embora ima poste pulativa, no estado de natureza, asim (cont. a pig 22) 21 (cont. da pag. 21) queé reconhecida como tal, se proibids, do mesmo modo que um tipo de aquiisso semelhante no estado civil subsequente (aps a passegem), 0 qual nto encoatraria autorizasao da posse permanente seal supostaaquisig tivesse ocorrido no estado civil, pos af ela teria de cessar, como lest, logo apésa descoberta de suailegitimicade. Eu quis aquichamat somente de pascagem a atencio des mestres do dieito natural 20 conesito de uma lex permisiva, queseoferevedesi mesmaa uma arto sistemsticae classfcadora sobremaneira, ji que freqiente ‘mente € feito uso dela a ei cil (eststuteia), apenas com a dif renga que ski probitva esta por ssa permissto, porém, no ¢ introduaida naquela ei como condo limitativa como devia), ras €jogada entre as excegdes. [eo significa enti: isto ou aqulo ¢ proibido: seja, pois acrescentar lel as permissoes . Lyn. 2, 1.3 easim indefinidamente de modo contingente, nfo segundo ‘um principio, mas por tteio entre casos que sujam, pois sero as. condigdes teria so introduzidesna femula dae proiitva, pelo {que ela se tornaria simultaneamente umalel pemissiva —Epoisla- ‘mentivel que tenhasido logo abandonadaa questo engenhose, que pPermanece, porém, nsovel, posta em concurso pelo tant sibio ‘como perspicaz senor Conde von Windischgrat,quejustamente insist n ttima, Poise possibilidade de um tl frm (andloga Aamatemitica) éatnicapedra-de-togue gensina de umalegisiacio conseqiente, sem a qual o assim charmado ius certum serd sempre tum pio desejo. De outro modo, ter-se-& apenas leis gerais (que vvalem em geal), mas ndo univers (que valet universelments), ‘como parece exigr,contudo, o conceit de uma lei 2 SEGUNDA SEGA, QUE CONTEM OS ARTIGOS DEFINITIVOS PARA A PAZ PERPETUA ENTRE OS Estanos O estado de paz entre os homens que vive juntos nao é um estado de natureza (status natura- Tis), que é antes um estado de guerra, isto é, ainda que nem sempre haja uma eclosao de hostilidades, é contudo uma permanente ameaga disso. Ele tem de ser, portanto, institufdo, pois a cessagao das hostilidades ainda nao € garantia de paz ¢, a menos que cla seja obtida de um vizinho a outro (0 que, porém, pode ocorrer somente em um estado legal), pode um tratar 0 outro, a quem exortara para tal, como um inimigo*. * Admite-se comumente que nlo se pode proceder hostilmente contra ninguém a nfo ser quando ele de fto je Tesou, esto também é inteiramentecorreto quando ambos esto no estado civil-legal. Bois, pelo fato de que entrou nesse estado, ele dd Aaquele (mediante a autoridade que possui poder acima de am- bos) a seguranca requerida. Maso homem (ouo povo) no puro estado de natureza tra de mim esta seguranga e me lesa jé por cease mesmo estado, na medida em que esté20 meu lado, ainda {que nko de fata (facto), pela auséncia de les de seu Estado, pelo gue eu sou continuamente amearado por ele, ¢ poss forgé-lo fo a entrar comigo em um Estado comum legal ou a retirarse de minha vizinhanga. — O postulado, portanto, que serve de fandamento 2 todos os artigos seguintes €: todos os homens aque podem influenciar-se reeiprocamente tém de pertencer 2 alguma constituigio civil Toda constituiga juridica¢, porém, no queconcerne ds pessoas {que esto sob ela: (cont.na pig. 24) 23 PRIMEIRO ARTIGO DEFINITIVO PARA A PAZ PERPETUA A Constituigao civil em cada Estado deve ser repu- blicana. A constituigao instituida primeiramente se- gundo 0s prinefpios da liberdade dos membros de uma sociedade (como homens), em segundo lugar segundo os principios da dependéncia de todos a ‘uma \inica legislagao comum (como stiditos) e, ter- ceiro, segundo ale da igualdade dos mesmos (como cidadaos) —a dinica que resulta da idéia do contrato originario, sobre a qual tem de estar fundada toda legislagao juridica de um povo ~ € a constituicdo republicana*, Esta é, portanto, no que concerne ao (cont. da pig. 3) 1) a constituigdo segundo o direito civil de Estado dos homens em um povo (tus vita), 2) segundo o direito internacional dos Exades em relago uns com 0s outros (ius genius 3) a constituigao segundo 0 diteito cosmopolite, enquento homens ¢ Estados que, estando em relagio de infiuéncia mitoa ‘exterior, tém de ser consideradas como cidadios de um Estado ‘universal da humanidade (ius cotmopolitcum). Esta divisio nio ¢ arbitréria, mas necesséria em relagio &idsia de paz perpétua. Pois se somente um destes, na relagdo da influéncia fsica sobre 6 outro, estivesse no estado de natureza, entio estaialigado a ee o estado de guetta, etornar-s liberto de tal estado ¢justamente a intengio aqu " Liberdade juridica (por conseguinte exterior) do pode, como seesté acostumado a fazer, ser definida pela autorizagie: “fazer tudo 0 que se quer, desde que ndo se cometa injustiga com ninguém”, Pois 0 que significa autoriaagio? (cont. na pag. 25) 24 (cont. da pig. 4) A possbilidade de uma agdo enquanto nio se

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