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O ORGANISMO COMO MAQUINA 110 COMO SE ESTUDA 0 SISTEMA NERVOSO. 111 A ARQUITETURA DO SISTEMA NERVOSO 116 Ocortex 121 ‘AS ORIGENS DO CEREBRO. 127 Os COMPONENTES DO SISTEMA NERVOSO 130 COMUNICAGA ENTRE NEURONIOS 132 CAPITULO 3 INTERAGOES PELA CORRENTE SANGUINEA 141 Piasricipabe 143 COMENTARIOS FINAIS: TODAS AS QUESTOES PSICOLOGICAS DEVEM TER RESPOSTAS BIOLOGICAS? 145 Resumo 146 O CEREBRO E O SISTEMA NERVOSO ‘0 Capitulo 2, apresentamos lembretes poderosos de que os seres humanos si0 organismos biologi- €0s, com muito em comum com as outras criaturas que hhabitam este planeta. Isso significa, entre outras coisas, que devemos entender nossos comportamentos, pensa- ‘mentos e sentimentos em termos da miquina biolégica dentro de cada um de nés, miquina essa que possibilita tudo que fazemos. ssa méquina, por sua vez, foi moldada em grande medida pelos genes que hherdamos dos nossos pais, ¢ 0s genes, enfim, $0 0 produto final de milhares de geragdes de selecdo natural. ‘Mas como esss influéncias biologicas se realizam exatamente? Que me- canismos do corpo produzem, no momento atual, 0s comportamentos que foram favorecidos hi muito tempo pela selego natural? Aliés, que mecanis- mos do corpo possi itam novos comportamentos, em resposta as informa- 3) $8es que cada onganismo adquire durante a sa vida? Neste capitulo, aborda~ Ce mos essas questdes com uma anise mais aprofundada de como o eérebro e 6 sistema nervoso em geral sustentam todas a5 nossas capacidades,realieagies A © comportamentos. Oo Em nossa discussio, enxergaremos o cérebro essencialmente conto uma ‘maquina ~ semelhante,talvez, a0 computador sobre nossa escrivaninha ~ , i para os letores modernos, esa perspectiva é pouco nova. Afinal, vivemos em O: ‘um mundo repleto de uma variedade de dispositivos cletrénicos sofisticados | assim, a nogio de uma maquina que pensa provavelmente nio seja surpre= endente, Consideramos bastante natural pensat no cérebro como um tipo de tniquina bolic a er ects, mlsda ose necessities. Con- Figura 3.1 O reflexo, conforme Jimoginado por Descartes. Neste esbog de Descartes, o calor do fog (A) ini o uma sri de processos que camecam ne pono afetado do pel (8) cantina flo tubo neural ot um pore de ume cavdode (fs ari Descartes cacredtova que es abertura perma que os estas animais da cvidade etrssem ‘no tubo neural eandassem até os misc, ‘ue puravam 0 é do ogo tudo, na verdade, essa perspectiva & bastante moderna, ¢ a sugestio de que 0 nosso cétebro ¢ nosso corpo podem ser considerados parte de uma maquina complexa hi ‘muito foi considerada herege, um estado de coisas que mudou hi apenas 400 anos. O ORGANISMO COMO MAQUINA A ideia de que o cérebro na verdade é um tipo de miquina complicada,a ser analist- do, decompondo-0 em pedagos, vendo como as partes se conectam ¢ testando 0 que ‘ada parte faz, foi levantada seriamente pela primeira vez pelo filsofo francés René Descartes (1596-1650). Antes da época de Descartes, as pessoas no mundo ocidental consideravam 0 comportamento humano complexo e misterioso, mas, ainda assim, melhor compreendido como resultado das diretrizes da alma e nfo como o produto de alguma miquina simples. ssa concepglo ampla da humanidade permaneceu praticamenteintocada por cer- ca de 15 séculos.Todavia, nos séculos XVI e XVI, os intelectuais comegaram a mudar para uma perspectiva drasticamente diferente. Uma parte do impeto para ess madanga veio de avancos cientificos: Kepler e Galilew estavam desenvolvendo ideias sobre os rmovimentos das estres e planetas visiveis no céu noturno. Suas observagdes fizeram parte do crescimento intelectual que levaram 3 formulagio das eis do movimento por Isaac Newton, sintetizadas em 1687 em seu extraordinério livro Prindpia Mathema- tia, Esas novas visdes do universo sugerirami que os fenémenos naturais podem ser compreendidos em termos dos principios relativamente claos da aceleracio,inércia € momento, que podiam ser descritos com leis matematicas simples. Essas lis pareciam, ‘explicar eventos variando da queda de uma pedra 20s movimentos dos planetas. As mesmas leis podiam ser vistas em atuagio ~ de forma rigida, precisa, imutavel ~ no funcionamento de instrumentos mecinicos engenhosos que estavam na moda nos la~ res afluentes da Buropa:relégios cucos que anunciavam a hora, girgulas com cabeeas ‘movidas pela gua, estituas no jardim do rei que faziam reveréncias para vistantes que pisasem em molas ocultas. Girar uma engrenagem, sltar uma mola ~ esses mecaris ‘mos simples podiam criar todo tipo de efeitos interessantes. ‘Com esses avangos intelectuas e técnicos e com tantos fenémenos complexos cxpliciveis em termos to simples, fi apenas questio de tempo antes que. alguém fizese a pergunta crucial: como podem 0s atos humans ser explicados de forma tio Descartes e 0 conceito de reflexo A vidio de Descartes sobre a ago ~ seam agdes de um ser humano ou de algum outro animal ~ era radical e cara, Ele propds, em esénci, que cada acio de um organismo cra uma resposta dretaaalgum acontecimento no mundo exterior Algo vindo de fora excita um dos sentidos. Iso, por sua ver excita um nervo que transmite a excitagio para o cétebro, que entio dreciona a exctagio para um misculo e faz 0 misculocon- tml, De fito a energia do exterior € “refletida” de volta pelo sistema nervoso pura os tmisculos do animal, uma concepgio que levou ao termo reflex (Figura 3.1). ‘Visas sob esa lua, as ages humana ¢animais podem serconsideraas atos de uma smiquina. Porém, Descartes também entendia a necesidade de explicat a jlesibildade 1 nosso comportamento, Afinal, a visio de comida pode desencadear uma aco de pegar a comida se extivermos com fome, mas nfo desencadear nenhuma agio se nio estvermos, Portanto, segundo Descartes, parecia que a excitagio dos sentidos poderia ser refletida para um conjunto de mssculos em uma ocasio € para um conjunto inte ramente diferente em outra, como se os mecanismos de reflexo tvessem algum sistema central de avacio, que controlava quis sinais desencadcariam uma aro, ‘Comio Descartes poderia explicar ese sistema de ativacio? Ele sabia que wna explcagio estrtamente meciniea teria implicagSes teolbgicas perturbadoras: se toda Psicologia ago humana fosseexplicada em termos de algum tipo de maquina, qual papel sobra~ ria para a alma? Além disso, Descartes era prudente ~ ele sabia que Galileu havia sido condenado & prisio perpétua pela Inquisico, porque suas idias cientificas ameagavam as doutrinas da Igteja.Portanto, como talver ndo nos surpreenda, Descartes propds que ‘0 controlador centralizado do comportamento humano no era uma méquina. Muitos pprocessos dentro do cérebro, argumentou,funcionavam de modo mecinico, mas 0 que realmente governava 0 nosso comportamento, o que possibilitava a ratio e a escolha, «0 que nos distinguia de outros animais, era 2 alma ~ operando por meio do cérebro, escolhendo entre vias nervosa, € controlando nossos corpos como um titereiro que ppuxa as linhas da marionete ‘Todiavia, nas décadas seguintes,3 medida que o controle da teologia sobre a ciéncia diminuiu, outros pensadores foram mais além. Eles acreditavam que a leis do universo fisico poderiam explicar todas as agdes, sejam hummanas ou animais, de modo que una explicagio cientifica nio cxigia um “fantasma na miquina” ~ ou sea, sem teferéncia alma, Desse modo, cles ampliaram a logica de Descartes a todo 0 funcionamento bhutan, argumentando que os humanos diferem de outros animais apenas por serem. rmecanismos mais bem construidos. claro que a questio final se os Sees humanos sio apenas miquinas (e miqui- nas governadas por presio de fluidos ou engrenagens, como Descartes imaginou, ou iuinas parecidas com computadore, como propdem especialsts mais modemnos) é uma questi relacionada tanto com a fé quanto com a cigncia. Como ninguém sabe ‘como testar @ existéncia de uma alma intangivel, a questio sobre se somos maquinas, ‘04 maquinas com alma, nfo € algo que possa ser determinado pela ciéncia. Contudo, 0 inegivel € que a estratégia de considerar os humanos como méquinas,sem mengio de uma alma em nossasteorascientficas, tem levado a descobertasdraméticas em nossa compreensio ¢ na dos animas. COMO SE ESTUDA O SISTEMA NERVOSO {As visbes de Descartes se baseiam principalmente em conjecturas, pois, em sua época, 6s cientistas sabiam pouco sobre o funcionamento do sistema nervoso. Atualmente, cerca de 530 anos depois, sabemos muito mais, e nossasteorias podem set mais sof ticadas, De fito, os dados ¢ instrumentos de pesquisa disponiveis hoje permitiram 0 desenvolvimento de um campo novo e rapidamente crescent, charado new ‘uma iniciativa mulkidisciplinar que visa entender a natureza,o fancionamento eas ori gens do sistema nervoso. Entre os neurocientstas, hé psicdlogos,é claro, mas também 1h bidlogos, cientsas da computagio, médicos¢ outros, em uma iniciativa de pesquisa que varia da tentatva de entender as interagGes entre moléculas dentro de cada célula nervosa, até a investigacio de como grandes tratos de tecido neural levam i experiéncia consciente. « Poréim, vamios ser claros desde o principio, dizendo que o estudo do cérebro é, no ‘ninimo, uma trea imensamente dificil. Dentro do cérebro humano, © niimero total de newrinios ~ as céluls individuais que agem como os principais processadores de informagio do sistema nervoso (Figura 3.2) ~ foi estimado em até 100 bilhes (apro- ximadamente o niimero total de estreas na Via Léctea), om cada neurSnio conectado com até 50 mil outros (Nauta e Feirtag, 1986). eérebro também contém outro tipo de célula, a glia, cujafingio estamos apenas comegando a entender, eas célus da glia «em certas partes do corpo excedem os neurSnios na proporeao de 10 por 1.Todas sas células,e todas as interconexdes entre elas esto contidas dentro de um drgio que pesa apenas um quilo ¢ meio a dois quilos levando muitos autores a sugerir que o eérebro humano € o objeto mais complexo cofhecido no universo. Como podemos estudar ‘um objeto tio complexe? Figura 3.2 Observando 0 sistema nervoso por meio de um ‘mieroseépio. Uma inca cia neroso ‘presentada em verde; urn copia réina (cio) contém giles vemeios. Essa «Bla neriosa & do retina a part do oho que é seni! z Figura 3.3 © crdnlo de Phineos Gage. (A) Ua fotografia mestrando «lsd no cro de Phineas Gge. (8) Uma reconstrugo feta em computador, ‘mastrando 0 camino da bara. Henry Gleitman, Daniel Reiberg & James Gross Observagao clinica Provavelment, primeira técnica wsads para etudar 0 cérebro tena sido a eburygao linia diceta de pacientes com lees ou doencas cerebras. O objetivo dessa téenien é relaconar anormalidades cerebrais fricas om mudangas observiveis no comports- ‘mento, Por exemplo, consdere o hortivel caso de Phineas Gage, que trabalhava como ‘apataz em 1848, Enquanto preparava um local para demoligo, houve uma explocio, que langou uma barra de ferro de um metro em ditegio 3 sua bochecha, entrande Pela fente do seu cérebro¢ saindo pela parte de cima da cabega (Figura 33). Gage Sobreviveu, mas nfo muito bem. Como dicutiremos mais adiant (p. 126), le softea limitagbesintleeras © emocionsis qu propocionaram pitas valioss sobre os papéis dos lobos fronts do cérebro (Valensein, 1986) No caso de Gage, lesio cerebral fi clare a tarefa dos pesquisadores foi descobrir 25 consequéncias da leso, Em outros casos a logic iver: os efitos comportamen. tnis io conhecidos, masa lesio cerebral no pode ser avaliada antes da morte A buses plas regides cerebrais responsiveis pela fla € um exemplo. Els foram isoladas durante aut6psias,examinando-se os cérebros de adultos que haviam soffdo perdaseraumiticas 4 fala alguns anos ances (ver p. 125-126 mais adiante neste capital). Neuropsicologia Como 0 métodoclinico, neuropsiclgia visa entender fancionamento cerebral anal sando minuciosamente individuos que sofreram alguma forma de lesio cerebral-Toda- via, 05 neuropsicélogos nio se baseiam apenas nos sintomasassociados 3 lesio cerebral, Pelo contri, ele relizam experinentosdetalhados, para verifcar exatamente o que indviduos com leio cerebral podem ¢ aio podem fizer. Exes experimentos geal. ‘mente So combinados com as ténica de neuroimagem que descreveremos em epi a guage. Em pesos dest, eses panos se eazam no hemi eued, ‘egernente eto no enema infrir ob foal no extreme superior do lobo temporal Hé mito secede que a rea de Baca desempente un poel ‘cena na produto do fala fe se econo spas oo go de res que conta os misc defo —ver Figure 3.14}. rea de Werke dsempera um papel certo ‘a compreensb da fl (ese encanta spose co lng de ras com pop cou ne audio ver Figur 2.15) Essa distinc ~ entre transtornos da produgio associados a lees na dtea de Broca ¢ transtornos da compreensio associados a lesbes na drea de Wernicke ~ € como uma «aracterizagio bruta da afasia.Todavia, a distingio deve ser refinada consideravelmente pata captar a naturez real e toda a grande variedade de tipos de afi. A razio & sim- ples: como a maioria das atividades mentais, 0 uso da linguagem (seja para produgio 1 compreensio) envolve a coordenagio de muitos pasos diferentes, muitos proces- 40 diferentes, incluindo processos necessiris para “procurar” palavtas no “dicionirio ‘mental”, processos necessirios para entender as relagesestruturais dentro da sentenca, processos necessiris para integrarasinformagdes obtidas com a estrututa da sentenca © 08 sgnificados das palavras maquela sentenga assim por diante (Capitulo 9). Como cada um desses processos tem o seu proprio conjunto de vias cerebras, as lesBesnes- sas vias perturbam o processo, Como resultado, a perda da linguagem observada na afasia& bastante especifica ~ com comprometimento de uma determinada etapa do processamento, seguido por uma perturbagio de todos os procesios subsequentes que dependem daquela etapa, Em muitos casos, esa percurbacio é visivel principalmente na produgio da linguagem (mas nio na compreensio) e, em outros, évisivel princi- palmente na compreensio da linguagem (mas nio na producio); em outros ainda, a perturbacio é visvel em ambas atividades (ver Cabeta e Nyberg, 2000; Demonet, Wise ¢ Frackowiak, 1993; Habib, Demonet e Frackowiak, 1996; Kimura e Watson, 1989, Peterson eta, 1988). Transtornos do planejamento e da cognigao social Anteriormente, citamos © famoso caso de Phineas Gage. Depois que sua eabeca foi atravessada pela barra de ferro, Gage ainda conseguia falar ese mexer normalmente, mas algo mais sui havia mudado. Conforme firma o relatério médico original de Gaye: Ele é indeciso, irreverent, perdendo-se 3s vezes na mais grotseiraprofanacio (que nio ra Seu costume ants), manifetando pouca dferéncia por seus colegas,impaciente com restigdes ou conselhos quando contrariam seus dsejos, is vezes muito obstinado, mas ‘aprichosoe vacilnte,fzendo muitos planos para o futuro, que logo que so terminados, so ocados por outros que paregam mais pitcos. Anes di les... ele tina uma mente cquilibrada...raenérgicoe persistente na execucio de todos os seus planos de opera. [Nesse sentido, sua mente mudou radicalmente, de um mode tio decisvo que seus amigos «© conhecidos dizem que ele“ & mais Gage” (Vilenstein, 1986, p. 90) Os sineomas de Gage se encaixam razoavelmente em outtas coisas que sabemos sobre 0 eftto da lesio na parte mais anterior do lobo frontal ~ a drea pé-fontal (Bra- shaw, 2001; Lichter ¢ Cummings. 2001; Milner Petrides, 1984). Uma manifestagio central das lesbes pré-fomtas & uma deficiéncia na inibigSo das eagies. ncapaz de usar regras para controlar seu comportamento, os pacientes normalmente as quebram. [sso causa muitos problemas para eles, incluindo dificuldades em interagBes Sociis ¢ para seguir a lei Dependensdo do local exato da leo, os pacientes com lesdes pré-rontais podem parecer desinceressidos, deprimidos ¢ apiticos. De maneia alternatva, podem parecer Psicopatas,agindo de maneira flagrant e bruta sendo sexualmente promisctuos,etalver apresentando conduc criminosa, De fato, uma hipStese sobre psicopats criminosos sagere que esesindividuos podem ter lesbes pré-frontais suis ‘Alena disso, a5 lesSes no cértex orbitofrontal (na base do lobo frontal, logo acima dos olhos) pacecem prejudicar a capacidade da pessoa de tomar decisdes ~ partcular- mente, decsses que envolvam algum grau de rsco, Segundo Antonio Damasio (1994), € por isso que tomar decsBes muitas vezesexige contar com as sensagies ~ incluindo nossa avali¢io emocional de como nos sentremos sea decisio der certo, como nos Sentiremos xe der errado, Na visio de Damasio ess é, de fto,a maneiea correta de to- mar decisdes,¢ & um processo que depende do cértex orbitoftontal, Quando esa parte do corpo esti comprometida,a pessoa nio consegue mais avalar 0 impacto emocional de suas decisiese, como resultado, diminui a qualidade das decisdes da pessoa, AS ORIGENS DO CEREBRO ‘Com todas as suas partes espciaizadas, cada uma conectada e trabalhando junto com as ‘outas, 0 cérebro € umn Srgdo de inconfundivele extrardiniria complexidade. Como essa ‘magnifica méquina surgiu? Como nio & de surpreender, a resposta comeca na evolugio, A evolucao dos sistemas nervosos Como o sistema nervoso ¢, em particular, o eérebro evoluiram? Nosso entendimento desa questio foi influenciado por muita consideragSes,ineluindo uma comparagio rminuciosa dos sistemas nervosos de diferentes espécies. Na verdade, existem impor- ‘antes simiaridades de uma espécie para outra na maneira como o sistema netvoso & corganizado ¢ como ele funciona, mas também existem diferengas importantes, ¢ uma delas esti no grau de centralizario ~ se o sistema nervoso da espécie se basa em uit controle regional (com diferentes centros de controle em diferentes partes do corpo) ‘ou em um controldor centralizado. De modo geral, animais mais complexos apresentam controle mais central. Em animais mais simples, incluindo a maioria dos invertebrados, pedomina a egra regio tal. Por exemplo, a anémonas marinhas(animais semelhantes a floes que se prendem no fundo do mare fittam a égua em busca de comida) tém redes de nervos sem um foc0”dbvio de conexio. Invertebrados mais complexos, como esis, otras, luis ¢ polvos tém neusénios que controlam cada movimento, ¢ esses neurdnios se agrupam « formam pings. Os ginglios servem principalmente para transmitir mensagens dos ‘egos sensoriais para os misculos geralmente se localizam perto dos miisculos que controlam, Um molusco, a lesma marinha aplsia possu cinco ginglios que controlam todo 0 repertério de comportamentos do animal: sugar a comida pata dentro e para {ora do seu siffo, mover os olhos ¢ os tenticulos,mexer seu pé pegajoso para posbiliar © movimento ¢ controlar a circulagi, a respiragio braquial e a reprodugio (Krasne e Glanzman, 1995; Rosenaweig, Leiman ¢ Breedlove, 1996). Reunindo neurénios em ginglios,espécies como a aplsia(¢ seus ancestais) a quiriram a possbilidade de coondenar os diversos sinais neuraisenviados entre os seus sistemas nervosos € iso permitiu a posiblidade de coordenar aspectos diferentes de suas ag8es. iso proporcionou que essas criaturas expandissem o seu repertério com- - PPortamental ¢avangaisem para novos ambientes. Ess mudangas, por sua vez, eriaram novos desafose, assim, novas pressdesseletivas sobre a criaturasrecém-evoluidas. Uma parte da resposta a esas presses foi 0 desenvolvimento de ainda mais complexidade no sistema nervoso, i medida que a primeira federacio de ginglios livres se tornou cada vez mais centralizada, ¢ alguns ganglios gradualmente pasaram a controlat 0s outtos. ses ginglios dominantes tendiam ase localizar na cabega,e nio é dificil ver por qué: 6s organismos precisim de informagdes sobre © que esti & sua frente i medida que andam. Eles ji sabem o que esti atris dele, pois acabam de passar por li Portanto, faz sentido que os receptores de luz ou substincias quimicas se localizem na cabega do animal ~ que geralmente é a parte que vai i frente quando o animal anda. Além disso, para a maiocia das criacuras, a comegar com os evolutivamente remiotos platelmintos,a ‘abega contém a boca ¢ isso também torna importante que os receptors se localizem 1a eabesa: os receptores do paladarlocaizados perto do inicio do tubo digestivo po- dem ser usados pata indiar se € comestivel, permitindo que o animal prove a comida antes de decidir se deve comé-la. Para integrar as mensagens dos diversos receproreslocalizados ma cabega, os orga- tismos tiveram que evoluic cada vez mais o seu equipamento neural. Esse equipamento dlevera se localiza perto dos receptores, de modo que também deveria ficar na cabeca Essescentros ganglinicos se rocnaram cada vez mais complexos i medida que os or- sganismos evoluiram e passaram a coordenar a aividade de ginglios em outras partes «do corpo. Ao longo de mihdes de anos de evolu, ees centos emergiram como os inglios “cabegas” em stause a localizacio. Em suma,tornaram-se 0 cérebro. Henry Gleitman, Daniel Reisberg & James Gross Nesse ¢ em todos os casos, porém, ndo podemos considerar que a evolugio avan- ‘para um modelo “superior”, Em vez disso, a evolugio simplesmente favorece 0 ue fanciona em um determinado ambiente e, como organismos diferentes ocupam. nichos diferentes, hi uma ampla variedade de modelos que “funcionam”.E por iso que o mundo moderno contém criaturas complexas com sistemas nervosos centra~ lizados (px. os humanos), mas também outras eriaturas que ainda seguem a regra regional. De fato, embora a centralizagio possa ser vantajosa, a regra regional tem as suas propria virtudes.As hierarquias de comand sio lenas, 0s cérebros que as con ‘ém gastam uma grande quantidade de energia para construi-las e manté-las. (De fato, © cérebro humano, com uma média de apenas 2% do nosso peso corporal, queima aproximadamente 18% das calorias que ingerimos,) Em comparagio, pode-se fizet ‘muita coisa de forma ripida e econdmica, evitando-se uma cadeia burocritica de ‘comiando, Por exemplo, as baratastém cérebros, mas seus cérebtos sio miniisculos ¢ se dedicam principalmente aos seus olhos compostos. Todavia, o que elas nfo possuem ‘em termos de cézebro é compensado em outra parte ~ em uma série de grandes gin slios que cobre quase todo 0 comprimento do corpo, Um desses ginglios se conecta 4 terminais nervosos na cauda e pode desencadear uma fuga répida quando a cauda é ‘stimulada pelo minimo movimento no ar Esse tellexo descentralizado é a razio por {ue as baratassdo alguns dos sobreviventes mais antigos la Terra ¢ derrotam facilmen- te até mesmo mamiferos de cétebro grande que usam jornais enrolados einseticidas para extermini-bs, Filogenia e ontogenia Quando perguntamos como algun sistema complexo (inslindo o sistema neroso) suru, deveros Gzer dus outrasperguntas. A primeira, como sstema evolu sr, és de mnitas gras? Ess € una queso de fiogniae€respondida por meio da selecio natural A segunda, podemos pergunar como ossema veio a ext em soda individuo ~ como, por exemple cad indivduo pode comecae com apenas o por de «tus conhecidas como Svulo eespermatozoide eterminan um tempo depots com um tema nervoso completo de funcionamentopleno? Esa questo evolve ong nine deve comegar com a especfcadesdealhadas contdas nos genes do expenses « depois dscrever como 0 onganismo s transforma a forma mat, oriented por esses genes e peas cireunstincas ambiente, J flamos um pouco sobre a origens flogenéica dos stemasnervosos. Fles «omergiram 3 medida que divers espciescresceram em complexidade« desenvove, taiagio do contce e Ivo a sieras nerves como os se vemos em eitars soderas. Mas ea ontogenia do sistema neroso? Em sua como se deservolve um cerebro? O desenvolvimento do sistema nervoso Logo apés o évulo ser fetilizado, os genes dentro do ovo sio ativados ¢ desencadeiam uma répida reproducio celular, de modo que, dentro de alguns dias, existem dezenas de células idénticas. Nesse ponto, outros genes se ativam e produzem sinais quimicos ‘que induzem um processo de diferenciagio entre as células em proliferacio, Dentro de ‘uma semana, exisem ts tipos diferentes de céluls ~ aquelas que se tornario o sistema rnervoso e também a pelo externa;aquelas que formario o sistema 6sse0 e os misculos voluntiris ¢ aquelas que formario 0 intstino ¢ 0s érgios digestives. Ese processo de crescimento ripido e especializacZo crescente continua, entid, depois que existe uma Populacio suficientemente grande de céulasdiferenciadas, outros genes si0 ativados ¢ libecam sinais quimicos que servem como “fatGis”, atraindo conexdes que brotam de ouras células nervosas. Exe processo de sinalizacio,diferenciacio e prolteracio celu- Ele acontece rapidamente, com novas céluls nervosas endo lates se chama newrgé geradas a uma taxa de até 250 mil por minuto, Nos seres humanos,2 neurogénese esti quae completa no quinto més de gestagio (Kolb e Whishavs 2001; Rakic, 1995). A concentragio de célulasnertosas ue irio format o cérebro emerge de forma basante cara no desenvolvimento (Figura 3.19).1Na teceita semana da vida embrio nti, um espesamento comega a se desenvolver em cima do embrizo, desde a cabera até-(quase) a cauda, Dentro de algun das as extremidadesesquerdse direita dessa placa neural se uneric se fanidem longitudinalmente para formar o tuo neural, Com um més de via embriondri, a extremidade da eabeca do tubo neuel desenvolve trés subpartes itenifcives, que se transformario no rombencéflo, no mesencéfalo eno prosenctfi- Jo.A porsio inferior do rombencéfilo marca o comego da medula espinal Nos primeiros estgios da gestagio, as célula que se tomnario o cérebro ndo apre~ sentam nenhuma dstingio entre neurdnios e células da glia ~ os dois tipos de clulas encontrados no cérebto maduro, Tadavia, medida que as células se reproduzem ¢ se diferenciam, os neurSnios ecém-criados migram para sua posigio apropriada, a uma taxa de até um milimetro por dia. Bisa migrasio € orientada por diversos fitores,in- cluindo substincias quimicas que servem como ateatores para certostipos de células nervosas¢ repelentes para outras (Hatten, 2002). migeagio também é orientada pela We age como fios-guia, ou como estacas que guiam brotos de feijso na hort, Os tneurdnios em migracio se aproximam da superficie do novo eértex, mas os primeiros nneurénios a chegar patam um pouco antes da superficie, Os neurdnios que vém atcés passam desses neurOnios estacionirios,e io ultrapassados por outtos que chegam ainda depois. Como resultado, o cértex literalmente se desenvolve de dentto para fora, com as camadas mais perto da superficie estabelecidas depois das camadas mais profundas, Claro que nio é suficiente que as células nervosas terminem nos locas certos, elas também devem cerminar conectadas da mancira ceeta, para que cada célula envie suas mensagens pata 0 alvo corteto. (De outta forma, as informagées que deveriam ir para a perna poderiam interromper a digestio.) Como cada célula nova vem a conhecer 0 seu alvo potencial? A resposta claro, comeea com os genes. No inicio do desenvolvi ‘mento, as especificagdes genéticas levam os neurdinios a formar protomupas, proporcio nando um'“diagrama de conexio" pata 0s circuitos do cérebro. As dreas mapeadas dessa forma parecem atrait conexdes de estimulos adequados, de modo que, por exemplo, 0 protomapa na jrea de projecao para a visio ataifibrasaferentes do tlamo, resultando na recepcio dos sinas corretos pelo eértex visual (p.ex.,.Rakic, 1995; para certas com- plexidades, ver Sur e Rubenstein, 2005). 40 dias 100 dias T meses Bi Posencttto Mesencéfilo J Rombencéfalo 9 meses Adulto (ecco sagital) Figura 3.19 Desenvolvimento ‘embrionériofetal do cérebro humano. Soy) ge pends Corps celal Impolea neural Terminis Figure 3.20 O neurénio. Diograma ‘esquemétco des principas partes de um ‘motoneurio, Uina porte da culo € ‘milinad, ou sj, seu axdnia & coberto por _rupos de bainhasislontessegmentades, Formeodes or eéuoscrcalares da gla Henry Gleitman, Daniel Reisberg & James Gross Tnevitavelmente alguns ttos Oeormem nas conexdes, mat hi uma salvaguarda para lidar com eles. Na verdade, io exiados muitos mais neurénios do que sio necesiicn,¢ ‘ada neurSnio tenta formar muito mais conexdes do que sio necessirias, Portanto se a5 conexdes de um neurénio forem erradas ou redundantes, esse neurdnio pode desfavé las ¢ encontrar alvos melhores, ou pode receber uma mensagem para morrer (Kuan, Roth, Flavell e Rakic,2000; Rubenstein ¢ Rakic, 1999), De fato,¢ normal que entre 20; £ 80% dos neurSnios morram 4 medida que o cérebro se desenvolve, dependendo da regito do cérebro. Ess dizimagio ocorre, principalmemte, no comego do desenvolv. ‘mento ~ em humanos, por volta de quatoascs meses p6s a concepeio (Rosenzweig, Leiman ¢ Breedlove, 1996), mas, segundo alguns pesquisadores, continua em wina tase 'menor por muito mais tempo ~ talvez até mesmo uma década, Além disso, ainda restam muitas conexdes neutonais a serem formadas no mo- mento do nascimento.As conexdes si feitas edestruidasa uma taxa surpreendente no bebé —aré 100 mil por segundo, segundo uma estimativa (Rakic, 1995). E muita outras conexBes nio slo formadas até bastante depois na vids Por exemplo, em huumanos, 2s

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