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Parte 1
Introdução ao Pensamento Sistêmico
João Gratuliano
http://pensamentosistemico.wetpaint.com/
2010
Pensamento Sistêmico
Introdução1
O termo sistêmico desperta uma grande variedade de significados, isso se deve ao fato de que teorias
emergentes tratam de questões interdisciplinares (biologia, cibernética, física, química, economia,
ciências sociais), com as diferentes disciplinas formulando "teorias sistêmicas" próprias e adaptando os
conceitos-chave a um novo elenco conceitual. Nas últimas décadas, o desenvolvimento de um "novo
pensamento sistêmico", denominado teoria da auto-organização ou, ainda, teoria da complexidade, uma
ciência que afirma a primazia de processos sobre eventos, de relações sobre entidades, do
desenvolvimento sobre a estrutura. Algumas expressões são características dessa abordagem, tais como
não-linearidade, auto-organização, ordem emergente, sistemas adaptativos complexos, posição do
observador.
A teoria geral de sistemas se desenvolve a partir das formulações do biólogo L. Von Bertalanffy que,
em 1940, afirma ser necessário tratar os problemas que cercam os seres humanos como "típicos de
sistemas", considerando seus contornos, seus componentes e as relações entre as partes. Os princípios
da teoria geral de sistemas reproduzem idéias previamente desenvolvidas para entender sistemas
biológicos e incluem dentre outras:
• homeostase – auto-regulação para manter um estado estável; sendo obtida através de processos
que relacionam e controlam a operação sistêmica pelo mecanismo da retroalimentação (desvios
de algum padrão ou norma desencadeiam ações de correção);
• entropia/entropia negativa – sistemas fechados tenderiam ao desaparecimento pela entropia;
sistemas abertos buscam a auto-sustentação, importando energia do ambiente para atingir
condições de estabilidade;
• requisito da variedade – relacionada com a idéia de diferenciação e integração, afirma que os
mecanismos regulatórios internos precisam ser tão diversificados quanto a diversidade do
ambiente com o qual se relacionam;
• eqüifinalidade – em um sistema aberto podem existir muitos modos diferentes de chegar a um
dado estado final, ou seja, a estrutura do sistema em um dado momento não é mais que um
aspecto ou manifestação de um processo funcional mais complexo (ela não determina o
processo);
• evolução do sistema – capacidade que depende da habilidade de mover-se para formas mais
complexas de diferenciação e integração, e para maior variedade, facilitando a habilidade de
lidar com desafios e oportunidades colocadas pelo ambiente (envolve processos cíclicos de
variação, seleção e retenção de características selecionadas).
A concepção de sistema aberto, desenvolvida por Von Bertalanffy a partir do estudo de sistemas vivos,
resolve o problema do pensamento sistêmico em sua relação com a segunda lei da termodinâmica, o da
tendência à entropia inerente a todo sistema fechado, ao estabelecer as trocas de matéria e energia com o
meio como forma de manter o estado de ordem.
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Adaptado do artigo de Maria Ceci A. Misoczky
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Conceituação do Pensamento Sistêmico2
A forma mais difundida do pensamento sistêmico nas organizações se deve à obra de Peter Senge em
1990. O termo usado é derivado direto de um campo de conhecimentos desenvolvido no próprio MIT
nos últimos 50 anos denominado Dinâmica de Sistemas desenvolvido por Jay Forrester a partir de 1956.
Assim como uma série de outros campos de conhecimento dos quais o pensamento sistêmico é oriundo.
A dinâmica de sistemas também é orientada para examinar a inter-relação de forças, e vê-las como parte
de um processo comum. Barry Richmond considera o termo pensamento sistêmico mais amplo, e que
contempla em seu bojo a dinâmica de sistemas, outro consideram o inverso. Aqui será considerada a
concepção de Richmond.
A Linguagem Sistêmica
Uma das características mais marcantes, é que o pensamento sistêmico parte do pressuposto de que “a
linguagem modela a percepção” e visa proporcionar uma forma de raciocínio que permita compreender
os sistemas complexos. Novas formas de pensamento geram processos mentais mais efetivos para tratar
com a realidade, o que permite elevar o potencial de ação produtiva.
Um novo tipo de pensamento apresenta-se como necessário pois a maioria das estratégias de ação são
resultados de dos modelos mentais, ou de uma visão-de-mundo. Os modelos mentais, são crenças,
valores e pressupostos dos indivíduos a respeito da realidade. Assim, uma nova forma de pensamento
deveria ajudar a mapear, desafiar e melhorar os modelos mentais, visando ações mais efetivas na
realidade organizacional, a partir de uma nova visão-de-mundo.
Dentro deste contexto, Senge e colegas sugerem o uso dos diagramas de loop de causalidade como
instrumento de linguagem. A argumentação é que (1) a linguagem natural não oferece uma estrutura
adequada para entender e comunicar uma situação em que estão envolvidas influências mútuas dos
elementos da realidade, com loops de retroalimentação e, (2) como a linguagem molda o pensamento,
uma linguagem que trate mais adequadamente as complexidades dinâmicas da realidade pode
comunicá-la e tratá-la de maneira mais efetiva.
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Adaptado da dissertação de Aurélio M. Andrade
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estruturas determinantes destes padrões, tomando por base a teoria de feedback. Em um sistema, as
partes influenciam-se umas às outras de maneira mútua. Tais fluxos de influência, segundo Senge, têm
um caráter recíproco dando origem aos ciclos de causação circular denominados enlaces ou loops.
De posse destes conceitos, cabe refinar o foco principal da dinâmica de sistemas. De uma forma mais
específica, ela busca a compreensão da estrutura e do comportamento dos sistemas compostos por ciclos
de feedback interagentes ou loops de causalidade. Para esta compreensão, utilizam-se principalmente
dois tipos de diagramas: os diagramas de loop de causalidade (causal-loop diagram) e os diagramas de
estoque e fluxo (stock and flow diagram ou rate-level diagram).
Tamanho da o
organização
m
B
Divisão do o
Sobrecarga dos
trabalho níves superiores
m
m B Descentralização
R m
Proporção de
pessoal Níveis m
técnico/admistrativo hieráquicos
R
m m
m Necessidade de B Necessidade de
coordenação uniformidade e
(gerencia média) o o
padronização
m B B
Padrão de
m Formalização e m
referência (ex. 7/1)
regras (burocracia)
Figura 1 - Diagrama de loop de causalidade
Relacionamentos - setas que indicam a direção de influência (causalidade) de um elemento sobre outro;
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Natureza do relacionamento - o sinal que acompanha a seta do relacionamento: pode indicar uma
variação no mesmo sentido (m), indicando que a alteração no fator de origem gera uma alteração no
mesmo sentido pelo fator que recebe o efeito; ou no sentido oposto (o) quando há uma variação de
efeito contrário, se um aumenta o outro diminui e vice-versa. Na figura acima, um exemplo de
relacionamento no mesmo sentido é o aumento no tamanho da organização acaba por gerar um volume
de atividades que se tornam mais fáceis de controlar com a o aumento da divisão do trabalho. Um
relacionamento no sentido oposto é demonstrado pela redução da necessidade de coordenação quando
há um aumento da formalização e do estabelecimento de regras.
Tempo de retardo ou Atrasos: efeitos que somente são sensíveis após um tempo de espera (delays). No
caso acima é o efeito retardado entre as necessidades e a formalização. Ou entre a sobrecarga dos
superiores e a redução do tamanho da organização. Um atraso é modelado no diagrama através de duas
barras paralelas ao longo do relacionamento;
Estes conceitos são básicos para compreender a mudança do ponto de vista do pensamento sistêmico, já
que os ciclos de reforço são os responsáveis pelo suporte às variações aleatórias que causam a mudança
em larga escala, tanto para mais como para menos, ao passo que os ciclos de balanceamento são os
responsáveis pelo equilíbrio ou pelas oscilações ou limites da mudança.
Na vida comum, os ciclos de reforço são comportamentos próprios de ‘círculos viciosos’, ‘círculos
virtuosos’ ou efeitos ‘bola-de-neve’. A maioria destas estruturas gera crescimento ou colapso
exponencial. Os ciclos de balanceamento são os responsáveis pelos mecanismos de equilíbrio. São
caracterizados por serem direcionados para um objetivo.
De um conjunto de ciclos pode-se formar um quadro descritivo que pode ter uma estrutura que se repete
freqüentemente em diversas situações. Surgem os chamados arquétipos sistêmicos. Em meados da
década de 1980, o estudo de dinâmica de sistemas dependia de complexo mapeamento de ciclos de
causalidade e de modelagem computadorizada, sugeriu-se então tentar transmitir os conceitos de modo
mais simples. Para isto, foram desenvolvidos diagramas que ajudariam a catalogar os comportamentos
mais comumente observados nas descrições de situações envolvendo a dinâmica de sistemas.
A figura 2 ilustra uma situação típica nas organizações e na natureza: os ‘Limites ao Crescimento’. Este
arquétipo tipicamente mostra um processo de crescimento exponencial inicial, suportado por um ciclo
de reforço, que num dado momento é limitado por um ciclo de balanceamento que tem implícito um
limitante ou objetivo a ser atingido. No exemplo da figura 2, recursos alocados para investimentos em
infra-estrutura melhoram a qualidade de vida, aumentando o nível de exigência dos habitantes,
causando mais esforços de investimento em infra-estrutura, formando o ciclo de reforço R. O aumento
na qualidade de vida também provoca imigração, aumentando o número de habitantes que com o passa
do tempo ultrapassam a capacidade econômica da região reduzindo a qualidade de vida do local.
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Capacidade
econômica da
Investimento em região
infra-estrutura
m Número de
m o habitantes m
R Qualidade B m
de vida
Nível de m Imigração
exigências dos
habitantes m
Na prática, os arquétipos são usados para ajudar a construir hipóteses coerentes acerca das forças que
determinam o comportamento de um sistema, que com o uso continuado torna-se ferramenta mental.
Sua aplicação se dá observando a descrição dos arquétipos e aplicando-se o mais adequado à situação,
examinando seus exemplos e encontrando um padrão de desempenho de um arquétipo que combine
com o comportamento de um fator-chave do sistema.
O diagrama de loop de causalidade tem dois papéis a cumprir nos estudos em dinâmica de sistemas. Ele
serve tanto como um esboço das hipóteses causais, como também para simplificar a ilustração do
modelo. Em ambos os casos, ele permite ao analista rapidamente comunicar os pressupostos estruturais
do modelo. Por isso são úteis nos estágios iniciais dos estudos do sistema.
Um problema leva a uma ação que produz um resultado que corrige, altera ou cria novos problemas,
que por sua vez, demanda uma nova ação. (loop de feedback)
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Adaptado do livro Pensamento sistêmico 25 aplicações práticas (João Gratuliano et al)
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A roda do pensamento sistêmico
Oito conceitos básicos para expandir nossa forma de ver e pensar o mundo. A parte central mostra uma
visão limitada, e parte externa uma alternativa mais abrangente.
Pensamento
Visão Circular
Holística B
A
C
Interligação
dos Eventos
Visão Pensamento
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Fragmen- Linear
Eventos tada A → B Complexidade
1 Isolados de Dinâmica
2 3 1 3 Complexidade
2 4 de Detalhes
Atuação nos Reação aos
Atuação nas Efeitos Eventos
Percepção de
Causas e nos que a Estrutura
Foco no Procurar
Pontos de Influencia o
Resultado Culpados
Alavancagem Comportamento
Se perceber como
Percepção da dinâmica agente causador dos
Resistente do Sistema próprios problemas
Pensamento circular - Pensar o mundo, os outros e a si mesmo como partes interdependentes, que se
retroalimentam.
A estrutura influência o comportamento - O agente deve conceber padrões de estrutura que estejam sempre se repetindo e
gerando processos de reforço, balanceamento e efeitos decorrentes de tempo de espera
Assunção de causalidade - Reger-se pela causalidade estrutural na influência e no controle dos
comportamentos e dos eventos. Se perceber principal causador de seus próprios problemas.
Dinâmica resistente do sistema - Reger-se pela compreensão da tendência dos sistemas de resistirem
às tentativas de mudanças de comportamento, cuja amenização de curto prazo, provoca o ressurgimento,
com reforço, ampliação e agravamento a longo prazo
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Pontos de alavancagem - Reger-se pela compreensão dos fatores críticos, onde as ações e as mudanças
na estrutura de relação destes fatores produzem resultados significativos e duradouros
Visão holística – Buscar ver o todo e as partes. Como eles se inter-relacionam como indivíduo e conjunto. Não se pode
entender a floresta observando as árvores e não se pode entender uma arvore observando a floresta.
A figura 5 a seguir, mostra que normalmente vê-se apenas o topo de uma pirâmide, ou o s eventos e
alguns padrões mais evidentes. Padrões mais complexos, estrutura e modelos mentais, são a parte
submersa do iceberg, o que geralmente não se vê. A postura reativa nos leva a perguntar o que
aconteceu. A postura adaptativa nos leva a perguntar o que vem acontecendo? Quais são as tendências?
E que mudanças vêm ocorrendo? O Nível da estrutura, já é um passo mais profundo, exige uma postura
criativa e requer descobrir a estrutura que se encontra por trás dos padrões. As perguntas são: o que
influenciou ou gerou o padrão? Quais são os relacionamentos entre as partes? E por fim o nível mais
profundo é o dos modelos mentais arraigados na cultura organizacional e na visão partilhada. A
pergunta essencial é quais são os pressupostos e crenças que as pessoas têm a respeito do sistema?
i va
at
Eventos
Re
Padrões
at
pt
a
Ad
NÃO SE VÊ
Estrutura
a
tiv
ia
Cr
Visão Partilhada
ov
n
Re
Contexto
É importante ter em mente um contexto no qual o pensamento sistêmico vai ser utilizado.
Para a realização dos exercícios deste curso vamos utilizar muitas vezes o recurso de filmes.
Esta é uma boa forma de ter um contexto acessível a todos e com a possibilidade de parar e
rever quantas vezes forem necessárias e de ser um caso no qual não estamos envolvidos e
podemos analisar sem sermos tendenciosos. Vamos escolher filmes que podem ser
encontrados facilmente em DVD para compra ou locação. Caso você não deseje utilizar
filmes, realize apenas a parte 2 dos exercícios na qual você estará utilizando o contexto do
seu trabalho.
Exercício 1 – Passo 1.
A primeira parte deste exercício será a de selecionar as cenas do filme que melhor ilustrem
os conceitos da Roda do Pensamento Sistêmico. Abaixo segue o segundo conceito ilustrado
para servir como exemplo.
Hunter:
- O centro de comando sabe em que setor estamos.
- Seus satélites podem ver nossos mísseis.
- Se não, dão nossas ordens para outros.
- É por isso que mantemos mais de um submarino - redundância.
- Só estou dizendo que temos que ter suporte.
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- É nosso dever não lançar até confirmarmos.
Ramsey:
- Presumindo que temos outros submarinos para lançarem.
- Os outros podem ter sido destruídos pelos Akulas.
- Podemos jogar assim a noite toda, mas não aceito suas suposições.
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Bibliografia
ANDRADE, Aurélio L. Pensamento sistêmico: um roteiro básico para perceber as estruturas da
realidade organizacional. http://www.cesup.ufrgs.br/ PPGA/read/read05/artigo/andrade.htm
acessado em 1997.
GOODMAN, Michael R. Study notes in system dynamics. Cambridge: Productive Press, 1989.
LIMA, João Gratuliano G. LARANJEIRA, José, SÁ, Leda, RECENA, Lucia. Pensamento sistêmico:
25 aplicações práticas. Recife: Valença & Associados, 1999.
SENGE, Peter. A quinta disciplina. Ed. rev. ampl. São Paulo: Best Seller, 1998.
_______., KLEINER, Art, ROBBERTS, Charlotte, ROSS, Richard, SMITH, Brian. A quinta
disciplina: caderno de campo. Rio de Janeiro: Quality Mark, 1995.
________., LIMA, João Gratuliano G., MAFRA, Roberto., FARIAS, Waldemir. Setor de varejo em
Pernambuco: autodiagnóstico e análise sistêmica. Recife: Bagaço, 1997.
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