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A PERSISTENCIA DO RACISMO Apauano Monena ‘Aordem mundial reorganizada pela ONU, com frequentes cedéncias dos prine- pios 8 inevitabilidade de nao poder discutir-se com os facto tinha, entre as valores de referéncia,o de terminar com o colonialism ocidental e, em consequénci, com ‘uma mitologia de discriminagbes raciais. ‘Tratava-se de uma simplificacao do problema, que deliberadamente ignorave, ‘ou remetia para diferentes capitulos das preocupacdes assumidas pela orgarizasao, aestrutura social interna de numerosfesimos Estados, quer dos que dinamizarama ‘elaboracao dos estatutos da ONU, quer dos que ali viriam a tomar assento ibertos de soberanias externas colonizadoras. No primeiro caso estavam a URSS e os EUA, a primeira pela subordinagao de -varos grupos étnicas, alguns com a natureza de nacées, ao poder centralizador ¢ imperial de Moscavo; os segundos, em vésperas de verem despertar os movimentos de luta pela igualdade de indios, negros, porto-riquenhtos e hispanicos, que neste século XXI tiveram a expresso mais signifcativa no facto de, pela primeira vez na histéria do Estado, o Senado ter escutado uma intervenco polftica em caste‘hano. Entre os Estados que nasceram para a vida internacional na sequéncia da descolonizacio destaca-se como exemplo a Unigo Indiana com o sistema de castas que vai recuando perante o avango da democratizacao. Tao evidente era o desafio ao idedrio da ONU, que niio conseguiu encontrar para as minorias europeias um regime mais equitativo, mais protecior do que 0 {nstalado pela desaparecida Sociedade das NagGes, que a UNESCO em 1950 incu, entre as seus primeiros grandes inguérits,identificar os mites raciais que afigem secularmente as sociedades civis ea paz entre os Estados, procurandi definir uma [Pedagogia capaz de abrir caminhos para aeliminagao do lagelo. Entre as inquietagbes que animaram essa histérica intervensio, avullaram como referencias maiores quer o Holocausto dos judeus pelo nazismo durantea guerra de 1939-1945, quer a expresso mais condenada da intervengio colonizadora ocidental aque eraa Africa do Sul em regime de apartheid. A Declaragio Universal de Direitos Humanos servia de zeferéncia normativa suprema, desenvolvida nos chamados Twin Covenants de 1966 - Prcto Internacional sobre os direitos eficus epolitices, e Pacto Internacional sobre os direitos econmicos,socais| cultura, Sio nnuitos os inegaveis progressos conseguidos para implementar este modelo observante, mas 6 excessivo 0 desastre que ainda aflige a Humanidade em conse- ‘quéncia de uma variedade de interesses que viciosamente procuram legitimar-se pela enovagio dos mitos raciais. Recordamos que slstagem da UNESCO inchuia o mito judaico,o mito ariano,0 ito do negro, o mito do mestico, e que em relacio a qualquer deles nao era inflizmente dificil identificar quebras da paz da sociedade civil ou entre Estados. Depois, genociios numerosos, quer na Europa envolvendo a Bésnia-Hereé- govina, a Crodca, 0 Kosovo, em suma a dissolugSo da Jugoslivia, quer na Africa devastando populagdes no Burundi, no Rwanda, no Sudo, sendo esta uma breve Invocaso de apenas algumas componentes do desaste. neste panorama alarmante, que violencias que desafiam e exoedem as capac- dades disponiveis para assegorar uma paz razoavel, dio origet a organizagio de institutos novos como 0 Direto de Ingeréacia «favor da protecgio dos diritos yhummanos, com referencia maiorna intervengiono Golfo (1951},esobretudone Kosovo quando a NATO assumia uma legitimidade privativa, muito apoinda no concetode Mitterranl “a orig denitoingeréncia termina no porto exato em que nace oreo de ndo-osstnca” (Qs fundadores da ONU, por vezes chamados os poetas dos dividendos da paz, deixaram formulado um modelo observante que recolhe uma tébua de valores: inspirada nos conceites da tern casa comum dos homens, eda igual dignidade de todas os homens, sem diferencas de etnia, cultura ou reli O projecto descolonizador eliminava, no plano dos principios, 0 conceito euro ‘mundista que definia 0 resto do mundo como sendo composto de povos ou atrasaias ou seloagens, que se propunha moldar como se fossem a cera mole A disposigio das intervengses ocidentais. Os factos, que parecem tio frequentemente obedecer a uma légica profunda que cescapa a l6gica aparente das pilotagens politias, multiplicaram as recusas aos princi- Areaatsrtnen ako pos, ¢ até fizeram emexgir mitos raciais de sinal contrario aos que orientaram os pilotas da descolonizagio da ONU, doutrinando uma superioridace étnica, cultural © até religiosa que levou a ensombrar a perspectiva da polemologia do século XXI, ‘com a previsio de Huntington, largamente objecto de avaliagio, de que os conflitos deste milénio em que estamos serdo sobretudo entre reas culturais diferenciadas pela fé. O alarme causado pela intervengio armada de Bin Laden, que para muitos analistas fixou o 11 de Setembro de 2001 como um ponto de viragem da hist6ria, e que procurox causar o levantamento do cordao muculmano, de Gibraltar & Indonésia, contra os ocidentais, deu alento aquela previsio. ‘O Professor Samuel Huntington anunciou que. polemologia do século XX seria marcada pelo coniflito entre areas culturais diferenciadas essencialmente pela iversidade religiosa. A esperanca de que fosse um antincio académico, que os factos nko confirmassem, parece estar em risco de enfraquecer & medida que sobe 20s cextremos 0 desastre instaladono Iraque pela incapacidade de previsio dos esirategas do unilateralismo. Um risco aprofundado pela imparavel violencia do conflito de Israel com os palestinos. ‘Quancio os analistas e responséveis ensalam sugestdes conciliatsrias quetragam finalmente 0 apaziguamento de um conflito que sempre impediré a paz geral, de novo anima a percepcéo catastrofica da doutrina do contfito das civilizagdes 20 anunciar que o perigo emerge no interior dos BUA. Deste modo torna érdua a tarefa de internacionalizar a presenga americana no Iraque, ¢ de ajudar a superpoténciaa salvar a face para beneficio dos ocidentais e da paz geral, Versado na historia do seu ‘pat, vai recolher avisos, no passado mal escutados, sobre os perigos que a América branca, britnica, e protestante, dos séculos XVII e XVII da criagio, correo risco de ser ferida pela evoluicio para multi-étnica e multi-cultural, O texto divulgado refere-se assim ao passado: "Seriam os EUAo pats que foram, ainda largamente sio, se tivessem sido povoados nos séculos XVII e XVIII, no por protestantes britinicos, mas por franceses, espankiéis, ou portugueses caldlicas? A. resposta ¢ claramente niio. Nao seriam os Estaclos Unidos; seriam Quebec, México, (ou Brasil’. Realmente sio 0s hispanicos que activam o alarme do politélogo que em todo o cao nio relacionou a velha paz cultural que refere com a falta de integracio das minorias politicas, ou com a sua eliminagao. E uma previsio admissivel que "a divisio cultural entre hispiinicos e saxdes pode ocupar o que foi a divisdo racial entre negros ebrancos como a divergéncia mais séria da sociedade americana’. Mas talvez seja discutivel incluir a popularidade das doutrinas do multiculturalismo entre as causas, porque talvez.a interpretacio mais razodvel seja a da cobertura ideol6gica para movimentos de grupos que finalmente escapam 4 minoridade cfvica e vaoa ‘caminho de participar no poder. 5 ‘Terminarel abordando um dos conflites e alarmes mais significativos e inquit- tantes dos sltimos tempos. Foi importante a intervencio de Kofi Annan no World Economic Forum, em ‘Davos, na reunio anual que decorreu entre 21 ¢25 de Janeiro iltimo, onde a questio do Iraque pareceusublinhar todas as declaracoes feitas, a comecar pelo Ministro Jick Straw do Reino Unido. Formalmente uma entidade privada, oForum pareceu avalar ‘a guerra, a ocupacio, eas responsabilidades de zeorganizacio, como um acidente& ‘matgem do globalismo econémico, e nao como in derivado légico daquela orien- tacto. Aintervengio do Secrettio-Geral, sem expressamente odizer, parece claramenie entender que o globalismo econémico também esta envolvido, e por isso nao deixea de recordar a intervencao que tivera em 1998, antes do confronto em Seatle com as adversérics do modelo. No texto dessa data, as adverténcies sobre a urgencia de rectificar o globalisno ‘econéimico no sentido de promover uma sociedade global de confiangr, fol uma nea principal: “nos mereados nacionais a confianca ¢ baseada na partilha de valores ‘comuns... Mas no mercado global, as pessoas ainda ndo tém essa confianca. Até que a obtenham, a economia global serd fragile vulnerdvel...”. De facto entao, ¢ agora, fol o tema da rebroengie da govemanga que prenches o discurso, partindo de uma visto do mundo em mudanga que, com frequénda crescente, vé desafiar a ldgica das relagbes inter-esladunis pela lSgica das relages inin- 'mercados, e erescer 0 que alguns chamam o terceiro espa. Neste caso, a questio ¢ a das rales que fizeram emergir outros actozes da vida {nternacional, indo além das Organizagdes Nao Governamentais - ONG's para assl- -mirem anatureza de poderes erraticos desafiantes das oberanias, Talcamo aconteces ‘com a Al Qaeda que se levanton. a exigirigualdade 20s proprios EUA. Verificando que, mais uma vez, as intengbes detectéveis nfo levam necessari- mente & harmonia, a pedagogia do Socretario-Geral pretende despertar pilotagens {que evitem a subida aos extremas de frackuras. Fracuras econfrontos que parecem objectives esratégiccsde movimentas tendo or variavelcomum as quexas contraa alienacdo: foram casos como os doneutralisn0 conta a submissdo estratégica& ordem dos Pacios Militares da geografa da fone contra as sociedactes afuentes;da area dos 3AA (Asia, Africa, América Latina) conta a cidade planetéria do Norte do mundo. LArSrTbORDO REN Cinco anos depois da sua primeira intervengio,o Secrtério-Goral vem éeelarar © seguinte: “Hoje, ndo apenas o ambiente econdmico global, mas tamibém oclima de seguranca global, ¢ a conducio efectiva das polticas interacionais, tomaram-se largamente menos favordveis a manuten¢io de uma ordem global estavel equitativa, e baseada em normas’. Nao é deestranhar que o globalismo do passivo da orciem global econsmica em. desenvolvimento tenha expressio com acento ténico mais agudo no World Social Forum. Este, reunido em Bombaim, pediu compromisso activo para com todas os seres humanos que pouco possiem necessitam de muito, mas s8o poves muds. Nao é muito apegadoa subtilezas diplomiticas odiscurso corrente doSecretério- Geral, e neste caso parece ficil ler que © poder est repartido entre os Estasios em perda de funcio, ¢ 9s varios movimentos das sociedades civis transnacionais onde nascem poderes efectivos que actuam, masnio correspondem ao envelhecide conceito de entidades privadas. E por isso a citcunstancia, por vezes andrquics, da vida internacional, exige uma reinvengao da governanga, conceito que comesoua citcular pela década de oitenta do século passado. Nofundoé um apelorealista a uma acgio convergente das forgas politics internas lem pactos de regime, & busca de definicio de um espago intergovernamental especial- mente marcado pelas competéncias reformuladas do Conselho de Seguranca, & governacio contratualizada dos interesses comuns da Humanidade, da sociedade cosmopolita e transnacional que vai enquadrando todos es pavos e culturas. Uma pilotagem assumida, participada e normativizada entre gestio do Estado, gestOes da sociedade civil, e gestdes responséveis pelas dimensbes sociais da slobatizagio. Tendo como valores de referencia a prevengéo da seguranga mundiale © desenvolvimento humano sustentado. Embora exja uma erescente e minscioss especfcagto de responsiveis intr venientes, de objectives, ede recursos a reinvencio da goveranga, pela via conte tualizante, & por agora a mais clara formulagio de wma propesta pan evitar que progridamas rea problematicas. O que exige um centro de referencia, que nopano- rama actual contin a esta apenasma ONU, esta exigir que os Estados concorde urgentemente na reformulacio.

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